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terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Exemplos de fé: Moisés

Moisés quebra as Tábuas da Lei (Rembrandt)

Exemplos de fé: Vocação e missão de Moisés

Segundo texto de uma série sobre os personagens principais da Sagrada Escritura que são exemplo de fé em Deus. Nesta ocasião fala-se de Moisés.

Deus, ao aproximar-se do homem e convidá-lo à fé, não lhe comunica simplesmente uma verdade, mas dá-se a Si mesmo. Acolher o dom da fé leva, por isso, a que o homem se ponha a caminho para Deus, que se comprometa totalmente com Ele por amor, mesmo que em algumas ocasiões tenha que caminhar a contragosto[1]. Deus nos espera, precisa da nossa fidelidade e não se deixa ganhar em generosidade.

É o que vemos na vida de Moisés, caracterizada por ser uma resposta de fé à Revelação de Deus. Assim lemos na Carta aos Hebreus: pela fé deixou o Egito, não temendo a cólera do rei, com tanta segurança como estivesse vendo o invisível. Foi pela fé que mandou celebrar a Páscoa e aspergir (os portais) com sangue, para que o anjo exterminador dos primogênitos poupasse os dos filhos de Israel. Foi pela fé que os fez atravessar o mar Vermelho, como por terreno seco, ao passo que os egípcios que se atreveram a persegui-los foram afogados[2].

Vocação e missão de Moisés

Se Abraão é modelo de obediência e confiança em Deus, de modo que com razão se pode denominá-lo pai de todos os que creem[3], Moisés nos permite contemplar que a fé é para a entrega, convertendo-se em “um novo critério de pensamento e de ação que muda toda a vida do homem”[4]. A fé ilumina a própria existência, dando-lhe um sentido de missão. A fé e a vocação de cristãos afetam toda a nossa existência, não apenas uma parte. As relações com Deus são necessariamente relações de entrega, e assumem um sentido de totalidade. A atitude do homem de fé é olhar para a vida, em todas as suas dimensões, sob uma perspectiva nova: a que Deus nos dá[5]. Ter fé e comprometer-se com Deus a viver com uma missão apostólica são dois os lados da mesma moeda.

Viver sob a luz da fé

Moisés nasceu quando o faraó havia ordenado assassinar todos os meninos recém-nascidos do povo judeu. Porém, pela fé que os pais de Moisés o esconderam durante três meses[6]. A frase sugere que a fé de seus pais percebeu que a vontade de Deus não era a morte do menino, e que foi também a fé que lhes deu força para infringir o edital do rei. Não podiam imaginar quanto dependia daquele gesto. Quando acreditavam ter renunciado a seu filho, a providência divina não só lhes permitiu vê-lo adotado por uma princesa egípcia, mas tornou possível que a própria mãe pudesse amamentá-lo e criá-lo[7].

Moisés tira os sapatos e vê a sarsa ardente | Opus Dei

Moisés cresceu na casa do faraó, e foi instruído em todas as ciências dos egípcios. Mas um episódio perturbará profundamente a sua vida: ao defender outro hebreu, tirará a vida de um egípcio e se converterá em um proscrito. Na escolha de Moisés de solidarizar-se com seus irmãos podemos ver uma decisão baseada numa convicção de fé, na consciência de pertencer ao povo escolhido: pela fé que Moisés, uma vez crescido, renunciou a ser tido como filho da filha do faraó, preferindo participar da sorte infeliz do povo de Deus, a fruir dos prazeres culpáveis e passageiros. Com os olhos fixos na recompensa, considerava os ultrajes por amor de Cristo como um bem mais precioso que todos os tesouros dos egípcios[8].

À luz da fé, Moisés reconhece que assumir como própria a vergonha e o desprezo que sofrem os israelitas tem infinitamente mais valor do que os tesouros materiais do Egito, porque levavam à perdição espiritual. Eu te vou dizer quais são os tesouros do homem na terra, para que não os desperdices: fome, sede, calor, frio, dor, desonra, pobreza, solidão, traição, calúnia, cárcere...[9]

Moisés deverá fugir do Egito para não cair nas mãos do Faraó. Assim chegará à terra de Madiã, na península do Sinai. Poderia parecer que todas as suas boas disposições e a sua preocupação pelos israelitas prisioneiros no Egito não lhe trouxeram nada de bom. No entanto, os homens não são os únicos protagonistas da história do mundo, nem sequer os principais. E quando Moisés se estabeleceu em seu novo país e podia imaginar a normalidade com que a sua vida prosseguiria, Deus foi ao seu encontro e manifestou a missão para a qual o separou desde o seu nascimento, que configura a sua vocação, o seu ser mais íntimo.

Vocação e resposta de fé

A missão de Moisés se situa no contexto da história patriarcal. Deus, diante do lamento dos filhos de Israel oprimidos no Egito, lembrou-se de sua aliança com Abraão, com Isaac e com Jacó[10] e escolheu Moisés para libertar o seu povo da escravidão. O Senhor intervém de novo na história para ser fiel à promessa que fez a Abraão, e enquanto Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã, (...) o anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama (que saía) do meio a uma sarça. Moisés olhava: a sarça ardia, mas não se consumia. “Vou me aproximar, disse ele consigo, para contemplar esse extraordinário espetáculo, e saber porque a sarça não se consome.” Vendo o Senhor que ele se aproximou para ver, chamou-o do meio da sarça[11]. A vocação de Moisés nos permite apreciar os elementos fundamentais que encontramos em toda chamada a assumir os planos de Deus: a iniciativa divina, a autorrevelação de Deus, a designação de uma missão e a promessa do favor divino para realizá-la.

Deus abre passagem de forma surpreendente, uma vez que se acomoda ao seu interlocutor: suscita o assombro de Moisés diante da sarça ardente para, a seguir, chamá-lo pelo seu nome: Moisés, Moisés[12]. A repetição do nome acentua a importância do acontecimento e a certeza da chamada. Em toda vocação aparece essa consciência de pertencer a Deus, de estar em suas mãos, que convida à paz. É o que expressa o profeta Isaías num hino, quando diz: Não tenhas medo que fui eu quem te resgatou, chamei-te pelo próprio nome, tu és meu![13]; palavras que São Josemaria saboreava, unindo-as à resposta de Samuel: Diz-lhe: “ecce ego quia vocasti me!” – aqui me tens, porque me chamaste![14].

Sarsa ardente (Marc Chagall)

Quando Deus chama, o homem percebe que a vocação não é um sonho ou fruto da imaginação. A vocação de Moisés mostra este segundo aspecto do chamado deixando claro como o Senhor se apresenta: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó[15], o mesmo em quem creram seus antepassados. Eu sou aquele que sou[16]. Toda chamada divina leva consigo esta iniciativa de intimidade na qual o Senhor se dá a conhecer.

No entanto, poderia surpreender a reação de Moisés: apesar de ter visto o prodígio da sarça ardente, apesar da certeza do que está acontecendo, se desculpa: Quem sou eu para ir ter com o faraó?[17]. Tenta evitar o que o Senhor lhe pede – a missão encomendada –, porque é consciente da sua própria insuficiência e da dificuldade do encargo. Sua fé ainda é fraca, mas o medo não o leva a afastar-se da presença de Deus. Dialoga com Ele com simplicidade, diz-lhe suas objeções, e permite que o Senhor manifeste o seu poder e dê consistência à sua debilidade.

Neste processo, Moisés experimenta na sua própria pessoa o poder de Deus, que começa fazendo nele alguns dos milagres que depois realizará diante do Faraó[18]. Assim, Moisés toma consciência de que as suas limitações não importam, porque Ele não o abandonará; percebe que será o Senhor quem libertará o povo do Egito: a única coisa que lhe cabe fazer é ser um bom instrumento. Em qualquer chamada a uma vida cristã autêntica Deus assegura o seu favor ao homem e mostra a sua proximidade: Eu estarei contigo. Estas palavras se repetem em todos aqueles que receberam uma tarefa difícil a favor dos homens[19].

Fé e fidelidade à missão de Deus

Moisés, consciente da sua missão, sempre se guiou pela confiança na promessa divina de levar o povo escolhido à terra prometida, com segurança de que com o Senhor todos os obstáculos seriam superados. Pela fé, ele celebrou a Páscoa e fez a aspersão com sangue, para que o exterminador dos primogênitos do Egito não matasse os de Israel. Pela fé, atravessaram o mar Vermelho como se fosse terra seca, enquanto os egípcios, tentando fazer o mesmo, se afogaram[20]. Porém essa fé não se fundamentava só em uma chamada recebida no passado, mas se alimentava do diálogo simples e humilde com Deus. O Senhor é invisível, porém a fé o torna de certa forma visível, porque a fé é um modo de conhecer as coisas que não se veem[21]. A fé em Deus leva a viver a própria vocação com todas as consequências.

Como a fé está viva e deve desenvolver-se, o diálogo com Deus nunca termina. A oração incendeia a fé e permite adquirir a consciência do sentido vocacional da própria existência. Surge assim a vida de fé, que une a oração com o cotidiano, e impulsiona a dar-se aos outros, para implantar, no meio da vida corrente a riqueza da própria vocação. Daí a importância de aprender ou de ensinar a fazer oração. Como ensinava São Josemaria, muitas realidades materiais, técnicas, econômicas, sociais, políticas, culturais..., abandonadas a si mesmas, ou em mãos dos que não possuem a luz da nossa fé, convertem-se em obstáculos formidáveis para a vida sobrenatural: formam como que um campo fechado e hostil à Igreja. Tu, por seres cristão – pesquisador, literato, cientista, político, trabalhador... –, tens o dever de santificar essas realidades. Lembra-te de que o universo inteiro – assim escreve o Apóstolo – está gemendo como que com dores de parto, à espera da libertação dos filhos de Deus[22].

Em Moisés, em suma, a relação entre fé, fidelidade e eficácia se manifesta de modo especial. Moisés é fiel e eficaz porque o Senhor está perto dele, e o Senhor está perto porque Moisés não evita o seu olhar e lhe mostra as suas dúvidas, temores, insuficiências, com sinceridade. Inclusive quando tudo parece perdido, como quando o povo recém-libertado fabrica um bezerro de ouro para adorá-lo, a confiança de Moisés em seu Senhor o levará a interceder pelo povo, e o pecado se converte em ocasião de um novo começo, que manifesta com mais força a misericórdia de Deus[23]. Porque Deus “jamais se cansa de perdoar, porém nós, às vezes, nos cansamos de pedir perdão”[24].

Como estamos comentando, a carta aos Hebreus marca os momentos de maior relevo quando resplandece a fé de Moisés. Porém poderíamos percorrer toda a sua vida e observar outros episódios: obedeceu também, por exemplo, quando subiu ao Sinai para recolher as tábuas da Lei, e quando estabeleceu e ratificou a aliança de Deus com o seu povo. O elogio mais correto e breve o encontramos no final do livro do Deuteronômio: Não se levantou mais em Israel profeta comparável a Moisés, com quem o Senhor conversava face a face[25].

A vida de Moisés esteve marcada pela sua vocação, inseparavelmente unida à sua missão: Deus chama Moisés para libertar o seu povo e a conduzi-lo a uma terra boa e espaçosa, a uma terra que mana leite e mel[26]. A libertação de Israel encomendada a Moisés prefigurava a redenção cristã, verdadeira libertação. Jesus Cristo é quem, com a sua morte e ressurreição, resgatou o homem daquela escravidão radical que é o pecado, abrindo-lhe o caminho para a verdadeira Terra Prometida, o Céu. O antigo êxodo se cumpre, antes de tudo, dentro do próprio homem e consiste em acolher a graça. O homem velho deixa o lugar ao homem novo; a vida anterior fica para trás, pode-se caminhar em uma vida nova[27]. E este êxodo espiritual é fonte de uma libertação integral, capaz de renovar qualquer dimensão humana, pessoal e social. Se tomarmos consciência da nossa vocação e ajudarmos nossos amigos a tomarem consciência da deles, levaremos a libertação de Cristo a todos os homens. Como nos disse o Santo Padre, devemos “aprender a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos demais, para ir até as periferias da existência”[28]Ignem veni mittere in terram, fogo vim trazer à terra[29], dizia o Senhor falando do seu ardente amor pelos homens. Ao que São Josemaria sentia a necessidade de responder, pensando no mundo inteiro: Ecce ego: aqui estou!

S. Ausín – J. Yaniz (maio 2013)


[1] São Josemaria, Forja, n. 51.

[2] Hb 11, 27-29.

[3] Rm 4, 11.

[4] Bento XVI, Motu proprio Porta fidei, 11-X-2011, n. 11.

[5] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 46.

[6] Hb 11, 23.

[7] Cfr. Ex 2, 1-10.

[8] Hb 11, 24-26.

[9] São Josemaria, Caminho, n. 194.

[10] Ex 2, 24.

[11] Ex 3, 1-4.

[12] Ex 3, 4.

[13] Is 43,1.

[14] São Josemaria, Caminho, n. 984. Cfr. P. Rodríguez (ed.), Caminho. Edição comentada, comentário ao número.

[15] Ex 3, 6.

[16] Ex 3, 14.

[17] Ex 3, 11.

[18] Cfr. Ex 4, 1-9.

[19] Cfr. Gn 28, 15; Js 1, 5; etc.

[20] Hb 11, 28-29.

[21] Cfr. Hb 11, 1.

[22] São Josemaria, Sulco, n. 311.

[23] Cfr. Ex 33, 1-17.

[24] Francisco, Ângelus, 17-III-2013.

[25] Dt 34, 10.

[26] Ex 3, 8.

[27] Cfr. Rm 6, 4.

[28] Francisco, Audiência, 27-III-2013.

[29] Lc 12, 49.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (10/16)

 

O cristianismo e as religiões | Vecteezy

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

II.4. "Ecclesia Universale Salutis Sacramentum"

62. Não se pode desenvolver uma teologia das religiões sem levar em conta a missão salvífica universal da Igreja, testemunhada pela Sagrada Escritura e pela tradição de fé da Igreja. A valorização teológica das religiões foi impedida durante muito tempo por causa do princípio "extra Ecclesiam nulla salus", entendido em sentido exclusivista. Com a doutrina sobre a Igreja como "sacramento universal da salvação" ou "sacramento do Reino de Deus", a teologia trata de responder à nova apresentação do problema. Tal ensinamento, também acolhido pelo concílio Vaticano II, se concilia com a visão sacramental da Igreja no Novo Testamento.

63. Atualmente, a questão primária já não é se os homens podem alcançar a salvação ainda que não pertençam à Igreja Católica visível; tal possibilidade é considerada como teologicamente certa. A pluralidade das religiões, da qual os cristãos são cada vez mais conscientes, o melhor conhecimento dessas mesmas religiões e o necessário diálogo com elas, sem deixar em último lugar a mais clara consciência das fronteiras espaciais e temporais da Igreja, nos interrogam sobre se se pode ainda falar da necessidade da Igreja para a salvação e sobre a compatibilidade desse princípio com a vontade salvífica universal de Deus.

a. "Extra Ecclesiam nulla salus"

64. Jesus uniu o anúncio do Reino de Deus com sua Igreja. Depois de sua morte e ressurreição, renovou-se a reunião do povo de Deus, agora em nome de Jesus Cristo. A Igreja de judeus e gentios se entendeu como obra de Deus e como comunidade na qual se experimenta a ação do Senhor elevado aos céus e de seu Espírito. Com a fé em Jesus Cristo, o mediador universal da salvação, une-se o batismo em seu nome, que mediatiza a participação em sua morte redentora, o perdão dos pecados e a entrada na comunidade de salvação (cf. Mc 16,16; Jo 3,5). Por isso o batismo é comparado com a arca da salvação (cf. 1 Pd 3,20s). Segundo o Novo Testamento, a necessidade da Igreja para a salvação se funda na única mediação salvífica de Cristo.

65. Fala-se da necessidade da Igreja para a salvação em duplo sentido: necessidade da pertença à Igreja para aqueles que crêem em Jesus, e necessidade salvífica do ministério da Igreja que, por encargo de Deus, tem de estar a serviço da vinda do Reino de Deus.

66. Em sua encíclica Mystici corporis, Pio XII trata da questão da relação com a Igreja daqueles que alcançam a salvação fora da comunhão visível dessa mesma Igreja. Diz deles que se ordenam ao corpo místico de Cristo por um desejo e anelo inconsciente (cf. DS 3821). A oposição do jesuíta americano Leonard Feeney, que insiste na interpretação exclusivista da frase "extra Ecclesiam nulla salus", dá ocasião a carta do Santo Ofício ao arcebispo de Boston de 8 de agosto de 1949, que recusa a interpretação de Feeney e esclarece o ensinamento de Pio XII. A carta distingue entre a necessidade da pertença à Igreja para a salvação (necessitas praecepti) e a necessidade dos meios indispensáveis para a salvação (intrínseca necessitas); em relação a estes últimos, a Igreja é um auxílio geral para a salvação (DS 3867-3869). No caso de ignorância invencível, basta o desejo implícito de pertencer à Igreja; esse desejo estará sempre presente quando um homem aspira conformar sua vontade à de Deus (DS 3870). A fé, porém, no sentido de Hebreus 11,6, e o amor são sempre necessários com necessidade intrínseca (cf. DS 3872).

67. O Concílio Vaticano II faz sua a frase "extra Ecclesiam nulla salus". Porém, com ela se dirige explicitamente aos católicos e limita sua validez àqueles que conhecem a necessidade da Igreja para a salvação. O Concílio considera que a afirmação se funda na necessidade da fé e do batismo afirmada por Cristo (cf .LG 14). Dessa maneira o concílio reforça o ensinamento de Pio XII, mas destaca com mais clareza o caráter parenético original dessa frase.

68. O Concílio, diversamente de Pio XII, evita a falar do votum implicitum e aplica o conceito do votumapenas ao desejo explícito dos catecúmenos de pertencer à Igreja (cf. LG 14). Dos não-cristãos se diz que estão ordenados de diversos modos ao povo de Deus. A partir das diferentes maneiras com que a vontade salvífica de Deus abraça os não-cristãos, o Concílio distingue quatro grupos: em primeiro lugar, os judeus; em segundo, os muçulmanos; em terceiro, aqueles que sem culpa ignoram o evangelho de Cristo e não conhecem a Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e se esforçam por cumprir sua vontade conhecida por meio da consciência; e, em quarto lugar, aqueles que, sem culpa, ainda não chegaram ao expresso reconhecimento de Deus mas, não obstante, se esforçam por levar uma vida reta (cf. LG 16).

69. Os dons que Deus oferece a todos os homens para levá-los à salvação se fundam, segundo o Concílio, em sua vontade salvífica universal (cf. LG 2; 3; 16; AG 7). O fato de que também os não-cristãos estejam ordenados ao Povo de Deus se funda em que o chamado universal à salvação inclui a vocação de todos os homens à unidade católica do Povo de Deus (cf. LG 13). O Concílio considera que a relação íntima de ambas as vocações se funda na única mediação de Cristo, que em seu Corpo que é a Igreja, se faz presente entre nós (cf. LG 14).

70.Assim se devolve à frase "extra Ecclesiam nulla salus" seu sentido original, o de exortar os membros da Igreja à fidelidade (30). Integrada essa frase na mais geral "extra Christum nulla salus", já não se encontra em contradição com o chamado de todos os homens à salvação.

NOTA:

30. Cf. Orígenes, In Iesu nave 3,5 (Sch 71, 142ss); Cipriano, De cath. Unit. 6 (CSEL 3/1, 214s); Ep. 73, 21 (CSEL 3/2, 795).

Fonte: https://www.vatican.va/

Fraternidade e fome a partir da compaixão e da partilha

Cartaz da CF 2023 | cnbb

FRATERNIDADE E FOME A PARTIR DA COMPAIXÃO E DA PARTILHA

 

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ) 

Neste ano, a CNBB, pela 60ª edição, realiza a sua Campanha da Fraternidade abordando, pela terceira vez, a temática da fraternidade e fome, que sempre foram ligadas a Congressos Eucarísticos Nacionais celebrados com esta proposta que sempre ligou fraternidade, fome, à Eucaristia, como projeto de partilha do pão que salva a humanidade. De fato, a primeira, foi no ano do Congresso de Manaus, em 1975, com o lema “Repartir o Pão”; a segunda vez, no ano do Congresso de Aparecida, em 1985, com o lema “Pão para quem tem Fome” e, agora, em 2023, depois de termos celebrado o Congresso de Recife, com o lema “Pão em todas as mesas”.  

O lema desta Campanha assume o ensinamento de Cristo, recolhido por São Mateus, no versículo 14, 16: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”. Apresenta, como objetivo geral, a sensibilização da sociedade e da Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos transformadores. Seguindo a metodologia do ver, iluminar e agir, trata de compreender as causas estruturais da fome no Brasil, a realidade de altíssima concentração fundiária e uma política agrícola perversa que prejudica a segurança alimentar.  

O agravamento do desemprego, a defasagem do salário e seu poder de compra, a extinção do CONSEA, do SISAN, dos programas PAA e PNAE e do esvaziamento dos estoques reguladores. O aumento da população em situação de rua, as iatrogenias políticas do patrimonialismo, clientelismo e falta de políticas públicas, o descaso com a Casa Comum. No entanto, é importante resgatar as práticas benignas e esperançosas, dos movimentos sociais e associações de beneficência, a CARITAS, de projetos comunitários, das Pastorais Sociais, da Economia Solidária, da Economia de Comunhão e da Economia de Francisco e Clara.  

No iluminar, contemplamos o Deus que escuta o sofrimento, o caminho de Jesus o Salvador irmanado com os pobres e pequenos que questiona a indiferença e faz acontecer o milagre da partilha e multiplicação dos pães. Um novo Moisés e Eliseu, que mostra que o Reino traz fartura e abundância para os famintos. A Igreja, que junto a celebração da Eucaristia, e a partir dela, distribui a compaixão selada com a fração do pão.  

No agir, somos convidados nos quatros níveis do compromisso e empenho, a um testemunho pessoal, comunitário-eclesial, sócio-político (que abrange a sociedade civil, governo Municipal, Estadual e Federal). Passando, respetivamente, do assistencialismo emergencial, à promoção humana integral para o sócio-político e institucional, criando políticas públicas transformadoras. Lembrando o que o Papa Francisco afirmava, com respeito à fome, no seu discurso na FAO : “que não era só uma tragédia mas, também, uma vergonha”, somos desafiados a sair da indiferença e da apatia e, porque não dizer, da cultura do descarte, para uma conversão profunda, a cultura do dom e da partilha, que traz pão para todas as mesas. Deus seja louvado!

Santificados na Família

Crédito: Cléofas

Santificados na Família

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Deus nos criou para vivermos em família. Ele mesmo é uma Família, Três Pessoas distintas em uma única natureza, e quis que de certa forma isso se reproduzisse na terra, em cada lar.

Quando o Catecismo fala da família, começa dizendo que:

“A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai” (§2205).

A família é assim, por vontade de Deus, “imagem” da Santíssima Trindade; por isso ela é sagrada, e meio especial de nossa santificação.

Jesus, ao vir ao mundo, não precisava necessariamente viver em uma família, mas Ele assim o quis, para deixar-nos o seu exemplo e ensinamento sobre a nobreza e santidade da família. Quis ter uma mãe e um pai (adotivo), e foi obediente e submisso a eles (cf Lc 2,51).

Jesus não precisava ter um pai terreno, já que o Seu Pai é o próprio Deus. Mas Ele quis ter um pai adotivo, legal, como chamavam os judeus. Quando José quis abandonar Maria, em silêncio, para não difamá-la, Deus mandou o Anjo dizer-lhe: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois, o que nela foi concebido veio do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho a quem tu porás o nome de Jesus” (Mt 1,20-21). É como se Deus dissesse a José: eu preciso de você, eu quero você para ser o pai diligente da sagrada Família. Os pais geram os filhos, mais aqui é o Filho quem escolhe o seu pai.

Jesus quis viver numa família, e ali viveu durante trinta anos, só saindo dela para a sua missão pública e redentora da humanidade. A Família de Nazaré nos dá uma lição de vida familiar.

Como disse Paulo VI: “Que Nazaré nos ensine o que é família, sua comunhão de amor, sua beleza austera e simples, seu caráter sagrado e inviolável […]. Uma lição de trabalho […]” (05/01/64).

Cristo, nascendo e vivendo numa família, redimiu e santificou todas as famílias.

Os que atentam hoje contra os valores sagrados da família: indissolubilidade do matrimônio, fidelidade conjugal, defesa da vida, etc., atentam frontalmente contra Deus. Os que pregam a defesa do aborto, da eutanásia, do divórcio, dos casamentos de homossexuais, dos úteros de aluguel, das experiências com embriões, da concepção in-vitro [bebê de proveta], da limitação da natalidade por quaisquer meios, esses, lutam contra Deus e contra a família.

Vivendo na família de Nazaré, Jesus nos ensinou a importância da submissão e obediência dos filhos aos pais. Ele, mesmo sendo Deus, se fez obediente àqueles que Ele mesmo criou e escolheu para seus pais. Cumpriu em tudo o quarto mandamento que manda “honrar” os pais. Mais do que ninguém obedeceu à Palavra de Deus que diz:

“Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro”.

“Quem teme o Senhor honra pai e mãe” (Eclo 3).

Por ser a família, a própria imagem da Trindade na terra, o Concílio Vaticano II a denominou de “igreja doméstica”, e o Papa João Paulo II a chamou de “santuário da vida”. É ali que a vida é gerada, cuidada, amada e engrandecida. É no seio da família que o ser humano é construído. Foi no seio da família de Nazaré que o Menino Jesus foi preparado para a grande missão de Salvador dos homens.

Portanto, a família é a grande escola da vida, é o educandário do amor, da fé, da justiça, da paz e da santidade.

É porque a família é hoje tão ofendida pelas pragas da imoralidade, que a sociedade paga um alto preço social: jovens delinquentes, crianças abandonadas, pais separados, homens e mulheres frustrados, tanta violência, tanto crime, tanta morte…

Essas pobres crianças e jovens desorientados, que vivem pelas ruas, perdendo-se nas drogas, no crime, na violência, na homossexualidade e nas bebidas, etc., apenas estão buscando com isso um pouco de calor humano, afeto, que deveriam ter recebido em suas famílias, e não receberam.

O triste espetáculo de crianças e jovens drogados nada mais é do que o fruto da destruição familiar, causado por um mundo sem Deus, sem moral, sem religião.

O filho que foi amado e querido por seus pais, até o fim da sua adolescência, jamais será um desequilibrado ou perigoso para a sociedade.

O Catecismo diz que a “família é a sociedade natural onde o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade” (CIC nº 2207).

Por tudo o que foi dito até aqui podemos entender o quanto o lar é um local adequado para a santificação dos pais e dos filhos.

“É no seio da família que os pais são para os filhos, pela palavra e pelo exemplo… os primeiros mestres da fé”, ensina a Igreja (LG, 11).

“É na família que se exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graças, no testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade ativa. O lar é assim a primeira escola de vida cristã e uma escola de enriquecimento humano. É ai que se aprende a fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e mesmo reiterado, e sobretudo o culto divino pela oração e oferenda de sua vida” (CIC §1657).

Essas palavras do Catecismo mostram que o lar é a escola das virtudes humanas; logo, lugar de santificação.

Para os pais, a vida conjugal é uma oportunidade riquíssima de santificação, na medida em que, a todo instante, precisam lutar contra o próprio egoísmo, soberba, orgulho, desejo de dominação, etc., para se tornar, com o outro, aquilo que é o sentido do matrimônio: “uma só carne”, uma só vida, sem divisões, mentiras, fingimentos, tapeações, birras, azedumes, mau-humor, reclamações, lamúrias, etc.

A luta diária e constante para ser “exemplo para os filhos”, para manter a fidelidade ao outro, para “vencer-se a si mesmo”, a fim de se construir um lar maduro e santo, faz com que caminhemos para a na nossa santificação.

O amor do casal é o sinal e o símbolo do amor de Deus à humanidade, e amor de Cristo à Igreja (cf. Ef 5,21s). Ao se pôr a caminho para conquistar “esse amor”, o casal se santifica.

A busca da unidade profunda como a do “café com o leite”, o desafio de “construir o outro”, alguém querido, a solução conjunta de todos os problemas, o diálogo frequente e amoroso, o respeito mútuo, enfim, a busca da maturidade essencial para a vida a dois, tudo isso santifica o casal.

Além do mais, o conhecimento profundo do “mistério do outro” a luta para aceita-lo e entende-lo, para ajudá-lo a crescer, a paciência, o perdão dado, as renúncias de cada dia, a atenção com o outro para vencer a frieza e a monotonia, o cuidado do lar, da roupa, da comida, do estudo dos filhos, etc., tudo isso concorre para que os pais se santifiquem mutuamente. Deus quis assim, e fez do casamento uma grande escola de santidade. O casal que quiser atingir a perfeição matrimonial, como é o desígnio de Deus, naturalmente chegará à santidade. A casa é para o casal e os filhos, o que o mosteiro é para o monge.

A luta que travamos conosco mesmo para aceitar e suportar os defeitos do outro, a cada dia, com paciência e compreensão, faz-nos santos.

As cruzes do lar, o desemprego, as doenças, as dúvidas, os vícios do cônjuge, a dificuldade com os parentes, a preocupação com os problemas dos filhos, etc., tudo isso, torna-se no casamento como que o “fogo” que queima as ervas daninhas de nossa alma e nos encaminha para a perfeição cristã.

É preciso saber aproveitar toda e qualquer dificuldade do lar para fazer dela um degrau de crescimento na fé e no amor a Deus, pois “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28).

Por outro lado, a enorme tarefa que Deus confia aos pais, na geração e na educação dos filhos, o exercício dessa missão sagrada coopera para a santificação deles.

O Catecismo diz que:

“O papel dos pais na educação dos filhos é tão importante que é quase impossível substituí-los”. E que: “O direito e o dever de educação são primordiais e inalienáveis para os pais” (§2221; FC 36). Para cumprir com responsabilidade essa sagrada missão, os pais devem criar um lar tranquilo para os filhos, onde se cultive a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado. Aí deve ser cultivado a abnegação, o reto juízo, o domínio de si, para que haja verdadeira liberdade.

Diz o livro do Eclesiástico:

“Aquele que ama o filho castiga-o com frequência; aquele que educa o seu filho terá motivo de satisfação” (Eclo 30, 1-2).

Esse “castiga-o com frequência” deve ser entendido como “corrige-o com frequência”. Mas São Paulo lembra que os pais não podem humilhar e magoar os filhos ao corrigi-los:

“E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e na correção do Senhor” (Ef 6,4).

É claro que esse equilíbrio e dedicação que é exigido dos pais para educar bem os filhos, é motivo também de crescimento para os próprios pais. E é bom lembrar aos pais que saber reconhecer diante dos filhos, os próprios defeitos, não é humilhação e sim coerência, e isto facilita guiá-los e corrigi-los, como ensina o próprio Catecismo (nº 2223).

“Os filhos, diz o Catecismo, por sua vez, contribuem para o crescimento de seus pais em santidade. Todos e cada um se darão generosamente e sem se cansarem o perdão mútuo exigido pelas ofensas, as rixas, as injustiças e os abandonos. Sugere-o a mútua afeição. Exige-o a caridade de Cristo” (CIC, §2227; Mt 18,21-22).

A Igreja também ensina que os pais, pela graça do matrimônio, receberam o direito e o dever de evangelizar os filhos, iniciando-os, desde a infância, nos mistérios da fé. E fazendo isso os pais estão, de certo modo, evangelizando a si mesmos.
Para os filhos, o dever de honrar os pais, estabelece um verdadeiro programa de santificação.

Lembra a Palavra de Deus aos filhos:

“Honra teu pai de todo o coração e não esqueças as dores de tua mãe. Lembra-te que fostes gerado por eles. O que lhes darás pelo que te deram?” (Eclo 7,27-28).

“Um filho sábio escuta a disciplina do pai e o zombador não escuta a reprimenda” (Pr 13,1).

“Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, pois isso é agradável ao Senhor” (Cl 3,20; Ef 6,1).

“Aquele que respeita o pai obtém o perdão dos pecados, o que honra a sua mãe é como quem ajunta um tesouro. Aquele que respeita o pai encontrará alegria nos filhos e no dia de sua oração será atendido” (Eclo 3,2-6).

Todo o capítulo três do livro do Eclesiástico mostra a importância dos pais na vida dos filhos. A observância dessas normas santificará os filhos e lhes dará a bênção de Deus. Essa bênção é dada através dos pais:

“Honra teu pai por teus atos, tuas palavras, tua paciência, a fim de que ele te dê a sua bênção, e que esta permaneça em ti até o último dia da tua vida”.

“A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos; a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces” (9-11).

Um filho abençoado pelos pais é um filho abençoado pelo próprio Deus, porque “a paternidade humana tem a sua fonte na paternidade divina” (CIC nº 2214).

Infelizmente os filhos já não pedem a bênção para os seus pais hoje, porque não lhes foi ensinado a importância dessa bênção. É preciso resgatar esse costume santo, que torna a vida dos filhos mais santa.

Vemos assim que Deus estabeleceu a família como o meio privilegiado para a nossa salvação e santificação, tanto dos pais quanto dos filhos.

As provações da vida familiar são riquíssimas para a santificação de toda a família. As doenças, as lágrimas, os revezes, enfim as cruzes, não vêm por acaso. Só os pagãos creem no acaso e no destino. O cristão acredita que tudo vem de Deus. Muitas vezes Ele fere o corpo para salvar a alma. Quanta gente, piedosa e devota, que na hora do “sofrimento purificador” se comporta como um pagão! “É o destino!… fatalidade!…”

Saber aproveitar as lições dos sofrimentos diários, e acolhê-los com fé, é receber uma multidão de graças do Céu. São Francisco de Assis acolhia a doença com gratidão: “Senhor, os sofrimentos que me enviais são, aos meus olhos, incomparáveis tesouros. Agradeço a Vossa Misericórdia Infinita, que me castiga neste mundo para me poupar para a eternidade”.

Os sofrimentos do lar são, muitas vezes, mais difíceis de suportar do que os que vêm de fora. São Francisco de Sales dizia que: “Ser desprezado e acusado pelos maus é até doce para um homem de coragem; mas, ser repreendido, acusado, maltratado pelas pessoas de bem, pelos amigos, pelos parentes… como é doloroso!” O Santo dizia que são como “picadas de abelhas”, ardem mais do que as das moscas, embora as abelhas produzam um mel tão doce. Os espinhos do lar são as pequenas cruzes com as quais o Senhor nos santifica a cada dia.

Os santos afirmavam que as provações mais difíceis de suportar são aquelas que nos vêm através dos bons, das pessoas que mais amamos. Alguém os chamou de “os bons carrascos”. As vezes são nossos pais, irmãos, esposa, filhos, ou bons amigos.

Retirado do livro: “Família, Santuário da Vida”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF