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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O padre que fracassou

© Daniel Kedinger / Flickr CC/www.flickr.com
 Uma história para nos lembrar que, mesmo nos nossos piores dias, podemos ser luz na vida dos outros.

Está circulando nas redes sociais e grupos católicos de WhatsApp um texto de autoria desconhecida que narra o sentimento de um padre que achava que tinha fracassado em seu trabalho. Anos depois, o testemunho de fiéis mostra o contrário.
Abaixo, reproduzimos o texto para que possamos refletir sobre uma de suas mensagens poderosas: “Nos piores dias da sua vida você ainda pode ser benção na vida de alguém”.

“O PADRE QUE FRACASSOU

O Padre de um pequeno vilarejo chegou à igreja animado e motivado para realizar mais uma missa vespertina. A hora passava e o povo não chegava. Depois de 15 minutos de atraso, entraram três crianças, depois de 20 minutos entraram dois jovens. Então o padre resolveu começar a missa com os cinco irmãos.

No decorrer da missa, entrou um casal que se sentou nos últimos bancos da igreja.
Quando o padre fazia a Homilia, entrou mais um senhor, meio sujo, com uma corda na mão. Desapontado e sem entender o porquê da fraca participação dos fiéis, o padre conduziu a missa animado e pregou com dedicação e zelo.

Quando voltava para a casa foi assaltado e espancado por dois ladrões que levaram a sua pasta onde estavam sua Bíblia e outros pertences de valor. Chegando na casa paroquial, fazendo os curativos das feridas, ele descreveu aquele dia como:

1) o dia mais triste da sua vida,
2)o dia mais fracassado do seu ministério,
3) o dia mais infrutífero da sua carreira.

Após cinco anos, o padre resolveu compartilhar essa história com a igreja. Quando ele terminava de contar a história, um casal de grande destaque naquela paróquia interrompeu-o e disse:

– Padre, o casal da história que se sentou no fundo éramos nós. Estávamos à beira da separação em função de vários problemas e desentendimentos que havia no nosso lar. Naquela noite, decidimos pôr fim ao nosso casamento, mas, primeiro, decidimos vir à igreja para deixarmos as nossas alianças e depois cada um seguiria o seu caminho. Entretanto, desistimos da separação depois de ouvirmos sua homilia, naquela mesma noite. Como consequência, hoje, estamos aqui com o lar e a família restaurados.

Enquanto o casal falava, um dos empresários mais bem sucedidos que ajudava no sustento daquela igreja acenava, pedindo para falar e ao lhe ser dada a oportunidade disse:

– Padre, eu sou aquele senhor que entrou meio sujo com uma corda na mão. Eu estava à beira da falência, perdido nas drogas, minha esposa e meus filhos tinham ido embora de casa por conta das minhas agressões. Naquela noite tentei suicidar-me, só que a corda arrebentou. Então decidi comprar outra. Quando me pus a caminho para comprar uma outra corda, vi a igreja aberta, decidi entrar mesmo sujo com a corda na mão. Naquela noite, a sua homilia perfurou o meu coração e saí daqui com ânimo para viver. Hoje estou livre das drogas, minha família voltou para casa e me tornei o maior empresário do vilarejo.

Lá na porta da entrada da sacristia, o diácono gritou:

– Padre, eu fui um daqueles ladrões que o assaltaram. O outro morreu naquela mesma noite, quando realizávamos o segundo assalto. Naquela sua pasta, havia uma Bíblia. Eu passei a lê-la sempre que acordava pela manhã. Depois de tanto ler, resolvi participar dessa igreja.

O Padre ficou em choque e começou a chorar junto com os fiéis. Afinal aquela noite que ele considerava como uma noite de fracasso foi uma noite muito produtiva.

MORAL DA HISTÓRIA

1- Exerça o seu chamado(trabalho/ missão) com dedicação e zelo independentemente do número de participantes,
2- Dê o seu melhor todos os dias, pois a cada dia você é um instrumento do bem para a vida de alguém,
3- Nos piores dias da sua vida você ainda pode ser benção na vida de alguém,
4- O dia que você considera como o dia mais infrutífero da sua vida na terra, na verdade é o dia mais produtivo no mundo espiritual.
5- Deus usa as circunstâncias ruins da vida para produzir grandes vitórias,
6- Nunca diga:” hoje Deus não fez nada”, só pelo fato de seus olhos nada enxergarem!

Deus o abençoe!”

Aleteia

O sentido do celibato

Apologética
Veritatis Splendor
  • Fonte: CatolicaNet

A fragilidade humana atinge a todos, ninguém está isento, mesmo que sacerdote, religiosa, pastor, pastora.

No caso da sexualidade, o celibato faz parte das normas de um estilo de vida oferecido pela Igreja a quem quiser assim viver. Não é obrigação alguma por parte da Igreja, mas uma opção de fé e amor, de quem escolhe este estilo de vida. Aos que assim desejam viver a Igreja oferece um processo formativo bem longo, com apoio na psicologia, na teologia, na doação caritativa aos outros. Ninguém assume este estilo de vida sem conhecer muito bem, os compromissos e as conseqüências que deles advém. Todo este investimento formativo, que é de sumo valor, não tira da pessoa a possibilidade de rever a opção tomada, em qualquer momento da vida e, também, de errar.

Quando um sacerdote ou um religioso ou religiosa refazem sua opção, mas permanecem na Igreja, portanto, não abdicam da fé cristã ou mudam de religião, continuam atuando ativamente na Igreja, como leigo ou leiga. Apenas deixaram um determinado estilo de vida oferecido por ela e que livremente haviam abraçado.

Se um sacerdote ou religioso ou religiosa falham a seus compromissos, assumidos em plena liberdade como, por exemplo, o celibato, a instituição Igreja, ao saber da questão, tem diversos caminhos a tomar. Um deles, o primeiro, é o diálogo, para ajudar a ponderar e possibilitar a reconsideração da falha para que a pessoa possa voltar, livremente, ao compromisso ou fazer outra opção deixando o exercício do sacerdócio ou a vida consagrada. No caso de aceitação da emenda, a Igreja possibilita à pessoa os meios para se recuperar tanto em nível psicológico, como espiritual e moral. Ao deixar o sacerdócio ou a vida consagrada esta pessoa, como os(as) leigos(as) pode, na Igreja, assumir outro estilo de vida, compatível com o Evangelho. Em casos excepcionais, esgotados todos os caminhos, pode ocorrer sanções fortes, como a expulsão do quadro da vida sacerdotal ou da vida consagrada.

Se há suspeita, denúncia, provas de que se trata de um crime – como por exemplo, estupro, pederastia, pedofilia – segue-se, obviamente o procedimento jurídico comum de processo criminal, com acusação e defesa, e com as consequências que daí decorrem.

Toda e qualquer instituição tem sua imagem ferida quando um de seus membros se desvia de seus compromissos. Um problema a mais, que surge dos escândalos, é que pessoas não suficientemente maduras humanamente ou na fé, facilmente se sentem abaladas em suas convicções, em sua fé e em seu compromisso com a instituição atingida. E há ainda os que facilmente generalizam, passando a desconfiar e a julgar todos os demais daquela instituição: se um padre erra, todos os padres não prestam; se um advogado erra, todos os advogados não prestam; se um político é corrupto, todos os políticos são corruptos.

Contudo não se pode esquecer, mesmo diante de um escândalo, daqueles sacerdotes que dedicam suas vidas ao outro: muitos morrem em nome de sua missão e, principalmente, em nome de seu fiel povo.

Veritatis Splendor

Do Livro da Imitação de Cristo

A Imitação de Cristo « Católico Digital
Católico Digital

(Lib. 3,3)                                     (Séc.XV)

 

Eu ensinei os meus profetas

Ouve, filho, minhas palavras suavíssimas, que superam toda a ciência dos filósofos e sábios deste mundo. Minhas palavras são espírito e vida (cf. Jo 6,63), não ponderáveis por humanas inteligências.  

Não devem ser puxadas para a vã complacência, mas escutadas em silêncio, acolhidas com total humildade e afeição íntima.  

Eu disse: Feliz a quem instruis, Senhor, e lhe ensinas tua lei para que o alivies nos dias maus (Sl 93,12-13) e para que não se sinta abandonado na terra.  

Eu, diz o Senhor, ensinei no início aos profetas e até hoje não cesso de falar a todos. Porém muitos, à minha voz, são surdos e endurecidos.  

Muitos se comprazem em atender ao mundo mais que a Deus; com maior facilidade seguem os apetites de sua carne do que a vontade de Deus.  

O mundo promete coisas temporárias e pequeninas e é servido com imensas cobiças. Eu prometo bens sublimes e eternos e se entorpecem os corações dos mortais.  

Quem me serve e obedece com tanto empenho em todas as coisas, quanto se serve ao mundo e aos seus senhores?  

Cora de vergonha, servo preguiçoso e descontente, porque aqueles estão mais prontos para se perderem do que tu para viveres.  

Mais se alegram aqueles com a vaidade do que tu com a verdade.  

E, no entanto, por vezes se frustra sua esperança,ao passo que jamais falha a alguém minha promessa, nem sai de mãos vazias quem em mim confia.  

O que prometi, darei; o que falei, cumprirei.  

Sou eu o remunerador dos bons e inabalável acolhedor de todos os fiéis.  

Escreve minhas palavras em teu coração e rumina-as com cuidado; serão muito necessárias no tempo da tentação.  

O que não entendes ao ler, entenderás quando te visitar.  

Costumo visitar de dois modos meus eleitos: pela tentação e pela consolação.  

E lhes leio diariamente duas lições: uma, arguindo seus vícios; outra, exortando a progredir na virtude.  

Quem tem minhas palavras e delas faz pouco caso, terá quem o julgue no último dia (cf. Jo 12,48).

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Os políticos católicos não devem promover leis contra a vida dos nascituros, afirma Dom Paglia

Foto referencial. Crédito: Pixabay

VATICANO, 31 ago. 20 / 09:30 am (ACI).- O presidente da Pontifícia Academia para a Vida (PAV), Dom Vincenzo Paglia, assegurou que os políticos católicos não devem promover leis contra a vida dos nascituros.

Ao ser perguntado sobre as ações de presidentes ou legisladores que se dizem católicos e promovem leis a favor do aborto, Dom Paglia disse que “a Igreja é muito clara a esse respeito. É uma resposta do Catecismo. É um grande erro promover legislações sobre o aborto e a eutanásia”.

Assim indicou o Arcebispo italiano no sábado, 29 de agosto, durante sua participação no segundo Encontro Virtual da Rede Pan-Americana pelo Direito à Vida, na rodada de perguntas após sua apresentação “Luzes a partir dos 25 anos do Evangelho da Vida”, por ocasião dos 25 anos da encíclica Evangelium vitae do Papa São João Paulo II.

No evento transmitido pela CELAM, o também Grão-Chanceler do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos do Matrimônio e da Família destacou a importância de usar "o remédio da misericórdia, o remédio da compaixão" para gerar mudanças nas autoridades que lhes permitam ser defensoras do direito à vida.

Por isso, os políticos católicos "devem parar de promover leis contra a vida" dos nascituros. "Não há dúvidas sobre isso!", exclamou.

Depois de especificar que é certo que os políticos tentem melhorar uma "legislação má e pecaminosa" para que seja menos má, Dom Paglia disse que "os políticos cristãos e também os outros políticos devem escutar a validez de apoiar e ajudar a vida de todos e especialmente dos mais frágeis. Nesse sentido, não há nenhuma dúvida”.

Ao ser perguntado sobre a excomunhão dos católicos e o pecado do aborto, o presidente da PAV disse que aqueles que estão envolvidos nisso "certamente estão errados", mas embora "nos interesse a clareza de condenar o erro, devemos fazer de tudo para converter aquele que erra, para ajudar a salvá-lo”.

“Há uma grande responsabilidade da Igreja para que seus membros, antes de tudo, se convertam ao Evangelho da vida, à beleza da vida. É importante evitarmos o trabalho sujo da morte e realizarmos o belo trabalho da vida”, frisou o Prelado.

Sobre a objeção de consciência, Dom Paglia disse que “cada um de nós tem o direito de rejeitar e não obedecer a uma lei que considere profundamente errada. Não é um atentado à democracia. Absolutamente não".

“Deve haver um grande respeito por aqueles que enfrentam objeções de consciência às leis injustas e estão dispostos a pagar pessoalmente o preço que lhes é imposto pelas leis estaduais. Nesse sentido, são homens e mulheres a quem devemos plena admiração, respeito e apoio”, frisou.

O presidente da PAV disse ainda que “a ideologia de gênero é um retrocesso cultural, é um retrocesso”. Além disso, é contrária à diversidade natural da criação de Deus que dispôs que os seres humanos sejam homem e mulher.

“Nós, católicos, devemos apoiar isso com mais força e dizer aos promotores dessa doutrina que estão retrocedendo, que estão indo até mesmo contra a evolução de Darwin. São milhões de anos nos quais a evolução modela o homem e a mulher de maneiras diferentes. A diversidade e a riqueza, esse é o tema. Infelizmente, hoje, uma cultura secular não pode sustentar a força da diversidade”.

Em seguida, Dom Paglia destacou a importância de redescobrir “a aliança do homem e da mulher”, assim como sua “diversidade que permeia e gera vida” no matrimônio e na família.

Sobre as universidades ou escolas católicas onde a doutrina nem sempre é ensinada ou seguida, o Arcebispo disse que “os católicos têm a responsabilidade de refletir sobre os conteúdos da nossa fé e transmiti-los à escola, à universidade, à economia, à política, à arte, à literatura, a todos os setores”.

É necessário então “adquirir uma força maior no transmitir, mais do que no combater” para que o conteúdo da fé seja mais atraente, considerando “os enormes tesouros” da Igreja “que muitos no mundo secular nem sequer sonham ou conhecem. É necessário um orgulho católico mais inteligente".

“A Igreja é muito mais especialista em humanidade do que os demais. Temos o dom do espírito de dizer coisas sábias com mais inteligência do que muitos outros. O problema é acordar do sonho e abandonar o fechamento do interior que nos faz jogar na defesa. Hoje precisamos saber mostrar a altura, a profundidade e a beleza do mistério cristão”.

O presidente da PAV também comentou que no mundo de hoje “o combate à eutanásia não se faz só lembrando a doutrina. É realizado tendo os idosos em casa, acompanhando-os para que vivam até o fim. Esta é a batalha crucial que devemos empreender hoje”.

Dom Paglia também informou que em setembro o dicastério que preside lançará um novo documento sobre os idosos.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

 

B. ALFREDO ILDEFONSO SCHUSTER, CARDEAL, ARCEBISPO DE MILÃO

B. Alfredo Ildefonso Schuster, 1930
B. Alfredo Ildefonso Schuster, 1930 

"Parece que as pessoas não se deixam mais convencer pela nossa pregação, mas, diante da santidade, ainda se ajoelham, acreditam e rezam. Parece que as pessoas são inconscientes diante das realidades sobrenaturais e indiferentes aos problemas da salvação. Mas se um verdadeiro Santo passar pela rua, vivo ou morto, todos correm para vê-lo".

Nesta espécie de testamento espiritual, deixado aos seminaristas moribundos, encerra-se toda a essência da santidade de Alfredo Ildefonso Schuster, monge de coração, antes de ser pastor de almas na cidade de Milão, para aonde a Igreja o enviara. Dois dias depois de pronunciar estas palavras, no cortejo fúnebre que acompanhava seu caixão, de Venegono a Milão, todos se uniram e acorreram para ver a passagem de um Santo.

Um verdadeiro filho de São Bento

Natural de Roma, filho do mestre alfaiate dos Pontífices, quando criança Ildefonso ajudava a Missa perto do Vaticano. Ao ficar órfão de pai, entrou para a residência estudantil de São Paulo fora dos Muros, onde teve como mestres o Beato Plácido Riccardi e o Padre Bonifácio Oslander. Educado à oração, ao silêncio e à ascese, sentiu o desejo de se tornar monge beneditino na mesma Abadia.
Em poucos anos, Alfredo tornou-se mestre dos Noviços, Prior claustral e abade ordinário. Durante seus anos de estudo, sem se descuidar dos seus deveres, conseguiu também se dedicar à arte sacra, à arqueologia e à história monacal e litúrgica, pela qual era apaixonado.
Ao formar-se em Filosofia, no Colégio de Santo Anselmo, e receber o Doutorado em Teologia, foi ordenado sacerdote, em 1904. Logo a seguir, foram-lhe confiados os cargos mais onerosos, como o de Reitor do Pontifício Instituto Oriental, e a missão de Visitador apostólico na Lombardia, Campânia e Calábria. Em 1926, pregou os exercícios espirituais ao então arcebispo Roncalli - futuro Papa João XXIII – do qual celebrou o rito fúnebre.

Monge-cardeal

Em 1929, Pio XI o escolheu como guia da arquidiocese ambrosiana de Milão e o criou Cardeal. Alfredo Ildefonso foi o primeiro a prestar juramento de lealdade diante do Rei Vitório Emanuel III, conforme previa a nova Concordata recém-assinada entre a Itália e a Santa Sé.
Milão recebeu o Cardeal Schuster de braços abertos, apesar dos anos difíceis que vislumbravam no horizonte. Na cidade ambrosiana, inspirado no seu mais ilustre predecessor - São Carlos Borromeu - fundou a União diocesana, composta de personalidades religiosas e leigas, que haviam recebido uma condecoração pontifícia.
O Cardeal Ildefonso foi um verdadeiro pastor, que jamais poupou esforços: em 25 anos, visitou cinco vezes as paróquias do território; escreveu Cartas pastorais ao povo e ao Clero, para defender a pureza da fé, com suas prescrições litúrgicas; promoveu Sínodos diocesanos e Congressos eucarísticos; e mandou construir novos seminários, como o de Venegono, onde faleceu.
Os fiéis milaneses sentiam sua proximidade e retribuíam seu carinho: ao ouvi-lo, ninguém permanecia indiferente às suas palavras. Ildefonso transmitia os ensinamentos da Igreja, sobretudo, com seu exemplo.

O difícil papel da Igreja durante a guerra

No entanto, na Itália, foi instaurado o regime fascista. Em boa fé, Ildefonso pensava que, mediante a colaboração entre o governo e a Igreja, o Fascismo podia se tornar uma ideologia evangelizadora, profunda e firmemente cristã. Mas, não foi assim.
Em 1938, o Cardeal Schuster já havia percebido isso, com a promulgação das leis raciais. Em uma homilia, que passou para a história, definiu o racismo desenfreado como "heresia".
Em 1939, participou do Conclave, no qual o Cardeal Eugênio Giovanni Pacelli foi eleito Papa com o nome de Pio XII. Depois, explodiu a guerra.
Em 1945, após a queda da República Social Italiana, Alfredo Ildefonso Schuster propôs um encontro de negociação entre os representantes partidários e Mussolini, mas, este último, preferiu fugir. Quando Mussolini e seus seguidores foram assassinados e expostos no Largo Loreto, o Arcebispo abençoou seus corpos, porque "todo cadáver devia ser respeitado".
Após a guerra, o Cardeal Alfredo Ildefonso foi eleito o primeiro Presidente da Conferência Episcopal Italiana. Em 1954, já debilitado, retirou para o seminário de Venegono, onde faleceu em 31 de agosto.
Alfredo Ildefonso Schuster foi beatificado, em 1996, por São João Paulo II.

Vatican News

 

SS. JOSÉ DE ARIMATEIA E NICODEMOS, DISCÍPULOS DO SENHOR

SS. José de Arimateia e Nicodemos, discípulos do Senhor, Giotto
SS. José de Arimateia e Nicodemos, discípulos do Senhor, Giotto 

Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas oculto, por medo dos judeus, rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus da Cruz. E Pilatos lho permitiu. Então foi e tirou o corpo de Jesus. Com ele foi também Nicodemos, que anteriormente, se encontrara às ocultas de noite com Jesus, levando quase cem arráteis de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o Corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumavam fazer, na preparação para o sepulcro. Havia um horto naquele lugar, onde Jesus fora crucificado e, no horto, um sepulcro novo, no qual ninguém ainda havia sido posto. Ali, pois, por causa da preparação da festa dos judeus e por aquele sepulcro estar perto, depositaram Jesus” (João 19,38-42).

No Evangelho de João encontramos a reconstrução mais precisa da deposição e sepultamento bastante incomum de Jesus, uma vez que, em geral, os corpos dos condenados eram deixados pelos romanos na cruz, até serem lançados em uma fossa comum. Porém, Jesus recebeu um tratamento diferente, graças a José, que usou sua influência para obter seu corpo e o enterrar em um sepulcro, que ele havia comprado para si. Contudo, ele teve que se apressar, porque em breve seria a Páscoa judaica, e ele não poderia participar da festa porque estava impuro, por ter entrado em contato com um cadáver. Por isso, foi ajudado por Nicodemos, que levou uma grande quantidade de óleos perfumados.

José de Arimateia, entre história e lenda

José era um ilustre membro do Sinédrio, um homem poderoso, muito conhecido e estimado em Jerusalém. Sua cidade natal, provavelmente, era Arimateia, identificada, por alguns, como a atual Rantis. Segundo o costume dos judeus, um corpo devia ser enterrado na própria terra natal. Por isso, alguns estudiosos acham estranho que ele tivesse um lugar para o sepultamento em Jerusalém.
Em seu Evangelho, João ressalta que um homem ilustre seguia Jesus, com discrição, por medo de ser criticado. Porém, ele não foi nada discreto ao pedir o corpo de Cristo a Pilatos, utilizando todo o seu poder para obtê-lo. José sabia que isto era muito arriscado: a simpatia por uma pessoa condenada à morte poderia ser facilmente interpretada como cumplicidade e, portanto, ter o mesmo e triste destino. Mas, naquele momento, José não teve medo de expressar abertamente a sua fé. Tanto que, além de oferecer seu sepulcro para Jesus, também comprou um linho para envolver seus restos mortais. Depois da Páscoa, ele não foi mais mencionado nos Evangelhos canônicos, mas, segundo algumas lendas de origem oriental, ele teria partido para evangelizar toda a Europa até à Grã-Bretanha, onde até foi citado no ciclo literário do Rei Artur como custódio do Santo Graal.

Nicodemos, figura do Evangelho de João

Nicodemos, fariseu, doutor da Lei e príncipe dos Judeus, era uma figura presente apenas no Evangelho de João. Encontramo-lo, pela primeira vez, quando Jesus chegou a Jerusalém. Fascinado pela sua pessoa, Nicodemos vai até Jesus, à noite, para não ser visto, e o interrogou sobre a natureza da sua missão. Jesus responde-lhe que “para fazer parte do Reino de Deus era preciso renascer, mas espiritualmente”. Nicodemos ficou tão impressionado, a ponto de falar positivamente sobre Jesus no Conselho, quando foi capturado; ele recordou aos fariseus que a lei permitia ao acusado ser ouvido antes de ser julgado.
Enfim, no momento da sepultura, o encontramos ao lado de José de Arimateia. Foi atribuído a Nicodemos também um Evangelho apócrifo, escrito em grego, que remonta ao século II, no qual a posição de Pôncio Pilatos foi revista.

Vatican News

domingo, 30 de agosto de 2020

Principais pontos do Documento do Papa Francisco “Querida Amazônia”

Querida Amazônia (Vatican Media)
Documento do Papa Francisco “Querida Amazônia”
  • Promoção da ecologia integral que engloba o cuidado com as pessoas, especialmente os mais pobres, o meio ambiente e a espiritualidade ecológica, numa perspectiva católica.
  • Reconhecimento das ameaças ambientais aos ecossistemas amazônicos e da importância da região como um todo para os equilíbrios globais do planeta.
  • Posicionamento da Igreja a favor da cultura local, do encontro intercultural e do respeito à autonomia dos povos..
  • Valorização dos governos locais e sociedade civil no desenvolvimento sustentável, defendendo a solidariedade internacional, mas se contrapondo à internacionalização da Amazônia.
  • Inculturação da fé e centralidade de Cristo: não é suficiente levar uma “mensagem social”. Os povos amazônicos têm “direito ao anúncio do Evangelho”; do contrário, “cada estrutura eclesial transformar-se-á em mais uma ONG”.
  • Permanência do celibato sacerdotal. Promocão de uma “cultura eclesial própria, marcadamente laical” e “incisivo protagonismo dos leigos”  na vida da Igreja na Amazônia.
  • Reconhecimento da importância das mulheres na Igreja, começando por Maria Santíssima. Abertura de novos espaços às mulheres, mas sem clericalizações – consequentemente rejeição da proposta de acesso à Ordem sacra para mulheres.

Por que um texto do Papa sobre a Amazônia?

Ponto 41. “Na Amazónia, compreendem-se melhor as palavras de Bento XVI, quando dizia que, «ao lado da ecologia da natureza, existe uma ecologia que podemos designar “humana”, a qual, por sua vez, requer uma “ecologia social”. E isto requer que a humanidade (…) tome consciência cada vez mais das ligações existentes entre a ecologia natural, ou seja, o respeito pela natureza, e a ecologia humana».[47] Esta insistência em que «tudo está interligado»[48] vale especialmente para um território como a Amazónia.”

Resumo da proposta do documento papal.

Ponto 7. “Sonho com uma Amazónia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida.

Sonho com uma Amazónia que preserve a riqueza cultural que a carateriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana.

Sonho com uma Amazónia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.

Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazónia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazónicos.”

Sobre o documento final do Sínodo.

Ponto 3-4. “Nesta Exortação, preferi não citar o Documento, convidando a lê-lo integralmente. Deus queira que toda a Igreja se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho, que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis-leigos da Amazónia se empenhem na sua aplicação e que, de alguma forma, possa inspirar todas as pessoas de boa vontade.”

O documento papal aponta para uma ecologia integral: cuidar do meio ambiente e cuidar dos pobres são “inseparáveis”.

“8. O nosso é o sonho duma Amazónia que integre e promova todos os seus habitantes, para poderem consolidar o «bem viver». Mas impõe-se um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres. Pois, apesar do desastre ecológico que a Amazónia está a enfrentar, deve-se notar que «uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres».[1] Não serve um conservacionismo «que se preocupa com o bioma, porém ignora os povos amazónicos».[2]”

41. Numa realidade cultural como a Amazónia, onde existe uma relação tão estreita do ser humano com a natureza, a vida diária é sempre cósmica. Libertar os outros das suas escravidões implica certamente cuidar do seu meio ambiente e defendê-lo[46] e – mais importante ainda – ajudar o coração do homem a abrir-se confiadamente àquele Deus que não só criou tudo o que existe, mas também Se nos deu a Si mesmo em Jesus Cristo. O Senhor, que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar dos nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá de prenda cada dia. Esta é a primeira ecologia que precisamos.

Papa Francisco reconhece a atividade econômica praticada de maneira justa e sustentável.

“17. Ao mesmo tempo que nos deixamos tomar por uma sã indignação, lembremo-nos de que sempre é possível superar as diferentes mentalidades de colonização para construir redes de solidariedade e desenvolvimento: «o desafio é assegurar uma globalização na solidariedade, uma globalização sem marginalização».[15] Podem-se encontrar alternativas de pecuária e agricultura sustentáveis, de energias que não poluem, de fontes dignas de trabalho que não impliquem a destruição do meio ambiente e das culturas. Simultaneamente é preciso garantir, para os indígenas e os mais pobres, uma educação adequada que desenvolva as suas capacidades e empoderamento. É precisamente nestes objetivos que se mede a verdadeira solércia e a genuína capacidade dos políticos. Não servirá para devolver aos mortos a vida que lhes foi negada, nem para compensar os sobreviventes daqueles massacres, mas ao menos para hoje sermos todos realmente humanos.”

Os povos amazônicos, afirma, sofrem uma “sujeição” seja por parte dos poderes locais, seja por parte dos poderes externos. Com João Paulo II, o Papa Francisco reitera que a globalização não deve se tornar um novo colonialismo.

  1. Às operações económicas, nacionais ou internacionais, que danificam a Amazónia e não respeitam o direito dos povos nativos ao território e sua demarcação, à autodeterminação e ao consentimento prévio, há que rotulá-las com o nome devido: injustiça e crime. Quando algumas empresas sedentas de lucro fácil se apropriam dos terrenos, chegando a privatizar a própria água potável, ou quando as autoridades deixam mão livre a madeireiros, a projetos minerários ou petrolíferos e outras atividades que devastam as florestas e contaminam o ambiente, transformam-se indevidamente as relações económicas e tornam-se um instrumento que mata. É usual lançar mão de recursos desprovidos de qualquer ética, como penalizar os protestos e mesmo tirar a vida aos indígenas que se oponham aos projetos, provocar intencionalmente incêndios florestais, ou subornar políticos e os próprios nativos. A acompanhar tudo isto, temos graves violações dos direitos humanos e novas escravidões que atingem especialmente as mulheres, a praga do narcotráfico que procura submeter os indígenas, ou o tráfico de pessoas que se aproveita daqueles que foram expulsos de seu contexto cultural. Não podemos permitir que a globalização se transforme num «novo tipo de colonialismo».[9]

O Romano Pontífice posiciona a Igreja a favor da cultura local e contra colonização cultural.

  1. Na Amazónia, vivem muitos povos e nacionalidades, sendo mais de cento e dez os povos indígenas em isolamento voluntário (PIAV).[31] A sua situação é fragilíssima; e muitos sentem que são os últimos depositários dum tesouro destinado a desaparecer, como se lhes fosse permitido sobreviver apenas sem perturbar, enquanto avança a colonização pós-moderna. Temos que evitar de os considerar como «selvagens não-civilizados»; simplesmente criaram culturas diferentes e outras formas de civilização, que antigamente registaram um nível notável de desenvolvimento.
  2. Quero lembrar agora que «a visão consumista do ser humano, incentivada pelos mecanismos da economia globalizada atual, tende a homogeneizar as culturas e a debilitar a imensa variedade cultural, que é um tesouro da humanidade».[35] Isto afeta muito os jovens, quando se tende a «dissolver as diferenças próprias do seu lugar de origem, transformá-los em sujeitos manipuláveis feitos em série».[36] Para evitar esta dinâmica de empobrecimento humano, é preciso amar as raízes e cuidar delas, porque são «um ponto de enraizamento que nos permite crescer e responder aos novos desafios».[37] Convido os jovens da Amazónia, especialmente os indígenas, a «assumir as raízes, pois das raízes provém a força que [os] fará crescer, florescer e frutificar».[38] Para quantos deles são batizados, incluem-se nestas raízes a história do povo de Israel e da Igreja até ao dia de hoje. Conhecê-las é uma fonte de alegria e sobretudo de esperança que inspira ações válidas e corajosas.

Não a um indigenismo fechado, é preciso um encontro intercultural.

  1. É a partir das nossas raízes que nos sentamos à mesa comum, lugar de diálogo e de esperanças compartilhadas. Deste modo a diferença, que pode ser uma bandeira ou uma fronteira, transforma-se numa ponte. A identidade e o diálogo não são inimigos. A própria identidade cultural aprofunda-se e enriquece-se no diálogo com os que são diferentes, e o modo autêntico de a conservar não é um isolamento que empobrece. Por isso, não é minha intenção propor um indigenismo completamente fechado, a-histórico, estático, que se negue a toda e qualquer forma de mestiçagem. Uma cultura pode tornar-se estéril, quando «se fecha em si própria e procura perpetuar formas antiquadas de vida, recusando qualquer mudança e confronto com a verdade do homem».[41] Isto poderia parecer pouco realista, já que não é fácil proteger-se da invasão cultural. Por isso, cuidar dos valores culturais dos grupos indígenas deveria ser interesse de todos, porque a sua riqueza é também a nossa.  

Igreja a favor do papel do governos locais e sociedade civil no desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo que contra a internacionalização da Amazônia.

  1. Com efeito, além dos interesses económicos de empresários e políticos locais, existem também «os enormes interesses económicos internacionais».[63] Por isso, a solução não está numa «internacionalização» da Amazónia,[64] mas a responsabilidade dos governos nacionais torna-se mais grave. Pela mesma razão, «é louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos sistemas de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais».[65]

A inculturação do Evangelho.

  1. São João Paulo II ensinou que a Igreja, ao apresentar a sua proposta evangélica, «não pretende negar a autonomia da cultura. Antes pelo contrário, nutre por ela o maior respeito», porque a cultura «não é só sujeito de redenção e de elevação; mas pode ter também um papel de mediação e de colaboração».[88] E, dirigindo-se aos indígenas do Continente Americano, lembrou que «uma fé que não se torna cultura é uma fé não de modo pleno acolhida, não inteiramente pensada, nem com fidelidade vivida».[89] Os desafios das culturas convidam a Igreja a uma «atitude de prudente sentido crítico, mas também de atenção e confiança».[90]

Evangelização que integra o social ao espiritual

  1. Perante tantas necessidades e angústias que clamam do coração da Amazónia, é possível responder a partir de organizações sociais, recursos técnicos, espaços de debate, programas políticos… e tudo isso pode fazer parte da solução. Mas, como cristãos, não renunciamos à proposta de fé que recebemos do Evangelho. Embora queiramos empenhar-nos lado a lado com todos, não nos envergonhamos de Jesus Cristo. Para quantos O encontraram, vivem na sua amizade e se identificam com a sua mensagem, é inevitável falar d’Ele e levar aos outros a sua proposta de vida nova: «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9, 16).
  2. Eles [os povos amazônicos] têm direito ao anúncio do Evangelho, sobretudo àquele primeiro anúncio que se chama querigma e «é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar duma forma ou doutra».[81] É o anúncio de um Deus que ama infinitamente cada ser humano, que manifestou plenamente este amor em Cristo crucificado por nós e ressuscitado na nossa vida. Proponho voltar a ler um breve resumo deste conteúdo no capítulo IV da Exortação Christus vivit. Este anúncio deve ressoar constantemente na Amazónia, expresso em muitas modalidades distintas. Sem este anúncio apaixonado, cada estrutura eclesial transformar-se-á em mais uma ONG e, assim, não responderemos ao pedido de Jesus Cristo: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16, 15).
  3. Ao mesmo tempo, a inculturação do Evangelho na Amazónia deve integrar melhor a dimensão social com a espiritual, para que os mais pobres não tenham necessidade de ir buscar fora da Igreja uma espiritualidade que dê resposta aos anseios da sua dimensão transcendente.

A santidade com rosto amazônico.

  1. Assim poderão nascer testemunhos de santidade com rosto amazônico, que não sejam cópias de modelos doutros lugares, santidade feita de encontro e dedicação, de contemplação e serviço, de solidão acolhedora e vida comum, de jubilosa sobriedade e luta pela justiça. Chega-se a esta santidade «cada um por seu caminho»[109], e isto aplica-se também aos povos, onde a graça se encarna e brilha com traços distintivos. Imaginemos uma santidade com traços amazónicos, chamada a interpelar a Igreja universal.

Esclarecimento a relação da Igreja Católica e as tradições espirituais indígenas.

  1. É possível receber, de alguma forma, um símbolo indígena sem o qualificar necessariamente como idolátrico. Um mito denso de sentido espiritual pode ser valorizado, sem continuar a considerá-lo um extravio pagão. Algumas festas religiosas contêm um significado sagrado e são espaços de reunião e fraternidade, embora se exija um lento processo de purificação e maturação. Um verdadeiro missionário procura descobrir as aspirações legítimas que passam através das manifestações religiosas, às vezes imperfeitas, parciais ou equivocadas, e tenta dar-lhes resposta a partir duma espiritualidade inculturada.
  2. Será, sem dúvida, uma espiritualidade centrada no único Deus e Senhor, mas ao mesmo tempo capaz de entrar em contacto com as necessidades diárias das pessoas que procuram uma vida digna, querem gozar as coisas belas da existência, encontrar a paz e a harmonia, resolver as crises familiares, curar as suas doenças, ver os seus filhos crescerem felizes. O pior perigo seria afastá-los do encontro com Cristo, apresentando-O como um inimigo da alegria ou como alguém que é indiferente às aspirações e angústias humanas.[112] Hoje é indispensável mostrar que a santidade não priva as pessoas de «forças, vida e alegria».[113]

Permanência do celibato sacerdotal. Promocão de uma “cultura eclesial própria, marcadamente laical” e “incisivo protagonismo dos leigos”  na vida da Igreja na Amazônia.

  1. O modo de configurar a vida e o exercício do ministério dos sacerdotes não é monolítico, adquirindo matizes diferentes nos vários lugares da terra. Por isso, é importante determinar o que é mais específico do sacerdote, aquilo que não se pode delegar. A resposta está no sacramento da Ordem sacra, que o configura a Cristo sacerdote. E a primeira conclusão é que este caráter exclusivo recebido na Ordem deixa só ele habilitado para presidir à Eucaristia.[125] Esta é a sua função específica, principal e não delegável. Alguns pensam que aquilo que distingue o sacerdote seja o poder, o facto de ser a máxima autoridade da comunidade; mas São João Paulo II explicou que, embora o sacerdócio seja considerado «hierárquico», esta função não equivale a estar acima dos outros, mas «ordena-se integralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo».[126] Quando se afirma que o sacerdote é sinal de «Cristo cabeça», o significado principal é que Cristo constitui a fonte da graça: Ele é cabeça da Igreja «porque tem o poder de comunicar a graça a todos os membros da Igreja».[127]
  1. Nas circunstâncias específicas da Amazónia, especialmente nas suas florestas e lugares mais remotos, é preciso encontrar um modo para assegurar este ministério sacerdotal. Os leigos poderão anunciar a Palavra, ensinar, organizar as suas comunidades, celebrar alguns Sacramentos, buscar várias expressões para a piedade popular e desenvolver os múltiplos dons que o Espírito derrama neles. Mas precisam da celebração da Eucaristia, porque ela «faz a Igreja»,[130] e chegamos a dizer que «nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da Santíssima Eucaristia».[131] Se acreditamos verdadeiramente que as coisas estão assim, é urgente fazer com que os povos amazónicos não estejam privados do Alimento de vida nova e do sacramento do perdão.

Os religiosos e  diáconos permanentes já exercem uma atividade missionária importante e são estimulados a intensificar sua colaboração. 

  1. Ora a Eucaristia, como fonte e cume, exige que se desenvolva esta riqueza multiforme. São necessários sacerdotes, mas isto não exclui que ordinariamente os diáconos permanentes – deveriam ser muitos mais na Amazónia –, as religiosas e os próprios leigos assumam responsabilidades importantes em ordem ao crescimento das comunidades e maturem no exercício de tais funções, graças a um adequado acompanhamento.
  1. Portanto não se trata apenas de facilitar uma presença maior de ministros ordenados que possam celebrar a Eucaristia. Isto seria um objetivo muito limitado, se não procurássemos também suscitar uma nova vida nas comunidades. Precisamos de promover o encontro com a Palavra e o amadurecimento na santidade por meio de vários serviços laicais, que supõem um processo de maturação – bíblica, doutrinal, espiritual e prática – e distintos percursos de formação permanente.
  1. Uma Igreja de rostos amazónicos requer a presença estável de responsáveis leigos, maduros e dotados de autoridade,[136] que conheçam as línguas, as culturas, a experiência espiritual e o modo de viver em comunidade de cada lugar, ao mesmo tempo que deixem espaço à multiplicidade dos dons que o Espírito Santo semeia em todos. Com efeito, onde houver uma necessidade peculiar, Ele já infundiu carismas que permitam dar-lhe resposta. Isto requer na Igreja capacidade para abrir estradas à audácia do Espírito, confiar e concretamente permitir o desenvolvimento duma cultura eclesial própria, marcadamente laical. Os desafios da Amazónia exigem da Igreja um esforço especial para conseguir uma presença capilar que só é possível com um incisivo protagonismo dos leigos.

Importância das mulheres na Igreja, abertura de novos espaços às mulheres, mas sem clericalizações.

“99. Na Amazónia, há comunidades que se mantiveram e transmitiram a fé durante longo tempo, mesmo decénios, sem que algum sacerdote passasse por lá. Isto foi possível graças à presença de mulheres fortes e generosas, que batizaram, catequizaram, ensinaram a rezar, foram missionárias, certamente chamadas e impelidas pelo Espírito Santo. Durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja de pé nesses lugares com admirável dedicação e fé ardente. No Sínodo, elas mesmas nos comoveram a todos com o seu testemunho.

  1. Isto convida-nos a alargar o horizonte para evitar reduzir a nossa compreensão da Igreja a meras estruturas funcionais. Este reducionismo levar-nos-ia a pensar que só se daria às mulheres um status e uma participação maior na Igreja se lhes fosse concedido acesso à Ordem sacra. Mas, na realidade, este horizonte limitaria as perspetivas, levar-nos-ia a clericalizar as mulheres, diminuiria o grande valor do que elas já deram e subtilmente causaria um empobrecimento da sua contribuição indispensável.”
  2. Numa Igreja sinodal, as mulheres, que de facto realizam um papel central nas comunidades amazónicas, deveriam poder ter acesso a funções e inclusive serviços eclesiais que não requeiram a Ordem sacra e permitam expressar melhor o seu lugar próprio. Convém recordar que tais serviços implicam uma estabilidade, um reconhecimento público e um envio por parte do bispo. Daqui resulta também que as mulheres tenham uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na guia das comunidades, mas sem deixar de o fazer no estilo próprio do seu perfil feminino.”

O documento “Querida Amazônia” do Papa Francisco pode ser lido na íntegra em: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20200202_querida-amazonia.html


Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF