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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Mens sana in corpore sano

Academia | Guadium Press
O corpo só permanecerá são se sã a mente houver permanecido.

Redação (30/08/2022 16:31Gaudium Press) “Mens sana in corpore sano” (mente sã num corpo são) é uma expressão bastante conhecida, que quase todo mundo já ouviu ou já leu em algum lugar.  Apesar de ter se tornado famosa isoladamente, a frase faz parte de um poema, a Sátira nº X, de autoria do poeta romano Décimo Júnio Juvenal, que viveu entre os séculos I e II. O verso completo diz: “Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são” .

Embora seja muito usada como slogan de academias de ginástica, musculação e fisiculturismo, ela é muito mais profunda do que uma simples exaltação do corpo, algo que se tornou “febre” nos últimos tempos. Quando vista nesse contexto de apologia do físico, a impressão que se tem é a de que um corpo bem cuidado e a prática de exercícios sejam a garantia de uma mente saudável e equilibrada, o que não é, necessariamente, verdadeiro.

Quando a obsessão com o corpo se agiganta, ainda que este ganhe músculos fortes e contornos bem definidos, a mente já deixou de estar sã, porque qualquer tipo de obsessão atesta a fragilidade e o descontrole emocional, ou mental, se preferirem. Apaixonar-se pelo próprio corpo a ponto de colocar o condicionamento físico e a nutrição focada apenas em ganhar força e massa muscular como prioridades, não significa ter a mente sã, pelo contrário.

A virtude está no equilíbrio

É evidente que cuidar do corpo é, antes de qualquer coisa, um dever. Por sinal, um dever sagrado, pois, sendo o corpo templo do Espírito, ele deve ser objeto de todos os cuidados necessários para a manutenção da saúde e do equilíbrio. Descuidar do corpo, da alimentação, do repouso e das atividades necessárias para manter-se saudável pode ser considerado um pecado, visto que nossos corpos são dádivas divinas.

Mas, de que adianta gastar dinheiro, se esforçar até para além do limite se exercitando, “puxando ferro”, malhando, controlando a alimentação e até tomando anabolizantes para definir a forma física e conquistar o “shape” dos sonhos (termo utilizado no universo das academias, significando corpo definido) e descuidar da alma, a “mens sana”?

Não devemos, de forma nenhuma, descuidar da parte física, correndo o risco de nos tornarmos apáticos, desmotivados, moles. Nosso corpo precisa estar saudável e ativo, sempre “preparado para a guerra”, afinal, como diz a bela canção católica: “De batalha amplo campo é a terra” e estamos todos inseridos numa guerra constante e renhida. Mas, quando todo nosso esforço, nossa concentração e nosso tempo livre é focado em ganhar massa muscular, estamos focando apenas na aparência. E, para isso se tornar um vício, uma dependência, é um passo muito curto.

Juvenal termina o seu poema dizendo: “Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio; certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude.” E, nós ousamos completar: pela virtude do equilíbrio. Poderia usar um adágio e dizer: “Nem tanto ao Céu, nem tanto à Terra”, mas, não direi, porque o nosso foco é o Céu, por isso, a mente sã deve vir sempre em primeiro lugar, para que todo o edifício esteja são.

Conquista de toda uma vida

Essa é uma verdade que entendemos melhor à medida que envelhecemos. Depois que passamos dos 40, começamos a sentir um pequeno declínio em nossa vitalidade. Aos 50, o corpo já não responde mais como dez anos antes e, aos 60, começamos a nos sentir mais fracos, algumas dores começam a nos visitar mais amiúde, e nossos reflexos já não são tão ágeis. É o normal da vida.

Chegar a essa fase com saúde, flexibilidade, pressão arterial, nível de açúcar e taxas de colesterol e triglicerídeos controlados deve ser o ideal de vida de todos, mas, é nesta fase que, mais especialmente, devemos seguir o conselho de Juvenal: rezar para que a mente esteja sã, num corpo são.

Comunhão | Guadium Press

Algo que é fabuloso, embora um paradoxo difícil de entender, é que, se cultivamos os valores do espírito nos anos áureos da juventude e início da maturidade, quando nosso corpo começa o seu inevitável declínio, temos uma ascensão da alma, uma disposição que vem da consciência tranquila, do dever cumprido, das virtudes cultivadas. Como já escrevi aqui outras vezes, não sou partidário de que a velhice traga sabedoria. É mais fácil ela trazer diabetes, glaucoma, catarata, pressão alta e artérias entupidas, porque a sabedoria é conquista de toda uma vida, não é um atributo mágico que a velhice dá.

Assim como as patologias citadas – entre muitas outras – não se desenvolvem de uma hora para outra apenas porque se envelheceu, mas são consequências de um estilo de vida, o mesmo se dá com a sabedoria, um edifício construído tijolo por tijolo, parede por parede. E é muito comum que, nesta fase, quando já não nos perturbam aflições que consistem nos grandes desafios da pouca idade e nem nos tentam as grandes seduções da vida, nos sintamos, por dentro, com a energia e o vigor dos 30 anos.

Envelhecer bem no corpo e rejuvenescer na alma

E, a fim de que não nos tornemos velhos ridículos, de comportamento inapropriado, é de todo aconselhável um bom espelho, de tamanho razoável, no qual possamos nos mirar todos os dias e ver que, sim, nosso corpo envelhece, nosso cabelo, quando ainda existe, branqueia e nossos olhos, que, conquanto divisem novos horizontes, já não brilham como antes e dificilmente enxergam sem um bom par de óculos.

Dessa forma, envelhecer bem no corpo corresponde a rejuvenescer na alma e ganhar a força necessária para despir a carcaça quando chegar a hora apropriada, e alçar o grande e definitivo voo sem se lamentar ou desejar permanecer cativo na vã utopia da vida passageira.

Pode parecer que eu seja um velho escrevendo especialmente para os velhos, mas, na verdade, escrevo, sobretudo, para os jovens, que, com sorte, envelhecerão amanhã e, com preparo, envelhecerão bem. Portanto, ainda caminhando pelas palavras do poeta Juvenal, peçamos a Deus “uma alma corajosa que careça do temor da morte”, mas que não seja estúpida o bastante para achar que a morte não virá ao seu encontro ou que poderá driblá-la com os músculos de titânio do seu corpo, conquistados com muito suor e membros doloridos, porque tudo passa, e passa muito rápido e o corpo só permanecerá são se sã a mente houver permanecido.

Por Afonso Pessoa

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Bispo desmascara falso argumento pró-aborto usado por políticos que se dizem católicos

Antoine Mekary | ALETEIA
Por Francisco Vêneto

Dom Robert Barron repudiou declarações “repulsivas” de Joe Biden a favor do aborto.

O bispo dom Robert Barron, da diocese norte-americana de Winona-Rochester, desmascarou um falso argumento pró-aborto usado por políticos que se dizem católicos, como é o caso do presidente democrata dos Estados Unidos, Joe Biden.

Qualificando de “repulsivas” as declarações do presidente em favor da prática, o bispo observou, em vídeo publicado no YouTube, que o mandatário adota uma postura escorregadia: por um lado, “Biden afirma a sua crença pessoal, como católico, de que a vida humana começa na concepção e, portanto, o aborto é moralmente errado”; por outro lado, “ele sempre foi rápido em acrescentar que não está disposto a usar a lei para impor essa convicção pessoal a ninguém”.

Este é um falso argumento pró-aborto usado recorrentemente por diversos políticos que se dizem católicos.

Dom Barron desfaz a falácia com clareza:

“Opor-se ao aborto não é questão de doutrina: é uma conclusão do raciocínio moral e das descobertas da ciência objetiva”.

O bispo enfatiza que a defesa da vida se alicença em um fato biológico: a obviedade de que a vida começa na concepção. E reforça: esta é “a base de um argumento contra o aborto que pode e deve ser feito na esfera pública: claramente não é um dogma do catolicismo”.

No tocante à falácia de quem se declara católico, mas diz não querer “impor” suas convicções aos outros, dom Barron desmascara o uso enviesado da palavra “impor”:

“Estou muito cansado da maneira como o presidente e seus aliados usam o termo ‘impor’. Repetidamente eles dizem alguma versão de ‘não estou disposto a impor minhas crenças aos outros’. As leis não sugerem: elas impõem. Esta é a natureza das leis. Por trás de toda lei verdadeiramente justa, existe algum princípio moral: preservar a vida, estabelecer maior justiça, proteger os pobres promovendo o bem comum etc.

Podemos dar um basta àquela postura tola que foi articulada pela primeira vez pelo governador Mario Cuomo há 35 anos e que depois vem sendo repetida por muitos políticos católicos: a do ‘eu pessoalmente me oponho ao aborto, mas o apoio publicamente’. Não é uma convicção nascida do dogma, e sim do raciocínio moral. É completamente incoerente afirmar que é possível manter a posição privadamente, mas não a defender publicamente. Isto seria análogo a alguém dizer no século XIX que, embora pessoalmente achasse a escravidão abominável, não faria nada para eliminá-la ou para impedir a sua propagação”.

Dom Barron desmascarou o persistente recurso do presidente Biden a essa falácia:

“Ele afirma que se opõe ao aborto porque o considera moralmente errado, mas, várias vezes, da maneira mais direta e até contundente, ele se esforça para torná-lo mais acessível, mais aceitável e mais legalmente defendido”.

O bispo norte-americano recordou o caso de Abraham Lincoln, que se dizia contra a escravidão, mas não se opôs diretamente a ela; no entanto, apoiou a sua extinção gradual.

“Se nosso atual presidente estivesse mesmo convencido, como afirma estar, de que o aborto é errado, se ele tivesse dado passos na direção de pelo menos reduzir a prática, ou se pudesse ter encontrado palavras positivas sobre a decisão Dobbs, que ao menos dá aos estados o direito de restringir o aborto, eu poderia ver isso no modo Lincoln. Mas ele segue em frente defendendo a política pró-aborto mais radical que se possa imaginar”.

A decisão judicial a que dom Barron faz menção é a que foi tomada em junho deste ano pela Suprema Corte dos Estados Unidos no caso Dobbs versus Jackson: a decisão reconheceu a inconstitucionalidade de uma sentença anterior, a famosa Roe versus Wade, que, em 1973, tinha legalizado o aborto em todo o território dos EUA com base em uma farsa.

Desde que a Suprema Corte derrubou a velha e equivocada lei do aborto, porém, Joe Biden tem feito o máximo esforço para voltar a promover a prática – inclusive assinando uma ordem executiva que contraria a decisão da Suprema Corte.

O próprio Papa Francisco declarou, recentemente, que a postura de Joe Biden quanto ao aborto é “incoerente” para quem se diz católico.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa renova apelo pela conversão ecológica em nome das futuras gerações

O Pontífice ao final da Audiência Geral desta quarta-feira (31)  (Vatican Media)

O apelo de Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, celebrado nesta quinta-feira (01), é para a mudança dos estilos individuais de vida e também dos modelos de consumo e produção, inclusive com o apoio das cúpulas das Nações Unidas que acontecem no segundo semestre no Egito e no Canadá.

"Amanhã celebraremos o Dia Mundial de Oração pela Criação e o início do Tempo da Criação, que terminará em 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. Que o tema deste ano, 'Ouça a voz da criação', possa fomentar em todos um compromisso concreto para cuidar de nossa casa comum. À mercê dos nossos excessos consumistas, a irmã mãe terra geme e nos implora que paremos com os nossos abusos e com a sua destruição."

Assim, na Audiência Geral desta quarta-feira (31), o Papa Francisco recordou a data comemorativa deste 1° de setembro. O Tempo da Criação é tradicionalmente um tempo ecumênico inspirado pelo Patriarcado de Constantinopla para unir os cristãos por uma conversão ecológica. Um apelo reforçado pelo próprio Pontífice na sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação divulgada em 21 de julho, ao exortar a consciência - primeiro - dos fiéis sobre o tema, já que estão expostos a "um antropocentrismo despótico que provocam, por sua vez, as mudanças climáticas".

Apelo às cúpulas sobre clima e biodiversidade

Daí nasce "o grito amargo" da criação que se lamenta e clama para ser ouvida. O caminho, segundo Francisco na mensagem, é um só: arrependimento e mudança dos estilos de vida e dos modelos de consumo e produção. Por isso uma consciência que - em segundo lugar - deve partir da comunidade internacional através de uma responsabilidade conjunta dos países para se "agir, com decisão. Estamos chegando num ponto de ruptura", disse o Papa.

O Pontífice, assim, tanto na mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação como na Audiência Geral desta quarta-feira (31) fez um apelo extensivo à tomada de decisões prevista para dois eventos promovidos pelas Nações Unidas e programados para o segundo semestre deste ano: a COP 27 sobre o clima, que acontece em novembro no Egito, e a COP 15 sobre a biodiversidade, marcada para dezembro no Canadá:

“Durante este Tempo da Criação, rezemos para que as cúpulas COP27 e COP15 da ONU possam unir a família humana para enfrentar decisivamente a dupla crise do clima e da diminuição da biodiversidade.”

JMJ/2023: “ESTAMOS PRONTOS PARA ACOLHER OS JOVENS BRASILEIROS”

Comitê Local da JMJ/2023 | cnbb

“ESTAMOS PRONTOS PARA ACOLHER OS JOVENS BRASILEIROS”, DIZ MEMBRO DO COMITÊ PORTUGUÊS DA JMJ 2023 NA 59ª AG CNBB

O Comitê Local da Jornada Mundial da Juventude 2023 (COL), coordenado pelo presidente da Fundação da JMJ, bispo auxiliar de Lisboa, Portugal, dom Américo Aguiar, marcou presença na 59ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil (AG CNBB) com um stand. O intuito é impulsionar a participação dos jovens brasileiros e da Igreja do Brasil com o apoio dos bispos brasileiros.

Membros da comitê local da JMJ na 59ª AG CNBB. |
Fotos: Adielson Agrelos – Ascom 59ª AG CNBB

O membro do COL e consagrado da Comunidade Shalom, residente em Portugal, José Carlos Pasternak, explica que a presença mais esperada no evento em seu país é a da juventude brasileira.

Segundo ele, em razão do mesmo idioma, da história que une os dois países e do sonho de muitos jovens brasileiros em conhecer Portugal e o santuário de Nossa Senhora Fátima, devoção expressiva do povo brasileiro.

“Viemos ao Brasil para incentivar e encorajar os jovens brasileiros a irem massivamente para a JMJ 2023. Estamos aqui na 59ª Assembleia para garantir que estamos prontos para acolher e contar com a presença dos senhores bispos e das juventudes das suas respectivas dioceses, arquidioceses e prelazias”, disse.

Para superar as dificuldades financeiras dos jovens brasileiros, agravadas pela pandemia, Pasternak sugere a busca de meios alternativos para que isso não se torne um impedimento para a participação na JMJ. Ele defendeu que a falta de dinheiro não pode colocar um ponto final nos sonhos da juventude e impedir a sua experiência na Jornada.

“Viemos falar aos bispos, encorajá-los e dizer-lhes que não estão sozinhos e que, como superamos vários desafios para essa jornada, também os incentivamos a superar os desafios para levar os seus jovens a Portugal”, defende.

Uma jornada da diversidade

Os representantes do Comitê Local disseram que o caráter de interculturalidade está favorecendo a articulação com o maior número possível de diversidade juvenil, contemplando todas as classes, nações, religiões e línguas.

O jornalista português do Gabinete de Comunicação da JMJ, Paulo Rocha, contou que um diálogo de dom Américo Aguiar com o diretor executivo da Educafro Brasil, frei David dos Santos, assegurará a participação de jovens quilombolas e indígenas na Jornada com a ajuda do Fundo de Solidariedade da JMJ. Também os jovens da Fazenda da Esperança de Guaratinguetá (SP) estarão presentes, com hospedagem a ser custeada pela Fazenda da Esperança de Portugal.

O jovem português, Pedro Ary, membro do Comitê Local da
Jornada Mundial

O jovem português, Pedro Ary, membro do Comitê Local da Jornada Mundial da Juventude responsável pelo diálogo com as Conferências Episcopais, disse que a organização prevê a participação da juventude migrante e refugiada, embora seja um desafio muito grande.

Segundo o membro Comitê Local da Jornada Mundial da Juventude 2023 Ary responsável pelo diálogo com as conferências episcopais é ter ao menos um representante de todos os países do mundo. “A primeira etapa importante da JMJ é todos saberem que são convidados”, disse. O Comitê da Jornada está trabalhando para evitar problemas com visto, como aconteceu na jornada da Cracóvia.

A jovem portuguesa, Beatriz Gonçalves, responsável pelos
peregrinos do Brasil na JMJ

A jovem portuguesa, Beatriz Gonçalves, responsável pelos peregrinos do Brasil na JMJ, falou sobre suas expectativas em relação à participação dos jovens brasileiros.

“Estamos há mais ou menos um ano em contato com Irmã Valéria Leal, da Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB, e esperamos reunir em Portugal o máximo de jovens brasileiros. Espero que venham, que se integrem bem e façam uma linda experiência com Jesus”, disse.

Intercâmbio cultural e religioso

Outro elemento importante da JMJ será a oportunidade de os jovens conhecerem novas culturas. Os peregrinos terão a possibilidade de conhecer a cultura portuguesa, a religiosidade, a gastronomia e o Santuário de Fátima.

Sobre o tema escolhido pelo Papa Francisco para a Jornada 2022, “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39), Pedro Ary destaca que o exemplo da Mãe Maria inspira os jovens ao seguimento. “Queremos seguir, levantarmo-nos e ir apressadamente levar Jesus aos outros”, disse.

O encontro do Papa Francisco, suas homilias, os encontros espontâneos, as convivências entre os jovens e os festivais da juventude são algumas das atividades que marcarão a JMJ2023.

Por Ir. Rosa Maria

Bispos reunidos em Aparecida enviam carta ao Papa Francisco

Missa no Santuário da Aparecida durante a 59ª Assembleia Geral da CNBB

Os bispos brasileiros na sua carta recordam os 200 anos de Independência do Brasil e as próximas eleições. "Observamos que os contextos da comemoração histórica e do exercício democrático de direito desenvolvem-se sob clima de tensão entre os Poderes da República”, escrevem.

Silvonei José – Aparecida – Vatican News

“Querido Papa Francisco, nós, bispos, manifestamos-lhe proximidade fraterna e apoio no exercício do seu ministério petrino, serviço exigente e indispensável à unidade e comunhão da Igreja Católica”: é o que escrevem os bispos brasileiros reunidos na 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida numa carta enviada nesta terça-feira (30/08) ao Papa Francisco.

Os bispos recordam no texto que a “Assembleia realiza-se no contexto da celebração dos 70 anos da CNBB e dos 15 anos da Conferência de Aparecida. Nesse clima, - continua o documento - nos encaminhamos, em espírito de colegialidade e sinodalidade, para a realização do 18º Congresso Eucarístico Nacional a realizar-se em novembro próximo, na Arquidiocese de Olinda e Recife, com o tema “Pão em todas as mesas”.  Também se aproxima o III Ano Vocacional com o tema “Vocação: graça e missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33), a ser aberto oficialmente na Solenidade de Cristo Rei.

“Comunhão, participação e missão” – destacam os bispos - constituem a inspiração e o critério das duas etapas da 59ª Assembleia Geral. “Esta inspiração foi enriquecida pela conclusão da fase diocesana do Sínodo em todas as Igrejas Particulares do Brasil”.

Os membros da CNBB evidenciam que nesta 2ª etapa da 59ª Assembleia, se ocuparam da votação de quatro textos sumamente importantes para a Conferência Episcopal e para a Igreja no Brasil: 1. a atualização do Estatuto da CNBB, resultado de três anos de reflexões, escutas e discernimentos; 2. as traduções das orações eucarísticas do Missal Romano e a votação final da tradução da 3ª Edição típica; 3. critérios e orientações para a instituição do Ministério do Catequista e do Rito de Instituição; 4. e o documento da Animação Bíblica da Vida e da Pastoral da Igreja no Brasil.

Outra questão evidenciada no texto é a pesquisa “Saúde Integral do Clero”, que busca traçar um diagnóstico do estado da saúde dos ministros ordenados. Destaca-se que muitos dos problemas de sofrimento psíquico, cansaço por sobrecarga de atividades, experiências de solidão, estilo de vida sedentário e pouco saudável, que já existiam de modo latente, foram agravados com a pandemia de Covid-19.

Uma recordação ainda os 200 anos de Independência do Brasil (1822 – 2022). Neste contexto, a sociedade brasileira se encaminha para a eleição dos seus representantes legislativos e executivos, em âmbito nacional e estadual. “Contudo, - evidenciam os bispos - observamos que os contextos da comemoração histórica e do exercício democrático de direito desenvolvem-se sob clima de tensão entre os Poderes da República”.

Na carta a Francisco os prelados destacam que a Conferência Episcopal tem se esforçado para animar as pessoas e as organizações da sociedade civil, através do Pacto pela Vida e pelo Brasil, dentro da tônica de amizade e cooperação social, em vista do bem comum, proposta na Carta Encíclica Fratelli Tutti. “Acreditamos na irrenunciável missão de nos empenharmos na promoção da pessoa humana à luz da fé cristã”.

Os bispos manifestam então ao Papa Francisco proximidade fraterna e apoio no exercício do seu ministério petrino, serviço exigente e indispensável à unidade e comunhão da Igreja Católica. Em que pesem os desafios, o seu testemunho segue luminoso e fecundo para vida da Igreja.

Uma alegria particular pela nomeação cardinalícia de Dom Leonardo Ulrich Steiner e Dom Paulo Cézar Costa. Seguimos esperançosos e animados pela continuidade das visitas Ad Limina.

Asseguramos-lhe as nossas preces junto a Deus, escrevem os bispos, e com a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, “rogamos bênçãos profusas sobre Vossa Santidade e seu ministério, ao tempo, em que lhe pedimos que reze sempre por nós e nos confirme no seguimento de Cristo, por sua proximidade e Bênção Apostólica”.

O texto na íntegra:

Estimado Papa Francisco, 

Com nossas saudações e votos de saúde e paz, servimo-nos do presente para cumprimentá-lo, no contexto da etapa presencial da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O Conselho Permanente da CNBB optou por uma Assembleia em duas partes. A primeira foi realizada em abril, e aconteceu com participação remota. A segunda está acontecendo nestes dias, em Aparecida – SP, com presença física, conforme o Senhor nos permitiu.

Nossa Assembleia realiza-se no contexto da celebração dos 70 anos da CNBB e dos 15 anos da Conferência de Aparecida. Nesse clima, nos encaminhamos, em espírito de colegialidade e sinodalidade, para a realização do 18º Congresso Eucarístico Nacional a realizar-se em novembro próximo, na Arquidiocese de Olinda e Recife, com o tema “Pão em todas as mesas”.  Também se aproxima o III Ano Vocacional com o tema “Vocação: graça e missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33), a ser aberto oficialmente na Solenidade de Cristo Rei.

“Comunhão, participação e missão” constituem a inspiração e o critério das duas etapas da 59ª Assembleia Geral. Esta inspiração foi enriquecida pela conclusão da fase diocesana do Sínodo em todas as Igrejas Particulares do Brasil o que nos proporcionou a oportunidade de conhecer um retrato da escuta sinodal realizada nas comunidades eclesiais de todo o nosso País.

Nesta 2ª etapa da 59ª Assembleia, nos ocupamos da votação de quatro textos sumamente importantes para a Conferência Episcopal e para a Igreja no Brasil: 1. a atualização do Estatuto da CNBB, resultado de três anos de reflexões, escutas e discernimentos; 2. as traduções das orações eucarísticas do Missal Romano e a votação final da tradução da 3ª Edição típica; 3. critérios e orientações para a instituição do Ministério do Catequista e do Rito de Instituição; 4. e o documento da Animação Bíblica da Vida e da Pastoral da Igreja no Brasil.

Abordamos também, nestes dias, a pesquisa “Saúde Integral do Clero”, que busca traçar um diagnóstico do estado da saúde dos ministros ordenados. Observamos que muitos dos problemas de sofrimento psíquico, cansaço por sobrecarga de atividades, experiências de solidão, estilo de vida sedentário e pouco saudável, que já existiam de modo latente, foram agravados com a pandemia de Covid-19. Desejamos com esta pesquisa encontrar caminhos de acompanhamento pastoral dos ministros ordenados, no horizonte da melhora da nossa qualidade de vida e de ministério.

O Brasil neste ano comemora 200 anos da sua Independência (1822 – 2022). Neste contexto, a sociedade brasileira se encaminha para a eleição dos seus representantes legislativos e executivos, em âmbito nacional e estadual. Contudo, observamos que os contextos da comemoração histórica e do exercício democrático de direito desenvolvem-se sob clima de tensão entre os Poderes da República.

A Conferência Episcopal tem se esforçado para animar as pessoas e as organizações da sociedade civil, através do Pacto pela Vida e pelo Brasil, dentro da tônica de amizade e cooperação social, em vista do bem comum, proposta na Carta Encíclica Fratelli Tutti. Acreditamos na irrenunciável missão de nos empenharmos na promoção da pessoa humana à luz da fé cristã. Nesta tarefa, em que reconhecemos a essência do humanismo solidário cristão.

Querido Papa Francisco, nós, bispos, manifestamos-lhe proximidade fraterna e apoio no exercício do seu ministério petrino, serviço exigente e indispensável à unidade e comunhão da Igreja Católica. Em que pesem os desafios, o seu testemunho segue luminoso e fecundo para vida da Igreja.

Estamos também em comunhão com o consistório que ora se realiza. Alegramo-nos, de modo particular, pela nomeação cardinalícia de Dom Leonardo Ulrich Steiner e Dom Paulo Cézar Costa. Seguimos esperançosos e animados pela continuidade das visitas Ad Limina.

Asseguramos-lhe as nossas preces junto a Deus. Com a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, rogamos bênçãos profusas sobre Vossa Santidade e seu ministério, ao tempo, em que lhe pedimos que reze sempre por nós e nos confirme no seguimento de Cristo, por sua proximidade e Bênção Apostólica.

São Raimundo Nonato

S. Raimundo Nonato | Mercedários
31 de agosto
São Raimundo Nonato

Vida de São Raimundo Nonato

Portell, Pátria de São Raimundo Nonato – seu prodigioso nascimento

São Raimundo Nonato nasceu em Portell, pequeno povoado da região da Catalunha, nordeste da Espanha. O tempo era de muito fervor religioso, mas conflitos por defesa ou avanço de fronteiras se multiplicavam. Embora descendendo da ilustre família dos Viscondes de Cardona, seus pais, Arnal e Armesinda Salons, eram de condição humilde. O pai era militar alistado ali numa das tantas cavalarias condais da região.

Por volta do ano de 1302, na ausência do pai, a jovem esposa chegara ao momento de dar à luz ao seu filho. Os embaraços no parto e a falta de assistência médica levaram ao desfecho da morte da mãe, antes da criança nascer. A comoção fora geral entre a vizinhança ali presente. Mas o que fazer? Mãe e filho mortos? Não. Aquele era um desses momentos de Deus. Algumas horas depois, chegando ao lugar o Visconde de Cardona, Raimundo de Folch, movido por impulso superior, abre com uma faca de caça o ventre da mãe falecida e oferece à vista das testemunhas daquela cena inédita um formoso menino, que a admiração geral apelida de NONATO, sobrenome que se impôs e se conserva até hoje, como lembrança do insigne mistério de sua vida.

O Visconde conferiu ao menino seu próprio nome, com sobrenome de NONATO e o tomou sob sua proteção, comprometendo-se ministrar-lhe posteriormente sua educação.

Infância e adolescência de Raimundo Nonato

Raimundo passa sua infância no seu povoado. Era um garoto comum, dócil, piedoso, educado, bondoso, sem caprichos e de bom trato. Parentes e vizinhos cuidavam do menino. O pai tinha que fazer, às vezes também de mãe.

Raimundo aprende, desde cedo, as primeiras orações e, enquanto crescia, manifestava sua piedade no repetido gesto de ornamentar as imagens de Nossa Senhora com flores silvestres, ou prolongar-se em orações diante dos seus altares.

Como as demais crianças do seu lugarejo, aprendia os primeiros ensinamentos na escola paroquial de Portell.

Naquele momento, o longo confronto entre cristãos e mulçumanos tinha desaparecido, mas permanecia a dolorosa realidade do cativeiro, como uma chaga difícil de sarar, porquanto rendia capital aos que se dedicavam a esse negócio. Uma das estratégias encontradas para aliviar o sofrimento de milhares de cristãos, vítimas dessas emboscadas, fora a libertação de suas vidas, mediante resgate. São Pedro Nolasco, comerciante barcelonês, tinhas fundado a Ordem de Nossa Senhora das Mercês com o objetivo de empenhar seus seguidores na obra da libertação dos cristãos cativos. O movimento crescera, o ideal se propalara e aumentara o número de jovens fascinados pela defesa da liberdade de quem a tivesse perdido.

Quando pré-adolescente, o pai de Raimundo Nonato, afim de educá-lo para a carreira militar, o enviara a Barcelona. Raimundo de Cardona tinha –se comprometido com a formação escolar do menino. Contudo, o pai soube que o garoto tinha trato com alguns clérigos.

Com receio de que o menino se inclinasse para a vida religiosa, o pai trouxe de volta a Portell e lhe encomendou o cuidado de umas ovelhas numa pequena propriedade a poucos quilômetros da aldeia. Com razão seu pai intuíra que o espírito de piedade do filho inclinaria cada vez mais para a vida religiosa do que para levar adiante as glórias militares da família.

Raimundo não protestara da decisão de seu pai, até porque lhe eram típicas a obediência e a humildade. Mas não deixou por menos o apelo de Deus no seu coração.

A mística Mercedária tinha levado já, durante todo o século XIII, centenas de redentores mercedários e trinitários aos cárceres maometanos. A região Catalã estava povoada de conventos mercedários. Naquele ambiente crescia o jovenzinho Raimundo Nonato, fascinado por levar às pessoas a liberdade. Era um rapaz apaixonado por tudo, logo também pelo projeto de Deus. Desejava escolher o melhor. E passara a pensar cada vez mais na libertação dos cativos.

Cuidando dos rebanhos do pai. Opção Religiosa.

Ordenado Presbítero.

S. Raimundo Nonato | Mercedários

A uns 3 Km do povoado de Portell havia um convento prioral, onde se erguia uma capela dedicada a São Nicolau. Este convento e capela foram doados a São Pedro Nolasco pelo prepósito de Solsona. A solidão do lugar deveria ser impressionante. Porém, muito adequada aos frades, pois favorecia a contemplação. Próximo da capela de São Nicolau ficava a pequena fazenda dos Salons. Era ali aonde se dirigia o rapaz para cuidar dos rebanhos do pai.

Mas fora justamente ali onde ele encontrara a paz e o sossego que propiciaram sua formação espiritual. Raimundo amava enormemente a Virgem Maria e assim escapava frequentemente para orar na capela de São Nicolau. Tecia bonitas grinaldas de flores silvestres para adornar o menino Jesus e sua Mãe. E aproveitava bom tempo do serviço de vigilância para ir até o convento dos Mercedários, ali próximo. Ele tinha então apenas 14 anos de idade.

Um dia seus amigos delataram ao pai que Raimundo Nonato estava abandonado o gado. Para confirmá-lo, o pai foi observar e o encontrou de joelhos e em êxtase, diante da imagem da Virgem Maria. Mas, por sua vez, constatou que as ovelhas voltavam ao redil sem entrar pelos roçados e muito bem ordenadas, guiadas por um pastor que reluzia como o sol. Era um anjo. O episódio certamente mexeu com a consciência de Arnal, o pai.

O rapaz aproveitara a solidão do seu retiro para discernir sua vocação e deliberar sua emancipação, que ele decidiu algum tempo depois, ingressando como mercedário na vida religiosa. Pronto, Raimundo pediu o hábito ao superior do convento. Ao cabo de 4 anos fez a profissão religiosa, em 1320, naquele convento da sua terra. Ele tinha então a idade de 18 anos.

Raimundo Nonato continuou se dedicando aos estudos eclesiásticos em Barcelona. Ali convivia permanentemente com as chegadas periódicas de centenas de redimidos, que aportavam a Barcelona, trazidos pelos confrades, desde as Costas Da África, Argélia, Mauritânia, Túnis, ou dos reinos mulçumanos espanhóis: Granada, Cádiz, Valência e outros.

Toda expedição tinha sua história de sucesso, de redenções, mas também, de malogros e de martírios. E, todo os mercedários conviviam com esta realidade, todos tinha consciência da sua vocação de risco.

Todos eram candidatos a mártir. Pois sabiam que a qualquer momento poderiam ser designados, em Assembleias Capitulares, para ir ao trabalho de resgates. É lógico que a escolha incidia preferentemente sobre homens corajosos, inteligentes, hábeis conhecedores da política árabe, perspicazes nos negócios, tarimbados nas relações humanas, corajosos para enfrentar as tormentosas viagens pelo Mediterrâneo, boa saúde física e psicológica. Mas, acima de tudo, pacientes, humildes e apaixonados pela causa que defendiam, com a disposição de entrega da própria vida em favor da libertação de algum cristão, ameaçado de perder sua fé nas masmorras sarracenas.

Aos 22 anos de idade, Raimundo Nonato foi ordenado presbítero em Barcelona e a partir daí amadurecia nos conventos mercedários o seu ideal de cavalheiro libertador. Recebia e atendia cativos redimidos; pregava e ensinava; organizava expedições, participava de Capítulos, recolhia esmolas; sobretudo orava. Seu amor à Eucaristia e à SS. Virgem Maria levava-o às alturas do êxtase.

Ânsia redentora – Cuidados com os pobres e os doentes

A ação redentora não era uma aventura improvisada. As expedições aconteciam uma ou duas vezes ao ano e eram decididas em Assembleias capitulares. Ali se aportavam as esmolas do Fundo da Redenção, escolhia-se o local, listavam-se os cativos a serem redimidos e se designavam os redentores. Lembramos que os comerciantes relacionados, sobretudo com os mulçumanos, tinham que ser audaciosos para empreender longas travessias, saber comprar, vender e trocar mercadorias, conhecer línguas e costumes de outros povos, ser hábeis para enfrentar os riscos de combates, a pirataria e a bandidagem.

Os perigos rondavam em mar e terra. As travessias pelo Mediterrâneo cobravam uma elevada cota de vidas desses religiosos. Quando Raimundo Nonato ingressara na Ordem como religioso, esta já contabilizava dezenas de mártires de várias regiões da Espanha e de outros países da Espanha e de outros países da Europa, todos mortos de forma brutal: decapitados, crivados com flechas, crucificados, enforcados, apedrejados, atravessados por espadas, esquartejados, estripados, arrojados ao mar com pedras atadas ao pescoço, jogados vivos em fogueiras, diante dos palácios dos reis para entreter o povo.

Apesar disto, Raimundo Nonato não via a hora de ser enviado como redentor. Enquanto os anos passavam, Raimundo forjava sua ânsia redentora, tornava-se homem de quilate. As mais antigas biografias o descrevem como “discípulo diligentíssimo do mestre Pedro Nolasco”, aplicado aos estudos e de caridade borbulhante. Dizem que andava de cidade em cidade; que cavalheiros e nobres o respeitavam e que todos os povos o amavam. De fato, enquanto se preparava para ir, um dia, às redenções, Raimundo se exercitava na oração e no sacrifício, impunha-se a penitência como forma de doação. No trato com os doentes, deixava marcas de inesgotável caridade.

Todos queriam ser atendidos por aquele jovem cheio de encanto e paciência, que se desdobrava em cuidados com os enfermos e achacados. Os pobres o procuravam agradecidos pelas dádivas que dele recebiam; e ele buscava atender a todos porque via neles a imagem de Jesus. Era assíduo na oração. O amor pelo mistério Eucarístico fazia dele um apaixonado por seus irmãos, um obsessivo defensor dos oprimidos pela ferida social, visível e sangrante da estrutura econômica, política e ideológica daquela sociedade.

Nos cárceres de Argélia -torturas: Proibido de falar

Em 1335, Raimundo Nonato, aos 33 anos de idade foi nomeado para uma redenção na Argélia. Ele embarcou na expedição com um confrade. Chegando àquelas cidades, os redentores podiam, com liberdade vigiada, percorrer os mercados humanos, entrar nos cárceres, conhecer a situação dos prisioneiros, oferecer câmbio. A condição do cativo pesava nas negociações. Se estava como prisioneiro um cortesão influente, um nobre, um militar, um clérigo ou um comerciante rico, os vendedores mudavam as regras do jogo.

Conforme o interesse comercial impunham soluções unilaterais e arbitrárias; tornavam-se inflexíveis e provocadores. Raimundo Nonato fizera então em Argélia 140 redenções. Mas como acontecera em outras ocasiões, o dinheiro não fora suficiente para resgatar, desta vez, mais alguns sofridos pais, cujas famílias não tinham como pagar o resgate. O religioso se propôs a ficar no seu lugar, até a próxima vinda dos mercedários à Argélia.

Pronto, Raimundo Nonato se dedicara a falar em nome de Jesus Cristo, tentando fortalecer a fé dos cativos cristãos. Era tudo o que ele sempre desejara: visitar, animar e converter. Então passara a visitar os cárceres, orava com os prisioneiros e até ousava catequizar os próprios mulçumanos, atraindo alguns para Jesus Cristo. Isto fora tomado como afronta. Era crime capital entre mouros falar de outra religião aos que professavam o islamismo.

Raimundo Nonato foi denunciado e condenado à morte. Mas o temor de perder a soma da sua libertação e de outros cativos levara os interessados a alcançarem dos seus magistrados a comutação da pena por terríveis suplícios.

Mandaram então açoitá-lo nas ruas e praças da cidade e o prenderam depois numa masmorra comum. Com isso, ele se dedicou mais e mais a confortar e a pregar aos cativos a paciência, e aos carrascos o amor. Cumpria-se aí o desejo do seu coração: consumir-se na obra da caridade. Sabia da força simbólica da entrega martirial como estímulo para os prisioneiros, um eloquente gesto de proclamação da fé em Jesus e viva lição de amor perante todos.

Depois de lhe fustigarem com várias torturas, um dia dois esbirros lhe infligiram um cruel suplício: p e r f u r a r a m com ferro q u e n t e os seus lábios e os fecharam com um cadeado, que ele tivera de amargar durante oito meses.

Não conseguiram com isso silenciá-lo. Com gestos e sinais ele continuava a transmitir a todos o calor de seu afeto e a força de sua mensagem. Homem de Deus, garimpava nas profundas experiências da oração a tranquilidade do espírito e alegria da fé. Forte e sereno impressionava a todos com a irradiação da paz e do amor. Ganhava o respeito e a simpatia dois próprios carrascos a quem repassava uma extraordinária lição do amor de cristo.

Retorno a Barcelona – Nomeado Cardeal.

S. Raimundo Nonato | Mercedários

As redenções eram feitas uma vez por ano. Alguma viagem extraordinária pelo Mediterrâneo podia acontecer sobretudo quando algum dos redentores ficava como refém. Foi assim que, passados 8 meses, chegara à Argélia outra expedição mercedária, levando o dinheiro    do resgate de Raimundo Nonato, bem como o da libertação de outros prisioneiros.

Puseram-se, então, à viagem de volta. Completada a travessia pelo Mediterrâneo, alcançaram o porto de Barcelona. A população costumava aguardar com ansiedade o retorno das barcas redentoras. Para os religiosos torturados havia sempre manifestações de solidariedade e de entusiasmada expressão de reverência e agradecimento.

Acercavam-se de Raimundo Nonato, para lhe beijar as mãos e se maravilhavam com a placidez e doçura do seu sofrido semblante. Crescia a veneração de todos pelo jovem redentor. E se multiplicavam as súplicas a Deus, bem como as revelações de favores alcançados do céu em seu nome. E o povo acorria a ele como a um querido e poderoso servo de Deus.

Sem perder a humildade, Raimundo Nonato continuava com seu gesto de caridade em favor dos pobres de Barcelona. Aumentava sua fama de santidade e muitos acorriam a ele com pedidos. A todos atendia com solicitude.

Por outro lado, crescia nele o fervor eucarístico, lugar da sua profunda comunhão com Deus. Enquanto o tempo passava, Raimundo trabalhara em vários conventos da Catalunha. Pregava, pedia esmolas para os resgates, falava da condição miserável dos oprimidos e da necessidade de mudar o quadro social que mantinha tanta gente excluída. E voltara a realizar outras redenções.

Sua fama atravessara então as fronteiras da Espanha e chegara a Avinhão, naquele momento, sede do Papado. Conhecido do clero e dos príncipes, Raimundo Nonato alcançava simpatia nos meios eclesiásticos, além da crescente ressonância no coração da população.

Em 1338, Raimundo Nonato tinha 36 anos de idade, quando o Papa Bento XII resolveu chamá-lo para junto de si. Movido por sua profunda humildade, Raimundo Nonato chegou a externar a não aceitação do cargo. Mas o Papa contava com a sua habilidade nos negócios com os mulçumanos e viu como poderia ser útil para o governo da Igreja. Insistiu nomeando-o Cardeal, no Consistório de dezembro de 1338.Raimundo Nonato permaneceu ainda alguns meses em Lérida, viajando depois para Avinhão, passando por Cardona, para despedir-se dos seus parentes.

Apesar de jovem na idade, seu corpo estava prematuramente esgotado pelo estresse, resultante do excesso de zelo nas atividades e dura austeridade que se impunha a si mesmo. Em Cardona, de repente, sentiu-se mal, acometido de uma febre violenta. Mesmo com os cuidados dispensados pelos parentes, viu-se logo que os sintomas anunciavam sua morte. Sentiu que chegara seu fim. E se preparara para ir ao encontro definitivo com o Senhor.

O Encontro da Eucaristia – Presente do céu na sua morte

Desde a formação das primeiras comunidades cristãs a Eucaristia se constitui no centro e alma da Igreja.

Era desta fonte que Raimundo Nonato tirava força e heroísmo para levar adiante tantos e duríssimos trabalhos feitos ao longo da sua vida, por amor a Jesus Cristo e aos irmãos. A Eucaristia fora seu alimento e sustento, sua fortaleza, seu tudo. Por isso passava horas e horas e até noites inteiras diante do SS. Sacramento, ensimesmado na contemplação deste insondável mistério. E na celebração cotidiana da Eucaristia encantava os fiéis pela unção e fervor na realização da liturgia; e os animava à piedade eucarística como fonte de comunhão e força propulsora das tarefas diárias.

Agora, vendo que chegara o momento da plenitude do repouso, seu desejo do céu se junta ao esgotamento físico e anseia que o Senhor o venha a buscar. Suplica que lhe tragam, antes de morrer, o celeste alimento. Enquanto os familiares providenciam o santo viático, o quarto de Raimundo Nonato se enche de luz; ouve-se uma sinfonia angelical e ao acudirem ao seu aposento, ali encontram o religioso num profundo êxtase, comungando sob a espécie do pão, o corpo de Cristo, milagrosamente ministrado ao Santo, segundo a crônica da sua morte, pelo próprio Jesus, acompanhado de uma corte de anjos e santos.

Tão puro como nascera, assim morre o intrépido religioso mercedário, com a idade de 37 anos. Era 31 de agosto de 1339, quando sua alma vôa para o céu. Deixa neste mundo o exemplo do bom fazer mercedário, a auréola que começa a se traduzir em inúmeros favores divinos, obtidos pelo povo, por sua intercessão. Assim terminou sua trajetória de amor e liberdade.

Morreu jovem, porém carregado de méritos, cercado de estima popular e agraciado por Deus com estupendos prodígios.

O Desígnio de Deus também no seu sepultamento.

Raimundo Nonato acabava de morrer e já começavam as manifestações de devoção à sua pessoa. De fato, já eram conhecidas as marcas profundas de santidade, bem como as práticas de virtude, em grau heroico, deixadas por onde ele passara: Liam-se os desígnios de Deus em todos os traços de sua vida: no seu nascimento extraordinário, no decidido ideal libertário, na entrega martirial do cativeiro em favor do próximo, nas duras provações da vida e na hora da sua morte. Deus o exaltara com dons extraordinários, especialmente o da caridade, da obediência, da humildade e da alegria, levados ao extremo.

Ele iria se tornar um dos santos mais populares da Igreja. E sua popularidade começara de forma prodigiosa no momento mesmo de se dar sepultura ao seu corpo. Como se tratava de despojos tão venerados, surgiu ali em Cardona um pleito: O visconde e seus familiares, sob pretexto de parentesco, insistiam em lhe dar sepultura ali mesmo. Os mercedários reivindicaram o direito de sepultamento do confrade, de acordo com as Constituições da Ordem, que determinavam enterrar os religiosos defuntos no convento mais próximo de onde falecessem.

Por fim, ambas as partes concordaram em deixar a solução a um sinal da providência de Deus. Puseram sobre uma avalgadura a urna funerária com o seu corpo e dispuseram o animal no ângulo de dois caminhos, concordando em que a direção tomada pela viatura com os sagrados despojos seria o sinal do céu indicando onde o santo devesse ser sepultado.

E o animal tomou o caminho da ermida de São Nicolau, onde Raimundo Nonato gastara boa parte da sua adolescência campeando rebanhos e onde tinha iniciado, na juventude, o noviciado de santidade. Segundo a mais antiga tradição, ao chegar ali o animal com o corpo do santo, acompanhado de grande séquito, dera três voltas em torno da Igreja e caiu extenuado.

Ali o seu corpo foi sepultado e ali permaneceu até 1936, quando as facções comunistas da guerra civil espanhola, profanando aquele santuário, queimaram suas relíquias.

O Culto a São Raimundo Nonato – Sua popularidade na Igreja”

O culto a São Raimundo Nonato começou desde os primeiros momentos, depois da sua morte. O lugar onde fora sepultado passou a receber devotos de toda parte, como testemunhas de favores obtidos por sua intercessão. Multiplicavam-se os relatos de graças alcançadas pelo seu intermédio.

O antigo priorado, devido à f a m a de santidade do religioso e dos numerosos e insignes milagres que se atribuíam à sua intercessão, logo ficara pequeno para atender o crescente número de devotos. Tornou-se necessário se construir uma Igreja de maiores proporções para dar cabida ao massivo número de fiéis que chegavam, atraídos pela fama do santo.

Os mercedários então edificaram ali, em 1625, um grande convento com uma monumental Igreja. Estimulados pelo crescente fervor em relação ao santo, naquelas comarcas leridanas, obrigaram-se a construir um convento ainda maior.

A sua grandeza emergindo daquela verde planície, encanta aos viajantes que circulam pela autopista que passa quase roçando a cidade que ali cresceu, com o nome de São Raimundo Nonato. Mesmo sem a Igreja se pronunciar oficialmente sobre as virtudes heróicas daquele homem de Deus, o povo se encarregou de fazê-lo. Os devotos o viam glorificado por Deus pelos dons extraordinários recebidos em vida e exaltado depois da morte. A história de seus milagres espalhou-se por todo o mundo cristão.

Diante de tantos testemunhos e fatos, a Igreja se propôs examinar, num Processo, a vida e virtudes do santo de Portell. Passado algum tempo, como a devoção se expandia por toda a Espanha, Itália e toda América espanhola, os pedidos à Santa Sé sobre a sua canonização, cresceram; e Roma viu que era a vontade de Deus que o Bem-aventurado Raimundo fosse invocado como santo por toda a Igreja. Um processo perante o Tribunal Eclesiástico levou à aprovação do seu culto imemorial em 1625.

Três anos mais tarde, em solene liturgia na Basílica de São Pedro, diante de toda a Família Mercedária, a corte pontifícia e multidão de fiéis de várias partes do mundo, especialmente da Espanha, Raimundo Nonato foi canonizado e aclamado santo, pelo Papa Urbano VIII, em dezembro de 1628, juntamente com  São Pedro Nolasco, o heroico fundador da Obra da Redenção. Mais tarde, em 1657, o Papa Alexandre II inscreveu seu nome no Martirológio Romano e mandou que toda Igreja celebrasse sua festa no dia da sua morte, 31 de agosto.

S. Raimundo Nonato | Mercedários

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF