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terça-feira, 1 de julho de 2025

Estudo revela tragédia humanitária e ambiental da mineração ilegal na Amazônia brasileira

Amazônia, Brasil (Vatican News)

Pesquisa da REPAM-Brasil em parceria com o Instituto Conviva expõe violações de direitos, tráfico humano e contaminação de comunidades inteiras no coração da floresta.

Vatican News

Um retrato perturbador da devastação causada pela mineração ilegal na Amazônia acaba de ser revelado no estudo “Impactos da Mineração Ilegal na Amazônia”, desenvolvido pela REPAM-Brasil em parceria com o Instituto Conviva. A pesquisa mostra que o garimpo ilegal vai muito além da destruição ambiental: ele está no centro de uma cadeia de violações de direitos humanos, exploração sexual, tráfico de pessoas, trabalho análogo ao escravo e violência sistemática contra povos indígenas e trabalhadores migrantes. 

Confira o estudo completo aqui.  

O estudo parte de um marco trágico da história recente brasileira: o massacre de Haximu, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal como crime de genocídio contra o povo Yanomami. O caso, ocorrido em 1993, resultou na morte brutal de pelo menos 16 pessoas, mas sobreviventes afirmam que o número pode chegar a 70, evidenciando a gravidade da violência contra povos originários. 

Com base em dados coletados entre 2022 e 2024 por meio de entrevistas, grupos focais e análises institucionais, a pesquisa identificou 309 casos de pessoas em situação de tráfico humano, sendo 57% mulheres migrantes. O tráfico de mulheres para fins de exploração sexual se revela uma das faces mais cruéis dessa realidade, sustentando um mercado altamente lucrativo em meio à ausência do Estado. 

A pesquisa também revela o cotidiano dos “proletários da lama” — trabalhadores do garimpo em condições precárias, descartáveis, sem direitos trabalhistas e frequentemente submetidos a jornadas exaustivas, riscos de morte e doenças graves. Em muitos casos, seus corpos sequer retornam às famílias, sendo abandonados à margem das estradas ou ocultados em rios e clareiras da floresta. 

Além do impacto humano, o estudo detalha o uso de helicópteros, dragas e outros meios para manter uma economia subterrânea e violenta, movida pela ganância e pela impunidade. Em períodos mais intensos, o custo para entrar em áreas de garimpo podia ultrapassar R$ 8 mil por pessoa, revelando uma estrutura logística sofisticada que se sustenta à margem da lei. 

A REPAM-Brasil destaca que os danos da mineração ilegal afetam não só os povos da floresta, mas toda a sociedade. A contaminação por mercúrio e outros metais pesados, a degradação dos rios e a violência nos territórios refletem diretamente na qualidade do ar, da água e da vida nas cidades. 

“Não estamos diante apenas de uma questão ambiental. A mineração ilegal na Amazônia é um problema civilizatório, que coloca em risco os direitos fundamentais de milhares de pessoas e compromete o futuro da maior floresta tropical do mundo”, afirma professora Márcia Oliveira, da REPAM-Brasil. 

O estudo completo será lançado oficialmente em [DATA], e estará disponível para download no site da REPAM-Brasil. A organização espera que os dados sensibilizem autoridades e sociedade civil para a urgência de políticas públicas que protejam os territórios, as vidas e a dignidade das populações amazônicas. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Lucas Soares, da Arquidiocese de Brasília, é o único brasileiro ordenado sacerdote pelo Papa Leão XIV

Ordenação Presbiteral de Lucas Soares (Vatican News)

Na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero, dia 27 de junho, o diácono Lucas Soares dos Santos, da Arquidiocese de Brasília, foi ordenado sacerdote na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A celebração foi presidida pelo Papa Leão XIV e integrou o Jubileu dos Sacerdotes, que reúne padres de todo o mundo no contexto do Ano Santo da Esperança.

Ao todo, 32 novos presbíteros foram ordenados, provenientes de diversos países. Lucas foi o único brasileiro da cerimônia, representou não apenas a Arquidiocese de Brasília, mas também a Igreja no Brasil. A Missa contou com a presença de cerca de 5.500 fiéis no interior da Basílica e outras 3 mil pessoas que acompanharam a celebração pelos telões instalados na Praça São Pedro.

Na homilia, proferida antes do rito de ordenação, o Papa destacou o chamado dos novos sacerdotes a se tornarem intimamente unidos ao Coração de Cristo, “semente de concórdia no meio dos irmãos”. Diante dos desafios do mundo atual, o Pontífice convidou os presbíteros a viverem um ministério de santificação e unidade, centrado na Eucaristia, na penitência, na oração e na caridade pastoral.

“O nosso mundo frequentemente propõe modelos de sucesso e de prestígio duvidosos e inconsistentes. Não vos deixeis fascinar por eles! Em vez disso, olhai para o exemplo sólido e os frutos do apostolado, muitas vezes escondido e humilde, daqueles que serviram ao Senhor e aos irmãos com fé e dedicação”, exortou Leão XIV, recordando os santos como verdadeiros “campeões da caridade”.

A ordenação ocorreu após a peregrinação dos sacerdotes às Portas Santas das basílicas papais e a Vigília de Oração realizada na noite anterior, na Basílica de São João de Latrão, presidida por Dom Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização.

“Foi um momento muito intenso e muito feliz, em que eu tive a oportunidade de estar muito próximo à Igreja na pessoa do Papa Leão. Ser ordenado por ele, nessa situação, é uma realidade muito feliz, ainda mais no Ano Jubilar”, destacou o agora Padre Lucas Soares.

Com espírito de ação de graças e fidelidade à missão, a Arquidiocese de Brasília se une em oração pelo novo sacerdote, pedindo que seu ministério seja fecundo, santo e inteiramente doado a Deus e ao povo.

Com informações e foto do Vatican News

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Para iluminar, ter o fogo aceso: Matrimônio e celibato apostólico (2) (Parte 2/2)

Foto/Crédito: Opus Dei

Para iluminar, ter o fogo aceso: Matrimônio e celibato apostólico (2)

Viver como Cristo, tanto no matrimônio como no celibato, leva a acolher um estilo de vida novo que o Espírito Santo nos oferece: um amor fecundo, um coração limpo e uma opção pelas riquezas de Deus e pelo cuidado dos mais necessitados, no estilo do Evangelho.

30/06/2025

Uma limpeza necessária do coração

Jesus, durante os delicados momentos da Última Ceia, diz aos apóstolos: “Vós estais limpos”; embora acrescente a seguir: mas “nem todos”, referindo-se a Judas (cfr Jo 13, 10). Há aqui outra pista sobre esta nova vida à qual Ele convida os apóstolos: um estilo de vida “limpo”. Quer dizer, coerente e em sintonia com Ele, e que encontra no coração de Jesus a melhor maneira de amar os outros. E esta chamada é para todos, em qualquer estado em que a pessoa esteja. São Josemaria compreendeu-o bem, e por isso escreveu: “Prometo-vos um livro – se Deus me ajudar – que poderá ter este título: ‘Celibato, Matrimônio e Pureza’”[14]. A limpeza de coração é fonte de fecundidade para uns e outros. Embora o fundador do Opus Dei não tenha chegado a escrever esse livro, desejava dizer que todos podem ser igualmente abençoados com a fecundidade quando encontram a fonte de sua vida no amor de Deus e no amor aos outros, nesse “novo mandamento”. Aos casados dizia: “Vejo o leito conjugal como um altar”[15]. E aos celibatários: “Ânsia de filhos? ... Filhos, muitos filhos, e um rasto indelével de luz[16]”.

Talvez possamos compreender melhor essa “limpeza” da qual fala o Senhor ao olhar com um pouco mais de perspectiva a história de Judas. Os grandes planos e ambições que ele albergava estavam misturados com um mundanismo ao qual não quis renunciar. No final, sem sentir-se abençoado nem sequer com as trinta moedas de prata que ele mesmo negociou, acabou detestando tudo o que possuía: esse dinheiro, ser contado entre os apóstolos, e até sua própria vida. Tudo o que se afasta dessa limpeza de coração termina por revelar-se como um vil engano que nos defrauda, que nos distancia de nossa verdadeira felicidade. Neste sentido, as tentações de Jesus no deserto são bem eloquentes: mostram como o diabo, prometendo um pouco de pão, de glória e de honra, na verdade está interessado em que Jesus se desvie e deixe de realizar os planos divinos. O demônio é capaz de seduzir uma pessoa com alguma coisa boa desde que a desvie da missão que dá sentido à sua própria vida. A tentação não está tanto no “apropriar-se” de alguns bens, pequenos ou grandes, mas em que esses bens nos segurem e nos impeçam de dedicar as melhores energias ao serviço de Deus e dos outros.

Essa “limpeza de coração”, embora se forje no fundo da alma, manifesta-se também exteriormente, muitas vezes em pequenos gestos. Na vida matrimonial, pode ser vital uma maneira detalhista de relacionar-se, lembrar de aniversários, surpreendendo o outro adivinhando seus gostos etc. Do casal Alvira[17], por exemplo, aprendemos como “ao comprar a própria roupa, Paquita escolhia quase sempre as cores que agradavam a seu marido”. E, por sua vez, Tomás, “quando iam ao cinema, planejava para ir ver – muito feliz - os filmes... que ele sabia que agradavam mais a ela”[18]. A pessoa celibatária também comunica, com palavras e atitudes, que é chamada a dar vida sobrenatural e que o amor de sua vida tem um nome. Aprende a ser compreensiva com todos, sensível às necessidades dos outros, aprende ainda a deixar claro, sem equívocos, o compromisso de sua vida e de sua intimidade. “O celibato apostólico – afirma o Prelado do Opus Dei – pelo fato de comportar um compromisso de coração indiviso para Deus, deve ser visível num teor de vida entregue, análogo ao de uma pessoa casada, que não se comporta como se não tivesse nenhum compromisso”[19].

Cristo é a verdadeira riqueza

Essa “limpeza” da qual Jesus fala na Última Ceia oferece-nos ainda outro ensinamento. Sabemos que o fato de que Judas não estivesse limpo deve-se, pelo menos em parte, a que ele tenha deixado crescer no seu interior um afã desordenado pelas riquezas (cfr Jo 12, 6). Não se sabe de que quantidade de dinheiro o grupo dos doze dispunha. Não seria muito, mas tinham o suficiente para valer-se por si mesmos e para atender os mais necessitados. Quando Jesus disse a Judas “o que tens que fazer, faze-o logo”, os outros pensaram que, como ele era quem guardava o dinheiro, Jesus lhe estava pedindo que comprasse o necessário para a festa ou que desse alguma coisa aos pobres (cfr Jo 13, 27-29).

Essa “limpeza” à qual o Senhor convida seus apóstolos inclui também a ordem em nossas relações com as coisas materiais; recorda eloquentemente como é decisivo confiar em Deus e, portanto, ter a convicção de que a finalidade dos bens materiais está em impulsionar nossa missão espiritual. Quando Jesus envia setenta e dois discípulos para anunciar o Reino, e em muitos outros momentos, insiste em que não levem coisas supérfluas, não atesourem sem sentido e não se preocupem de modo desordenado pelos bens da terra. Porque é fácil que nosso coração se afeiçoe, se apegue a essas seguranças e que deixe de brilhar nele a tênue luz do Espírito Santo para dar lugar ao falso resplendor da avareza. Por isso não é estranho ver, nos inícios da Igreja, os apóstolos distribuindo bens aos mais necessitados com magnanimidade (cfr At 4,34; 24, 17; 1Cor 16, 1-4; Gal 2,10; e outros) e sempre, possuindo ou não riquezas, mostrando qual era a fonte essencial de sua missão: “Não tenho ouro nem prata – disse São Pedro a um paralítico – mas o que tenho te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!”(At 3,6).

O cristão aprende a amar “na prosperidade e na adversidade, na saúde e na doença”: ou chegando ao fim do mês fazendo malabarismos com as contas, ou procurando com criatividade como pôr os bens a serviço dos outros. O casal Alvira conta que conseguiu um verdadeiro “milagre econômico”[20] ao permitir a seus filhos terminarem os estudos. Toni Zweifel[21], numerário suíço do Opus Dei, por seu lado também é recordado como alguém que “levou uma vida generosa e sóbria”[22]. Isso, porém, era o fruto maduro de um caminho que ele começou ainda quando era um jovem engenheiro. Conta-se que antes de descobrir sua vocação como numerário possuía um luxuoso carro esportivo, presente de seu pai como prêmio a seus êxitos de estudante de engenharia[23]. Quando se decidiu pelo celibato apostólico, “deu logo a entender a seu pai que precisava de um modelo de carro mais adequado a suas condições de vida, e conseguiu que ele o trocasse por outro mais útil para a residência: um Saab de sete lugares”[24] que foi essencial para a vida de todos. Em definitivo, aprendeu a utilizar os bens de modo que contribuíssem para reforçar sua missão de apóstolo.

Se é preciso preferir, prefere os mais fracos

Existe uma característica peculiar do estilo de vida de um apóstolo, consequência do que ficou dito. Saber-se apóstolo, aprender a amar sempre e a todos como Cristo, viver com um coração limpo e ancorado nos bens de Deus, permite que se sinta predileção – como Cristo – pelos mais fracos e necessitados. Jesus, com efeito, cura os enfermos, louva os simples de coração, preocupa-se pelas crianças, compadece-se dos pecadores. Poderíamos dizer que, se é preciso preferir, Jesus prefere os mais fracos e necessitados, os que se sentem perdidos, em desvantagem, desprotegidos. Quando os discípulos de João Batista querem saber se ele é o Messias, manda-lhes dizer: “Anunciai a todos o que estais vendo e ouvindo: os cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia o Evangelho. E bem-aventurado quem não se escandalizar de mim” (Mt 11, 4-5)

Por que Jesus nos adverte sobre a possibilidade de escandalizar-nos dele? Talvez porque costumamos ter outras prioridades. O coração humano já foi descrito como uma “máquina de preferir e desdenhar”[25], e em boa medida é verdade, pois tendemos a querer o que nos agrada e a rejeitar o que nos incomoda. Talvez seja espontâneo aproximar-nos daqueles que nos beneficiam e afastar-nos dos que nos incomodam; queremos os primeiros lugares e estamos dispostos a atropelar os outros para conseguir algum bem. Os discípulos do Senhor, pelo contrário, são chamados a ser aqueles que, tendo purificado o coração, os afetos e os sentidos, priorizam as pessoas e os âmbitos que mais têm sede da vida de Cristo; deixam-se impressionar pelo que representa um tesouro para o Senhor.

Pedro Ballester[26], por exemplo, percebeu “que havia um menino de oito anos na vizinhança que não tinha com quem brincar. Embora fosse vários anos mais velho, Pedro convidou-lhe para brincar em sua casa. Desde então, aquela criança batia à porta dos Ballester com muita frequência”[27]. Também nós podemos perceber, entre os que estão perto de nós, os mais pobres de amor de Deus, quer dizer, os tristes, cansados, inoportunos ou descartados, por idade ou doença. “Criança. – Doente. – Ao escrever estas palavras – pergunta São Josemaria – não sentis a tentação de escrevê-las com maiúsculas? É que, para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele”[28].

Na Obra, São Josemaria também quis que se cuidasse de modo especial os mais necessitados. Ensinou, por isso, a formar a juventude atendendo aos pobres, dando catequese às crianças, impulsionando iniciativas sociais em ambientes muito diversos. E com sensibilidade paterna pediu a todos os membros do Opus Dei que rezassem todo dia a Nossa Senhora a oração Lembrai-vos de São Bernardo pedindo pela pessoa da Obra que mais necessitasse de oração. Isidoro Zorzano, um dos primeiros membros da Obra, mostra como essa realidade já era vivida durante a guerra civil espanhola. Ele, que tinha liberdade de movimentos por sua nacionalidade argentina, podia visitar os membros do Opus Dei que estavam escondidos em Madri. Entre todos, não ocultava que tinha um que mais gostava de visitar: Vicente Rodríguez Casado. Isidoro dizia com simplicidade: “Eu vou vê-lo com frequência pois é o que está mais sozinho”[29].

***

“O que ilumina deve aceitar aquilo que queima”[30], diz um poeta contemporâneo. Com efeito, o fogo interior da vocação cristã é aquilo que precisamos conservar e alimentar para ser, como dizia São Paulo aos de Corinto, “uma carta de Cristo” que foi “escrita não com tinta, mas com o espírito de Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas que são corações de carne” (2 Cor 3, 3). Esse fogo, tanto em solteiros como em casados, e naqueles que receberam o dom do celibato, acende-se no amor de Cristo, propaga-se em outros fogos, purifica o coração e procura dar calor a quem mais necessita.


[14] São Josemaria, Caminho, n. 120.

[15] São Josemaria, Anotações de uma reunião familiar (1967), em José Luis Illanes (coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá de Balaguer, Monte Carmelo, Burgos 2013, 490.

[16] São Josemaria, Caminho, n. 28

[17] O casal formado por Tomás Alvira (1906-1992) e Paquita Domínguez (1912-1994) foi um exemplo de vida cristã no matrimônio e na família. Membros da Obra, viveram sua fé com alegria, simplicidade e espírito de serviço, procurando transmitir a fé a seus filhos e a quem os rodeavam. Seu processo de beatificação está em curso.

[18] Hilario Mendo. El secreto de los Alvira. Un ejemplo de amor matrimonial, Palabra, Madri 2023, 29.

[19] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral de 28 de outubro de 2020, n. 22.

[20] Hilario Mendo. El secreto de los Alvira. Un ejemplo de amor matrimonial, Palabra, Madri 2023,116.

[21] Toni Zweifel (1938-1989) era engenheiro suíço, conhecido por seu trabalho na Fundação Limmat, Dedicada a promover projetos de desenvolvimento e educação em todo mundo. Destacou-se por sua profunda vida de fé, espírito de serviço e confiança em Deus, inclusive durante sua doença. Seu processo de beatificação está em curso.

[22] Agustín López Kindler, Toni ZweifelHuellas de una historia de amor, Rialp, Madri 2016, 140.

[23] Cfr. Ibidem 33

[24] Ibidem, 51.

[25] José Ortega y Gasset, La elección en amor [Revelación de la cuenca, latente] em Estudios sobre el amor, Revista de Occidente, 8ª edição, Madri 1952, 92-99.

[26] Pedro Ballester (1994-2018) era um jovem britânico, conhecido por sua fé profunda e alegria em meio à doença. Era numerário do Opus Dei. Diagnosticado com câncer aos 17 anos, enfrentou seu sofrimento com fortaleza e confiança em Deus, dando o exemplo àqueles que o conheceram. Seu processo de beatificação está em curso.

[27] Jorge Boronat, Pedro Ballester. ¡Nunca he sido más feliz!, Cobel, Murcia 2022, 19.

[28] São Josemaria, Caminho, n. 419

[29] José Miguel Pero-Sanz, Isidoro Zorzano, Palabra, Madri 1996, 203.

[30] Anton Wildgans, em Wenceslao Vial, Psicología y celibato, em Juan Luis Caballero (ed), El celibato cristiano, Palabra, Madri 2019, 183.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/para-iluminar-ter-o-fogo-aceso-matrimonio-e-celibato-apostolico-2/

Maioria dos adultos nos EUA apoia oração em escolas públicas, diz pesquisa

Pessoa orando. Imagem referencial. | : MIA Studio/Shutterstock

Por Madalaine Elhabbal*

30 de junho de 2025

Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, a maioria dos adultos nos EUA apoia que a oração cristã em escolas públicas seja permitida.

Segundo a pesquisa, 52% dos adultos apoiam permitir que professores de escolas públicas conduzam suas aulas com orações que se referem a Jesus, com 27% dizendo que apoiam fortemente e 26% dizendo que são a favor.

No geral, 46% dos adultos americanos se opõem à oração cristã nas escolas públicas, 22% se opondo veementemente.

“Novos debates estão acontecendo nos EUA sobre o lugar da religião — especialmente do cristianismo — nas escolas públicas”, diz o relatório.

O relatório foi divulgado em 23 de junho, dois dias depois de Greg Abbott, governador Texas, republicano, assinar uma lei exigindo que as escolas públicas exibam os Dez Mandamentos em todas as salas de aula no início do ano letivo de 2025-2026.

O relatório do Pew Research Center é baseado em dados do Estudo do Cenário Religioso de 2023-2024, que entrevistou 36.908 adultos dos EUA de 17 de julho de 2023 a 4 de março do ano passado.

Embora a maioria dos adultos no país apoie a oração cristã nas escolas públicas, o apoio varia muito de Estado para Estado.

A maioria dos adultos em 22 Estados nas regiões sul e centro-oeste do país, como Mississippi, Carolina do Sul, Oklahoma, Kentucky, Dakota do Sul, Dakota do Norte, Nebraska, Ohio e Michigan disseram que apoiavam a prática.

A maioria dos adultos em 12 Estados — Califórnia, Oregon, Washington, Vermont, Connecticut, New Hampshire, Massachusetts, Nova York, Nova Jersey, Minnesota, Colorado e Illinois — e no Distrito de Columbia, onde fica a capital do país, disseram se opôr à oração cristã nas escolas públicas.

Os dados nos 16 Estados restantes estão divididos, com cerca de metade dos adultos em Estados como Delaware, Virgínia, Pensilvânia, Idaho, Arizona e Maryland dizendo que são a favor de permitir a oração cristã.

“Uma vez considerada a margem de erro da pesquisa, o apoio à oração cristã liderada por professores nesses Estados não é significativamente diferente da oposição”, diz o relatório.

O relatório diz também que “uma parcela ligeiramente maior de americanos diz ser a favor de permitir orações lideradas por professores que façam referência a Deus (57%) do que a favor de permitir orações lideradas por professores que façam referência específica a Jesus (52%)”.

*Madalaine Elhabbal é uma repórter da Catholic News Agency baseada no escritório da EWTN em Washington, D.C. Ela escreveu para o CatholicVote e também trabalhou como assistente de língua estrangeira na França. Ela é formada pelo Benedictine College (EUA).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63415/maioria-dos-adultos-nos-eua-apoia-oracao-em-escolas-publicas-diz-pesquisa

O cristianismo: uma história simples (Parte 2/4)

Beato Angelico, A Anunciação, com a cena da expulsão de Adão e Eva do paraíso terrestre depois do pecado original, Museu do Prado, Madri | 30Giorni

RECORDANDO PADRE GIACOMO...

Arquivo 30Dias nº 05 - 2012

O cristianismo: uma história simples

Encontro com padre Giacomo Tantardini no Centro Cultural Fabio Locatelli, de Bérgamo 15 de dezembro de 2000.

pelo Padre Giacomo Tantardini

2. O que resta, nessa condição? O Mistério inacessível, que não tem rosto, e o homem, ao qual a luz (a luz significa a surpresa da criação, que é boa), essa luz, já não é familiar. A criação já não é cara beleza, mas algo estranho, inimizade, a ponto de Caim matar Abel. O que resta? Resta o coração. O coração é ferido, mas continua a ser coração. Essa é a outra grande coisa que o catolicismo nos diz. Ferido, obnubilado no reconhecimento da verdade e debilitado na possibilidade de ser coerente com a verdade, e mesmo assim o coração permanece. O coração do homem permanece. O coração que nossa mãe, nosso pai nos deram, que Deus por meio deles nos deu, continua a ser coração. Ou seja, o coração continua a ser espera, espera de encontrar alguma coisa. O coração continua a ser pedido de estar contente, o coração continua a ser pedido de felicidade. O coração ferido continua a ser coração.

Leio a vocês dois trechos da poesia mais bela de Leopardi, À sua dama, quando ele diz que o que buscava na beleza da mulher era uma beleza maior, uma beleza que finalmente pudesse satisfazer a espera do coração. Mas acrescenta que isso era um sonho de quando era adolescente. Ao se tornar adulto, percebe que esse sonho já é impossível. “De viva contemplar-te eu já não tenho / Esperança nenhuma”. Já não tenho esperança nenhuma de ver-te viva, ó beleza. Já não tenho esperança nenhuma de encontrar, aqui nesta vida, essa coisa imprevista, essa coisa imprevisível, que o meu coração espera. “No despontar da minha nova vida / Incerta e escura”. A genialidade humana é profecia de Cristo. Não no sentido de que antecipa Cristo, não no sentido de que faz discursos cristãos. Mas no sentido de que O espera, pedindo ou blasfemando, mas O espera. “No despontar da minha nova vida / Incerta e escura.” “Incerta.” Se o Santo, se o Mistério é inacessível, que pode fazer o homem, a não ser estar incerto? Que pode fazer o homem? Não podemos condenar o homem, não podemos condená-lo por seu niilismo, por sua “falta de fé”. O que o homem pode fazer, se o Mistério não tem rosto? O que pode fazer? Até porque o niilismo (Santo Agostinho nisso antecipa e responde a Nietzsche) nasce do fato de a pessoa se dar conta de que esse Deus que diz afirmar é uma projeção de si, ou seja, perceber que Deus não existe. Se Deus é uma projeção, uma imagem de si, a pessoa se dá conta de que esse Deus não existe, não é nada. Nihil estnão é nada. “... Incerta e escura, um dia imaginei-te / Por este árido solo viandante”. Eu pensei encontrar-te neste solo árido, encontrar o que o coração espera. “Mas na terra não há quem se te iguale”. Mas não encontrei nada na terra, nada que merecesse até o fundo o meu coração. Muitas coisas (o próprio Leopardi teve muitas mulheres), mas nada, nenhuma realmente que merecesse até o fundo o meu coração. “Mas na terra não há quem se te iguale, / E mesmo que no rosto, voz e gestos, / Alguma te evocasse, embora assim,/ Bem menos bela se apresentaria”. Aqui está a intuição, que pode ser apenas graça: mesmo se houvesse uma coisa que se assemelhasse a ti no rosto, nas palavras e nos gestos, “embora assim, / Bem menos bela se apresentaria” do que aquilo que o meu coração espera.

Essa poesia acaba com uma oração, a mais fantástica oração de um ateu, pois Giacomo Leopardi era ateu e materialista. Nenhum devoto escreveu uma oração assim ao Mistério que se revelou: “Se és uma das ideias imortais / A quem sensível forma recusou/ A eterna sapiência”. Se tu, ó beleza, se tu, ó coisa que o coração espera, se tu, ó coisa que o coração pede, se tu, felicidade, és uma das ideias imortais que se recusam a revestir-se de forma sensível. “E por entre / Caducas vestimentas, desta vida / Trevosa isentou de sofrimento”, e se recusa a experimentar aqui na terra os afãs desta vida que corre para a morte, “daqui de onde / Tão efêmeros são os infaustos dias,/ Recebe deste ignoto amante o hino”.

Daqui de onde / Tão efêmeros são os infaustos dias.” Isso é realismo cristão. De um ateu, mas é realismo cristão. É realismo humano e portanto profecia de Quem criou o coração assim. Daqui de onde as coisas passam logo. Passam logo também as coisas boas, também o sorriso da criança, do filho, também o afeto pela mulher que amamos. “Daqui de onde / Tão efêmeros são os infaustos dias,/ Recebe deste ignoto amante o hino”. Permanece o coração, o coração que espera uma coisa assim. Mas o homem (e usamos agora uma expressão de Agostinho, que foi na Igreja o testemunho talvez humanamente mais fascinante desse coração), o homem está longe desse coraçãofugitivus cordis sui. O homem está longe dessa pergunta e o homem se contenta. Contenta-se. E com que se contenta? Com a usura, a luxúria e o poder. E não há religião que dê jeito. Contenta-se com essas três coisas, o dinheiro, a luxúria e o poder. Quem crê em Deus e quem não crê. E essa é uma das coisas mais impressionantes do De civitate Dei de Agostinho. A crença em Deus por si só não muda a vida, por si só não muda a vida. Todos os livros do De civitate Dei de Agostinho são atuais. Nos livros oitavo, nono e décimo, Agostinho fala dos filósofos que conheceram a Deus, que reconheceram a existência de Deus. No entanto, no fim, “pensaram ter de oferecer honras divinas de ritos e sacrifícios ao diabo”. O satanismo pode ser a consequência também de alguém proclamar-se crente em Deus, pois a crença em Deus não muda realmente a vida. É uma outra coisa que muda a vida. Se a crença em Deus mudasse a vida não teria sido necessário que Maria desse à luz.

3. Por isso festejamos o Natal. Entendem? Porque, se a crença em Deus mudasse a vida, não teria sido necessário o que aconteceu há dois mil anos. Não só isso: não poderíamos ser gratos como somos gratos. Quando há dois mil anos o anjo Gabriel foi enviado àquela cidade, no limite da Palestina, à Galileia dos gentios, a uma jovem judia chamada Maria... Tudo começou ali. O Santo inacessível, Aquele que criou o coração bom... (mas o pecado original levou a essa condição pela qual o homem de fato se contenta, não pode não se contentar com a luxúria, o dinheiro e o poder), o Santo inacessível tornou-se carne no ventre de uma mulher. Um fato. Aquela história simples começou ali. E começou justamente como história, como história simples. Começou com “Eu te saúdo, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”. E essa pequena menina judia, que não compreendeu imediatamente, ficou perturbada e se perguntou o que aquela saudação poderia significar. E o anjo lhe disse: “Não temas, Maria, encontraste graça junto de Deus”. E então aquela pequena menina exprime aquele “Sim”, aquele “Eis-me aqui”, graças ao qual o homem tem esperança de ser salvo. Sem aquele “Eis-me aqui”, toda a crença em Deus não dá esperança ao homem. Aquele “Eis-me aqui” começa uma história, uma história simples. Uma história significa que Aquele que começou assim com Maria (“Encontraste graça junto de Deus”) é Ele, é Ele que leva adiante esse início. De fato, pensem em Nossa Senhora. Pensem: ficou nesse “Eis-me aqui” mesmo quando o anjo a deixou. Pensem no conforto... (essa é uma das coisas que mais me impressionam, que mais me comovem diante de Nossa Senhora), pensem no primeiro conforto que teve, na primeira confirmação de que o que ouvira era real, quando, como qualquer mulher, se deu conta de que estava grávida. Deve ter sido uma coisa do outro mundo. Porque significava que aquela promessa era real, aquela promessa a que logo havia dito “Sim”, a que logo havia dito “Eis-me aqui”, aquela promessa era real, pois aquilo que um Outro havia iniciado estava para ser levado a cumprir-se. E assim o outro conforto que me impressiona e me comove é quando a São José, em sonho, o anjo diz: “José, filho de Davi, não hesites em tomar contigo Maria, tua esposa, pois o que nasceu nela vem do Espírito Santo”. E pensem, porque podemos imaginar... (é outra coisa, se comparada a todas as religiões deste mundo, é outra coisa. É uma história de homens, de jovens, eram dois jovens), pensem o que foi para Maria quando José a tomou consigo. Foi uma outra confirmação, uma outra confirmação de que aquele encontro, aquele “Eu te saúdo, ó cheia de graça” era real. E depois foram juntos visitar Isabel, pois o anjo lhe havia dito que Isabel também esperava um filho e também esse fato confirmou aquele “Eu te saúdo, ó cheia de graça; não temas, Maria”.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dicastério para o Clero

O Dicastério para o Clero concretiza a preocupação da Sé Apostólica pela formação dos candidatos às Ordens Sagradas (Vatican Media)

Este organismo trata de tudo o que diz respeito aos sacerdotes e aos diáconos do clero diocesano em relação ao seu ministério pastoral e ao que é necessário para o seu frutuoso exercício.

Amedeo Lomonaco – Cidade do Vaticano

Manifestar e implementar a solicitude da Sé Apostólica no que diz respeito à formação dos candidatos às Ordens Sagradas. A missão do Dicastério para o Clero insere-se neste contexto, auxiliando os bispos diocesanos para que, nas suas Igrejas, possa prover uma pastoral vocacional e, nos seminários, os alunos recebam uma formação adequada, com uma sólida formação humana, espiritual, intelectual e pastoral. O prefeito do Dicastério para o Clero é o cardeal Lazzaro You Heung sik e o secretário é Monsenhor Andrés Gabriel Ferrada Moreira.

Notas históricas

A história deste organismo está ligada à S. Congregatio Cardinalium Concilii Tridentini interpretum, instituída por Pio IV com a Constituição Apostólica Alias ​​Nos de 1564, para cuidar da correta interpretação e a prática observância das normas estabelecidas pelo Concílio de Trento. Este organismo conservou o seu nome histórico de Sagrada Congregação do Concílio até 31 de dezembro de 1967. Com a promulgação do "Praedicate Evangelium", o nome foi alterado para Dicastério para o Clero.

Competências

Conforme enfatizado na Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana, o Dicastério para o Clero é chamado a supervisionar um âmbito crucial: o esforço e a tarefa consistem em garantir que a vida comunitária e o governo dos seminários estejam em conformidade com as exigências da formação sacerdotal. Deve-se também assegurar que Superiores e educadores contribuam, tanto quanto possível, com o exemplo e a reta doutrina, para a formação da personalidade dos futuros ministros ordenados.

O Dicastério é responsável por promover tudo o que diz respeito à formação dos futuros clérigos por meio de normas específicas, como a Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis e a Ratio fundamentalis institutionis diaconorum permanentium, bem como outros documentos relativos à formação permanente. O Dicastério para o Clero também é responsável por confirmar a Ratio institutionis sacerdotalis nationalis emitida pelas Conferências Episcopais, bem como por confirmar a ereção de seminários interdiocesanos e seus Estatutos.

Departamentos do Dicastério

O Dicastério é dividido em quatro departamentos: Clero, Dispensas (ver art. 116 §2), Administração (dos bens eclesiásticos), Formação inicial e permanente (anteriormente denominado "Departamento Seminários"). Tais setores são confiados à coordenação de um número igual de Chefes de Departamento ou Coordenadores, que supervisionam o trabalho dos Oficiais e colaboram com os Superiores na gestão da documentação dos assuntos que lhes são confiados.

Desde 2022, o Dicastério empreendeu um projeto para implementar o serviço de Comunicação e Eventos, constituindo nele uma coordenação destinada a desenvolver uma nova estratégia de comunicação que vise promover uma rede de apoio e intercâmbio com as Igrejas particulares. Além disso, os departamentos Clero e  Formação coletam, sugerem e promovem iniciativas para a santidade e a atualização intelectual e pastoral do Clero (sacerdotes e diáconos diocesanos).

O departamento Formação tem competência sobre todos os Seminários, exceto aqueles dependentes das Congregações para as Igrejas Orientais e para a Evangelização dos Povos.

O âmbito peculiar do Departamento Administrativo diz respeito à organização e administração dos bens eclesiásticos pertencentes a pessoas jurídicas públicas.

O Departamento Dispensas tem a competência para tratar de acordo com a lei, as dispensas das obrigações assumidas com a sagrada ordenação ao Diaconato e ao Presbiterado por clérigos e religiosos diocesanos da Igreja Latina e das Igrejas Orientais.

Dicastério para o Clero: a Capela

Nos passos do Bom Samaritano e do Cura d'Ars

O caminho da formação sacerdotal abrange vários aspectos da vida de um ministro de Deus. O horizonte do Dicastério para o Clero é o de servir a Igreja de tal forma que ela seja animada por mentes e braços capazes de reavivar, em todo o mundo, a figura do Bom Samaritano. Trata-se de fazer brilhar a misericórdia de Deus, o amor evangélico.

Com estas palavras, São João Maria Vianney, padroeiro do Clero, refere-se ao ministério sacerdotal: "Se soubéssemos bem o que é um padre na terra, morreríamos: não de medo, mas de amor".

O Santo Cura d'Ars foi, segundo o cardeal Lazzaro You Heung sik, o exemplo de uma santidade que "nasce da oração, da Eucaristia e da Confissão, não do prestígio". Uma santidade forjada pela capacidade de ouvir, amar e guiar as pessoas “com o coração de um pastor”. Hoje, mais do que nunca, ele continua sendo um modelo para todos os sacerdotes.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Para iluminar, ter o fogo aceso: Matrimônio e celibato apostólico (2) (Parte 1/2)

Foto/Crédito: Opus Dei

Para iluminar, ter o fogo aceso: Matrimônio e celibato apostólico (2)

Viver como Cristo, tanto no matrimônio como no celibato, leva a acolher um estilo de vida novo que o Espírito Santo nos oferece: um amor fecundo, um coração limpo e uma opção pelas riquezas de Deus e pelo cuidado dos mais necessitados, no estilo do Evangelho.

30/06/2025

Em meados dos anos cinquenta depois de Cristo, Suetônio escreve que o imperador Cláudio “expulsou [de Roma] os judeus que, impulsionados por Cresto, provocavam altercações com frequência”[1]. Aos olhos da autoridade romana, afirmavam que Cristo estava vivo, embora os de Jerusalém insistissem em que havia morrido crucificado: tratava-se dos cristãos procedentes da Judeia que possivelmente tinham ido à capital do império para anunciar Jesus ressuscitado. Eles compreenderam que não eram só os dozes apóstolos que estavam chamados a realizar aquela missão, mas todos os discípulos de Cristo de todos os tempos. Isso São Paulo recorda a uma das primeiras comunidades: “Sois uma carta de Cristo” – diz-lhes – que foi redigida em vossos corações ‘com o Espírito de Deus vivo’” (2 Cor 3,3). Todos eram chamados a ser, com sua vida, uma mensagem para os outros, escrita pelo próprio Cristo.

Naquele grupo muitos eram casados, como “o centurião Cornélio, que foi dócil à vontade de Deus e em cuja casa consumou-se a abertura da Igreja aos gentios (At 10, 24-48); Áquila e Priscila que difundiram o cristianismo em Corinto e em Éfeso e que colaboraram no apostolado de São Paulo (At 18, 1-26); Tábita, que com sua caridade assistiu os necessitados de Jope (At 9, 36)”[2]. Muitos outros, pelo contrário, não abraçavam o matrimônio por diferentes razões, entre elas, ter recebido o dom do celibato, com uma chamada a unir-se também a esse aspecto da vida de Jesus. É o que relata Galeno – um famoso médico pagão – por volta do ano 200 que também “há entre eles mulheres e homens que se abstiveram da união sexual por toda sua vida”[3]. O que também, na mesma época, São Justino testemunha: “Muitos homens e mulheres, já septuagenários, cristãos desde a juventude, conservam-se virgens”[4]. O que havia de novidade na mensagem ou no estilo de vida daqueles cristãos, casados e solteiros, viúvos e celibatários, que fizeram temer o próprio imperador?

Viviam sob uma nova lei

“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19): com esta frase o Senhor envia os apóstolos – e continua enviando-nos – a todo o mundo. Jesus acrescentou, além disso, que aonde fossem, ensinassem “a observar tudo o que vos prescrevi” (Mt 28,20). Se estas palavras chegaram aos ouvidos do imperador Cláudio, seria compreensível que ele se enchesse de nervosismo, pois Jesus Cristo estava estabelecendo uma nova lei, que, ao que parece, afetava qualquer território, inclusive o dele. O mandamento de Cristo, no entanto, era muito diferente do que talvez o imperador imaginasse: a lei dos discípulos – que os distinguiriam se a vivessem – não era outra, senão amar como Ele mesmo amou.

Jesus definiu essa lei peculiar como o “mandamento novo” (cfr Jo 13, 34) e, em boa medida, é sempre novo, pois não é simples aprender a amar assim. Se observarmos à nossa volta, há muitos cantos de sereia que nos convidam a viver de outra forma, a amar ídolos, interiores ou exteriores. E se olharmos dentro de nós, também existem motivos de sobra para tornar evidente, inclusive, que pode ser delicado amar-nos assim a nós mesmos: com a passagem do tempo acumulamos tensões, fracassos, medos, que vão golpeando a nossa própria autoestima. Quem pode amar a Deus, a si mesmo e ao próximo como Jesus fez?

Acolher a realidade como amada por Deus, sem devolver o mal por mal, sem procurar a justiça por nossa conta , tentando ver como nós também podemos amá-la é parte de “guardar o que Ele ensinou”. No casamento, os esposos declaram um ao outro: “eu te recebo e me entrego a ti e prometo ser fiel na prosperidade e na adversidade, na saúde e na doença, e amar-te e respeitar-te todos os dias da minha vida”. De certa forma, Deus realiza isso mesmo conosco; promete-nos que, junto dele, toda realidade pode ser aceita. Inclusive no que é mais obscuro – desgraças, doenças, injustiças, infidelidades, fracassos – podemos descobrir o significado misterioso, uma luz tênue e, com sua ajuda, podemos compreender como “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom 8, 28).

A bem-aventurada Guadalupe[5] dizia que, para realizar o apostolado do Opus Dei, estaria “contente onde me necessitem”[6], pois sabia que qualquer circunstância era propícia para viver esse novo mandamento de Jesus, essa nova lei do amor que convida todos a viverem em uma lógica diferente. Por isso, “seu projeto de vida ficou engrandecido ao ser colocado dentro do plano divino: Guadalupe deixou-se levar por Deus, com alegria e espontaneidade de um lugar a outro, de um trabalho a outro. O Senhor potencializou sua capacidade e talentos, desenvolveu sua personalidade e multiplicou os frutos de sua vida”[7]. A vida dos santos recorda-nos o que é viver sob este novo império que vence o egoísmo com o amor de Cristo que se encarna nos cristãos.

A chamada à paternidade e maternidade espirituais

É lógico, por isso, que os discípulos tenham começado a ver as pessoas com outros olhos; já não viam distinções de nação nem de qualquer outro tipo, mas procuravam amar com o coração misericordioso de Deus, judeus, samaritanos, galileus, romanos, gregos ou persas. Imitando Jesus, adquiriam pouco a pouco um coração de pai e de mãe, pois eram chamados a comunicar uma vida nova ao dar à luz na fé a tantas pessoas. São Gregório de Nisa indica que o motivo pelo qual Jesus era celibatário era precisamente porque Ele vinha ao mundo não para gerar filhos nascidos do sangue ou da carne (cfr Jo 1, 13), e sim para dar-nos a vida sobrenatural, engendrando-nos como filhos de Deus[8]. Todos os cristãos – seguidores de Jesus Cristo –, solteiros e casados, somos chamados a essa paternidade ou maternidade espirituais.

Viver esse novo tipo de paternidade ou maternidade é a missão mais alta de toda pessoa. Assim como o Gênesis sublinha a vocação à paternidade e à maternidade físicas (cfr Gn 1,28), poderíamos dizer que os primeiros discípulos, herdeiros de um novo gênero humano a partir da Ressurreição do Senhor, foram chamados a uma nova paternidade e maternidade em Cristo. A própria bem-aventurada Guadalupe várias vezes, ao escrever a São Josemaria, não pode ocultar sua alegria vendo crescer essa vida nova nas pessoas à sua volta, especialmente nas estudantes da residência em que morava: “Às vezes, vendo-as todas contentes e trabalhando bem, nos parece que já conseguimos tudo, e esquecemos que o nosso trabalho é nada menos que ensiná-las a ser santas, sendo nós também”[9].

Os cônjuges recebem essa fecundidade especialmente através da graça do matrimônio, mas não somente aí. Com o Espírito Santo e os outros sacramentos, dispõem sempre de luz e forças novas para cuidar um do outro e para educar os filhos – quando chegam – nutrindo-os com a vida de Deus. Aqueles que não têm filhos podem também descobrir essa fecundidade inflamar o amor de Deus em pessoas e lugares que talvez nunca tivessem imaginado.

É também o próprio Espírito Santo que concede uma graça especial às pessoas solteiras ou àquelas que receberam o dom do celibato: com isso imitam a vida de Cristo no modo particular de cuidar e de dar a vida espiritual a tanta gente.

Na vida de Marcelo Câmara[10], supernumerário do Opus Dei que faleceu muito jovem, observa-se claramente essa paternidade espiritual. Uma amiga recorda uma conversa com o Marcelo, num dia em que se sentia triste: “Lá estava eu – diz ao recordar um desses momentos – ganhando de presente mais uma vez aquela sensação, como se eu estivesse por poucos segundos sentindo Cristo muito próximo, cuidando de mim, me incentivando na fé. Uma sensação de paz indescritível”[11]. Algo similar recordam os alunos de Arturo Álvarez[12], adscrito do Opus Dei, engenheiro e professor mexicano. Numa carta dirigida a ele, diziam: “Um mestre é aquele que além de dar sua matéria, dá a seus alunos parte do seu próprio ser, de sua filosofia de vida e de seu credo. Ao dar sua aula cada manhã, vemos como em cada atividade procura a oportunidade de realizar-se, de santificar-se (...). É um mestre que deixará uma marca profunda em nossa vida”[13].


[1] Suetonio, Vitae XII Caesarum. Vita Claudii, XXVV, 3. Na versão original se lê: “Iudeos impulsore Chresto assidue tumultuantes Roma expulit”.

[2] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 30

[3] Galeno, Libro de sententiis Politiae Platonicae, exposto por Abu Al-Fida Ismail Ibn-Ali, Abulfedae Historia Anteislamica Arabice, F.C.G. Vogel, Lipsia 1831, 109. Na versão original lê-se: “Sunt enim inter eos, et foeminae et viri, qui por totam vitam a concubitu abstinuerint”. Galeno nasceu em Pérgamo (Turquia) por volta do ano 130 e faleceu em 201. Foi médico da corte imperial no tempo de Marco Aurélio, bem como de seu filho Cómodo e dos imperadores seguintes.

[4] São Justino, Apologia I, 15, 6-7

[5] Guadalupe Ortiz de Landázuri (1916-1975) era química e professora espanhola e foi uma das primeiras mulheres do Opus Dei, como numerária. Destacou-se por sua entrega ao ensino e por seu trabalho evangelizador na Espanha e na América Latina. Foi beatificada em 2019.

[6] María del Rincón, Maria Teresa Escobar, Cartas para um santo.

[7] Mons. Fernando Ocáriz, mensagem de 9 de abril de 2019.

[8] Cfr. São Gregório de Nisa, De Virginitate 2, 1, 1-11.

[9] María del Rincón, María Teresa Escobar, Cartas para um Santo.

[10] Marcelo Henrique Câmara (1979 – 2008) era um leigo brasileiro, advogado e professor, conhecido por sua profunda vida de fé e de apostolado no Opus Dei. Destacou-se por sua alegria, espírito de serviço e testemunho cristão na vida cotidiana. Está em processo de beatificação.

[11] Maria Zoê Bellani Lyra Espindola. No caminho da santidade; A vida de Marcelo Câmara, um promotor de justiça (Portuguese Edition) (p. 55). Cia do eBook. Edição do Kindle.

[12] Arturo Álvares Ramírez (1935 – 1992) era um engenheiro químico e professor mexicano, reconhecido por sua dedicação à docência na Universidade de Guadalajara durante mais de trinta anos. Destacou-se por sua amabilidade e disponibilidade para com todos. Seu processo de beatificação teve início em 2021 em Guadalajara.

[13] Javier Galindo Michel, La vida plena de Arturo Álvarez Ramírez, Minos, Cidade do México 2018, 71.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/para-iluminar-ter-o-fogo-aceso-matrimonio-e-celibato-apostolico-2/

“Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais”, a fé na canção de Alceu Valença

Donatas Dabravolskas | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 30/06/25

Uma canção da MPB que remete a um sentimento religioso

As canções fazem parte da nossa vida. Antes de ouvir músicas no rádio ou de assistir shows de grandes bandas, a música já fazia parte da nossa vida a partir das canções de ninar. Antes mesmo de nascer já temos contato com a harmonia dos sons e formamos nossa percepção sonora e montamos, digamos assim, nossa primeira playlist.  

Também, antes das bandas e grandes cantores, temos um referencial religioso para as canções. As cerimônias na Igreja são repletas de músicas. Momentos de silencio e leituras se intercalam com os cânticos entoados por grandes corais ou por solinas animadores do canto da assembleia.  

Além do som, além da música dos instrumentos, a poesia tem a importante função de levar os pensamentos para além das palavras. Na Bíblia temos diversos cânticos e os Salmos que são uma espécie de “livreto de cantos” do Povo de Deus. Os Salmos apresentam e forma poética diversas situações, que vão de louvor a angústia, ressaltando os atributos divinos. A linguagem poética transporta os sentimentos para além das palavras. No Evangelho de Lucas, por exemplo, Maria entoa um cântico de louvor a Deus no qual, de maneira poética, agradece a Deus pelos benefícios a si própria e reconhece a ação bondosa de Deus sobre a descendência de Abraão. Uma passagem do eu ao nós mostrada de forma sutil, profunda e poética nos versos deste canto de louvor e que ilustra o caminho do cristão.  

Anunciação

Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando nossas roupas no varal

Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais

A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido, já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais

Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando nossas roupas no varal

O compositor pernambucano Alceu Valença compôs em 1983 a famosa canção Anunciação. Uma música cantada também nas igrejas fazendo alusão ao messianismo, mas também interpretada de outras formas, como a retomada da democracia ou a chegada de um amor. O autor disse que queria exprimir um sentimento e não um contexto específico por meio de Anunciação. De fato, a arte tem essa característica de abertura e transcendência, em que vai além do que dizem as palavras e cabem variadas interpretações. 

Contudo, Anunciação traz elementos religiosos que carregam a composição de sentido cristão. Primeiramente, a canção fala de alguém que vem. Esse é um elemento ligado ao messianismo, desde os primeiros cristãos são comuns orações e invocações que clamam pela vinda de Jesus. 

Na canção, este que vem é chamado de tu, segunda pessoa do singular. Este é um indicativo de que é outro o que vem, o totalmente outro, como Deus que é “tão outro” como dizia Karl Barth. 

A expressão “tu vens” é repetida três vezes, como são as pessoas da Trindade, como Deus é invocado como três vezes santos na tradição bíblica e na espiritualidade cristã.  

Além disso, na canção aparece a figura do anjo longe de ser figura mística, é um anjo mensageiro como os que aparecem na Bíblia e traz uma mensagem sussurrada.  

Alceu Valença fala de sinais. Além daqueles do livro do Apocalipse, o evangelho de João é uma longa catequese sobre o que são chamados de milagres de Jesus, mas que foram escritos como a palavra grega semeion, que indica sinais.  

Além disso, Valença liga essa chegada à manhã de domingo, dia em que se celebra a ressurreição de Jesus  e evoca o som dos sinos das catedrais que comunicam momentos de alegria, além das cerimônias.  

Música de igreja?

Certamente a música de Alceu Valença não é uma canção litúrgica, não foi composta para animar as celebrações e nem para exprimir um sentimento religioso. Mas certamente as influências cristãs do artista o fizeram se exprimir com essa poesia tão próxima ao sentimento religioso. A expectativa pela presença, a mensagem discreta do anjo, o júbilo expresso pelos sinos, tudo isso expressa um sentimento muito bom. A melodia alegre reflete a esperança dos versos. A canção é religiosa no sentido que transcende às palavras e desperta um sentimento que aponta para Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/06/30/tu-vens-tu-vens-eu-ja-escuto-os-teus-sinais-a-fe-na-cancao-de-alceu-valenca/

O cristianismo: uma história simples (Parte 1/4)

Deus chama Adão e Eva depois do pecado original. Capela Palatina, Palermo | 30Giorni

RECORDANDO PADRE GIACOMO...

Arquivo 30Dias nº 05 - 2012

O cristianismo: uma história simples

Encontro com padre Giacomo Tantardini no Centro Cultural Fabio Locatelli, de Bérgamo 15 de dezembro de 2000.

pelo Padre Giacomo Tantardini

Gostaria de começar citando uma frase de uma poesia de Charles Péguy que resume um pouco o que acabamos de ouvir. Diz Péguy numa de suas poesias a Nossa Senhora de Chartres: “Disseram-nos tanta coisa, ó Rainha dos Apóstolos / Perdemos o gosto pelos discursos / Já não temos altares, a não ser os Vossos / Nada mais sabemos senão uma oração simples”.

Creio que quando Péguy, no início do século, ia em peregrinação a Chartres para pedir a graça da cura para seus filhos... os filhos não eram batizados: Péguy convivia, digamos assim, com uma mulher judia que não tinha aceitado batizar seus filhos. Péguy nunca pôde casar-se de modo cristão e não podia receber os sacramentos da Igreja, mas creio que Péguy tenha sido o maior testemunho poético destes últimos séculos, o maior depois de Dante. A graça do Senhor é dada segundo a medida do dom de Cristo, como Ele quer.

Disseram-nos tanta coisa, ó Rainha dos Apóstolos / Perdemos o gosto pelos discursos / Já não temos altares, a não ser os Vossos / Nada mais sabemos senão uma oração simples”. Contudo, esta noite sou obrigado falar. Então gostaria de dizer simplesmente três coisas que me parecem as que a Tradição da Igreja, a simplicidade da Tradição (oração simples leva a pensar na simplicidade da Tradição), a simplicidade da Tradição cristã, por ocasião do Natal, volta a dizer, repete.

1. Há uma expressão dogmática que o mundo moderno, sobretudo nas últimas décadas, o mundo, este mundo que está dentro da Igreja, sobretudo este mundo que está dentro da Igreja, tentou como que censurar. No entanto, não há como entender nada da vida dos homens e não há como entender o cristianismo se não partirmos daqui: o pecado original. O pecado original. Pois todos os homens, exceto Maria, nascem com o pecado original. Não há como compreender nada da vida, não há como compreender nada – diz, usando uma expressão belíssima, o último Concílio Ecumênico da Igreja – da sociedade humana, se não partirmos daqui: que os homens nascem maus. Como diz Jesus: “Vós, que sois maus”. “Por que me chamas bom? Só Deus é bom”. “Si homo non periisset, Filius hominis non venisset”, é como Santo Agostinho resume a consciência da Igreja: se o homem não tivesse pecado, o Filho do homem não teria vindo.

Gostaria de me valer do início do hino O Natal, de Alexandre Manzoni...

Alexandre Manzoni, de muitos pontos de vista, não é, por assim dizer, um autor atual, pois descreve em seu fantástico romance, Os noivos, uma condição cristã como já dada e, portanto, não fala de nós, uma vez que hoje essa condição já não existe. Talvez a página mais atual dos Noivos seja aquela em que é descrita a conversão do Inominado, quando este, depois daquela noite em que vê o povo contente que vai receber o cardeal Federico se pergunta: “Mas o que tem toda essa gente para estar contente?” Essa, portanto, é a página mais atual. “O que tem toda essa gente para estar contente?” E nasce em seu coração a curiosidade de ver por que aquela gente está contente. É a página que descreve de que modo, hoje, uma pessoa pode se tornar cristã... Os antepassados de Alexandre Manzoni são da minha cidade, Barzio, um vilarejo perto de Lecco, e o avô de Alexandre Manzoni se chama Alexandre porque o padroeiro de Barzio, como de Bérgamo, é Santo Alexandre. Portanto, creio que também o autor dos Noivos se chame Alexandre por isso... Outros motivos o fazem próximo de mim, embora, repito, Manzoni, de muitos pontos de vista, não seja atual, não certamente como Péguy.

O hino O Natal começa com a imagem de uma rocha que caiu do alto da montanha e está no fundo do vale: “Lá onde caiu, imóvel / Jaz em sua lenta grandiosidade; / Nem que passem séculos / É possível que reveja o sol / De seu cume antigo, / Se uma virtude amiga / Para o alto não a levar”. A pedra que cai do alto da montanha no vale não pode rever o sol do cume, se uma força amiga não a tomar e a levar para cima. “Assim jazia o mísero / Filho da queda primeira”. Assim jazia o homem, filho do primeiro pecado. Assim. “Onde o soberbo cume / mais não se podia elevar”. Creio que essa seja a definição mais realista do pecado original.

O que é o pecado original? Dom Giussani, no último livro da coleção que reúne os diálogos numa casa dos Memores Domine, diz: “O que é o pecado original? O que é o orgulho do pecado original? É a afirmação de si antes da realidade”. O homem não vê nada além de si mesmo. Caído daquela altura, não vê nada além de si mesmo. A afirmação de si mesmo antes da realidade. Leio mais adiante uma estrofe inteira desse hino, porque é extremamente realista: “Quem entre os nascidos para o ódio”. Nascidos para o ódio. Assim. É essa a condição humana. Há algumas semanas, fiquei impressionado quando um escritor não cristão, não católico, Bobbio, ao receber um prêmio na Universidade de Stuttgart, citou Hegel (Hegel, mestre de todos, infelizmente, nestas décadas), citou Hegel, repetindo uma de suas poucas expressões realistas, quando diz que a história humana nada mais é que um grande matadouro. É verdade. A história humana nada mais é que um grande matadouro. A história humana, diz Santo Agostinho, tomando Roma como exemplo, a história de Roma, que nasce de um fratricídio, caminha de homicídio em homicídio. “Quem entre os nascidos para o ódio”. Nascidos para o ódio. Não pelo gesto criador. A criação é boa. Mas, de fato, pelo pecado original, nascemos para o ódio. E mesmo as coisas boas, mesmo as coisas bonitas, imediatamente caem na estranheza. E todos podemos fazer experiência dessa condição do pecado original; o homem faz experiência dela. A grande poesia nada mais faz senão falar disso. Para reconhecer os efeitos do pecado original, não é preciso ter fé, basta a inteligência humana. Não reconhecer os efeitos do pecado original é questão de falta de inteligência, é questão de ilusão, é questão de idealismo.

Quem entre os nascidos para o ódio, / Que pessoa havia / Que ao Santo inacessível...”. Como Manzoni é cristão nesse momento! “Inacessível”: ao Santo a quem não podemos alcançar, ao Santo desconhecido, ao Santo cujo rosto não conhecemos. Se uma pessoa diz Deus existe mas não O vê (diz São Bernardo numa carta que lemos no Breviário no tempo de Natal), como pode, depois de algum tempo, reconhecer que Ele existe, se não pode chegar até Ele, se é lançado no fundo do precipício, e não pode chegar à luz do início, à luz da aurora do primeiro início da criação? Como pode dizer que existe? “Que pessoa havia / Que ao Santo inacessível/ Pudesse dizer: perdoa?” Perdão! “A quem agradecer, contra quem blasfemar?”, perguntava Cesare Pavese numa das últimas frases de seu diário. A quem agradecer, contra quem blasfemar, se o Mistério existe mas é inacessível, existe mas não tem rosto, existe mas é incompreensível, existe mas não pode ser conhecido? “Fazer novo pacto eterno? / Ao vencedor inferno / Sua presa arrancar?”. Quem poderia arrancar ao diabo a sua presa?

Esta é a primeira sugestão: nascemos com o pecado original. E o dogma da Igreja diz que o pecado original fere o homem in naturalibus, nas suas dimensões naturais. Não só torna impossível a coerência. Por exemplo, a pessoa sabe que o aborto é pecado, mas depois é incoerente. Não é só isso. O pecado original impede com o tempo também que nos demos conta de que o aborto é pecado, porque o pecado original fere os homens na inteligência natural: pelo pecado original é ofuscada a inteligência enquanto tal, não apenas é enfraquecida a vontade. Por isso, o homem é obnubilado ao reconhecer também o que é natural, o que é criatural, o que é contra o coração, contra o gesto criatural. Não é que não o possa reconhecer, mas é obnubilado por dentro. Não entendemos a realidade, não entendemos o mundo, sem partir daqui. Não entendemos o mundo em que vivemos, não entendemos as circunstâncias em que estamos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Cruzando o limiar da esperança com São João Paulo II

João Paulo II em oração na Arena de Zakopane, Polônia. (© EPA/Anja Niedringhaus)  (ANSA)

"Não tenhais medo se tornou um slogan, um enunciado mais característico do seu Pontificado, o coração do seu ensinamento, da sua obra, da sua missão. João Paulo II não só proclamou o direito de todo o ser humano e de todo povo à liberdade, mas levou a liberdade, fez com que ela fosse vivida e, por conseguinte, levou a esperança a pessoas e povos de todo o mundo".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Embora eu tenha vivido no meio de muitas trevas, sob duros regimes totalitários, tive suficientes motivos para me convencer de maneira inabalável de que nenhuma dificuldade e nenhum temor é tão grande a ponto de poder sufocar completamente a esperança que jorra sem cessar no coração dos jovens. Vós sois a nossa esperança, os jovens são a nossa esperança! Não permitais que esta esperança morra. Comprometei a vossa vida com ela. (São João Paulo II)”

Essas palavras de São João Paulo II, dirigida em 2002 aos jovens reunidos em Toronto, em sua XVII Jornada Mundial, é um verdadeiro hino à resiliência da esperança, especialmente em contextos difíceis, bem como à sua capacidade de persistir e regenerar-se, especialmente nos jovens.

Dando sequência a sua série de reflexões neste Ano Jubilar sobre os "Papas e a Esperança", Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "Cruzando o limiar da esperança com São João Paulo II":

"Na homilia do início de seu Pontificado, o novo Papa eleito, João Paulo II, esboçando um leve sorriso, encarou o povo de frente e, com um ar jovial, seguro, tranquilo, lançou com voz clara e forte um apelo, como num grito ao mundo: – “Não tenhais medo! Abri as portas ou, melhor, escancarai as portas a Cristo!”. Este apelo, que conclamava os católicos e os homens de boa vontade a olhar para o futuro com esperança, tornou-se para o Papa como que o “refrão” do seu longo Pontificado de 26 anos.

Dezesseis anos mais tarde, em 1994, ele mesmo glosou essas palavras numa entrevista concedida ao jornalista Vittorio Messori, transcrita no livro “Cruzando o limiar da esperança”. Esse anúncio querigmático, o Papa João Paulo II explica nesse livro nestes termos: “Não tenhais medo!, dizia Cristo aos Apóstolos (Lc 24,36) e às mulheres (Mt 28,10), depois da Ressurreição […]. Quando pronunciei estas palavras na praça de São Pedro não me podia dar conta plenamente de quão longe elas acabariam levando a mim e à Igreja inteira. Seu conteúdo provinha mais do Espírito Santo, prometido pelo Senhor Jesus aos Apóstolos como Consolador, do que do homem que as pronunciava. Todavia, com o passar dos anos, eu as recordei em várias circunstâncias. Tratava-se de um convite para vencer o medo na atual situação mundial […]. Talvez precisemos mais do que nunca das palavras de Cristo ressuscitado: “Não tenhais medo!”. Precisa delas o homem […], precisam delas os povos e as nações do mundo inteiro. É necessário que, em sua consciência, retome vigor a certeza de que existe Alguém que tem nas mãos a sorte deste mundo que passa; Alguém que tem as chaves da morte e do além; Alguém que é o Alfa e o Ômega da história do ser humano. E esse Alguém é Amor, Amor feito homem, Amor crucificado e ressuscitado. Amor continuamente presente entre os homens. É Amor eucarístico. É fonte inesgotável de comunhão. Somente Ele é que dá a plena garantia às palavras: «Não tenhais medo».

No Livro Cruzando o limiar da esperança, o Papa pergunta-se: «Por que não devemos ter medo?». E responde: «Porque o ser humano foi redimido por Deus […]. Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho Unigênito (Jo 3,16). Este Filho continua na história da humanidade como Redentor. A revelação divina perpassa toda a história do ser humano, e prepara o seu futuro... É a luz que resplandece nas trevas (cfr. Jo 1,5). O poder da Cruz de Cristo e da sua Ressurreição é maior que todo o mal de que o homem poderia e deveria ter medo» – conclui, grifando explicitamente a última frase[1].

É emocionante verificar que a mesma esperança da primeira mensagem de São João Paulo II animou a sua última mensagem. No domingo, dia 3 de abril de 2005, quando partiu, o arcebispo Leonardo Sandri, substituto da Secretaria de Estado, leu à multidão congregada na praça de São Pedro a última alocução preparada com antecedência pelo Papa, que tinha falecido no dia anterior. Ele desejava ter podido pronunciá-la no encontro tradicional da hora do Angelus desse dia (do Regina Coeli, pois era tempo pascal): “…À humanidade – dizia – , que às vezes parece perdida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do medo, o Senhor ressuscitado oferece a sua misericórdia como dom do seu amor que perdoa, reconcilia e reabre o ânimo à esperança”.

João Paulo II começava seu Pontificado com o texto bíblico esperançoso: “Não tenhais medo”, que se tornou uma espécie de seu lema papal. Confessou mais tarde que nem ele se dava conta plenamente do significado mais profundo dessas palavras proferidas e proféticas. “Só mais tarde entendeu que aquilo que havia dito era trazido dentro de si mesmo há muito tempo. Fazia parte da sua memória, da sua experiência, e consequentemente da herança de fé, de cultura e de história que carregava consigo de sua pátria”, disse o escritor Gian Franco Svidercoschi, no livro João Paulo II, um Papa que não morre[2].  Não tenhais medo se tornou um slogan, um enunciado mais característico do seu Pontificado, o coração do seu ensinamento, da sua obra, da sua missão. João Paulo II não só proclamou o direito de todo o ser humano e de todo povo à liberdade, mas levou a liberdade, fez com que ela fosse vivida e, por conseguinte, levou a esperança a pessoas e povos de todo o mundo[3].

É essa esperança que o Papa João Paulo II pregava aos jovens nas grandes Jornadas mundiais da Juventude, criadas por ele e que reunia multidões de rostos joviais. Quando as Nações Unidas declararam 1985 o Ano Internacional da Juventude, São João Paulo II quis enviar uma carta apostólica aos jovens de todo o mundo. As palavras que, como um refrão, são repetidas nesta carta são as de São Pedro Apóstolo: "Sempre pronto para responder a qualquer pessoa que lhe perguntar o motivo da esperança que existe em você" (1Pd 3,15). Começa essa carta com esse apelo e termina também dizendo aos jovens: “Vocês, jovens, são a esperança da Igreja que, precisamente sob este aspecto, em vocês se vê a si mesma e à sua missão no mundo, pois a esperança está relacionada a vocês. “Trata-se, mais uma vez, de estar prontos a dar uma resposta vitoriosa a todo aquele que lhes perguntar acerca da esperança que os anima”[4]. Na abertura solene do III CELAM – A Conferência Geral dos bispos Latino-americanos, presentes em Puebla, 350 bispos presentes, conclui sua mensagem com algumas tarefas prioritárias, entre elas a Juventude e assim disse: “Quanta esperança põe na juventude a Igreja! Quantas energias circulam na juventude na América latina, de que a Igreja precisa. Como temos nós, pastores, de procurar aproximar-nos da juventude, para que Cristo e a Igreja e para que o amor dos irmãos calem profundamente no seu coração”. Dizia costumeiramente: “Peço a você! Nunca, nunca desista da esperança, nunca duvide, nunca se canse, e nunca desanime. Não tenha medo”."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Livraria Francisco Alves editora, Rio de Janeiro 1995, págs. 202.
[2] SVIDERCOSCHI, Gian Franco. João Paulo II, um Papa que não morre, Paulinas, 2011, SP, p. 36.
[3] Cf. idem, p.37.
[4] Carta apostólica de João Paulo II por ocasião do ano Internacional da Juventude – 1985, Paulinas, 61.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF