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terça-feira, 31 de outubro de 2023

Papa Francisco: a Igreja que sonhamos é adoradora e serva de todos e dos últimos

Papa Francisco: "Sonhamos com uma Igreja adoradora e serva de todos." (Vatican Media)

Francisco presidiu a celebração eucarística de conclusão do Sínodo dos Bispos no Vaticano e exortou cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos a crescer na adoração a Deus e no serviço ao próximo: "é aqui que está o coração de tudo" para fazer "a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama. Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia".

https://youtu.be/XRYbeRUSGxw

Andressa Collet - Vatican News

Uma Basílica de São Pedro com cerca de 5 mil fiéis neste domingo (29) para rezar junto o Papa Francisco, que presidiu a missa de conclusão do Sínodo dos Bispos. A homilia foi especialmente dirigida aos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos que, durante um mês, se viram empenhados na Sala Paulo VI, no Vaticano, para a XVI Assembleia Geral Ordinária. O pedido do Pontífice, segundo a reflexão do Evangelho do dia (Mt 22, 36) sobre "o princípio inspirador de tudo", foi de "crescer na adoração a Deus e no serviço do próximo".

De fato, quando nos interrogamos sobre «Qual é o maior mandamento?» (Mt 22, 36), explica o Papa, a resposta de Jesus é clara: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 37-39). Com a conclusão do Sínodo, "é importante fixar o «princípio e fundamento», do qual uma vez e outra tudo começa: amar a Deus com toda a vida e amar o próximo como a si mesmo". Mas, questiona o próprio Papa, como traduzir tal impulso de amor? Francisco propõe "dois verbos, dois movimentos do coração": adorar e servir.

A adoração é essencial na Igreja

A adoração "é a primeira resposta que podemos oferecer ao amor gratuito" de Deus e, infelizmente, neste momento, disse o Papa, "perdemos o hábito da adoração": "esta maravilha própria da adoração é essencial na Igreja".

“Que esta seja uma atividade central para nós, pastores: dediquemos diariamente um tempo à intimidade com Jesus, Bom Pastor, diante do sacrário. Adorar. Que a Igreja seja adoradora! Adore-se o Senhor em cada diocese, em cada paróquia, em cada comunidade! Porque só assim nos voltaremos para Jesus, e não para nós mesmos.”

Mas, alerta Francisco, na Sagrada Escritura, o amor ao Senhor aparece frequentemente associado à luta contra toda a idolatria, porque os ídolos são obra do homem: "quem adora a Deus rejeita os ídolos, pois, enquanto Deus liberta, os ídolos tornam-nos escravos".

Servir
O segundo verbo proposto pelo Papa é o servir, como acontece no mandamento maior, já que "Cristo liga Deus e o próximo, para que não apareçam jamais separados. Não existe uma experiência religiosa que seja surda ao grito do mundo, uma verdadeira experiência religiosa. Não há amor a Deus sem envolvimento no cuidado do próximo". Assim, a reforma da Igreja deve ser conduzida através da adoração e do serviço:

"Adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma. Ser Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres. [...] Irmãos e irmãs, penso naqueles que são vítimas das atrocidades da guerra; nas tribulações dos migrantes, no sofrimento escondido de quem se encontra sozinho e em condições de pobreza; em quem é esmagado pelos fardos da vida; em quem já não tem mais lágrimas, em quem não tem voz."

Assim, com a conclusão da Assembleia Sinodal, nesta «conversação do Espírito», disse o Papa, a experiência foi rica da "terna presença do Senhor", da "beleza da fraternidade", sempre "à escuta do Espírito. Hoje não vemos o fruto completo deste processo", comentou ainda o Pontífice, mas o Senhor deverá guiar e ajudar todos "a ser Igreja mais sinodal e missionária, que adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar a todos a alegria consoladora do Evangelho":

“Esta é a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama, sem nunca exigir antes um atestado de «boa conduta». Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia.”

Confira a íntegrada celebração de conclusão do Sínodo:

https://youtu.be/tfNqiVbbVss

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Igreja ante as revelações particulares

Shutterstock | everst

Por Vanderlei de Lima - publicado em 09/08/20

Embora não se imponham à fé católica, muitas visões ocorridas ao longo da história podem ser indícios da piedade dos videntes.

A Revelação pública oficial da Igreja terminou com o fim da geração dos Apóstolos. Depois, ocorrem apenas as chamadas “revelações particulares” ou “privadas” que não merecem fé divina, mas apenas humana. Detalhemos isso.

O Concílio Vaticano I assim declara: “Deve-se, pois, crer com fé divina e católica tudo o que está contido na Palavra divina escrita ou transmitida pela Tradição, bem como tudo o que a Igreja, quer em declaração solene, quer pelo Magistério ordinário e universal, nos propõe a crer como revelado por Deus” (Constituição Dogmática Sobre A Fé Católica, s. III, 24-4-1870, c. 1792).

Vê-se aí que o Magistério da Igreja é exercido de dois modos: o ordinário (= ensinamento cotidiano dos Bispos espalhados pelo mundo unidos ao Bispo de Roma, o Papa) e o extraordinário (= exercido bem mais raramente pelos Concílios Ecumênicos ou Gerais sob a supervisão do Papa ou pelo próprio Santo Padre quando, na função de confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22,31s), proclama um dogma ou uma definição ex cathedra (definitiva) em temas de fé e moral). Já os demais pronunciamentos do Romano Pontífice merecem religiosa submissão da vontade e da inteligência (cf. Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, 25).

Aqui, perguntamos: e como ficam as revelações particulares? – “Elas não pertencem ao depósito da fé” (Catecismo da Igreja Católica n. 67); por isso, o fiel é livre para nelas crer ou não. Afinal, “a Igreja não pode impor à crença dos fiéis nem o presumido fato de uma aparição, nem o teor da respectiva mensagem” (Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Teologia fundamental. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2013, p. 145). Mais: se o fiel quiser crer, será apenas com fé humana, não divina. Sim, assegura o renomado teólogo dominicano Antonio Royo Marín que “estão excluídas como objeto material da fé divina e católica as revelações privadas que algumas pessoas em particular podem receber (por exemplo, Santa Teresa), de forma que somente elas estão obrigadas a crer com fé divina, caso tenham, em virtude da luz profética [a iluminar apenas o receptor da mensagem – Nota nossa], certeza da origem divina das mesmas”(A fé da Igreja: em que deve crer o cristão de hoje. 2ª ed. Campinas: Ecclesiae, 2018, p. 62). Por parte dos demais fiéis, a expressão fé só humana é o assentimento que se dá à revelação feita por uma pessoa digna de crédito (eu acredito porque foi X que falou, se fosse Y não acreditaria). Distingue-se da fé divina que está no plano sobrenatural. É um dom de Deus, e merece assentimento, pois é Ele mesmo quem nos fala por meio de sua Palavra transmitida, interpretada e chancelada pela Igreja (cf. idem, p. 45-60).

Daí ser oportuno lembrar que, quando não se opõe à fé católica, mas está em conformidade com ela, a Igreja – sem se comprometer diretamente com as narrativas dos videntes – permite que o conteúdo edificante das visões seja divulgado. Lê-se na Encíclica Pascendi Domini Gregis, VI, “Essas aparições ou revelações não foram aprovadas nem condenadas pela Santa Sé, foram apenas aceitas como merecedores de piedosa crença, com fé puramente humana, em vista da tradição de que gozam, também confirmadas por testemunhas e documentos idôneos”.

A título de conclusão, devemos deixar claro – por meio de dois estudiosos jesuítas – que, embora não se imponham à fé católica, muitas visões ocorridas ao longo da história, “podem ser indícios da piedade dos videntes, e podem ser muito úteis na edificação e na firmeza da fé do povo, podem ser providenciais, podem até ser e virem acompanhadas de milagres de Deus” (Pe. Oscar G. Quevedo, SJ. Palavra de Iahweh. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2003, p. 125). Mais: “Seria fruto de uma inteligência fechada para a verdade não colher as jóias destas minas de valores humanos” (Pe. Afonso Rodrigues, SJ. Psicologia da Graça. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1995, p. 115). Embora jamais possam se impor à fé católica, não devem ser, sem mais, rejeitadas como se nelas nada de útil se pudesse transmitir, de modo privado, ao Povo de Deus.

Portanto, examinemos tudo e fiquemos com o que é bom (cf. 1Ts 5,21).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Santo Afonso Rodrigues

Santo Afonso Rodrigues (Templários de Maria)

SANTO DO DIA – 31 DE OUTUBRO – SANTO AFONSO RODRIGUEZ
Jesuíta, Porteiro de Colégio

Afonso Rodríguez nasceu a 25 de julho de 1531, numa família de sete filhos e quatro filhas, sendo o segundo da numerosa prole. Como não era raro na época, seus pais, bastante virtuosos, criaram os filhos no amor e no temor de Deus e na devoção Àquela que é a Medianeira de todas as graças, Nossa Senhora.

Desde pequeno Afonso aprendeu a invocá-La e, em sua inocência, confiava-Lhe todos seus desejos e apreensões. Certo dia ― estaria ele já entrando na adolescência ― num transporte de amor, disse à soberana Senhora: “Ó Senhora, se Vós soubésseis quanto Vos amo! Eu Vos amo tanto, que Vós não podeis amar-me mais do que eu a Vós”. Ao que, aparecendo-lhe, disse-lhe a Rainha dos Céus: “Você se engana, meu filho, porque eu o amo muito mais do que você pode me amar”.

Primeiros contatos com a Companhia de Jesus

Dois religiosos jesuítas, indo pregar missão em Segóvia, hospedaram-se em sua casa. Afonso e seu irmão foram designados para atendê-los, e receberam, em troca do esmero com que o fizeram, bons conselhos e orientação religiosa. Foi o primeiro contacto que o futuro santo manteve com os jesuítas.

Com eles começariam, Afonso e seu irmão, seus estudos no colégio da Companhia em Alcalá. Dir-se-ia que o futuro de Afonso estava traçado: tornar-se-ia um sacerdote da Companhia de Jesus e brilharia por sua eloquência e santidade. Nada disso. Os caminhos da Providência eram outros. Afonso teve que interromper os estudos, com a morte do pai, pois, como seu irmão estava mais adiantado neles, era preferível que se formasse. Assim, Afonso tomou um rumo oposto: tornou-se o encarregado da loja de tecidos do falecido progenitor, e casou-se. Nasceram-lhe os dois primeiros filhos, um casal. Estava ele assim encaminhado para uma vida virtuosa dentro dos laços conjugais e como honesto comerciante.

Modelar marido e pai, péssimo comerciante

Mas se Afonso era muito bom marido e pai, revelou-se comerciante incompetente. Pois tinha tanto escrúpulo de obter algum lucro ilicitamente, que pouco ganhava em suas transações comerciais. A esposa alertou-o que, desse modo, iriam eles acabar na miséria. Mas de nada adiantou. E os negócios iam de mal a pior para a família.

Chegou então a hora da Providência: a esposa bem-amada faleceu ao dar à luz a um menino. Pouco tempo depois, faleceu a filhinha, e não muito depois um dos meninos. Esses cruéis sofrimentos fizeram-lhe compreender que não há nada de duradouro nesta vida, e que tudo passa como o vento. Agora ficava ele só com o filhinho que custara a vida à mãe, e concentrou nele todo seu afeto.

Levando uma vida extremamente penitente, mais própria a religiosos que a comerciantes, Afonso continuou com sua loja, sendo visitado continuamente por visões e êxtases. Um dia em que ele chorava seus pecados, Nosso Senhor apareceu-lhe acompanhado de um brilhante cortejo de 12 santos, dos quais ele reconheceu apenas São Francisco de Assis. Este lhe perguntou por que chorava. “Ó querido santo — respondeu-lhe Afonso — se um só pecado venial merece ser chorado durante toda uma vida, como vós quereis que eu não chore, sendo tão culpado?”. A humilde resposta agradou a Nosso Senhor, que o olhou com muita complacência e desapareceu.

O amor de Afonso pelo filhinho era extremo, mas todo sobrenatural. De modo que ele, um dia, contemplando a inocência do menino de três anos, e pensando no horror que representa o pecado mortal, implorou a Deus que, se mais tarde aquela criatura fosse ofendê-Lo de maneira grave, que Ele a levasse em sua inocência baptismal. Deus não se fez de rogado, e Afonso dolorosamente teve que amortalhar seu último filho, mas na alegria de sabê-lo salvo no Céu.

Irmão leigo na Companhia de Jesus

Aos 32 anos de idade, estava livre para tornar-se religioso na Companhia de Jesus. Mas não foi o que ocorreu, pois os caminhos da Providência são, muitas vezes, diferentes de nossos planos. Afonso vendeu todos os seus bens e dirigiu-se a Valença, pedindo admissão na Companhia de Jesus. O reitor, entretanto, aconselhou-o a aprender antes a língua latina, para poder seguir o sacerdócio. Ele entrou então como preceptor do filho da Duquesa de Terranova. Decorreram outros seis anos até que Afonso fosse admitido na Companhia. Nela, o santo seguiu rigorosamente o programa de estudos para poder ordenar-se. Mas, já quase com 40 anos e com má saúde, piorada pelo excesso de austeridades, não conseguia aprender o suficiente para o sacerdócio. Ele o compreendeu, como logo também se deram conta disso seus superiores. Assim, ele foi admitido na Companhia de Jesus como simples irmão leigo.

Nessa humilde condição, Afonso foi enviado ao colégio de Palma de Mallorca, para cuidar da portaria. Soube levar ali uma vida de extraordinária riqueza espiritual. Durante mais de 30 anos como porteiro, fazendo com espírito sobrenatural suas mais simples ações, chegou a um alto grau de vida mística.

Logo de manhã, quando o sino tocava o despertar, ajoelhava-se perto da cama, agradecia à Santíssima Trindade por havê-lo preservado naquela noite de todo o mal e pecado, e dizia estas palavras do Te Deum: “Dignai-vos, Senhor, guardar-me, neste dia, sem pecado”. Renovava então o propósito de receber a todos, em seu ofício de porteiro, como se fossem o próprio Nosso Senhor.

A cada hora do dia ele recitava uma jaculatória especial, celebrando uma das invocações de Nossa Senhora; e à noite, antes de deitar-se, recomendava-Lhe todas as almas do Purgatório, suplicando que aceitasse seu repouso como uma oração em sufrágio delas.

Seu comércio com o sobrenatural era contínuo, como ele mesmo revela em sua autobiografia, falando na terceira pessoa: “Essa pessoa chegou a viver tão familiarmente com Jesus e sua santa Mãe, que às vezes parecia-lhe caminhar entre ambos, e que os dois o abraçavam, e ele Lhes dizia amorosamente: ‘Jesus, Maria, meus dulcíssimos amores, morra eu e padeça por Vosso amor’”[1].

Perseguições do demónio e socorro

Se Afonso tinha visões celestes, não era privado das infernais. O demónio aparecia-lhe sob as mais horrendas formas, e o tentava de todos os modos possíveis, principalmente contra a virtude da pureza. Para combatê-lo, o irmão leigo recorria à penitência e à oração, e sobretudo à Rainha do Céu e da Terra. Duas vezes o espírito infernal lançou-o do alto da escada que unia dois pavimentos, e nas duas vezes foi ele amparado por Nossa Senhora.

Numa violenta tentação de desespero, chamou Maria em seu socorro. Nossa Senhora apareceu-lhe circundada de luz celeste, e os demónios fugiram espavoridos. “Meu filho Afonso ― disse-lhe Ela ― onde estou, você não tem nada a temer”.

A um religioso espanhol, que depois lhe escreveu a biografia, deu este conselho: “Quando desejar obter qualquer coisa de Deus, recorra a Maria, e esteja seguro de tudo obter”.

Obediência e apóstolo da devoção mariana

Sua obediência aos superiores era cega, e difícil de compreender em nossa época dominada pelo orgulho. Certo dia ele assistia a uma conferência sentado perto da porta. Ao entrar um superior, ofereceu-lhe o lugar. “Permaneça onde está”, disse-lhe ele. Afonso ficou lá até bem depois de terminada a conferência, e só saiu quando alguém o foi chamar. Para prová-lo outra vez, o superior mandou que embarcasse para a Índia. Sem mais pensar, nem pegar roupas e provisões, partiu ele. O superior mandou detê-lo, e perguntou-lhe: “Como iria à Índia?”. “Eu iria até o porto e procuraria um navio; se não o encontrasse, entraria na água e iria o mais longe possível; depois retornaria, contente de ter feito tudo para obedecer”[2].

Em seu zelo apostólico, o fervoroso irmão procurava difundir entre os alunos do colégio grande devoção à Virgem, insistindo com que a Ela sempre recorressem e se inscrevessem na Congregação Mariana. Evangelizava os pobres e vagabundos que apareciam no colégio à procura de esmola, cativando-os por sua ardente caridade.

Diretor espiritual de São Pedro Claver

Por volta de 1605, Afonso Rodríguez foi procurado por um jovem seminarista jesuíta catalão, Pedro Claver, que lhe pediu com insistência que o simples irmão leigo fosse seu diretor espiritual. Surgiu então entre os dois uma amizade sobrenatural que não cessou com a morte, pois Afonso Rodríguez teve a visão da entrada de seu discípulo na glória celeste. Foi por sua direcção que Pedro Claver partiu para a América, onde dedicou todas suas forças, energias e imensa caridade ao apostolado com os negros. Afonso Rodríguez acompanhava de longe o labor apostólico de seu discípulo, oferecendo-lhe não só suas orações, mas o mérito de suas penitências. Dedicou a ele um livreto que escreveu, com o título A perfeição religiosa[3].

Santo Afonso Rodríguez faleceu no dia 31 de outubro de 1617, aos 86 anos de idade.

Conheça mais sobre Santo Afonso Rodrigues

Afonso Rodríguez exerceu a princípio a profissão de mercador de tecidos na cidade de Segóvia, onde nasceu no dia 25 de julho de 1531. Deus, porém, que o chamava a uma vida mais perfeita, permitiu-lhe padecer uma série de provações, destinadas a desapegá-lo completamente do mundo.

Sofreu alguns prejuízos consideráveis no negócio, depois que a morte lhe levou a esposa e uma filha, às quais amava ternamente. Contudo, restava-lhe um filho, poderoso consolo para tão aflito coração; mas este morreu pouco tempo depois de sua mãe e de sua irmã.

Afonso, adorando a mão de Deus que o feria, desde então se dedicou totalmente às obras de mortificação cristã, e entregou-se à prática de grandes austeridades. Assim passou três anos, consultando Deus e suplicando-lhe que lhe desse a conhecer a sua vontade. Foi então que se decidiu pela Companhia de Jesus, na qual entrou no ano de 1509, e pronunciou os votos finais em 5 de abril de 1585.

Seus superiores confiaram-lhe o cargo de porteiro do colégio de Maiorca, humilde função que o santo religioso desempenhou até o fim de sua vida, durante numerosos anos. Foi neste posto, aparentemente tão insignificante, que se elevou à mais alta santidade, conservando a idéia de Deus continuamente presente no seu espírito, vivendo em permanente mortificação, obedecendo com humildade perfeita aos seus superiores, e dando provas de uma ilimitada caridade, de uma complacência e uma mansuetude inalteráveis, fosse em relação a seus irmãos, fosse em relação aos alunos e aos estrangeiros que frequentavam o colégio.

Várias vezes, viram-no arrebatado em êxtase enquanto orava, mas os dons de Deus não lhe enchiam de vaidade o coração. Afonso Rodríguez considerava-se o maior dos pecadores e os favores que recebia do Senhor só serviam para incutir nele sentimentos da mais profunda humildade.

Esse santo religioso morreu no dia 31 de outubro de 1617, com a idade de oitenta e seis anos, e foi considerado objeto de uma veneração toda especial, tanto por parte do povo do lugar, como por parte de seus irmãos. No ano de 1627, o Papa Urbano VIII começou a informar-se sobre as suas virtudes.

Foi beatificado por Leão XII, em 20 de setembro de 1828, e canonizado por Pio IX.

(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVIII, p. 94-95)

Fonte: https://templariodemaria.com/

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

EDITORIAL: A pequena luz do Sínodo na hora escura do mundo

"No mundo em chamas, o Sínodo celebrado neste mês de outubro representa uma pequena semente, que esperamos que tenha consequências para o futuro da Igreja e da Humanidade inteira" (Vatican Media)

Para a humanidade à beira do abismo, o que aconteceu nas últimas quatro semanas em Roma é um sinal de esperança. E indica o caminho para uma Igreja missionária que, finalmente aplicando o Concílio Vaticano II, não tem medo das novidades sugeridas pelo Espírito Santo.

Andrea Tornielli

Em um mundo que está se incendiando e está à beira do abismo de um novo conflito mundial; em um mundo marcado pela incapacidade de ouvir e pelo ódio que fomenta guerras e violências que também se refletem no continente digital, o fato de quatrocentas pessoas terem se reunido por um mês longe de casa para rezar, se ouvir, discutir é certamente uma notícia. A Igreja sinodal na qual o Papa Francisco insiste hoje representa uma pequena semente de esperança: ainda é possível dialogar, acolher o outro, deixando de lado o protagonismo do próprio ego para superar as polarizações a fim de chegar a um consenso amplamente compartilhado.

Vivemos um momento sombrio, uma época em que guerras e terrorismos, que massacram civis e ceifam crianças, se sustentam com o apoio da violência verbal e do pensamento único. Um momento sombrio em que até mesmo "paz", "diálogo", "negociação" e "cessar-fogo" se tornaram palavras impronunciáveis. Um momento sombrio marcado pela falta de coragem, lucidez e criatividade diplomática em todos os níveis, a começar dos governos e das classes dominantes.

De fato, há muito que se agarrar à oração. É preciso, de fato, apoiar e seguir uma voz profética capaz de se erguer e se elevar acima dos interesses, das ideologias e dos partidarismos: aquela do Bispo de Roma. No mundo em chamas, o sínodo celebrado neste mês de outubro representa uma pequena semente, que esperamos que gere consequências para o futuro da Igreja e da humanidade inteira.

Olhando para a Igreja e a sua missão, se se analisa o documento de síntese dessa primeira sessão do único sínodo que terá seu epílogo daqui a um ano - texto votado com uma porcentagem muito alta de consensos -, se descobrem algumas novidades. Em primeiro lugar, uma nova percepção da necessidade de aplicar os ensinamentos do último concílio, com relação ao único chamado que envolve todos nós como batizados. Em todas as páginas do Evangelho, Jesus, que se aproximava de todos e falava com todos, sofre oposição e é combatido pelas castas. Os clérigos da época, acostumados a colocar fardos pesados sobre os ombros dos outros, os escribas, os doutores da lei, os professores de doutrina.

É preciso olhar para o Nazareno para recuperar na Igreja, em todos os níveis, desde a Cúria Romana até a menor das paróquias, a consciência de que todo ministério é serviço e não poder, e "serve" realmente se aproxima, une, torna corresponsáveis, cria fraternidade, testemunha a misericórdia de Deus, não se distancia, não se reforça em privilégios, não se traça linhas de separação entre os que são ordenados e os que não são, não se considera (talvez mais com atos do que com palavras) o leigo como um batizado de segunda classe. Ao mesmo tempo, também é necessário evitar, por parte dos batizados não chamados à vocação ao sacerdócio, mas a outras formas de testemunho e de serviço no único sacerdócio batismal, o risco de querer se clericalizar e de se deixar clericalizar, para ir além das pequenas castas dos "leigos comprometidos".

O sínodo sobre a sinodalidade será uma semente de esperança se o tempo de graça vivido pelos homens (a maioria, e uma maioria de bispos) e pelas mulheres reunidos em Roma for testemunhado como um método a ser aplicado com paciência em todas as expressões da vida das comunidades cristãs. Não será uma semente de esperança se for reduzida ao cumprimento burocrático, talvez colocando-a no liquidificador da linguagem do "eclesialês" e autorreferencial, uma mistura de velhas categorias clericais. As de uma Igreja que, em palavras, diz que quer aplicar o Concílio, mas depois age com as categorias pré-conciliares por meio de práticas consolidadas, com os bispos e os padres que decidem e os outros batizados que devem se limitar a colocar suas decisões em prática.

O Relatório de Síntese que acaba de ser publicado fala da necessidade comum de dar mais espaço às mulheres, ao gênio feminino, ao princípio mariano tão importante na Igreja. Também nesse caso, seria suficiente ter a coragem de olhar mais para o Evangelho e confiar mais em Jesus. Sob a cruz, quando apóstolos e discípulos (exceto João) fugiram, havia mulheres. Enquanto Ele morria, elas permaneceram. E é à intuição e à coragem delas de deixar o cenáculo que devemos o primeiro anúncio da ressurreição.

No túmulo vazio, as mulheres foram as primeiras, não os homens, nem os apóstolos assustados que permaneceram trancados em suas casas. O primeiro anúncio da notícia mais chocante da história humana - aquela do Deus que se faz homem, morre por nós e depois ressuscita, tornando-nos parte desse destino - foi feito por mulheres, não por homens. Elas testemunham o que viram, o túmulo vazio, e são as primeiras a dizer que Jesus está vivo. Elas fazem a primeira homilia sobre o querigma, sobre os fundamentos de nossa fé, aos apóstolos e discípulos ainda horrorizados com o que aconteceu na Sexta-feira Santa.

Seria suficiente começar daqui para conscientizar todos de que as mulheres devem ser muito mais valorizadas em todos os níveis da Igreja, superando o flagelo do clericalismo, doença infelizmente ainda profundamente enraizada e repetidamente denunciada pelo Sucessor de Pedro. É de se esperar que o documento de síntese do Sínodo represente um ponto de não retorno na recuperação das origens evangélicas também nesse campo.

Um outro elemento que emerge do texto votado pelos membros do sínodo é o que se refere ao acolhimento das pessoas feridas. Acolher os pobres - a proximidade a eles e a escolha preferencial por eles é o ensinamento de Jesus Cristo e da tradição dos Padres da Igreja, não uma categoria sociológica ou a descoberta das teologias da libertação - e acolher os migrantes, nos quais o cristão não pode deixar de ver refletidos os rostos da sagrada família de Nazaré em fuga. Mas também acolher aqueles que são "irregulares", que estão distantes, que não são "apresentáveis". Mais uma vez, precisamos voltar ao Evangelho e àquela síntese tão eficaz contida nas palavras que o bispo de Roma confiou aos jovens na JMJ de Lisboa, repetindo que na Igreja há realmente lugar para todos, "todos, todos".

Em cada página evangélica, vemos o Nazareno quebrando tabus e tradições consolidadas, derrubando a presunção e a hipocrisia, para abraçar o pecador, que está ferido, que é descartado, que não está dentro da legalidade, que é corrupto, que está distante, que não é um "de nós". Será bom voltarmos à dinâmica do que aconteceu em Jericó em março do ano 30, alguns dias antes da paixão, morte e ressurreição de Jesus, quando o Mestre, passando sob o sicômoro, olha para cima e chama o pequeno publicano corrupto, odiado por todos, convidando-se para entrar em sua casa. Zaqueu recebe o Nazareno, reconhece o seu pecado e se converte. Mas essa conversão é a consequência de primeiro ter sido olhado com amor, acolhido e inundado de misericórdia. Não é um pré-requisito necessário. O que é necessário é uma Igreja capaz de olhar para cada mulher e cada homem, com suas misérias, com seu pecado, com o mesmo olhar de Jesus, para fazê-los sentir-se acolhidos e acompanhá-los com paciência e ternura, confiando na obra da graça e da sua ação no tempo e no modo de Deus no coração das pessoas e em suas histórias.

Por fim, como não mencionar, en passant, os pontos em que a síntese do Sínodo pede uma revisão do Direito Canônico, de seguir o caminho do ecumenismo com maior convicção e concretude, de valorizar melhor as estruturas sinodais já existentes. E também para seguir o caminho indicado em vão por São João Paulo II, desde 1995, com relação ao ministério do Papa, aquele de "encontrar uma forma de exercício do primado que, sem renunciar de modo algum ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova" (Ut unum sint).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Hoje é dia de Santo Alonso Rodríguez, exemplo de humildade e serviço

Santo Alonso Rodríguez (ACI Digital)

A Igreja Católica celebra hoje (30) santo Alonso Rodríguez, irmão coadjutor jesuíta que viveu entre os séculos XVI e XVII, exemplo de humildade e vocação ao serviço.

Antes de se tornar religioso, Alonso era um homem de família: era casado e tinha três filhos. Quando tinha cerca de 40 anos, diversas circunstâncias fizeram com que a sua vida tomasse um rumo completamente diferente – que o levaria a fazer parte da Companhia de Jesus. Nesse sentido, Alonso é um modelo de escuta do Espírito e de confiança no Senhor.

A maior dor: quando tudo parece perdido

Santo Alonso Rodríguez nasceu na Espanha, em 1531, em uma família de comerciantes. Aos 26 anos, casou-se com a senhora María Suárez, com quem teve três filhos.

Alguns anos antes, ele havia assumido o negócio da família, quando seu pai, comerciante de lã, o herdou. Alonso fez o possível para cumprir a tarefa, mas sem muito sucesso. Neste contexto já difícil, perdeu primeiro os dois filhos mais velhos e depois a mulher, que morreu ao dar à luz o terceiro filho. Infelizmente, aquela criança também não sobreviveria: depois de ser colocada aos cuidados de duas tias, a criança adoeceu e morreu.

Renascimento

Alonso, então, ficou sozinho, sem aquela que tinha sido a força motriz de sua vida: sua família. Providencialmente, nos dias de solidão e de silêncio forçado, começou a recordar a sua infância e como os seus pais, naqueles tempos, tinham recebido em sua casa padres e membros da recém-fundada Companhia de Jesus.

O agora viúvo se sentiu impelido a voltar àquilo que, como uma semente, parecia reviver com o tempo: a fé que nunca abandonou, mas da qual se esquivava um pouco.

Essa fé parecia brotar novamente e apontava horizontes renovados. Alonso decidiu então se aproximar de Deus, animado pelo consolo que encontrou no Senhor para uma dor tão indescritível. Começou a frequentar regularmente os sacramentos e a ter uma vida de penitência e oração, voltando completamente à piedade que o marcou quando criança e que agora era fonte de fortaleza.

São Pedro Fabro e as sementes de Deus

Alonso se lembrava constantemente de Pedro Fabro, cofundador dos jesuítas e que conheceu aos 12 anos, quando esteve por algum tempo hospedado na casa dos seus pais. Fabro era um homem que irradiava afabilidade e fortaleza. Ele também havia sofrido, mas nunca se mostrou desanimado.

Assim, a imagem do jesuíta o moveu a se envolver cada vez menos com a dor e a viver mais diante da fé que o marcou. De repente, participando do trabalho dos jesuítas, Alonso começou a ver sua vida de forma diferente, pouco a pouco, com esperança. Descobriu que o Senhor ainda esperava muito dele e que poderia ser completamente renovado. Assim, começou a pensar em colocar-se ao serviço de Deus e da Igreja como religioso.

O coração importa, não a idade, nem o trabalho

Alonso então pediu para ser admitido na Companhia de Jesus. Contudo, os jesuítas, em primeira instância, não o aceitaram por diversos motivos. Entre eles, a idade – tinha mais de quarenta anos –, a saúde precária e a falta de estudos avançados – requisito para o sacerdócio jesuíta. Apesar disso, o santo não desistiu. Manteve a esperança de ser admitido, lembrando a todos como santo Inácio de Loyola não deixou de se tornar religioso por causa da idade.

Finalmente, o provincial dos jesuítas o aceitou como irmão leigo em 1571. Depois de terminar o noviciado, foi enviado ao colégio de Nossa Senhora de Monte-Sión, em Palma de Maiorca, onde lhe foi atribuído o cargo de porteiro, cargo que ocuparia por 32 anos.

O porteiro e um jovem missionário

Santo Alonso Rodríguez fez do seu cargo de porteiro um verdadeiro serviço aos outros e uma ocasião permanente de santificação.

Da portaria do convento estabeleceu diálogo com muitas pessoas, entre as quais estava ninguém menos que são Pedro Claver, na época aluno do colégio Monte-Sión. Diz-se que santo Alonso entusiasmou e encorajou Pedro a viajar algum dia para a América. Como se sabe, Pedro foi o santo protetor dos escravos em Cartagena das Índias, na América. Por causa dessas coisas de Deus, os dois jesuítas seriam canonizados no mesmo ano, 1888.

A oração é capaz de abrir todas as portas

Alonso aproveitava as horas de trabalho na portaria para rezar. Na verdade, uma de suas orações favoritas era o santo terço, que ele rezava várias vezes ao dia. Alonso teve até visões do Céu e da Virgem Maria, que lhe aparecia – a Ela se confiava sempre para o proteger do mal – para ouvi-lo e dar-lhe consolo. Se em alguma ocasião caísse em tentação, Alonso passava pela imagem da Virgem e lhe dizia: “Sancta Maria, Mater Dei, memento mei” [Santa Maria, Mãe de Deus, lembra-te de mim].

Fonte: https://www.acidigital.com/

Viver: uma missão que vale a pena

Crianças brincando em playground 1590841 (Vecteezy)

VIVER: UMA MISSÃO QUE VALE A PENA

Dom Bertilo João Morsch 
Bispo auxiliar de Porto Alegre (RS)

A dimensão missionária ocupa um lugar especial na vida da Igreja como de todo batizado. Na conclusão dos evangelhos de Mateus e Marcos escutamos a voz do Senhor que envia os discípulos: “Ide ao mundo inteiro, proclamai a Boa Nova e fazei todos os povos discípulos, batizando-os e ensinando-os a guardar tudo o que vos mandei. Eis que estarei convosco todos os dias” (Mt28,19-20; Mc 16,15-18). 

A missão é dar testemunho de Cristo nos ambientes em que estamos. Houve uma época em que se compreendia a missão apenas no ato de ir de um país a outro, de converter os pecadores, de anunciar o Evangelho sem respeito à cultura dos povos. Missão se faz com respeito, chegando devagar, aprendendo mais que ensinando. 

O bom missionário é aquele que pensa no futuro. Não se deve pensar apenas no momento presente, é preciso abrir-se ao que virá depois de nós. Conhecemos o ditado que diz: “Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”, isso porque antigamente as tamareiras demoravam entre 80 a 100 anos para dar os primeiros frutos. Mas a missão é deixar frutos para os que virão depois. Nossas ações de hoje vão marcar o futuro. Se não der tempo de colher, sempre será tempo de semear. 

A missão se faz com o coração e com os gestos, mais do que com palavras. Como gosta de dizer o Papa Francisco, é por atração que seremos missionários hoje. As pessoas devem ler, encontrar, perceber, notar em nós o Deus que proclamamos com a boca. E ainda, três coisas são necessárias para vivermos bem a missão: um grande pensamento, um coração atento e as mãos disponíveis. Diante dos desafios da humanidade colocamos a nossa vida a disposição. Deus acolhe o nosso oferecimento e transforma tudo no fogo intenso do coração de Cristo. 

Na sua mensagem para o dia mundial das missões o Papa Francisco destacou três aspectos que traçam o itinerário dos discípulos missionários, e que podem renovar o nosso zelo pela evangelização no mundo de hoje. 

Corações ardentes, “quando nos explicava as Escrituras”. A Palavra de Deus ilumina e transforma o coração na missão.

Por isso, “não deixemos que nos roubem a esperança!” (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 86). O Senhor é maior do que os nossos problemas, sobretudo quando os encontramos ao anunciar o Evangelho ao mundo, porque esta missão, afinal, é d’Ele e nós somos simplesmente os seus humildes colaboradores, “servos inúteis” (cf. Lc 17, 10). 

Olhos que “se abriram e O reconheceram” ao partir o pão. Jesus na Eucaristia é ápice e fonte da missão. 

É preciso ter presente que, se o simples repartir o pão material com os famintos em nome de Cristo já é um ato cristão missionário, quanto mais o será o repartir o Pão eucarístico, que é o próprio Cristo. Trata-se da ação missionária por excelência, porque a Eucaristia é fonte e ápice da vida e missão da Igreja.

Pés ao caminho, com a alegria de proclamar Cristo Ressuscitado. A eterna juventude duma Igreja sempre em saída.

O primeiro e principal recurso da missão são aqueles que reconheceram Cristo ressuscitado, nas Escrituras e na Eucaristia, e que trazem o seu fogo no coração e a sua luz no olhar. Eles podem testemunhar a vida que não morre jamais, mesmo nas situações mais difíceis e nos momentos mais escuros. 

Portanto saiamos também nós, iluminados pelo encontro com o Ressuscitado e animados pelo seu Espírito. Saiamos com corações ardentes, olhos abertos, pés ao caminho, para fazer arder outros corações com a Palavra de Deus, abrir outros olhos para Jesus Eucaristia, e convidar todos a caminharem juntos pelo caminho da paz e da salvação que Deus, em Cristo, deu à humanidade.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Artista católica faz exposição sobre o Cântico dos Cânticos em São Paulo

Hermoso mosaico que muestra la Anunciación a la Virgen María fuera de la iglesia ortodoxa cristiana - Atenas, Grecia (Theastock - Shutterstock)

Por Reportagem local - publicado em 28/02/23

Gravuras em mental estampadas em papel e álbuns com desenhos e colagens compõem a exposição que acontece até 31 de março.

A exposição “O Cântico dos Cânticos: exercícios para a apreensão de um poema”, da artista plástica Lucila Sartori, está em cartaz na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da Universidade de São Paulo (USP). 

Sob uma iluminação aconchegante que estimula a observação das obras, a mostra é composta por gravuras em mental estampadas em papel e álbuns com desenhos e colagens. Artes que foram desenvolvidas por Lucila ao longo de anos de trabalho e de estudo do livro do Antigo Testamento, Cântico dos Cânticos. Peças de cerâmica, feitas exclusivas para a ocasião, completam a mostra. 

Do estudo à inspiração

Há muitos anos, Lucila estuda o livro Cântico dos Cânticos, constituído por poemas amorosos, organizado ao redor dos anos 400-300 a.C. 

Ao todo são 117 versos em oito capítulos. Este livro sapiencial aborda o amor humano, mas também celebra o amor e a ternura divina pela humanidade – esta seria como que a noiva de Deus, em um interpretação espiritual e alegórica, por exemplo. 

 “É um texto muito lindo. Fala do amor, da união e das vicissitudes (adversidades) do amor. Desse caminho, dessa experiência amorosa”, comentou a artista ao jornal “O São Paulo”, destacando que estudou interpretações de diferentes autores sobre o texto, desde a feita por religiosos e santos até por estudiosos mais contemporâneos em uma perspectiva mais antropológica.

Lucila se interessa pelos mistérios que cercam o livro bíblico: “Desde os místicos que são apaixonados pelo Cântico até filósofos, linguistas, músicos e botânicos que estudaram as espécies e conseguiram por meio disso chegar a uma datação [do livro] e a um espaço físico onde o Cântico aconteceu”, afirmou 

A artista revelou que a inspiração para produzir  os trabalhos artísticos se deu após as leituras dos poemas deste livro bíblico: “Ao ler, tive vontade de colocar essas imagens na técnica de gravura em metal”, contou Lucila, que desenvolveu ainda imagens em trabalhos de desenho e colagem.

Um texto atual

Lucila enfatiza que o livro dos Cânticos também trata de questões atuais, como o respeito que deve haver na relação de um casal: “Os personagens principais, o casal, falam amorosamente no mesmo plano, não há subjugação de um ser pelo outro. Há um respeito muito bonito. É uma celebração de um pelo outro”. 

Outro tema identificado por Lucila e que permeia sua inspiração é a natureza, em que “o humano além de estar nela, vive em respeito a ela”. 

Lucila percebe o mundo do Cântico como um cosmo que aparece pelas alusões de elementos como o sol e a lua, englobando um mundo geológico. 

“Essa geografia é habitada por vegetações específicas que são nomeadas no poema, com espécies aromáticas e flores que abrigam por sua vez uma série de animais”, detalhou Lucila. “No centro disso está o casal humano, que é o lugar da palavra e que entre os dois constitui o poema.” 

“Penso ser importante que esses temas existam há tantos séculos e até hoje isso ainda não foi resolvido, haja vistos as violações que a gente assiste da natureza e mesmo dos relacionamentos entre as pessoas”, completou a artista. 

Ambientação

As gravuras e os álbuns estão acomodados em vitrines laterais do espaço expositivo. Já as cerâmicas estão no centro da sala, onde a iluminação do ambiente também se concentra.   

Além de preencher fisicamente o lugar, as peças de cerâmica exalam sutil perfume. O cheiro faz parte da mostra. Com o reforço de pequenos difusores espalhados pela sala, o perfume é conservado no ambiente. 

“O trabalho [de cerâmica] é uma instalação pensada como um jardim fechado, um dos assuntos do Cântico dos Cânticos”, pontuou Lucila.

“Ao pensar no livro dos Cânticos, a primeira imagem que me veio foi a de um lugar, o deserto que, provavelmente, foi o local originário em que esse livro foi escrito ou ditado”, contou à reportagem o curador da exposição, Luiz Armando Bagolin.

Partindo dessa ideia, a artista e o curador buscaram uma forma de trabalhar na mostra a aridez do deserto, mas também, um lugar em que existe vida. 

“Existem flores no deserto, resistentes e perfumadas. Por isso, a ideia do jardim e dos aromas, da sala mais escura, das gravuras e desenhos nas vitrines e o restante do espaço vazio”, acrescentou Bagolin.

Curadoria 

Lucila pondera que embora a exposição tenha o livro do Cântico dos Cânticos como inspiração, não se buscou representar seu conteúdo: “É um recorte do meu trabalho. Não é uma ilustração do Cântico. É uma ressonância dos meus estudos e das minhas leituras tanto do livro dos Cânticos quanto das camadas interpretativas que essa obra teve ao longo da história”.

Lucila confia que a mostra pode ser uma porta de entrada de apreciação do Livro dos Cânticos: “Ao olhar [a exposição] e se interessar, a pessoa pode querer conhecer a origem do trabalho. Acho que é uma boa contribuição”. 

O curador, Bagolin, acredita que o trabalho de Lucila sirvirá de estímulo para o visitante buscar uma tradução do livro do Cântico dos Cânticos e ler, senão inteiro, trechos dele.

Isabel Azevedo, 66, também artista plástica, esteve na abertura da mostra e pretende voltar, pois para ela, não é uma exposição para ser prestigiada uma única vez.  

“Você precisa conectar com calma o texto com a imagem e, assim, consiga juntar as duas coisas, enquanto está observando. Olhar uma sequência de imagens rapidamente é diferente de se concentrar em cada uma”, comentou Isabel. 

Serviço

Gratuita, a visitação de “Cântico dos Cânticos: exercícios para a apreensão de um poema” vai até 31 de março, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 9h às 13h.

Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, São Paulo/SP

(Apuração: Ira Romão, jornalista)

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Aprofundando o Congresso Internacional de Liturgia

"A centralidade na liturgia não está no homem, mas na Glória de Deus." (Jesus Youth Jaago)

"Hoje está claro que na liturgia se ventila uma nova compreensão de Deus, da Igreja e do mundo. Na nossa relação com Cristo, com a Igreja, com os outros e conosco mesmo, no campo da liturgia, buscamos entender o destino da fé e da Igreja", afirmou em Porto Alegre o subsecretário do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, dom Aurelio García Macías.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

No âmbito do Sínodo sobre a sinodalidade, cuja primeira fase foi concluída no domingo 29 de outubro, padre Gerson Schmidt* nos propôs algumas reflexões sobre "liturgia e sinodalidade". Neste contexto, trazemos as palavras do cardeal austríaco Christoph Schönborn O.P., durante o briefing sobre o Sínodo de 23 de outubro, realizado na Sala de Imprensa da Santa Sé:

“Um aspecto que descobrimos mais neste Sínodo, nesta Assembleia Sinodal é aquilo que as Igrejas Orientais – das quais sou muito próximo - sempre viveram. Sinodalidade sem liturgia não existe, porque o coração da sinodalidade é a assembleia dos fiéis, e a assembleia não é um lugar de debates, em primeiro lugar, mas é a celebração comum. E portanto, o que estamos vivendo agora nesta fase do Sínodo, de ter a peito a liturgia, a fé celebrada, antes de ser a fé discutida.”

No programa de hoje, o sacerdote gaúcho conclui sua série de reflexões sobre este tema, com um aprofundamento sobre o Congresso Internacional de Liturgia realizado em Porto Alegre na PUCRS, em agosto último:

"Nos próximos três meses, vamos mudar nossa temática e voltar à Constituição conciliar Sacrossanctum Concilium, tendo em vista o lançamento da Terceira Edição do Missal Romano para o Brasil, que acontecerá no Advento desse ano. As semanas que antecedem o rico tempo do Advento, preparativo para o Natal e início do Ano Litúrgico, poderão nos preparar para melhor celebrar a liturgia e ver algumas mudanças também na nova edição do Missal Romano, que tem sua rica tradição na história celebrativa da Igreja. De início, convém logo dizer que a Igreja no Brasil não edita um novo missal, linguagem errônea se for utilizada. Realiza uma Terceira Edição melhorada, com alguns pontos adaptados, segundo à renovação querida pela Constituição Sacrossanctum Concilium do Concilio Vaticano II. A liturgia atualiza o mistério de Deus estudado na Teologia.

Antes de tudo, queremos lembrar alguns pontos importantes que aconteceram em aprofundamento teológico por meio de um Congresso litúrgico na capital gaúcha, em Porto Alegre.  A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), por meio da Escola da Humanidades e a Comissão de Liturgia da Arquidiocese de Porto Alegre, promoveram dos dias 28 a 30 de agosto o CONGRESSO INTERNACIONAL TEOLÓGICO-LITÚRGICO. O evento foi organizado pela Arquidiocese de Porto Alegre, pelo Curso de Graduação em Teologia e pelo Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUCRS, tendo a frente a equipe arquidiocesana coordenada por Pe. Gustavo Haas, responsável pelo setor. O congresso teve por objetivo refletir sobre a intrínseca relação entre a celebração litúrgica (lex orandi) e a fé da Igreja (lex credendi) no contexto da celebração dos 60 anos da Sacrosanctum Concilium, da rica Carta Apostólica Desiderio Desideravi do Papa Francisco e a publicação da 3ª edição típica do Missal Romano para o Brasil.

Centenas de participantes estiveram estudando e aprofundando o tema litúrgico no Congresso, oriundos de todo o Brasil: padres, religiosos, professores, seminaristas, estudantes, leigos em geral. O Congresso contou com a assessoria renomada de especialistas em liturgia, de modo particular de dom Aurelio García Macías, do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, oriundo da Espanha, que palestrou em dois momentos sobre “OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO LITÚRGICA HOJE” e “MISSAL ROMANO: UMA TRADIÇÃO ININTERRUPTA DA LEX ORANDI DA IGREJA”.

“A celebração litúrgica forma ou deforma os fiéis”, afirmou dom Aurelio, no Congresso, também recordando que nos séculos anteriores, a liturgia era um assunto simplesmente pragmático, para procurar uma forma de celebração mais acessível ao homem, cuidando das rubricas e vestimentas litúrgicas, do como celebrar concretamente. Havia uma busca de uma forma mais prática do modo de se celebrar. Hoje está claro que na liturgia se ventila uma nova compreensão de Deus, da Igreja e do mundo.  Na nossa relação com Cristo, com a Igreja, com os outros e conosco mesmo, no campo da liturgia, buscamos entender o destino da fé e da Igreja. “A questão da liturgia nos tem requerido hoje uma relevância e importância que antes não podíamos prever. Certamente em outras épocas históricas, as questões teológicas se debatiam em campos diferentes. Por exemplo: no primeiro milênio, o que preocupava os cristãos foi a Cristologia”, dizia Dom Aurélio no Congresso. Os Concílios de Niceia e Calcedônia se preocuparam na definição da natureza de Cristo, declarando-O como verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. “O debate teológico, nos primeiros séculos e Milênio, estava na Cristologia.  Onde estava o debate teológico no segundo Milênio? Na Eucaristia”, disse o assessor do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, no evento em Porto Alegre.

Perguntou aos participantes do Congresso, onde estaria o debate teológico no Terceiro Milênio, buscando envolver seus ouvintes, deixando uma pausa para reflexão dos participantes. “Está na liturgia - respondeu. Não são questões litúrgicas simplesmente, mas questões teológicas”. Citou o cardeal Ratzinger que afirmou que atualmente no campo da liturgia é que está o destino da fé e da Igreja”. Bento XVI, no primeiro volume de sua Opera Omnia[1], afirmou que “na relação com a liturgia se decide o destino da fé e da Igreja”. No espanhol parece ser mais explicativo essa máxima do cardeal Ratzinger: “«en el trato que le demos a la liturgia se decide el destino de la fe y de la Iglesia». Ou seja: no trato, no tratamento que damos à liturgia é que se decide os rumos da fé e da Igreja. Cristo está presente na Igreja através dos sacramentos. Deus é o sujeito da história, e não nós. A liturgia não é uma ação do homem, mas de Deus. A centralidade na liturgia não está no homem, mas na Glória de Deus. Mas a glória de Deus é a santificação do homem, que passa também pela liturgia. Podemos concluir com essa máxima, um slogan que diz:  “Se queres reformar o modo como uma comunidade vive, começa por reformar o modo como reza”."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] BENTO XVI, Dorso do volume XI, “Teologia da Liturgia”, de sua Opera omnia,

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF