O que leva uma pessoa a deixar tudo para trás, a deixar tudo pelo próximo? Qual a centelha, a motivação que impulsiona alguém a viver pelo outro, a doar o próprio tempo, coragem e entusiasmo? De onde vem a vontade de entregar a vida totalmente a Deus, abraçando o celibato pelo Reino dos Céus?
Perguntas que permeiam os pensamentos de muitos e que muitas vezes são difíceis de responder. Para entender essas escolhas é preciso estar mergulhado no Espírito Santo de Deus, pois Ele é a resposta.
Guiados por este princípio, sete diáconos da Arquidiocese de Brasília serão ordenados sacerdotes neste sábado, 1º de julho, a partir das 8h30. A celebração será presidida por dom Sergio da Rocha, cardeal arcebispo de Brasília, na Catedral Nossa Senhora Aparecida. Este ano, em particular, todos os candidatos são do Seminário Redemptoris Mater, que tem caráter missionário.
Confira o testemunho de vida de três dos sete futuros sacerdotes. Cada um com uma história e despertar únicos para a vocação, mas todos com o mesmo objetivo: serem operários para a grande messe sedenta de Deus – aqui ou em qualquer lugar do mundo.
“A vocação não pode se basear em sentimentos”
“Eu sou o diácono Vinicius de Lima Podda, tenho 26 anos e sou natural da cidade de São Paulo, capital. Quando tinha dezessete anos terminei o ensino médio e, tendo completado dois anos de acompanhamento vocacional, deixei minha casa, minha terra e minha família para ingressar no Seminário Missionário Arquidiocesano Redemptoris Mater de Brasília. Na espiritualidade de nosso Seminário, dado seu caráter missionário, é muito importante a disponibilidade de ir aonde for necessário confiante na providência do Senhor. Digo isso para dizer que não escolhi Brasília para morar, foi Deus quem me enviou para cá, esta é minha terra de missão por hoje. Importa dizer também que, nestes quase dez anos de disponibilidade à missão, não permaneci todo o tempo em Brasília; estive também em outros lugares do Brasil e do mundo: Tocantins, Pará, Minas Gerais e o Oriente Médio foram alguns dos destinos que Deus escolheu para que neles desse testemunho d’Ele.
Tive a graça de ter nascido em uma família cristã que sempre me transmitiu a fé e os costumes católicos de maneira abundante e autêntica. Meus pais, Gilberto e Irma, têm 28 anos de matrimônio e tiveram seis filhos: Vinicius, Estevão, Lucas, Talita, Israel e Raquel; deles sou o primogênito. Além de mim, o terceiro também respondeu ao chamado do Senhor e é seminarista missionário em Washington (EUA).
Penso que não é possível reduzir o chamado do Senhor a um momento isolado da vida, Deus vai fazendo toda uma história e vai manifestando paulatinamente sua vontade. Porém existem momentos específicos onde há uma maior clareza do chamado, momentos nos quais toda a história que Deus vem fazendo se torna diáfana e eloquente.
Destaco um dos vários momentos especiais para mim. Depois de ter entrado no Seminário, estava em uma celebração eucarística aos pés do Monte Sinai, no Egito. Tínhamos, anteriormente, passado horas aos pés do monte fazendo a Lectio Divina do texto da vocação de Moisés e, posteriormente, iríamos subir o monte em oração para rezar a oração da manhã no topo, ao nascer do Sol. Ali Deus me confirmou o chamado. Senti que minha vida tinha um sentido enquanto era um serviço aos outros, como foi a vida de Moisés com relação ao povo de Israel. Deus me falou naquela ocasião. Poderia narrar muitíssimos outros, mas a ocasião não permite fazê-lo. Uma coisa, porém gostaria de dizer: a vocação não pode se basear em sentimentos, mas em fatos, fatos nos quais Deus te fala de verdade.
Para os jovens digo uma coisa: Não tenhais medo de abandonar-vos na vontade do Senhor! Ela não tira nada! Ele dá tudo! Muitos jovens não respondem ao chamado não pela dúvida, mas pelo medo de não ser feliz; as dúvidas são boas e frutíferas. O medo não! É ruim e paralisa. Por isso repito: Não tenhais medo! Deus é fantástico e vos fará felizes! Termino essa pequena exortação citando um salmo que me é muito caro: “põe tua alegria no Senhor e ele realizará os desejos do teu coração” (Sl 37,4). Deus não decepciona nunca!”
“Experimentei o amor profundo d’Ele”
"Meu nome é Cristian Evangelista, tenho 39 anos e sou italiano. Estou no Brasil há dez anos. Sou casula de seis filhos, a minha família sempre foi católica. Morei com os meus pais até eu partir em missão para ser formado no seminário de Brasília.
A minha juventude foi muito difícil e conturbada. Procurei a vida em muitas coisas, mas nunca encontrei. Eu sempre estive inserido dentro da vida da Igreja, sabia que existia um Deus que me amava e que conduzia a minha vida, mas não conseguia permanecer no caminho da salvação. Fiz todo tipo de experiência: bebia, usava drogas, procurava felicidades com as mulheres, em suma, destruía a mim mesmo e àqueles que estavam perto de mim. Fiz sofrer muito a minha família. No fundo não encontrava um sentido na minha vida. Era sempre insatisfeito. Nunca pensei em ser padre. Eu achava que os presbíteros fossem pessoas perfeitas que nunca erraram na vida ou pessoas que eram fracassadas e, por isso, se escondiam por detrás do ministério.
Chegou um momento de angústia profunda, não queria mais viver assim, estava mal no corpo por causa dos vícios e também na alma. Foi neste momento que gritei ao Senhor. Justo naquele período realizou-se a Jornada Mundial da Juventude de Colônia (Alemanha), em 2005. Eu fui e, pela primeira vez, fui sem pretensões, me coloquei à escuta de Deus, abri o meu coração à vontade d’Ele. Foi naquele momento que senti o chamado de Cristo.
Fiz também uma experiência no seminário por 10 dias. Aconteceu que num lugar tão diferente daquilo que era o meu ordinário, pela primeira vez na vida, experimentei a paz. Então me ofereci à Igreja e confiei no seu discernimento – eu sabia que era uma pessoa com muitos vícios e pecados. A Igreja me acolheu e não me julgou, me curou. Comecei a dar valor à vida, à família, às coisas simples. Depois de dois anos me enviaram ao Brasil. Senti desde o começo que o Senhor me esperava aqui. Experimentei o amor profundo d’Ele no perdão dos pecados e na sua fidelidade e confiança para comigo. Somente hoje vejo que Cristo sempre me chamou, a minha vocação nasceu desde o ventre de minha mãe, foi um projeto belíssimo do Senhor."
“Vi que Deus estava me chamando”
"Meu nome é Mateus da Costa dos Santos, até o momento estou como diácono na paróquia Imaculada Conceição, de Sobradinho. Tenho 25 anos, faço 26 no próximo dia 6 de julho. Sou o mais novo dos sete diáconos e serei o padre mais jovem da Arquidiocese. Só por este fato, fico feliz com a eleição que Deus fez comigo, Ele que me chamou muito jovem e me levou por caminhos que não imaginava até chegar à ordenação sacerdotal.
Sou natural de Brasília, nasci em Taguatinga (DF). Quando eu tinha um ano de idade minha família foi morar na cidade de Santa Maria (DF). Sou o segundo de três filhos. Cresci em um lar católico, meus pais sempre me levaram à Igreja. Na simplicidade em que vivíamos, meus pais me educaram com muito zelo, me ensinando a procurar a Deus em primeiro lugar. A educação na fé que recebi dos meus pais me ajudou em primeiro lugar a ser um cristão e depois a poder ter uma base de ajuda e apoio diante do ambiente hostil que cresci, pois Santa Maria era muito violenta. Lembro, com pesar, de muitos amigos próximos e vizinhos que se perderam no mundo do crime e das drogas.
A minha vocação nasceu com o testemunho e a experiência dos padres. Na minha paróquia sempre passaram padres da Arquidiocese que eram missionários. Cresci vendo a forma que eles se relacionavam com as pessoas, como faziam a Igreja crescer e ter mais vida, a forma como pregavam... E fiquei com esse testemunho silencioso no coração durante toda a minha infância e adolescência.
Em 2007, participei de uma peregrinação à Aparecida (SP), quando o Papa Bento XVI veio ao Brasil. Fui com os jovens do Caminho Neocatecumenal,itinerário de fé do qual faço parte até hoje. Foi uma experiência fantástica ver o Papa e pode ver a Igreja viva. Ali vi que Deus estava me chamando. Depois que voltei da peregrinação, fiz um ano de acompanhamento vocacional e aos 17 anos, em 2008, entrei no Seminário Missionário Arquidiocesano Redemptoris Mater de Brasília.
No seminário, foram anos maravilhosos de aprendizado, de experiências e de amadurecimento na vocação. Sou muito grato pela formação que recebi lá. E hoje me sinto muito contente com a vocação, principalmente depois deste tempo de serviço diaconal na paróquia. Em presenciar tantos frutos de Deus, ver o crescimento da comunidade e tantas pessoas ajudadas pela Palavra e pelos Sacramentos."
Por Kamila Aleixo
Arquidiocese de Brasília