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terça-feira, 30 de abril de 2024

CATEQUESE: Disponível como argila

Disponível como argila (Cléofas)

Disponível como argila

 POR PROF. FELIPE AQUINO

“O Senhor Deus plasmou o homem com o pó da terra” (Gn 2,7)

Eu, naquele entardecer da criação, senti passos no jardim. Era ele, O SENHOR DA CRIAÇÃO. Acontece que, nesse entardecer, ele parou, inclinou-se, com um olhar carregado de amor. E, de repente, juntou-me do chão, a mim, pobre e pequeno punhado de terra e ficou a me olhar pensativo… Remexeu-me longamente… longamente… com todo carinho!

E, então, começou a me amassar: primeiro, retirou de mim uma porção de impurezas que o atrapalhavam: pedrinhas, pedacinhos de pau, ciscos. E eu fui ficando terra pura, do seu gosto. Fez ainda operações, que eu não compreendia, nem poderia compreender: “Pode por acaso um vaso dizer ao oleiro: eu entendo disso mais do que você?” (Is 29,16).

Eu nada perguntei. Oferecia simplesmente o meu ser em disponibilidade de amor. Deixava-me trabalhar. Deixava que ele me fizesse. Porque eu sabia que era obra sua e que ele transformava com amor.

De fato, fui tomando forma. Uma forma à maneira sua, à sua imagem! Para que haveria eu de servir no futuro? Eu não o sabia. “Como argila nas mãos de um oleiro, assim estava eu em suas mãos” (Jr 18, 6).

E fui-me tornando obra de Deus. “E ele aplicava seu coração em aperfeiçoar-me, pondo cuidado vigilante em tornar-me belo e perfeito” (Eclo 38, 31).

Depois, veio uma etapa difícil. Porque foi um forno superaquecido que ao barro vejo dar força e consistência. É o calor e o valor de minha vida que leva a bom termo a obra de suas mãos, O SENHOR CRIADOR. A cada vaso muito querido, ele dá contornos de eternidade. Então, comecei a olhar em torno de mim. E descobri outros vasos que suas mãos hábeis e cheias de amor haviam amassado e modelado artisticamente. Sem se cansar, dava ele mais outra demão aqueles que não haviam saído bem. Cada um tinha sua forma e sua cor, sem dúvida, isso conforme à destinação no mundo. Mas, do mais humilde ao mais rico, todos eram lindos, todos bem feitos. Ele nos tinha feito como ele bem queria (…).

“Pode, por ventura, um vaso perguntar ao oleiro: por que me fizes­te assim? Não tem o oleiro poder sobre o barro para fazer da mesma argila um vaso de uso nobre e outro de uso vulgar?” (Rm 9, 20-21).

Ó OLEIRO DIVINO, CRIADOR E PAI, permite que se cumpra em mim a obra que começaste. Seja meu projeto o teu projeto sobre mim!

D. Estevão Bettencourt, osb

Fonte: https://cleofas.com.br/

Amizade, conflito e resiliência relacional

Relacionamento interpessoal (Poder da Escuta)

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

AMIZADE, CONFLITO e RESILIÊNCIA RELACIONAL (Parte 12) 

Ninguém pode afirmar com segurança e despreocupação que tem um amigo garantido e ficar tranquilo. Um amigo não é um objeto e a amizade não é um contrato assinado, mas é uma relação viva, sempre atual e condicionada pelo dinamismo de vida dos sujeitos envolvidos e inseridos em contextos variados. 

Se afirmamos que a amizade é relação entre dois ou mais sujeitos, então naturalmente, ela precisa de cuidado, atenção, vontade, dedicação, zelo, discernimento conjunto. Por outro lado, nas relações humanas sobretudo, na experiência de amizade, nem tudo depende da simples vontade dos indivíduos. Como já vimos no artigo anterior, há princípios, valores, virtudes e atitudes fundamentais que comprovam a existência da Amizade. Há poucos meses uma jovem já madura, acima dos 25 anos, me disse que ama profundamente o seu namorado, mas ele, apesar de declarar amor com palavras, é ciumento, violento e lhe agrediu diversas vezes deixando-a com hematomas pelo corpo. E me perguntava: Por que isso acontece? Naturalmente lhe respondi que é porque não se amam, vivem uma relação doentia! 

O amor não é possessivo, agressivo e nem violento. O amor autêntico não gera dependência deixando o outro vivendo à mercê dos seus impulsos; a amizade não é uma relação por pena de deixar o outro na solidão… isso não é amizade! A amizade é uma qualidade de relação possível somente para pessoas maduras e que querem crescer juntas, e sabem se cuidar! Por isso, uma relação tóxica, fria, sem respeito, nem espírito ético, venenosa e agressiva não está alicerçada no Amor! Nessa situação não pode haver amizade!  

 Amizade e vulnerabilidade afetiva 

Há muitos fatores que influenciam profundamente a qualidade de uma amizade, que podem contribuir para o seu fortalecimento ou para o seu fim e, muitas vezes, há até a passagem brusca, da amizade para uma terrível e violenta inimizade. A vulnerabilidade da amizade, ou seja, a possibilidade de mudanças, é natural porque está condicionada à instabilidade do comportamento humano. Mas isso não é motivo para o fracasso.  

Na relação de amizade há sempre um compromisso de gestão recíproca da relação. Ou seja, o teor da experiência de amizade, depende basicamente da maturidade das pessoas envolvidas, sendo capazes de resolver problemas, conflitos, desentendimentos, frustrações etc. Isso implica o cultivo de muitas virtudes para os envolvidos. Uma séria e madura amizade está sempre alicerçada na rocha de muitas virtudes. Sem a existência de uma teia de virtudes, não conseguimos estabelecer compromissos duradouros com ninguém, seja nas relações de amizade, namoro, noivado, matrimônio, na vida profissional ou em qualquer outro compromisso relacional. Portanto, podemos afirmar que pessoas socioafetivamente imaturas, não são capazes de relações de amizade estáveis e profundas. 

Amizade é relação entre sujeitos diferentes, livres, vulneráveis, passíveis de muitas situações imprevisíveis; mas, ao mesmo tempo, a amizade é relação entre pessoas cheias de recursos e, por isso, capazes de sonhar, querer, lutar, crescer, discernir, perseverar em bons propósitos. Um dos fatores que possibilitam a estabilidade de uma amizade é a questão da formação humana. Quem não amadureceu e nem desenvolveu a sua dimensão socioafetiva, dificilmente terá condições de estabelecer estáveis relações de amizade. Pessoas afetivamente imaturas são possessivas, violentas, agressivas, fechadas, autodefensivas, egoístas, interesseiras, ciumentas, intolerantes, oportunistas, desconfiadas, facilmente interpretam mal gestos, atitudes e palavras.  

Todavia, a experiência da amizade madura, pressupõe um dinamismo profundamente diferente, rico de conteúdos positivos e promotor da formação recíproca, porque está baseada na abertura, na comunicação, no diálogo, na escuta, no perdão, na compaixão, no respeito, na confiança, na correção mútua, na solidariedade, na corresponsabilidade, na compreensão dos limites do outro. 

A experiência da amizade é uma relação entre sujeitos carregados de virtudes, valores, crenças, bem como, de fragilidades, defeitos e tendências negativas. Quem está em busca de um amigo perfeito jamais o encontrará. E mesmo o amigo fiel, não é perfeito! 

Dizia o filósofo Blaise Pascal que o ser humano é como um monte de grandezas e misérias. Considerando essa condição, a realização dos nossos bons propósitos, muito dependerá dos nossos investimentos pessoais de força de vontade, de inteligência relacional, de valores que cultivamos, de virtudes nas quais nos treinamos, de reflexão e discernimento nas variadas circunstâncias da vida. Amizade é vida e, por isso, está sempre inserida numa grande variedade de situações.  

 A experiência da diversidade

Apesar de constituirmos uma única humanidade, todos os seres humanos são diferentes entre si. A experiência da amizade só é possível porque somos diferentes, essa diversidade possibilita o nosso enriquecimento recíproco. Quem procura uma pessoa igual a si mesma, para ser sua amiga, jamais fará a experiência da amizade. Na verdade, esse é um desejo narcisista que tem como intenção uma relação dominadora, possessiva, exploradora. A pessoa narcisista é alguém profundamente apegada a si mesma, que fica sempre projetando sobre os outros a própria imagem e se impondo sobre elas; esse não é o figurino da amizade autêntica, que é encontro de pessoas diferentes, que se acolhem incondicionalmente, se conhecem, se identificam, divergem, compartilham o que pensam, sentem e vivem; se complementam, se respeitam, se corrigem, se ajudam.  

Por outro lado, essa experiência da diversidade também ocasiona a possibilidade do surgimento do conflito, do desentendimento, da frustração nas expectativas pela falta de correspondência. A questão da diversidade humana é ampla; não envolve somente os aspectos físicos, mas diz respeito à dimensão psicológica, afetiva, sexual, mental, religiosa, vocacional, moral, cultural, existencial (experiência de vida) etc. Dessas dimensões ricas de diferenças, temos consequentemente, a diversidade de atitudes e comportamento dos amigos por causa da variedade de crenças, sensibilidades, gostos, interesses, expectativas, modos de entender os valores, convicções religiosas e morais, opções políticas e esportivas, histórias vividas pessoalmente na família e com outros. A experiência da amizade não nega e nem neutraliza aquilo que o outro é (a sua identidade) e nem a sua história.  

 Conflito, reconciliação e resiliência 

No livro do profeta Jeremias encontramos um versículo muito interessante. Deus manifesta a sua convicção de amor para com o povo lhe dizendo através do profeta: “Eu te amo com amor eterno e te reservo misericórdia” (Jr 31,3). O que mais nos chama atenção nesse versículo não é a declaração de amor eterno de Deus para com o povo, mas é o fato de Deus declarar o seu amor eterno considerando a fragilidade do povo. É por isso que lhe reserva a misericórdia, ou seja, o perdão. O fato de Deus amar o povo, não significa negar sua fragilidade e a possibilidade de erros e traição.  

Amar não significa negar os defeitos do outro! Quem faz da pessoa amada um ser perfeito não considerando sua realidade ambivalente, corre o perigo de uma séria frustração. Uma das mais fortes manifestações da fragilidade de uma amizade é o idealismo. A experiência da amizade entre sujeitos perfeitos só acontece na Santíssima Trindade.  

Quanto mais idealizamos os nossos amigos mais corremos o perigo de uma grave frustração por causa da excessiva expectativa e do esquecimento de que o outro é profundamente humano e pode errar. Isso não significa reconhecer suas virtudes e admirá-los. Mas é na experiência da sábia e serena gestão do erro do outro, que podemos dar testemunho da grandeza do nosso amor para com ele. Onde há idealismo amistoso, há também perfeccionismo e intolerância. Pessoas assim, não conseguem estabelecer uma relação de amizade, porque amor e perdão caminham juntos.  

Uma das mais significativas formas de manifestação de maturidade afetiva entre os amigos é a experiência da resiliência, ou seja, quando os amigos são capazes de sofrer, perdoarem-se, reconciliarem-se e restaurar a experiência da Amizade sem ficarem com mágoas recíprocas. A experiência de amizade longeva e madura é consequência da resiliência. Amigos verdadeiros são capazes de testemunhar o amor entre si através do perdão, da paciência, da delicadeza, da reconciliação. Todavia, quando alguém desconsidera a corresponsabilidade na manutenção da amizade, quando há pertinácia em graves erros com a traição da confiança, a violência, prejuízos econômicos e muitas formas de abusos, o fracasso da amizade é inevitável.  

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Por que não é bom idealizar os amigos? 

O que é a resiliência relacional? 

Por que não é admissível a “amizade líquida”?

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Fé e família na nova evangelização (1/3)

Fé e família na nova evangelização | Opus Dei

Fé e família na nova evangelização

Num texto do Magistério sobre a família, o Papa João Paulo II afirmava que “a família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura”.

14/05/2014

Num texto do Magistério sobre a família, o Papa João Paulo II afirmava que “a família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura”[1].

Com estas palavras, o Papa observava como a perda do sentido do compromisso ou do amor que se percebe em alguns ambientes, embaçou progressivamente o valor, a natureza e a missão da família, provocando a desorientação de muitas pessoas.

Trinta anos depois, esta observação continua plenamente vigente e não nos desanima, mas estimula o nosso otimismo humano e sobrenatural.

O Prelado do Opus Dei recorda com frequência “a família precisa urgentemente de que se reafirme o seu humus originário, querido por Deus na criação, que infelizmente os costumes e as leis civis de muitos países se empenham em perverter”[2]. No contexto marcado pelo Sínodo sobre a Nova Evangelização, este é um momento propício para redescobrir o papel fundamental do matrimônio e da família, pois aqui está em jogo o futuro da Igreja e da humanidade.

A família, igreja doméstica

A família é insubstituível para o homem, pois constitui a célula primeira e original da sociedade; nela o homem e a mulher são acolhidos e tratados pela primeira vez como a sua dignidade requer: com amor desde a concepção até a morte, sendo amados pelo que são. É no lar onde cada pessoa aprende a amar e ser amada. O ser humano precisa da família, não só pela sua fragilidade e pela necessidade que tem dos outros para sobreviver, mas principalmente para atingir a sua plenitude.

Partindo destes princípios, se entende por que a qualidade moral do homem e da sociedade está ligada à família. De fato, o homem e a sociedade serão o que a família for. Precisamos urgentemente compreender que o futuro da humanidade passa por esta instituição: ali onde encontra o seu lugar e é protegida, mantendo em segurança a sua natureza, a sociedade consegue promover o desenvolvimento completo e integral dos seus cidadãos. Pelo contrário, onde é atacada e desprezada, o bem comum é danificado. Por isso proteger a família é “uma tarefa de importância capital, em que os católicos coincidimos com pessoas de outras crenças, ou sem religião alguma, conscientes de que a promoção da família – comunhão de amor entre um homem e uma mulher, indissolúvel e aberta à vida – constrói uma coluna insubstituível para a reta orientação da sociedade, e um fundamento importante para que os homens atinjam a maturidade e a felicidade”[3].

A defesa da família não é uma questão religiosa ou privada. O ser humano, o fundamento da sociedade, nasce e se desenvolve na família. Por isso “Nenhum país do mundo, nenhum sistema político pode pensar no seu futuro senão através da imagem destas novas gerações que assumirão dos pais o múltiplo patrimônio dos valores, dos deveres e das aspirações da nação à qual pertencem, e o de toda a família humana”[4]. Por outro lado, a identidade da família cristã não está circunscrita só nisso. Deus quis lhe dar um papel fundamental para a vida da graça e para a relação de cada pessoa com Deus. A Constituição Dogmática Lumen Gentium afirma que nesta espécie de Igreja doméstica “devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um”[5]. A família cristã é uma autêntica 'igreja doméstica': “participa na vida e na missão da Igreja”[6], pois os casais cristãos “não só 'recebem' o amor de Cristo tornando-se comunidade 'salva', mas também são chamados a 'transmitir' aos irmãos o mesmo amor de Cristo, tornando-se assim comunidade 'salvadora'“[7].

Para cumprir esta missão, é necessário um movimento em duas direções, porque só uma família evangelizada, que acolheu o Evangelho e permitiu que frutificasse nos seus membros, pode ser evangelizadora. Por isso em primeiro lugar a igreja doméstica deve acolher em si mesma a mensagem de Cristo: converter-se num lugar onde se aprende a fé, e em que as relações entre as pessoas são vivificadas pela graça de Deus. Deste modo, a família cristã poderá ser luz para os outros homens, e instrumento de Deus eficaz para a nova evangelização.

maio 2013

© CRIS 2013

___________

[1] Cfr. João Paulo II, Exhort. apost. Familiaris consortio, n. 1.

[2] D. Javier Echevarría, Carta, 2-10-2011, n. 30

[3] D. Javier Echevarría, Carta, 2-10-2011, n. 30

[4] São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 11

[5] Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen Gentium, n. 11

[6] São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 49

[7] São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 49

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Armênia enfrenta ameaça à sua existência 109 anos depois de genocídio

Homenagem a vítimas do gonocídio armênio | KAREN MINASYAN/AFP - Getty Images

Historiadores e ativistas dos direitos humanos marcaram 109 anos do genocídio armênio na semana passada com um alerta de que a Armênia enfrenta mais uma ameaça à sua existência.

A ativista armênia do grupo de defesa da liberdade religiosa Projeto Philos, Simone Rizkallah, disse que “isso parece menos uma lembrança e mais um evento verdadeiramente histórico em que estamos” em entrevista ao EWTN News Nightly na última quarta-feira (24).

O genocídio armênio foi cometido por turcos otomanos em 1915 e matou cerca de 1,5 milhões de cristãos armênios, que apoiaram a Rússia durante a Primeira Guerra Mundial. O Império Turco Otomano lutou ao lado de Alemanha e do Império Austro-Húngaro. Embora o genocídio seja reconhecido por mais de 30 outros países, a Turquia nega a acusação.

O massacre ocorreu há mais de cem anos. Mas o Azerbaijão, outro vizinho muçulmano da Armênia e aliado da Turquia, fez uma tomada violenta da região de Nagorno-Karabakh, e causou a fuga de mais de 100 mil cristãos armênios de suas casas há menos de um ano. O êxodo em massa de armênios étnicos foi considerado um caso de “limpeza étnica” por alguns líderes da comunidade internacional.

Rizkallah teme que, em vez de marcar o fim da agressão do Azerbaijão, Nagorno-Karabakh tenha sido apenas o começo.

“O Azerbaijão e a Turquia continuam agora a ameaçar a Armênia propriamente dita e deixaram bem claro que não vão parar de tomar Artsakh e Nagorno Karabakh, o que já fizeram, mas vão tomar toda a Armênia”, disse ela.

Por que isso importa?

A Armênia é um pequeno país no sul do Cáucaso que tem uma população de aproximadamente 2,9 milhões de habitantes. É um país profundamente religioso e uma dos poucos países cristãos no Oriente Próximo.

Segundo Rizkallah, a Armênia é o país cristão mais antigo do mundo, convertendo-se oficialmente ao cristianismo no ano 301 d.C. Desde então, o povo da Armênia aderiu fortemente ao cristianismo, mantendo a luz da fé na região ao longo dos séculos.

Mas agora, imprensada entre a Turquia e o Azerbaijão, dois países muçulmanos com populações, economias e forças armadas muito maiores, a própria existência da Armênia parece estar ameaçada.

Em outubro passado, o ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, ao qual pertence ACI Digital, que havia “possibilidades reais” de paz com a Armênia “num curto espaço de tempo”.

Na última terça-feira (23), o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, concordou em ceder quatro aldeias fronteiriças ao controle do Azerbaijão. Apesar dos protestos de muitos cidadãos armênios, Pashinyan disse que as concessões eram a única forma de evitar a guerra direta com o Azerbaijão.

Nagorno-Karabakh é um aviso do que está por vir?

A repórter armênia e ativista dos direitos humanos Lara Setrakian disse à CNA que embora a Armênia tenha tentado integrar e abrigar os refugiados de Nagorno-Karabakh, eles vivem em grande parte na pobreza, com “muito pouca esperança de verem as suas casas novamente”, sete meses depois de fugirem de suas casas.

“Algumas dessas pessoas sofreram ferimentos horríveis, muitas perderam familiares. Eles passaram por muita coisa, alguns deles chegaram com sinais de desnutrição. Portanto, a reabilitação destas pessoas tem sido uma tarefa enorme”, disse ela.

O Azerbaijão continua a prender membros da antiga liderança etnicamente Armênia de Nagorno-Karabakh.

O ex-ministro de Estado de Nagorno-Karabakh, Ruben Vardanyan, é um desses prisioneiros, mantido em completo isolamento na capital do Azerbaijão, Baku. Segundo sua família, Vardanyan vem sendo mantido em “condições prisionais cada vez piores”, com muito pouco contato com o mundo exterior.

Setrakian acredita que toda a Armênia se encontra igualmente “numa situação muito difícil”.

Ela explicou que houve um aumento militar “significativo” por parte do Azerbaijão em locais estratégicos ao longo da fronteira dos dois países e disse que a concessão da região de Pashinyan provavelmente não seria a última.

“A Armênia está sendo pressionada pela ameaça da força e pelo uso contínuo da força nas suas fronteiras”, disse ela.

O que acontece a seguir?

Até recentemente, a vizinha Rússia tinha ajudado a manter o equilíbrio de poder na região. Mas em 17 de abril, uma força de manutenção da paz russa estacionada perto da fronteira entre o Azerbaijão e a Armênia desde 2020 retirou-se.

“A Armênia entrou numa fase de fazer concessões e o Azerbaijão tem pedido cada vez mais”, disse ela.

Chegou-se ao ponto de o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, começar a referir-se à Armênia como “Azerbaijão Ocidental” e afirmar que a Armênia “sempre” fez parte do Azerbaijão.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Inteligência Artificial e a Inteligência de Santo Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino (Vatican News)

Percebemos que, para Tomás de Aquino, a teologia é uma ciência rigorosa, que parte da lectio, ou seja, da leitura atenta que busca captar o sentido autêntico do texto bíblico. Entretanto, isso deve levar o leitor à conversão, à oração, à união com Deus e à caridade.

Padre Anderson Alves - Diocese de Petrópolis

J.-P. Torrell, numa excelente biografia sobre Santo Tomás de Aquino, que recomendamos nesse ano, quando celebramos os 750 anos da morte daquele grande santo (Iniciação a Tomás de Aquino. Sua pessoa e obra, Loyola, 1999), fala-nos de como Tomás de Aquino realizava os seus comentários bíblicos, que era a primeira tarefa do professor universitário de teologia na Idade Média.

O seu “Comentário ao livro de Isaias”, primeira obra teológica do jovem “bacharel bíblico” (possuímos um texto autógrafo dessa obra), era dividido em duas partes: a) o comentário literal ao texto, que buscava explicitar a mente do autor, ou seja, o que pensava o autor sagrado ao escrever o texto; b) e, à margem do comentário, havia breves anotações em estilo telegráfico, denominadas posteriormente de collationes, em formas de esquemas e ligadas ao texto principal por traços gerais. A partir de uma frase ou palavra de Isaías Tomás anotava as sugestões que lhe vinham à memória, com vistas da sua aplicação pastoral ou espiritual. As collationes eram compilações da Escritura que inspiram aplicações morais ou espirituais e dizem respeito ao que os medievais chamavam de “sentido místico” da Escritura.

Um exemplo dado por Torrell é o seguinte: Ao comentar Is 48, 17 (“Eu te ensino coisas úteis”), Tomás diz que a palavra de Deus e útil para:

- Iluminar a inteligência, Pr, 6, 23: “O ensinamento é uma luz”;

- Agradar a sensibilidade, Sl 119,103: “Quão doce ao meu paladar tua promessa [tuas palavras]”;

- Inflamar o coração, Jr 20,9: “A palavra do Senhor o inflamou”;

- Retificar a obra, Sl 24,5: “Dirige-me na tua verdade, ensina-me”;

- Obter a glória, Pr 3, 21: “Guarda a ponderação e a prudência”;

- Instruir os outros, 2Tm 3, 16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar...”

Com isso, percebemos que, para Tomás de Aquino, a teologia é uma ciência rigorosa, que parte da lectio, ou seja, da leitura atenta que busca captar o sentido autêntico do texto bíblico. Entretanto, isso deve levar o leitor à conversão, à oração, à união com Deus e à caridade. O último ponto da sua collatio de Tomás afirma que a contemplação da Palavra não é objetivo em si mesmo, mas deve servir para a instrução. A teologia tem uma finalidade prática. Para Santo Tomás, a maior felicidade que o homem pode obter nessa vida é “contemplar e comunicar o contemplado”. Isso o fez escolher a “Ordem dos Pregadores”, fundada poucos anos antes por São Domingos. De fato, os primeiros biógrafos de Tomás dizem que ele aprendeu algo com aquele santo: Santo Tomás “só falava de Deus ou com Deus” (nonnisi cum Deo aut de Deo loquebatur).

E como Tomás fazia essas collationes? A resposta é surpreendente: através de associação de palavras latinas (o que não é percebido nas traduções). Ele buscava citações para cada palavra que teriam causado a sua iluminação. Assim, ao comentar o texto que diz “Eu te ensino coisas úteis”, Tomás procurava na sua memória versículos bíblicos em que apareciam os termos mencionados e ordenava os textos bíblicos de modo esquemático e pedagógico, com o fim de usar isso na sua pregação e conduzir o leitor a Deus.

Ora, essa relação de palavras numa base de dados não é o que o Chatgpt e outros programas similares fazem? O que Tomás fez com muito esforço e dedicação ao longo de muito tempo poderia ser feito agora por programas informáticos em poucos minutos. Isso mostra a genialidade de Tomás de Aquino e como as IAs podem ser bem utilizadas, inclusive em teologia.

Entretanto, uma máquina não reza, não se converte, não pode entrar em comunhão com Deus e com o próximo. Isso é tarefa exclusivamente humana, e usar a tecnologia em benefício do homem, da sua razão, da fé e da vida social, é algo que devemos fazer. A máquina não é capaz de ensinar ética. Somos nós que devemos agir com responsabilidade moral os meios técnicos que podemos construir. Essa tarefa sempre confiada ao homem, e por isso ele é considerado “imagem e semelhança” de Deus.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Pio V, Papa e Confessor

São Pio V (A12)
30 de abril
São Pio V, Papa e Confessor

Antônio Michele Ghislieri nasceu na pequena aldeia de Bosco Marengo, província de Alexandria no norte da Itália, em 1504. Quando rapaz, era pastor de ovelhas. Aos 14 anos ingressou na Ordem Dominicana. Ordenado sacerdote, ocupou sucessivamente vários cargos: professor, prior conventual, superior provincial, inquiridor do Santo ofício em Como e Bérgamo, bispo de Sutri e Nepi próximo a Roma, cardeal, bispo de Mondovi e Papa em 1566, aos 62 anos, com o nome de Pio V. Participou, como bispo, da última sessão do Concílio de Trento (1562-1563).

Este era o período da Contra-Reforma Católica diante do desafio da “Reforma” Protestante, e o Concílio de Trento, um dos mais importante da Igreja, estabeleceu normas claras para a ação da Igreja, que precisavam ser implementadas. Ao mesmo tempo, havia a grave e iminente ameaça da invasão muçulmana dos turcos otomanos na Europa.

Pio V teve uma grandiosa atuação em diversas áreas, em apenas seis anos de Pontificado. Fundamental foi ter colocado em prática os Decretos do Concílio. Neste sentido, publicou a Bula “In Coena Domini”, sobre a custódia da Fé e contra as heresias protestantes, condenando os crimes dos soberanos, com boa repercussão na Itália, Portugal, Polônia e Alemanha; dos países católicos, apenas a França colocou oposição. Excomungou a rainha Elisabeth I da Inglaterra, cismática e perseguidora dos católicos, e abençoou os soberanos que aderiram às mudanças do Concílio. Publicou e difundiu o Catecismo Tridentino, e reformou o Breviário (1568) e o Missal (1570) Romanos, utilizados até 1968. Confirmou a importância do cerimonial.

Trabalhou muito para corrigir e elevar o comportamento do clero e da população: acabou com a simonia na Cúria Romana (“comércio” de favores espirituais como bençãos e indulgências, ou de coisas temporais relacionadas às espirituais, como cargos e benefícios eclesiásticos), reduziu os gastos da Corte Papal, combateu energicamente o nepotismo (aos seus parentes que ambicionam cargos em Roma, disse que deveriam se considerar ricos por não estarem na miséria; afastou da cidade um sobrinho relapso, sob ameaça de pena de morte), aboliu costumes mundanos dos funcionários da Cúria; impôs a obrigação de residência para os bispos, a clausura dos religiosos, o celibato e a santidade de vida dos sacerdotes, as visitas pastorais dos bispos, o aumento das missões, a censura para publicações religiosas (em face das divulgações heréticas). Para dar o exemplo, levava vida santa e austera, dormindo sobre palhas e jejuando com frequência. Auxiliou os necessitados com a criação dos montepios (“Monte de Piedade”), procurando livrá-los dos usurários; dedicava semanalmente dez horas de audiência aos pobres; fundou os hospitais de São Pedro e do Espírito Santo; distribuiu alimentos e promoveu serviços sanitários em 1566, um período de escassez; abriu estradas e reformou aquedutos; proibiu em Roma as touradas e o uso de máscaras.

Além de resgatar a unidade religiosa do continente, conseguiu unir a Europa também politicamente, ao favorecer o fim das guerras internas e criar a Liga Santa, uma coalisão militar, chefiada pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Maximiliano II, em aliança com a República de Veneza e a Santa Sé, de modo a combater os muçulmanos. O confronto decisivo se deu na Batalha (naval, no golfo) de Lepanto (no Mar Jônico, Grécia), em 7 de outubro de 1571, mas o Papa já ordenara o apoio espiritual, com preces públicas e orações penitenciais. Em cada navio exigiu um sacerdote para a confissão dos soldados, que deveriam também rezar o Rosário; colocou um núncio apostólico no porto de saída da armada de guerra, na Sicília (Itália), para abençoar cada navio – que levavam todos o estandarte de Maria – com a imagem de Nossa Senhora.

A frota católica, com 243 navios, enfrentou as 283 naves otomanas num combate de aproximadamente quatro horas. Enquanto rezava o Terço durante este período, Pio V teve uma visão da vitória católica, e mandou tocar todos os sinos em Roma. Ele instituiu nesta data a festa de Nossa Senhora do Rosário (da Vitória), e construiu a igreja de Santa Maria della Victoria, onde está a famosa escultura de Bernini, “Êxtase de Santa Teresa”. Acrescentou também a invocação “Auxílio dos cristãos, rogai por nós”, na Ladainha de Nossa Senhora.

 São Pio V faleceu no dia 1° de maio de 1572, já debilitado por longa doença.

Reflexão:

Gigantesca é a obra de São Pio V, influindo direta e decisiva e positivamente em áreas tão variadas como a reforma de textos litúrgicos, auxílios materiais aos necessitados, e os rumos políticos do continente europeu. Jovem, era pastor de ovelhas, adulto, pastor de almas: seu empenho em colocar em prática as diretrizes do fundamental Concílio de Trento rendeu à Cristandade o élan necessário para se equilibrar após o evento do Protestantismo. De fato, era necessário corrigir os desmandos do clero e do comportamento laxo dos fiéis, unir as nações católicas e combater a iminente e fatal invasão otomana, que colocaria a Europa católica em ruínas. Sem dúvida suas vitórias, particularmente no apoio à armada católica na batalha de Lepanto, se devem à entrega de tudo nas mãos de Nossa Senhora. Orações públicas e penitenciais e a recitação do Rosário, em especial no momento mesmo do confronto, mostram que recorrer a Nossa Senhora, como Ela mesma e Jesus nos pedem, é sempre garantia de proteção e sucesso. Por que nós, os fiéis atuais, diante das batalhas dos nossos tempos, hesitamos em fazer o mesmo? Certamente, são empenhos do diabo nos “distrair” do socorro infalível de Nossa Mãe, pois contra Ela satanás nada pode. A situação de crise interna na Igreja, com dissenções cada vez maiores, evidentes e profundas, a gravíssima situação da política mundial e no Brasil, inúmeras misérias em todo o globo, e o fundamento de todos estes males – o afastamento deliberado do Homem em relação a Deus – mais do que nunca nos clama a implorar: “Auxílio dos cristãos, rogai por nós”!, para que Nossa Senhora do Rosário, da Vitória, traga paz e reine neste mundo. Temos um Lepanto atual, decisivo, pessoal e mundialmente – e só com Nossa Senhora o venceremos. O Rosário é a nossa arma para este combate, e, significativamente, Maria Santíssima, nas Suas últimas aparições ao longo dos séculos, tanto insiste em que o rezemos. Não tornemos a errar por desfazer dos Seus avisos: a crise mundial de hoje é claramente consequência do atraso na Consagração da Rússia, por Ela pedida nas aparições de 1917 em Fátima: “Se atenderem os meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas.” Claríssimo o nosso dever de rezar diariamente o Santo Rosário, mesmo que com esforço.

Oração:

Deus Pai de misericórdia, que nos destes Vossa própria Mãe por protetora, concedei-nos que por intercessão de São Pio V tenhamos a fé, a humildade e a sabedoria de cumprirmos com as nossas tarefas, conforme Vós as evidenciais para nós, e concedei-nos especial confiança e amor à devoção por Nossa Senhora, para garantirmos a salvação pessoal e a paz no mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e a mesma Nossa Senhora. Amém. Nossa Senhora da Conceição Aparecida, rogai por nós.


Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Do Diálogo sobre a divina Providência, de Santa Catarina de Sena

Santíssima Trindade (diocesedesaojoaodelrei)

Do Diálogo sobre a divina Providência, de Santa Catarina de Sena

(Cap. 167, Gratiarum actio ad Trinitatem: ed. lat., Ingolstadi 1583, f.290v-291) (Séc. XIV)

Provei e vi

        Ó Divindade eterna, ó eterna Trindade, que pela união da natureza divina tanto fizeste valer o sangue de teu Filho unigênito! Tu, Trindade eterna, és como um mar profundo, onde quanto mais procuro mais encontro; e quanto mais encontro, mais cresce a sede de te procurar. Tu sacias a alma, mas de um modo insaciável; porque, saciando-se no teu abismo, a alma permanece sempre sedenta e faminta de ti, ó Trindade eterna, cobiçando e desejando ver-te à luz de tua luz.

        Provei e vi em tua luz com a luz da inteligência, o teu insondável abismo, ó Trindade eterna, e a beleza de tua criatura. Por isso, vendo-me em ti, vi que sou imagem tua por aquela inteligência que me é dada como participação do teu poder, ó Pai eterno, e também da tua sabedoria, que é apropriada ao teu Filho unigênito. E o Espírito Santo, que procede de ti e de teu Filho, deu-me a vontade que me torna capaz de amar-te.

        Pois tu, ó Trindade eterna, és criador e eu criatura; e conheci – porque me fizeste compreender quando de novo me criaste no sangue de teu Filho – conheci que estás enamorado pela beleza de tua criatura.

        Ó abismo, ó Trindade eterna, ó Divindade, ó mar profundo! Que mais poderias dar-me do que a ti mesmo? Tu és um fogo que arde sempre e não se consome. Tu és que consomes por teu calor todo o amor profundo da alma. Tu és de novo o fogo que faz desaparecer toda frieza e iluminas as mentes com tua luz. Com esta luz me fizeste conhecer a verdade.

        Espelhando-me nesta luz, conheço-te como Sumo Bem, o Bem que está acima de todo bem, o Bem feliz, o Bem incompreensível, o Bem inestimável, a Beleza que ultrapassa toda beleza, a Sabedoria superior a toda sabedoria. Porque tu és a própria Sabedoria, tu, o pão dos anjos, que no fogo da caridade te deste aos homens.

        Tu és a veste que cobre minha nudez; alimentas nossa fome com a tua doçura, porque és doce sem amargura alguma. Ó Trindade eterna!


Fonte: https://liturgiadashoras.online/

O Mistério da Igreja

O Mistério da Igreja (Catequisar)

O MISTÉRIO DA IGREJA

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

Cadernos do Concílio – Volume 15 

Hoje nos debruçaremos no volume 15 da coleção cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II que traz como tema: O Mistério da Igreja. Muitas vezes quando falamos em mistério pensamos em algo duvidoso, secreto, ou que tenha que ser desvendado, mas na Igreja o mistério tem um sentido diferente, ou seja, buscamos compreender em cada missa o mistério pascal de Cristo, que só será revelado plenamente na eternidade.  

Todas as vezes após a consagração o sacerdote diz: “Eis o mistério da fé”, ou seja, aquilo que acabou de acontecer no altar aos olhos humanos é incompreensível, mas será revelado de maneira plena no céu.  

 Em Cristo depositamos toda a nossa confiança, Ele é a cabeça da Igreja e nós somos os membros. Estamos em comunhão com Cristo, e dessa forma em comunhão com os irmãos. A Igreja vai muito além do templo de pedra e tijolos, a Igreja somos todos nós, de certa maneira, templos do Espírito Santo.  

As quatro notas da Igreja Católica dizem que nossa Igreja é: Una, Santa, católica e apostólica. Una porque essa Igreja é única; Santa porque foi fundada por Cristo e é constituída por homens que estão a caminho da santidade; Católica significa que essa Igreja é universal, ou seja presente no mundo todo; Apostólica quer dizer que essa Igreja provém dos apóstolos, inclusive os bispos são sucessores dos apóstolos. Por isso, a missão da Igreja é salvaguardar a fé e fazer com que cada fiel contemple o mistério.  

A Igreja também pode ser compreendida como mistério, pois justamente como dissemos acima, não foi fundada por mãos humanas, mas pelo próprio Cristo. Essa Igreja permanece de pé até os dias de hoje porque é conduzida pelo Espírito Santo. Através da ação do Espírito Santo, é possível consagrar a Eucaristia, perdoar os pecados e proferir os demais sacramentos. Jesus, no dia de Pentecostes, sopra sobre os discípulos o Espírito Santo e os envia em missão aos quatro cantos da terra, iniciando dessa forma a Igreja primitiva. São mais de dois mil anos de história, por meio do Espírito Santo é possível salvaguardar a fé e conduzir os fiéis ao mistério.  

Cristo é o sacramento do Pai, e consequentemente a Igreja é sacramento de Cristo. A Igreja tem a missão de levar adiante os sacramentos instituídos por Jesus. A missão última da Igreja é a salvação de todos os fiéis, todos os sacramentos são sinais de salvação. Até o último momento da vida de uma pessoa é possível salvá-la, por isso existe o sacramento da unção dos enfermos que é ministrado pelo sacerdote pela cura ou pela configuração à cruz de Cristo, mas também pode ser diante do leito de morte e a pessoa tem oportunidade de se confessar ou se não está lúcida receber a absolvição geral dos pecados.  

O fim último da Igreja é ser sinal de salvação para todos os fiéis, que vem por meio dos sacramentos e que, consequentemente, é o mistério da fé que a Igreja guarda.  

A Igreja revela o mistério escondido através dos séculos todas as vezes que atualiza o mistério pascal de Cristo consagrando a Eucaristia. O mistério pode ser entendido como sacramento, conforme citamos acima. Por isso, se Cristo é o sacramento do Pai, a Igreja é sacramento de Cristo.  

A Igreja é visível e histórica, ao mesmo tempo que ela revela para nós o invisível, provém da Santíssima Trindade e nos revela o plano de amor de Deus para nós. Conforme já dissemos, a Igreja é santa porque foi fundada por Cristo, mas ao mesmo tempo é pecadora, pois é conduzida por homens. O mistério que a Igreja celebra e consequentemente revela é ministrada por homens e esses homens são pecadores como qualquer outro, mas esse mistério acontece e é legitimado graças a ação do Espírito Santo.  

Por parte dos fiéis cabe manter a confissão e a vida de oração em dia, para que não aconteça como dizia o apóstolo Paulo, de comungar a nossa própria condenação. Ao comungar do Corpo e Sangue de Cristo fazemos parte da família de Cristo que é a Igreja. Os membros da Igreja, que somos cada um de nós, batizados e batizadas fazemos parte da família de Deus, que tem Cristo como cabeça, e devemos estar sempre voltados a Cristo.  

No momento da “doxologia final”, ou seja, antes do Pai Nosso, ao final da liturgia Eucarística aquele que preside diz: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”, ou seja, o mistério Eucarístico é apresentado aos fiéis e todo o nosso “Ser” deve ser voltado a Ele. Ele formou uma “família” e quer que todos nós estejamos com Ele até o fim.  

Jesus enquanto esteve entre nós anunciou o Reino de Deus, na verdade Ele próprio era Reino de Deus. A intenção de Deus Pai ao enviar o seu Filho à terra era instaurar aqui o Reino de Deus. Esse Reino consistia em viver a justiça, paz, amor, perdão e misericórdia. Infelizmente, como sabemos, nem todos aderiram a esse Reino proclamado por Jesus, e esse Reino se consolida na Cruz.  

Após a ressurreição, Jesus sopra em Pentecostes o Espírito Santo sobre os discípulos e os envia em missão para continuar aquilo que Ele iniciou. Isso continua até os dias de hoje a Igreja continua a anunciar o Reino de Deus, mas só viveremos concretamente esse Reino na eternidade. Por isso, anunciamos aqui o Reino de Deus e viveremos de maneira plena no céu. Isso também faz parte do mistério de Cristo que é a Igreja.  

Convido a tomarem o volume 15 dessa coleção cadernos do Concílio e ler sobre o mistério da Igreja e buscar nos documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II o que fala sobre o assunto. Continuemos sendo sinal de Cristo nos dias de hoje e anunciemos com alegria o Reino de Deus, tornemos presente o mistério de Deus entre nós.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF