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sábado, 24 de fevereiro de 2018

2º Domingo da Quaresma: Escutar a Jesus para superar a violência

+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A Liturgia da Palavra nos convida a escutar Jesus Cristo nesta Quaresma, tempo especial de conversão em preparação para a Páscoa. No centro da passagem da Transfiguração, hoje proclamada, encontra-se o convite do Pai para escutar a voz de Jesus Cristo. “Este é o meu Filho amado; escutai o que Ele diz!” (Mc 9,7). Esta é a atitude fundamental a ser cultivada nesta Quaresma: escutar a voz do Filho Amado! Este é o caminho para que a “transfiguração” aconteça na vida das pessoas, das famílias e da sociedade, tantas vezes, desfiguradas pelas situações de pecado e violência que se abatem sobre tantos.
Escutar a voz de Jesus implica em viver no amor fraterno. A Quaresma deve ser vivida através da caridade, como nos ensina a Igreja. Dentre os principais meios de vivência do amor ao próximo, na Quaresma, está a Campanha da Fraternidade, promovida pela Igreja no Brasil. Ela é um meio especial para a conversão e a verdadeira caridade. “Vós sois todos irmãos” (cf. Mt 23,8) é o lema que inspira a Campanha deste ano, que pretende contribuir para superar a violência e promover a paz.
É tempo de refletir e rezar considerando a gravidade do problema da violência, com suas múltiplas facetas e suas variadas causas. Muitas iniciativas podem ser desenvolvidas, de cunho pessoal, comunitário e social, com a ação dos órgãos públicos e de organizações da sociedade civil. Cada um pode dar sua contribuição para superar a violência e construir a fraternidade e a paz nos ambientes em que vive: nas famílias, nos locais de trabalho, nas escolas, nas ruas e, de modo especial, nas redes sociais. É lamentável a agressividade crescente compartilhada e alimentada por muitos católicos nas redes sociais. Diga não à violência nas redes sociais! Não compartilhe conteúdos ofensivos e desrespeitosos. Não participe de grupos de whatsapp ou de outras redes sociais que disseminam fofocas, fazem linchamento moral e críticas destrutivas, atingindo até mesmo a própria Igreja. É lamentável que haja pessoas ou grupos que se dizem cristãos ou católicos recorrendo à violência para fazer valer a sua opinião e interesses. É pecado grave usar o nome de Deus ou qualquer religião para praticar ou justificar a violência. Quem escuta a voz de Jesus Cristo não alimenta, nem reproduz a violência disseminada na sociedade. Ao contrário, contribui para a paz, através do respeito e do diálogo, da misericórdia e do perdão. Quem escuta a voz de Jesus testemunha a sua palavra “vós sois todos irmãos”, jamais tratando o outro que pensa diferente como um inimigo a ser combatido, mas como um irmão a ser amado, se necessário com a correção fraterna e o perdão. A paz é dom de Deus a ser compartilhado nesta Quaresma.
Arquidiocese de Brasília

domingo, 18 de fevereiro de 2018

PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA 2018

PARÓQUIA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

1º Domingo da Quaresma: Tempo de Conversão e Fraternidade

+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

No início deste tempo litúrgico da Quaresma, a Igreja proclama a Palavra de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Quaresma é tempo especial de conversão em preparação para a Páscoa da Ressurreição do Senhor. “Conversão” implica em dar novo rumo à vida, voltar o coração para Deus e para o próximo. Por isso, na Quarta Feira de Cinzas já ouvimos o convite de Jesus à conversão, ao receber as cinzas. A conversão deve ser vivida através da oração, da penitência e da caridade. A cor litúrgica roxa utilizada no Tempo Quaresmal tem significado penitencial; quer ser sinal e recordação de penitência e conversão. O esforço para superação do pecado, sustentado pela graça de Deus, e a busca de crescimento na vida cristã exigem renúncias.
Quaresma é tempo de perdão e de reconciliação para alcançar a vida nova em Cristo, dom do Ressuscitado ofertado a todos nós. Por isso, é muito importante, no período quaresmal, buscar o perdão de Deus através do Sacramento da Reconciliação, assim como, oferecer o perdão aos irmãos.
A liturgia dos domingos da Quaresma nos oferece um itinerário de catequese batismal, preparando para o batismo ou para a renovação da vida batismal, na noite pascal. Na liturgia de hoje, a referência ao batismo se encontra especialmente na Primeira Carta de Pedro, que faz alusão à arca de Noé, recordada na primeira leitura (Gn 9,8-15). Assim explica esse escrito do Novo Testamento: “À arca corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação” (1Pd 3,21).
A vida nova batismal exige vigilância e combate contra o pecado. O Evangelho (Mc 1,12-15) nos apresenta o episódio das tentações de Jesus no deserto, fazendo-nos pensar nas tentações presentes no mundo de hoje e trazendo-nos a certeza da vitória de Cristo sobre Satanás.  Jesus venceu; com ele, os que lutam contra as tentações também vencerão.
Uma das principais expressões de vivência do amor fraterno, no Tempo Quaresmal, é a Campanha da Fraternidade, promovida pela Igreja no Brasil. A Campanha da Fraternidade está intimamente relacionada à Quaresma, embora deva ser vivida além dela. Ela é um meio especial para a conversão e o amor fraterno. Neste ano, o tema é “Fraternidade e Superação da Violência” e o lema é: “Vós sois todos irmãos” (cf Mt 23,8). Este tema, iluminado pela Palavra de Deus, interpela a todos nós, motivando-nos a dar a nossa contribuição para construirmos a fraternidade e a paz nos diversos ambientes em que vivemos. 
Arquidiocese de Brasília

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Eis o tempo de conversão

Redação (Quinta-feira, 15-02-2018, Gaudium PressPara a Quaresma, o Concílio Ecumênico Vaticano II prescreveu o seguinte: "A dupla índole do tempo quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do mistério pascal. Por isso: a) utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; segundo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior; b) o mesmo diga-se dos elementos penitenciais" (SC 109).
O tempo da Quaresma tem por finalidade preparar a Páscoa renovando a vida cristã do povo de Deus: a liturgia quaresmal conduz à celebração do mistério pascal seja os catecúmenos, através dos diversos graus da iniciação cristã, seja os fiéis, mediante a lembrança do batismo e da penitência.
A Quaresma, tempo forte de conversão na perspectiva da Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como outrora, o povo de Deus caminhou 40 anos no deserto, rumo à Terra prometida (Terra de Canaã) e Jesus que se retirou 40 dias no deserto, preparando sua paixão, morte e ressurreição, assim os cristãos hoje, acompanham os passos do Divino salvador, preparando devotamente a santa Páscoa. Iremos viver os abençoados 40 dias de conversão, penitência, esmola e jejum com sinais concretos de busca do essencial de nossas vidas.
A Quaresma é o tempo da grande convocação de toda a Igreja para que se deixe purificar por Cristo, seu esposo. Nesse sentido, é significativa a leitura do profeta Joel (2,12-18) na Quarta-feira de Cinzas. Enquanto Cristo, santo, inocente, sem mancha (Hb 7,26), não conheceu o pecado (2 Cor 5,21) e veio para expiar os pecados do povo (Hb 2,17), a Igreja, que traz pecadores em seu seio, que é santa, mas sempre necessitada de purificação, nunca deixa, sobretudo neste tempo, de fazer penitência e de se renovar (LG 8).
Durante a Quaresma, toda a Igreja também é chamada, enquanto povo sacerdotal e sacramento de salvação, a empenhar-se, de maneiras diferentes, na obra da reconciliação, que lhe foi confiada pelo Senhor. A Igreja não só chama os homens à penitência mediante o anúncio do evangelho, mas intercede também pelos pecadores. Ela se torna instrumento de conversão e de perdão, sobretudo no sacramento da penitência.
A Espiritualidade Quaresmal é caracterizada pela: Escuta da palavra de Deus: A Palavra de Deus é luz que ilumina nossos passos, chama à conversão e reanima nossa confiança na misericórdia e bondade de Deus. Vamos ouvir o que Deus quer nos dizer nesta quaresma através de Sua Palavra!
Oração: Na quaresma devemos intensificar a vida de oração pessoal e comunitária. Lembramos a via-sacra em família, como momento forte de oração comunitária. Pela oração entramos em sintonia e intimidade com Deus e discernimos sua vontade. Temos também a oportunidade da Lectio divina em nossas pequenas comunidades deixando-nos iluminar e alimentar pela Palavra do Senhor que nos conduz a oração.
Jejum: O jejum e a abstinência são gestos exteriores que expressam nosso esforço de abertura à conversão e mudança interior. Porquanto, a Quaresma é tempo de retomar o caminho do Evangelho, de renovação espiritual, de morte ao pecado e de cultivo da vida nova ou vida da graça.
Caridade: na quaresma somos chamados ao exercício da caridade fraterna e solidariedade com os irmãos. Caridade que se expressa, sobretudo, através da esmola. A esmola é um exercício de libertação do egoísmo. A partilha dos bens materiais é um gesto de caridade cristã que enobrece a alma humana. Porém, dar esmola não é apenas dar dinheiro, roupas e alimentos... É fazer-se doação e entrega aos irmãos no serviço de construção da fraternidade que é expressão do evangelho. Por isso, a Igreja no Brasil promove neste período a Campanha da Fraternidade. A CF é um grande chamamento e mobilização em favor de uma sociedade fraterna, justa e solidária. Neste ano temos como tema: Fraternidade e superação da violência, e como lema: Vós sois todos irmãos. (Mt 23,8)
A pastoral deverá se empenhar antes de tudo na valorização plena da Quaresma litúrgica, que será celebrada "mediante os ritos e orações" em seu significado essencial para vida dos indivíduos e das comunidades. Tal ação pastoral concentrará todo o seu esforço em fazer com que a Quaresma seja orientada à celebração da Páscoa, não reduzida a uma confissão e a uma comunhão, mas como participação no mistério de Cristo morto-sepultado-ressuscitado, que é celebrado no Tríduo pascal, tendo como ápice a vigília do sábado à noite.
Por Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.


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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Dos Sermões de São Bernardo, abade

(Sermo dediversis15:PL 183,577-579)             (Séc.XII)

A busca da sabedoria
Trabalhemos pelo alimento que não se perde. Trabalhemos na obra de nossa salvação. Trabalhemos na vinha do Senhor, para merecermos receber o salário de cada dia. Trabalhemos na sabedoria, pois esta diz: Quem trabalha em mim, não pecará. O campo é o mundo, diz a Verdade. Cavemos nele, pois aí está um tesouro escondido. Vamos desenterrá-lo! É assim a sabedoria, que se extrai de coisas ocultas. Todos nós a buscamos, todos nós a desejamos.
Foi dito: se quereis procurá-la, procurai. Convertei-vos e vinde! Queres saber do que te converter? Afasta-te de tuas vontades. Mas se não encontro em minhas vontades, onde então encontrarei a sabedoria? Minha alma deseja-a ardentemente; se vier a encontrá-la, isto não me basta. Cumpre pôr em meu seio uma medida boa, apertada, sacudida e transbordante. Tens razão. Feliz é o homem que encontra a sabedoria e que está cheio de prudência. Procura-a, pois, enquanto podes encontrá-la; e enquanto está perto, chama-a!
Queres saber como está perto a sabedoria? Perto está a palavra, no teu coração e na tua boca; mas somente se a procurares de coração reto. No coração encontrarás a sabedoria, e a prudência fluirá de teus lábios. Cuida, porém, de tê-la em abundância e que não te escape como num vômito.
Na verdade, se encontraste a sabedoria, encontraste mel. Não comas demasiado, para que, saciado, não o vomites. Come de modo a sempre teres fome. A própria sabedoria o diz: Aqueles que me comem, ainda têm fome. Não julgues já teres muito. Não te sacies para que não vomites e te seja retirado aquilo que pareces possuir, por teres desistido de procurar antes do tempo. Pelo fato de a sabedoria poder ser encontrada enquanto está perto, não se deve deixar de buscá-la e invocá-la. De outro modo, como disse ainda Salomão: assim como não faz bem a alguém tomar o mel em demasia, assim quem perscruta a majestade, sente-se oprimido pela glória.
Feliz o homem que encontra a sabedoria. Feliz, ou, antes, muito mais feliz quem mora na sabedoria. Talvez Salomão queira aqui significar a superabundância. São três as razões de fluírem em tua boca a sabedoria e a prudência: se houver nos lábios primeiro a confissão da própria iniquidade; segundo a ação de graças e o canto de louvor; terceiro a palavra de edificação. Na verdade pelo coração se crê para a justiça, pela boca se confessa para a salvação. De fato, começando a falar, o justo se acusa. Depois, engrandece ao Senhor. Em terceiro, se até este ponto transborda a sabedoria, deve edificar o próximo.
www.liturgiadashoras.org

domingo, 11 de fevereiro de 2018

6º Domingo do Tempo Comum: Jesus e o Leproso

                   + Sergio da Rocha
          Cardeal Arcebispo de Brasília

Temos muito a meditar e a aprender com o episódio da cura do leproso narrado pelo Evangelho segundo Marcos (Mc 1,40-45).  Jesus nos ensina a compaixão e a solidariedade com os que sofrem, a amar os que não são amados, a nos aproximar deles com o coração e os braços abertos, com as mãos solidárias estendidas. Marcos descreve a atitude de Jesus diante do leproso, recorrendo às expressões: “cheio de compaixão”, “estendeu a mão” e “tocou nele” (Mc 1,41). Jesus permite que o leproso se aproxime dele e, em resposta, estende a mão e toca aquele homem. No contexto social e religioso daquele tempo, os leprosos eram intocáveis, totalmente excluídos do convívio social. Com Jesus, um novo tempo começou, uma nova vida chegou para quem era considerado impuro e intocável. A atitude de Jesus Cristo exprime o seu poder de curar o homem por inteiro e, ao mesmo tempo, a sua compaixão pelos que sofrem, trazendo-lhes vida nova.
O leproso nos ensina a caminhar ao encontro de Jesus, com fé, e a buscar a sua misericórdia; a nele crer, confiar e esperar! Com ele, aprendemos também a compartilhar a experiência do encontro com Cristo, fonte de vida nova. A sua atitude, em meio a tanto sofrimento, revela a sua humildade e a sua confiança em Jesus Cristo. Ele “chegou perto” de Jesus, colocou-se “de joelhos”, expressando o reconhecimento de que Jesus poderia libertá-lo daquela triste condição. Ele demonstra a fé em Cristo, confiando no seu poder e na sua misericórdia. Ao divulgar o fato ocorrido, o homem curado leva gente de toda parte a procurar Jesus, mostrando-nos a importância do testemunho cristão.
Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo nos exorta a “fazer tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,32), citando como exemplos, o comer e o beber, atos rotineiros que ficam, muitas vezes, à margem da vida cristã. Além disso, o Apóstolo nos dá o exemplo de tudo fazer em vista do bem de todos, “a fim de que todos sejam salvos” (1Cor 10,33).
Com o Salmo 32, nós reconhecemos a grandeza do amor de Deus, a alegria de ser perdoado e de encontrar nele o nosso refúgio. Nestes dias em que muitos procuram a alegria sem Deus, possamos testemunhar a alegria que vem de Deus!
Estamos para iniciar a Quaresma, tempo privilegiado de oração e penitência, de misericórdia e fraternidade, de perdão e reconciliação. Inicie bem a Quaresma participando da missa da Quarta feira de Cinzas, que continua a ser dia de jejum e abstinência.
Arquidiocese de Brasília

Dia Mundial do Doente

VATICANO, 11 Fev. 18 / 06:00 am (ACI).- Todos os anos, em 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes, a Igreja em todo o mundo celebra o Dia Mundial do Doente, para o qual é publicada uma mensagem pelo Pontífice.
O Dia Mundial do Doente foi estabelecido por São João Paulo II em 1992 e celebrado pela primeira vez em Lourdes, na França, em 11 de fevereiro de 1993. De fato, este Dia é celebrado de forma especial nesse importante santuário mariano.
A mensagem do Papa Francisco para esta 26ª edição da data foi divulgado pela Santa Sé em dezembro de 2017 e tem como tema “Mater Ecclesiae: ‘Eis o teu filho! (…) Eis a tua mãe!’ E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua”.
No texto, o Pontífice assegura que “a imagem da Igreja como ‘hospital de campo’, acolhedora de todos os que são feridos pela vida, é uma realidade muito concreta, porque, em algumas partes do mundo, os hospitais dos missionários e das dioceses são os únicos que fornecem os cuidados necessários à população”.
Confira a mensagem completa do Papa Francisco para o Dia Mundial do Doente deste ano, divulgada em dezembro:
Mater Ecclesiae: «“Eis o teu filho! (…) Eis a tua mãe!”
E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua» (Jo 19, 26-27)
Queridos irmãos e irmãs!
O serviço da Igreja aos doentes e a quantos cuidam deles deve continuar, com vigor sempre renovado, por fidelidade ao mandato do Senhor (cf. Lc 9, 2-6, Mt 10, 1-8; Mc 6, 7-13) e seguindo o exemplo muito eloquente do seu Fundador e Mestre.
Este ano, o tema do Dia do Doente é tomado das palavras que Jesus, do alto da cruz, dirige a Maria, sua mãe, e a João: «“Eis o teu filho! (…) Eis a tua mãe!” E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-A como sua» (Jo 19, 26-27).
1. Estas palavras do Senhor iluminam profundamente o mistério da Cruz. Esta não representa uma tragédia sem esperança, mas o lugar onde Jesus mostra a sua glória e deixa amorosamente as suas últimas vontades, que se tornam regras constitutivas da comunidade cristã e da vida de cada discípulo.
Em primeiro lugar, as palavras de Jesus dão origem à vocação materna de Maria em relação a toda a humanidade. Será, de uma forma particular, a mãe dos discípulos do seu Filho e cuidará deles e do seu caminho. E, como sabemos, o cuidado materno dum filho ou duma filha engloba tanto os aspetos materiais como os espirituais da sua educação.
O sofrimento indescritível da cruz trespassa a alma de Maria (cf. Lc 2, 35), mas não a paralisa. Pelo contrário, lá começa para Ela um novo caminho de doação, como Mãe do Senhor. Na cruz, Jesus preocupa-Se com a Igreja e toda a humanidade, e Maria é chamada a partilhar esta mesma preocupação. Os Atos dos Apóstolos, ao descrever a grande efusão do Espírito Santo no Pentecostes, mostram-nos que Maria começou a desempenhar a sua tarefa na primeira comunidade da Igreja. Uma tarefa que não mais terá fim.
2. O discípulo João, o amado, representa a Igreja, povo messiânico. Ele deve reconhecer Maria como sua própria mãe. E, neste reconhecimento, é chamado a recebê-La, contemplar n’Ela o modelo do discipulado e também a vocação materna que Jesus Lhe confiou incluindo as preocupações e os projetos que isso implica: a Mãe que ama e gera filhos capazes de amar segundo o mandamento de Jesus. Por isso a vocação materna de Maria, a vocação de cuidar dos seus filhos, passa para João e toda a Igreja. Toda a comunidade dos discípulos fica envolvida na vocação materna de Maria.
3. João, como discípulo que partilhou tudo com Jesus, sabe que o Mestre quer conduzir todos os homens ao encontro do Pai. Pode testemunhar que Jesus encontrou muitas pessoas doentes no espírito, porque cheias de orgulho (cf. Jo 8, 31-39), e doentes no corpo (cf. Jo 5, 6). A todos, concedeu misericórdia e perdão e, aos doentes, também a cura física, sinal da vida abundante do Reino, onde se enxugam todas as lágrimas. Como Maria, os discípulos são chamados a cuidar uns dos outros; mas não só: eles sabem que o Coração de Jesus está aberto a todos, sem exclusão. A todos deve ser anunciado o Evangelho do Reino, e a caridade dos cristãos deve estender-se a todos quantos passam necessidade, simplesmente porque são pessoas, filhos de Deus.
4. Esta vocação materna da Igreja para com as pessoas necessitadas e os doentes concretizou-se, ao longo da sua história bimilenária, numa série riquíssima de iniciativas a favor dos enfermos. Esta história de dedicação não deve ser esquecida. Continua ainda hoje, em todo o mundo. Nos países onde existem sistemas de saúde pública suficientes, o trabalho das congregações católicas, das dioceses e dos seus hospitais, além de fornecer cuidados médicos de qualidade, procura colocar a pessoa humana no centro do processo terapêutico e desenvolve a pesquisa científica no respeito da vida e dos valores morais cristãos. Nos países onde os sistemas de saúde são insuficientes ou inexistentes, a Igreja esforça-se por oferecer às pessoas o máximo possível de cuidados da saúde, por eliminar a mortalidade infantil e debelar algumas pandemias. Em todo o lado, ela procura cuidar, mesmo quando não é capaz de curar. A imagem da Igreja como «hospital de campo», acolhedora de todos os que são feridos pela vida, é uma realidade muito concreta, porque, nalgumas partes do mundo, os hospitais dos missionários e das dioceses são os únicos que fornecem os cuidados necessários à população.
5. A memória da longa história de serviço aos doentes é motivo de alegria para a comunidade cristã e, de modo particular, para aqueles que atualmente desempenham esse serviço. Mas é preciso olhar o passado sobretudo para com ele nos enriquecermos. Dele devemos aprender: a generosidade até ao sacrifício total de muitos fundadores de institutos ao serviço dos enfermos; a criatividade, sugerida pela caridade, de muitas iniciativas empreendidas ao longo dos séculos; o empenho na pesquisa científica, para oferecer aos doentes cuidados inovadores e fiáveis. Esta herança do passado ajuda a projetar bem o futuro. Por exemplo, a preservar os hospitais católicos do risco duma mentalidade empresarial, que em todo o mundo quer colocar o tratamento da saúde no contexto do mercado, acabando por descartar os pobres. Ao contrário, a inteligência organizativa e a caridade exigem que a pessoa do doente seja respeitada na sua dignidade e sempre colocada no centro do processo de tratamento. Estas orientações devem ser assumidas também pelos cristãos que trabalham nas estruturas públicas, onde são chamados a dar, através do seu serviço, bom testemunho do Evangelho.
6. Jesus deixou, como dom à Igreja, o seu poder de curar: «Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: (...) hão de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados» (Mc 16, 17.18). Nos Atos dos Apóstolos, lemos a descrição das curas realizadas por Pedro (cf. At 3, 4-8) e por Paulo (cf. At 14, 8-11). Ao dom de Jesus corresponde o dever da Igreja, bem ciente de que deve pousar, sobre os doentes, o mesmo olhar rico de ternura e compaixão do seu Senhor. A pastoral da saúde permanece e sempre permanecerá um dever necessário e essencial, que se há de viver com um ímpeto renovado começando pelas comunidades paroquiais até aos centros de tratamento de excelência. Não podemos esquecer aqui a ternura e a perseverança com que muitas famílias acompanham os seus filhos, pais e parentes, doentes crónicos ou gravemente incapacitados. Os cuidados prestados em família são um testemunho extraordinário de amor pela pessoa humana e devem ser apoiados com o reconhecimento devido e políticas adequadas. Portanto, médicos e enfermeiros, sacerdotes, consagrados e voluntários, familiares e todos aqueles que se empenham no cuidado dos doentes, participam nesta missão eclesial. É uma responsabilidade compartilhada, que enriquece o valor do serviço diário de cada um.
7. A Maria, Mãe da ternura, queremos confiar todos os doentes no corpo e no espírito, para que os sustente na esperança. A Ela pedimos também que nos ajude a ser acolhedores para com os irmãos enfermos. A Igreja sabe que precisa duma graça especial para conseguir fazer frente ao seu serviço evangélico de cuidar dos doentes. Por isso, unamo-nos todos numa súplica insistente elevada à Mãe do Senhor, para que cada membro da Igreja viva com amor a vocação ao serviço da vida e da saúde. A Virgem Maria interceda por este XXVI Dia Mundial do Doente, ajude as pessoas doentes a viverem o seu sofrimento em comunhão com o Senhor Jesus, e ampare aqueles que cuidam delas. A todos, doentes, agentes de saúde e voluntários, concedo de coração a Bênção Apostólica.
Vaticano, 26 de novembro – Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo – de 2017.
Franciscus

Fonte: ACI Digital

sábado, 10 de fevereiro de 2018

São José Sánchez del Río, o menino cristero que morreu mártir

REDAÇÃO CENTRAL, 10 Fev. 18 / 04:00 am (ACI).- São José Sánchez del Río foi um menino que se alistou nas filas dos cristeros e que morreu mártir na perseguição religiosa que o México sofreu na segunda década do século XX.

Nasceu em 28 de março de 1913, em Sahuayo, Michoacán (México).
Em 1926, quando foi decretada a suspensão do culto público em seu país pelo governo de Plutarco Elías Calles, José tinha apenas 13 anos e 5 meses.
Naquele tempo, como resposta à legislação anticlerical que estava orientada a restringir a liberdade religiosa, leigos, presbíteros e religiosos católicos decidiram se levantar com armas em defesa da fé e lhes foi dado o nome de Cristeros.
Estima-se que 250 mil pessoas as perderam a vida na guerra em ambos os lados.
“Joselito”, como é conhecido o pequeno, pediu permissão a seus pais para se alistar como soldado do general Prudencio Mendoza e defender a causa de Cristo e de sua Igreja.
Sua mãe tentou dissuadi-lo, mas ele lhe disse: “Mamãe, nunca foi tão fácil ganhar o céu como agora e não quero perder a oportunidade”.
São José Sánchez del Río foi torturado e assassinado no dia 10 de fevereiro de 1928, aos 14 aos, por oficiais do governo de Calles, porque se negou a renunciar sua fé.
Cortaram-lhe a sola dos pés e foi conduzido descalço até o seu túmulo. Enquanto caminhava, José rezava e gritava “Viva Cristo Rei e a Virgem de Guadalupe!”.
Diante de seu túmulo, foi pendurado em uma árvore e esfaqueado. Um dos carrascos o desceu e perguntou que mensagem deixava aos seus pais. O menino respondeu: “Que viva Cristo Rei e que nos veremos no céu”. Diante dessa resposta, o homem lhe deu um tiro na cabeça e o matou.
São José Sánchez del Río foi beatificado em Guadalajara (México), em 20 de novembro de 2005, pelo Cardeal José Saraiva Martins, e canonizado em Roma (Itália), pelo Papa Francisco, em 16 de outubro de 2016.
Em 2012, estreou ‘Cristiada’, um filme que conta vários momentos da Guerra Cristera e da vida do Beato Anacleto González, de São José Sánchez del Río e de outros santos mártires.
ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF