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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Habitantes em outros Planetas?

igm.de

Pergunta: “As reportagens sobre discos voadores dão por vezes a entender que há habitantes em outros planetas. Não se seguiria daí a necessidade de reformarmos nossas concepções religiosas? O espiritismo vê em tudo isso um argumento em favor de suas teses!”

A maneira como se tem tratado o assunto dos discos voadores é por vezes um tanto pueril. Abordemo-lo com a devida sobriedade.

1. Antes do mais, importa frisar que a hipótese de existirem habitantes em outros planetas não sofre objeção por parte da fé católica. A Sagrada Escritura e a Tradição nada ensinam a seu respeito, pois o conhecimento do assunto não interessa imediatamente à salvação eterna dos homens e o Senhor houve por bem revelar-nos apenas verdades atinentes à nossa santificação. A questão, portanto, fica fora do âmbito da Palavra de Deus a nós transmitida; deverá ser estudada à luz das ciências e das observações empíricas; o católico reconhecerá a resposta que o cientista lhe comunicar, desde que não seja formulada de modo contraditório à verdade revelada.

Foi no século passado que começou, entre os teólogos, a ser focalizada com certa atenção a hipótese de haver outros planetas habitados. Alguns então tentaram torná-la plausível, fazendo valer, entre outros argumentos, o seguinte: existe enorme quantidade de matéria espalhada pelos espaços cósmicos; a matéria, porém, só pode preencher a sua finalidade (dar glória a Deus) no conjunto das criaturas, caso haja seres Inteligentes que a conheçam e, mediante ela, se elevem até o Altíssimo; seria, por conseguinte, harmonioso que o Criador tivesse colocado nos astros seres semelhantes aos homens, destinados a se servir do respectivo mundo material para prestar louvor ao Todo-Poderoso. O argumento não deixa de ter sua conveniência. Destarte se vê que a empolgante hipótese, longe de contradizer à fé, pode sem dificuldade ser incorporada a uma visão profundamente teológica do universo. Vê-se igualmente que a habitação de outros planetas e a possibilidade de comunicações inter-siderais são teses de todo independentes da ideologia espírita e da teoria da reencarnação, por muito que os espíritas explorem o noticiário dos jornais em favor de suas crenças. As pretensas mensagens do Astral, as “comunicações de Ramatis” captadas por via mediúnica não são senão produtos da subconsciência e da fantasia, hoje mais do que nunca excitadas pelos “boatos” e as conjeturas: posto em estado de transe, o “médium” pode dar expressão a noções latentes em seu íntimo, combinando-as num enredo mais ou menos fantástico, correspondente a sugestões que receba por parte de agentes externos.

Para fundamentar a tese da existência de marcianos e de seus apregoados discos voadores, a S. Escritura não oferece texto algum, apesar do que às vezes se lhe quer atribuir.

2. Admitida a hipotética existência de habitantes em outros planetas, surge a questão: como se configurariam esses indivíduos ?

a) Do ponto de vista físico, é de crer que constem de espírito e matéria, alma e corpo ; provavelmente, porém, são dotados de constituição fisiológica diferente da nossa, a fim de poder viver em condições de atmosfera, pressão e clima bem diversas das nossas.

A rigor, também nada há contra a hipótese (abordada em reportagem) de que tenham emigrado da Terra para o planeta onde atualmente residem. Neste caso, poderiam ser descendentes de Adão (teriam então o pecado original), como poderiam ser filhos de uma hipotética humanidade que haveria vivido sobre a Terra antes do aparecimento de Adão (não se poderia dizer com precisão quando é que Adão existiu). Sobre a hipótese dos «pré-adamistas», veja E. Bettencourt, Ciência e Fé na história dos primórdios, cap. VI.

b) Do ponto de vista religioso, os marcianos estariam sujeitos à mesma lei natural que nós, isto é, teriam uma consciência moral igual à nossa. Portanto, também entre eles estaria em vigor o preceito básico de toda a moralidade; “Faze o bem, evita o mal”, assim como as conseqüências que deste decorrem : “Não matar, não roubar, não adulterar, etc.” A razão disto é que a lei natural é um reflexo da Lei eterna de Deus ; ela exprime a infinita santidade de Deus, a qual é imutável : para o Senhor, as categorias do bem e do mal não são sujeitas a reforma nem a tempos e lugares, pois não dependem apenas de um ato da Vontade divina, mas do imutável Ser de Deus.

Em se tratando de leis positivas, os habitantes de outros planetas poderão estar sujeitos a determinações diferentes das que o Altíssimo promulgou para nós (tais são o dever de guardar um dia entre sete, o de recorrer aos sacramentos, etc.).

É provável que, uma vez criados os marcianos, o Senhor tenha havido por bem submetê-los a uma provação, dando-lhes assim o ensejo de afirmar livre e conscientemente a sua adesão ao Bem Supremo. É o que se afirma, visto o modo como o Criador procedeu com os homens e com os anjos.

Sujeitas à prova, terão aquelas criaturas superado a tentação ou, antes, sucumbido ao pecado?

Esta pergunta já nos coloca muito longe no castelo das hipóteses… Digamos, porém, que, se resistiram ao mal, os seres extra-telurianos foram provavelmente confirmados no bem, à semelhança do que se deu com os anjos bons. Se pecaram, podem ter sido agraciados por urna Redenção. Neste caso, é possível que lhes estejam sendo aplicados os méritos de Cristo adquiridos na Terra há vinte séculos atrás, méritos mais do que suficientes para extinguir os pecados de muitos mundos, como também se pode pensar que o Filho de Deus se tenha encarnado outra vez em outro planeta.

Divagar por tantas conjeturas se torna, em última análise, ocioso ; vão é ao homem procurar respostas para questões que pertencem estritamente aos arcanos da Sabedoria de Deus. Certa atmosfera de pavor e perplexidade chega a se criar em virtude da previsão de guerras interplanetárias… Com isto, não poucos dos nossos contemporâneos perdem de vista a tarefa da hora presente ; para o cristão, uma coisa é segura: quer existam, quer não existam marcianos, ele tem que progredir diariamente na união com Deus, despojando-se todos os dias um pouco mais do velho homem, e revestindo-se da nova criatura (cf. 2 Cor 4,16 ; Ef 4,24); fazendo isto, o cristão ganha a sua vida na Terra e chegará a ver face a face a infinita Sabedoria de Deus, com seus misteriosos desígnios. Eis, porém, que as múltiplas hipóteses arquitetadas em torno dos discos voadores impedem a muitos de rezar e viver na presença de Deus e, por conseguinte, de considerar o mundo como ele deve ser considerado.

Dom Estêvão Bettencourt (OSB)
Fonte: http://www.pr.gonet.biz/index-catolicos.php  

https://www.presbiteros.org.br/

A tristeza "é um verme que nos come por dentro", advertiu o Papa aos consagrados

Papa Francisco celebra missa. Foto: Captura do Youtube

Vaticano, 02 fev. 21 / 04:25 pm (ACI).- O Papa Francisco alertou os consagrados contra a tristeza interior, “é como um verme que nos come por dentro. Fujam da tristeza interior”.

Assim se referiu o Pontífice durante a Missa que presidiu na Basílica de São Pedro do Vaticano para a Festa da Apresentação do Senhor e o Dia Mundial da Vida Consagrada.

Na homilia, o Papa centrou-se no episódio evangélico da apresentação de Jesus no Templo e, especificamente, na figura de Simeão que, como escreve São Lucas, “esperava a consolação de Israel”.

O Papa lembrou que Simeão, ao se encontrar com a Sagrada Família e tomar Jesus nos braços, “reconhece a luz que veio para iluminar as nações; esta identificação é feita por um homem já idoso que esperou com paciência o cumprimento das promessas do Senhor".

O Santo Padre nos convidou a meditar sobre a paciência de Simeão: “Durante toda a vida, esteve à espera exercitando a paciência do coração. Aprendera, na oração, que geralmente Deus não recorre a acontecimentos extraordinários, mas realiza a sua obra na aparente monotonia do dia a dia, no ritmo por vezes extenuante das atividades, nas pequenas coisas que realizamos com humilde tenacidade procurando cumprir a sua vontade".

Para o Papa, “a paciência de Simeão é espelho da paciência de Deus”, e reforçou que a razão da esperança cristã é que “Deus espera por nós, sem nunca Se cansar”.

“Da paciência de Deus e da de Simeão, aprendamos para a nossa vida consagrada. E perguntemo-nos: Que é a paciência? Não é simples tolerância das dificuldades nem suportação fatalista das adversidades. A paciência não é sinal de fraqueza: a fortaleza de ânimo torna-nos capazes de suportar a carga dos problemas pessoais e comunitários, leva-nos a acolher a diversidade do outro, faz-nos perseverar no bem mesmo quando tudo parece inútil, impele-nos a caminhar mesmo quando nos assaltam o tédio e a preguiça”, explicou o Pontífice.

Nesse sentido, o Papa Francisco indicou três "lugares" "onde se concretiza a paciência".

“O primeiro é a nossa vida pessoal. Um dia respondemos à chamada do Senhor, oferecendo-nos a Ele com entusiasmo e generosidade”.

Ao longo deste caminho, “a par das consolações, tivemos também decepções e frustrações. Às vezes, o resultado esperado não corresponde ao entusiasmo do nosso trabalho; parece que a nossa sementeira não produz os frutos perspectivados, o fervor da oração diminui e deixamos de nos sentir imunes à aridez espiritual”.

Como consequência, “pode acontecer, na nossa vida de consagrados, que a esperança esmoreça por causa das expectativas frustradas”.

Diante desse desespero, o Papa destacou que “devemos ter paciência conosco e esperar, confiantes, os tempos e as modalidades de Deus: Ele é fiel às suas promessas. Lembrar-nos disto permite repensar os percursos e revigorar os nossos sonhos, sem ceder à tristeza interior e ao desânimo”.

Neste contexto, advertiu que “a tristeza interior em nós consagrados é como um verme que nos come por dentro. Fujam da tristeza interior”.

O segundo lugar “onde se concretiza a paciência: a vida comunitária. As relações humanas, especialmente quando se trata de partilhar um projeto de vida e uma atividade apostólica, nem sempre são pacíficas”.

“Às vezes surgem conflitos e não se pode exigir uma solução imediata, nem se deve julgar precipitadamente a pessoa ou a situação: é preciso saber dar tempo ao tempo, procurar não perder a paz, esperar o momento melhor para uma clarificação na caridade e na verdade".

O Pontífice reforçou que “nas nossas comunidades, requer-se esta paciência mútua: suportar, isto é, carregar aos próprios ombros a vida do irmão ou da irmã, incluindo as suas fraquezas e defeitos. Lembremo-nos disto: o Senhor não nos chama para ser solistas, há muitos na Igreja, nós sabemos. Não, não nos chama a ser solistas, mas para fazer parte dum coro, que às vezes desafina, mas sempre deve tentar cantar em conjunto”.

Por fim, o terceiro lugar, “a paciência com o mundo. Simeão e Ana cultivam no coração a esperança anunciada pelos profetas, mesmo se tarda a realizar-se e cresce lentamente no meio das infidelidades e ruínas do mundo. Não entoam o lamento pelo que está errado, mas esperam com paciência a luz na obscuridade da história. Esperar a luz na escuridão da história”.

“Precisamos desta paciência, para não acabarmos prisioneiros das lamentações: ‘o mundo já não nos escuta», «já não temos vocações», «vivemos tempos difíceis’... Às vezes acontece que, à paciência com que Deus trabalha o terreno da história e do nosso coração, opomos a impaciência de quem julga tudo imediatamente. Agora ou nunca. E assim perdemos a esperança: a esperança”.

Afirmou que “a paciência nos ajuda a olhar com misericórdia para nós mesmos, as nossas comunidades e o mundo. Podemos interrogar-nos: Acolhemos nós a paciência do Espírito na nossa vida? Nas nossas comunidades, carregamo-nos mutuamente aos ombros e mostramos a alegria da vida fraterna?”.

“E, com o mundo, realizamos o nosso serviço com paciência ou julgamos com severidade? São desafios para a nossa vida consagrada: não podemos ficar parados na nostalgia do passado, nem nos limitar a repetir sempre as mesmas coisas. Precisamos da paciência corajosa de caminhar, explorar novos caminhos, procurar aquilo que o Espírito Santo nos sugere”.

Por fim, convidou-nos a contemplar “a paciência de Deus e imploremos a paciência confiante de Simeão, para que também os nossos olhos possam ver a luz da Salvação e levá-la a todo o mundo”.

O Papa recomenda senso de humor

Antes de concluir a Missa, o Pontífice disse algumas palavras de despedida e agradecimento nas quais ofereceu duas dicas para melhorar a vida na comunidade. Por um lado, recomendou "fugir da fofoca".

Nesse sentido, contou uma anedota: “Uma jovem religiosa que acabava de entrar no noviciado estava feliz e encontrou uma religiosa idosa, boa, santa. 'E você, como está?'”, perguntou-lhe a idosa. "‘Isso é o paraíso, madre’, respondeu-lhe a jovem". A resposta da idosa: "'Espere um pouco, existe o purgatório'. Na vida consagrada, na vida da comunidade há um purgatório, mas é preciso paciência para passar por ele”.

Por isso, o Papa reforçou que “o que mata a vida comunitária são as fofocas. Não falem mal dos outros. ‘Mas não é fácil, padre, porque às vezes vem do coração’. ‘Sim, vem do coração, como a inveja e tantos pecados capitais que temos dentro’. Fujam. ‘Mas diga, padre, não há nenhum remédio?’. 'A oração, a piedade ...'".

Além disso, propôs outro “remédio que é muito caseiro: morder a língua. Antes de falar dos outros, morde a língua. Assim a língua vai inchar, ocupará a boca e não poderá mais falar mal. Por favor, fujam das fofocas que destroem a comunidade”.

A segunda recomendação do Papa é "não perder o senso de humor". "Na vida comunitária há muitas coisas que não vão bem". “Sempre temos coisas de que não gostamos. Não percam o senso de humor, por favor. Isso nos ajuda muito”.

Por fim, convidou-nos a ter paciência diante dos incômodos causados ​​pelas medidas contra o coronavírus: “Essa Covid nos encurrala, mas suportemos com paciência. Precisamos de paciência e continuar oferecendo nossa vida ao Senhor”.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Um seminário na diocese de Angola inicia ano letivo com 400 seminaristas

Guadium Press
Por que a fé cresce na África? Isso deveria ser matéria de pesquisa ante o deserto de vocações religiosas em muitas partes do mundo.

Redação (02/02/2021 15:35Gaudium Press) Em assuntos religiosos, como em vários outros, a Igreja parece ter que aprender com… a África. Sim. Hoje, quando todos os conhecedores concordam que a Europa é uma terra de missão, a boa notícia vem de que os missionados de ontem, hoje poderiam ser missionários de qualidade e número “tipo exportação”.

Por exemplo, é o que acontece no Seminário Arquidiocesano Maior de Cristo Rei, na Arquidiocese de Huambo, Angola, fundado em 1947, e que inicia o ano letivo com 399 seminaristas. Oxalá todos sejam futuros sacerdotes.

Seminários: garantia do futuro da Igreja e da sociedade em geral

Na missa de abertura do novo ano letivo, o arcebispo Mons. Zeferino Zeca Martins declarou que a formação dos seminaristas será melhor este ano, e expressou a necessidade de maior atenção aos seminários, pois são a garantia do futuro da Igreja e da sociedade em geral.

Dirigindo-se aos seminaristas, convidou-os a se entregarem com empenho à sua formação acadêmica e religiosa, a fim de se tornarem homens íntegros, capazes de responder às exigências da nova evangelização e do país.

O arcebispo lembrou a frase evangélica de que “a messe é grande, mas os operários são poucos”, e incentivou todos a rogar a Deus para que, cada vez mais, haja respostas à vocação sacerdotal.

https://gaudiumpress.org/

Papa Francisco: A Missa não pode ser “somente ouvida” como se fôssemos espectadores

Papa Francisco na Audiência Geral Foto: Vatican Media

Vaticano, 03 fev. 21 / 08:37 am (ACI).- Durante a Audiência Gral de hoje, 3 de fevereiro, o Papa Francisco advertiu que a expressão "vou ouvir a Missa" não é correta porque a Missa não pode ser "somente ouvida, como se fôssemos apenas espectadores".

“A Missa não pode ser‘ ouvida’, como se fôssemos apenas espectadores de algo que escorre sem nos envolver. A Missa é sempre celebrada, e não apenas pelo sacerdote que a preside, mas por todos os cristãos que a vivem. O centro é Cristo! Todos nós, na diversidade dos dons e ministérios, nos unimos na sua ação, porque ele é o Protagonista da liturgia”, indicou o Papa.

Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a oração, o Santo Padre refletiu sobre a oração com a liturgia e destacou que “a vida é chamada a tornar-se culto a Deus, mas isto não pode acontecer sem a oração, especialmente a oração litúrgica”.

Neste sentido, o Pontífice destacou que “a liturgia, precisamente pela sua dimensão objetiva, pede para ser celebrada com fervor, para que a graça derramada no rito não se disperse, mas alcance a vivência de cada um”.

Além disso, o Santo Padre reconheceu que “na história da Igreja verificou-se repetidamente a tentação de praticar um cristianismo intimista, que não reconhece a importância espiritual dos ritos litúrgicos públicos”, e acrescentou que esta tendência afirmava “a presumível maior pureza de uma religiosidade que não dependesse de cerimônias externas, consideradas um fardo inútil ou prejudicial”.

No entanto, o Papa recordou a Constituição do Concílio Vaticano II Sacrosanctum Concilium, que “reafirma de forma completa e orgânica a importância da liturgia divina para a vida dos cristãos, que nela encontram aquela mediação objetiva exigida pelo fato de Jesus Cristo não ser uma ideia nem um sentimento, mas uma Pessoa viva, e o seu Mistério um acontecimento histórico”.

“A oração dos cristãos passa por mediações concretas: a Sagrada Escritura, os Sacramentos, os ritos litúrgicos. Na vida cristã não prescindimos da esfera corpórea e material, porque em Jesus Cristo ela se tornou o caminho da salvação. Podemos dizer que agora devemos rezar com o corpo. O corpo entra na oração”, afirmou o Papa.

Nesse sentido, o Santo Padre citou o Catecismo da Igreja Católica para enfatizar que “a missão de Cristo e do Espírito Santo que, na liturgia sacramental da Igreja, anuncia, atualiza e comunica o Mistério da salvação, continua no coração que reza”.

“A liturgia, em si, não é apenas oração espontânea, mas algo cada vez mais original: é um ato que fundamenta toda a experiência cristã e, por conseguinte, também a oração. É acontecimento, é evento, é presença, é um encontro com Cristo”, acrescentou.

Desta forma, o Papa sublinhou que “Cristo faz-se presente no Espírito Santo através dos sinais sacramentais: disto, para nós cristãos, deriva a necessidade de participar nos mistérios divinos. Um cristianismo sem liturgia é um cristianismo sem Cristo, totalmente sem Cristo”.

Acrescentou ainda que, "mesmo no rito mais despojado, como o que alguns cristãos celebraram e celebram em lugares de prisão, ou no esconderijo de uma casa durante os tempos de perseguição, Cristo está verdadeiramente presente e doa-se aos seus fiéis ”.

“Que este pensamento nos ajude. Quando vamos à missa aos domingos, vamos para rezar em comunidade, rezar com Cristo que está presente. Quando vamos a uma celebração do Batismo, Cristo está ali presente que batiza. Isso não é uma maneira de dizer. Cristo está presente e na liturgia você reza com Cristo junto de você”, concluiu o Papa.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

ACI Digital

S. ANSCÁRIO (OSCAR), BISPO DE HAMBURGO E BREMA, APÓSTOLO DA ESCANDINÁVIA

S. Anscário, Siegfried Detlev Bendixen 

Oscar era um grande estudioso. Desde pequeno foi aluno dos Beneditinos, na abadia de Corbiè, perto de Amiens, no norte da França. Para ali, voltou, mais tarde, como monge e, depois, como "magister interior", um cargo que desempenhou na nova Corbiè, comunidade nascida na Saxônia.

Sua missão no grande norte

Em 826, Oscar partiu para a Dinamarca, com o novo rei Harald, que acabava de ser batizado por ele, mas, depois de apenas um ano, o soberano foi obrigado a renunciar ao trono. Então, Oscar seguiu o monge Vitimaro, em sua missão na Suécia, onde o rei local era tolerante com a pregação do cristianismo, considerado a religião dos estrangeiros, seguido mais pelos prisioneiros de guerra. Os resultados foram tão bons que o novo imperador, Ludovico o Piedoso, encorajou o nascimento, naquelas terras, de uma nova estrutura eclesiástica, que, porém, teve como sede Hamburgo, além-mar. Ali Oscar se tornou Bispo.

A semente da evangelização

Quando Ludovico morreu, o império começou a desagregar-se, por causa também das incursões de pessoas, como os normandos, que, naqueles anos, devastavam os territórios do norte da Europa.
A invasão dos Vikings chega a Hamburgo. Assim, Oscar foi obrigado a refugiar-se em Bremen, onde, como Bispo, passou os últimos anos da sua vida: ali, segundo algumas fontes, trabalhou na elaboração de uma “Biblia pauperum”, da qual alguns fragmentos ainda são conservados na catedral da cidade.
Santo Oscar faleceu em 865, sem ver a realização do seu sonho de uma profunda evangelização do norte da Europa, mas satisfeito por ter lançado a primeira pequena semente do anúncio cristão naquelas terras.

Vatican News

S. BRÁS, BISPO DE SEBASTE E MÁRTIR

S. Brás, Escola de Novgorod 

Sobre a vida de São Brás - protetor da garganta e dos otorrinolaringologistas, dos pecuaristas e das atividades agrícolas -dispomos de poucas notícias: a única coisa certa era a sua fé em Cristo, que manteve até à morte por decapitação, após cruéis torturas indescritíveis.

Bispo e médico

A tradição diz que Brás era natural de Sebaste, na Armênia, onde passou a sua juventude, dedicando-se, sobretudo, aos estudos de Medicina.
Ao tornar-se Bispo, entregou-se aos cuidados físicos e espirituais do povo, realizando, segundo a tradição, até curas milagrosas.
Naqueles anos, as condições de vida dos fiéis da fé cristã pioraram por causa dos contrastes entre o imperador do Oriente, Licínio, e do Ocidente, Constantino, que causaram novas perseguições. Brás, para fugir das violências, refugiou-se em uma caverna, no Monte Argeu, onde viveu na solidão e na oração, guiando a sua Igreja, apesar da distância, com mensagens secretas.

O milagre da garganta

Porém, Brás foi encontrado e preso pelos guardas do governador Agrícola e levado a julgamento. Ao longo do caminho, encontrou uma mãe desesperada, com seu filhinho nos braços, que estava sendo sufocado por um espinho ou isca de peixe cravado em sua garganta. O bispo abençoou-o e a criança recobrou imediatamente a saúde. Este fato, porém, não foi suficiente para poupá-lo do martírio, após torturas atrozes, que não conseguiram mudar seu espírito.

O naufrágio das relíquias

Com a sua morte, São Brás foi enterrado na catedral de Sebaste, mas, em 723, parte dos seus restos mortais foi transferida para Roma. No entanto, durante a viagem, uma tempestade repentina fez com que as relíquias permanecessem em Maratea, na costa da atual região italiana da Basilicata. Esta terra, na verdade, ainda hoje mantém uma grande devoção a São Brás.

O culto de São Brás

São Brás é um dos santos, cuja fama de santidade chegou a muitos lugares e, por isso, é venerado em quase todas as partes do mundo.
O milagre da garganta, que realizou em uma criança, é recordado no dia 3 de fevereiro, com um rito litúrgico particular, durante o qual o sacerdote abençoa a garganta dos fiéis com duas velas cruzadas diante da garganta.

Vatican News

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 9/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 19

Penso que seja conveniente apressar a marcha do discurso, pois com as poucas coisas que já consideramos facilitamos aos amantes do esforço a reflexão sobre as etapas restantes. Estas etapas podem significar as virtudes; quem avança ordenadamente seguindo a coluna de nuvem, acampa e descansa nelas. Passando por alto as etapas intermediárias, recordarei em meu discurso o prodígio da rocha, cuja natureza dura e sólida se converteu em bebida para os que tinham sede, dissolvendo-se sua dureza na brandura da água (Ex 17, 6 e Sal 77, 15 e 1Co 10, 4). Não há nenhuma dificuldade em adaptar a continuação do relato à consideração espiritual. Aquele que abandonou na água o egípcio morto, e foi adoçado com o lenho, e gozou das fontes apostólicas repousando à sombra das palmeiras, esse também já se fez capaz de receber a Deus. Pois a pedra, como diz o Apóstolo, é Cristo, seca e resistente para os que não crêem; porem se alguém aproxima o bastão da fé, se converte em bebida para os sedentos e flui dentro de quem a recebe. Pois diz: Eu e meu Pai viremos e faremos nele morada (Jo 14, 23). Tampouco devemos deixar de considerar isto: depois de atravessar o mar e ter sido adoçada a água para os caminhantes da virtude; depois daquele delicioso acampamento junto às fontes e às palmeiras, e depois de beber da pedra se ter esgotado totalmente as provisões trazidas do Egito, caiu do alto sobre eles um alimento simples e ao mesmo tempo variado. De fato, seu aspecto era simples, porem sua qualidade era variada, acomodando-se convenientemente a cada um segundo a natureza de seu desejo (Ex 16, 2-16). Que aprendemos com isto? Aprendemos com que purificação convém que cada um se limpe da vida egípcia e estrangeira até o ponto de esvaziar totalmente o odre da própria alma de todo o alimento impuro preparado pelos egípcios, e receber assim, com alma limpa, em um só, o alimento que vem do alto: um alimento que não se fez brotar para nós de uma semente mediante seu cultivo, senão que é um pão preparado, sem semente e sem cultivo, que, descendo do céu, aparece sobre a terra. Pelo simbolismo da narração sabes perfeitamente qual é este alimento verdadeiro. O pão que desce do céu (Jo 6, 51 e 6, 31) não é uma coisa sem corpo. Pois como poderia uma coisa incorpórea converter-se em alimento para o corpo? O que não é incorpóreo, evidentemente, é corpóreo. Pois bem, o corpo deste pão não foi produzido pela terra, nem pela semente, mas a terra, permanecendo tal qual é, se encontra cheia deste divino alimento que recebem os que têm fome, havendo conhecido previamente o mistério da Virgem através deste prodígio. Este pão, não produzido pelo cultivo da terra, é também a palavra que, graças à diversidade de suas qualidades, adapta sua força às capacidades dos que comem (Sb 15, 21).

Capítulo 20

Na verdade, não só tem sabor de pão, como se converte também em leite e em carne e em legumes e em tudo aquilo que se adapte e seja apetecível para quem o recebe, como ensina o divino apóstolo Paulo, que preparou aos seus uma mesa assim, convertendo a palavra em comida sólida e de carne para os mais perfeitos, em legumes para os mais frágeis, e em leite para as crianças (Rm 14, 2 e 1Co 3, 2 e Hb 5, 12). As maravilhas que nos mostra a história em torno daquele alimento são ensinamentos para a vida virtuosa. Pois diz que a todos se oferecia uma participação igual no alimento, e que a diferença de forças em quem o recolhia não implicava em excesso ou em falta do necessário. Isto, a meu ver, é um conselho oferecido a todos: que quem procura as coisas materiais necessárias para viver não ultrapasse os limites da necessidade, mas que saiba bem que, para todos, a medida natural do alimento é a satisfação da necessidade diária. Ainda que se preparem muito mais coisas que o necessário, o estômago não tem uma natureza capaz de ultrapassar suas próprias medidas, nem de se dilatar conforme a abundância do preparado, mas que, como diz a história, nem o que colhia mais tinha de sobra, não tinha, de fato, onde guardar a sobra, nem o que colhia pouco estava desprovido, pois a necessidade se reduzia acomodando-se ao encontrado. Enquanto para os que guardavam o supérfluo, o excesso se convertia em viveiro de vermes. Com isto a Escritura indica de algum modo aos avarentos que todo o supérfluo amontoado pela paixão da avareza, no dia seguinte, isto é, na vida futura, se converterá em vermes para quem o reuniu. Ao ouvir isto, sabes perfeitamente que com este verme se designa o verme que não tem fim, gerado pela avareza. O fato de que o guardado só se conserve livre da corrupção no sábado introduz um conselho: que existe um tempo em que convém utilizar o trabalho de possuir aquelas coisas que, entesouradas, não se corrompem; elas nos serão proveitosas quando, havendo concluído esta vida de preparação, depois da morte, nos encontremos no descanso. Não é por acaso que o dia anterior ao sábado é chamado - e é realmente - parasceve, dia de preparação para o sábado.

Capítulo 21

Este dia é esta vida na qual nos preparamos as coisas da vida futura. Nela, nenhum dos trabalhos que realizamos agora é factível: nem a agricultura, nem o comércio, nem a milícia, nem nenhum outro trabalho no qual agora nos afanamos, senão que vivendo em um total repouso destes trabalhos, recolheremos os frutos das sementes que tivermos semeado durante esta vida. Frutos incorruptíveis, se eram boas as sementes desta vida; corruptíveis e funestos, se assim no-las houver produzido a lavoura da vida. O que semeia para o espírito - diz - do espírito recolherá vida eterna; o que semeia para a carne, da carne recolherá corrupção (Ga 6, 8). Por esta razão, a Lei chama parasceve com propriedade e só considera como tal a preparação para melhor, desde que o que ela entesoura é incorrupção; seu oposto não é parasceve e nem recebe este nome. Com efeito, ninguém chamaria com propriedade preparação à privação do bem, senão falta de preparação. Por esta razão, a história prescreve aos homens só a preparação endereçada ao melhor, dando a entender com seu silêncio aos discretos, em que consiste o contrário. Da mesma forma que nos alistamentos militares, o chefe da expedição entrega primeiro as provisões e depois dá o sinal de guerra, assim também os soldados da virtude, depois de haverem recebido a provisão mística, marcham para a guerra contra os estrangeiros, dirigindo a batalha Josué, sucessor de Moisés. Vês com que coerência prossegue a narração? Enquanto o homem está muito debilitado, maltratado pela perversa tirania, não afasta por si mesmo o inimigo. Tampouco pode. Outro é que se faz companheiro de combate dos fracos, o que fere o inimigo com sucessivos golpes. Porem, uma vez que tenha sido libertado da escravidão dos opressores, e tenha sido adoçado com o lenho, e tenha descansado da fadiga no acampamento das palmeiras, e tenha reconhecido o mistério da pedra, e tenha participado do alimento do céu, então não afasta o inimigo pelas mãos de outro, mas como quem abandonou o tempo da infância e alcançou a altura da juventude, ele mesmo luta corpo a corpo contra os adversários, sem ter já como general Moisés, o servo de Deus, mas o próprio Deus do qual é servo Moisés (Dt 34, 5 e Ex 14, 31). Com efeito, a Lei, dada como sombra e figura dos bens que estavam por vir (Hb 8, 5), é inadequada para as verdadeiras batalhas. Aquele que é a plenitude da Lei e sucessor de Moisés, que foi prenunciado na igualdade de nome de quem então mandava, esse dirige agora a batalha. O povo, quando vê levantadas as mãos do Legislador, avantaja-se sobre o inimigo no combate; se as vê caídas, cede (Ex 8, 5). Ter Moisés as mãos elevadas significa a contemplação da Lei através do sentido espiritual; o deixá-las cair para a terra, a pobre exegese presa ao solo, e a observação da Lei segundo a letra. O sacerdote sustenta as mãos de Moisés que se tornaram pesadas, ajudado neste trabalho por um membro da família. Nem mesmo isto é alheio à coerência das coisas que estamos contemplando. De fato, o sacerdote verdadeiro, graças à palavra de Deus que está unida a ele, conduz novamente para o alto as energias da Lei, caídas à terra pelo peso da interpretação judia, e apóia na pedra - como em um fundamento -, a Lei que cai, de forma que esta, como sugere a figura formada pelas mãos estendidas, mostra a quem as vê qual é seu sentido. Efetivamente, para aqueles que sabem ver, o mistério da cruz aparece constantemente na Lei. Por esta razão diz o Evangelho em algum lugar que não passará um jota ou um til da lei (Mt 5, 18), significando com isto o traço horizontal e o acento perpendicular com que se desenha a figura da cruz. Essa mesma cruz, mostrada então em Moisés - que é figura da Lei -, se erguia como bandeira e causa de vitória para os que a olhavam.

ECCLESIA Brasil

Padre enfermeiro português volta a hospital para ajudar doentes de covid-19

Facebook Zona Pastoral de Alcains (Reprodução - Fair Use)

O padre enfermeiro Rúben Figueiredo

Após 10 anos, o pe. Rúben retoma a antiga profissão com o desafio de ajudar espiritual e fisicamente os paroquianos e os doentes.

Padre enfermeiro português volta a hospital para ajudar doentes de covid-19: trata-se do pe. Rúben Figueiredo, que se voluntariou para trabalhar numa Estrutura de Apoio de Retaguarda (EAR), espécie de hospital de campanha que atende mais de 40 pessoas internadas em Fátima.

A estrutura recebe pacientes em isolamento de 10 dias em média. Após esse período, eles passam por novo teste de detecção do coronavírus. Se o resultado for negativo, recebem alta.

O pe. Rúben, que é da diocese de Santarém, vem trabalhando na EAR de Fátima desde 14 de dezembro. Ele declarou à Ecclesia, agência católica de notícias de Portugal:

“Neste contexto de pandemia, em que há imensa necessidade de enfermeiros e de profissionais de saúde, não resisti e estou na linha de frente (…) Temos passado momentos difíceis e de provação, com este aumento dos casos (…) Destaco sobretudo a confiança e a esperança. Vivemos tempos de medo, em que a gramática e o léxico é a morte, o sofrimento e a infeção; há muito esse registo e queria destacar a confiança no nosso Serviço Nacional de Saúde que, apesar de viver momentos complicados e complexos, tem conseguido dar resposta aos inúmeros casos e tem sido capaz de acompanhar, cuidar e tratar. Também, como cristãos, sabemos que Cristo está conosco, Cristo caminha conosco e se faz presente nestas horas. Como cristãos, temos que ter um olhar de fé e esperança, que é o que procuro ter”.

Padre enfermeiro português volta a hospital

O sacerdote se formou em enfermagem antes de iniciar sua formação em Teologia. Não exercia a profissão de enfermeiro desde 2011. No entanto, os profissionais da área são poucos diante da necessidade atual e, além de ajudá-los, o pe. Rúben vê a oportunidade de testemunhar a eles que a Igreja “não está de braços cruzados nem fechada a este sofrimento: e é bom verem que os padres estão disponíveis e vestem a camisa”. Ao mesmo tempo, a experiência atual tem sido para ele próprio um retorno ao aprendizado:

“Depois de 10 anos sem exercer, há coisas em que estou obrigado a formar-me, a ir novamente aos livros, técnicas, procedimentos, protocolos”.

Ele considera um privilégio estar em Fátima, residindo na Casa Nossa Senhora do Carmo e podendo manter uma “vida espiritual de acordo com o horário de trabalho”.

Como sacerdote, o pe. Rúben é pároco de nada menos que quatro paróquias: Chouto, Parreira, Ulme e Vale de Cavalos. Nessas comunidades, ele já vinha reforçando a importância dos cuidados sanitários como forma de amar o próximo:

“Mais do que serem recomendações, dizia que eram obrigações e, como cristãos, devemos ter esse sentido ainda mais presente. Insistia sempre com os cuidados da desinfecção, da distância social, e fazia sempre essa formação, educação, para a saúde”.

O pe. Rubén destaca ainda que, ao surgir a oportunidade de “colaborar nesta luta como enfermeiro”, ele recebeu “todo o apoio” do bispo de Santarém, dom José Traquina.

Além dos serviços na EAR de Fátima, o pe. Rúben também prestou acompanhamento ao pe. Fernando Campos da Silva, que, na semana passada, faleceu aos 91 anos de idade em decorrência da covid-19, em seu quarto na residência sacerdotal.

O pe. Rúben comenta:

“Foi um privilégio ter estado nos últimos instantes da vida dele. Estava de folga no fim de semana e ofereci-me para ir cuidar do padre Campos. No sábado, com o médico, fizemos a avaliação; ele esteve sempre lúcido, sempre muito colaborante na medicação, na alimentação, no internamento, sempre muito comprometido com as nossas tarefas e cuidado. Até que, por volta da 1 da manhã, enquanto tinha a tocar a Missa Solene de Mozart, enquanto tocava o Kyrie, ele muito serenamente morreu”.

Sobre a “peregrinação do pe. Campos na terra”, o sacerdote enfermeiro complementa:

“Foi muito rica e valiosa para a Igreja, para a cidade de Santarém e para tantos cristãos que o conheceram. Será sempre uma memória de alegria, de fé, de serviço, de dedicação. Éramos e fomos muito amigos. Ele gostava muito de poesia e sabia que eu também gostava e comprava alguns livros, lia-os primeiro e depois oferecia-me, e vice-versa. Fazíamos este intercâmbio de cultura e gostos”.

O falecido pe. Fernando Campos foi e é “uma referência muito grande” em sua trajetória vocacional, finaliza o pe. Rúben, que foi ordenado sacerdote em 16 de julho de 2017.

Aleteia

A água no vinho

Aleteia
por Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas (TO)

Diz o ditado popular: “Onde há uma garrafa de vinho, há uma jarra de água”. Há na vida de cada dia algumas combinações perfeitas: arroz com feijão, café com leite, goiabada com queijo, sombra e água fresca, corpo e roupa, água e vinho, Covid-19 e vacina (deixo aqui este espaço vazio para você preenchê-lo) ……  Nem todas as misturas combinam e dão certo. Por exemplo, água e óleo. Há também na vida de cada um de nós coisas que combinam e coisas que não combinam. Quem de nós nunca ouviu alguém dizer: “isto combina com você” ou “isto não combina com você?”. Com quem você combina ou não combina? Com quem você se mistura ou não se mistura?

Água e vinho se combinem e se misturam e formam uma das espécies eucarísticas: o vinho, com uma gotinha de água, se transformam no Sangue de Jesus. Você sabe por que se mistura água no cálice com vinho? É para deixar o vinho mais fraco? É para alterar o seu sabor? É para limpar o peritônio do sacerdote? É porque o sacerdote gosta de água? É porque tem sede? A água no vinho é um rito, simples, até corriqueiro, mas que tem um grande significado. Segundo a rubrica, em silêncio litúrgico, o sacerdote ou o diácono, ao misturar a água no vinho diz, em voz baixa: “Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. Jesus se dignou assumiu a nossa humanidade. Mas que tipo de humanidade ele assumiu? Uma humanidade doente, desunida e “dividida em contínua discórdia” (Oração Eucarística VIII, sobre a Reconciliação II).

Este rito litúrgico nos remete a muitos outros ritos da vida. Não pode ser um ato meramente ritualístico. Tem que ser um rito vital. Diante das desarmonias e das adversidades da vida, Jesus, o Santo de Deus, disse ao mar revolto: “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4,39). E ao espírito mau: “Cala-te e sai dele!” (Mc 1,25). Então, o mar se acalmou e o espírito mau saiu daquele homem.

E o que dirá aos nossos mares e aos nossos espíritos maus, nos nossos dias? Os mares de nossas vidas estão bravios. Que Jesus nos acalme. E os espíritos maus estão em muitos de nós, nas nossas sinagogas. Que Jesus nos cure. Porque “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14 – Campanha da Fraternidade 2021). A humanidade está dividida e separada, como a água e o óleo. E precisa se unir como a água e o vinho. Esta é a verdadeira pandemia que adoece os nossos tecidos e os nossos liames sociais e eclesiais. Precisamos vencê-la. Como? Com Jesus no comando. É isto que chamamos de conversão: conversão é mudança de comando. Quem manda na nossa vida é Jesus ou é o espírito mau? Jesus, quando deu as últimas recomendações aos discípulos, disse que na missão devemos expulsar os demônios, pegar em serpentes e beber venenos e curar os doentes (Mc 16,17-18). Este é o caminho da missão, sobre o qual todos nós haveremos de passar e de percorrer. Não há missão que não enfrente estes desafios. Eles fazem parte dos caminhos da missão. Em toda missão há sempre um abandonado, à beira da estrada.

O momento atual não é fácil. “No contexto atual, há urgente necessidade de missionários de esperança que, ungidos pelo Senhor, sejam capazes de lembrar profeticamente que ninguém se salva sozinho”. “Tudo, em Cristo, nos lembra que o mundo em que vivemos e a sua necessidade de redenção não lhe são estranhos e também nos chama a sentirmo-nos parte ativa desta missão: Ide às saídas dos caminhos e convidai todos quantos encontrardes (cf. Mt 22, 9). Ninguém é estranho, ninguém pode sentir-se estranho ou afastado deste amor de compaixão” (Mensagem de sua santidade, o Papa Francisco, para o Dia Mundial das Missões de 2021). Nossa missão é ver e ouvir o que a Igreja nos diz, através do Santo Padre, o Papa, e não apenas selecionar aquilo que nos interessa.

Voltemos ao simbolismo da água e do vinho. São Cipriano de Cartago dizia: “Se houver apenas água, sem vinho, nós estamos sozinhos, sem Cristo. E se houvesse só vinho sem água estaria Cristo sozinho sem nós”. Somos um país miscigenado e desigual. Somos um “Brasil inevitável” (Mércio Gomes – nota de rodapé: “vale a pena lê-lo”). Por isto mesmo, chega de briga! Chega de ódio! Chega de polarização! Chega de ideologização! Que venha a vacina! Água no vinho…! Afinal, somos todos irmãos!

CNBB

Dom Leonardo: “serei sempre grato ao Papa Francisco por ter-me enviado para Manaus”

Dom Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus
Vatican News

Dom Leonardo numa entrevista analisa seu primeiro ano como arcebispo de Manaus; fala da pandemia e do povo que encontrou.

Padre Modino - Manaus

No dia 31 de janeiro de 2020, Dom Leonardo Steiner iniciava sua missão como arcebispo de Manaus, algo pelo qual será “sempre grato ao Papa Francisco”. Depois de um ano, ele faz um balanço desse tempo em que em que “apesar da pandemia vou conhecendo as comunidades e a realidade da Arquidiocese”

Ele tem descoberto situações de descaso, mas também tem aprendido muito com a Igreja da capital do Amazonas, uma das cidades do mundo mais atingidas pela pandemia da Covid-19, que segundo dados oficiais, reportados pela Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas, até 31 de janeiro, elevava o número de contágios na cidade de Manaus a 120.160 e 5.575 falecidos, 2.195 no mês de janeiro. Tudo isso, consequência, em grande parte, de um sistema de saúde sucateado no Amazonas.

Na arquidiocese de Manaus faleceram cinco padres, vítimas da Covid-19, até 31 de janeiro, o que deve levar, segundo o arcebispo, “a pensar melhor o nosso modo de ser Igreja, onde os leigos exerçam mais ministérios”, insistindo no desafio de “instituir ministérios leigos que ajudem as comunidades na dinâmica da vida do Evangelho”. Inclusive ele já pensa na convocatória de “uma assembleia diocesana tão logo for possível”, e assim “ver propostas para a pós-pandemia”.

O impacto econômico da pandemia está atingindo também à Igreja católica, o que deve levar a ser “uma Igreja de comunhão e participação, onde nos sentimos todos arquidiocese nas necessidades, na pobreza, na riqueza e nos dons”. Para superar a pandemia, a vacina, que é vista por dom Leonardo como “uma questão da ética do cuidado”, se torna uma questão fundamental, sendo difícil entender que “altas autoridades do país ataquem a vacina como se não fosse necessária”.

O senhor está completando um ano do início da sua missão como arcebispo de Manaus. O que marcou sua vida ao longo dos últimos doze meses?

É uma graça estar na Amazônia. Serei sempre grato ao Papa Francisco por ter-me enviado para Manaus. Apesar da pandemia vou conhecendo as comunidades e a realidade da arquidiocese. Não deixa de chamar a atenção o descaso com a saúde, com a periferia da cidade de Manaus, com os indígenas; o nosso descuido com o meio ambiente, especialmente em relação ao lixo e o saneamento básico; a admirável arquitetura das construções, infelizmente abandonada.

Esses meses aprendi muito com a religiosidade das comunidades, a solidariedade e generosidade do nosso povo. A pandemia veio despertar ainda mais a solidariedade e o cuidado para com os pobres. É tocante ver como as pessoas tem preocupação com os mais necessitados e sabem repartir. Os leigos são ativos, sentem-se Igreja, e existe no clero um senso de pertença a Igreja que está em Manaus.

Manaus tem sido uma das cidades mais atingidas pela pandemia da Covid-19, tanto na primeira como na segunda onda, tendo graves consequências na vida do povo e da Igreja manauara. O que isso tem representado e quais os ensinamentos que a sociedade e a Igreja deveriam tirar de vista do futuro?

Um dos motivos de tantas mortes foi o colapso do sistema público de saúde. Os governos têm ignorado, tem sucateado o sistema de saúde no Amazonas. As pessoas morrerem sufocadas por falta de oxigênio e isso demonstra uma realidade que pede ação da Justiça e um movimento da sociedade de fiscalização do dinheiro público; exigir uma gestão digna, justa. O que espanta é a indiferença e a incapacidade de demonstrar solidariedade com os entes federativos e com as famílias enlutadas. Ficou evidente o descaso com os indígenas que vivem na cidade.

Aprendemos como Igreja a estar ainda mais ao lado dos pobres, com os pobres. Aprendemos a organizar ainda mais a nossa caridade. A impossibilidade de participação presencial nas igrejas nos responsabilizou no viver o evangelho. Estarmos distantes significou proximidade na oração, na leitura da Palavra de Deus. Cresceu o desejo de nos encontrarmos nas celebrações. Foi necessário encontrar modos de continuar a iniciação à vida cristã das nossas crianças, jovens e adultos. Foi e está sendo um exercício no seguimento de Jesus.

A arquidiocese de Manaus perdeu cinco padres desde o início da pandemia. A falta de clero na Amazônia e na arquidiocese sempre tem sido um desafio. Qual seu sentimento como arcebispo, diante da perda desses seus colaboradores mais próximos?

Sim, vieram a óbito cinco padres, mas também irmãos e irmãs que eram lideranças nas comunidades, que exerciam diversos ministérios. A sensação de perda, na realidade, apenas nos remete para a realidade definitiva, o Reino na sua plenitude. Os presbíteros são os colaboradores mais próximos das comunidades na Igreja. Eles são os animadores, formadores das comunidades e os que presidem sacramentos.

Somos levados a pensar melhor o nosso modo de ser Igreja, onde os leigos exerçam mais ministérios. Manaus é uma igreja que dá muita importância às lideranças das comunidades. Seremos provocados a instituir ministérios leigos que ajudem as comunidades na dinâmica da vida do Evangelho. Mas, não nos esqueçamos que os irmãos e irmãs que vieram a óbito, continuam conosco, pois vivemos na Comunhão dos Santos. Eles e elas nos acompanham nas nossas tentativas de ser presença do Reino da verdade e graça, da justiça, do amor e da paz.

A pandemia tem acrescentado o enfrentamento social e político no Brasil. Quais são as causas de tudo isso e quais deveriam ser as consequências?

A pandemia veio desnudar a nossa realidade social, política, econômica, mas também religiosa. Temos mais pobres do que calculávamos e teremos bem mais passada a pandemia. Trouxe às claras o modo da indiferença em relação aos que padecem com o vírus, do negacionismo em relação à ciência, da violência em relação à dor e às mortes, das políticas públicas não discutidas, aprovadas e executados nesse tempo da pandemia. Lideranças políticas transgrediram as recomendações da ciência e desejaram impor tratamentos sem comprovação científica. Falta quem lidere, organize a vacinação da população.

Não podemos esquecer que lideranças religiosas acharam que seriam capazes de expulsar o vírus, prestando um desserviço no enfrentamento da pandemia. Não conseguimos como sociedade nos unir para oferecer uma estratégia para a superação do vírus e chegamos à uma segunda onde ainda mais mortal. As notícias falsas e as desinformações não nos ajudaram. A consequência é uma segunda onda mortal.

O aumento da pobreza, inclusive a diminuição de recursos dentro da Igreja Católica, está sendo uma das consequências da pandemia. O que a Igreja de Manaus está fazendo diante dessa situação? Estamos diante da possibilidade de uma nova realidade eclesial, uma Igreja mais pobre e dedicada ao cuidado daqueles que são descartados pela sociedade?

Certamente estamos diante da necessidade de uma comunhão e partilha maior. Seremos mais pobres economicamente, mas mais Igreja. Significa: colocar ainda mais em comum os nossos recursos financeiros e os nossos bens de humanidade, de fé. Seremos uma Igreja de comunhão e participação, onde nos sentimos todos Arquidiocese nas necessidades, na pobreza, na riqueza e nos dons. Uma realidade significativa na igreja de Manaus é o sentimento de pertença, de ser arquidiocese.

Essa pertença deverá refletir-se também economicamente para que as nossas comunidades do interior e das periferias, se sintam, uma igreja na partilha dos bens e dos dons. Tudo para que ninguém fique para trás e nem passemos pelo outro lado sem perceber que alguém ficou pelo caminho. Somos nesse momento provocados a sair ao encontro dos mais necessitados. Teremos mais rostos de homens e mulheres pobres entre nós, depois da pandemia. Será nosso propósito que eles façam parte da nossa Igreja, pois são carne de Cristo.

O episcopado brasileiro, seguindo a postura do Papa Francisco, está fazendo uma forte defesa da vacina. O Brasil é um dos países onde existe maior rejeição à vacina, inclusive da parte de alguns católicos, qual a reflexão que essa postura provoca no senhor?

Deveríamos questionar a falta de inciativa e organização da parte do governo federal na busca da vacina. Nós temos centros de pesquisa de renome; o que foi feito com eles? O Brasil tem tradição de pesquisa de vacinas e tradição em vacinação. É difícil entender como está presente na sociedade uma ignorância em relação à vacina. Ainda mais difícil que altas autoridades do país ataquem a vacina como se não fosse necessária.

Trata-se de um olhar egoísta infundado. Uma falta de solidariedade para com todos os brasileiros e brasileiras, pois é o modo oferecido pela ciência de sairmos da espiral da morte. Mas tenho a impressão que esses irmãos e irmãs passarão a outra compreensão depois de terem perdido um ente querido ou tiveram que olhar a morte. Só assim sairão de seu mundo fechado e ignorante. A vacina é uma questão da ética do cuidado.

Diferentes vozes dentro da Igreja estão refletindo sobre a necessidade de novas estruturas e modelos pastorais após a pandemia. Como deveria se concretizar esse tempo pós pandemia na Igreja de Manaus? Quais os gritos que a realidade de Manaus coloca na frente da Igreja local de em vista do futuro?

Vejo a necessidade, e já estou conversando com os vigários episcopais, padres, leigos a respeito de convocarmos uma assembleia diocesana tão logo for possível. Realizarmos com as comunidades uma avaliação da nossa realidade eclesial e ver propostas para a pós pandemia. Na escuta e ação sinodal continuarmos o caminho que o Evangelho nos propõe. Existem aprendizados, e existirão realidades diferentes. Certamente teremos mais pobres, mais pessoas vivendo nas nossas ruas, mais trabalho informal. Um bom número das lideranças de nossas comunidades veio a óbito.

Como ajudar a curar as feridas? Como estar mais presente nos meios de comunicação? Como estar junto do povo de Deus? Perceber que o Evangelho é um modo de vida, não de ideologia; é seguimento de Jesus e não devocionismo. Talvez possamos sair da pandemia melhores: solidários, consoladores, samaritanos, fraternos, cordiais, gratuitos. Quando nesses dias somos levados e pensar e meditar a morte, temos a chance de perceber o essencial da vida, perceber o crístico do ser cristão.

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF