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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Ambiente de lar, escola de amor

Ambiente de lar, escola de amor (Opus Dei)

Ambiente de lar, escola de amor

Para conseguir que o amor cresça, cada família tem de procurar aumentar a sua capacidade de dar e receber.

29/12/2016

I. Uma família em saída: dar e receber

A família é uma célula aberta a serviço da sociedade, não é uma instituição fechada, longínqua e de âmbito estritamente privado; como diz o Catecismo da Igreja Católica: “A família é a célula originária da vida social. E a sociedade natural na qual o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A autoridade, a estabilidade e a vida de relações dentro dela constituem os fundamentos da liberdade, da segurança e da fraternidade no conjunto social. A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, tais como honrar a Deus e usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade”[1]. De acordo com isso, podemos dizer que a família é o âmbito natural do amor.

Esse amor, próprio dos cônjuges, é querer que o outro exista e que exista bem, não de qualquer maneira: porque te amo, busco o seu bem, a sua felicidade. Com a chegada dos filhos, o amor entre os esposos cresce, se multiplica e se manifesta na busca do bem para cada filho, em querer o melhor para eles – em todos os aspectos: físico, emocional, espiritual, etc. Porém como a família não fica fechada em si mesma, mas transcende a sua própria esfera e se incorpora à sociedade – mais ainda, sem família, não há sociedade –, esse amor que começou sendo dos esposos e logo desembocou nos filhos está chamado também a estender-se: todos merecem participar do amor que a família irradia, que se manifesta no desejo do bem.

EM ALGUMAS OCASIÕES OCORRE UMA TENDÊNCIA A DIVIDIR A PROFUNDA UNIDADE DAR-RECEBER; O RESULTADO É A DESAGREGAÇÃO DA FAMÍLIA.

Para conseguir que o amor cresça, cada família tem de procurar aumentar a sua capacidade de dar e receber. Em algumas ocasiões ocorre uma tendência a dividir a profunda unidade dar-receber; o resultado é a desagregação da família, pois parece que “o dar é para os pais; o receber é dos filhos. E o resultado é um conjunto de seres humanos pouco unidos pelo amor familiar: pais sacrificados, filhos mais ou menos irresponsáveis... Ambos devem dar e receber. Em primeiro lugar, dar, porque toda pessoa é um ser de contribuições. E então, receber para dar mais, para dar melhor”[2]. Como diz Enrique Rojas: “O amor não é egoísta. Sua única referência é o outro. O amor acaba com a vida solitária”. Porém esse amor precisa ser concretizado. A este respeito comenta o Papa Francisco: “O amor... não é o amor das novelas. Não, é outra coisa. O amor cristão tem sempre uma qualidade: o concreto (...) o próprio Jesus, quando fala de amor, nos fala de coisas concretas: dar de comer aos famintos, visitar aos enfermos...”.

O Papa nos sugere dois critérios. O primeiro é que o amor está mais nas obras do que nas palavras. O próprio Jesus disse: não são os que me dizem “Senhor, Senhor”, os que falam muito, que entrarão no reino dos céus; mas aqueles que cumprem a vontade de Deus. É o convite, portanto, a estar no «concreto» cumprindo as obras de Deus. Assim, o primeiro critério é amar com as obras, não só com as palavras. O segundo é este: no amor é mais importante dar que receber. A pessoa que ama dá – vida, coisas, tempo –, se entrega a si mesma a Deus e aos outros. Ao contrário, a pessoa que não ama e que é egoísta busca sempre receber. Busca sempre tirar vantagem[3].

Hoje em dia, há muitas pessoas necessitadas de ajuda, por causa de diversas circunstâncias: a fome, a imigração por culpa da guerra, as vítimas de abusos e violências e do terrorismo; pessoas afetadas por catástrofes naturais; outros perseguidos por causa da sua fé; o drama do aborto e da eutanásia; o desemprego, sobretudo dos jovens; idosos que vivem em solidão. Todas estas realidades convivem de uma maneira ou outra conosco, no dia a dia e é ali onde cada pessoa, cada família, é chamada a ser um agente de ajuda e de mudança a favor dos mais necessitados.

Como diz o Concílio Vaticano II, “A própria família recebeu de Deus esta missão, de ser a célula primeira e vital da sociedade. Cumprirá esta missão se, pela mútua piedade dos membros e pela oração em comum dirigida a Deus, se mostrar como que o santuário doméstico da Igreja; se a família toda se inserir no culto litúrgico da Igreja; se, finalmente, oferecer hospitalidade acolhedora, promover a justiça e outras boas obras em serviço de todos os irmãos constituídos em necessidade. Entre as várias atividades do apostolado familiar, podem enumerar-se as seguintes: adotar como filhos crianças abandonadas, receber benignamente os peregrinos, cooperar na orientação das escolas, assistir aos adolescentes com conselhos e com meios econômicos, ajudar os noivos a prepararem-se melhor para o matrimônio, trabalhar na catequese, amparar os cônjuges e as famílias que estão em perigo material ou moral, prover os velhos não só com o necessário, mas ainda procurar-lhes os frutos equitativos do progresso econômico”[4].

“A MISERICÓRDIA NÃO É SER BONZINHO, NEM UM MERO SENTIMENTALISMO”, PELO CONTRÁRIO, É MANIFESTAÇÃO DO AMOR INFINITO DE DEUS POR CADA UM E A REALIZAÇÃO HUMANA DO AMOR AO PRÓXIMO.

Neste Ano Jubilar da Misericórdia, é apresentada uma nova oportunidade para viver o amor familiar e concretizar o amor nos necessitados. O elenco das obras de misericórdia nos oferece a possibilidade de abrir-nos, de dar-nos aos outros. O Papa Francisco nos chama a redescobrir as obras corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher o estrangeiro, assistir aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E a não esquecermos as espirituais: aconselhar os que têm dúvidas, ensinar os ignorantes, advertir os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar pacientemente as pessoas irritantes, rezar a Deus pelos vivos e defuntos. “A misericórdia não é ser bonzinho, nem um mero sentimentalismo”, pelo contrário, é manifestação do Amor infinito de Deus por cada um e a realização humana do amor ao próximo.

É assim que a família está chamada a ser “escola de generosidade”; ou seja, na família “se aprende que a felicidade pessoal depende da felicidade do outro, se descobre o valor do encontro e do diálogo, a disponibilidade desinteressada e o serviço generoso”.

“As crianças que veem em sua casa como se busca sempre o bem comum da família, e como uns se sacrificam pelos outros, estão aprendendo um estilo de vida baseado no amor e na generosidade. É uma vivência que deixa uma marca inapagável. Crescerão sabendo que integrar-se na sociedade não é só receber, mas receber e retribuir”[5].

II. Dar-se na própria família

Muitas vezes – e é preciso fazê-lo –, dirigimos o olhar para as realidades distantes buscando fazer o bem: damos dinheiro, tempo, trabalho, esquecendo talvez que nos mais próximos temos nosso principal e mais importante campo de ação. Não só com o cônjuge e os filhos, mas com os pais já idosos, e talvez doentes, que requerem uma atenção especial; com parentes necessitados por diferentes causas; com amigos próximos que precisam do nosso conselho; com pessoas conhecidas a quem vemos e tratamos regularmente e que precisam temporariamente de um lar, da presença de um amigo, etc. Para os cônjuges cristãos, sua primeira “periferia” é a própria família, onde talvez se encontrem os mais necessitados da sua dádiva amorosa. Logo, o mundo inteiro para “afogar o mal em abundância de bem”, como são Josemaria gostava de dizer[6].

Voltando para o caso dos idosos nas famílias, eles merecem – como as crianças –, uma solicitude especial, sejam os próprios pais ou outros familiares próximos que, pelo passar dos anos, necessitam de atenções particulares. A esperança de vida é cada vez mais longa; no entanto, não se produziu um avanço paralelo no cuidado dos idosos, que, muitas vezes, são considerados uma carga difícil de carregar, ou pior os que por determinadas circunstâncias se encontram em situação de desamparados e abandonados. Com cada um deles, temos de ser amáveis, pacientes, entregues, oferecer-lhes o nosso tempo, o nosso carinho e ajuda em suas necessidades, e ensinar os filhos a atuar da mesma maneira. O dia de amanhã serão eles os que talvez tenham que cuidar dos seus pais e, se não o viram, se não o viveram, não saberão ou não quererão fazê-lo. A família é o lugar onde os mais fracos encontram auxílio e proteção. Por isso, é o melhor lugar para cuidar dos idosos. A esse respeito, dizia Bento XVI: “A qualidade de uma sociedade, gostaria de dizer de uma civilização, se julga também por como se trata os idosos e pelo lugar que lhes é reservado na vida em comum”.

Este dar-se aos que estão próximos de cada um, se é por amor, se faz com a alegria dos que sabem que são filhos de Deus, destinados à felicidade que só se encontra fazendo o bem.

Carolina Oquendo Madriz


[1] Catecismo da Igreja Católica, 2207

[2] Oliveros F. Otero (1988), La felicidad en las familias, Loma Editorial, México.

[3] Cfr. Papa Francisco, Homilia em Santa Marta, 9-1-2014.

[4] Decreto Apostolicam Actuositatem (18 de novembro 1965), n.11. O sublinhado é da autora.

[5] María Lacalle Noriega (2015), La dimensión pública de la familia. Em: Nicolás Álvarez de las Asturias (Ed.), Redescubrir la familia, Palabra, Madri.

[6] São Josemaria, Sulco, n. 864

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Roncalli e Wojtyla, pastores no meio do povo

As imagens de João Paulo II e João XXIII na missa de canonização em 2014 (Vatican Media)

Há dez anos realizou-se a canonização de João XXIII e João Paulo II na missa presidida pelo Papa Francisco na Praça São Pedro. Vivendo em tempos históricos agitados, os dois santos Pontífices testemunharam a esperança e a alegria que o encontro com Jesus proporciona com a abnegação total a serviço do Povo de Deus.

Alessandro Gisotti

Quem são os santos? Em primeiro lugar, não são super-homens, como Francisco nos lembrou muitas vezes. No entanto, no imaginário coletivo, até mesmo de quem não crê, a santidade é sinônimo de excepcionalidade. Se seu nome está no calendário - poderíamos dizer com uma piada – certamente se deve a uma vida vivida de forma extraordinária. No entanto, o Papa, justamente por isso, quis enfatizar - e o fez com uma Exortação Apostólica que talvez merecesse ser mais aprofundada - que todos os batizados são chamados à santidade, a serem “santos da porta ao lado”, que são muito mais numerosos do que os indicados no calendário. A santidade, escreveu o Pontífice na Gaudete et Exsultate, se vê “no povo paciente de Deus: nos pais que educam seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham para levar o pão para casa, nos doentes, nas religiosas idosas que continuam sorrindo”. 

Nesta santidade do Povo de Deus, povo paciente, que sabe confiar-se ao Pai e deixar-se guiar por Ele, João XXIII e João Paulo II acreditaram com convicção e em 27 de abril de dez anos atrás foram proclamados santos numa Praça São Pedro repleta de fiéis. Angelo Roncalli e Karol Wojtyla – em Veneza e Cracóvia antes do ministério petrino em Roma – foram “pastores com cheiro das ovelhas”, como diria hoje Jorge Mario Bergoglio. Viveram como pastores no meio do povo, sem medo de tocar as chagas de Cristo, feridas visíveis no sofrimento de irmãs e irmãos que formam aquele Corpo que é a Igreja. Uma imagem, esta última, que o próprio Concílio Vaticano II - nascido do coração dócil e corajoso de João XXIII e que teve no jovem bispo Wojtyla um dos seus mais apaixonados apoiadores - recolocou no centro da vida eclesial, ligando-a à experiência original da primeira comunidade cristã da que nos falam os Atos dos Apóstolos.

Vivemos numa época de grande agitação: nos últimos anos, primeiro a pandemia, depois a guerra na Ucrânia e, por fim, o novo conflito no Oriente Médio se concatenaram, semeando dor, medo e uma sensação de perturbação que, graças à globalização, agora parece ser uma dimensão constitutiva da humanidade como um todo. No entanto, os tempos em que Roncalli e Wojtyla viveram não eram menos complexos, nem menos marcados pelo medo da aniquilação da raça humana. João XXIII, idoso e doente, enfrentou a Crise dos Mísseis de Cuba nos primeiros dias do Concílio. João Paulo II, como sacerdote viveu o horror nazista em sua Polônia, como bispo a sufocante ditadura comunista, e como Papa enfrentou, animado pela tenacidade profética, a oposição entre os dois blocos da Guerra Fria até a dramática dissolução da União Soviética e a consequente ilusão do “fim da história”.

Estes dois Papas do século XX não responderam às tragédias do seu tempo com resignação e pessimismo. Eles não seguiram as litanias dos “profetas da destruição” que então, como agora, parecem preferir queixar-se do que está errado em vez de arregaçar as mangas para ajudar a melhorar as coisas. Como sublinhou Francisco na homilia da missa para sua canonização, em João XXIII e João Paulo II “mais forte foi a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da História”, uma fé que se manifestou na alegria e na esperança que somente pode ser testemunhada por quem encontrou Cristo em sua vida. “Estas – observou novamente na homilia – são a esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado e por sua vez doaram em abundância ao Povo de Deus, recebendo a gratidão eterna”. Uma gratidão aos dois santos que não enfraquece com o passar dos anos, mas cresce na convicção de que agora do Céu podem interceder pela Igreja, pelo Povo de Deus, a quem na sua vida terrena serviram com amor e abnegação.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Apresentado novo projeto de reforma para a Catedral de Brasília

Reforma da Catedral de Brasília (arqbrasilia)

A Arquidiocese de Brasília apresentou nesta quarta-feira, (24/04) um ambicioso plano de revitalização para a icônica Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida.

Reforma da Catedral de Brasília (arqbrasilia)
Reforma da Catedral de Brasília (arqbrasilia)

25 abril 2024

O projeto abrange não apenas a restauração física do monumento, mas também a criação de um espaço de encontro e reflexão. A proposta inclui a criação do Centro de Acolhimento ao Visitante, a implementação de tecnologia de iluminação inteligente, instalação de um museu e o desenvolvimento de um aplicativo para visitantes, visando proporcionar uma experiência enriquecedora aos que adentram suas portas.

Para alcançar esses objetivos, a Arquidiocese está buscando parcerias com empresas e instituições dispostas a contribuir financeiramente com o empreendimento. Estima-se que o custo total da obra seja de R$ 50 milhões. A ideia é que a restauração seja realizada por etapas, onde a primeira fase, orçada em 10 milhões, fará os reparos mais urgentes, como impermeabilização do espelho d’água, reparo nos vidros e nos sinos que foram danificados por raios.

De acordo com a organização do projeto, a manutenção é necessária para manter a integridade estrutural da Catedral que foi comprometida ao longo do tempo. A renovação irá garantir que o edifício seja seguro para os visitantes e para as gerações futuras.

Durante o lançamento do plano, o Cardeal Dom Paulo Cezar Costa defendeu que Catedral seja um monumento dialogante: ‘’Toda pessoa ou turista que vem a Brasília quer conhecer a Catedral. Então, a Catedral é o monumento dialogante. Ela é o monumento que quer dialogar e é o que nós queremos. Queremos que a Catedral seja bonita, que ela responda sua vocação.’’

Além disso, Dom Paulo defendeu a gratuidade das visitas a Catedral. ‘’a visita, em momento nenhum deve ser cobrada, por isso eu digo que a visita a Catedral deverá ser sempre gratuita. Nunca, nunca se deve cobrar. Eu sou contra que se cobre para entrar numa Igreja, mas nós queremos que ela esteja bonita. Nós queremos que a beleza da Catedral se manifeste, que seja um monumento de acolhida e que seja um monumento dialogante.”

Empresas e instituições interessadas em se tornar parceiras poderão entrar em contato nos seguintes canais: +55 (11) 98946-7242 |
CATEDRALDEBRASILIA.COM.BR comercial@catedraldebrasilia.com.br

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

A dimensão ética da Amizade

Ética da Amizade (Filosofia na Escola)

A DIMENSÃO ÉTICA DA AMIZADE

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém (PA)

A dimensão ética da Amizade (Parte 11) 

Na visão popular a amizade está sempre conectada à alegria, à festa, ao prazer, ao lazer, à diversão, à aventura, ao companheirismo, ao apoio nas horas imprevistas. Contudo, na era do “amor líquido” (Zygmunt Bauman, 2003), sem forma, sem critérios, sem compromissos, sem parâmetros, egoísta, consumista, hedonista e narcisista que tem como meta o puro “haurir satisfação”, é justo refletirmos sobre a importância da dimensão ética da amizade.  

A experiência da amizade autêntica tem conteúdos que vão bem além dessas experiências prazerosas. A origem da amizade está vinculada ao Amor que é inseparável da verdade, da justiça, do respeito, da bondade, da honradez. Logo, por sua própria natureza, a amizade está relacionada ao bem. É por isso que na Bíblia Sagrada há uma forte sensibilidade para com a experiência da amizade e até afirma: “Amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro. Amigo fiel não tem preço, e o seu valor é incalculável. Amigo fiel é remédio que cura, e os que temem ao Senhor o encontrarão. Quem teme ao Senhor tem amigos verdadeiros, pois tal e qual ele é, assim será o seu amigo” (Eclo 7,15-17). 

Certa vez, estive num presídio conversando com o grupo de mais ou menos sessenta encarcerados. Visto que nos conhecíamos, pois os visitava com frequência por causa das atividades da pastoral carcerária, numa roda de conversa falando sobre a liberdade e responsabilidade, lhes perguntei: por que você está aqui encarcerado? A participação naquela roda de conversa foi excelente. Mas uma coisa me chamou atenção: a maioria disse que estava ali por causa de um amigo porque foi incentivado ou colaborou para a promoção de um crime. Esse fato nos estimula a aprofundar a dimensão ética da amizade.  

O dinamismo do eros, filia e ágape 

Na cultura grega havia três concepções de amor: eros, philia e ágape. O eros é o amor que se manifesta através da atração física, sensual, sexual, passional, instintiva; o eros é vorraz, devorador, impaciente, aprisionador! Mas é frágil porque está limitado à sensualidade e ao prazer. Ao centro do dinamismo do eros não está o outro, mas o “eu” sedento de desejos. No eros desaparece a dimensão ética, porque sua paixão maior é a autossatisfação.  

O amor philia é o vínculo de bem-querer que entrelaça os parentes e aqueles que tem afinidade entre si. A filia é a amizade! Desse nível de Amor emerge, sem dúvida, uma profunda dimensão ética. Da Amizade brotam uma série de virtudes e atitudes tais como: o cuidado, a proteção, o respeito, a reciprocidade, a busca da segurança, o senso de honestidade, de autenticidade, a transparência, a solidariedade, a partilha, a justiça, a confiança, a fidelidade etc. Portanto, nunca a amizade é moralmente neutra, ou seja, não é coerente que alguém diga que é amigo do outro, mas lhe é indiferente, negligente, injusto, incorrespondente, insensível, violento, falso, desonesto e lhe promovendo inconvenientes etc. Diz São Paulo que o amor nada faz de inconveniente e não é interesseiro (cf. 1Cor 13,4-6). 

Apesar disso, a experiência da amizade, a filia, tem como limite o vínculo afetivo e a reciprocidade, ou seja, não há a experiência da gratuidade e da transcendência no cuidado com os outros que não fazem parte do grupo dos seus parentes e amigos. Tais atitudes fazem parte da expressividade do dinamismo do ágape, que é o amor materno, desinteressado, livre, gratuito, sem fronteiras, incondicional, transbordante. É o amor divino! Apesar do ágape abraçar todas as virtudes da filia (amizade), não se deixa limitar pela condição da reciprocidade.  

A amizade é benevolente e benfazeja

Quem ama quer sempre o bem e por isso, faz o bem ao outro e jamais deliberadamente o prejudica. O amor, por sua própria natureza, só faz o bem. Por isso, a experiência da amizade é sempre edificante e humanizante.  Isso significa que a autêntica amizade é uma relação que promove os sujeitos envolvidos tornando-os corresponsáveis uns pelos outros.  

Tanto o amor de amizade (filia) quanto o amor ágape (a caridade) tem uma profunda dimensão ética. Ao contrário, somente o eros é concentrado em si mesmo e egocêntrico. Aquele que viveu em plenitude o amor ágape, a misericórdia, chamou os seus discípulos de amigos (cf. Jo 15,15). Dessa forma Jesus estava dizendo a seus discípulos que quem ama tem o direito de ser correspondido.  

A experiência da amizade e da Caridade contribuem para a educação do indivíduo, leva-o a descentralizar-se, a crescer na sua dimensão socioafetiva, a superar o critério erótico (da pura atração) e a fazer a experiência da empatia e da compaixão; a amizade nos ajuda a olhar para os outros e nos educa para o cuidado, reciprocidade, respeito pela dignidade do outro. Porém, na parábola do Bom Samaritano a Caridade é exaltada, sendo colocada como referência desafiadora para os discípulos de Jesus por causa da gratuidade sem fronteiras. De fato, o bom samaritano não era amigo daquele que estava caído, não o conhecia, era um estranho. Mas cuidou dele porque reconheceu sua dignidade ferida e, sentindo compaixão e cheio de espírito de iniciativa, mudou seus interesses, sacrificou sua agenda dedicou-lhe tempo para cuidar dele e pagou a conta. Por isso, ao final Jesus diz ao fariseu que o interrogou: “vai e faça a mesma coisa” (Lc 10,37). A caridade supera as fronteiras da Amizade.  

A dimensão educativa da Amizade e da Caridade

Tanto a amizade quanto a Caridade tem um compromisso educativo com o outro. Ou seja, não basta que o outro seja beneficiário, ele também deve ser educado para ser benfeitor. Faz parte da dimensão ética da amizade e da caridade, a experiência da autoeducação e educação de quem é beneficiário do nosso amor, porque a meta da amizade e da caridade é a promoção da plena dignidade humana. Isso comporta um processo pelo qual se estimula o desenvolvimento da liberdade e da vontade (superando o instinto), da responsabilidade, da ternura, da compaixão, da gratuidade, da  generosidade, do exercício do espírito de sacrifício pelo bem dos outros. Então, os amigos se educam, crescem juntos, se firmam no amor e na verdade, na justiça e na honestidade. Amigos que fazem o mal são comparsas. 

A dimensão educativa da Amizade e da Caridade nos educa para a responsável gestão dos nossos impulsos e paixões, dos nossos gostos e preferências, sentimentos e emoções, levando-nos sempre a colocar como critério principal das nossas escolhas o bem do outro. São Paulo recomenda que cada um não busque a realização dos seus interesses, mas os dos outros (cf. 1Cor 10,33; Fl 2,4). “Portanto, busquemos sempre as coisas que trazem paz e edificação mútua” (Rm 14,19). Isso é maravilhoso para a experiência da amizade. 

No horizonte da dimensão ética da amizade e da caridade, está também o compromisso permanente do discernimento entre os amigos, do compromisso com a verdade, da defesa incondicional do bem e da honestidade, da prática da não violência em palavras, gestos e atitudes em todas as circunstâncias entre si e com os outros.  

Outra experiência significativa também, diz respeito à questão para com a palavra dada; para os amigos não se mente e, incondicionalmente, se preserva as confidências por causa da sagrada confiança. Essa palavra dada pode estar relacionada também à questão econômica, no que se refere à empréstimos; quantas pessoas romperam suas amizades por causa de empréstimos de bens materiais não devolvidos ou de dinheiro não restituído, que acabaram gerando graves prejuízos ao outro. O calote não faz parte da dinâmica da amizade, porque é um ato desonesto e injusto; doação é doação, mas empréstimo é empréstimo; requer o cumprimento da restituição! Quem não honra a palavra dada com seus amigos, está promovendo o risco de perdê-los; assim não mais poderá contar com eles em outras necessidades.  

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

Por que pouco refletimos sobre a dimensão ética da Amizade?

Você já perdeu algum amigo por causa da ruptura da confiança ou de empréstimos não pagos? Como foi a experiência?

Em que a experiência da Amizade e Caridade nos educam?

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Onde estão os originais dos Evangelhos?

Originais dos Evangelhos (Cléofas)

Onde estão os originais dos Evangelhos?

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Sabemos que os originais (autógrafos) dos Evangelhos, tais como saíram das mãos de Mateus, Marcos, Lucas e João, se perderam, dada a fragilidade do material usado (pele de ovelha ou papiro), mas isto não impede que a História prove a sua existência.

Ficaram-nos as cópias (manuscritos) antigas desses originais, que são os papiros, os códices unciais (escritos em caracteres maiúsculos sobre pergaminho), os códices minúsculos (escritos mais tarde em caracteres minúsculos) e os lecionários (textos para uso litúrgico).

Conhecem-se cerca de 5236 manuscritos (cópias) do texto original grego do Novo Testamento, comprovados como autênticos pelos especialistas. Estão assim distribuídos: 81 papiros; 266 códices maiúsculos; 2754 códices minúsculos e 2135 lecionários.

Número Conteúdo Local Data (Século)

p1 Evangelhos Filadélfia (USA) III

p2 Evangelhos Florença (Itália) VI

p3 Evangelhos Viena (Áustria) VI/VII

p4 Evangelhos Paris III

p5 Evangelhos Londres III

p6 Evangelhos Estrasburgo IV

p7 Atos Berlim IV

a) Os papiros são os mais antigos testemunhos do texto do Novo Testamento. Estão assim distribuídos pelo mundo:

Em resumo, existem 76 papiros do texto original do Novo Testamento. Acham-se ainda em Leningrado (p11, p68), no Cairo (p15, p16), em Oxford (p19), em Cambridge (p27), em Heidelberg (p40), em Nova York (p59, p60, p61), em Gênova (p72, p74, p75),…

Desses papiros alguns são do ano 200, o que é muito importante, já que o Evangelho de São João foi escrito por volta do ano 100. São, por exemplo, do ano 200, aproximadamente, o papiro 67, guardado em Barcelona.

Códice Conteúdo Local Data (Séc.)

Aleph 01 N.T. Londres IV

(Sinaítico)

A 02 N.T. Londres V

(Alexandrino)

B 03 N.T. Roma IV

(Vaticano) (menos Ap.)

C 04 N.T. Paris V

(Efrém rescrito)

D 05 Evangelhos Cambridge VI

(Beza) Atos

D 06 Paulo Paris VI

(Claromantono)

b) Os códices unciais são verdadeiros livros de grande formato, escritos em caracteres maiúsculos (unciais). Uncial vem de “uncia”, polegada em latim. Eis a relação de alguns deles:

Em resumo, há mais de duzentos códices unciais, espalhados por Moscou (K 018; V 031; 036); Utrecht (F 09); Leningrado (P 025); Washington (W 032); Monte Athos (H 015; 044); São Galo (037)…

Desses dados é fácil entender que a pesquisa e o estudo dos manuscritos do Novo Testamento não dependem de concessão do Vaticano, pela simples razão que a sua maioria não está em posse da Igreja. Só há um código datado do século IV, no Vaticano.

As pesquisas sempre foram realizadas independentemente da autorização da Igreja Católica, o que dissipa qualquer dúvida.

Os manuscritos bíblicos são manuscritos da humanidade; muitos foram levados do Oriente, por estudiosos e outros interessados, para as bibliotecas dos países ocidentais, onde se acham guardados até hoje.

Como vimos, existem hoje mais de cinco mil cópias manuscritas do Novo Testamento datadas dos dez primeiros séculos.

Algumas são papiros dos séculos II-III. O mais antigo de todos é o papiro de Rylands, conservado em Manchester (Inglaterra) sob a sigla P. Ryl. Gk. 457; do ano 120 aproximadamente, e contém os versículos de João 18,31-33.37.38.

Ora, se observarmos que o Evangelho de São João foi escrito por volta do ano 100, verificamos que temos um manuscrito que é, então, cópia do próprio original.

As pequenas variações encontradas nessas cinco mil cópias são meramente gramaticais ou sintáticas e que não alteram o seu conteúdo. Os estudiosos, analisando este grande número de manuscritos antigos, concluem que é possível reconstruir a face autêntica original do Novo Testamento, que é o que hoje usamos.

Uma comparação muito interessante é confrontarmos esse tipo de testemunhas do texto original do Novo Testamento, com as obras dos clássicos latinos e gregos usados pela humanidade.

Verificamos que é muito privilegiada a documentação hoje existente para se construir a face autêntica do Novo Testamento.

Escritor Época do Tempo decorrido entre o escritor e a 1ª cópia de sua obra

Virgílio 19 a.C. 350 anos

Tito Lívio 17 d.C. 500 anos

Horácio 8 a.C. 900 anos

Júlio César 44 a.C. 900 anos

Cornélio Nepos 32 a.C. 1200 anos

Platão 347 a.C. 1300 anos

Tucídides 395 a.C. 1300 anos

Eurípedes 407 a.C. 1600 anos

As primeiras cópias das obras desses escritores, consideradas hoje autênticas, foram mais tardias que as primeira cópias dos Evangelhos, e, mesmo assim são plenamente reconhecidas.

Eis alguns dados conhecidos:

Escritor

Vemos, então, que a transmissão desses clássicos antigos, gregos e latinos, tão usados pela humanidade, com total credibilidade, tiveram uma transmissão mais precária do que o Novo Testamento, com os seus mais de 5000 manuscritos, muito mais próximos de seus originais. Se a humanidade não põe em dúvida a autenticidade desses textos latinos e gregos, então, jamais poderá questionar a autenticidade do Novo Testamento.

As fontes dos primeiros séculos confirmam a autenticidade do Novo Testamento. Vejamos apenas uns poucos exemplos. Atente bem para as datas.

Evangelho de Mateus — No ano 130, Bispo Pápias, de Hierápolis na Frígia, região da Ásia Menor, que foi uma das primeiras a ser evangelizada pelos Apóstolos, fala do Evangelho de São Mateus dizendo:

“Mateus, por sua parte, pôs em ordem os dizeres na língua hebraica, e cada um depois os traduziu como pôde” (Eusébio, História da Igreja III, 39,16).

Quem escreveu essas palavras foi o bispo Eusébio, de Cesaréia na Palestina, quando por volta do ano 300 escreveu a primeira história da Igreja. Ele dá o testemunho histórico de Pápias.

Note que Pápias nasceu no primeiro século, isto é, no tempo dos próprios Apóstolos; S. João ainda era vivo. Portanto este testemunho é inequívoco.

Outro testemunho importante sobre o Evangelho de Mateus é dado por Santo Irineu (†200), do segundo século. Ele foi discípulo do grande bispo S. Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de S. João evangelista. S. Irineu na sua obra contra os hereges gnósticos, também fala do Evangelho de Mateus, dizendo:

“Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja” (Adv. Haereses II, 1,1).

Evangelho de São Marcos — É também o Bispo de Hierápolis, Pápias (†130) que dá o primeiro testemunho do Evangelho de Marcos, conforme escreve Eusébio:

“Marcos, intérprete de Pedro, escreveu com exatidão, mas sem ordem, tudo aquilo que recordava das palavras e das ações do Senhor; não tinha ouvido nem seguido o Senhor, mas, mais tarde…, Pedro. Ora, como Pedro ensinava, adaptando-se às várias necessidades dos ouvintes, sem se preocupar em oferecer composição ordenada das sentenças do Senhor, Marcos não nos enganou escrevendo conforme recordava; tinha somente esta preocupação, nada negligenciar do que tinha ouvido, e nada dizer de falso” (Eusébio, História da Igreja, III, 39,15).

Evangelho de São Lucas — O Prólogo do Evangelho de S. Lucas, usado comumente no século II, dava testemunho deste Evangelho, ao dizer:

“Lucas foi sírio de Antioquia, de profissão médica, discípulo dos apóstolos, mais tarde seguiu Paulo até a confissão (martírio) deste, servindo irrepreensivelmente o Senhor. Nunca teve esposa nem filhos; com oitenta e quatro anos morreu na Bitínia, cheio do Espírito Santo. Já tendo sido escritos os evangelhos de Mateus, na Bitínia, e de Marcos, na Itália, impelido pelo Espírito Santo, redigiu este Evangelho nas regiões da Acaia, dando a saber logo no início que os outros Evangelhos já haviam sido escritos”.

Evangelho de São João — é Santo Ireneu (†202) que dá o seu testemunho:

“Enfim, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que reclinou sobre o seu peito, publicou também o Evangelho quando de sua estadia em Éfeso.

Ora, todos esses homens legaram a seguinte doutrina:…Quem não lhes dá assentimento despreza os que tiveram parte com o Senhor, despreza o próprio Senhor, despreza enfim o Pai; e assim se condena a si mesmo, pois resiste e se opõe à sua salvação — e é o que fazem todos os hereges” (Contra as heresias).

É por isso que a Igreja, meu amigo, com toda a sua seriedade, e fazendo uso da ciência, depois de examinar todas as coisas, com todo o rigor que lhe é peculiar, não tem dúvida de nos apresentar os Evangelhos como rigorosamente históricos.

A Constituição Apostólica Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, diz:

“A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como Autor e nesta sua qualidade foram confiados à Igreja” (DV,11).

O Catecismo da Igreja afirma com segurança:

“A Igreja defende firmemente que os quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna salvação deles, até ao dia que foi elevado” (n° 126).

Outros estudos mais recentes confirmaram a autenticidade dos Evangelhos, especialmente com as descobertas dos manuscritos de Qumran, na Palestina, próximo do Mar Morto, no ano 1949. Aí foram encontrados cópias da Bíblia, do século primeiro, inclusive pequenos fragmentos dos Evangelhos. Não há mais o que discutir!

Fonte: https://cleofas.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF