Vida de São Raimundo Nonato
Portell, Pátria de São Raimundo Nonato – seu prodigioso nascimento
São Raimundo Nonato nasceu em Portell, pequeno povoado da região da Catalunha,
nordeste da Espanha. O tempo era de muito fervor religioso, mas conflitos por
defesa ou avanço de fronteiras se multiplicavam. Embora descendendo da ilustre
família dos Viscondes de Cardona, seus pais, Arnal e Armesinda Salons, eram de
condição humilde. O pai era militar alistado ali numa das tantas cavalarias
condais da região.
Por volta do ano de 1302, na ausência do pai, a jovem esposa chegara ao
momento de dar à luz ao seu filho. Os embaraços no parto e a falta de
assistência médica levaram ao desfecho da morte da mãe, antes da criança
nascer. A comoção fora geral entre a vizinhança ali presente. Mas o que fazer?
Mãe e filho mortos? Não. Aquele era um desses momentos de Deus. Algumas horas
depois, chegando ao lugar o Visconde de Cardona, Raimundo de Folch, movido por
impulso superior, abre com uma faca de caça o ventre da mãe falecida e oferece
à vista das testemunhas daquela cena inédita um formoso menino, que a admiração
geral apelida de NONATO, sobrenome que se impôs e se conserva até hoje, como
lembrança do insigne mistério de sua vida.
O Visconde conferiu ao menino seu próprio nome, com sobrenome de NONATO
e o tomou sob sua proteção, comprometendo-se ministrar-lhe posteriormente sua
educação.
Infância
e adolescência de Raimundo Nonato
Raimundo passa sua infância no seu povoado. Era um garoto comum, dócil,
piedoso, educado, bondoso, sem caprichos e de bom trato. Parentes e vizinhos
cuidavam do menino. O pai tinha que fazer, às vezes também de mãe.
Raimundo aprende, desde cedo, as primeiras orações e, enquanto crescia,
manifestava sua piedade no repetido gesto de ornamentar as imagens de Nossa
Senhora com flores silvestres, ou prolongar-se em orações diante dos seus
altares.
Como as demais crianças do seu lugarejo, aprendia os primeiros
ensinamentos na escola paroquial de Portell.
Naquele momento, o longo confronto entre cristãos e mulçumanos tinha
desaparecido, mas permanecia a dolorosa realidade do cativeiro, como uma chaga
difícil de sarar, porquanto rendia capital aos que se dedicavam a esse negócio.
Uma das estratégias encontradas para aliviar o sofrimento de milhares de
cristãos, vítimas dessas emboscadas, fora a libertação de suas vidas, mediante
resgate. São Pedro Nolasco, comerciante barcelonês, tinhas fundado a Ordem de
Nossa Senhora das Mercês com o objetivo de empenhar seus seguidores na obra da
libertação dos cristãos cativos. O movimento crescera, o ideal se propalara e
aumentara o número de jovens fascinados pela defesa da liberdade de quem a
tivesse perdido.
Quando pré-adolescente, o pai de Raimundo Nonato, afim de educá-lo para
a carreira militar, o enviara a Barcelona. Raimundo de Cardona tinha –se
comprometido com a formação escolar do menino. Contudo, o pai soube que o
garoto tinha trato com alguns clérigos.
Com receio de que o menino se inclinasse para a vida religiosa, o pai
trouxe de volta a Portell e lhe encomendou o cuidado de umas ovelhas numa
pequena propriedade a poucos quilômetros da aldeia. Com razão seu pai intuíra
que o espírito de piedade do filho inclinaria cada vez mais para a vida
religiosa do que para levar adiante as glórias militares da família.
Raimundo não protestara da decisão de seu pai, até porque lhe eram
típicas a obediência e a humildade. Mas não deixou por menos o apelo de Deus no
seu coração.
A mística Mercedária tinha levado já, durante todo o século XIII,
centenas de redentores mercedários e trinitários aos cárceres maometanos. A
região Catalã estava povoada de conventos mercedários. Naquele ambiente crescia
o jovenzinho Raimundo Nonato, fascinado por levar às pessoas a liberdade. Era
um rapaz apaixonado por tudo, logo também pelo projeto de Deus. Desejava
escolher o melhor. E passara a pensar cada vez mais na libertação dos cativos.
Cuidando dos rebanhos do pai. Opção Religiosa.
Ordenado Presbítero.
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S. Raimundo Nonato | Mercedários |
A uns 3 Km do povoado de Portell havia um convento prioral, onde se
erguia uma capela dedicada a São Nicolau. Este convento e capela foram doados a
São Pedro Nolasco pelo prepósito de Solsona. A solidão do lugar deveria ser
impressionante. Porém, muito adequada aos frades, pois favorecia a
contemplação. Próximo da capela de São Nicolau ficava a pequena fazenda dos
Salons. Era ali aonde se dirigia o rapaz para cuidar dos rebanhos do pai.
Mas fora justamente ali onde ele encontrara a paz e o sossego que
propiciaram sua formação espiritual. Raimundo amava enormemente a Virgem Maria
e assim escapava frequentemente para orar na capela de São Nicolau. Tecia
bonitas grinaldas de flores silvestres para adornar o menino Jesus e sua Mãe. E
aproveitava bom tempo do serviço de vigilância para ir até o convento dos
Mercedários, ali próximo. Ele tinha então apenas 14 anos de idade.
Um dia seus amigos delataram ao pai que Raimundo Nonato estava
abandonado o gado. Para confirmá-lo, o pai foi observar e o encontrou de
joelhos e em êxtase, diante da imagem da Virgem Maria. Mas, por sua vez,
constatou que as ovelhas voltavam ao redil sem entrar pelos roçados e muito bem
ordenadas, guiadas por um pastor que reluzia como o sol. Era um anjo. O episódio
certamente mexeu com a consciência de Arnal, o pai.
O rapaz aproveitara a solidão do seu retiro para discernir sua vocação e
deliberar sua emancipação, que ele decidiu algum tempo depois, ingressando como
mercedário na vida religiosa. Pronto, Raimundo pediu o hábito ao superior do
convento. Ao cabo de 4 anos fez a profissão religiosa, em 1320, naquele
convento da sua terra. Ele tinha então a idade de 18 anos.
Raimundo Nonato continuou se dedicando aos estudos eclesiásticos em
Barcelona. Ali convivia permanentemente com as chegadas periódicas de centenas
de redimidos, que aportavam a Barcelona, trazidos pelos confrades, desde as
Costas Da África, Argélia, Mauritânia, Túnis, ou dos reinos mulçumanos
espanhóis: Granada, Cádiz, Valência e outros.
Toda expedição tinha sua história de sucesso, de redenções, mas também,
de malogros e de martírios. E, todo os mercedários conviviam com esta
realidade, todos tinha consciência da sua vocação de risco.
Todos eram candidatos a mártir. Pois sabiam que a qualquer momento
poderiam ser designados, em Assembleias Capitulares, para ir ao trabalho de
resgates. É lógico que a escolha incidia preferentemente sobre homens
corajosos, inteligentes, hábeis conhecedores da política árabe, perspicazes nos
negócios, tarimbados nas relações humanas, corajosos para enfrentar as
tormentosas viagens pelo Mediterrâneo, boa saúde física e psicológica. Mas,
acima de tudo, pacientes, humildes e apaixonados pela causa que defendiam, com
a disposição de entrega da própria vida em favor da libertação de algum
cristão, ameaçado de perder sua fé nas masmorras sarracenas.
Aos 22 anos de idade, Raimundo Nonato foi ordenado presbítero em
Barcelona e a partir daí amadurecia nos conventos mercedários o seu ideal de
cavalheiro libertador. Recebia e atendia cativos redimidos; pregava e ensinava;
organizava expedições, participava de Capítulos, recolhia esmolas; sobretudo
orava. Seu amor à Eucaristia e à SS. Virgem Maria levava-o às alturas do
êxtase.
Ânsia redentora – Cuidados com os pobres e os doentes
A ação redentora não era uma aventura improvisada. As expedições
aconteciam uma ou duas vezes ao ano e eram decididas em Assembleias
capitulares. Ali se aportavam as esmolas do Fundo da Redenção, escolhia-se o
local, listavam-se os cativos a serem redimidos e se designavam os redentores.
Lembramos que os comerciantes relacionados, sobretudo com os mulçumanos, tinham
que ser audaciosos para empreender longas travessias, saber comprar, vender e
trocar mercadorias, conhecer línguas e costumes de outros povos, ser hábeis
para enfrentar os riscos de combates, a pirataria e a bandidagem.
Os perigos rondavam em mar e terra. As travessias pelo Mediterrâneo
cobravam uma elevada cota de vidas desses religiosos. Quando Raimundo
Nonato ingressara na Ordem como religioso, esta já contabilizava dezenas de
mártires de várias regiões da Espanha e de outros países da Espanha e de outros
países da Europa, todos mortos de forma brutal: decapitados, crivados com
flechas, crucificados, enforcados, apedrejados, atravessados por espadas,
esquartejados, estripados, arrojados ao mar com pedras atadas ao pescoço,
jogados vivos em fogueiras, diante dos palácios dos reis para entreter o povo.
Apesar disto, Raimundo Nonato não via a hora de ser enviado como
redentor. Enquanto os anos passavam, Raimundo forjava sua ânsia redentora,
tornava-se homem de quilate. As mais antigas biografias o descrevem como
“discípulo diligentíssimo do mestre Pedro Nolasco”, aplicado aos estudos e de
caridade borbulhante. Dizem que andava de cidade em cidade; que cavalheiros e
nobres o respeitavam e que todos os povos o amavam. De fato, enquanto se
preparava para ir, um dia, às redenções, Raimundo se exercitava na oração e no
sacrifício, impunha-se a penitência como forma de doação. No trato com os
doentes, deixava marcas de inesgotável caridade.
Todos queriam ser atendidos por aquele jovem cheio de encanto e
paciência, que se desdobrava em cuidados com os enfermos e achacados. Os pobres
o procuravam agradecidos pelas dádivas que dele recebiam; e ele buscava atender
a todos porque via neles a imagem de Jesus. Era assíduo na oração. O amor pelo
mistério Eucarístico fazia dele um apaixonado por seus irmãos, um obsessivo
defensor dos oprimidos pela ferida social, visível e sangrante da estrutura
econômica, política e ideológica daquela sociedade.
Nos cárceres de Argélia -torturas: Proibido de falar
Em 1335, Raimundo Nonato, aos 33 anos de idade foi nomeado para uma
redenção na Argélia. Ele embarcou na expedição com um confrade. Chegando
àquelas cidades, os redentores podiam, com liberdade vigiada, percorrer os
mercados humanos, entrar nos cárceres, conhecer a situação dos prisioneiros,
oferecer câmbio. A condição do cativo pesava nas negociações. Se estava como
prisioneiro um cortesão influente, um nobre, um militar, um clérigo ou um
comerciante rico, os vendedores mudavam as regras do jogo.
Conforme o interesse comercial impunham soluções unilaterais e
arbitrárias; tornavam-se inflexíveis e provocadores. Raimundo Nonato
fizera então em Argélia 140 redenções. Mas como acontecera em outras ocasiões,
o dinheiro não fora suficiente para resgatar, desta vez, mais alguns sofridos
pais, cujas famílias não tinham como pagar o resgate. O religioso se propôs a
ficar no seu lugar, até a próxima vinda dos mercedários à Argélia.
Pronto, Raimundo Nonato se dedicara a falar em nome de Jesus Cristo,
tentando fortalecer a fé dos cativos cristãos. Era tudo o que ele sempre
desejara: visitar, animar e converter. Então passara a visitar os cárceres,
orava com os prisioneiros e até ousava catequizar os próprios mulçumanos,
atraindo alguns para Jesus Cristo. Isto fora tomado como afronta. Era crime
capital entre mouros falar de outra religião aos que professavam o islamismo.
Raimundo Nonato foi denunciado e condenado à morte. Mas o temor de
perder a soma da sua libertação e de outros cativos levara os interessados a alcançarem
dos seus magistrados a comutação da pena por terríveis suplícios.
Mandaram então açoitá-lo nas ruas e praças da cidade e o prenderam
depois numa masmorra comum. Com isso, ele se dedicou mais e mais a confortar e
a pregar aos cativos a paciência, e aos carrascos o amor. Cumpria-se aí o
desejo do seu coração: consumir-se na obra da caridade. Sabia da força
simbólica da entrega martirial como estímulo para os prisioneiros, um eloquente
gesto de proclamação da fé em Jesus e viva lição de amor perante todos.
Depois de lhe fustigarem com várias torturas, um dia dois esbirros lhe
infligiram um cruel suplício: p e r f u r a r a m com ferro q u e n t e os seus
lábios e os fecharam com um cadeado, que ele tivera de amargar durante oito
meses.
Não conseguiram com isso silenciá-lo. Com gestos e sinais ele continuava
a transmitir a todos o calor de seu afeto e a força de sua mensagem. Homem de
Deus, garimpava nas profundas experiências da oração a tranquilidade do
espírito e alegria da fé. Forte e sereno impressionava a todos com a irradiação
da paz e do amor. Ganhava o respeito e a simpatia dois próprios carrascos a
quem repassava uma extraordinária lição do amor de cristo.
Retorno a Barcelona – Nomeado Cardeal.
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S. Raimundo Nonato | Mercedários |
As redenções eram
feitas uma vez por ano. Alguma viagem extraordinária pelo Mediterrâneo podia
acontecer sobretudo quando algum dos redentores ficava como refém. Foi assim
que, passados 8 meses, chegara à Argélia outra expedição mercedária, levando o
dinheiro do resgate de Raimundo Nonato, bem como o da libertação
de outros prisioneiros.
Puseram-se, então, à viagem de volta. Completada a travessia pelo
Mediterrâneo, alcançaram o porto de Barcelona. A população costumava aguardar
com ansiedade o retorno das barcas redentoras. Para os religiosos torturados
havia sempre manifestações de solidariedade e de entusiasmada expressão de
reverência e agradecimento.
Acercavam-se de Raimundo Nonato, para lhe beijar as mãos e se
maravilhavam com a placidez e doçura do seu sofrido semblante. Crescia a
veneração de todos pelo jovem redentor. E se multiplicavam as súplicas a Deus,
bem como as revelações de favores alcançados do céu em seu nome. E o povo
acorria a ele como a um querido e poderoso servo de Deus.
Sem perder a humildade, Raimundo Nonato continuava com seu gesto de
caridade em favor dos pobres de Barcelona. Aumentava sua fama de santidade e
muitos acorriam a ele com pedidos. A todos atendia com solicitude.
Por outro lado, crescia nele o fervor eucarístico, lugar da sua profunda
comunhão com Deus. Enquanto o tempo passava, Raimundo trabalhara em vários
conventos da Catalunha. Pregava, pedia esmolas para os resgates, falava da
condição miserável dos oprimidos e da necessidade de mudar o quadro social que
mantinha tanta gente excluída. E voltara a realizar outras redenções.
Sua fama atravessara então as fronteiras da Espanha e chegara a Avinhão,
naquele momento, sede do Papado. Conhecido do clero e dos príncipes, Raimundo
Nonato alcançava simpatia nos meios eclesiásticos, além da crescente
ressonância no coração da população.
Em 1338, Raimundo Nonato tinha 36 anos de idade, quando o Papa Bento XII
resolveu chamá-lo para junto de si. Movido por sua profunda humildade, Raimundo
Nonato chegou a externar a não aceitação do cargo. Mas o Papa contava com a sua
habilidade nos negócios com os mulçumanos e viu como poderia ser útil para o
governo da Igreja. Insistiu nomeando-o Cardeal, no Consistório de dezembro de
1338.Raimundo Nonato permaneceu ainda alguns meses em Lérida, viajando depois
para Avinhão, passando por Cardona, para despedir-se dos seus parentes.
Apesar de jovem na idade, seu corpo estava prematuramente esgotado pelo
estresse, resultante do excesso de zelo nas atividades e dura austeridade que
se impunha a si mesmo. Em Cardona, de repente, sentiu-se mal, acometido de uma
febre violenta. Mesmo com os cuidados dispensados pelos parentes, viu-se logo
que os sintomas anunciavam sua morte. Sentiu que chegara seu fim. E se
preparara para ir ao encontro definitivo com o Senhor.
O Encontro da Eucaristia – Presente do céu na sua morte
Desde a formação das primeiras comunidades cristãs a Eucaristia se
constitui no centro e alma da Igreja.
Era desta fonte que Raimundo Nonato tirava força e heroísmo para levar
adiante tantos e duríssimos trabalhos feitos ao longo da sua vida, por amor a
Jesus Cristo e aos irmãos. A Eucaristia fora seu alimento e sustento, sua
fortaleza, seu tudo. Por isso passava horas e horas e até noites inteiras
diante do SS. Sacramento, ensimesmado na contemplação deste insondável
mistério. E na celebração cotidiana da Eucaristia encantava os fiéis pela unção
e fervor na realização da liturgia; e os animava à piedade eucarística como
fonte de comunhão e força propulsora das tarefas diárias.
Agora, vendo que chegara o momento da plenitude do repouso, seu desejo
do céu se junta ao esgotamento físico e anseia que o Senhor o venha a
buscar. Suplica que lhe tragam, antes de morrer, o celeste alimento.
Enquanto os familiares providenciam o santo viático, o quarto de Raimundo
Nonato se enche de luz; ouve-se uma sinfonia angelical e ao acudirem ao seu
aposento, ali encontram o religioso num profundo êxtase, comungando sob a
espécie do pão, o corpo de Cristo, milagrosamente ministrado ao Santo, segundo
a crônica da sua morte, pelo próprio Jesus, acompanhado de uma corte de anjos e
santos.
Tão puro como nascera, assim morre o intrépido religioso mercedário, com
a idade de 37 anos. Era 31 de agosto de 1339, quando sua alma vôa para o céu.
Deixa neste mundo o exemplo do bom fazer mercedário, a auréola que começa a se
traduzir em inúmeros favores divinos, obtidos pelo povo, por sua intercessão.
Assim terminou sua trajetória de amor e liberdade.
Morreu jovem, porém carregado de méritos, cercado de estima popular e
agraciado por Deus com estupendos prodígios.
O Desígnio de Deus também no seu sepultamento.
Raimundo Nonato acabava de morrer e já começavam as manifestações de
devoção à sua pessoa. De fato, já eram conhecidas as marcas profundas de
santidade, bem como as práticas de virtude, em grau heroico, deixadas por onde
ele passara: Liam-se os desígnios de Deus em todos os traços de sua vida: no
seu nascimento extraordinário, no decidido ideal libertário, na entrega
martirial do cativeiro em favor do próximo, nas duras provações da vida e na
hora da sua morte. Deus o exaltara com dons extraordinários, especialmente o da
caridade, da obediência, da humildade e da alegria, levados ao extremo.
Ele iria se tornar um dos santos mais populares da Igreja. E sua
popularidade começara de forma prodigiosa no momento mesmo de se dar sepultura
ao seu corpo. Como se tratava de despojos tão venerados, surgiu ali em Cardona
um pleito: O visconde e seus familiares, sob pretexto de parentesco, insistiam
em lhe dar sepultura ali mesmo. Os mercedários reivindicaram o direito de
sepultamento do confrade, de acordo com as Constituições da Ordem, que
determinavam enterrar os religiosos defuntos no convento mais próximo de onde
falecessem.
Por fim, ambas as partes concordaram em deixar a solução a um sinal da
providência de Deus. Puseram sobre uma avalgadura a urna funerária com o seu
corpo e dispuseram o animal no ângulo de dois caminhos, concordando em que a
direção tomada pela viatura com os sagrados despojos seria o sinal do céu
indicando onde o santo devesse ser sepultado.
E o animal tomou o caminho da ermida de São Nicolau, onde Raimundo
Nonato gastara boa parte da sua adolescência campeando rebanhos e onde tinha
iniciado, na juventude, o noviciado de santidade. Segundo a mais antiga
tradição, ao chegar ali o animal com o corpo do santo, acompanhado de grande
séquito, dera três voltas em torno da Igreja e caiu extenuado.
Ali o seu corpo foi sepultado e ali permaneceu até 1936, quando as
facções comunistas da guerra civil espanhola, profanando aquele santuário,
queimaram suas relíquias.
O Culto a São Raimundo Nonato – Sua popularidade na Igreja”
O culto a São Raimundo Nonato começou desde os primeiros momentos,
depois da sua morte. O lugar onde fora sepultado passou a receber devotos de
toda parte, como testemunhas de favores obtidos por sua intercessão. Multiplicavam-se
os relatos de graças alcançadas pelo seu intermédio.
O antigo priorado, devido à f a m a de santidade do religioso e dos
numerosos e insignes milagres que se atribuíam à sua intercessão, logo ficara
pequeno para atender o crescente número de devotos. Tornou-se necessário se
construir uma Igreja de maiores proporções para dar cabida ao massivo número de
fiéis que chegavam, atraídos pela fama do santo.
Os mercedários então edificaram ali, em 1625, um grande convento com uma
monumental Igreja. Estimulados pelo crescente fervor em relação ao santo,
naquelas comarcas leridanas, obrigaram-se a construir um convento ainda maior.
A sua grandeza emergindo daquela verde planície, encanta aos viajantes
que circulam pela autopista que passa quase roçando a cidade que ali cresceu,
com o nome de São Raimundo Nonato. Mesmo sem a Igreja se pronunciar
oficialmente sobre as virtudes heróicas daquele homem de Deus, o povo se
encarregou de fazê-lo. Os devotos o viam glorificado por Deus pelos dons
extraordinários recebidos em vida e exaltado depois da morte. A história de
seus milagres espalhou-se por todo o mundo cristão.
Diante de tantos testemunhos e fatos, a Igreja se propôs examinar, num
Processo, a vida e virtudes do santo de Portell. Passado algum tempo, como a
devoção se expandia por toda a Espanha, Itália e toda América espanhola, os
pedidos à Santa Sé sobre a sua canonização, cresceram; e Roma viu que era a
vontade de Deus que o Bem-aventurado Raimundo fosse invocado como santo por
toda a Igreja. Um processo perante o Tribunal Eclesiástico levou à aprovação do
seu culto imemorial em 1625.
Três anos mais tarde, em
solene liturgia na Basílica de São Pedro, diante de toda a Família Mercedária,
a corte pontifícia e multidão de fiéis de várias partes do mundo, especialmente
da Espanha, Raimundo Nonato foi canonizado e aclamado santo, pelo Papa Urbano
VIII, em dezembro de 1628, juntamente com São Pedro Nolasco, o heroico
fundador da Obra da Redenção. Mais tarde, em 1657, o Papa Alexandre II
inscreveu seu nome no Martirológio Romano e mandou que toda Igreja celebrasse
sua festa no dia da sua morte, 31 de agosto.
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