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quinta-feira, 30 de março de 2023

Canadá sofre 260% de aumento nos crimes de ódio contra católicos

Amber Bracken / Anadolu Agency via AFP
Igreja de São João Batista em Morinville, Alberta, Canadá, queimada em junho de 2021

Estatísticas consideram apenas os dados que chegaram ao conhecimento da polícia.

Um levantamento divulgado pelo Statistics Canada, instituto de pesquisas e estatísticas do governo canadense, revelou um aumento de 260% nos crimes de ódio contra católicos no país.

Trata-se do maior número de episódios de violência religiosa no Canadá desde que o governo começou a registrar esse tipo de dados – e o panorama foi de piora crescente ao longo dos últimos três anos.

A pesquisa observa que mais da metade desses crimes não envolvem agressão física, mas, ainda assim, os números chocam porque revelam um crescimento vertiginoso da intolerância contra a religião – sobretudo contra os católicos, se comparados com outras confissões.

De fato, enquanto o aumento de crimes de ódio anticatólico foi de 260%, o aumento nos episódios de ódio contra muçulmanos foi de 71% e contra judeus de 47%.

Os números totais são ainda piores, considerando-se que as estatísticas disponíveis se baseiam somente nos dados que chegaram ao conhecimento da polícia e que, durante as respectivas investigações, foram reconhecidos formalmente como crimes de ódio.

Papa Francisco propõe 30 perguntas para um bom exame de consciência

Papa Francisco se confessando durante a Jornada “24 horas 
para o Senhor” em 2014/ Foto: Vatican Media

REDAÇÃO CENTRAL, 30 Mar. 23 / 06:00 am (ACI).- Na Quaresma de 2015, o papa Francisco deu aos fiéis presentes na Praça de São Pedro um pequeno livro especial intitulado “Guarde o Coração”, entregue por vários indigentes de Roma, o qual sugere uma série de recursos importantes para o caminho de conversão até a Semana Santa. Entre os diferentes recursos propostos pelo papa, há um exame de consciência de 30 perguntas para fazer uma boa confissão, assim como uma breve explicação das razões para receber este sacramento.

Este recurso tem um significado especial neste tempo de Quaresma, para que os católicos, especialmente os que estão mais afastados da Igreja, se reconciliem com Deus durante a preparação para a Páscoa.

Diante da pergunta "por que confessar-se?", o livrinho responde: “Porque somos pecadores! Ou seja, pensamos e agimos de modo contrário ao Evangelho. Quem diz que não tem pecado, ou é mentiroso ou é cego. No Sacramento, Deus perdoa sempre os filhos que, tendo contradito a sua identidade, confessam as suas misérias e ao mesmo tempo a sua misericórdia”.

Para confessar-se, continua o texto, é necessário começar “escutando a voz de Deus” e prosseguir com o “exame de consciência, o arrependimento, a confissão dos pecados ao sacerdote, o propósito de satisfação, a invocação da misericórdia divina ministrada mediante a absolvição, o louvor pelo perdão recebido, a vida renovada”.

A seguir, apresentamos as 30 perguntas propostas pelo papa Francisco para fazer uma boa confissão:

Em relação a Deus

1.Dirijo-me a Deus somente em caso de necessidade? 2.Participo na Missa dominical e nos dias de preceito? 3.Começo e termino o meu dia com a oração? 4.Invoquei em vão o nome de Deus, de Maria e dos Santos? 5.Envergonho-me de me apresentar como cristão? 6.O que faço para crescer espiritualmente, como e quando o faço? 7.Revolto-me diante dos desígnios de Deus? 8.Pretendo que seja Ele a cumprir a minha vontade?

Em relação ao próximo

9.Sei perdoar, partilhar, ajudar o próximo? 10.Julgo sem piedade, tanto em pensamento quando com palavras? 11.Caluniei, roubei, desprezei os mais pequenos e indefesos? 12.Sou invejoso, colérico, parcial? 13.Tomo conta dos pobres e dos doentes? Envergonho-me da carne do meu irmão ou da minha irmã?

14.Sou honesto e justo com todos ou alimento a "cultura do descartável"? 15.Instiguei os outros a fazer o mal? 16.Observo a moral conjugal e familiar que o Evangelho ensina? 17.Como vivo as responsabilidades educativas para com os meus filhos? 18.Honro e respeito os meus pais? 19.Rejeitei a vida após a concepção? 20.Desperdicei o dom da vida? 21.Ajudei a fazê-lo? 22.Respeito o ambiente?

Em relação a mim mesmo

Sou um pouco mundano e pouco crente? 23.Exagero em comer, beber, fumar e divertir-me? 24.Preocupo-me em excesso com a saúde física, com os meus bens? 25.Como uso o meu tempo? 26.Sou preguiçoso? 27.Procuro ser servido? 28.Amo e cultivo a pureza de coração, de pensamentos e de ações? 29.Nutro vinganças, alimento rancores? 30.Sou manso, humilde, construtor de paz?

Fonte: https://www.acidigital.com/

Santa Clara: a religiosa que derrota o poder com a pobreza e a consciência

Imagem de Santa Clara que ressurgiu depois que a parte daparede que a cobria 
desmoronou, na cidade italiana de Antrodoco, perto de Rieti, onde havia um 
convento dedicado a Santa Clara

A Regra de Clara de Assis é a primeira na história da Igreja escrita por uma mulher para as mulheres. As Irmãs da Federação de Santa Clara de Assis das Clarissas das regiões italianas da Úmbria e da Sardenha repropõem a visão da Madre Clara sobre o direito de não possuir nada e o dever de obedecer somente a Deus e à consciência.

Chiara Graziani

O direito de nada possuir. O dever de obedecer apenas a Deus e à consciência, fazendo discernimento sobre as ordens da autoridade. Além disso, a greve de fome como instrumento pacífico de fidelidade a Deus e à consciência, colocando no meio o próprio corpo inerte, como um obstáculo, sem se preocupar com a vida.

A Madre Clara de Assis fala ainda hoje com voz evidente, atualíssima. A sua Regra — a primeira na história da Igreja escrita por uma mulher para as mulheres – é a das suas escolhas de vida revolucionárias que falam diretamente às mulheres e aos homens de hoje. Desobedecer a uma ordem que viola a relação de confiança com Deus, diz por exemplo a Regra pela qual Clara lutou há oito séculos, é um dever, não uma opção. Um princípio afirmado na regra clariana de 1258 que, contudo, por vontade do Papa, estava destinada a não ir além do círculo de mulheres que chamavam Clara “madre” no mosteiro de São Damião. E assim foi historicamente. Na Regra de Clara lê-se: «As irmãs súditas, (...) sejam firmemente obrigadas a obedecer às suas abadessas em tudo o que prometeram ao Senhor de observar e isso não seja contrário à alma e à nossa profissão».

A pobreza franciscana e a obediência a Deus

Palavras inauditas para a época, o contexto, a matéria, e por serem escritas por uma mulher: há 800 anos, um sujeito sob tutela patriarcal desde o berço até à sepultura, última entre os últimos, já defendia profeticamente o dever de desobedecer a quem quer que lhe ordenasse de fazer o mal. Fosse até a autoridade. Ela argumentava, de facto, que isto deveria ser chamado obediência a Deus.

A interpretação autêntica dessas palavras extraordinariamente atuais foi recentemente dada pelas irmãs da Federação de Santa Clara de Assis das Clarissas da Umbria e Sardenha; como coletivo, de facto, produziram e assinaram um estudo em três volumes sobre a mulher a que também hoje chamam madre (Chiara D’Assisi, edições Messaggero Padova, reimpressa em 2018). Começaram a obra para voltar a ouvir a palavra e o carisma de Clara e viram-se confrontadas com uma Regra que redescobriram viva como um desafio. Viver a “altíssima pobreza” franciscana em fidelidade ao Evangelho está no coração. No século XIII, esta pretensão à liberdade total parecia absurda, quase escandalosa. E é isto que o estudo do coletivo clariano colhe hoje.

O estudo italiano sobre 'Chiara D'Assisi    

«É implícito — lê-se sobre a obediência no volume intitulado “O Evangelho como Forma de Vida” — que no caso o comando saia dos âmbitos legítimos se possa e se deva desobedecer: a desobediência a um comando ilegítimo ou injusto é obediência à verdade e ao valor que o comando deveria ter mediado e não mediou».

Por conseguinte, a vida que hoje volta a tomar forma a partir da pesquisa histórica e documental das Clarissas não é a de uma mulher que fez uma escolha de mortificação, contemplação e renúncia ao mundo na expetativa de terras ultramundanas. A sua escolha que nos transmite hoje foi, pelo contrário, a de uma lutadora no mundo, até na clausura. Uma escolha de amor integral também requer luta para conservar o amor.

E Clara ensinou, e ensina-nos, que a arma mais afiada do lutador é o direito de nada possuir. Clara lutou durante muito tempo para que o privilégio da pobreza (privilegium paupertatis) se tornasse um direito. Sobretudo, lutou para que fosse o escudo daqueles que queriam seguir o estilo de vida franciscana. Obteve o seu reconhecimento formal em 1228 quando o Papa Gregório IX escreveu às religiosas de São Damião: «Reforçamos (...) o vosso propósito de altíssima pobreza, concedendo-vos que não podeis ser obrigadas por ninguém a receber posses» (Sicut Manifestum Est, Perúsia, 17 de setembro de 1228).

O combatente, explicou Clara à Princesa Agnes da Boémia, deve estar nu a fim de não oferecer bases de apoio ao adversário. O privilégio da pobreza permite que se deslize pelas mãos do inimigo, por quanta violência possa exercer. Não há nada de submisso nesta imagem. Há força, determinação. Até firmeza.

O privilégio da pobreza

Ainda hoje, o direito de nada possuir questiona-nos. A posse, na civilização do consumo compulsivo, é a nova “virtude” social e uma fonte de escravidão. Clara, a quem as pobres irmãs de hoje voltam a dar voz, diz que a posse não é uma virtude. Nem sequer a obediência, se pretender fazer violência à consciência livre.

Se se quisesse outra prova da completa contemporaneidade de Clara, devemos recordar outra das suas invenções de lutadora. Corria o ano de 1230. Uma bula papal, a Quo elongati, separava efetivamente Clara e a comunidade de São Damião dos cuidados espirituais dos frades menores de Francisco. Clara, então, enviou de volta os frades que trouxeram a comida para as “pobres reclusas” em clausura. E ninguém, privilégio da pobreza à mão, poderia desafiar a sua desobediência, negando-lhe o direito de protestar. Foi uma greve de fome das mulheres e uma greve por amor. Venceram as pequenas irmãs pobres (e reclusas) de São Damião. Indomáveis na obediência a Deus semearam, como reclusas, também o nosso futuro.

Rezenos pela Saúde do Papa Francisco

Nota de solidariedade | cnbb

EM NOTA DE SOLIDARIEDADE, CNBB CONCLAMA A IGREJA NO BRASIL À ORAÇÃO PELA SAÚDE DO SANTO PADRE

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pediu, por meio de sua presidência, ao episcopado brasileiro e a toda a Igreja no Brasil, nesta quarta-feira, 29, oração pela saúde do Papa Francisco. O Santo Padre foi hospitalizado, na quarta-feira, 29, em Roma em razão de uma infecção respiratória.

“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se une a todas as pessoas que, nestes dias, se encontram em oração pela saúde do Papa Francisco. Que a Virgem Mãe Aparecida interceda junto ao Bom Deus para que fortaleça sempre mais o Santo Padre na condução da Igreja”, diz a Nota de Solidariedade emitida pela CNBB.

Conheça a íntegra do documento abaixo e, aqui, a versão em PDF.

Rezemos pela saúde do Santo Padre

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se une a todas as pessoas que, nestes dias, se encontram em oração pela saúde do Papa Francisco. Que a Virgem Mãe Aparecida interceda junto ao Bom Deus para que fortaleça sempre mais o Santo Padre na condução da Igreja.

Brasília-DF, 29 de março de 2023

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre
1º Vice-Presidente

Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá
2º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar de S. Sebastião do Rio de Janeiro
Secretário-Geral

Papa internado: quadro clínico em melhoramento

Policlínico Gemelli (Vatican |News)

De acordo com o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, o quadro clínico do Papa Francisco é em progressivo melhoramento e prossegue o tratamento programado.

Vatican News

O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, divulgou na manhã desta quinta-feira, 30 de março, um novo boletim a respeito da saúde do Pontífice, internado desde ontem no hospital Policlínico Gemelli de Roma:

"Papa Francisco repousou bem durante a noite. O quadro clínico é em progressivo melhoramento e prossegue o tratamento programado. Hoje, depois do café da manhã, leu alguns jornais e retomou o trabalho. Antes do almoço, foi à pequena capela do apartamento particular, onde se recolheu em oração e recebeu a eucaristia."

Comunicação precedente

O porta-voz vaticano comunicou ontem que Francisco foi levado ao hospital depois de se queixar de dificuldades respiratórias. O resultado dos exames evidenciou uma infecção respiratória e se exclui a infecção por Covid 19. O quadro exige alguns dias de terapia médica hospitalar.

O Papa agradece as muitas mensagens recebidas e expressa sua gratidão pela proximidade e oração.

terça-feira, 28 de março de 2023

Como seria nosso mundo se Jesus não tivesse vindo?

FMilano_Photography | Shutterstock
Por Jean-Michel Castaing

Reconhecer nossa dívida para com o cristianismo não é apenas uma questão de coração, mas também de honestidade intelectual.

Em nossa época – marcada pelo relativismo e pelo ceticismo – os semi-inteligentes reinam sem grandes problemas sobre a opinião pública. Possuindo conhecimento suficiente para se considerarem legítimos para opinar sobre tudo, eles, no entanto, permanecem cegos por suas paixões e apaixonados demais por si mesmos para reconhecer os limites de seus julgamentos. Por isso, ignoram a dívida abissal que nosso mundo contraiu com o cristianismo.

O homem ocidental médio parece uma criança mimada que bateu a porta da casa dos pais e que, como o filho pródigo da parábola evangélica, recebe sua parte na herança sem uma palavra de agradecimento.

Um alimento para o pensamento de crianças mimadas

Nesse contexto, lições de moral seriam contraproducentes. Por outro lado, há um exercício que os cristãos poderiam sugerir a essas pessoas ditas espertas: adivinhar como seria nossa sociedade se a fé da Igreja não tivesse irrigado nossas mentes por dois milênios. Essa é uma tarefa árdua para a qual entram em jogo inúmeros parâmetros, mas é adequada para estimular a sagacidade dos semiqualificados.

Em que estado espiritual estaríamos se as divindades sangrentas do paganismo, reflexos de nosso fascínio pela força e pelo sucesso, tivessem permanecido como objeto de nossa adoração?

Em que estado estaria nosso mundo se Cristo não tivesse vindo nos ensinar o cuidado com os humildes, os pequenos, o perdão das ofensas, o amor aos inimigos, a dignidade dos pobres e excluídos? Quais seriam os nossos ídolos – diante dos quais teríamos nos ajoelhado – se Cristo não tivesse proposto à nossa adoração um Deus-Pai pronto a abandonar o que Ele tem de mais caro (o seu próprio Filho) para ir em busca dos perdidos?

Em que estado espiritual estaríamos se as divindades sangrentas do paganismo, reflexos de nosso fascínio pela força e pelo sucesso, tivessem permanecido como objeto de nossa adoração? 

Uma contribuição decisiva para o avanço das mulheres

Os seguidores de Jesus devem relembrar a dívida de nosso mundo para com a fé cristã. Mas não é para eles se vangloriarem: eles têm apenas uma parte muito pequena nisso. Todo o crédito vai para a Santíssima Trindade. É o Pai que decidiu buscar sua ovelha perdida, seus filhos. Para isso, Ele instruiu Seu Filho a nos trazer de volta em Seus ombros. Os Evangelhos nos dizem como foi dura, perigosa e cara a missão! Não é inútil enfatizar esta dimensão da nossa fé diante dos que nos são próximos. 

E, caso provoquemos neles exasperação, o que é compreensível, visto que um devedor raramente aprecia ter suas dívidas repostas em sua memória, poderíamos sempre propor à consideração deles a pergunta: Você já pensou sobre como seria o nosso mundo se Jesus Cristo não tivesse vindo? A conversa poderia continuar, por exemplo, sobre o tema da contribuição, única na história, do cristianismo para a promoção da condição feminina.

Considere a atitude de Jesus para com as mulheres. Toda a Bíblia deve ser mencionada! O Cântico dos Cânticos, por exemplo, faz uma mulher falar na primeira pessoa pela primeira vez na história. As figuras femininas do Antigo Testamento protagonizam: Rebeca, Ester, Judite, Sara e Abigail – entre outras.

Honestidade intelectual

A história da Igreja não é exceção. Pela condição religiosa, as mulheres se libertaram dos poderes que as escravizaram na história. Pense na Rainha Santa Radegunda (520-587) que, fugindo de Clotário, seu marido que assassinou seu irmão, fundou o mosteiro de Santa Cruz, perto de Poitiers, e encontrou em sua fé a força para enfrentar as forças políticas de seu tempo.

Além disso, alegar que o cristianismo escravizou mulheres é um absurdo absoluto. Jesus impediu um feminicídio (Jo 8, 2-11)! Por onde o cristianismo penetrou, a condição feminina progrediu. 

Decididamente, é hora de nosso tempo reconhecer sua dívida para com o cristianismo. Não é apenas uma questão de coração, mas também de honestidade intelectual.

Como seria o mundo se Jesus não tivesse estendido suas mãos misericordiosas aos pecadores? KYNA STUDIO | Shutterstock


Fonte: https://pt.aleteia.org/

É preciso fazer silêncio na alma

Homem orando (Cléofas)

É preciso fazer silêncio na alma

 POR PROF. FELIPE AQUINO

No silêncio, Ele nos escuta, Ele nos fala…

Rezar é muito difícil, quando não se sabe como rezar, mas é preciso que nós nos ajudemos a rezar.

A coisa mais importante é o silêncio. As almas de oração são almas de silêncio profundo. Nunca poderemos pôr-nos diretamente na presença de Deus sem impor-nos um silencio interior e exterior. Por isso é que precisamos acostumar-nos ao silencio do espírito, dos olhos e da língua.

Deus é amigo do silêncio. Nós precisamos encontrar Deus, mas não podemos descobri-lo nem no ruído, nem na agitação. Vejam como a natureza, as árvores, as flores e a erva crescem em profundo silêncio. Vejam como as estrelas, a lua e o sol deslocam-se em silêncio.

Nossa missão não é dar Deus aos pobres das ruas? Não um Deus morto, mas um Deus vivo, um Deus de Amor… Os apóstolos dizem: “Nós vamos consagrar-nos continuamente à oração e ao ministério da palavra”.

Quanto mais recebermos em nossa oração silenciosa, tanto mais poderemos dar em nossa vida ativa. O silêncio nos prenda com um olhar novo para todas as coisas. Nós precisamos deste silêncio a fim de mover as almas. O essencial não é o que dizemos, mas o que Deus nos diz e o que diz por nosso intermédio.

Jesus sempre nos espera em silêncio. Neste silêncio, escutar-nos-á; ai é que Ele falará às nossas almas. E aí nós ouviremos sua voz; o silêncio interior é muito difícil, mas nós devemos fazer o esforço de orar. Neste silêncio, nós encontraremos uma energia nova e uma unidade real. A energia de Deus se tornará nossa, a fim de bem cumprirmos todas as coisas. Unidade de nossos pensamentos com seus pensamentos, unidade de nossas preces com suas preces, unidade de nossos atos com seus atos, de nossa vida com sua vida…

Todas as nossas palavras serão inúteis, se não provierem do fundo do coração; as palavras que não transmitem a luz de Cristo só aumentam a escuridão…

Esforçai-vos por caminhar na presença de Deus, por ver Deus em todos aqueles que encontrardes, por viver ao correr de todo o dia a vossa meditação matutina. Mormente nas ruas, resplandeça em vós a alegria de pertencer a Deus, de viver com Deus, de serdes d’Ele. Por este motivo, nas ruas, nas favelas e em vosso trabalho, silêncio que Jesus guardou durante trinta anos em Nazaré e ainda guarda constantemente no tabernáculo, a interceder por nós. Rezai como rezou Maria, pois ela conservou tudo em seu coração, pela oração e pela meditação, e continua e fazê-lo sem cessar, já que é a medianeira de todas as graças.

Tão simples é o ensinamento de Cristo que até uma criancinha pode balbuciá-lo. Os apóstolos disseram: “Ensina-nos a orar”. E Jesus respondeu: “Quando orardes, dizei: Pai nosso…”.

Retirado do livro: “Trago-vos o Amo”. Madre Teresa de Calcutá.

Fonte: https://cleofas.com.br

A Virgem Maria poderia ter dito não ao plano de Deus?

Fred de Noyelle / Godong
Por Morgane Afif

Maria era realmente livre para aceitar o projeto de Deus para ela? Ela poderia ter dito não a Deus quando o anjo Gabriel foi visitá-la?

“Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.”

(Lc 1, 38)

A resposta de Maria ao anjo Gabriel, que veio anunciar-lhe que dela nasceria o filho de Deus, foi definitiva. À vontade do Senhor, Maria responde com o “fiat”, o sim completo e irrevogável. Mas ela realmente tinha escolha? 

“‘Deus enviou o seu Filho’ (GI 4, 4). Mas, para Lhe ‘formar um corpo’, quis a livre cooperação duma criatura. Para isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré, na Galileia, ‘virgem que era noiva de um homem da casa de David, chamado José. O nome da virgem era Maria’ (Lc 1, 26-27)”.

CIC, 488

Então Maria foi predestinada para se tornar a Mãe do Salvador. Essa predestinação, ou seja, o fato de ter sido, literalmente, “reservada antecipadamente”, por tudo isso a privou de sua liberdade? 

Assim o esclarece o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX na sua bula Ineffabilis Deus: “A Santíssima Virgem Maria foi, no primeiro momento de sua concepção, por uma graça e favor singular de Deus Todo-Poderoso, em vista dos méritos de Jesus Cristo Salvador da raça humana, preservada intacta de toda mancha de pecado original.”

Portanto, Maria, desde o ventre, esteve inteiramente voltada para o Senhor e entregue à Sua vontade. Assim, Maria consentiu livremente com a vontade de Deus durante a Anunciação.

“O Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para Mãe, precedesse a Encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida”.

CIC, 488

“Eis a serva do Senhor”

A atitude fundamental da Ancilla Domini (serva do Senhor) perpassa todos os momentos da sua relação com Jesus, desde a alegria até à cruz. É através da aceitação total e incomensurável da vontade divina que Maria abraça o projeto de Deus.

 Isso é parcialmente justificado por Gertrud von Le Fort em Die ewige Frau [A Mulher Eterna] que examina o papel simbólico das mulheres: “Onde quer que haja auto-sacrifício, vê-se irradiar o mistério da mulher eterna”.

Além disso, “ao anunciar que daria à luz ‘o Filho do Altíssimo’ sem conhecer um homem, em virtude do Espírito Santo (cf. Lc 1, 28-37 ), Maria respondeu com ‘a obediência da fé’, certa de que “para Deus nada é impossível”.

 Assim, dando o seu consentimento à palavra de Deus, Maria tornou-se Mãe de Jesus e, desposando de todo o coração, sem que nenhum pecado a contivesse, entregou-se inteiramente à pessoa e à obra do seu Filho. 

O “fiat” mariano, um perfeito “sim” dirigido a Deus

O “fiat” de Maria não é outro senão o “sim” perfeito, que significa em hebraico [אמן] o Amém da verdade provada. É também a sutura onde a fraqueza do gênero humano adere total e misteriosamente à força divina. 

Essa aceitação se desenvolve no silêncio da Virgem que “guarda tudo isso no coração” ( Lc 2, 51). Maria procede da Salvação divina, e é pelo seu “sim” que o Filho de Deus se faz carne. Liberta do pecado original que a escraviza e impede de se entregar totalmente a Deus, Maria pode entregar-se inteiramente ao convite do Senhor para participar, na sua carne, no mistério da Salvação. É precisamente essa liberdade, isto é, esta união perfeita com o Criador, que a torna livre, inteiramente livre, para aceitar ou recusar aderir à Sua Vontade. 

E é precisamente porque Maria é livre que ela pode, consequentemente, pronunciar o seu “fiat ”, pois só é livre quem se entrega a Deus. Isso é o que justifica o fato de ela abraçar total e irrevogavelmente o desígnio do Senhor, mesmo ao pé da Cruz, oferecendo também o seu Filho pela Salvação do mundo.

A Anunciação à Santíssima Virgem Maria.
Renata Sedmakova | Shutterstoc


Fonte: https://pt.aleteia.org/

''Cristãos e muçulmanos: promotores de amor e amizade''

A oração do Ramadã em Omã (Vatican News)

Este é o título da mensagem do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso para o mês do Ramadã e ʿīd al-fir, assinada pelo cardeal prefeito Ayuso Guixot: "as diferenças podem ser percebidas como uma ameaça", mas o objetivo é "manter nossa casa comum um lugar seguro e agradável, onde possamos viver juntos em paz e alegria".

Andrea De Angelis – Vatican News

A educação das gerações futuras, o respeito à diversidade no conhecimento de que as diferenças às vezes podem parecer uma ameaça, o objetivo comum da casa comum. Estas são algumas das passagens da mensagem do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso por ocasião do mês do Ramadã e ʿīd al-fiṭr. O texto, assinado pelo cardeal prefeito Miguel Ángel Ayuso Guixot e pelo secretário monsenhor Indunil Kodithuwakku Janakaratne Kankanamalage, também enfatiza a atenção dada às novas formas de comunicação, com particular referência às mídias sociais.

Um mês importante para todos

A mensagem parte de um pressuposto: o mês do Ramadã "é importante" não apenas para os fiéis muçulmanos, mas "também para vossos amigos, vizinhos e fiéis de outras religiões, especialmente os cristãos". Durante este tempo "as amizades existentes são fortalecidas e outras são construídas, abrindo o caminho para uma convivência mais pacífica, harmoniosa e alegre, e tudo isso "corresponde à vontade divina para nossas comunidades, para todos os membros e comunidades da única família humana".

As ameaças da cultura do ódio

Em seguida, o texto apresenta os desafios que a comunidade internacional enfrenta hoje, do extremismo ao radicalismo, sem subestimar as controvérsias, disputas e violência de motivação religiosa. "As ameaças - diz o texto - são alimentadas pela cultura do ódio. Precisamos, portanto, encontrar as formas mais adequadas para combater e superar esta cultura, fortalecendo ao invés disso o amor e a amizade, particularmente entre muçulmanos e cristãos, em virtude dos laços que nos unem". Daí, a oportunidade de "compartilhar convosco algumas reflexões a este respeito, esperando receber também as vossas". Os prelados enfatizam como tudo deriva da atitude de um em relação ao outro, "particularmente quando existem diferenças entre nós em matéria de religião, etnia, cultura, língua ou assuntos políticos". Embora "as diferenças possam ser percebidas como uma ameaça", cada um, entretanto, "tem direito à sua identidade específica com seus diferentes componentes, sem, porém, ignorar ou esquecer o que temos em comum".

Agressão social

A mensagem também enfatiza as "atitudes e comportamentos negativos para com aqueles que são diferentes de nós", destacando como infelizmente são numerosos, entrelaçados de "suspeita, medo, rivalidade, discriminação, exclusão, perseguição, polêmicas, insultos e maledicência, para citar apenas alguns". Neste contexto, também "as plataformas de mídia social são espaços comuns para tais comportamentos prejudiciais, pervertendo seu papel de meios de comunicação e amizade a instrumentos de inimizade e luta". A este respeito, a mensagem lembra o que Francisco escreveu na Fratelli tutti: "Assim como defendem seu isolamento consumista e cômodo, as pessoas optam por se apegar constantemente e obsessivamente. Isto favorece o pulular de formas incomuns de agressão, de insultos, maus-tratos, ofensas, fustigações verbais a ponto de demolir a figura do outro, com uma impetuosidade que não poderia existir no contato corpo a corpo porque todos nós acabaríamos destruindo uns aos outros. A agressão social - escreve o Papa - encontra nos dispositivos móveis e nos computadores um espaço de difusão inigualável".

Promover uma cultura da amizade

"Os opostos dos comportamentos negativos acima mencionados - continua a mensagem - são respeito, bondade, caridade, amizade, cuidado mútuo para com todos, perdão, cooperação para o bem comum, ajuda para todos aqueles em qualquer tipo de necessidade e o cuidado com o meio ambiente, a fim de manter nossa casa comum um lugar seguro e agradável onde possamos viver juntos em paz e alegria". Para que este comportamento prevaleça é necessário não apenas combater a cultura do ódio, mas também educar as gerações futuras "em todos os espaços em que se formam: na família, na escola, nos lugares de culto e nas mídias sociais". Um mundo no qual – conclui a mensagem – reinam justiça, paz, fraternidade e prosperidade agrada ao Todo-Poderoso e traz alegria, solicitando, portanto, o nosso compromisso sincero e compartilhado".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 27 de março de 2023

O Papa e a glória de Deus

Antoine Mekary | ALETEIA | #image_title
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Cada um de nós pode se perguntar o quanto nos aproximamos mais de Deus seguindo o exemplo do Papa Francisco. Ao fazermos isso, poderemos ter surpresas curiosas.

Há muitos anos, assisti um evento teológico internacional onde os palestrantes eram todos meus amigos. Apenas um deles fez uma exposição que realmente me fascinou. Quando fui dar-lhe os parabéns e comentei minha decepção, ele comentou “eles não têm culpa, apenas ainda não perceberam a glória de Deus”. Não era uma frase presunçosa, ele não queria se considerar superior aos demais. Pelo contrário, queria dizer que não era mais inteligente ou brilhante, apenas tinha a graça de perceber uma beleza que os demais (ainda) não tinham percebido.

O episódio me veio à mente ao ler os vários artigos que foram publicados pelos 10 anos de pontificado do Papa Francisco. A imensa maioria era um balanço das reformas que foram ou não realizadas pelo pontífice e dos desafios que ainda o esperam daqui para frente. Para quem ainda não viu estes artigos, recomendo aquele excelente de Angelo Ricordi, em Aleteia. De certa forma, esse tipo de comportamento é o esperado da imprensa, mas, na maioria dos casos, revela aquela mesma falta de percepção da glória que meu amigo via em nossos colegas. Na vida da Igreja, o mais importante é a glória de Deus – e essa glória não pode ser compreendida em função de mudanças que ocorrem ou deixam de ocorrer.

Compreender um papado, seja ele qual for, implica em perceber as particularidades com as quais a glória de Deus acontece. E “a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus”, como lembra o Catecismo (CIC 294), citando Santo Irineu de Lion. Não quero aqui negar a importância das reformas iniciadas por Francisco, mas apenas salientar que devem ser vistas como consequências e não como avaliações do que vem acontecendo ou deixou de acontecer.

E não podemos deixar de reconhecer seu papel para todo o mundo de hoje… Francisco se tornou a “pedra de tropeço”, o “sinal de contradição” da sociedade de nosso tempo. Suas muitas fotos abraçando e acolhendo os pobres; as imagens do velho solitário, numa Praça de São Pedro vazia, sob um céu escuro e pesado, rezando a Deus por um mundo tomado pela pandemia (27 de março de 2020) são grandes símbolos das agruras e esperanças de nosso tempo. Para nossa humanidade ferida pelos descaminhos da economia global, pela exclusão, pelo preconceito e pelas consequências da COVID, Francisco vem sendo um grande sinal de esperança.

O que Francisco se propôs a fazer?

Antoine Mekary | ALETEIA | #image_title

“Desejo uma Igreja pobre para os pobres” (Evangelium gaudium, EG 198). Desde suas primeiras declarações, desde a escolha de seu nome como papa, Bergoglio deixou claro que esse era o objetivo de seu pontificado. É fato que a pobreza evangélica é um conceito muito mais complexo que a pobreza econômica. Uma Igreja pobre não é tanto materialmente pobre, é — principalmente – uma Igreja que põe tudo o que tem a serviço dos necessitados, que se despe de seu poder para estar próximo dos mais fracos, que não se deixa levar pela arrogância e proclama a Verdade com absoluta humildade. Os pobres de espírito, que herdarão o Reino dos Céus, são mais que pobres materiais, são todos aqueles humildes que se abandonam à Providência divina, sem se importar com os ganhos materiais, mas procurando sempre o bem dos irmãos.

Por outro lado, aqueles pobres a quem se dirige essa Igreja pobre, desejada por Francisco, são – objetivamente – aqueles que sofrem privações materiais, os que são excluídos e descartados em nossas sociedades, os discriminados e os párias – e, nesse sentido, a Igreja desejada por Francisco faz sim uma opção por alguns grupos sociais. Não se trata, como bem lembram as várias discussões sobre a teologia da libertação realizadas nas últimas décadas, de uma opção excludente. Esses pobres não são os únicos amados e desejados por Deus. Mas quem não optar por eles estará se distanciando do coração de Deus…

Vendo sob essa ótica, não há como negar o sucesso do papado de Francisco. A glória de Deus se manifestou claramente nesses 10 anos por meio de um ancião que mostrou ao mundo o que era a bondade, a atenção pelos últimos, a busca por justiça. Quem tem olhos para ver, que veja; quem tem ouvidos para ouvir, que ouça. Os sinais de Deus são sempre discretos, não se impõem à liberdade humana. Cada um de nós pode ver, em Francisco, aquilo que quiser. Quem quiser reduzi-lo a um líder carismático, mas cooptado pelas ideologias, poderá reduzi-lo nessa perspectiva. Quem já se acha tão bom que não precisa se converter ao seu exemplo, poderá agir assim. Quem quiser achá-lo “um cara legal” e seguir pela vida sem se sentir provocado por seu testemunho, também poderá agir assim. 

Um caminho que começa com cada um de nós

Antoine Mekary | ALETEIA

Com uma clareza que poderia envergonhar muitos pensadores e influenciadores católicos, Barack Obama declarou que “raro é o líder que nos faz querer ser pessoas melhores. Papa Francisco é um desses líderes”. Não desejo aqui fazer uma nova avaliação do pontificado de Francisco, de seus êxitos e desafios, apenas quero me remeter a essa constatação de Obama: a grande importância de Francisco, para cada um de nós, é sua capacidade de nos aproximar mais de Cristo, de favorecer um encontro (ou um reencontro) que muda nossa vida.

Cada um de nós pode se perguntar o quanto nos aproximamos mais de Deus seguindo o exemplo do Papa Francisco. Ao fazermos isso, poderemos ter surpresas curiosas. Talvez aqueles que mais parecem se identificar com seu pensamento tenham sido os menos impactados: imaginaram que já conheciam sua proposta e não se perguntaram em que podiam mudar. Por outro lado, outros que estavam objetivamente distantes podem ter passado por grandes mudanças, terem percebido com mais clareza o significado do amor de Deus por eles e estarem se aproximando cada vez mais de Cristo. O nosso coração é um mistério insondável até para nós mesmos – mas é o espaço de ação preferencial para a graça.

E as reformas da Igreja? Elas sem dúvida têm acontecido. Talvez não do modo e com a velocidade que cada um de nós ou o próprio pontífice gostaríamos. Mas, aqui vale a citação de Madre Tereza de Calcutá, que ele mesmo fez no início de seu pontificado, falando aos jovens no Rio de Janeiro: “Por onde começar? Por cada um de nós, por eu e você”. Independentemente do sucesso maior ou menor de Francisco, ao propor reformas na Igreja, seu êxito se manifesta em primeiro lugar no coração de cada um de nós, no quanto nos deixamos aproximar de Cristo e de nossos irmãos que mais sofrem nessa “década de Francisco”.


Papa Francisco e os escribas e os fariseus de plantão!

Papa Francisco  (Vatican Media)

Francisco, com seu testemunho, despiu-se das mundanidades pontifícias e tem sido capaz de encarnar a reviravolta evangélica, onde o primeiro se faz o último, o senhor torna-se servo, o grande ocupa o lugar do pequeno.

Padre Jaldemir Vitório – Jesuíta

O Papa Francisco acaba de completar 10 anos, desde que foi eleito para assumir a liderança da Igreja Católica. Ao longo dessa década, tive o desprazer de vê-lo sendo atacado, impiedosamente, por católicos ditos conservadores, que transformam a defesa da “tradição” num cavalo de batalha, que os coloca na contramão do Papa, a quem se sentem no direito de ofender, sem escrúpulos.

Pelo que percebo nas opções e nas preocupações de Francisco, tudo está na mais perfeita sintonia com o Evangelho e ninguém será capaz de denunciar nele um só atropelo do que está nas catequeses evangélicas. Seu diferencial, na condição de Papa, consiste, deveras, em colocar em prática o que Jesus nos ensinou e nos ensina, na linha da preocupação com os mais fragilizados do nosso mundo, da busca do perdão e da reconciliação, do esforço de sermos “Igreja em saída” à procura da humanidade caída nas periferias sociais, como o homem semimorto da parábola do bom samaritano, da descoberta da sinodalidade como estilo de vida eclesial contrário ao clericalismo, da preocupação com a sustentabilidade da Casa Comum, como exigência da fé.

Francisco, com seu testemunho, despiu-se das mundanidades pontifícias e tem sido capaz de encarnar a reviravolta evangélica, onde o primeiro se faz o último, o senhor torna-se servo, o grande ocupa o lugar do pequeno. Seu raio de visão vai além da catolicidade para atingir o ser humano de toda língua, etnia, cultura, ideologia e religião. Num contexto marcado por tantas formas de divisão e de preconceito, o Papa denuncia a cultura da indiferença e desce do seu trono para se pôr no nível dos seus muitos interlocutores e, em alguns casos, em nível inferior, como no gesto impactante de se ajoelhar e beijar os pés do presidente do Sudão do Sul, suplicando-lhe o fim das violências e da guerra, naquele país africano. Coisa impensável para os papas semideuses, intocáveis em sua condição de “representantes de Cristo na terra”. O grande mérito de Francisco, no meu entender, consiste em mostrar ser possível transformar o Evangelho em “estilo de vida”, embora, exercendo uma missão que o coloca entre os mais altos líderes mundiais. Ele tem sabido, como ninguém, lançar-se todo no serviço do Reino de Deus, nos passos de Jesus de Nazaré!

O Evangelho de Mateus, objeto de minhas pesquisas acadêmicas, há várias décadas, oferece-me uma chave para intuir o motivo da rejeição de Francisco por uma larga faixa de pessoas que se dizem católicas, de leigos a cardeais. Trata-se dos personagens da narrativa evangélica chamados de “escribas e fariseus”, onipresentes no ministério de Jesus, sempre à espreita para flagrá-lo em alguma palavra, para poderem denunciá-lo às autoridades religiosas e tirá-lo de cena (Mt 19,3; 22,15). Vejamos algumas situações. Acusam-no de blasfêmia (Mt 9,1-8). Atribuem-lhe ter pacto com Belzebu, o chefe dos demônios (Mt 9,32-34; 12,22-28). Irritam-se ao vê-lo comer com os pecadores e gente mal afamada (Mt 9,10-13). Põem em dúvida sua autoridade, exigindo-lhe um “sinal” que lhe comprove a origem divina (Mt 12,38-42). Criticam-no como violador das tradições dos antepassados, pois não se importa com o preceito da pureza ritual (Mt 15,1-9). Onde quer que esteja fazendo o bem, lá estão eles sempre prontos para criticá-lo, por serem do contra e decididos a partir para uma guerra sem tréguas.

Os escribas e os fariseus estão ligados, de cheio, à morte de Jesus (Mt 16,21; 20,18). A certa altura do seu ministério, decidem eliminá-lo, ao vê-lo curar, em dia de sábado, um homem cuja mão era atrofiada (Mt 12,14). Entretanto, ele sabe estar lidando com pessoas perigosas e inescrupulosas, e as denuncia com terríveis invectivas (Mt 23,1-39). Com certeza, estavam conluiados com as autoridades religiosas que levaram Jesus a Pilatos, autoridade romana, a quem pediram a pena capital de crucificação para aquele que consideravam maldito de Deus (Mt 27,1-2).

Os escribas e fariseus, na catequese mateana, encarnam o tipo de pessoas religiosas, muito apegadas à Lei de Deus, a qual cumprem de maneira obsessiva, sem omitir qualquer detalhe. Antes, preocupam-se em encontrar novas exigências, de modo a demonstrarem uma fidelidade a Deus a toda prova. Jesus, porém, reconhece tratar-se de um bando de hipócritas e exibicionistas (Mt 6,1-18), menos preocupados de serem fiéis a Deus do que apegados a uma tradição a ser levada adiante a ferro e fogo. O resultado dessa religião intolerante é bem conhecido: tornaram-se culpados pela morte iníqua do justo Filho de Deus (Mt 27,54).

A caminhada do Papa Francisco tem muitos pontos de convergência com a de Jesus de Nazaré. Os escribas e fariseus de plantão, com suas múltiplas identidades e categorias eclesiásticas católicas, cuidam de dificultar o ministério papal. Defensores da tradição (a deles!), acusam Francisco de pôr em risco a Igreja, não se importando com a missa em latim, com as indumentárias papais, com o glamour pontifício, tampouco com o rigor da doutrina e da moral (a deles!). Consideram desvio de conduta do Papa a acolhida que oferece a todos, sem qualquer distinção e o fazer-se próximo de todos, recusando-se a apontar o dedo para os considerados pecadores por seus detratores. Tratam o Papa como se fora um anarquista, quando rompe com a “tradicional moral católica” (a deles!) e se pauta pelo princípio da misericórdia, no trato com temas espinhosos da moral. Pensam mal de um Papa capaz de gestos proféticos, às vezes, contradizendo o bom senso cristão, por considerá-lo perigosamente distante do pedestal em que, ao longo de séculos, os papas foram colocados.

Como, no passado, os escribas e os fariseus tudo fizeram para eliminar Jesus, no presente, indivíduos semelhantes estão interessados em apressar a sucessão de Francisco ou anseiam sua morte, na esperança de que se restaure o papado, fazendo-o voltar aos tempos áureos dos papas imperiais, como se via até o Concílio Vaticano II. Como o Pai dos Céus deu razão a Jesus de Nazaré, contradizendo seus inimigos, haverá de dar razão a Francisco, cujo empenho em fazer a Igreja Católica voltar aos trilhos do Evangelho se tornará divisor de águas de uma história milenar, em que nem sempre os papas deram ouvidos à voz do Mestre, a clamar: “convertam-se e creiam no Evangelho!”

Jaldemir Vitório, SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF