Patriarca Ecumênico Bartolomeu | Ecclesia Brasil |
SAUDAÇÃO DE S. S. PATRIARCA ECUMÊNICO BARTOLOMEU,
NA 11ª ASSEMBLEIA DO CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS (CMI)
10 De Outubro De 2022 | By Ecclesia
«O amor de Cristo move o mundo para a reconciliação e a unidade».
(Karlsruhe,
Alemanha, 1 de setembro de 2022)
Distintos
organizadores e delegados,
Amados participantes e administradores da 11ª Assembleia do Conselho Mundial de
Igrejas
Queridos amigos, irmãos e irmãs,
Uma das crenças
centrais e ensinamentos fundamentais do cristianismo ao longo dos séculos é a
convicção de que a luz de Cristo brilha mais intensamente do que qualquer
escuridão em nossos corações e em nosso mundo. Nós cristãos afirmamos e
declaramos que a alegria da ressurreição irradia e prevalece sobre o sofrimento
da cruz. Isso é o que sustentamos; é isso que pregamos; e é isso que
proclamamos ao mundo inteiro. De fato, «E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a
nossa pregação, vazia também é a vossa fé.» (1Cor 15: 14). Esta é certamente a
premissa subjacente e o foco do tema desta assembleia, que professa que «o amor
de Cristo move o mundo para a reconciliação e a unidade».
No entanto, mesmo
olhando ao redor, somos obrigados a confessar que não praticamos – e
continuamos a não cumprir – o que pregamos ao longo de vinte séculos. Como
podemos reconciliar nossa fé magnífica com nosso fracasso manifesto?
A resposta está na
passagem bíblica para a plenária desta manhã, que acontece em 1º de setembro,
dia em que os cristãos ortodoxos, desde 1989, se dedicam a rezar pela proteção
do dom da criação de Deus, e quando os cristãos de todas as confissões e
comunhões se comprometem a avançar o ministério do cuidado da criação. Na Carta
aos Colossenses (1: 19-20), lemos que: »Em Cristo aprouve a Deus fazer habitar
toda a Plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e
os dos céus, realizando a paz pelo sangue da sua cruz».
Esta passagem
assume uma diferença fundamental entre a cosmovisão secular e a espiritual. A
pessoa com uma mentalidade secular sente que é o centro do universo. Em
contraste, a pessoa com uma mentalidade sagrada considera que o centro do
universo está em outro lugar e nos outros.
Uma cosmovisão
espiritual sugere uma cosmovisão ampliada – mais ampla ou ecumênica, centrada e
equilibrada em Cristo como o coração do universo. É isso que fornece a fonte de
reconciliação e a garantia de transformação. Ao perceber o mundo através dessa
lente de transfiguração e transformação cósmica, somos capazes de embarcar –
como indivíduos e como sociedade – na restauração da imagem despedaçada da
criação, um processo que começa e envolve o reconhecimento da responsabilidade
pelo pecado de ignorar a presença divina em todas as coisas e em todas as
pessoas. Todo o universo – toda a criação – constitui uma liturgia cósmica.
Quando somos iniciados no mistério da Ressurreição e transformados pela luz da
Transfiguração, então somos capazes de discernir e detectar o propósito para o
qual Deus criou tudo e todos.
Há uma necessidade
de arrependimento cósmico e ressurreição cósmica. O que é necessário é nada
menos que uma inversão radical de nossas perspectivas e práticas. «O sangue da
cruz» na referência apostólica acima revela e indica uma saída para nossos
impasses ao propor a autocrítica e o auto sacrifício como soluções para o
egocentrismo. «O sangue da cruz» fornece uma maneira de assumir a
responsabilidade por nossas ações e nosso mundo. Todos devemos adotar um
espírito de humildade e apreciar o mundo como maior do que nós mesmos. Não
devemos jamais reduzir nossa vida religiosa a nós mesmos e aos nossos próprios
interesses. Devemos sempre recordar nossa vocação de transformar toda a criação
de Deus.
Ainda assim, a
maior ameaça ao nosso planeta não é o novo coronavírus, mas as mudanças
climáticas. O número crescente, mas negligenciado, do aumento das temperaturas
globais na verdade eclipsará o número atual de mortes por todas as doenças
infecciosas combinadas se as mudanças climáticas não forem restringidas. Na
esteira da pandemia, até o Fórum Econômico Mundial pediu «uma grande
redefinição─ do capitalismo, argumentando que a sustentabilidade só será
alcançada por meio de mudanças drásticas no estilo de vida. Isso é o que
descrevemos como a necessidade de arrependimento (ou metanoia) de hábitos
indiscriminados e práticas destrutivas em relação a outras pessoas e em relação
aos recursos da natureza.
Queridos irmãos e
irmãs,
Se quisermos fazer
alguma mudança em nossas prioridades e estilos de vida, devemos fazê-lo juntos
– como igrejas e comunidades, como sociedades e nações. Devemos «carregar os
fardos uns dos outros, se quisermos cumprir a lei de Cristo» (Gl 6: 2). E aqui,
lembremos a guerra atual e o sofrimento injusto de nossos irmãos e irmãs na
Ucrânia. Acima de tudo, então, devemos prometer nosso arrependimento e a
conversão de nossos corações e vidas. Hoje é «a oportunidade certa» (Is 49: 8),
«o tempo favorável e o dia da salvação». «O tempo de agir para o Senhor é
agora» (Sl 119: 126).
Esta é a nossa
fervorosa oração por todos vocês na 11ª Assembleia do Conselho Mundial de
Igrejas neste dia consagrado de oração e proteção pela sagrada criação de Deus.
✠ BARTOLOMEU de Constantinopla
junto ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI)