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segunda-feira, 31 de julho de 2023

Milhares de jovens participarão de um Encontro Vocacional do Caminho Neocatecumenal em Lisboa no âmbito da JMJ

Carmen Hernández e Kiko Argüello, JMJ, Alemanha 2005 (neocatechumenaleiter)

NA SEGUNDA-FEIRA 7 DE AGOSTO, OS JOVENS SE REUNIRÃO PROVENIENTES DOS CINCO CONTINENTES ACOMPANHADOS DE VÁRIOS CARDEAIS E BISPOS

O Caminho Neocatecumenal, como é costume nas Jornadas Mundiais da Juventude, celebrará um Encontro Vocacional por ocasião da JMJ de Lisboa 2023. Será na segunda-feira dia 7 de agosto, às 12h (horário de Brasília), no Passeio Marítimo de Algés. Participarão mais de 75 mil jovens de todo o mundo que terão acompanhado o Papa Francisco durante a semana de celebração das Jornadas.

O Encontro do Caminho será conduzido pela equipe responsável internacional, composta por seu iniciador, Kiko Argüello, Padre Mario Pezzi e Maria Ascensión Romero.

lisboa2023cnc.org

Será presidido pelo Patriarca de Lisboa, Cardeal Manuel Clemente. No encontro será anunciado o Kerigma, a Boa Nova da morte e ressurreição de Cristo, e será feito um chamado vocacional para os jovens que se sentirem chamados pelo Senhor à vida religiosa, à missão itinerante ou ao presbiterado.

Durante quatro anos, desde a JMJ no Panamá, os jovens do Caminho se preparam para fazer a peregrinação a Lisboa. Nos dias que antecedem a chegada do Santo Padre, passando por diversos países e cidades, eles evangelizarão dando testemunho de seu encontro com o Senhor. Como repete com frequência o Papa Francisco, citando algumas palavras de Bento XVI, “a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração”.

Os dias anteriores à JMJ de Lisboa e ao Encontro Vocacional coincidiram com o sétimo aniversário da morte de Carmen Hernández, coiniciadora do Caminho Neocatecumenal junto com Kiko Arguello. No dia 19 de julho, dia do aniversário, milhares desses jovens celebraram a Eucaristia pela alma de Carmen em paróquias de todo o mundo, pedindo ao Senhor que acelere sua Causa de Beatificação e de Canonização.

Carmen Hernández (neocatechumenaleiter)

Jovens de muitas nações, de passagem por Madri a caminho de Lisboa, estão visitando o túmulo de Carmen Hernández. O Seminário Redemptoris Mater de Madri está vivendo antecipadamente a alegria da JMJ, com a presença de tantos jovens agradecidos ao Senhor pelo dom da vida de Carmen e seu amor pela missão e pela Igreja.

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br

Os portugueses esperam que o Papa traga “uma mensagem de confiança no futuro”, diz embaixador

Domingos Teixeira de Abreu Fezas Vital / I.Media

Por I. Media

"Receber centenas de milhares de jovens por uma semana é uma oportunidade de abraçar um espírito de renovação, de esperança, de fé no futuro, de vontade de agir por um mundo melhor." [ENTREVISTA]

De 2 a 6 de agosto de 2023, o Papa Francisco iniciará sua 42ª viagem apostólica ao exterior, em Portugal, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. Além de participar de vários eventos com jovens católicos de todo o mundo, o Papa também se reunirá com representantes da Igreja, da sociedade e do governo português durante o movimentado programa de sua viagem. O embaixador de Portugal na Santa Sé desde 2022, Domingos Teixeira de Abreu Fezas Vital, conta à I.MEDIA como o povo português está se preparando para o evento e o que os católicos do país esperam da visita do Papa Francisco.

O que significa a JMJ para Portugal? O que os portugueses estão esperando?

Esses dias representam um enorme desafio logístico, pois são centenas de milhares, as pessoas que precisam de ser acolhidas. Mas são também uma grande oportunidade de projeção internacional para Portugal, que vai estar sob os holofotes da comunicação social mundial durante muito tempo. O país vai viver uma atmosfera festiva, obviamente com uma conotação espiritual, mas, que não deixa por isso de constituir uma celebração.

Receber centenas de milhares de jovens por uma semana é uma oportunidade de abraçar um espírito de renovação, de esperança, de fé no futuro, de vontade de agir por um mundo melhor. Cada um deles traz isso consigo, e isso é extremamente positivo.

Os portugueses são também um povo muito curioso em relação aos estrangeiros, como qualquer pessoa que visite o nosso país pode constatar. Eles são vistos como construtores de pontes. O confronto com jovens de origens geográficas tão diferentes, durante a JMJ, será uma oportunidade para os portugueses satisfazerem esse seu apetite natural por construir pontes, ouvir os outros e acolher a diversidade. Penso que viveremos um período em Portugal, que ninguém poderá esquecer.

Como o país se mobilizou para organizar a JMJ?

As estruturas da Igreja e do Estado vêm trabalhando há muito tempo na organização das jornadas tendo em vista garantir o seu sucesso. O governo está envolvido, assim como os municípios, como Lisboa e Loures, além de Leiria-Fátima, Cascais e Oeiras.

Mas o que eu gostaria de salientar é a procura, por parte de que todos os envolvidos, na Igreja e no Estado, de uma cooperação cada vez mais intensa e frutífera. Um empreendimento desta envergadura implica, obviamente, um período de esforço de aprendizagem, é normal que assim seja. A JMJ permitiu a todos os envolvidos aprender a trabalhar uns com os outros, no respeito pela identidade, competências e responsabilidades de cada um.

O Papa disse muitas vezes que um dos grandes desafios das JMJ é precisamente aprender a trabalhar em equipe, a levar por diante um ‘lavoro di squadra’. Hoje, acho que as coisas estão mais afinadas, a colaboração é mais próxima, mais fluida e mais fácil.

E como a sociedade portuguesa está contribuindo para a organização?

Quer as estruturas, quer as pessoas se têm estado a preparar para receber quem vem. As Forças Armadas, por exemplo, através das suas instalações militares, ou as escolas, através de suas instalações de ensino, mas também as famílias. Muitas famílias receberão pessoas em suas casas. Muitas pessoas estão envolvidas nas estruturas de voluntariado que foram criadas, estruturas de que pouco se fala, mas que foram fundamentais na preparação da JMJ. A grande maioria dessas estruturas é constituída por católicos, para quem o compromisso tem também uma dimensão espiritual, que lhe confere um vigor adicional.

Ouvi uma história extraordinária recentemente. Uma das minhas irmãs contou-me que esteve recentemente num casamento no norte de Portugal em que os noivos, em vez de partirem para a lua de mel, foram para Lisboa para trabalhar como voluntários na JMJ. Na imprensa, temos lido várias histórias de pessoas que renunciaram a coisas e momentos importantes para ajudar a tornar a JMJ um sucesso. Esse esforço é ainda mais notável e valioso porque as jornadas acontecem numa semana que tradicionalmente é de férias e descanso para os portugueses.

O que os católicos portugueses esperam do Papa Francisco?

Acho que os portugueses esperam que o Papa traga uma mensagem de esperança e confiança no futuro. O mundo passou e está a passar por momentos muito difíceis, de que também Portugal sentiu e sente o impacto. Vivemos a crise económica e financeira, a pandemia e agora a guerra. Este encontro de todas estas pessoas, de origens tão diferentes, representa a crença no futuro que nos entra pela porta e queremos acreditar no futuro com eles.

O Papa tem um programa muito exigente e generoso que demonstra o seu afeto por Portugal e pelo povo português. Um programa que incluiu igualmente uma visita a Fátima, que é um ponto de referência universal para os católicos e não só. Como costumamos dizer, Fátima é o altar do mundo. Como Portugal também é o país de Fátima, a visita do Papa a esse santuário é um reconhecimento dessa caraterística.

A questão dos abusos na Igreja portuguesa tem sido um dos principais tópicos de discussão no ano passado, após as revelações da comissão independente encomendada pelos bispos. Como o povo português reagiu a essas revelações? Elas terão um impacto na JMJ?

A primeira reação do povo português, como um todo, foi de choque com as revelações. Seguiu-se a expectativa em relação à resposta, e a Igreja respondeu. Nesta fase, a sociedade portuguesa espera que essa resposta da Igreja tenha seguimento. 

Como o próprio primeiro-ministro português referiu, nessa altura, há uma consciência de que esse gesto por parte da Igreja deve ser acompanhado pela sociedade como um todo. A questão dos abusos não se limita à Igreja, mesmo que, no seu caso, tenha uma gravidade particular. A iniciativa da Igreja é uma oportunidade para o país examinar essa questão, como um todo. Como sabemos, a maioria dos abusos ocorre dentro da família, o que é terrível. Foi também isto que o primeiro-ministro quis lembrar, quando, na sua reação inicial ao relatório disse que esta não era uma questão apenas da Igreja.

No que diz respeito à JMJ, está previsto, como se sabe, que o Santo Padre se encontre com pessoas que apresentaram queixas e denunciaram abusos. É um momento importante, mas que está a ser tratado com o máximo de reserva e discrição, como exige o respeito por essas pessoas. Perguntou-me como é que as vítimas se sentiriam com este gesto. Não posso falar pelas vítimas, só posso esperar que elas vejam na atitude do Papa um sinal de conforto e uma oportunidade de reconciliação.

A Igreja ainda é ouvida no cenário político e social, em um momento em que o país acaba de legislar sobre a eutanásia?

Claro que sim. Portugal é uma democracia, portanto, todas as opiniões são levadas em conta, no processo de tomada de decisões, incluindo as da Igreja, com o seu peso específico e particular.

Há aspetos em que a convergência com a agenda do Papa está muito presente. É o caso, por exemplo, da preocupação com o meio ambiente. Tudo o que o Santo Padre tem dito sobre este assunto, o que está contido nas encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti, são aspetos de óbvia convergência com Portugal. A visão do Papa sobre a necessidade de dar particular atenção aos mais desfavorecidos é outra dimensão que os portugueses acompanham de forma particularmente próxima.

O Papa Francisco acaba de anunciar a criação de um novo cardeal eleitor português. O que pensa da decisão do pontífice argentino de dar 6 cardeais, incluindo 4 eleitores, ao seu país?

Foi uma grande alegria para nós. É um sinal de reconhecimento e apreço por Portugal e pela Igreja portuguesa, que o país recebeu com alegria, mas também, em especial os católicos, com humildade, porque, como o próprio novo cardeal, Dom Américo Aguiar, disse, esta decisão implica também maiores responsabilidades para a Igreja portuguesa, como um todo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A presença de Jesus no mundo (2/2)

Jesus ensina na sinagoga de Nazaré, painel de madeira policromo de teto pintado, segunda metade do século XII, igreja de São Martinho, Zillis, Suíça

Arquivo 30Dias – 11/2005mero 11 - 2005

A presença de Jesus no mundo

A conferência do jornalista e escritor judeu Alain Elkann no congresso sobre o “Rosto dos rostos. Cristo”, realizado em outubro, em Roma, cujas atas acabam de ser publicadas.

de Alain Elkann

Um padre rosminiano me hospedou em seu colégio no Vale de Aosta quando eu estudava para prestar alguns exames, e festejei, como todos, em 5 de agosto, a festa de Nossa Senhora das Neves.

Mais tarde, numa favela de uma cidadezinha brasileira, padre Arturo, um père da ordem de Foucauld, me fez entender o que sig­nificava dedicar a vida a Jesus e ao Evangelho e, mesmo realizando os trabalhos mais humildes, me falou muito do fascínio de Deus, dos Evangelhos e da figura de Jesus. Fez-me entender o que significa a palavra confiança, sentir uma fé profunda que guia a todos os atos da nossa vida.

O cardeal Martini me levou a refletir sobre a palavra de Deus, sobre as Escrituras, sobre o silêncio e sobre Jerusalém. Ensinou-me como era importante sentir os outros como nossos irmãos.

É verdade que Jerusalém, para mim, é a cidade judaica, a cidade em que rezamos no Muro das Lamentações, mas a presença de Jesus é fortíssima por toda parte naquela cidade. Afinal, todos sabem que Jesus era judeu, vivia ali, entre aqueles muros, naquela paisagem, naqueles lugares que hoje são sagrados também para os muçulmanos. É verdade que por toda a parte em Israel, na Palestina, se sente a presença do Cristo que lá nasceu, viveu e morreu. Mas, como já disse outras vezes, vejo o curso de nossa história judeu-cristã como o percurso de um trem que, para os judeus, partiu há mais de cinco mil anos e no qual, há dois mil anos, subiram os cristãos.

O fato de não pensar viver na era messiânica não significa que eu não tenha respeito e também sentimentos de alegria, de proximidade fraterna por aqueles que já receberam o Messias e vivem um estado de felicidade interior profunda todas as vezes que O sentem próximo.

Entendo muito bem que deve ser fascinante para quem tem a sorte de ser cristão ter fé e poder viver numa religião que permitiu poder rezar, poder dirigir-se também ao filho de Deus, que quis trazer Deus a ser homem e, portanto, imagem. Os judeus falam diretamente com Deus, mas Ele não é representado de nenhuma forma.

Não o digo me lamentando, pois tenho muito orgulho de meu destino de judeu.

Creio que se existimos há tantos anos e se nenhuma perseguição, nem a mais bárbara e mais atroz, conseguiu nos exterminar totalmente e calar-nos para sempre, isso se insira num desígnio divino que não cabe a nós, homens, entender. Acredito que o papa João Paulo II fez bem ao definir os judeus como “irmãos mais velhos”. Eles o são não por idade, mas porque mantêm em sua vida uma tradição, uma religião muito antiga, que são, de qualquer forma, a tradição e a religião de Jesus.

Não é por acaso, acredito eu, que Jesus foi judeu; sendo assim, grande parte do caminho dos judeus e dos cristãos é um caminho comum, que para uns e outros se desenvolve nos lugares descritos pela Bíblia.

O que significa a presença de Jesus no mundo de hoje? Creio que é uma das grandes mensagens de paz da humanidade, uma grande resposta de como deveria ser conduzida uma vida humana para que seja o mais feliz e serena possível.

Jesus é uma grande mensagem de esperança e de solidariedade para o mundo, que hoje precisa disso, e sua Igreja demonstrou e demonstra saber ser ainda mais uma formidável organização de paz, de caridade e de amor.

O papa é um incansável defensor do bem, da paz, dos jovens, dos doentes e dos necessitados.

Jesus, além disso, é ética, justiça, poesia e inspiração. Obras-primas da arte, nos últimos dois milênios, da música à pintura, passando pela escultura e pela arquitetura no Ocidente, foram de inspiração cristã, e a Itália é ainda hoje o testemunho vivo disso. Os crucifixos pintados e esculpidos, as cenas da vida de Cristo e dos apóstolos inspiraram os maiores artistas de todos os séculos e de todas as gerações.

Por isso também, Jesus é uma figura tão conhecida e familiar para quem não é cristão, pois pessoas de grandíssimo talento dedicaram seu trabalho a procurar interpretá-lo, imaginá-lo, como um modelo, um herói, um mártir; como um amigo.

Nesta altura eu sinto a necessidade de fazer uma pergunta. Como seria o mundo sem Jesus? Sinceramente, muito diferente e até difícil de imaginar. Os judeus são poucos e sempre foram poucos, os muçulmanos são mais recentes e vêm depois do cristianismo.

Talvez, sem os cristãos, nem houvesse muçulmanos. Talvez tivesse existido um outro filho de Deus em algum outro lugar. O fato, porém, de não se conseguir pensar na história sem Cristo significa, por si só, que Ele era uma exigência do mundo e que os homens sentiam necessidade dele.

O Rosto dos rostos. Cristo, organizado pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre o Rosto de Cristo, Bérgamo, Velar, 2005, 300 pp.

Acredito que seja difícil continuar, como eu já estou fazendo há tempo demais, a caminhar no vazio, ou seja, a procurar imaginar o que significa o Cristo, quando sou apenas um escritor, um jornalista.

Com o passar dos anos, tive uma grande experiência de amor e de amizade profunda que me ligou à presença cristã. Senti próximas de mim e amei ternamente pessoas de fé que tinham por Jesus um sentimento muito profundo que as inspirava e as guiava ao longo da vida. Minha esposa é católica e sempre traz consigo um rosário, que mantém por perto em todos os momentos de sua vida. Um rosário que lhe foi dado por dom Cafarra, o arcebispo de Bolonha, e que pertencia à mãe dele.

Minha esposa teve de enfrentar a vida sem uma mãe que a acompanhasse e estivesse próxima dela enquanto crescia, e acredito que sua fé em Jesus sempre a tenha ajudado a continuar em frente. Isso, para mim, é motivo de grande respeito e me faz entender o que deve ser para ela a força profunda que lhe dá a presença de Jesus em sua vida.

Mas talvez entendamos melhor a presença de Jesus no mundo vendo na televisão uma mulher indígena pele-vermelha que, em New Orleans, diz desconsolada, olhando para os destroços da sua cidade destruída: “Depois que chegou o furacão Katrina, para onde foi Jesus?”. O sentimento de abandono e de impotência diante do silêncio de Jesus, que parece tê-la deixado sozinha e abandonado sua cidade, nos diz como em sua ausência Jesus faz sentir sua falta. A mulher, na verdade, não lhe pede que se explique, mas que volte e a console, que não se afaste.

Não é uma repreensão, mas uma exigência de amor.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (13/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

CARD. Alfons M. Stickler

        2. Fundamento histórico doutrinal

Um olhar para trás na Tradição da Igreja pode nos informar, também nesta ocasião, o desenvolvimento desta Teologia. O que se pode dizer, em síntese, sobre este aspecto já dissemos, em parte, ao analisar os testemunhos da Igreja primitiva sobre a continência dos ministros sagrados. Continuar com as referências históricas sobre o celibato, as referências à Sagrada Escritura e sua interpretação é certamente uma ajuda que pode ser fornecida à argumentação teológica dos Padres sinodais e do Santo Padre, porque na Exortação Apostólica abunda as referências à Sagrada Escritura. A visão do celibato, do ponto de vista das Escrituras adquiriu, por outro lado, uma crescente importância na literatura recente sobre o assunto. 

Já na primeira lei escrita que conhecemos, no cânon 33 do Concílio de Elvira, estão obrigados à continência os clérigos positi in ministerio, ou seja, aqueles que servem ao altar. Também os cânones africanos falam continuamente dos que servem ao altar e, por ser responsável pelo seu serviço, tocam os sacramentos; estes estão obrigados, por causa da consagração recebida, à castidade, o que, por sua vez, garante a eficácia da oração de petição (impetratória) diante de Deus. 

A este respeito, são particularmente importantes e instrutivos os documentos do Romano Pontífice que tratam da continência celibatária. São constantemente consideradas e refutadas nos textos deles, a partir da Sagrada Escritura, duas objeções. A primeira é a norma que indica São Paulo a Timóteo (1 Tim 3, 2 e 3, 12) e Tito (1, 6): os candidatos casados devem ser só unius uxoris, ou seja, ter sido casado apenas uma vez e também com uma mulher virgem. Tanto o Papa Sirício como Inocêncio I insistiram repetidamente em que esta expressão não significa que eles possam continuar com o desejo de gerar filhos, mas, pelo contrário, foi estabelecida propter continentiam futuram, ou seja, devido à continência que deveria ser vivida desde então. 

Esta interpretação feita pelos Pontífices da conhecida passagem da Escritura, que foi assumida pelos Concílios, diz que quem tivesse a necessidade de se casar novamente, demonstrava com isso que não era capaz de viver a continência exigida aos ministros sagrados e não podia, portanto, ser ordenado. Assim, essa norma da Escritura, em vez de uma prova contrária ao celibato, era uma demonstração a favor da continência celibatária e ainda uma exigência dos Apóstolos. Essa disposição se manteve viva no futuro. Na Glossa ordinária ao decreto de Graciano, isto é, no comentário comumente aceito desta passagem (princípio da Dist. 26), explica que existem quatro razões para que um que foi casado duas vezes não pode ser ordenados. Depois de assinalar três razões espirituais, a quarta, de caráter prático, diz que seria um sinal de incontinência que um homem passasse de uma mulher para outra. E o grande cheio de autoridade decretalista Hostiensis, o Cardeal decano Henrique de Susa, explica no seu comentário às decretais de Gregório IX (X, I, 21, 3 à palavra alienum), que a terceira razão das quatro dessa proibição foi “porque se deve temer (neste caso) a incontinência”. 

Esta interpretação do unius uxoris vir também era aceita no Oriente; isso é provado pelo grande historiador da Igreja antiga Eusébio de Cesaréia, que deve ser considerado bem informado, já que, como já afirmamos, participou no Concílio de Nicéia e, como amigo dos arianos, tinha defendido o uso do matrimônio por parte dos padres já casados. No entanto diz expressamente que, comparando o sacerdote do Antigo Testamento com o do Novo, se confronta a geração corporal com a espiritual, e que nisso consiste o sentido do unius uxoris vir: em que aqueles que foram consagrados e dedicados ao culto divino devem abster-se convenientemente, do momento da Ordenação em adiante das relações sexuais com a esposa. 

A proibição apostólica de que nenhum casado duas vezes devia ser admitido às Sagradas Ordens tem sido observada, com todo rigor, através dos séculos e se encontrava entre as irregularidades no Código de 1917 (cân. 984, 4). Na canonística clássica se ensinava que a dispensa desta proibição não era possível nem pelo Sumo Pontífice, pois nem sequer ele poderia dispensar contra apostolum, isto é, contra a Sagrada Escritura. 

Deve-se notar que também a legislação do Concílio de Trullo mantém no seu cânon 3 a mesma proibição para sacerdotes, diáconos e sub-diáconos, ou seja, que os candidatos à estas ordens não podiam estar casados com uma viúva ou com uma mulher que havia sido casada. Só se queria – diziam os padres trullanos – atenuar a gravidade da Igreja romana neste ponto, concedendo àqueles que tinham pecado contra dita proibição a possibilidade de arrependimento e penitência. Se antes de uma data posterior ao Sínodo tivessem renunciado a esse (segundo) casamento, poderiam permanecer no exercício do ministério. 

A falta de lógica nesta disposição do cânon 3, em comparação com o cânon 13 que permite aos sacerdotes e diáconos o uso do matrimônio contraído antes da Ordenação, só pode ser explicado pelo fato de que aquela proibição apostólica estava também profundamente enraizada na tradição oriental, mas sem que se perceba já o seu sentido original. Daí surge outra prova tácita do autêntico significado original, como garantia da total continência após a Ordenação, tal como permaneceu vivo no Ocidente, sempre aceito com fiel observância por parte de Roma. 

Deve-se mencionar neste contexto de duas outras passagens das Escrituras que não se encontram explicitamente nos testemunhos antigos, a segunda das quais vem hoje invocada contra a continência dos mesmos Apóstolos. 

Entre as qualidades que São Paulo exigia ao ministro da Igreja se encontra também a de ser “Encratés“, ou seja, continente. Este termo significa a continência sexual, como se deduz do texto paralelo no qual São Paulo exorta os fiéis casados continência a necessária abstinência para dedicar-se à oração, e também dos posteriores textos gregos sobre o celibato, reunidos, por exemplo, na coleção oficial do Pedalion.

A segunda passagem da Escritura é encontrada em 1 Coríntios 9, 5, onde São Paulo diz que também ele tem o direito de levar consigo uma mulher, como fazem os outros apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas. Muitos interpretaram a expressão “mulher” como a “esposa” dos Apóstolos, que no caso de Pedro poderia ser verdade. Mas é preciso se ter claramente presente o fato do texto original grego não falar simplesmente de “Ginaika“, que podia perfeitamente significar também esposa. Certamente não sem intenção, São Paulo acrescenta a palavra “adelfén“, ou seja, mulher “irmã”, o que exclui qualquer confuso mal-entendido com esposa. 

Somos convencidos facilmente deste sentido retificador que, de aqui em adiante, os testemunhos mais importantes da continência dos ministros sagrados mostram que ao falar da esposa de tais ministros, no contexto da posterior continência sexual, sempre se usa a palavra “sóror“, irmã. Do mesmo modo, a relação entre marido e mulher depois da Ordenação do marido é visto como o de um irmão com sua irmã. São Gregório Magno, por exemplo, diz: “Desde sua Ordenação, o sacerdote amará sua sacerdotisa (ou seja, sua esposa) como a uma irmã”. O Concílio de Gerona (ano 517) decidiu que “se tiverem sido ordenados aqueles que antes estiveram casados, não devem viver junto com a que de esposa se se tornou irmã”. E o Concílio de Auvergne (ano 535), por sua vez, dispôs que: “quando um sacerdote ou um diácono recebeu a Ordenação ao serviço divino passa imediatamente de ser marido a ser irmão da sua esposa”. Este uso das palavras é encontrado em muitos textos patrísticos e conciliares. 

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Nossa Senhora Peregrina - Parte I

Ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, um dos símbolos da JMJ, chega a Portugal para a JMJ Lisboa 2023

"A Lumen Gentium, número 58, nos aponta Maria no “caminho da fé”. Toda sua vida é um caminho, uma peregrinação da fé. "

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Peço-lhes que me acompanhem com a oração na Viagem a Portugal, que farei a partir da próxima quarta-feira, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Tantos jovens, de todos os continentes, experimentarão a alegria do encontro com Deus e com os irmãos, guiados pela Virgem Maria, que, após a anunciação, "levantou-se e partiu apressadamente". A Ela, estrela luminosa do caminho cristão, tão venerada em Portugal, confio os peregrinos da JMJ e todos os jovens do mundo.”

No Angelus que precede a 42ª Viagem Apostólica de seu Pontificado, o Papa Francisco confiou a Virgem Maria os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude e todos os jovens do mundo. De fato, ao lado de cada um desses jovens peregrinos, estará Nossa Senhora Peregrina, que é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt:

"A Igreja Católica no mundo vive uma grande festa e peregrinação dos Jovens com a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa neste período com pré-Jornada, Jornada e pós-jornada. Milhões de jovens peregrinos para ouvir a Palavra do Papa Francisco, para mostrar o rosto e dinamismo jovem da Igreja. Achamos por bem, em nossa abordagem Mariana, aprofundar uma das faces de Nossa Senhora como peregrina, unindo-nos à essa caminhada juvenil da JMJ.

Depois do anuncio do Anjo Gabriel, Maria poderia ter se acomodado em sua casa, pois carregava em seu ventre o Verbo da Vida. Mas, logo ela se põe a caminho para visitar sua prima Santa Isabel. Maria, portanto, também faz sua jornada, sua peregrinação, sua caminhada à longínqua casa de Isabel. Ela é mãe peregrina. Ela é protótipo também da Igreja que peregrina, nesse vale de lágrimas, a caminho da casa Paterna.

São João Paulo II, iniciador das JMJ, em sua Carta Encíclica Redemptoris Mater, escreve assim, sobre esse episódio da Visita de Maria à sua prima Santa Isabel: “Logo depois de ter narrado a Anunciação, o Evangelista São Lucas faz-nos de guia, seguindo os passos da Virgem em direção a «uma cidade de Judá» (Lc 1, 39). Segundo os estudiosos, esta cidade devia ser a «Ain-Karim» de hoje, situada entre as montanhas, não distante de Jerusalém. Maria dirigiu-se para lá «apressadamente», para visitar Isabel, sua parente. O motivo desta visita há-de ser procurado também no fato de Gabriel, durante a Anunciação, ter nomeado de maneira significativa Isabel, que em idade avançada tinha concebido do marido Zacarias um filho, pelo poder de Deus: «Isabel, tua parente, concebeu um filho, na sua velhice; e está já no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus» (Lc 1, 36-37). O mensageiro divino tinha feito recurso ao evento, que se realizara em Isabel, para responder à pergunta de Maria: «Como se realizará isso, pois eu não conheço homem?» (Lc 1, 34). Sim, será possível exatamente pelo «poder do Altíssimo», como e ainda mais do que no caso de Isabel.

Maria dirige-se, pois, impelida pela caridade, a casa da sua parente. Quando aí entrou, Isabel, ao responder à sua saudação, tendo sentido o menino estremecer de alegria no próprio seio, «cheia do Espírito Santo», saúda por sua vez Maria em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre» (cf. Lc 1, 40-42). Esta proclamação e aclamação de Isabel deveria vir a entrar na Ave Maria, como continuação da saudação do Anjo, tornando-se assim uma das orações mais frequentes da Igreja. Mas são ainda mais significativas as palavras de Isabel, na pergunta que se segue: «E donde me é dada a dita que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?» (Lc 1, 43). Isabel dá testemunho acerca de Maria: reconhece e proclama que diante de si está a Mãe do Senhor, a Mãe do Messias. Neste testemunho participa também o filho que Isabel traz no seio: «estremeceu de alegria o menino no meu seio» (Lc 1, 44). O menino é o futuro João Batista, que, nas margens do Jordão, indicará em Jesus o Messias.

Todas as palavras, nesta saudação de Isabel, são densas de significado; no entanto, parece ser algo de importância fundamental o que ela diz no final: «Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor» (Lc 1, 45). [28] Estas palavras podem ser postas ao lado do apelativo «cheia de graça» da saudação do Anjo. Em ambos os textos se revela um conteúdo mariológico essencial, isto é, a verdade acerca de Maria, cuja presença se tornou real no mistério de Cristo, precisamente porque ela «acreditou». A plenitude de graça, anunciada pelo Anjo, significa o dom de Deus mesmo; a fé de Maria, proclamada por Isabel aquando da Visitação, mostra como a Virgem de Nazaré tinha correspondido a este dom” (RM, 12).

LG número 58 nos aponta Maria no “caminho da fé”. Toda sua vida é um caminho, uma peregrinação da fé. Escreve assim, Ir. Maria Ko Ha Fong, da congregação salesiana, num aprofundamento teológico[1]: “A imagem de Maria a caminho emerge com nitidez nos evangelhos e foi sempre rica de reflexão ao longo da história da Igreja. Maria encontra-se com frequência a caminho: sai, caminha, desloca-se mais do que as mulheres do seu tempo. As suas viagens entre Nazaré, Ain Karim, Belém, Jerusalém, Egito são acompanhadas de um dinamismo interior muito intenso. Toda a sua vida é um caminho, uma «peregrinação da fé» (cf. Lumen Gentium, 58). A mariologia conciliar realça esta «peregrinação» de Maria, vendo nela um modelo permanente para toda a Igreja. Não só. Maria mesma é caminho, caminho que conduz a Cristo, caminho que conduz «ao Caminho»”. Jesus diz: Eu sou O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
____________________

[1] https://donboscosalesianportal.org/wp-content/uploads/GFS_2016_MariaKo_pt.pdf

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

Santo Inácio de Loyola: Soldado de Cristo

Santo Inácio de Loyola (Guadium Press)

Muito já se escreveu sobre as vaidades do jovem Inácio de Loyola, anteriores à sua conversão. Menos apregoadas e de maior utilidade para nossos dias são as maravilhas que Deus operou nele e por ele.

Redação (31/07/2023 07:18, Gaudium Press) Nascido em 1491, época em que as grandes navegações alargavam as fronteiras do mundo, o espírito irrequieto e turbulento de Inácio preferia os riscos da guerra a uma vida ociosa na corte.

Em combate na defesa de Pamplona, teve uma perna fraturada por um projétil. Submeteu-se a penoso tratamento, findo o qual notou que a perna ficara deformada. Ordenou, então, aos médicos que a quebrassem e consertassem. Não lhe sendo satisfatório o resultado dessa cirurgia, mandou fazer outra, pois não queria aparecer manco ante as donzelas da corte.

Essa têmpera de caráter e força de vontade, seu espírito insaciável de grandezas, tudo deve ser visto na perspectiva da grandiosa missão que a Providência lhe reservara de Fundador da Companhia de Jesus.

No período de convalescença, ocupou-se em ler os dois únicos livros existentes no castelo: a Vida de Cristo e a Vida dos Santos. Tocado pela graça divina, ele perguntou-se: “Por que não faço eu o que fizeram São Francisco e São Domingos? Se eles realizaram tão grandes feitos, por que não posso realizá-los também?”

Mudança de vida 

Santo Inácio de Loyola (Guadium Press)

Uma vez recuperado, o jovem guerreiro estava decidido a penitenciar-se de seus pecados, pôr-se ao serviço de Deus e fazer por Ele grandes coisas, seguindo os exemplos dos Santos.

Uma noite, ele se prostrou diante de uma imagem da Virgem Maria e ofereceu-se a Jesus como seu fiel soldado. Ao concluir esta “consagração”, ouviu-se um grande estrondo no interior do castelo de Loyola, o qual foi abalado até os fundamentos.

O quarto de Inácio foi mais violentamente atingido. Em suas altas paredes, produziu-se uma larga rachadura, existente até hoje. Era o demônio a manifestar sua fúria, na previsão dos terríveis golpes que sua malfazeja obra receberia da Companhia de Jesus.

Ante esta manifestação extraordinária do espírito das trevas, ele tomou a resolução definitiva: “O que os santos fizeram, eu prometo, com a graça de Deus, fazê-lo também”. Não são mais as proezas da cavalaria profana que o atraem, mas esta santa emulação com os santos, no anseio de realizar grandes feitos “para a máxima glória de Deus”.

Naquela noite, apareceu-lhe a Santa Virgem com o Menino Jesus, durante um notável espaço de tempo. Após essa visão, ele sentiu que todas as imagens de sua vida passada lhe foram apagadas da alma. Desde então, jamais consentiu em qualquer tentação contra a virtude da pureza.

Iniciando sua nova vida, partiu em peregrinação para o Santuário de Nossa Senhora de Montserrat, onde fez uma confissão geral, após a qual trocou suas preciosas vestes pelas de um mendigo e depositou sua espada no altar de Nossa Senhora. A partir de então, só se ocuparia do serviço de Deus.

Comunicações divinas

O próprio Divino Redentor se ocupou, por vias extraordinárias, de sua formação religiosa.

Certo dia, Santo Inácio estava na escadaria da igreja dos Dominicanos e recitava o ofício da Santíssima Virgem. De repente, o seu espírito foi arrebatado até ao seio de Deus, e lhe foi dado compreender o incompreensível mistério de um Deus único em três pessoas distintas.

Ao sair da igreja, falou aos religiosos sobre este mistério numa linguagem sublime. Ninguém duvidava de que ele havia recebido luzes sobrenaturais. “Jamais algum doutor da Igreja falou tão eloquentemente e com tanta clareza sobre este mistério!” — exclamavam admirados.

Durante um êxtase, Deus lhe infundiu um tal conhecimento das Sagradas Escrituras que, mesmo se elas desaparecessem, ele não hesitaria em sustentá-las à custa do seu sangue!

Voltando a si de outro êxtase — que durou oito dias, durante os quais não tomou alimento algum nem mudou de posição — exclamava embevecido: “Oh Jesus! Oh Jesus!” A quem lhe perguntava sobre este colóquio com Deus, limitava-se a responder: “É inexprimível!” Seus biógrafos são de opinião que nesse êxtase Deus revelou ao Santo os Exercícios Espirituais e o plano da Companhia de Jesus.

Nasce a Companhia de Jesus

Ele sabia que Deus o destinava à fundação de uma Companhia de Apóstolos. Para isto, queria recrutar discípulos entre estudantes jovens e de valor. Pôs-se, então, a estudar as ciências humanas, passando pelas Universidades de Barcelona, Alcalá, Salamanca e Paris.

Em breve, o Santo reuniu em torno de si um grupo de escol: Pedro Fabro, Francisco Xavier, Diogo Laynes, Afonso Salmerón, Simão Rodrigues e Nicolau Bobadilha. Feitos os Exercícios Espirituais, todos mostraram-se dispostos a sacrificar tudo pela máxima glória de Deus.

A 15 de agosto de 1534, pronunciaram os votos religiosos na igreja de Montmartre. Após esse solene ato, os novos apóstolos sentiam-se tão felizes que não mais podiam separar-se. Constituía-se assim o primeiro esboço da Companhia de Jesus.

A 8 de janeiro de 1537, Santo Inácio achava-se em Veneza, com seus discípulos, de onde os enviou a Roma. Pedro Ortiz, ex-professor em Paris, era embaixador do Imperador Carlos V junto ao Papa.

Sabendo que os jovens professores da Universidade de Paris vinham pedir a bênção apostólica ao Soberano Pontífice, encarregou-se de lhes obter a audiência, elogiando suas virtudes e ciência pouco comuns. O Papa logo quis vê-los durante o jantar, ocasião em que foram convidados a tomar parte numa discussão.

Eles trataram com tão grande ciência e talento as questões propostas, e apresentaram os argumentos com tanta humildade, que Paulo III, não podendo conter sua admiração, abraçou-os dizendo: “Alegro-me de ver unida a tanta ciência tamanha modéstia”.

Em seguida abençoou-os e deu aos que ainda não eram sacerdotes autorização para receberem as sagradas Ordens.

Atividade apostólica baseada na santidade de vida

Santo Inácio de Loyola (Guadium Press)

Decidiram, a partir daí, fazer apostolado nas cidades onde as universidades atraíam os jovens. Francisco Xavier e Bobadilha foram para Bolonha, Simão Rodrigues e Lejay para Ferrara, Broet e Salmerón para Siena, Codure e Hoces para Pádua. Santo Inácio dirigiu-se a Roma com Fabro e Laynez.

Pedro Ortiz obteve para Santo Inácio uma audiência com o Sumo Pontífice, que acolheu com alegria a proposta dos novos apóstolos, cujo zelo e ciência já haviam adquirido tanta reputação. O Papa quis lançá-los em atividade sem demora.

Ao Pe. Laynez confiou a cadeira de Escolástica no Colégio Sapiência, e ao Pe. Fabro a de Escritura Sagrada. Quanto ao Pe. Inácio, encarregou-o do ministério apostólico em Roma, cujos costumes tinham grande necessidade de reforma.

Santo Inácio pregava os Exercícios Espirituais em público, obtendo em pouco tempo uma reforma geral dos costumes. Os novos apóstolos eram estimados e procurados por grandes e pequenos, graças à unção de sua palavra e santidade de suas vidas.

Virtudes próprias de Fundador e Superior Geral

Na quaresma de 1538, Santo Inácio convocou seus filhos a Roma para a ereção definitiva da Companhia em Ordem Religiosa. Todos se apressaram a obedecer-lhe.

Apresentada a Paulo III as Constituições, o Papa as acolheu com estas palavras: “O dedo de Deus está aí”. A nova Ordem foi erigida por uma bula de 27 de setembro de 1540. Em 19 de abril de 1541, Santo Inácio foi aclamado Superior Geral da Companhia.

Ele tudo vigiava e orientava. Estava ao corrente de tudo o que interessava a cada uma das casas da Ordem. Informava-se até dos progressos dos alunos de todos os colégios da Companhia. Os professores prestavam-lhe contas todas as semanas. Os trabalhos dos alunos eram vistos por ele. Lia tudo e fazia examinar esses escritos por outros.

Dirigia a casa de Roma, correspondia-se com os superiores das casas espalhadas pelo mundo, ocupava-se dos colégios, tratava os negócios da Igreja com o Papa e os Cardeais, mantinha correspondência com os soberanos da Europa, dirigia novas fundações, tudo isso sem interromper suas obras de misericórdia na Cidade Eterna, de que sempre dava exemplo aos seus discípulos.

Em Santo Inácio, conjugavam-se a flexibilidade com a firmeza, a sensibilidade com a disciplina, o arrojo com a prudência; a humildade não se opunha ao destemor na defesa da Santa Igreja; o despojamento de si mesmo era irmão do amor ao próximo.

Todos estes aparentes antagonismos brilhavam na vida do Fundador. Requisitos, aliás, indispensáveis a uma instituição jovem que se desenvolvia com grande pujança em oposição à onda libertária que tudo procurava arrastar em sentido contrário.

Um seu discípulo narra que qualquer pessoa triste ou angustiada, ao aproximar-se dele, logo recobrava a paz de espírito e a verdadeira alegria.

Sabia quando algum discípulo seu estava passando por dificuldade ou provação, e o confortava. Tinha o discernimento certeiro para a seleção dos candidatos a membros da Companhia. Era inflexível quanto à disciplina. Num dia de Pentecostes, chegou a expulsar doze noviços.

Mas estava longe de ser uma pessoa impulsiva. Pelo contrário, tinha tudo medido, pesado e contado. Às vezes adiava a execução de uma penalidade, ponderando: “Convém dormir sobre o caso”. Outras vezes dizia: “É preciso acomodar-nos aos negócios que não podem acomodar-se a nós; é necessário sabermos entrar pela porta de certas pessoas, a fim de fazê-las sair pela nossa”.

Método pessoal de cativar e conduzir as almas

Um noviço japonês, enviado a Roma por São Francisco Xavier, era tratado com extrema indulgência por Santo Inácio. Deu-lhe os encargos mais suaves, recomendando-lhe que o avisasse quando estivesse muito fatigado.

A um noviço italiano, de olhar muito vivo e aberto, o Santo disse: “Irmão Domenico, por que não procura fazer ler nos seus olhos a modéstia com que Deus aprouve adornar-lhe a alma?” Com estas poucas palavras, Domenico se corrigiu.

Às vezes o Santo era de uma severidade espantosa com alguns Padres veteranos, que ele estimava de todo o coração, querendo aperfeiçoá-los ainda mais pelo exercício da humildade.

Certo dia encontrou-se, no corredor do Colégio, com um jovem sorridente e alegre. O Santo perguntou-lhe:

— Por que andas sempre sorrindo?

— Sou feliz por estar em vossa Companhia! — respondeu ele.

— Continua sempre assim, pois a tristeza não cabe no serviço de Deus — disse o Santo, após abençoá-lo.

Tal jeito inaciano de cativar e atrair as gentes para a Igreja de Cristo era um eficaz instrumento de que se servia a graça divina para reaquecer no amor de Deus as almas que a heresia protestante havia esfriado na Fé.

É talvez por isso que, apenas com 16 anos de fundação, a Companhia de Jesus contava já com mais de 1000 membros, ocupando 100 casas, em 10 províncias.

Pronunciou pela última vez o santo Nome de Jesus e voou para Deus

Chegou o ano de 1556. O grande combatente havia travado nesta terra, com argúcia e energia admiráveis, a gloriosa luta em defesa da Fé.

Na Europa, seus filhos espirituais reconquistavam para a Igreja milhões de almas desgarradas pela heresia. Nos outros continentes, os missionários jesuítas, sempre infatigáveis e insaciáveis de almas a salvar, levavam a luz da Fé a mi­lhões de infelizes pagãos.

Sua obra estava consolidada, Deus resolveu chamá-lo a Si, para dar-lhe a “recompensa demasiadamente grande”.

No dia 30 de julho, Santo Inácio chamou o Padre Polanco e lhe disse:

— Chegou o momento de mandar dizer a Sua Santidade que estou prestes a morrer, e lhe peço humildemente sua bênção, para mim e para um dos nossos Padres, que não tardará a falecer também. Diga ainda a Sua Santidade que, depois de ter orado muito por ele neste mundo, continuarei a fazê-lo no Céu, se lá a divina Bondade se dignar receber-me.

— Os médicos não vos julgam tão mal como pensa… Posso adiar a incumbência para amanhã? — perguntou o Pe. Polanco.

— Faça como quiser, abandono-me à sua vontade — respondeu o Santo.

No dia 31, após receber a bênção apostólica, Santo Inácio pronunciou pela última vez o santo Nome de Jesus e sua alma voou para Deus. Foi canonizado em 12 de março de 1622.

A bula de canonização menciona duzentos milagres operados por sua intercessão.

Este é Santo Inácio de Loyola!

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 31, julho 2004.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

domingo, 30 de julho de 2023

Brasil envia 30 bispos, 900 padres, 300 voluntários e 10.000 peregrinos à JMJ em Lisboa

JMJ LISBOA 2023 (cnbb)

10 mil peregrinos brasileiros e 30 bispos estão confirmados na JMJ 2023, informa a Comissão para a Juventude 

Faltando 2 dias para o início da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a ser realizada de 1º a 6 de agosto, em Lisboa, Portugal, a delegação brasileira embarcou para se encontrar com o Papa Francisco. Segundo a Comissão Episcopal para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) cerca de 10 mil peregrinos do país efetivaram as inscrições para participar do evento.

Do Brasil também irão 30 bispos, 900 padres e 300 voluntários brasileiros que vão trabalhar nos eventos centrais. Ademais, 6 bolsistas e 9 voluntários de longa duração já estão em Lisboa desde o ano passado para ajudar na organização da JMJ.

Momento especial de encontro com jovens do mundo

O bispo da diocese de Imperatriz, no Maranhão, e presidente da Comissão Episcopal para a Juventude, dom Vilsom Basso, é um dos que vão embarcar nos próximos dias. Ele destaca que é um momento especial de encontro dos jovens do mundo inteiro com o Papa Francisco.

“É onde recebemos mensagens e orientações de como criar uma cultura mundial, em 2023, no âmbito do cuidado com a Casa Comum. Inspirados na Laudato Si’ levaremos às juventudes do mundo inteiro essa consciência, preocupação e ação para preservar o planeta, a Casa Comum”.

A JMJ também será inspirada na Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, na qual, segundo dom Vilsom, o pontífice convoca todos os jovens a serem uma “onda de paz, de entendimento, de construção de pontes, de diálogo que possibilite a humanidade ser uma só”.

“A partir das juventudes, acolhendo as diferenças e vivendo unidos um só corpo em diferentes membros, animados pelo espírito de Deus e inspirados em nosso Senhor Jesus Cristo é o que me anima a ir participar do serviço do catequista nessa Jornada Mundial da Juventude”, disse dom Vilsom.

“Aprender com o entusiasmo dos jovens”

Outro bispo que também já está de malas prontas e prestes a partir para a JMJ é o arcebispo de Palmas, no Tocantins, dom Pedro Brito Guimarães. Ele vê o evento como mais uma oportunidade de evangelização da juventude. “Quero entender a dinâmica, me empoderar, me tornar esperto na questão de como convencer, evangelizar a juventude. Sei que é uma festa de massa, mas lá poderei aprender também com o entusiasmo dos jovens, a alegria, o comprometimento”, disse.

“Eu irei por me encantar com a juventude. Sou preocupado, sou responsabilizado pela juventude. Vou para aprender, para participar, para dar o meu crédito, contribuir, dar catequese, ajudar o Papa e a Igreja a superar essa fase depressiva, adoentada em que a juventude está”, salientou.

A Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB tem apoiado toda a delegação brasileira no processo de preparação com o fornecimento de informações e também no acompanhamento de um grupo que representará as diversas realidades juvenis do país. Além do acompanhamento, a Comissão apoiou a preparação com momentos de espiritualidade e na oferta de informações práticas sobre a viagem, por meio de lives mensais desde o final do ano passado.

CNBB Nacional

Fonte: https://www.cnbbleste2.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF