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sábado, 1 de abril de 2023

V Pregação da Quaresma 2023 “Tende coragem, eu venci o mundo!” - texto integral

Frei Cantalamessa durante a Quinta Pregação da Quaresma 
(Vatican Media)

O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, propôs à Cúria Romana, nesta sexta-feira, 31 de março, a quinta pregação da Quaresma intitulada “Tende coragem, eu venci o mundo!” No início da pregação, o purpurado convidou os presentes a fazerem uma oração pelo Papa Francisco que se encontra internado no Hospital Policlínico Gemelli.

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

“Tende coragem, eu venci o mundo!”

Quinta Pregação da Quaresma de 2023

“No mundo, tereis aflições, mas tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33). Santo Padre, Veneráveis Padres, irmãos e irmãs, estas estão entre as últimas palavras que Jesus dirige aos seus discípulos, antes de se despedir deles. Elas não são o habitual “Tende coragem!” dirigido a quem fica, da parte de alguém que está prestes a partir. Acrescenta, de fato: “Não vos deixarei órfãos, venho a vós” (Jo 14,18).

O que significa “venho a vós”, se está para deixá-los? De que modo e com que veste virá e permanecerá com eles? Se não entendermos a resposta a esta pergunta, jamais entenderemos a verdadeira natureza da Igreja. A resposta está presente, como uma espécie de tema recorrente, nos discursos de adeus do Evangelho de João e é bom, por uma vez, escutar seguidamente os versículos em que ela se torna a nota dominante. Façamo-lo com a atenção e a emoção com que os filhos escutam as disposições do pai acerca do bem mais precioso que está prestes a lhes deixar:

E eu pedirei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê, nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e está em vós (14,16-17).

Ora, o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito (14,26).

Quando vier o Paráclito, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo (15,26-27).

É bom para vós que eu vá. Se eu não for, o Paráclito não virá a vós, mas se eu for, eu o mandarei a vós (16,7).

Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de suportá-las agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, então ele vos guiará a toda a verdade. Ele não falará de si mesmo, mas dirá tudo quanto tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vos anunciará (16,12-14).

Mas o que é, e quem é o Espírito Santo que ele promete? É ele mesmo, Jesus, ou um outro? Se é ele mesmo, por que diz em terceira pessoa: “Quando vier o Paráclito...”; se é um outro, por que diz em primeira pessoa: “Venho a vós”? Tocamos o mistério da relação entre o Ressuscitado e o seu Espírito. Relação tão estreita e misteriosa, que São Paulo parece às vezes identificá-los. Escreve, de fato: “O Senhor é o Espírito”, mas logo acrescenta sem solução de continuidade: “e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17). Se é o Espírito do Senhor, não pode ser, pura e simplesmente, Senhor.

A resposta da Escritura é que o Espírito Santo, com a redenção, tornou-se “o Espírito de Cristo”; é o modo com que o Ressuscitado assim opera na Igreja e no mundo, tendo sido, “segundo o Espírito de santidade, constituído Filho de Deus com poder, desde a ressurreição dos mortos” (Rm 1,4). Eis porque ele pode dizer aos discípulos: “É bom para vós que eu vá” e acrescentar: “não vos deixarei órfãos”.

Devemos nos libertar completamente de uma visão da Igreja, que foi se formando pouco a pouco e se tornou dominante na consciência de muitos fiéis. Eu a defino uma visão deísta ou cartesiana, pela afinidade que ela tem com a visão do mundo do deísmo cartesiano. Como era concebida a relação entre Deus e o mundo nessa visão? Mais ou menos assim: Deus, no início, cria o mundo e depois se retira, deixando que se desenvolva com as leis que ele deu; como um relógio, ao qual foi dado corda suficiente para funcionar indefinidamente por conta própria. Cada nova intervenção de Deus atrapalharia esta ordem, razão pela qual os milagres são considerados inadmissíveis. Deus, ao criar o mundo, faria como alguém que dá um leve tapa em um balão de gás e o impulsiona para o ar, permanecendo ele por terra.

O que significa esta visão aplicada à Igreja? Que Cristo fundou a Igreja, dotou-a de todas as estruturas hierárquicas e sacramentais para funcionar, e depois a deixou, retirando-se em seu céu, no momento da Ascensão. Como alguém que empurra um pequeno barco ao mar, permanecendo ele à margem.

Mas não é assim! Jesus subiu no barco e está dentro dele. É preciso levar a sério as suas últimas palavras, em Mateus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). A cada nova tempestade, inclusive as hodiernas, ele nos repete o que disse aos apóstolos no episódio da tempestade acalmada: “Por que tendes medo, fracos na fé?” (Mt 8,26). Não estou convosco? Posso eu afundar? Pode afundar no mar aquele que criou o mar?

Notei com alegria que, no Anuário Pontifício, sob o nome do Papa, está apenas o título “Bispo de Roma”; todos os demais títulos – Vigário de Jesus Cristo, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Primaz da Itália, etc. – são elencados como “títulos históricos” na página seguinte. Parece-me justo, sobretudo em relação a “Vigário de Jesus Cristo”. Vigário é alguém que faz as vezes na ausência do chefe, mas Jesus Cristo jamais se ausentou e jamais se ausentará da sua Igreja. Com a sua morte e ressurreição, ele se tornou “Cabeça do corpo, que é a Igreja” (Cl 1,18), e assim continuará a ser até o fim dos tempos: o verdadeiro e único Senhor da Igreja.

A sua não é uma presença, por assim dizer, moral e intencional, não é um senhorio por procuração. Quando não podemos presenciar algum evento pessoalmente, normalmente dizemos: “Estarei presente espiritualmente!”, o que não é de grande consolação ou ajuda a quem nos convidou. Quando dizemos que Jesus está presente “espiritualmente”, esta presença espiritual não é uma forma menos forte daquela física, mas infinitamente mais real e eficaz. É a presença dele ressuscitado, que age no poder do Espírito, age em todo tempo e lugar, e age dentro de nós.

Se, na atual situação de crescente crise energética, se descobrisse a existência de uma fonte de energia nova, inesgotável; se finalmente se descobrisse como utilizar à vontade e sem efeitos negativos a energia solar, que alívio seria para a humanidade inteira! Pois bem, a Igreja tem, em seu campo, uma semelhante fonte inesgotável de energia: o “poder do alto”, que é o Espírito Santo. Jesus pôde dizer dele: “Até agora, nada pedistes em meu nome. Pedi e recebereis, para que vossa alegria seja completa (Jo 16,24).

Há um momento na história da salvação que se aproxima das palavras de Jesus na última ceia. Trata-se do oráculo do profeta Ageu. Diz:

No sétimo mês, no vigésimo primeiro dia do mês, veio a palavra do Senhor por meio do profeta Ageu, nestes termos: “Dize a Zorobabel, filho di Sealtiel, governador de Judá, a Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote, e a todo o resto do povo: Quem é dentre vós o sobrevivente que viu esta Casa na sua primeira glória? E como vós a estais vendo agora? Tal como está, não é como nada a vossos olhos? Agora, sê forte, Josué, filho de Zorobabel, oráculo do Senhor, sê forte, Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote, sê forte, todo povo da terra – oráculo do Senhor – e trabalhai! Pois eu estou convosco, oráculo do Senhor dos exércitos... meu espírito permanecerá em vosso meio; não temais!” (Ag 2,1-5).

É um dos pouquíssimos textos do Antigo Testamento que pode ser datado com precisão: é o dia 17 de outubro de 520 a.C. Não nos parece que é descrita, nas palavras de Ageu, a situação atual da Igreja Católica, e, por tantos aspectos, a de toda a cristandade? Quem de nós é idoso o bastante, recorda com saudade os tempos, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em que as igrejas lotavam aos domingos, matrimônios e batismos se sucediam na paróquia, os seminários e noviciados abundavam de vocações... “E como nós a estamos vendo agora?”, poderíamos dizer com Ageu? Não vale a pena gastar tempo para repetir o elenco dos males presentes, daqueles que, para alguns, aparecem comente ruínas, não diferentes das ruínas da Roma antiga que temos em todo o entorno desta cidade.

Nem tudo o que um tempo reluzia era ouro, e que somos propensos a lamentar. Se tudo fosse ouro maciço, se aqueles seminários cheios fossem forjas de santos pastores e a formação tradicional neles transmitida, sólida e verdadeira, hoje não teríamos que lamentar tantos escândalos... Mas não é o caso de falar disso aqui e, certamente, não sou eu o mais qualificado a fazê-lo. O que me devo captar é a exortação que o profeta dirigiu naquele dia ao povo de Israel. Ele não os exortou a chorar sobre si mesmos, a resignarem-se e estarem preparados para o pior. Não; diz como Jesus: “Sê forte – oráculo do Senhor – e trabalhai! Meu espírito permanecerá em vosso meio”.

Mas atenção: não se trata de um vago e estéril “Sê forte”. O profeta antes disse qual é “o trabalho” a que devem pôr as mãos. E, como ele nos diz respeito de perto, escutemos também o precedente oráculo de Ageu ao povo e aos seus chefes:

Assim diz o Senhor dos exércitos: Este povo diz que ainda não chegou o tempo – o tempo de ser reconstruída a casa do Senhor. Aconteceu que a palavra do Senhor veio por meio do profeta Ageu nestes termos: “É para vós tempo de habitardes em casas revestidas, enquanto esta casa está em ruínas? Pois agora, assim diz o Senhor dos exércitos: refleti em vossos corações sobre vossos caminhos! Semeastes muito e recolheis pouco. Comeis e não ficais saciados, bebeis e não ficais embriagados, vos vestis e não vos aqueceis, e aquele que recebe salário, recebe salário em bolsa furada... Subi ao monte, trazei madeira e construí a Casa. Nela eu me comprazerei e serei glorificado, diz o Senhor” (Ag 1,2-8).

A palavra de Deus, uma vez pronunciada, volta a ser ativa e atual cada vez que é novamente proclamada. Não é uma simples citação bíblica. Somos nós agora “este povo” ao qual é dirigida a palavra de Deus. O que são para nós, hoje, “as casas revestidas” (algumas traduções dizem: “bem decoradas”) em que somos tentados a permanecer tranquilos? Vejo três casas concêntricas, uma dentro da outra, das quais devemos sair para subir ao monte e reconstruir a casa de Deus.

A primeira casa bem revestida, cuidada e decorada, é o meu “eu”: a minha comodidade, a minha glória, a minha posição na sociedade ou na Igreja. É o muro mais difícil de derrubar, o melhor dissimulado. É tão fácil minha honra se passar pela honra de Deus e da Igreja; o apego às minhas ideias, pelo apego à verdade pura e simples. Quem fala, neste momento, não pensa fazer exceções. Estamos dentro desta nossa casca assim como o bicho-da-seda em seu casulo: ao seu redor tudo é seda, mas se o bicho-da-seda não romper o casulo, permanecerá lagarta e jamais se tornará borboleta que voa.

Mas deixemos de lado este assunto, tendo tantas ocasiões para ouvir falar dele. A segunda casa bem revestida, da qual sair para ir trabalhar na “casa do Senhor”, é a minha paróquia, a minha ordem religiosa, movimento ou associação eclesial, a minha Igreja local, a minha a diocese... Não vamos interpretar equivocadamente. Ai de nós se não tivéssemos amor e apego a estas realidades particulares, nas quais o Senhor nos colocou e das quais sejamos até responsáveis.  O mal está em absolutizá-las, não ver para além delas, não nos interessarmos por outras, criticando e desprezando quem não compartilha com elas. Perder de vista, enfim, a catolicidade da Igreja. Esquecer, frequentemente diz o Santo Padre, que “o todo é mais do que a parte”. Somos um só corpo, o corpo de Cristo, e, no corpo, afirma Paulo, “se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele” (1Cor 12,26). O sínodo deveria servir também para isto: a nos tornarmos conscientes e partícipes dos problemas e das alegrias de toda a Igreja Católica.

Mas vamos à terceira casa bem revestida. Sair dela ficou mais difícil pelo fato de que, por séculos, foi-nos inculcado que sair dela seria pecado e traição. Li recentemente, por ocasião da Semana de oração pela unidade dos cristãos, o testemunho de uma mulher católica de um país de religiões diversificadas. Quando jovem, o pároco ensinava que só ao entrar fisicamente em uma igreja protestante se cometia pecado mortal. E suponho que o mesmo se dizia, do outro lado da cerca, ao entrar em uma Igreja católica.

Falo, naturalmente, da terceira casa bem revestida, que é a denominação cristã particular a que pertencemos, e o faço recordando, ainda recentemente, o extraordinário e profético evento do encontro ecumênico do Sudão do Sul, de fevereiro passado.  Todos estamos convictos de que parte da fraqueza da nossa evangelização e ação no mundo deve-se à divisão e à luta recíproca entre cristãos. Verifica-se o que Deus diz, sempre segundo Ageu:

Tendes em vista muito e eis que há pouco; e que trareis para casa, eu o espalharei com um sopro. E por que isto? – oráculo do Senhor dos exércitos – Por que minha Casa está em ruínas, mas vós, vós correis cada um para sua própria casa (Ag 1,9).

Jesus disse a Pedro: “Sobre esta pedra construirei a minha Igreja”. Não disse: “Construirei as minhas Igrejas”. Deve haver um sentido no qual aquilo que Jesus chama “a minha Igreja” abraça todos os crentes nele e todos os batizados. O apóstolo Paulo tem uma fórmula que poderia desempenhar esta tarefa de abraçar todos aqueles que creem em Cristo. No início da Primeira Carta aos Coríntios, ele estende a sua saudação a: “Todos os que, em todo lugar, invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Cor 1,2).

Não podemos nos contentar, certamente, com esta unidade tão vasta, mas tão vaga. E isto justifica o empenho e o confronto, também doutrinal, entre as Igrejas. Mas nem mesmo podemos desprezar e não levar em conta esta unidade de base que consiste em invocar o mesmo Senhor Jesus Cristo. Quem crê no Filho de Deus, crê também no Pai e no Espírito Santo. É muito verdadeiro o que foi repetido em várias ocasiões: “o que nos une é mais importante daquilo que nos divide”.

Nos casos em que não podemos deixar de desaprovar o uso que é feito do nome de Jesus e o modo em que é anunciado o Evangelho, pode nos ajudar a superar a rejeição aquilo que São Paulo dizia de alguns que, em seu tempo, anunciavam o Evangelho “por inveja e rivalidade”. “Que importa?” – escrevia aos Filipenses – “De qualquer maneira, com segundas intenções ou com sinceridade, Cristo está sendo anunciado, e com isso eu me alegro” (Fl 1,16-18). Sem esquecer que também os cristãos de outras denominações encontram em nós, católicos, coisas que não podem aprovar.

O oráculo de Ageu sobre o templo reconstruído conclui com uma promessa radiosa: “Maior será a glória desta futura Casa do que da primeira, diz o Senhor dos exércitos. E neste lugar darei a paz, oráculo do Senhor dos exércitos” (Ag 2,9). Não ousamos dizer que tal profecia se cumprirá também para nós e que a casa de Deus, que é a Igreja do futuro, será mais gloriosa que a do passado, que agora lamentamos; podemos, contudo, esperá-lo e pedi-lo a Deus em espírito de humildade e arrependimento.

Não faltam sinais encorajadores: um entre os mais evidentes é justamente a busca da unidade entre os cristãos. Na entrevista a um jornalista católico, na viagem de retorno do Sudão do Sul, o Arcebispo Welby dizia: “Vemos trabalhar juntas Igrejas que, no passado, eram inimigas declaradas, que se atacavam e queimavam os sacerdotes umas das outras, condenando-se reciprocamente nos mais violentos termos: quando isso acontece, quer dizer que há algo de espiritual que está acontecendo. Há uma libertação do Espírito de Deus que dá grande esperança”[1].

A profecia de Ageu que comentei, Veneráveis Padres, irmãos e irmãs, é relacionada a uma recordação pessoal, e lhes peço desculpas, se ouso relembrá-la novamente nesta sede. Faço-o na certeza de que a palavra profética volta a desencadear a sua carga de confiança e de esperança cada vez que é proclamada e escutada com fé.

No dia em que o meu Superior Geral me permitiu deixar o ensino na Universidade Católica, para me dedicar em tempo integral à pregação, na Liturgia das Horas estava a profecia de Ageu que comentei. Após ter recitado o Ofício, vim aqui na Basílica de São Pedro. Queria rezar ao Apóstolo para abençoar o meu novo ministério. A um certo ponto, enquanto estava na praça, aquela palavra de Deus me voltou à mente com força. Voltei-me à janela do Papa no Palácio Apostólico e me pus a proclamar em alta voz: “Coragem, João Paulo II; coragem, cardeais, bispos e todo povo da Igreja: e trabalhai, pois eu estou convosco, diz o Senhor”. Foi fácil fazê-lo, pois chovia e não havia ninguém ao redor.

Poucos meses depois, em 1980, fui nomeado Pregador da Casa Pontifícia e me encontrei na presença do Papa para iniciar a minha primeira Quaresma. Aquela palavra voltou a ressoar dentro de mim, não como uma citação e uma lembrança, mas como palavra viva para aquele momento. Contei o que tinha feito naquele dia na Praça de São Pedro. Assim, voltei-me ao Papa que, à época, acompanhava a pregação em uma capela lateral, e repeti com força as palavras de Ageu: “Coragem, João Paulo II; coragem, cardeais, bispos e povo de Deus: e trabalhai, pois eu estou convosco, diz o Senhor. O meu Espírito estará convosco”. E, dos olhares, pareceu-me entender que a palavra dava aquilo que prometia: isto é, coragem (ainda que João Paulo II fosse a última pessoa no mundo a quem se tivesse que recomendar para ter coragem!).

Hoje, ouso proclamar de novo aquela palavra, sabendo que não se trata de uma simples citação, mas de uma palavra sempre viva, que volta a operar toda vez aquilo que promete. Portanto, coragem, Papa Francisco! Coragem irmãos cardeais, bispos, sacerdotes e fiéis da Igreja Católica, e trabalhai, pois eu estou convosco, diz o Senhor. O meu Espírito estará convosco!”.

A todos faço votos de uma Santa Páscoa de paz e esperança.

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, ofmcap

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

As bases da Moral Católica

As bases da Moral Católica (Cléofas)

As bases da Moral Católica

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A moral católica é a base do comportamento do cristão, segundo a fé que ele professa recebida de Cristo e dos Apóstolos. No Sermão da Montanha Jesus estabeleceu a “Constituição” do Reino de Deus, e em todo o Evangelho nos ensina a viver conforme a vontade de Deus.

Para quem vive pela fé, a moral cristã não é uma cadeia, antes, um caminho de vida plena e de felicidade. Deus não nos teria deixado um Código de Moral se isto não fosse imprescindível para sermos felizes. As leis morais podem ser comparadas as setas de trânsito que guiam os motoristas, especialmente em estradas perigosas, de muitas curvas, neblinas e lombadas. Se o motorista as desrespeitar, poderá pagar com a própria vida e com as dos outros.

Mas para crer nisto e viver com alegria a Moral é preciso ter fé; acreditar em Deus e no seu amor por nós; e acreditar na Igreja católica como porta voz de Jesus Cristo.

Cristo nos fala pelo Evangelho e pela Igreja. Ele a instituiu sobre Pedro e os Apóstolos para ser a nossa Mãe, guia e mestra.

Jesus disse aos Apóstolos: “Quem vos ouve, a Mim ouve; quem vos rejeita, a Mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,16).

Cristo concedeu à Igreja parte de sua infalibilidade em matéria de doutrina: fé e moral, porque isto é necessário para a nossa salvação, e instituiu a Igreja para nos levar à salvação. Por isso, Cristo não pode deixar que a Igreja erre em coisas essenciais à nossa salvação. O Concílio Vaticano II disse que “a Igreja é o sacramento universal da salvação” (LG,4).

É por Ela que Jesus continua a salvar os homens de todos os tempos e lugares, através dos Sacramentos e da Verdade que ensina. São Paulo disse à São Timóteo que “a Igreja é a coluna e o fundamento (alicerce) da verdade” (1Tm 3,15) e que Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade (1Tm 2,4). Essa “verdade que salva” Deus confiou à Igreja para guardar cuidadosamente, e ela faz isto há vinte séculos. Enfrentou muitas heresias e cismas, muitas críticas dos homens e mulheres sem fé, especialmente em nossos dias, mas a Igreja não trai Jesus Cristo.

Cristo está permanentemente na Igreja – “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20) – e ela sabe que embora os seus filhos sejam pecadores, ela não pode errar o caminho da salvação e da verdade.

Na última Ceia o Senhor prometeu à Igreja (Cristo e os Apóstolos), no Cenáculo, que ela conheceria a verdade plena.

“Ainda tenho muitas coisas para lhes dizer, mas vocês não estão preparados para ouvir agora; mas quando vier o Espírito Santo, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,12-13).

Ao longo dos vinte séculos o Espírito Santo foi ensinando à Igreja esta verdade, através dos Santos, dos Papas, dos Santos Padres…

Se Cristo não concedesse à Igreja a infalibilidade em termos de doutrina (fé e moral) de nada valeria ter-lhe confiado o Evangelho, pois os homens o interpretam de muitas maneiras diferentes, e criaram muitas outras “igrejas”, sem o Seu consentimento, para aplicarem a verdade conforme o “seu” entendimento, e não conforme o entendimento da Igreja deixada por Cristo. A multiplicação das milhares de igrejas cristãs e de seitas, é a consequência do esfacelamento da única Verdade que Jesus confiou ao Sagrado Magistério da Igreja (Papa e Bispos em comunhão com ele) para guardar e ensinar a todos os povos.

Além de confiar à Igreja a Verdade eterna, Cristo lhe garantiu a Vitória contra todos os seus inimigos. Disse a Pedro: “As portas do inferno jamais a vencerão” (Mt 16,17).

Já se passaram vinte séculos, inúmeras perseguições (Império Romano, Nazismo, Comunismo, Fascismo, Ateísmo,…) e a Igreja continua mais firme e forte do que nunca. Quanto mais é perseguida, mais se fortalece; quanto mais apanha, mais corajosa fica.

Tertuliano, um dos escritores da Igreja do terceiro século, escreveu ao imperador romano da época, que perseguia os cristãos, dizendo que não adiantava persegui-los e matá-los, porque “o sangue dos mártires seria semente de novos cristãos”.

O Império Romano desabou, o Comunismo sucumbiu, o Nazismo acabou… mas a Igreja continua mais firme do que nunca. Nenhum chefe de Estado têm tantos embaixadores (Núncios Apostólicos) em outros países como o Vaticano; são cerca de 180.

O mundo chama hoje a Igreja Católica de obscurantista, retrógrada, etc., por ela ser fiel a Jesus; mas ela não se curva diante do pecado do mundo moderno, da mesma forma que não se curvou diante dos carrascos dos seus mártires.

A Igreja não busca a glória dos homens, mas somente a glória de Deus, por isso não se intimida e não desanima diante das ameaças dos infiéis. Ainda que ela fique sozinha, não negará a verdade do seu Senhor.

A Moral Católica não muda ao sabor da vontade dos homens e nem com o passar do tempo, porque a Verdade não muda, seja ela qual for. O teorema de Pitágoras e o princípio do empuxo, de Arquimedes, são os mesmos que esses gregos descobriram vários séculos antes de Cristo. A verdade que foi revogada, nunca foi verdade; pois a verdade de fato não pode mudar. Cristo não nos deixou uma moral transitória, passageira, provisória; não, Ele nos deixou uma Verdade eterna. Ele mesmo é a Verdade.

Os cristãos precisam entender que as questões morais não dependem da “opinião da maioria” e nem se altera com os “avanços” científicos. A moral é que deve dizer quais descobertas da Ciência são válidas para o progresso do homem, e não o contrário. Uma lei moral não se torna lícita só porque é aprovada pelo Governo ou pelo Parlamento.

Muitas vezes a confusão moral e os erros são cometidos por causa de uma incompreensão insuficiente dessas questões. A Igreja, de sua parte, examina com profundidade as questões morais, olhando não apenas o conforto do homem, mas, principalmente a sua dignidade humana.

Diante das leis que não estão de acordo com a Moral católica, os fiéis precisam se manifestar com viva voz; porque se ficarmos calados e submissos, em breve poderemos ter em nosso país muitas leis imorais. Já aprovaram o divórcio, a manipulação e a morte de embriões (vidas humanas!), e em breve poderão aprovar o aborto e a eutanásia. O Papa Leão XIII disse que “a audácia dos maus se alimenta da covardia e omissão dos bons”.

Não podemos mais viver um catolicismo de sacristia; a maioria do povo brasileiro é católico (cerca de 75%) e tem direito de viver em um país com leis católicas; mas isto só acontecerá se fizermos isto acontecer. Jesus já tinha avisado que “os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz”.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

O Inri na Cruz

O significado INRI (bibliaseensina)

O INRI NA CRUZ

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

               A Semana Santa marca os últimos dias vividos por Cristo antes de sua Paixão, Morte e Ressurreição. As celebrações iniciam no “Domingo de Ramos”, que é o “Domingo da Paixão do Senhor”, em que se celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e também a sua paixão e morte de Cruz. A Semana Santa encerra com a celebração do grande Tríduo Pascal. O Domingo de Ramos reflete sobre a Paixão e Morte de Jesus.  

              Jesus morreu, provavelmente, no dia 14 de Nisã, segundo o calendário da época. Era a Páscoa dos judeus.  As autoridades dos judeus o acusaram de blasfêmia por dizer que era o Messias, Filho de Deus e de subversão por ensinar a perdoar e a amar como expressão da vontade de Deus. Levado a Pilatos e a Herodes, foi acusado de promover desordem entre o povo e de se autoproclamar rei. (Lc 23,1-8). Jesus foi torturado e repudiado pelos soldados romanos. (Jo 19,1-5). Por fim, Pilatos lavou as mãos do sangue inocente de Jesus e o entregou para ser crucificado. (Mt 27,11-26). Ele carregou a própria Cruz até um lugar chamado Gólgota (lugar da caveira). Ali foi crucificado entre dois ladrões.  

              Acima da Cruz, constava o motivo: “O Rei dos Judeus” (INRI = Iēsus Nazarēnus, Rēx Iūdaeōrum). Geralmente, a cruz não passava da altura de um homem. Para se acomodar nela, a vítima devia ser pregada com os joelhos dobrados. Após várias horas de sofrimento, o crucificado tinha suas pernas quebradas, de modo a acelerar a morte. No caso de Jesus, não quebraram suas pernas. Para se certificarem de sua morte, deram-lhe um golpe de lança que perfurou seu peito, quando ele já se encontrava morto.  

  A sentença de morte não surgiu de repente na vida de Jesus; ela foi o preço que Cristo teve de pagar por sua opção fundamental e radical pelo Reino de Deus e sua justiça. Na Cruz, o Filho de Deus sofre e morre pelos últimos deste mundo: os pobres e injustiçados, doentes e rejeitados, pecadores e prostitutas. Jesus chama todos à conversão e revela que o amor é a medida de todas as coisas. 

 As palavras de Jesus eram fortes demais, e as multidões o seguiam. Aclamado como rei, entrou triunfalmente em Jerusalém. Como profeta destemido, apontava as infidelidades a Deus, denunciava as injustiças que o povo sofria e convocava todos à conversão. Como Messias, anunciava, com palavras e obras, a Boa-Nova da chegada do Reino de Deus. Jesus curava em dia de sábado, falava com samaritanos, tocava nos doentes.  

  Tudo isso desafiava os poderes políticos e religiosos estabelecidos na época. A crucifixão de Jesus foi decretada pelo poder romano como pena por agitar o povo e perturbar a ordem pública. Foi considerado um agitador, um perigo ao Império por ter sido aclamado rei pelo povo. A resposta do povo foi crucificar o “Rei dos Judeus”. A crucificação era a pena que se aplicava àqueles que se revoltavam contra a ordem social e política do Império Romano. 

               O amor do Pai, que Jesus revelou, teve uma resposta negativa por parte da humanidade. A doação total de Cristo na Cruz é a resposta à rejeição: “Maior prova de seu amor.” O mistério da Cruz revela o amor de Deus que deseja salvar todos, ainda que nem todos acolham esse sinal infinito de amor.  

             No Madeiro, todo ser humano sabe que, em seu sofrimento, tem alguém que lhe faz companhia, como bem rezou o Papa São Paulo VI: “Obrigado, Senhor, por esta piedosa solidariedade com nossa miséria. Obrigado, Senhor, por ter feito desta fraqueza uma fonte de expiação e salvação! Que eu sinta, como dirigidas a mim, as palavras de Santo Agostinho: ‘A força de Cristo te criou, a fraqueza de Cristo te redimiu’.” 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Como viver a Semana Santa com Maria, a Mãe das Dores

Zvonimir Atletic | Shutterstock

Saiba como se unir a Maria e imitar seu dulcíssimo coração, para que junto da Mãe das Dores você possa acolher o múnus da cruz e a graça da vida nova em Jesus.

Durante nossa vida, todos nós passamos por perdas, que nos fazem sofrer. Os pais, irmãos, esposas e filhos. As partidas são extremamente dolorosas. Uma doença, um acidente, ou em consequência de maus hábitos, os nossos queridos partem ao encontro de suas novas vidas. Mas ao contemplar as últimas horas de Jesus, em meio a torturas físicas inimagináveis, podemos entender o grande sofrimento de Maria, sua mãe.

O tratamento dado a Jesus durante o caminho para o Calvário, foi de dores cruciais, assistidos por uma mãe cuja face exprimia todo seu sofrimento. No entanto não se ouviu um murmúrio, um grito de seus lábios. Acreditava que se estava a fazer os desígnios de Deus, seu Pai. Era como se uma espada lhe transpassasse o coração. Assim se cumpriu uma das sete dores que ela suportou. Esta foi conforme a profecia de Simeão. Assim vemos a imagem de Nossa Senhora das Dores, representada com uma espada a atravessar seu peito.  

Antes do Calvário

Mas mesmo antes do Calvário, as dores de Maria aconteciam. Assim para fugir a sanha de Herodes, que havia mandado matar todas as crianças com menos de dois anos, ela tomou Jesus em seus braços, com o medo a atravessar seu caminho, e, juntamente com José, seu esposo, fugiram para o Egito. A incerteza do caminho assombrava seu espírito, mas a tudo suportou para salvaguardar seu tesouro maior, seu filho Jesus.  

Estando em Jerusalém, Maria percebeu que Jesus, um adolescente de 12 anos, não estava por perto. Tomada de medo pela possível perda de seu filho, ela e José o procuraram pela cidade. Foram encontrá-lo no Templo, onde dissertava para uma multidão, que o ouvia atentamente. O coração de Maria se encheu de alegria por ver seu filho. E perguntou a Ele, por que se afastara. E Ele lhe respondeu, “porque se preocupa, não sabeis que tenho de cuidar dos negócios de meu Pai?”. 

Uma mãe diante do sofrimento do filho

Voltemos ao Calvário. Durante o percurso de Jesus, com a cruz aos ombros, a caminho do Gólgota (calvário em Grego), conseguindo furar o bloqueio da multidão que acompanhava seus passos Maria pode apreciar de perto o rosto sofrido e banhado em sangue, dos espinhos em sua cabeça, de seu filho. Seu coração sangrava tanto quanto estivesse com aqueles espinhos nele cravados.  

Jesus continua seu martírio, até chegar ao alto do monte. Lá pregam seus pés e suas mãos ao madeiro da cruz. Cada martelada é como pancadas no sofrido coração de Maria. Sente-se como que desfalecer, mas mantém-se de pé, pois sabe que seu filho a olha, através do sangue que escorre em sua face. Ali o martírio continua. Só resta acompanhar, minuto a minuto, como se séculos fossem decorridos, o lento sofrimento de seu amado filho. Até o último e derradeiro suspiro que escapa de seus lábios. Ao descerem seu corpo da cruz, ela o recebe para um último e doloroso abraço, em seu regaço. Só resta a última dor. Acompanhar o corpo de seu amado, ao sepulcro, onde, envolto em lençóis, o corpo de Jesus é depositado. A grande pedra é rolada na abertura da rocha, e a visão de seu filho é coberta.

Viver a Semana Santa com Maria  

Convido você a viver com grande devoção a semana mais santa de todas as semanas e contemplar o grande mistério salvífico de Nosso Senhor Jesus Cristo, juntamente com sua Mãe, a Virgem das dores, através do retiro Vivendo a Semana Santa com Maria, Mãe das Dores (clique aqui para se inscrever).

Unamo-nos a Maria e imitemos seu dulcíssimo coração, para que junto da Mãe das dores possamos acolher o múnus da Cruz e a graça da Vida Nova em Jesus. Preparemo-nos e soframos com Maria.

Maria e o sacrifício de todas as mulheres

Percebemos na dor de Maria o sacrifício de todas as mulheres, que, como ela, tem seus filhos entregues ao mundo. As incertezas de sabê-los em casa, depois de suas saídas. A preocupação na demora de chegar. As notícias que chegam esparsas. E as dolorosas notícias da perda. Assim como Maria, espelham em suas faces o orgulho e o medo durante toda sua vida, desde o momento da concepção, antes de vê-los perfeitos, até o momento em que encerram seus olhos para a derradeira viagem.

O orgulho por suas conquistas, são como se a cada uma fossem dadas. As preocupações com suas famílias, que formaram depois de saírem do lar materno. Com seus netos, se porventura os tenham, com a harmonia em seus lares. Cada notícia um pulo em seus peitos, ou de alegria, ou de preocupação. Verdadeiras Marias, que Deus colocou em cada lar.

Rubens Lace, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

“Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra.”

"Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra"(Focolares)

“Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra.” | Palavra de Vida Abril 2023

por Web Master   publicado em 28/03/2023.

As primeiras comunidades cristãs tinham acabado de nascer, e os conflitos já estavam surgindo por causa das falsas interpretações da mensagem do Evangelho. Paulo, que estava na prisão, toma conhecimento desses problemas em Colossos, na Turquia, e então escreve a essa comunidade.

A Palavra de Vida deste mês pode ser compreendida melhor se for lida no contexto em que se encontra: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus; cuidai das coisas do alto, não do que é da terra. Pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus1”.

Para superar esses contrastes, Paulo nos convida a dirigirmos nossos pensamentos, todo o nosso ser a Cristo que ressuscitou. De fato, no batismo, nós também morremos e ressuscitamos em Cristo. Podemos viver esta vida nova “no já e ainda não”.

“Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra.” 

Obviamente, essa possibilidade não é alcançada uma vez por todas, mas deve ser buscada continuamente em uma jornada desafiadora que dura toda a existência. Significa direcionar nossa vida para o alto. De fato, Cristo trouxe à terra a vida do céu e a sua Páscoa é o início da nova criação, de uma humanidade nova. Esta seria a consequência lógica de quem escolhe viver o Evangelho: uma escolha que muda totalmente a nossa mentalidade, reverte a ordem, os objetivos que o mundo nos propõe, nos liberta dos condicionamentos, fazendo-nos experimentar uma mudança radical. A bem da verdade, Paulo não desvaloriza as “coisas da terra” porque, desde que o céu tocou a terra com a Encarnação do Filho de Deus, tudo foi renovado.2

“Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra.” 

“O que são essas ‘coisas do alto’?”, escreve Chiara Lubich. “São aqueles valores que Jesus trouxe à Terra e por meio dos quais se distinguem os seus seguidores. São o amor, a concórdia, a paz, o perdão, a integridade, a pureza, a honestidade, a justiça etc. São todas aquelas virtudes e riquezas que o Evangelho oferece. Com elas e por meio delas, os cristãos se mantêm na sua realidade de ressuscitados com Cristo. […]

E como se faz para manter o coração ancorado no céu, embora vivendo em meio ao mundo? Deixando-nos guiar pelos pensamentos e pelos sentimentos de Jesus cujo olhar interior estava sempre dirigido ao Pai e cuja vida refletia, em cada instante, a lei do Céu, que é uma lei de amor 3” 

“Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra.” 

A presença dos cristãos no mundo se abre corajosamente à nova vida pascal. São mulheres e homens novos que não são do mundo4, mas que vivem no mundo com todas as dificuldades presentes. Era isso que se dizia dos primeiros cristãos: “Moram na terra e são regidos pelo céu. […] O que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo5”.

De maneira corajosa e inteiramente coerente com o Evangelho, um operário decidiu ajudar seu colega que acabara de ser demitido. Sua decisão provocou uma sucessão de gestos de fraternidade, frutos do seu testemunho: 

“Na fábrica, vários operários receberam aviso prévio de demissão. Eu conhecia a situação econômica precária de um deles, o Jorge. Então o convidei a ir comigo ao Departamento de Pessoal, onde eu disse: ‘Estou em condições melhores do que ele e minha esposa tem um emprego. Peço que demitam a mim, em vez dele’. O chefe prometeu rever o caso. Quando saímos, Jorge me abraçou, emocionado. Naturalmente, o fato se espalhou logo, e outros dois operários, em condição mais ou menos semelhante à minha, se ofereceram para serem demitidos no lugar de outros dois. A administração se sentiu forçada a repensar os métodos de escolha das demissões. Ao ficar sabendo do fato, o pároco contou isso durante a homilia de domingo, sem citar nomes. No dia seguinte, ele me informou que duas estudantes levaram a ele todas as próprias economias para ajudar os operários em dificuldade, declarando: ‘Também nós queremos imitar o gesto daquele operário” (B. S. – Brasil)6.

Por Patrizia Mazzola com a comissão da Palavra de Vida 

1) Cl 3,1-3.

2) Cf. 2Cor 5,17: “Portanto, se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. O que era antigo passou; eis que tudo se fez novo”.

3) LUBICH, C., As coisas do alto, Palavra de Vida, abril de 2001. 

4) Cf. Jo 15,18-21.

5) Wikipédia, Carta a Diogneto, ano~120, Biblioteca Virtual de Direitos Humanos, USP. Cf. também A Diogneto 5,5-6,1, in I Padri Apostolici, org. por A. Quacquarelli. Roma, Città Nuova, 20012, p. 356-357.

6) Experiência extraída do site www.focolare.org

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/

Após o aborto, eu estava definhando. Eis como comecei uma nova vida [testemunho]

Max kegfire | Shutterstock
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Por Iwona Flisikowska

Uma mãe escreveu uma carta para a filha que havia perdido através do aborto: "Acreditamos na mentira de que você era simplesmente uma escolha, nada mais que um conglomerado de células a serem sacrificadas em um 'altar' cujo nome era conveniência... Peço perdão a você".

“Não tenho sido capaz de me perdoar”

“Durante 40 anos vivi numa encruzilhada com uma enorme ferida em meu coração e ansiedade interior, bem como a falta de auto-estima. Procurei maneiras diferentes de silenciar minha dor, minha fenda espiritual: o motivo foram os abortos e, mais tarde, os três abortos espontâneos”, diz Elisabeth.

“Meu interior estava definhando, estava se tornando um deserto”. As tentativas posteriores de penitência e reconciliação – em meu sentimento subjetivo – não me deram consolo, porque ainda não conseguia me perdoar por minhas escolhas e, portanto: suas consequências e efeitos.”

“Minhas lutas não estavam apenas afetando minha psique, mas estavam também afetando minha família. Havia também doenças (derrames e ataques cardíacos). Um amigo sugeriu que talvez as doenças fossem resultantes dos efeitos e consequências de minhas escolhas, de um passado doloroso. Eu tentei me salvar, mas as visitas aos psicólogos não deram os resultados que eu queria.”

Rachel’s Vineyard

“Até que um dia eu me confessei, o que acabou sendo a luz no fim do túnel. Por ‘acaso’, encontrei um padre, o que era meu último recurso. Ele sugeriu que eu participasse de um retiro para mulheres com síndrome pós-aborto, chamado ‘Rachel’s Vineyard’”.

“Eu estava extremamente determinada e me inscrevi imediatamente, apesar de estar acompanhada de medos e ansiedades sobre o retorno a um passado doloroso. No entanto, assistir ao retiro superou minhas expectativas.”

“As pessoas que lideraram os retiros eram extraordinárias defensoras da vida das crianças por nascer, que ouviram com grande compreensão e paciência nossos relatos sobre o doloroso passado. Para mim foi muito, muito difícil: em um momento eu queria fugir.”

“Este maravilhoso retiro foi um ponto de inflexão em minha vida. Eles ajudaram a lidar com um passado doloroso, a acreditar em mim mesma, a reconstruir meu equilíbrio interior, a recuperar a alegria de viver. Embarquei no caminho da conversão, senti-me livre como pessoa.”

“O mais importante é que deixei o passado para trás e uma nova vida está ocorrendo de acordo com novas regras. Olho para minha família, as pessoas colocadas em meu caminho através do prisma da misericórdia de Deus. Perdoei a todos que deveria perdoar e, acima de tudo, finalmente me perdoei depois de muitos anos. Eu realmente comecei uma nova vida”, conclui Elisabeth.

Após o aborto: uma carta para a filha

Os retiros “Rachel’s Vineyard” são destinados a pessoas feridas que passaram pelo drama do aborto: eles são dirigidos às mães, mas também aos pais de crianças. A ideia dos retiros é conhecida em todo o mundo.

Uma das ênfases mais importantes do retiro é escrever uma carta para a criança abortada. “Isto realmente ajuda na cura, especialmente no perdão”, diz Lena Krynicka, uma das organizadoras do retiro ‘Rachel’s Vineyard’. Em uma carta comovente – o testemunho de uma mãe que compartilhou sua experiência – nós lemos:

Acreditamos na mentira de que você era simplesmente uma escolha, nada mais que um conjunto de células a serem sacrificadas em um ‘altar’ cujo nome é: conveniência”. Peço perdão a você por eu não ser a pessoa que eu pensava ser. Por causa do meu egoísmo naquele momento, sacrifiquei o que era um dos maiores presentes que eu poderia receber – você.

Por alguma razão, imaginei você como uma menina, com olhos grandes e um sorriso ainda maior. Por causa dessa imagem, havia um vazio em mim. Não passa um dia que eu não pense em você e em como seria minha vida com você nela…

Toda vez que ouço uma criança rir, não posso deixar de pensar como teria sido sua risada, como teria sido os traços dos seus desenhos ou sua cor favorita….

“A participação de homens em retiros é tão importante quanto a participação de mulheres ou meninas que experimentaram o drama do aborto”, diz Lena. Perdoar-se a si mesmo e àqueles que contribuíram para a decisão de abortar uma criança – às vezes muitos anos depois – traz alívio do sofrimento mental e até mesmo físico.

Os pais que decidem abortar seu filho não estão cientes de quantas consequências negativas os esperam, como a síndrome pós-aborto, que é uma doença mental perigosa. Também, muitas vezes “depois do fato” vem o reflexo de que um grande erro aconteceu, mas é tarde demais para mudá-lo. Muitas vezes existe também um profundo sentimento de culpa, o que, dizem os participantes do retiro, torna impossível “viver normalmente”.

É por isso que a ideia do “Rachel’s Vineyard” é tão importante. É uma oportunidade para recuperar a liberdade e curar uma ferida profunda, para derramar um enorme fardo. É verdadeiramente um retorno a uma nova vida.

Jesus não se cansa de mostrar misericórdia

“Eu também fui muito afetada pelo drama de um aborto, realizado por uma pessoa próxima a mim”, compartilha Lena Krynicka. “No filme ‘Não Planejado’, a personagem principal disse que 85% dos abortos não são realizados em clínicas onde pessoas rezam na frente delas. Eu pensei que se este membro próximo de minha família tivesse encontrado alguém em seu caminho na vida que tivesse rezado com fé por ela, talvez esta dramática decisão nunca tivesse acontecido”.

“É por isso que me envolvi muito em ajudar as mulheres após a perda de um filho através do aborto. Além disso, nossa Comunidade de Belém, operando na paróquia São Padre Pio em Gdansk, está envolvida no trabalho de adoção espiritual, onde todos os anos na festa da Anunciação do Senhor – é também o Dia da Santidade da Vida – preparamos as pessoas para uma ajuda concreta e eficaz: a adoção espiritual de uma criança em risco de aborto”.

“O Senhor Jesus nunca se cansa de mostrar misericórdia e espera por cada pessoa, não importa sua idade, não importa o que ela tenha feito na vida ou o aborto que ela tenha feito. Ele nos ama apesar de tudo”, acrescenta Monika Tolysko.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa Francisco recebe alta do Gemelli e visita a Basílica de Santa Maria Maior

O Papa Francisco em oração (Vatican News)

Ao deixar o hospital, O Papa Francisco saiu do automóvel e saudou e abençoou as pessoas que estavam do lado de fora. Abraçou um casal que perdeu a filha na noite de ontem, sexta-feira, detendo-se a rezar com eles. Em seguida, o Santo Padre foi até a Basílica de Santa Maria Maior, detendo-se em oração diante do ícone de Maria, Salus Populi Romani.

Vatican News

Na manhã de hoje, sábado 1º de abril, o Papa Francisco recebeu alta do Hospital Universitário A. Gemelli, informa um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Antes de deixar as instalações, em torno das 10h35, o Santo Padre saudou o Reitor da Universidade Católica, Franco Anelli, com seus colaboradores mais próximos, o Diretor Geral da Policlínica, Marco Elefanti, o Assistente eclesiástico geral da Universidade Católica, monsenhor Claudio Giuliodori, e a equipe de médicos e agentes de saúde que o assistiram durante esses dias.

Ao deixar o hospital, O Papa Francisco saiu do automóvel e saudou e abençoou as pessoas que estavam do lado de fora. Abraçou um casal que perdeu a filha na noite de ontem, sexta-feira, detendo-se a rezar com eles, informa ainda a Sala de Imprensa vaticana.

O abraço do Papa a um casal que perdeu a filha no dia anterior (AFP)

Visita à Basílica de Santa Maria Maior

O Pontífice dirigiu-se à Basílica de Santa Maria Maior. O Papa deteve-se diante do ícone de Maria, Salus Populi Romani, confiando-lhe em oração as crianças que encontrou ontem na ala de Oncologia Pediátrica e Neurocirurgia Infantil do hospital, todos os doentes e os que sofrem enfermidades e a perda de seus entes queridos.

Após a visita, o Santo Padre retornou para o Vaticano.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Hugo de Grenoble

São Hugo de Grenoble (Guadium Press)
01 de abril
São Hugo de Grenoble
A Liturgia Católica celebra neste dia 1º de abril a memória de São Hugo de Grenoble, Bispo que contribuiu para a fundação da Ordem dos Cartuxos.

Redação (01/04/2022 10:00, Gaudium Press) São Hugo nasceu no ano de 1053, em Château-Neuf, Delfinado, Diocese francesa de Valençe. Seu pai, Odilon, retirou-se na velhice para a Cartuxa, onde morreu com mais de cem anos. Já sua mãe, apesar de também desejar se retirar para um mosteiro de religiosas em sua velhice, acabou tendo que praticar a regra monástica em sua própria casa. Ambos receberam os últimos sacramentos das mãos do filho.

Ordenação sacerdotal e episcopal

Aos 28 anos foi nomeado cônego na cidade de Valence, sendo convidado por seu Bispo para que o acompanhasse durante o Concílio de Avignon, de 1080. Na ocasião, os Bispos lhe aconselharam que Hugo fosse ordenado sacerdote e que assumisse a Diocese de Grenoble.

Apesar da oposição, imposta pelo próprio Santo, que se julgava indigno, ele acabou cedendo. Logo depois recebeu a sagração episcopal em Roma, das mãos do Papa Papa Gregório VII, pois Hugo se negava ser sagrado Bispo pelo Arcebispo de Viena que era acusado de simonia.

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São Hugo de Grenoble (Guadium Press)

Bispo de Grenoble: uma Diocese em situação desastrosa

Chegando a Grenoble, São Hugo encontrou um povo indócil e ignorante, um clero simoníaco, sacerdotes escandalosos, leigos usurários e usurpadores dos bens da igreja. Era um vasto campo para seu zelo e ele trabalhou com coragem no sentido de acabar com tais escândalos.

Mas, o fruto não correspondia aos seus esforços. Então, depois de dois anos, ele deixou o bispado retirando-se para o mosteiro de La Chaise-Dieu, onde tomou o hábito de monge. Nesse Mosteiro ele permaneceu apenas um ano, pois o Papa São Gregório VII, sabendo de sua retirada, lhe ordenou que voltasse à sua igreja. Hugo obedeceu.

O sonho de São Hugo e seu lado pregador

Não fazia ainda três anos que havia voltado para a Diocese, quando teve um sonho misterioso. Parecia-lhe que Deus construía uma habitação em um deserto de sua Diocese e que sete estrelas lhe indicavam o caminho. Ainda no sonho, Hugo viu chegar a sua presença sete homens que procuravam um lugar apropriado para a vida solitária: Eram São Bruno e seus companheiros. São Hugo reconheceu neles as sete estrelas e os conduziu à solidão da Cartuxa, a mesma que havia visto em sonho. Era o ano de 1084 quando lá foi construído o mosteiro.

Apesar dos males quase contínuos do estômago, e da cabeça que o afligiram durante quarenta anos, não cessou de pregar a palavra de Deus ao povo. Mas não procurava, em absoluto, dizer o que podia causar-lhe aplausos dos ouvintes. Propunha-se apenas instruí-los e comovê-los, o que conseguia com êxito, pois, após o sermão, grande número de pecadores o procuravam para confessar-se. Alguns chegavam a confessar publicamente os pecados.

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São Hugo de Grenoble (Guadium Press)

Excomunhão do imperador Henrique V

Quanto mais o Bispo de Grenoble se mostrava santo, mais defendia a Igreja romana. Em 1106, o imperador Henrique V procurou, com violências, arrancar ao Papa Pascoal II um privilégio injusto. Os bispos da província de Vienne, movidos pelo santo colega de Grenoble, excomungaram-no publicamente, em um concílio.

Os anos não enfraqueceram o vigor episcopal. Após a eleição do Papa Inocêncio II e antes que seus núncios chegassem à França para condenarem o cisma do Antipapa, o santo bispo de Grenoble se dirigiu a Puy em Velai, com outros bispos, não obstante as doenças de sua idade avançada – tinha setenta e oito anos.

Excomunhão do Antipapa Anacleto

Sabia com certeza que Pedro de Léon não fora eleito Papa por seu mérito, mas pelo prestígio da família e pela violência. Não tendo em vista senão a justiça e o bem da igreja, excomungou-o nesse concílio, com os demais bispos, como cismático. E essa excomunhão foi de grande peso, dada a autoridade de São Hugo.

A excomunhão do Antipapa Anacleto foi a última atitude memorável do santo bispo de Grenoble. As doenças aumentaram de dia para dia e o obrigaram a permanecer na cama durante muito tempo, antes de morrer. Todos os dias recitava de cor os salmos com os clérigos. São Hugo faleceu com quase 80 anos, em 1º de abril de 1132. O Papa Inocêncio II o declarou santo dois anos depois de sua morte. (EPC)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF