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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Encontrando a esperança em diferentes fases da vida

KB.SIL | Shutterstock

Cerith Gardiner - publicado em 10/02/25 - atualizado em 10/02/25

Como em 2025 somos chamados a abraçar a esperança, pois é o tema do jubileu, aqui algumas dicas sobre como você pode fazer isso em qualquer momento da sua vida.

A esperança é um dos ingredientes mais essenciais da vida — uma pequena, mas poderosa luz que nos mantém seguindo em frente, mesmo nos momentos mais difíceis. E ela também é o tema deste Ano Jubilar!

No entanto, a esperança pode ser elusiva. Em diferentes estágios da vida, você encontrará obstáculos únicos que podem dificultar o abraço dessa virtude tão importante. Portanto, preparamos algumas dicas. Abaixo você verá por que a esperança pode vacilar em diferentes gerações e oferecemos formas práticas de reacendê-la — independentemente da sua idade.

1 PARA OS JOVENS: A ESPERANÇA COMO UMA CENTELHA DE POSSIBILIDADE

Por que pode ser difícil sentir esperança: Um jovem pode se sentir como se estivesse na base de uma montanha, encarando uma subida tão íngreme que parece impossível. Com pressões sociais, estresse acadêmico e um fluxo de notícias que pode parecer tudo, menos esperançoso. Não é uma surpresa que muitos jovens tenham dificuldades em encontrar um senso de otimismo. Questões sobre o futuro — "O que vou fazer da minha vida?" "Vou conseguir fazer a diferença?" — podem ser avassaladoras.

Por que você deve manter a esperança: A juventude é a temporada da possibilidade. Este é o momento em que você está construindo a base para sonhos que podem crescer em algo belo. Mesmo pequenos passos à frente, como fazer amizades significativas ou descobrir uma paixão, são sementes de esperança. Você não precisa resolver tudo agora — a esperança floresce quando você se dá permissão para crescer devagar.

Como incorporar a esperança?

Foque nas pequenas vitórias: Celebre pequenas conquistas — uma palavra gentil de um amigo, progresso em um objetivo pessoal ou uma caminhada tranquila ao ar livre.

Sonhe grande: Permita-se imaginar um futuro brilhante, mesmo que você ainda não saiba como chegar lá. A visualização desperta a esperança.

Encontre modelos a seguir: Procure pessoas — reais e fictícias — que te inspirem. Suas histórias podem te lembrar de que a subida da montanha vale a pena.

2 PARA OS ADULTOS: A ESPERANÇA COMO FORÇA ESTABILIZADORA

Por que pode ser difícil sentir esperança: A meia-idade muitas vezes é vista como a fase "de sanduíche" da vida — presa entre as necessidades dos filhos, pais idosos e responsabilidades profissionais. Você está equilibrando tantas coisas que é fácil sentir que não sobra espaço para a esperança. Soma-se a isso a percepção de que alguns sonhos podem não ter se realizado como esperado, e é fácil cair em um ciclo de dúvida.

Por que você deve manter a esperança: A meia-idade não é o fim da linha; é um ponto de inflexão. É uma chance de redefinir o sucesso, redescobrir paixões e aprofundar relações. A esperança não precisa ser algo grandioso ou vistoso — às vezes é tão simples quanto encontrar alegria nas rotinas diárias, ser capaz de tocar seus pés ou ser grato pelo amor que você construiu ao seu redor.

Como incorporar a esperança?

Veja os contratempos de um jeito diferente: A vida raramente segue o plano, mas desvios inesperados podem levar a algo belo que você nunca imaginou. Procure bênçãos disfarçadas.

Construa comunidade: Compartilhe suas lutas e esperanças com os outros. A comunidade oferece força e nos lembra de que não estamos sozinhos.

Nutra seu espírito: Dedique um tempo para refletir, rezar ou meditar. Mesmo cinco minutos de tranquilidade podem ajudar a se reconectar com o que realmente importa.

3 PARA OS MAIS VELHOS: A ESPERANÇA COMO UM LEGADO

Por que pode ser difícil sentir esperança: Para os adultos mais velhos, desafios como problemas de saúde, solidão ou arrependimentos podem fazer a esperança parecer distante. Ver o mundo mudar tão rapidamente pode ser desorientador, e é fácil se perguntar: "Ainda tenho um papel a desempenhar?"

Por que você deve manter a esperança: Cada estágio da vida tem propósito. Como adulto mais velho, você tem sabedoria e experiências que são inestimáveis. Compartilhar sua história pode inspirar as gerações mais jovens e lembrá-las de que os desafios da vida valem a pena ser superados. A esperança não é apenas para você — é um presente que você pode passar adiante. E… você nunca sabe o que a vida pode te oferecer!

Como incorporar a esperança?

Seja mentor de outros: Seja um neto, um vizinho ou um membro da comunidade, suas palavras de encorajamento podem iluminar o caminho de alguém.

Saboreie o presente: Encontre alegria nas coisas simples — um bom livro, um dia ensolarado ou o tempo passado com os entes queridos.

Pratique gratidão: Reflita sobre as bênçãos que você viveu e sobre as formas que fez a diferença. A partir da gratidão, a esperança pode realmente florescer.

O mais importante…

Não importa em que fase da vida você esteja, a esperança é algo que todos precisamos e merecemos. Ela é o que nos mantém lutando, crescendo e amando. A vida sempre trará desafios, mas a esperança nos lembra de que existe luz além de toda sombra. Se você se sentir sobrecarregado, saiba que não está sozinho — e que a esperança está sempre ao seu alcance.

Como nos lembra a Bíblia: “…nós que em busca de refúgio procuramos agarrar a esperança que nos é proposta. A esperança, com efeito, é para nós como uma âncora, segura e firme.” (Hebreus 6:18-19).

Portanto, seja você alguém que está começando, construindo uma vida ou refletindo sobre uma jornada bem vivida, faça espaço para a esperança. Nunca é tarde demais para deixá-la florescer e trazer sua luz para sua vida — e para a vida daqueles ao seu redor.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/02/10/encontrando-a-esperanca-em-diferentes-fases-da-vida

Carmelitas entregam igreja a arquidiocese da Guatemala por falta de vocações

Folheto com o emblema da Ordem dos Carmelitas Descalços. | | British Province of Carmelites (CC BY 2.0).

Por David Ramos*

10 de fevereiro de 2025

A Ordem dos Carmelitas Descalços (OCD) entregou a reitoria de Santa Teresa de Jesus, que administrou por mais de meio século, à arquidiocese de Santiago da Guatemala, por falta de vocações para atendê-la.

Em declaração assinada na última sexta-feira (7), frei Edgardo Hernández, provincial da América Central da OCD, diz que “pela graça de Deus Pai, em maio de 1960, os Frades Carmelitas Descalços iniciaram o serviço pastoral na Reitoria de Santa Teresa de Jesús, Cidade da Guatemala”.

“Todos e cada um dos frades que viveram e serviram na Reitoria de Santa Teresa de Jesus apresentam nossa oração de agradecimento a Deus pelo dom de nos ter permitido trilhar o caminho da fé com tantos paroquianos e devotos”, diz o frei.

“A partir do carisma que Deus deu a Santa Teresa de Jesus, oferecemos nosso serviço pastoral facilitando a oração e o encontro com Jesus, um verdadeiro amigo”, disse o superior provincial, enfatizando que “se Deus Pai permitir, quando tivermos mais vocações, poderemos expandir nosso serviço pastoral na Guatemala”.

“Continuamos em comunhão eclesial com nossa oração fraterna e confiamos a Reitoria de Santa Teresa de Jesus e toda a Igreja da Guatemala a Nossa Senhora da Assunção”, disse também o frei.

A arquidiocese da Guatemala informou em nota divulgada no sábado (8) que a entrega do templo na capital do país foi feita por "iniciativa própria" da OCD, "argumentando a falta de pessoal para atendê-lo".

O arcebispo da Guatemala, dom Gonzalo de Villa y Vásquez, “considerando o bem pastoral das almas, já nomeou um reitor para dar continuidade aos processos pastorais e evitar o fechamento da referida reitoria”, diz também o comunicado, que também pede o apoio e as orações de toda a comunidade de fiéis.

A transferência dessa reitoria ocorreu poucas semanas depois que os carmelitas descalços anunciaram sua saída da Nicarágua, também devido à escassez de vocações.

A OCD convidou os fiéis a participarem ontem (9) da missa na qual o templo foi entregue à arquidiocese de Santiago da Guatemala, que nomeou o padre Antonio Zuleta como reitor.

*David Ramos é editor-chefe da ACI Prensa. Cobriu as viagens do papa Francisco para o Equador, Paraguai, México, Colômbia, Chile e Peru.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/61239/carmelitas-entregam-igreja-a-arquidiocese-da-guatemala-por-falta-de-vocacoes

Papa: pessoas consagradas sejam exemplo de amor num mundo de relações superficiais

Celebração das Primeiras Vésperas do XXIX Dia Mundial sa Vida Consagrada (Vatican Media)

“O retorno às origens de cada consagração é aquele retorno a Cristo e ao seu ‘sim’ ao Pai. Lembra-nos que a renovação, [...] se faz diante do Sacrário, na adoração, redescobrindo as próprias Fundadoras e Fundadores”. Palavras do Papa Francisco na sua homilia deste sábado, 1º de fevereiro, por ocasião das Primeiras Vésperas, no 29º Dia Mundial da Vida Consagrada.

Jane Nogara - Cidade do Vaticano

Na tarde deste sábado, 1º de fevereiro, foi realizada a celebração das Primeiras Vésperas da Festa da Apresentação do Senhor e no contexto o 29º Dia Mundial da Vida Consagrada. Na ocasião o Papa Francisco proferiu sua homilia dedicada aos consagrados, meditando sobre o modo como, disse, “através dos votos de pobrezacastidade e obediência que professastes, também vós podeis ser portadores de luz para as mulheres e homens do nosso tempo”.

A pobreza faz-se portadora de bênçãos

pobreza, disse o Papa, “está radicada na própria vida de Deus, eterno e total dom recíproco do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. “Exercendo a pobreza”, continuou, “a pessoa consagrada, pelo uso livre e generoso de todas as coisas, com estas faz-se portadora de bênção: manifesta a sua bondade na ordem do amor, rejeita tudo o que pode ofuscar a sua beleza: o egoísmo, a avareza, a dependência [...] e abraça, em vez disso, tudo o que a pode exaltar: a sobriedade, a generosidade, a partilha, a solidariedade”.

Na renúncia, o primado absoluto do amor de Deus

Sobre este ponto Francisco explicou que na renúncia ao amor conjugal e no caminho da continência, os consagrados “reafirmam o primado absoluto, para o ser humano do amor de Deus, acolhido com um coração indiviso e esponsal”. Vivemos em um mundo marcado por formas distorcidas de afetividade. O Papa fala das consequências: “Isto gera nas relações, atitudes de superficialidade e precariedade, egocentrismo”. Num contexto assim, “a castidade consagrada mostra ao homem e à mulher do século XXI um caminho para curar o mal do isolamento, no exercício de um modo de amar livre e libertador, que acolhe e respeita todos e não obriga nem rejeita ninguém”. Recomendando em seguida “é importante, nas nossas comunidades, cuidar do crescimento espiritual e afetivo das pessoas, na formação inicial e permanente”.

A obediência consagrada é um antídoto ao individualismo

Ao falar sobre a luz da obediência o Papa recorda a relação entre Jesus e o Pai como uma graça libertadora de uma dependência filial e não servil, rica de sentido de responsabilidade e animada pela confiança recíproca. Na nossa sociedade tendemos a falar muito e escutar pouco, não nos comprometemos com nada. Neste contexto Francisco disse: “A obediência consagrada é um antídoto contra esse individualismo solitário, promovendo como alternativa um modelo de relação marcado pela escuta ativa, onde ao ‘dizer’ e ao ‘ouvir’ se segue a concretude do ‘agir’, mesmo que à custa de renunciar aos meus próprios gostos, planos e preferências”.

Retorno às origens

Por fim o Papa abordou outro ponto: o “retorno às origens”, de que tanto se fala hoje na vida consagrada. Francisco foi claro ao dizer que o “retorno às origens de cada consagração é, para todos nós, aquele retorno a Cristo e ao seu ‘sim’ ao Pai”. Concluindo disse ainda que a renovação “se faz diante do Sacrário, na adoração, redescobrindo as próprias Fundadoras e Fundadores, sobretudo como mulheres e homens de fé, e repetindo com eles, na oração e na oferta de si”.

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

«Eis que venho […] para fazer, ó Deus, a tua vontade» (Hb 10, 7). Com estas palavras, o autor da Carta aos Hebreus manifesta a total adesão de Jesus ao projeto do Pai. Hoje, lemo-las na festa da Apresentação do Senhor, Dia Mundial da Vida Consagrada, durante o Jubileu da Esperança, num contexto litúrgico caracterizado pelo simbolismo da luz. E todos vós, irmãs e irmãos, que escolhestes a vida dos conselhos evangélicos, vos consagrastes, como «Esposa na presença do Esposo […] envolvida pela sua luz» (São João Paulo II, Exort. ap. Vita consecrata, 15), vós sois consagrados àquele mesmo desígnio luminoso do Pai que remonta às origens do mundo. Ele terá a sua plena realização no fim dos tempos, mas já agora se torna visível através das «maravilhas que Deus realiza na frágil humanidade das pessoas chamadas» (ibid., 20). Meditemos, pois, sobre o modo como, através dos votos de pobrezacastidade e obediência que professastes, também vós podeis ser portadores de luz para as mulheres e homens do nosso tempo.

Primeiro aspecto: a luz da pobreza. Ela está radicada na própria vida de Deus, eterno e total dom recíproco do Pai, do Filho e do Espírito Santo (cf. ibid., 21). Exercendo a pobreza, a pessoa consagrada, pelo uso livre e generoso de todas as coisas, com estas faz-se portadora de bênção: manifesta a sua bondade na ordem do amor, rejeita tudo o que pode ofuscar a sua beleza – o egoísmo, a avareza, a dependência, o uso violento e para fins de morte – e abraça, em vez disso, tudo o que a pode exaltar: sobriedade, a generosidade, a partilha, a solidariedade. E Paulo o diz: «Tudo é vosso. Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus» (1Cor 3, 22-23). Isso é a pobreza.

O segundo elemento é a luz da castidade. Também esta tem a sua origem na Trindade e manifesta um «reflexo do amor infinito que une as três Pessoas divinas» (Vita consecrata, 21). Na renúncia ao amor conjugal e no caminho da continência, a sua profissão reafirma o primado absoluto, para o ser humano, do amor de Deus, acolhido com um coração indiviso e esponsal (cf. 1Cor 7, 32-36), e aponta-o como fonte e modelo de qualquer outro amor.  Sabemo-lo; nós estamos vivendo num mundo frequentemente marcado por formas distorcidas de afetividade, em que o princípio “o que me agrada acima de tudo” - aquele princípio - leva a procurar no outro mais a satisfação das próprias necessidades do que a alegria de um encontro fecundo. É verdade. Isto gera, nas relações, atitudes de superficialidade e precariedade, egocentrismo e hedonismo, imaturidade e irresponsabilidade moral, em que o esposo e a esposa de uma vida inteira são trocados pelo parceiro do momento, e os filhos recebidos como dom são substituídos pelos filhos ou exigidos como “direito” ou eliminados como “incómodo”.

Irmãs, irmãos, em um contexto assim, perante a «necessidade crescente de transparência interior nas relações humanas» (Vita consecrata, 88) e de humanização dos laços entre as pessoas e as comunidades, a castidade consagrada nos mostra ao homem e à mulher do século XXI um caminho para curar o mal do isolamento, no exercício de um modo de amar livre e libertador, que acolhe e respeita todos e não obriga nem rejeita ninguém. Que remédio para a alma é encontrar religiosas e religiosos capazes deste tipo de relacionamento maduro e alegre! Eles são um reflexo do amor divino (cf. Lc 2, 30-32). Para isso, porém, é importante, nas nossas comunidades, cuidar do crescimento espiritual e afetivo das pessoas, já a partir da formação inicial e também permanente, para que a castidade mostre verdadeiramente a beleza do amor que se doa, e não surjam fenómenos deletérios como o endurecimento do coração ou a ambiguidade das escolhas, fonte de tristeza e insatisfação e causa, por vezes, em sujeitos mais frágeis, do desenvolvimento de verdadeiras “vidas duplas”. A luta contra a tentação da vida dupla é cotidiana. É cotidiana.

E chegamos ao terceiro aspecto: a luz da obediência. O texto que escutámos fala-nos também disso, apresentando-nos, na relação entre Jesus e o Pai, a «graça libertadora de uma dependência filial e não servil, rica de sentido de responsabilidade e animada pela confiança recíproca» (Vita consecrata, 21). É precisamente a luz da Palavra que se torna dom e resposta de amor, sinal para a nossa sociedade, na qual tendemos a falar muito e a escutar pouco: na família, no trabalho e sobretudo nas redes sociais, onde podemos trocar uma quantidade infinita de palavras e imagens sem nunca nos encontrarmos realmente, porque não nos comprometemos verdadeiramente uns com os outros. E isso é uma coisa interessante. Muitas vezes, no diálogo cotidiano, antes mesmo de alguém terminar de falar, a resposta já sai. Não se escuta. Ouvir-nos antes de responder. Acolher a palavra do outro como uma mensagem, como um tesouro, também como uma ajuda para mim.

A obediência consagrada é um antídoto contra esse individualismo solitário, promovendo como alternativa um modelo de relação marcado pela escuta ativa, onde ao “dizer” e ao “ouvir” se segue a concretude do “agir”, e isto mesmo que à custa de renunciar aos meus próprios gostos, planos e preferências. Só assim, com efeito, a pessoa pode experimentar profundamente a alegria do dom, superando a solidão e encontrando o sentido da sua existência no grande projeto de Deus.

Gostaria de concluir recordando um outro ponto: o “retorno às origens”, de que tanto se fala hoje na vida consagrada. Mas não um retorno às origens como retorno a um museu, não. Retorno precisamente à origem da nossa vida. A este propósito, a Palavra de Deus que escutámos recorda-nos que o primeiro e mais importante “retorno às origens” de cada consagração é, para todos nós, aquele retorno a Cristo e ao seu “sim” ao Pai. Lembra-nos que a renovação, antes dos encontros e das “mesas redondas” – que se deve fazer, são úteis –, se faz diante do Sacrário, na adoração. Irmãs e irmãos, nós perdemos um pouco os sentido da adoração. Somos muito práticos, queremos fazer as coisas, mas...Adorar. Adorar. A capacidade de adoração no silêncio. E assim se redescobre as próprias Fundadoras e Fundadores, sobretudo como mulheres e homens de fé, e repetindo com eles, na oração e na oferta: «Eis que venho […] para fazer, ó Senhor, a tua vontade» (Hb 10,7).

Muito obrigado pelo vosso testemunho. É um fermento da Igreja. Obrigado.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 9 de fevereiro de 2025

“Examinai tudo e guardai o que for bom.”

Examinai tudo e guardai o que for bom (Editora Cidade Nova)

“Examinai tudo e guardai o que for bom.” (1Ts 5,21) | Palavra de Vida Fevereiro 2025

por Organizado por Patrizia Mazzola com a comissão da Palavra de Vida.   publicado às 00:00 de 28/01/2025, modificado às 14:22 de 28/01/2025

A frase deste mês é tirada de uma série de recomendações finais que o apóstolo Paulo faz à comunidade dos tessalonicenses: “Não apagueis o Espírito, não desprezeis as profecias, mas examinai tudo e guardai o que for bom. Afastai-vos de toda espécie de mal1”. Profecia e discernimento, diálogo e escuta. Essas são as indicações de Paulo à comunidade, que tinha iniciado há pouco a caminhada de fé. 

Entre os diversos dons do Espírito, Paulo apreciava muito o da profecia2. O profeta não é aquele que prevê o futuro. Na realidade, ele tem o dom de ver e compreender a história pessoal e coletiva do ponto de vista de Deus. 

Mas todos os dons são orientados pelo dom maior, a caridade, o amor fraterno3. Agostinho de Hipona afirma que só a caridade permite discernir a atitude a ser tomada diante das diversas situações4. 

“Examinai tudo e guardai o que for bom.”

Precisamos ser capazes de enxergar não só os nossos dons pessoais, mas também as muitas competências e o mundo complexo de pontos de vista e opiniões daqueles que nos rodeiam e com os quais nos relacionamos – quem sabe até de pessoas que encontramos por acaso. É importante mantermos no coração a autenticidade diante de todos e também estarmos conscientes dos limites do nosso ponto de vista. 

Esta Palavra de Vida poderia ser um lema a ser adotado em todas as situações de diálogo e de debate. Ouvir o outro, não necessariamente para aceitar tudo, mas para favorecer uma abertura da mente e do coração, sabendo que é sempre possível encontrar algo de bom naquilo que o outro diz. Trata-se de nos esvaziarmos de nós mesmos por amor e, assim, termos a possibilidade de construir algo juntos. 

“Examinai tudo e guardai o que for bom.”

O P. Timothy Radcliffe, um dos teólogos presentes no Sínodo dos Bispos da Igreja Católica, afirmou que “a coisa mais corajosa que podemos fazer neste Sínodo é sermos sinceros entre nós quanto às nossas dúvidas e às nossas perguntas, aquelas para as quais não temos respostas claras. Então nos aproximaremos como companheiros de busca, mendigos da verdade5”. 

Em uma conversação com alguns focolarinos, Margaret Karram assim comentou essa reflexão: “Pensando bem, percebi que muitas vezes não tive a coragem de dizer realmente o que eu pensava: talvez por receio de não ser compreendida, talvez para não dizer algo completamente diferente da opinião da maioria. Entendi que sermos ‘mendigos da verdade’ significa termos aquela atitude de proximidade, uns para com os outros, em que todos queremos o que Deus quer, em que todos juntos procuramos o bem6”.

“Examinai tudo e guardai o que for bom.”

É a experiência de Anita, que participa do grupo de artes cênicas Mosaico, criado na Espanha em 2017 como expressão do Gen Rosso Local Project. O grupo é formado por jovens espanhóis que, por meio de sua arte e de suas oficinas, oferecem a própria experiência de fraternidade. 

Anita nos conta: “É a ligação com os meus valores: um mundo fraterno, onde todos (os bem jovens, os inexperientes, os vulneráveis…) dão a própria contribuição para esse projeto. Mosaico me faz acreditar que um mundo mais unido não é uma utopia, apesar das dificuldades e do trabalho duro que isso acarreta. Cresci trabalhando em grupo, com um diálogo que às vezes pode parecer franco até demais, e muitas vezes abrindo mão das ideias que eu achava serem as melhores. E o resultado é que ‘o bem’ é construído tijolo por tijolo em conjunto, por todos nós7”.

Organizado por Patrizia Mazzola com a comissão da Palavra de Vida.

Notas:

1) 1Ts 5,19-22. 

2) Cf. João Paulo II, Audiência Geral, 24/06/1992, nº 7. 

3) Cf. 1Cor 13. 

4) Cf. Agostinho de Hipona, Ep. Jo 7, 8.

5) Padre Timothy Radcliffe, Meditação nº 3, Amizade, Sínodo dos Bispos, Sacrofano, 02/10/2023. Tradução nossa. 

6) Conversa com os focolarinos, Margaret Karram, Presidente do Movimento dos Focolares, Rocca di Papa, 03/02/2024. Tradução nossa.

7) Mosaico GRLP participa do projeto Fortes sem violência, que consiste em realizar laboratórios multidisciplinares com os jovens durante três dias em um número cada vez maior de cidades, procurando transmitir os valores de não violência, paz e diálogo por meio da arte. 

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/editorial/inspira/4049-examinai_tudo_e_guardai_o_que_for_bom_1t

Mas afinal o que é o pecado?

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Reportagem local - publicado em 08/09/19

O pecado é a rejeição a instaurar com Deus e com os outros uma relação de amor.

O conceito de pecado é bastante simples: basicamente, o pecado é um ato de egoísmo exagerado. É preferir a si mesmo, antepor-se a Deus e aos outros, cedendo às paixões desordenadas, que nos colocam no centro da nossa existência, negando nossa natureza, que só se completa quando se abre ao próximo e a Deus.

O pecado é a rejeição a instaurar com Deus e com os outros uma relação de amor. É um “fechar-se às criaturas” e “rejeitar o Criador”. Em geral, o pecador só deseja os prazeres proporcionados pelas criaturas, e não necessariamente quer rejeitar o Criador.

Mas, ao deixar-se seduzir pelas satisfações fugazes proporcionadas pelas criaturas, o pecador implicitamente está agindo contra o amor do Criador, pois sente que o prazer terreno não o preenche, mas ainda assim não resiste a ele.

Por isso, o pecado fere o próprio pecador, afastando-o da plenitude oferecida por Deus. E, por isso, o pecado ofende Deus: não porque Deus, como tal, se veja afetado, mas porque nós mesmos, ao pecar, nos diminuímos diante da grandeza que Deus nos oferece.

Para Jesus, o pecado nasce no interior do homem (cf. Mt 15, 10-20). Por isso, é necessária a transformação interior, do coração. Para Jesus, o pecado é uma escravidão: o homem se deixa no poder do maligno, valorizando falsamente as coisas deste mundo, deixando-se levar pelo imediato, pelas satisfações sensíveis, que não saciam nossa sede de amor e de plenitude.

Que tipos de pecado existem?

1. O pecado original é a herança que todos nós recebemos dos nossos primeiros pais, Adão e Eva: eles desconfiaram do amor de Deus Pai e cederam à tentação de deixá-lo fora das suas escolhas pessoais. Como filhos de uma humanidade que perdeu a inocência, todos nós nascemos com a natureza caída de pecadores e precisamos da graça de Deus, mediante o sacramento do Batismo, para purificar nossa alma.

2. O pecado atual ou pessoal é o que cometemos como indivíduos, voluntária e conscientemente. Pode ser cometido de quatro maneiras: com o pensamento, com as palavras, com os atos e com as omissões. E pode ser contra Deus, contra o próximo ou contra nós mesmos. O pecado pessoal pode ser mortal ou venial:

2.1. O pecado venial ou leve é aquele que cometemos sem plena consciência ou sem pleno consentimento, ou com plena consciência e consentimento, mas em matéria leve.

2.2. O pecado mortal ou grave é o que envolve três fatores simultâneos: plena consciência, pleno consentimento e matéria grave.

O que é matéria grave e matéria leve?

A “matéria” é o “fato” pecaminoso em si. É grave quando fere seriamente qualquer um dos 10 mandamentos. Alguns exemplos: negar a existência de Deus, ofender Deus, ofender os pais, matar ou ferir gravemente uma pessoa, colocar-se em grave risco de morte sem uma razão justa, cometer atos impuros, roubar objetos de valor, caluniar, cometer graves omissões no cumprimento do dever, causar escândalo ao próximo.

matéria leve é aquela que não fere seriamente nenhum dos 10 mandamentos, ainda que consista em um ato contrário a alguns deles. Por exemplo: roubar é pecado, mas a gravidade desse pecado tem diversos graus. Roubar dez centavos não costuma prejudicar gravemente a vítima do roubo; mas o roubo de uma quantidade cuja perda prejudica a vítima de maneira considerável passa a ser matéria grave.

Quais são os efeitos do pecado?

pecado mortal mata a vida da graça na alma, rompendo a relação vital com Deus; separa Deus da alma; faz que percamos todos os méritos das coisas boas que fazemos; impede que a alma participe da eternidade com Deus.

Como se perdoa o pecado mortal

? Com uma boa confissão ou com um ato de contrição perfeito, unido ao propósito de confessar-se o mais rápido possível.

Quanto ao pecado venial, ele enfraquece o amor a Deus, vai esfriando a relação com Ele, priva a alma de muitas graças que ela receberia de Deus se não pecasse, facilita o pecado grave.

Como eliminar o pecado venial? Com o arrependimento e as boas obras, como orações, missas, comunhão e obras de misericórdia.

E onde entram os pecados capitais?

Os pecados capitais requerem uma atenção especial porque são causa de outros pecados. Podem ser veniais ou mortais, dependendo das condições explicadas antes. Mas sempre são “cabeças” de novos pecados, e daí vem o termo “capital”. São sete:

– Soberba: estima exagerada de si mesmo e o desprezo dos outros.
– Avareza: desejo desmesurado de dinheiro e de possuir.
– Luxúria: apetite e uso desordenado do prazer sexual.
– Ira: impulso desordenado ao reagir com raiva contra alguém ou algo.
– Preguiça: falta de vontade no cumprimento do dever e no uso do tempo livre.
– Inveja: tristeza pelo bem do próximo, considerado como mal próprio.
– Gula: busca excessiva do prazer pelos alimentos e pela bebida.

Existe algum pecado que não pode ser perdoado?

Sim, o pecado contra o Espírito Santo (cf. Mt 12, 30-32). Em que consiste? Na atitude permanente de desafiar a graça divina; em fechar-se a Deus, rejeitar sua mensagem. Essa atitude impossibilita o arrependimento. E, como Deus respeita nossa liberdade e nosso livre arbítrio, Ele se deixa obrigar por nós a não nos perdoar, pois seu perdão depende da nossa aceitação voluntária.

O pecado contra o Espírito Santo pode se manifestar, por exemplo, na perda da esperança na salvação, na presunção de salvar-se sem mérito, na luta contra a verdade conhecida, na obstinação em permanecer no pecado, na impertinência final na hora da morte.

Então, qualquer outro pecado pode ser perdoado, bastando querer sinceramente o perdão?

Sim, claro! Deus quer tanto nossa plena realização com Ele, que não hesitou em morrer na cruz para nos redimir. Deus nos espera sempre com os braços abertos, como um Pai que se esquece de todas as nossas ingratidões, como Ele mesmo deixa claro na belíssima parábola do filho pródigo (cf. Lc 15, 11ss).

Basta querer de verdade seu abraço de Pai!

(Trechos do livro “Jesus Cristo”, do Pe. Antonio Rivero)

Fonte: https://pt.aleteia.org/2019/09/08/mas-afinal-o-que-e-o-pecado

O Papa no Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança: o bem pode vencer

Santa Missa e Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança (Vatican News)

Em sua homilia, Francisco ressaltou que a presença das Forças Armadas, Polícia e Segurança "em nossas cidades e bairros, o modo como estão sempre do lado da legalidade e dos mais fracos, torna-se ensinamento para todos nós: ensina-nos que a justiça, a lealdade e a paixão cívica continuam sendo valores necessários hoje em dia. Ensina-nos que podemos criar um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno, apesar das forças contrárias do mal".

https://youtu.be/fG5KSkUkpTg

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco presidiu a missa para o Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança, na Praça São Pedro, neste domingo, 9 de fevereiro.

A missa foi concelebrada pelo prefeito do Dicastério para os Bispos, cardeal Francis Prevost, pelo ordinário militar da Itália, dom Santo Marcianò, e pelo arcebispo de Vilnius, dom Gintaras Grušas, presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE). Cerca de 25 mil pessoas participaram da missa na Praça São Pedro. Mais de trezentos foram os concelebrantes, incluindo cardeais, bispos e sacerdotes.

Colocar em primeiro lugar o encontro com os outros

Em sua homilia, o Papa se deteve na atitude de Jesus no lago de Genesaré, descrita pelo evangelista Lucas com três verbos: ver, subir e sentar.

“Jesus não está preocupado em dar uma imagem de si mesmo às multidões, em executar uma tarefa, em seguir um cronograma; pelo contrário, coloca sempre em primeiro lugar o encontro com os outros, a relação, a preocupação com aqueles trabalhos e fracassos que muitas vezes sobrecarregam o coração e tiram a esperança.”

"Foi por isso que naquele dia Jesus viu, subiu e sentou-se", sublinhou o Papa.

Jesus viu. "Ele tem um olhar atento que lhe permite, mesmo no meio de tanta gente, avistar dois barcos atracados na margem e notar a desilusão no rosto daqueles pescadores, que, depois de uma noite que correu mal, lavam as redes vazias. Jesus dirige o seu olhar cheio de compaixão". "Não nos esqueçamos da compaixão de Deus. Das três atitudes de Deus: proximidade, compaixão e ternura. Não se esqueçam: Deus é próximo, Deus é terno e Deus é compassivo, sempre", frisou.

"Jesus olha com aquele olhar cheio de compaixão para os olhos daquelas pessoas, captando o seu desânimo, a frustração de terem trabalhado toda a noite sem apanhar nada, o sentimento de terem o coração vazio, tal como as redes que agora seguram nas mãos", ressaltou Francisco.

Cardeal Prevost enquanto incensa o Crucifixo (Vatican Media)

Jesus sobe na barca da nossa vida

A seguir, o Papa pediu desculpas por não continuar a leitura da homilia por causa da dificuldade de respirar, devido a uma bronquite que o acometeu nos últimos dias. Prosseguiu a leitura, o mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, dom Diego Giovanni Ravelli.

"Vendo o seu desânimo, Jesus subiu. Pede a Simão que afaste o barco da terra e sobe a bordo, entrando no espaço da vida de Pedro e abrindo caminho naquele fracasso que habita o seu coração. E isto é bonito":

“Jesus não se limita a observar as coisas que não correm bem, como nós fazemos muitas vezes, acabando por nos fecharmos em lamentos e amarguras. Em vez disso, Ele toma a iniciativa, vai ao encontro de Simão, detém-se com ele naquele momento difícil e decide subir na barca da sua vida, que naquela noite regressou à terra sem nenhum resultado.”

Breve vídeo da missa do Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança

https://youtu.be/Id5gAW3zGIk

A esperança que renasce

"Por fim, tendo subido, Jesus sentou-se. Nos Evangelhos", segundo o Papa, "esta é a postura típica do mestre, daquele que ensina. Efetivamente, o Evangelho diz que ele se sentou e ensinou. Depois de ter visto nos olhos e no coração daqueles pescadores a amargura de uma noite de trabalho em vão, Jesus sobe a bordo do barco para ensinar, isto é, para anunciar a boa nova, para levar luz àquela noite de desilusão, para narrar a beleza de Deus no meio das dificuldades da vida humana, para fazer sentir que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda há esperança. E é aí que acontece o milagre: quando o Senhor sobe no barco da nossa vida trazendo-nos a boa nova do amor de Deus que sempre nos acompanha e sustenta, então a vida recomeça, a esperança renasce, o entusiasmo perdido retorna e podemos lançar de novo as redes ao mar".

"Irmãos e irmãs, esta palavra de esperança acompanha-nos hoje ao celebrarmos o Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança, a quem agradeço o serviço prestado, saudando todas as Autoridades presentes, as Associações e Academias Militares, bem como os Ordinários castrenses e os Capelães." 

“A vocês é confiada uma grande missão, que abrange múltiplas dimensões da vida social e política: a defesa dos nossos países, o compromisso em prol da segurança, a guarda da legalidade e da justiça, a presença nas prisões, a luta contra a criminalidade e as diferentes formas de violência que ameaçam perturbar a paz social. E recordo ainda aqueles que prestam o seu importante serviço em situação de catástrofes naturais, na salvaguarda da criação, no resgate de vidas em alto mar, na defesa dos mais frágeis, na promoção da paz.”

O Papa Francisco durante a missa do Jubileu das Forças Armadas (Vatican Media)

Uma presença que é ensinamento para nós

"Também a vocês o Senhor pede para fazerem como Ele: ver, subir, sentar-se", disse ainda o Papa. "Ver, porque vocês são chamados a manter um olhar atento, capaz de captar as ameaças ao bem comum, os perigos que pairam sobre a vida dos cidadãos, os riscos ambientais, sociais e políticos a que estamos expostos", sublinhou. "Subir, porque suas divisas, a disciplina que os forjou, a coragem que os distingue, o juramento que prestam, são coisas que os recordam o quanto é importante não só ver o mal, mas denunciá-lo, subir a bordo do barco que está numa tempestade e, com a missão a serviço do bem, da liberdade e da justiça, empenhar-se para que ele não afunde", acrescentou.

“E, por fim, sentar-se, porque a sua presença em nossas cidades e bairros, o modo como estão sempre do lado da legalidade e dos mais fracos, torna-se ensinamento para todos nós: ensina-nos que, apesar de tudo, o bem pode vencer. Ensina-nos que a justiça, a lealdade e a paixão cívica continuam sendo valores necessários hoje em dia. Ensina-nos que podemos criar um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno, apesar das forças contrárias do mal.”

Capelães, presença de Cristo

O Pontífice recordou também os capelães, que são uma presença sacerdotal importante no meio dos militares. "Eles não servem – como por vezes e infelizmente aconteceu na história – para abençoar atos perversos de guerra. Não! Eles encontram-se no meio de vocês como a presença de Cristo, que quer acompanhar, ouvir e oferecer a vocês a sua proximidade, dar-lhes coragem" e apoio "na missão que desempenham todos os dias. Como apoio moral e espiritual, eles caminham com vocês, ajudando-os a realizar suas tarefas à luz do Evangelho e a serviço do bem".

Vigilantes contra a tentação de cultivar um espírito de guerra

Por fim, agradeceu aos militares pelo que fazem, "por vezes correndo riscos pessoais" e os exortou "a não perderem de vista o propósito de seu serviço e de suas ações: promover a vida, salvar a vida, defender sempre a vida".

“Por favor, peço-lhes que sejam vigilantes: vigilantes contra a tentação de cultivar um espírito de guerra; vigilantes para não deixarem se seduzir pelo mito da força e pelo rumor das armas; vigilantes para não serem contaminados pelo veneno da propaganda do ódio, que divide o mundo entre amigos a defender e inimigos a combater. Em vez disso, sejam testemunhas corajosas do amor de Deus Pai, que nos quer todos irmãos. Caminhemos juntos para construir uma nova era de paz, justiça e fraternidade.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Mulheres têm formação sobre maternidade espiritual de sacerdotes em Brasília

Retiro Nacional da Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes, em março de 2023, em Brasília | Arquivo pessoal

Por Monasa Narjara*

7 de fevereiro de 2025

“Formar mulheres que sentem o chamado ou que já rezam pelos sacerdotes”, este é o objetivo da formação sobre a "Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes: uma Vocação Escondida”, que acontecerá amanhã (8), às 8h, na catedral de Brasília, na Esplanada dos Ministérios.  O encontro tem 146 inscritas e é "um convite do grupo Maternidade Santa Faustina”, promovido pelo Apostolado Maternidade Espiritual (AME) da Fraternidade Misericórdia Materna.

Esta formação “é um convite da Santa Igreja feito através do documento do Dicastério para o Clero, ‘Adoração Eucarística pela santificação dos sacerdotes e maternidade espiritual’”, para instruir as mulheres que queiram se “aprofundar nesta missão”, disse à ACI Digital a coordenadora da Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes Santa Faustina, em Brasília, Laura Ata.

A formação será conduzida pelo fundador da Fraternidade Misericórdia Materna, frei Paulo Maria Geovani L. Noronha, e pela formadora da Fraternidade Misericórdia Materna, irmã Teresa Maria da Santa Cruz, coordenadora do AME. Também estará presente no evento o pároco da catedral de Brasília, padre Agenor Vieira.

O encontro de amanhã “incluirá momentos de oração”, abordará alguns temas “para esclarecer sobre a vocação da maternidade espiritual pelos sacerdotes”, como: “por que rezar pelos sacerdotes? Como discernir o chamado? E o sim de Maria”, adiantou Laura Ata.

Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes Santa Faustina

A Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes Santa Faustina “é um grupo de mães espirituais da catedral de Brasília” criado em 15 de novembro de 2023 pela libanesa Laura Ata, assessora diplomática na Embaixada do Líbano, em Brasília.

Laura mora no Brasil há 18 anos. Ela contou que a inspiração de criar esse grupo surgiu diante de uma relíquia da santa Faustina, quando participava de uma missa da festa da paróquia Mãe da Divina Misericórdia, na Asa Norte, cidade satélite de Brasília, celebrada pelo arcebispo cardeal Paulo Cezar Costa.

“A inspiração que me veio foi de iniciar um grupo na cripta da catedral, debaixo do altar, onde são ordenados inúmeros sacerdotes e onde são celebradas as missas mais solenes da arquidiocese”, disse Ata. “Resisti primeiro, mas fui por obediência e conversei no final daquela missa com dom Paulo sobre a inspiração e o desejo que veio no meu coração de iniciar um grupo discreto de mulheres que possam se ofertar pela vida dele, dos bispos auxiliares e consequentemente por todos os sacerdotes da nossa arquidiocese”.

“Ele acolheu com emoção minhas palavras e abriu as portas da arquidiocese e me falou: ‘escolha onde quiser e comece’”. Inspirada em realizar o grupo na cripta da catedral, Laura foi conversar com o pároco, padre Agenor Vieira.  “Ele, com o coração tão sensível de um homem de Deus, acolheu a proposta prontamente e deu o nome ao nosso grupo: ‘Maternidade Espiritual Santa Faustina’”.

A primeira reunião oficial do grupo foi no dia 8 de dezembro de 2023, solenidade da Imaculada Conceição. “O intuito deste grupo é apoiar espiritualmente, rezar no silêncio e nos ofertar pela vida dos nossos sacerdotes. Ser o porto seguro e coração materno na hora da dificuldade”, disse Laura Ata. 

O grupo é composto por 22 mulheres, que se reúne na cripta da catedral de Brasília toda segunda sexta-feira do mês diante do Santíssimo Sacramento e “quando o padre Agenor convocar ou precisar de intercessão”, disse Laura. Ela acredita que agora, com esta nova formação, o “grupo crescerá”.

*Monasa Narjara é jornalista da ACI Digital desde 2022 e foi jornalista na Arquidiocese de Brasília entre 2014 a 2015.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/61201/mulheres-tem-formacao-sobre-maternidade-espiritual-de-sacerdotes-em-brasilia

Reflexão para o V Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Tendo a graça de renunciar a si mesmo, o cristão poderá como São Paulo, na segunda leitura de hoje, dizer: “É pela graça de Deus que sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril.”

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Vemos na primeira leitura a disponibilidade de Isaías. Javé não lhe faz o convite diretamente, mas pergunta a Si mesmo quem enviar? Isaías não se faz de rogado e imediatamente se apresenta e se oferece. Já bem antes, diante da magnífica visão de Deus, Isaías já havia se reconhecido pecador e indigno da visão. Agora, já purificado, sentiu-se fortalecido para colaborar com Deus.

No Evangelho Simão Pedro e seus companheiros fazem uma pesca infrutífera. Jesus aparece, quando eles já se preparam para voltar para suas casas e sobe na barca de Simão, dando-lhe ordem para se afastar da praia. Pedro obedece e Jesus se acomoda em sua barca. Dela ensinava às multidões.

Quando terminou, o Senhor mandou que ele avançasse para águas mais profundas e jogasse as redes para a pesca. Simão contesta dizendo que labutaram toda a noite e nada conseguiram, mas em atenção à palavra d’Ele, iria lançar as redes. Evidentemente a pesca foi abundante e a reação de Pedro foi semelhante à de Isaías, sentindo-se pecador, indigno diante de tal maravilha. Ele se joga aos pés de Jesus e diz: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!”

Do mesmo modo como aconteceu com o profeta, acontece com Pedro. Jesus lhe dá a missão: ser pescador de homens. Então deixaram tudo e seguiram o Senhor. Sem renunciar ao que se possui não é possível servir ao Senhor e a seus irmãos. É preciso esvaziar-se, deixar-se tomar por Deus. Somente assim o cristão poderá penetrar águas mais profundas e tirar das garras da morte aqueles que o mal aprisiona como escravo do dinheiro, do poder, do prazer, transformando seu próprio umbigo no centro do mundo.

Certamente também o Senhor me vocaciona, chamando-me a ser seu apóstolo onde estou. Ele quer depender de meu sim, para que possa agir no coração e na mente das pessoas. Tenho consciência de que preciso me esvaziar para que a graça de Deus possa agir em mim, constituindo-me seu servidor?

Tendo a graça de renunciar a si mesmo, o cristão poderá como São Paulo, na segunda leitura de hoje, dizer: “É pela graça de Deus que sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 8 de fevereiro de 2025

"A verdade nunca é uma posse"

Cristo: Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Catequizar)

NA ESTRADA DE AGOSTINHO

Arquivo 30Giorni n. 02 - 2001

"A verdade nunca é uma posse"

«O próprio Cristo disse que Ele é a verdade e ao mesmo tempo o caminho, a vereda: nós buscamos a verdade, encontramos-a pela graça e recomeçamos a esperá-la». Encontro com o Cardeal Paul Poupard, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.

por Giovanni Cubeddu

«Agostinho é uma pessoa que conheço há cinquenta anos, desde que eu era um jovem padre e acreditava que estava destinado a ser professor. Eu estava com dificuldades para escolher uma disciplina para minha graduação: história, teologia ou filosofia do cristianismo? Finalmente optei pela última opção e escrevi sobre um pensador do século XX, o abade Louis Bautain. E lembro-me que no início de sua obra La philosophie du Christianisme ele colocou uma frase do De vera religione de Agostinho : "A filosofia, que é o estudo da sabedoria, nada mais é do que religião." Hoje, alguns levantariam seus escudos protestando que a distinção epistemológica entre filosofia, teologia, inteligência da fé e fé não é respeitada dessa maneira; Agostinho, por outro lado, parte simplesmente da etimologia, afirmando que a filosofia é o amor à sabedoria, e se assim é, quem pode ser, pergunta Agostinho, um maior amigo da sabedoria do que aquele que segue Jesus Cristo?

O cardeal Paul Poupard paira sobre nós com as altíssimas estantes de sua biblioteca de quinze mil volumes, com a qual ele convive em sua casa de estudos no Palazzo San Calisto, em Roma. Administrar tamanha massa de conhecimento é o dever traiçoeiro deste cardeal de setenta anos – presidente do Pontifício Conselho para a Cultura desde 1988 – que é responsável por navegar na relação entre cultura e fé. E é gratificante poder falar de Agostinho, cujo testemunho e inteligência na fé devem ter muitas vezes restaurado os esforços do cardeal francês, cujo primeiro gesto foi encontrar entre os quinze mil volumes aquele primeiro volume do abade Bautain. Folheando-o mais uma vez, o olhar recai sobre uma frase…

…“Você só conhece a verdade se souber quem a testemunha.”
PAUL POUPARD: Aurélio Agostinho é sempre novo, como todos os grandes Padres da Igreja. E o que ele disse sobre a verdade permanece. Não é abstrato, mas corporificado. Não apenas isso: Agostinho sabe que mesmo aqueles que não buscam a verdade constroem seu raciocínio sobre ela, eles estão ancorados nela. Daí a atitude tipicamente agostiniana de quem, mesmo obrigado a opor-se dialeticamente a alguém, o faz sempre partindo do próprio enunciado a refutar, sem nunca querer desafiar o interlocutor.

A este respeito, eis o que escreve Agostinho, dirigindo-se ao donatista Crescônio: «Vê, pois, quão razoável é a conduta que nós [católicos, ndr .] seguimos. Quando hereges e cismáticos vêm até nós, corrigimos o que eles distorceram, mas reconhecemos e louvamos o que eles preservaram da forma como o receberam. E isto para que, irritados pelos vícios dos homens, não ofendamos as coisas de Deus, indo além do que é justo, ao mesmo tempo em que vemos que o próprio Apóstolo confirmou e não refutou o nome de Deus encontrado no altar dos adoradores de ídolos pagãos."
POUPARD: Esta poderia certamente ser a “magna carta” do Pontifício Conselho para a Cultura, no nosso diálogo com todos. Este pensamento fundamental de Santo Agostinho também é adotado por Santo Tomás, que é um grande leitor de Santo Agostinho. Infelizmente, muitas vezes ensinamos uma história composta de arquétipos errôneos, como a oposição entre Santo Agostinho e São Tomás, o que não é verdade. Basta abrir a Summa Theologiae para descobrir que Tomás responde a todas as perguntas citando Agostinho. E é justamente seguindo Agostinho que Tomás afirma que “toda verdade, venha de onde vier, é inspirada pelo Espírito Santo”. Agostinho é central na grande visão clássica do catolicismo – da qual participaram desde o início São Justino, Clemente de Alexandria, Orígenes – da semina Verbi , do Logos spermatikos . A verdade não pode deixar de ser una, por seu próprio conceito, e se oposições e duelos são fundados nela, mesmo na Igreja, é devido às limitações e pecados dos homens. Na história da Igreja encontramos a feroz refutação da verdade porque ela foi afirmada por inimigos. Agostinho, ao contrário, com coração e inteligência, diz que mesmo no herege e no cismático não apenas “reconhecemos” a verdade, mas a “louvamos”, isto é, louvamos “o que eles preservaram tal como o receberam”. Este é precisamente o caminho do diálogo que buscamos com todos, seja o diálogo ecumênico, o diálogo inter-religioso, o diálogo com os não crentes ou o diálogo com as culturas. Começamos pelo positivo que existe em cada um de nós. Agostinho sabia disso muito bem, tendo sido atraído pelo maniqueísmo em sua juventude, e que mais tarde lutou contra essa heresia que defendia a oposição absoluta entre o bem e o mal.

Agostinho afirma em De civitate Dei que nesta terra a Igreja e o mundo coexistem juntos, de modo que as duas cidades são perplexae e permixtae …
POUPARD: Um conceito de Agostinho sobre o qual sempre medito e que utilizo com gratidão e eficácia no diálogo com as culturas. Isto é (aqui também tomo emprestado um conceito do meu grande protetor e padroeiro São Paulo, "Eu não faço o bem que quero, mas o mal que não quero") a fronteira entre o bem e o mal não é entre eu que sou perfeito e você que é o mal encarnado, mas passa por cada consciência, cada pessoa e cada sociedade que é precisamente perplexa e permixta.. Portanto, o grande caminho do diálogo salvífico que vem do próprio Jesus não é extinguir em ninguém aquela centelha de bem que ainda brilha fracamente, não sufocar as faíscas, mas partir delas. Nos tempos em que vivemos, creio que isto é o mais necessário, mas também o mais difícil, num contexto civil e eclesial não isento de maniqueísmo. É bastante claro que, ao contrário do maniqueísmo, cada cultura é verdadeira na medida de sua paixão cordial pelo homem e pela humanidade de cada homem. Por isso, no alvorecer do terceiro milênio, eu digo: é preciso retornar a Agostinho e fugir das tentações antagônicas que sempre retornam.

Que tentações, na sua opinião?
POUPARD: O primeiro é típico de alguém que, tendo tomado posse da verdade, blasfema de todo o resto. Destes, São Francisco de Sales disse que “uma verdade sem caridade é uma caridade sem verdade”. Esta frase me impressiona porque reitera que para nós a verdade não é um conceito abstrato, mas uma pessoa amada, ou seja, Jesus Cristo. Só Ele é o antídoto perfeito para todas as ideologias, porque o homem nunca se deixa reduzir a uma ideia.

A segunda tentação – como bem diz o famoso filme Tout le monde il est beau, tout le monde il est gentil (mas não é verdade que o mundo inteiro é belo e gentil…) – é a do sincretismo, do relativismo que envenena profundamente a cultura dominante, do agnosticismo. Isto é dramático para a Igreja, que tem a responsabilidade de anunciar o Evangelho e ir a todas as nações para dizer que o Senhor é a verdade, a vida e o caminho. Porque neste contexto – está acontecendo na Europa – até mesmo propor Jesus Cristo, a verdade que Ele é, é considerado um gesto de absolutismo e intolerância. Aconteceu de eu dizer isso também em conversa com o Papa, e resumi assim: "Santo Padre, realmente me parece que nossa sociedade de tolerância tolera tudo, absolutamente tudo, exceto a verdade." Retornamos ao início do cristianismo. Recentemente celebrei a Santa Missa em uma conferência em memória do filósofo Maurice Blondel no Panteão de Roma. Fiquei muito impressionado ao celebrar a Eucaristia ali naquele templo já dedicado pelos antigos romanos a todos os deuses, porque no início os romanos consideravam o cristianismo como mais uma religião do Panteão, e com espanto, transformado em raiva, viram que o Deus dos cristãos afirmava ser o único Deus verdadeiro.

E assim, entre as duas tentações – o fundamentalismo que não converteu ninguém e o sincretismo que esvazia tudo – brilha o exemplo de Agostinho, que dá testemunho da sabedoria de São Paulo diante do Areópago, quando, para refutar aqueles que blasfemavam a verdade, ele se servia da inteligência de uma captatio benevolentiae , que era também o grande abraço do seu coração para reconduzir ao Senhor aqueles homens devotados a cultos errados.

Você estava explicando antes que as culturas expressam uma questão em vez de uma posse…
POUPARD: Agostinho fala do coração humano estar inquieto até que descanse em Deus. Como podemos responder a esse coração inquieto? A partir daqui encontramos Cristo. Ele mesmo disse que é ao mesmo tempo a verdade e o caminho, o caminho: a verdade nunca é uma posse, mas nós a buscamos, pela graça a encontramos e começamos a esperá-la novamente. E Pascal, que aqui herda Agostinho, diz: "Vocês não poderiam me procurar se não me tivessem encontrado, e tendo me encontrado, vocês ainda me procuram." O Deus de Santo Agostinho, que é o Deus cristão, não é uma abstração petrificada, mas o rosto doce de uma pessoa viva. Esta é a nossa verdade.

E o mesmo vale para as culturas: uma cultura que quer ser o “totum” é intolerante e, em última análise, leva à morte. Leopold Sedar Senghor, ex-presidente da República do Senegal, poeta e meu amigo, fez parte do primeiro Conselho de Cultura que foi criado há vinte anos, ele sempre repetia que «la culture est dans le métissage», a cultura está no encontro fecundo. A sabedoria nunca é uma posse, mas sim uma abertura, um encontro que se enriquece gradualmente à medida que avança na história.
Entendemos bem isso quando falamos de inculturação: não há uma fé asiática, africana ou americana autorreferencial, mas, de um lado, a fé que se propõe e, de outro, a cultura, isto é, o homem, que em sua liberdade a acolhe: é um mirabile commercium , um mirabilis , um encontro e uma troca estupendos . A vida do cristianismo na história nos mostra isso.

Assim, a cultura floresce como a surpresa de um encontro...
POUPARD: Gostaria de repetir: quando Jesus afirma ser o caminho, a verdade e a vida, ele nos diz que não possuímos a verdade, mas a buscamos em nossa jornada, e podemos acolhê-la porque ela não é uma abstração, mas uma pessoa amada, o filho de Maria. E ao contrário do que Ernest Renan disse que "a verdade é triste", a verdade é cheia de alegria. Então, se a nossa geração pode fazer alguma coisa, se ela tem uma tarefa, é devolver à cultura – certamente, incluindo a cultura católica – a surpresa de uma verdade que é cheia de alegria. Escrevendo recentemente sobre o cristianismo no alvorecer do terceiro milênio, concluí com o Diário de um Pároco de Aldeia, de Georges Bernanos : "Tudo o que fizestes contra a Igreja, fizestes contra a alegria". Lembro-me também daquelas páginas extraordinárias de Agostinho sobre a felicidade: todos os homens a buscam, mas a maior infelicidade advém dos homens que colocam sua esperança de felicidade no lugar errado. Também para Agostinho, posses, prazer e poder são bens terrenos compartilhados por cristãos e não cristãos, bens até que se tornem um ideal absoluto.

Até mesmo certas ideias de Agostinho, depois dele, foram tornadas absolutas.
POUPARD: E a própria história da Igreja nos mostra que sempre que tentamos absolutizar um detalhe de Agostinho, nos desviamos. Assim – e peço desculpas pelo trocadilho – o agostinianismo depois de Agostinho não é agostiniano de forma alguma, e certamente não é agostiniano acreditar que o próprio Agostinho, com De civitate Dei, estava sonhando com a teocracia. Aqui vamos nós outra vez. É fácil para o gênio humano cair no mecanismo de oposições e antagonismos. Para o gênio católico – como testemunha Agostinho – é válido o grande mistério do encontro entre a graça e a liberdade, uma liberdade que quando diz sim à graça é pela graça, porque é a graça que previne e sustenta. Assim, o homem, que permanece responsável por sua resposta, vive a fé pelo que ela é, um dom, assim como sua liberdade é um dom. Não haveria o existencialismo ateu de Jean-Paul Sartre se ele tivesse intuído o mistério da graça.

"A Igreja não tem outra vida senão a da graça." Assim, Paulo VI retomou Agostinho no Credo do Povo de Deus .
POUPARD: Repito. Agostinho é muito moderno, ele expressa a essência da Igreja quando diz que há aqueles que parecem estar na Igreja, mas estão fora dela, enquanto outros que parecem estar fora, na verdade pertencem à Igreja. Porque a realidade profunda da Igreja não é institucional, mas da ordem da graça. Podemos dizer que a graça garante que a instituição possa ser livre e misericordiosa.

É por isso que Dante Alighieri pode colocar papas e bispos no inferno.
POUPARD: Claro que não! Quem parece estar dentro da Igreja está fora, e vice-versa… Dante é um gênio único. Eu o reli recentemente. O exemplar da Divina Comédia que possuo foi-me dado por Paulo VI, que era um ávido leitor de Dante. O Papa Montini foi uma pessoa de grande cultura e profundo humanismo, e para ele Dante era o poeta supremo, e o considerava totalmente católico, como Agostinho e Tomás. Tanto que ele mandou reimprimir uma edição especial da Divina Comédia e distribuiu a todos os padres do Concílio Ecumênico Vaticano II. Nas discussões conciliares sempre houve quem quisesse fazer prevalecer seu ponto de vista, e na intenção de Paulo VI convidar todos a ler Dante significava fazer um apelo ao catolicismo da Igreja que tudo compartilha, valoriza o que é bom e coloca cada coisa em seu devido lugar.

Seu lema episcopal também é tirado de Agostinho: «Vobis enim sum episcopus. Eu sou cristão, veja bem» …
POUPARD: Sim, significa "para vocês eu sou um bispo, mas para vocês eu sou um cristão". Quando chegou a hora de escolher um lema depois de me tornar bispo, pensei imediatamente naquelas belas páginas em que Agostinho contrasta longamente ser bispo com ser cristão, o peso de uma responsabilidade que pode ser uma ocasião maior de pecado com a generosidade e a alegria da fé. Então meu maravilhoso amigo Agostinho acrescentou: "o primeiro título é meu tremor e o segundo é minha paz. O primeiro é meu trabalho e o segundo é meu descanso."

Fonte: https://www.30giorni.it/

A função pedagógica do sofrimento humano

O Sofrimento Humano e o Silêncio de Deus (Diocese Valadares)

A FUNÇÃO PEDAGÓGICA DO SOFRIMENTO HUMANO

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

O sofrimento humano é uma realidade inescapável da existência. Todos, em algum momento da vida, enfrentam dores físicas, emocionais ou espirituais. Mas qual é a razão do sofrimento? Seria ele um absurdo sem sentido ou pode ser compreendido como parte de um processo de crescimento e aprendizado? A partir de uma reflexão teológica, especialmente baseada na Carta aos Hebreus (12,4-7.11-15), e do pensamento de filósofos como Søren Kierkegaard, Emmanuel Lévinas e Viktor Frankl, podemos considerar o sofrimento sob uma perspectiva pedagógica e redentora. 

A Carta aos Hebreus nos ensina que o sofrimento não deve ser visto como uma punição sem propósito, mas como um meio pelo qual Deus educa seus filhos. O autor sagrado nos exorta a perseverar na luta contra as estruturas de pecado que se opõem ao Reino de Deus: “Vós ainda não resististes até ao sangue na vossa luta contra o pecado” (Hb 12,4). Essa luta traz consigo dores e tribulações, mas também purifica e fortalece o espírito. Como um pai corrige o filho a quem ama, Deus permite que seus filhos passem por provações para que possam crescer na santidade e na justiça: “Pois qual é o filho a quem o pai não corrige?” (Hb 12,7). Embora nenhuma correção seja prazerosa quando ocorre, ela gera frutos de paz e justiça naqueles que foram exercitados por ela (cf. Hb 12,11). 

A vida cristã comporta desafios e exige coragem, resiliência e uma profunda comunhão com Cristo. Ele, sendo inocente, sofreu até o extremo da cruz e, por sua obediência ao Pai, conferiu ao sofrimento um sentido redentor. A dor não é um fim em si mesma, mas um caminho para a purificação e a santificação: “Firmem as mãos cansadas e fortaleçam os joelhos enfraquecidos” (Hb 12,12). 

Søren Kierkegaard, em O Desespero Humano (1849), considera o sofrimento essencial à existência humana. Ele pode levar à angústia e ao desespero, mas também à fé verdadeira. Para ele, a dor confronta o ser humano com a finitude e fragilidade da vida e o conduz a um “salto de fé” em Deus, abrindo caminho para uma relação autêntica com o Transcendente, encontrando um sentido mais profundo para sua existência. 

Para Emmanuel Lévinas, em Ética e Infinito (1982), o sofrimento não pode ser reduzido a uma explicação racional. Ele nos interpela e exige uma resposta ética e compassiva. A dor do outro nos desafia a sair do egocentrismo e assumir a responsabilidade ética por ele. Assim, o sofrimento transcende a experiência individual e se torna um chamado moral à solidariedade e ao amor ao próximo. 

Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, em Em Busca de Sentido (1946), argumenta que o sofrimento pode ter significado quando vivido com propósito. Mesmo nas condições mais extremas, como nos campos de concentração nazistas,  Frankl observou que aqueles que encontravam um sentido em seu sofrimento eram mais resilientes. Para ele, não é o que nos acontece que nos define, mas a maneira como reagimos diante do sofrimento. 

Frankl propõe que buscar um sentido para a vida pode transformar a dor em um caminho de crescimento. Essa visão se alinha à perspectiva cristã, que vê o sofrimento como um meio de santificação e participação no mistério redentor de Cristo. 

O sofrimento humano pode parecer absurdo sob uma perspectiva materialista. No entanto, a teologia e a filosofia mostram que ele pode ter uma dimensão pedagógica, redentora e ética. A Carta aos Hebreus nos ensina que Deus permite o sofrimento como forma de educação espiritual. Kierkegaard demonstra que a dor pode levar à fé autêntica, enquanto Lévinas nos chama à responsabilidade pelo sofrimento alheio. Por fim, Frankl nos lembra que o sofrimento pode ser suportado quando encontramos um sentido nele. 

Longe de ser um absurdo, o sofrimento pode nos conduzir ao crescimento, à transcendência e à solidariedade. Como afirma a Escritura: “Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria o passardes por várias provações, sabendo que a prova da vossa fé produz perseverança” (Tg 1,2-3). 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF