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sábado, 18 de março de 2023

Os Papas e a Quaresma: o valor da esmola, um gesto de amor gratuito

"A esmola nos ajuda a viver a gratuidade do dom" 
(Copyright: Stefano Buttafoco Arti Fotografiche)

Perguntas sobre o significado deste ato de compartilhar encontram muitas respostas nas palavras dos Papas. Vamos percorrer algumas reflexões no Magistério de Francisco, Bento XVI, João Paulo II, Paulo VI.

Amedeo Lomonaco - Vatican News

Os elementos do caminho espiritual durante a Quaresma são a oração, o jejum e a esmola. O termo "esmola", em particular, vem do grego e significa "misericórdia". E indica gratuidade. Na esmola, como o Papa Francisco assinalou durante a Santa Missa de 5 de março de 2014, "você dá a alguém de quem você não espera receber algo em troca". "A esmola nos ajuda a viver a gratuidade do dom, que é a liberdade da obsessão da posse, do medo de perder o que se tem, da tristeza daqueles que não querem compartilhar seu bem-estar com os outros".

Por que a esmola deve ser escondida?

Uma característica típica da esmola cristã é que ela deve ser escondida. O Papa Francisco nos lembrou disso durante a Audiência Jubilar de 9 de abril de 2016: Jesus "nos pede para não dar esmola a fim de sermos louvados e admirados pelos homens por nossa generosidade: assegure-se de que sua mão direita não saiba o que sua mão esquerda está fazendo (cf. Mt 6,3)". "Não é a aparência que conta, mas a capacidade de parar e olhar a pessoa pedindo ajuda no rosto". Não devemos, portanto, identificar a esmola com a simples moeda oferecida com pressa, sem olhar para a pessoa e sem parar para falar e entender o que ela realmente precisa". A esmola é "um gesto de amor que se faz àqueles que encontramos".

O que representa a esmola?

A esmola, sublinha o Papa Bento XVI em sua mensagem para a Quaresma de 2008, "representa uma forma concreta de ajudar os necessitados e, ao mesmo tempo, um exercício ascético para libertar-se do apego aos bens terrenos". Quão forte é a sugestão de riquezas materiais e quão clara deve ser nossa decisão de não as idolatrar, Jesus afirma de forma peremptória: Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Lc 16,13). "A esmola", continua a mensagem, "nos ajuda a superar esta tentação constante, educando-nos a satisfazer as necessidades do próximo e a compartilhar com os outros tudo o que possuímos através da bondade divina". Este é o propósito das coletas especiais em favor dos pobres, que são promovidas em muitas partes do mundo durante a Quaresma".

Que conexão têm esmola e jejum?

"Cristo - e, depois dele, a Igreja - também nos propõe, no tempo da Quaresma, os meios que servem a esta conversão. Trata-se antes de tudo da oração; depois a esmola e o jejum". O Papa João Paulo II recorda isto em sua mensagem para a Quaresma de 1979. "A esmola e o jejum como meios de conversão e de penitência cristã estão intimamente ligados". Jejum significa domínio sobre si mesmo; significa ser exigente de si mesmo, estar pronto para renunciar às coisas - e não apenas à comida - mas também aos prazeres e aos vários prazeres. E esmola - em seu sentido mais amplo e essencial - significa disponibilidade para compartilhar alegrias e tristezas com os outros, para dar ao próximo, aos necessitados em particular; para compartilhar não somente bens materiais, mas também os dons do espírito".

O que é a verdadeira caridade?

O Papa Paulo VI na Quarta-Feira de Cinzas, 8 de fevereiro de 1967, lembra como é difícil, na caridade material, "privar-se de algo querido, útil, talvez necessário: dar esmolas que realmente tenham um impacto em nossas economias, em nossas peculiaridades". Dá-se de boa vontade o supérfluo, aquilo que não custa nada". "A verdadeira caridade, por outro lado, se propõe a dar uma parte do que custa, do que nos parece indispensável. Eis a sábia regra que pode abrir horizontes inexplorados".

sexta-feira, 17 de março de 2023

Dos Comentários sobre o livro de Jó, de São Gregório Magno, papa

S. Gregório Magno, papa | paroquiadasaude

Dos Comentários sobre o livro de Jó, de São Gregório Magno, papa

(Lib. 13,21-23: PL75,1028-1029)            (Séc.VI)

O mistério da nossa vida nova

O bem-aventurado Jó, como figura da santa Igreja, ora fala em nome do corpo, ora em nome da cabeça. Mas, às vezes, ocorre que, quando fala dos membros, toma subitamente as palavras da cabeça. Eis por que diz: Sofri tudo isso, embora não haja violência em minhas mãos e minha oração seja pura(Jó 16,17).

Sem haver violência alguma em suas mãos, teve também que sofrer aquele que não cometeu pecado e em cuja boca não se encontrou falsidade; no entanto, pela nossa salvação, suportou o tormento da cruz. Foi ele o único que elevou a Deus uma oração pura, pois mesmo em meio aos sofrimentos da paixão orou por seus perseguidores, dizendo: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23,34).

Quem poderá dizer ou pensar uma oração mais pura do que esta em que se pede misericórdia por aqueles mesmos que infligem a dor? Por isso, o sangue de nosso Redentor, derramado pela crueldade dos perseguidores, se transformou depois em bebida de salvação para os que nele acreditariam e o proclamariam Filho de Deus.

Acerca deste sangue, continua com razão o texto sagrado: Ó terra, não cubras o meu sangue, nem sufoques o meu clamor (Jó 16,18). E ao homem pecador foi dito: És pó e ao pó hás de voltar (Gn 3,19).

A terra, de fato, não ocultou o sangue de nosso Redentor, pois qualquer pecador, ao beber o preço de sua redenção, o proclama e louva e, como pode, o manifesta aos outros.

A terra não cobriu também o seu sangue porque a santa Igreja já anunciou em todas as partes do mundo o mistério de sua redenção.

Notemos no que se diz a seguir: Nem sufoques meu clamor. O próprio sangue da redenção, por nós bebido, é o clamor de nosso Redentor. Por isso diz também Paulo: Vós vos aproximastes da aspersão do sangue mais eloquente que o de Abel (Hb 12,24). E do sangue de Abel fora dito: A voz do sangue de teu irmão está clamando da terra por mim (Gn 4,10).

O sangue de Jesus é mais eloquente que o de Abel, porque o sangue de Abel pedia a morte do irmão fratricida, ao passo que o sangue do Senhor obteve a vida para seus perseguidores.

Assim, para que não nos seja inútil o sacramento da paixão do Senhor, devemos imitar aquilo que recebemos e anunciar aos outros o que veneramos.

O clamor de Cristo fica sufocado em nós, se a língua não proclama aquilo em que o coração acredita. Para que esse clamor não seja sufocado em nós, é preciso que, na medida de suas possibilidades, cada um manifeste aos outros o mistério de sua vida nova.

O verdadeiro jejum

Como jejuar? | catequizar

O VERDADEIRO JEJUM

Dom Carmo João Rhoden 
Bispo Emérito de Taubaté (SP) 

Qual é o jejum que Deus quer de nós? (Is 58,3-11). 

Texto Bíblico: “De que nos serve jejuar, se Tu não vez, humilharmos, se não ficas sabendo? Ora, no dia do vosso jejum, sabeis fazer bons negócios, brutalizais todos os que por vós labutam”. O jejum que eu prefiro, a caso não é esse: desatar os laços provenientes da maldade, desamarrar as correias do jugo, dar liberdade aos que estavam curvados, em suma, que despedaceis todos os jugos? Não é partilhar o teu pão com o faminto?… Então, tu clamarás e o Senhor responderá, tu chamarás e Ele dirá: “aqui estou!” Se eliminares de tua casa o jugo, o dedo acusador, a palavra maléfica, se cederes ao faminto, o teu próprio bocado… tua escuridão será como o meio-dia. Sem sessar, o Senhor te guiará, em plena fornalha, Ele aliviará a tua garganta, e teus ossos, Ele revigorará (Is 58,3-11). 

 O jejum era muito valorizado, como prática religiosa, antigamente. Por exemplo, na festa da expiação, para implorar misericórdia (1Rs 21,12), e quando aconteciam desgraças. Os fariseus, também, o apreciavam, penso eu, até demais… 

 João Batista, percursor de Jesus Cristo, foi mais veterotestamentário, em seu espírito religioso: ele o fazia regularmente. Jesus, nem tanto. É claro: o jejum de injustiças, de maldades, de falsas acusações, Ele o apreciava. Jesus, de fato era diferente, por isso, dizia: “enquanto o esposo estiver presente” e o esposo era Ele próprio, os apóstolos não precisavam jejuar. Viria, porém, um tempo em que deveriam, fazê-lo. 

 O verdadeiro jejum, para nós cristão, se vive, amando e servindo aos irmãos. Sendo justos e amorosos. Misericordiosos.  Procurando perceber sua própria finitude e vivendo-a de acordo com o evangelho: como quem é limitado e pecador. 

 O melhor jejum, acontecerá, então, quando, o que for poupado, pelos que jejuam, é dado aos necessitados e pobres. Quando, há generosidade e solidariedade. Um dos modos de bem vivê-lo, é participar pessoal ou familiarmente da Campanha da Fraternidade de 2023, segundo as possibilidades.  

 Como será então nosso jejum? As catástrofes de Santos e São Sebastião, cidades de  São Paulo e outras mais, como as do Rio de Janeiro e alhures, não seriam ocasião propícia, para exercitar nosso jejum, de modo mais cristão?  

 Recordando a Campanha da Fraternidade de 2023, o que nos pede?

Aprovada a terceira edição do Missal Romano para o Brasil

Entrega do documento de aprovação no Dicastério para o Culto Divino e
Disciplina dos Sacramentos  (Vatican Media)

Depois de 19 anos de intensos trabalhos, o Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos aprovou a terceira edição do Missal Romano para o Brasil.

Silvonei José e padre Pedro André, SDB – Vatican News

O padre Leonardo José de Souza Pinheiro, assessor para a Comissão de Liturgia da CNBB e secretário da CETEL, Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos, esteve na Rádio Vaticano nesta sexta-feira, 17 de março de 2023, e partilhou em primeira mão a novidade, logo após sair do Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos com o documento de aprovação em mãos: depois de 19 anos foi aprovada a tradução da terceira edição típica do Missal Romano para o Brasil, fruto de muito trabalho e dedicação de muitos bispos, sacerdotes e leigos especializados, ressaltando que alguns deles já partiram deste mundo, por isso essa aprovação é motivo de grande alegria.

Revisão na tradução

Em entrevista a Silvonei José durante a edição do meio-dia do Programa Brasileiro, padre Leonardo afirmou que “não são propriamente mudanças, mas revisões na tradução. O Missal Romano é publicado em língua latina na sua versão oficial e cada país, através da Conferência Episcopal, tem a missão de traduzir para a sua própria língua. Há 19 anos estavam acontecendo esses trabalhos de tradução e, em 15 de dezembro de 2022, foi entregue no Dicastério para ser avaliado e aprovado e hoje veio a aprovação.”

Padre Leonardo Pinheiro (Vatican Media)

19 anos de trabalho

Sobre o longo tempo (19 anos) para a revisão, padre Leonardo disse que “por se tratar de um trabalho de tradução é algo muito sério, pois neste caso não é como traduzir uma carta ou um e-mail, que se traduz rapidamente. No Missal está contida a fé da Igreja em oração, portanto é um trabalho que precisa ser feito por especialista, por peritos, com muito cuidado, com muita oração, pedindo a assistência do Espírito Santo, pois não é uma tradução qualquer, pois o resultado da tradução vai exprimir naquele país, para aquele povo, a fé da Igreja. Por isso foi um trabalho muito meticuloso e a responsabilidade deste trabalho é sempre do episcopado da nação, auxiliado por peritos, por pessoas que tem a formação litúrgica, formação linguística, se faz essa proposta de tradução que vai sendo feita pouco a pouco, avaliada e aprovada pelo episcopado.”

Documento de aprovação (Vatican Media)

Últimos ajustes

A respeito dos próximos passos padre Leonardo relatou que “serão dados os encaminhamentos finais, revisando o que foi apontado pelo Dicastério, que não diz respeito ao conteúdo mas a forma, inserir as partituras das músicas, pois uma vez tendo o texto aprovado agora se pode anexar as partituras, ou seja, o texto cantado e fazer os últimos complementos, no que diz respeitos a diagramação e as fitas a serem colocadas.”

Em relação a publicação do novo Missal ainda não há previsão. Há a possibilidade que a data seja anunciada durante a Assembleia Geral da CNBB que acontecerá no mês de abril, tanto para a publicação quanto para a obrigatoriedade do uso da nova tradução, levando em conta o tamanho do Brasil e suas realidades tão plurais.

Dia de São Patrício: muito, muito mais do que cerveja verde

Fr-Lawrence-Lew-OP-CC
17 de março
São Patrício

A rude e pagã Irlanda se converteu em peso graças ao bispo que tinha sido escravo.

Embora seja mundialmente conhecido como o santo padroeiro da Irlanda, São Patrício nasceu na Grã-Bretanha no ano de 377 ou 387. Há divergências tanto sobre a data quanto sobre o local exato, que pode ter sido na Inglaterra ou na Escócia. Seu pai, Calpurnius, era diácono. Patrício, porém, só passou a praticar a fé cristã na adolescência.

Aos dezesseis anos, o jovem foi sequestrado por um grupo de piratas irlandeses e vendido como escravo. Na Irlanda, viu-se forçado a realizar trabalhos pesados, dos quais tentou fugir duas vezes, sem sucesso. Na terceira tentativa, conseguiu embarcar para a Grã-Bretanha e, de lá, para a França, então chamada de Gália. Entrou na vida monástica e voltou como missionário para a sua ilha britânica natal, acompanhando São Germano de Auxerre.

No entanto, o destino de Patrício era mesmo a Irlanda. Ele próprio alimentava o anseio de levar o Evangelho para aquela ilha ainda pagã, na qual tinha vivido e sofrido como escravo. Depois da morte do bispo encarregado das missões na Irlanda, o papa Celestino I convocou Patrício para substituí-lo. Foi assim que, no ano de 432, já consagrado bispo, ele retornou à “Ilha Esmeralda”, desta vez como missionário.

Em cerca de 30 anos, Patrício converteu simplesmente a ilha inteira, mudando para sempre a história da nação irlandesa. Ele não precisou nem de apoio político nem de violência para converter os pagãos. Por isso mesmo, nem os cristãos sofreram repressão na sua época. Quando o rei Leogário se converteu, a corte inteira aderiu com ele ao cristianismo.

A vida cristã na Irlanda se consolidou a tal ponto que a pequena ilha deu à Igreja um número ímpar de santos e missionários que partiram para evangelizar muitas outras partes do mundo.

Patrício fundou e espalhou pela Irlanda uma enorme quantidade de mosteiros, o que transformou a “Ilha Esmeralda” em um centro de difusão tanto do cristianismo quanto da cultura clássica. Entre os próprios irlandeses, a influência de Patrício foi tamanha que as lendas e relatos de heroísmo do povo local falam mais de monges e seus prodígios do que de reis, cavaleiros e guerras, como acontece na maioria das tradições europeias.

Um símbolo muito usado por São Patrício em suas pregações e catequeses era o trevo, cujas três folhas serviam como exemplo do mistério da Santíssima Trindade: um único Deus, mas três Pessoas Divinas. O trevo passou a ser adotado pelos irlandeses na festa de São Patrício, que é celebrada no dia 17 de março por ter sido a data do seu nascimento para a vida eterna, no ano de 461.

Os dados históricos sobre a vida de São Patrício são escassos, baseando-se majoritariamente na sua autobiografia “Confissões” (não confundir com a célebre obra de Santo Agostinho que tem o mesmo título).

As lendas sobre São Patrício são incontáveis, mas a mais famosa é a que atribui a ele a expulsão de todas as serpentes da Irlanda. Antes da presença missionária do santo bispo, de fato, a ilha continha uma enorme quantidade de cobras, mas o número delas sofreu uma queda desproporcional após um suposto milagre de São Patrício.

Com a intensa emigração de irlandeses para os Estados Unidos, a nação norte-americana passou a reverenciar São Patrício de forma notável. É dedicada a ele uma belíssima catedral de Nova Iorque.

Todos os anos, em 17 de março, realizam-se festas e desfiles populares em homenagem a São Patrício em diversas cidades do mundo, particularmente nos países de língua inglesa que contam com relevante comunidade irlandesa. A versão laica das festividades homenageia o povo irlandês e é marcada pelo uso quase universal da cor verde, presente na decoração das ruas, nas roupas e chapéus e nos corantes que tingem a cerveja e até mesmo rios: o rio Chicago, por exemplo, é “pintado” de verde há 43 anos como parte das comemorações do dia de São Patrício.

A data se tornou, enfim, uma grande festa popular. O próprio São Patrício, no entanto, é cada vez menos convidado a participar dela…

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Os dois cálices de Cristo na Última Ceia

Cálice usado na Santa Missa (Vatican Media)

Entre as centenas de alegados cálices da Última Ceia, dois atraem a atenção dos especialistas em relíquias. Segundo uma nova hipótese – apresentada agora em primeira mão –, ambos podem ter passado pelas mãos de Jesus Cristo no início de sua Paixão.

Fábio Tucci Farah

Há mais de cinco anos, o El País publicou uma matéria com o curioso título: “A batalha do Santo Graal: dois cálices reivindicam ser o tesouro perdido de Cristo”1. Entre centenas de pretendentes ao cálice da Última Ceia espalhados pelo mundo, duas pretensas relíquias foram destacadas pelo jornalista. E não era para menos. Ambos os objetos, custodiados na Espanha, carregavam séculos de história. E ambos mereciam cuidadosa atenção de qualquer estudioso do tema. Dois anos após a publicação daquela matéria, em um colóquio com professores do departamento de história e arqueologia da Universidade de Santiago de Compostela, fui confrontado com a questão: “Em sua opinião, qual é o Graal verdadeiro?”

Naquela época, a minha resposta estava na ponta da língua. O objeto exposto na catedral de Valência, na Capilla del Santo Cáliz, gozava de maior credibilidade, sem dúvida. Os dois antecessores do papa Francisco fizeram questão de venerá-lo e de utilizá-lo na celebração da missa, em 1982 e 2006. E em 2015, o atual Pontífice instituiu o ano jubilar eucarístico do Santo Cálice que, a partir de então, deveria ser celebrado a cada cinco anos. Segundo um estudo detalhado do Dr. Antonio Beltrán, apresentado em 19602, havia fortes evidências arqueológicas para sustentar que aquela era a verdadeira relíquia cristã. O artefato confeccionado em ágata cornalina, possivelmente em uma oficina do Oriente Médio (Egito, Síria ou Palestina), poderia ser datado entre os séculos IV a.C. e I d.C. Ou seja, havia uma probabilidade razoável de ter estado nas mãos de Cristo na Última Ceia.

A alegada história por trás daquele objeto também era fascinante e corroborava as evidências arqueológicas. Segundo uma larga tradição, aquele cálice teria sido herdado por São Pedro e levado a Roma, onde passaria pelas mãos de seus 23 sucessores. Durante a perseguição de Valeriano, no século III, São Lourenço recebeu uma missão do papa Sisto II: proteger os tesouros da Igreja. Graças ao diácono e tesoureiro, o Santo Cálice teria sido mandado secretamente à sua terra natal, a Hispania. E ali, teria passado por alguns esconderijos, inspirado lendas, sido remodelado à moda das taças reais medievais e, finalmente, desembarcado na catedral de Valência na primeira metade do século XV3.

Definitivamente, não seria tarefa fácil encontrar um competidor à altura. Em 2014, os autores espanhóis Margarita Torres e José Miguel Ortega abraçaram essa tarefa com o lançamento da obra Los Reyes del Grial. Com argumentos históricos, a obra alardeava a descoberta do verdadeiro Graal. E não era o de Valência. Para os autores, a autêntica relíquia havia se tornado conhecida como Cálice de Dona Urraca e estava esquecida na Real Colegiada de San Isidoro, em León. O sucesso do livro inspirou o documentário Onyx, los Reyes del Grial – estrelado por Jim Caviezel em 2018 – e arrastou multidões para apreciar o tesouro reencontrado, obrigando seus guardiões a trasladá-lo para uma sala especial.

Confeccionado em ônix, esse cálice apresentaria boas evidências a seu favor para ter estado nas mãos de Cristo na Última Ceia? A resposta é sim. Em visita a Terra Santa, peregrinos dos primeiros séculos registraram ali a presença do cálice da Última Ceia. Embora os relatos sejam divergentes em relação ao material e ao formato, um deles, o do peregrino anônimo de Piacenza, chama a atenção… Da Terra Santa, o cálice teria sido carregado ao Egito e de lá seguido para a Espanha, como presente à taifa de Denia pelo apoio durante a fome que assolou a região. Por sua vez, o sultão de Denia enviaria a relíquia como oferta de paz ao rei Fernando I, pai de Dona Urraca – daí o apelido do cálice. Os documentos descobertos por Gustavo Turienzo na Biblioteca do Cairo foram apresentados em Los Reyes del Grial como prova documental incontestável de que o Cálice de Dona Urraca seria o autêntico Cálice da Última Ceia, o verdadeiro Santo Graal.

Nesta seara, vale o ditado: "Devagar com o andor que o santo é de barro.” Com conclusões apressadas, a obra espanhola foi rechaçada por Turienzo e por estudiosos do

tema como uma peça mais fantasiosa que histórica. Para a pesquisadora Catalina Martin Llores, da Universidade Católica de Valência, a trajetória do Cálice da Última Ceia teria sido corretamente apontada na polêmica obra. A relíquia real teria sido trasladada para o Egito e de lá para a Espanha. Mas essa relíquia não se tratava do Cálice de Dona Urraca, e sim o de Valência, que teria chegado às mãos da Coroa de Aragão graças à petição do rei Jaime II, entre 1322 e 1327. Segundo a pesquisadora, a história do Cálice da Última Ceia herdado por São Pedro e enviado a Hispania por São Lourenço não passaria, portanto, de lenda dourada. E os relatos dos primeiros peregrinos poderiam ser descartados por patentes divergências entre si.

Volto ao colóquio com os professores na Universidade de Santiago de Compostela. Nos dias de hoje, teria respondido à indagação inicial com outra questão: “E se ambos os cálices tiverem passado pelas mãos de Cristo em sua última ceia com os apóstolos?” No último ano – pouco após minha pesquisa sobre a Coroa de Espinhos –, passei a me dedicar ao estudo dessa fascinante relíquia. Para tentar entendê-la, é preciso olhar com atenção para a tradição judaica da refeição pascal, o Seder de Pessach, que contemplava quatro cálices. Como Jesus afirmou, ele não veio revogar a Lei (cf. Mt, 5,17). Tampouco pretendia simplesmente participar da tradicional ceia pascal. Ele ofereceria, sim, algo novo em sua última refeição com os apóstolos. Em um dos Evangelhos, há indícios de que Jesus teria usado mais de um cálice na Última Ceia, bem como o significado de cada um deles…

Quando chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer; pois eu vos digo que já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus”.

Então tomando um cálice, deu graças e disse: “Tomai isto e reparti entre vós; pois eu vos digo que doravante não beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”. (Lc 22, 14-18)

E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles, dizendo: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”. E, depois de comer, fez o mesmo com o cálice, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós...” (Lc 22, 19-20)

Em São Lucas, dois cálices são mencionados. Essa passagem chegou a causar confusão em alguns tradutores e foi editada em versões da Bíblia4. Ao menos dois cálices passaram pelas mãos de Jesus com um significado que certamente o evangelista não ignorava. Há uma distinção clara entre o objeto usado na celebração do rito antigo da Páscoa judaica e um segundo, escolhido especialmente para selar a Nova Aliança.

Há algum tempo, como especialista em relíquias, meus olhos se acostumaram a buscar simbolismos ocultos em relíquias cristãs, simbolismos que revelam realidades elevadas e comprovam as verdades já consagradas da Fé. Um simbolismo oculto para nós – mas claro para o Protagonista – pode ser a chave para desvendar o grande mistério dos Cálices da Última Ceia. E iluminar a verdade por trás dessas relíquias. De que maneira os dois maiores pretendentes poderiam se encaixar no episódio bíblico?

Uma pista inicial foi trazida à luz na tese de María Mafé García. Para a doutora em história da arte, o volume do Cálice de Valência poderia servir como uma evidência de autenticidade. Era a medida usada pelos judeus. Mas haveria ainda outra evidência mais interessante do ponto de vista simbólico: o material. A pedra usada para a confecção do cálice teria sido catalogada na Antiguidade como sárdio, pedra que identificava a tribo de Judá (Casa de Davi), da qual Cristo provinha. Para muitos, isso bastaria para encerrar a discussão sobre o cálice verdadeiro. Para mim, ela aponta para algo mais amplo.

No século VI, o já mencionado peregrino anônimo de Piacenza registrou em detalhes sua viagem à Terra Santa. Na basílica de Constantino, ele esteve diante de um suposto cálice da Última Ceia. E nos ofereceu uma valiosa informação sobre a relíquia:

Há também a taça de ônix, a qual nosso Senhor abençoou na Última Ceia, e muitas outras relíquias.5

O cálice de ônix corresponderia ao Cálice de Dona Urraca. Possivelmente os autores de Los Reyes del Grial  tenham acertado ao descrever sua trajetória com base nas descobertas de Turienzo. Aquele cálice, venerado por um peregrino anônimo no século VI, teria sido trasladado para o Egito e de lá para a Espanha. Se a tese da Dra María Mafé García logrou defender a autenticidade do Cálice de Valência, evocando como uma das evidências a pedra ágata, poderíamos enxergar o cálice de ônix na Última Ceia com base no simbolismo da pedra?

No Êxodo, há informações detalhadas para a confecção das vestes sacerdotais. E há uma instrução específica para o Sumo Sacerdote carregar os nomes dos filhos de Israel diante do Senhor:

Tomarás duas pedras de ônix e gravarás nelas o nome dos filhos de Israel. Seis nomes em uma e os outros seis na outra, por ordem de nascimento (…) Porás as  duas pedras nas ombreiras do efod, como memorial para os filhos de Israel; e Aarão levará os seus nomes sobre os ombros à presença de Iahweh, para memória. (Ex 28,9;12)

Em pedras de ônix foram gravados os nomes dos filhos de Israel, que deram origem às doze tribos do Povo Escolhido por Deus, do povo com quem o Senhor firmou a primeira Aliança. Em São Lucas, a primeira parte da ceia segue o rito tradicional judaico, sem dúvida. O primeiro cálice do Seder de Pessach é baseado na promessa divina: “Eu sou Iahweh, e vos farei sair de debaixo da carga do Egito...” (Ex 6,6). Deus separou um povo, uma nação, para servi-Lo. Para esse momento do ritual, parece oportuno que Jesus tenha escolhido uma taça de ônix. Ele seria o Sumo Sacerdote que carregaria os nomes dos Filhos de Israel – originalmente gravados em pedra – à presença do Senhor. A escolha de uma taça de ônix serviu apenas para tornar mais grandioso o que ocorreria na segunda parte, a mais importante.

Após a divisão do pão, o evangelista nos apresenta um segundo cálice, o cálice da bênção ou da salvação – uma referência à promessa divina: “vos resgatarei com mão estendida” (Ex 6,6). A taça de ágata não foi uma escolha fortuita. Era um sinal evidente de que o Salvador já havia chegado de Judá e o seu sangue selaria a nova Aliança entre Deus e o Povo Eleito, uma aliança que se alargaria para abarcar toda a humanidade. O Sumo Sacerdote Jesus Cristo já não levaria os nomes “à presença de Iahweh, para memória”, mas instituiria a celebração eucarística que deveria ser feita em Sua memória para nos alçar todos ao Reino dos Céus!

No simbolismo dos dois cálices, a observação de Santo Agostinho se encaixa como uma luva: “O Novo (Testamento) está escondido no Antigo. E o Antigo é desvendado no Novo.” Nos dois cálices escolhidos para a última refeição, Deus nos mostra o caminho de nossa salvação. Não é possível assegurar que os cálices em Léon e Valência tenham estado na Última Ceia. Mas podemos enxergar ambos nas mãos de Jesus – um de ônix e outro de ágata. Ele teria escolhido, sim, aquelas peças – ou outras bastante similares – como uma história nas entrelinhas, uma história que confirma o mistério sublime de nossa redenção.

Fábio Tucci Farah é perito em relíquias sagradas da Arquidiocese de São Paulo, jornalista especializado em Arqueologia Sacra e curador adjunto da Regalis Lipsanotheca, em Ourém.

1 Ignacio Zafra. “A batalha do Santo Graal: dois cálices reivindicam ser o tesouro perdido de Cristo”. El País. Disponível em:  https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/19/internacional/1505806541_243723.html. Acesso em: 29 de fevereiro de 2023.
2 Beltrán, Antonio. Estudio sobre el Santo Cáliz de la Catedral de Valência. Valência, 1960.
3Essa versão da história do Cálice de Valência foi bem reconstruída por Janice Bennet na obra St. Laurence & The Holy Grail – The Story of The Holy Chalice of Valencia. (São Francisco: Ignatius Press, 2004).

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2012, p. 1971.
5 Anônimo. Of the Holy Places Visited by Antoninus Martyr. Tradução: Aubrey Stewart, Ma. Comentários: Col. Sir C. W. Wilson, R.E. Londres: Palestine Pilgrims’ Text Society (PPTS), 1887, p. 17. Disponível em: https://archive.org/details/cu31924028534232/mode/2up. Acesso em: 29 de fevereiro de 2023.

quinta-feira, 16 de março de 2023

Sessão solene faz homenagem à Campanha da Fraternidade 2023

Sessão solene na CLDF em homenagem à CF2023 | arqbrasilia

Sessão solene faz homenagem à Campanha da Fraternidade 2023

Na manhã desta quarta-feira, 15/03, a Câmara Legislativa homenageou a Campanha da Fraternidade 2023 em sessão solene no plenário. O pedido partiu do deputado distrital João Cardoso. Durante sua fala, Dom José Aparecido, Bispo Auxiliar de Brasília destacou a importância da campanha da fraternidade, e lembrou que a campanha coincide com o tempo quaresmal, e que devemos nos atentar ao tema proposto a campanha representa um chamamento para saciar a fome e a alma do próximo.

“O tema Fraternidade e Fome deve entrar pelos nossos ouvidos, permanecer em nosso coração e ser traduzido em ações concretas”, resumiu o padre Agenor Vieira, que coordenada a pastoral da arquidiocese de Brasília. Já o Vigário da Promoção Humana e Obras Sociais da Arquidiocese de Brasília, Frei Rogério Soares, destacou a participação da juventude na campanha, “Fiquei muito feliz em ver os jovens participando, me deu uma esperança muito grande de ver eles preocupados com esse tema, com essa temática, me reacendeu uma esperança muito grande…pois a geração de vocês pode fazer diferente da minha geração.”

O padre João Batista, assessor do setor Vida e Família, entende que “quando uma pessoa está privada de alimento, ela também está prejudicada em sua dignidade”, por isso o ato de dar o alimento está ligado à promoção da dignidade da pessoa humana. Ao final da sessão solene, foram entregues moções de louvor a personalidades que se destacaram em ações sociais no DF.

A CF 2023

Pela terceira vez a fome é tratada pela Igreja no Brasil, na Campanha da Fraternidade. A primeira foi em 1975, com o tema ‘Fraternidade é repartir’ e o lema Repartir o pão’, no clima do Ano Eucarístico que precedeu o Congresso Eucarístico Nacional de Manaus, que trazia o mesmo tema e lema e desejava intensificar a vivência da Eucaristia em nosso povo. A segunda foi em 1985, outro Ano Eucarístico, desta vez em preparação para o Congresso Eucarístico de Aparecida, com o lema ‘Pão para quem tem fome’.

*Com informações da CLDF e CNBB

Espanha tem menos de mil seminaristas pela primeira vez

Imagem referencial. - Crédito da foto: Cathopic/Moisés Becerra
Por Nicolás de Cárdenas/ACI Prensa

REDAÇÃO CENTRAL, 16 Mar. 23 / 10:43 am (ACI).-

Os seminários espanhóis estão cada vez mais vazios. Segundo dados oficiais da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), no ano letivo 2022-2023 o número total de aspirantes ao sacerdócio não chega a mil pela primeira vez na história.

Todo dia 19 de março, Solenidade de São José, a Igreja Católica celebra o Dia do Seminário. Por isso, a CEE oferece dados sobre seminaristas: 974 são candidatos ao presbitério diocesano.

Também as entradas caíram pela primeira vez abaixo de 200 (172) e as ordenações realizadas estão abaixo de cem (97).

A tendência de queda já dura anos. Havia cerca de 1,7 mil seminaristas no ano acadêmico de 2002-2003, quando mais de 350 entraram e quase 200 foram ordenados.

Já no ano acadêmico de 2016-2017, o número de aspirantes ao presbitério caiu pela primeira vez abaixo de 1,3 mil e no ano acadêmico de 2018-2019, 1,2 mil.

A Subcomissão Episcopal para os Seminários explica que a queda de 54 seminaristas em relação ao ano letivo 2021-2022 "se explica, entre outras coisas, pela nova metodologia na coleta de dados, que pela primeira vez foi nominal, e está a cargo do Gabinete de Transparência da Conferência Episcopal”.

Aponta também a necessidade de ter em conta «a secularização e o descompromisso de não poucos jovens, que se refletem também em outros dados estatísticos, como a diminuição do número de casamentos, tanto civis como eclesiásticos».

A estas causas deve-se acrescentar o problema demográfico de Espanha, onde nascem cada vez menos crianças.

Diante da gravidade dos dados, a CEE lançou em setembro de 2022 a Pastoral Vocacional, que se reporta ao Secretariado Geral e cujo objetivo é “criar em nossa Igreja que peregrina na Espanha uma cultura vocacional que ajude as crianças, jovens as pessoas e os adultos a considerar a sua vocação.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Como os Magos para escrutar os sinais dos tempos: o caminho da Igreja na Ásia

Representação dos três Magos em visita ao Menino Jesus (Vatican Media)

O Documento final, intitulado "Caminhar juntos como povo da Ásia" consiste de 40 páginas e compreende 5 partes, de acordo com cinco passos: caminhar juntos; olhar para as realidades emergentes da Ásia; discernir o que o Espírito está dizendo à Igreja na Ásia; oferecer nossos dons, que são a cultura e a espiritualidade asiáticas; abrir novos caminhos. Na elaboração do texto, "também aprendemos com o CELAM da América Latina", ressalta o arcebispo de Bombaim, na Índia, o cardeal Oswad Gracias.

Vatican News

O Documento final da Conferência Geral da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas (FABC) - realizada em Bangcoc de 12 a 30 de outubro de 2022 - publicado esta terça-feira, 14 de março, cita missionários como Alessandro Valignano, Roberto de Nobili, Matteo Ricci e João de Brito que seguiram uma abordagem peculiar à missão na Ásia.

Logo da Assenbleia das Igrejas da Ásia (Vatican Media)

"Caminhar juntos como povo da Ásia"

O Documento final, intitulado "Caminhar juntos como povo da Ásia" consiste de 40 páginas e compreende 5 partes, de acordo com cinco passos: caminhar juntos; olhar para as realidades emergentes da Ásia; discernir o que o Espírito está dizendo à Igreja na Ásia; oferecer nossos dons, que são a cultura e a espiritualidade asiáticas; abrir novos caminhos. O cardeal Oswad Gracias, arcebispo de Bombaim (atual Mumbai), ressaltou que, na elaboração do texto, "também aprendemos com o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM)".

Em pleno espírito sinodal, os Bispos da Ásia reafirmam que querem "caminhar juntos", compartilhando os três elementos essenciais de uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão.

Passar "do diálogo à sinodalidade

A segunda parte do texto dá uma visão geral das realidades emergentes da Ásia, relacionando-as em seguida com a missão da Igreja. As identificadas são: migrantes, refugiados e indígenas, muitas vezes deslocados de suas terras de origem; a família, o fundamento da sociedade; questões de gênero, presentes na sociedade; o papel da mulher nas sociedades asiáticas; os jovens; o impacto da tecnologia digital; a promoção de uma economia equitativa diante da urbanização e da globalização; a crise climática; o diálogo inter-religioso.

Lançando a luz do Evangelho nestas macroáreas, para serem sempre "construtoras de pontes, instrumentos de diálogo e reconciliação na Ásia", as Igrejas na Ásia propõem "novos caminhos" rumo a uma "evangelização mais inculturada", passando "do diálogo à sinodalidade", abrangendo povos e culturas não-cristãs.

Ser tudo para os povos da Ásia

A inspiração vem do caminho dos Magos que foram capazes de escrutar os sinais dos tempos, e da obra de Matteo Ricci que "quis encarnar a fé em um contexto e cultura especificamente asiáticos".

Os bispos asiáticos concluem e expressam seus desejos para o futuro - "ser tudo para os povos da Ásia" - citando as palavras de São Paulo: "Para os fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo. E isto tuto eu faço por causa do evangelho, para dele me tornar participante" (1 Cor 9,22-23).

(com Fides)

Santos Hilário e Taciano

SS. Hilário e Taciano | elpandelospobres
16 de março
Santos Hilário e Taciano, mártires de Aquileia

Documentos antigos testemunham o martírio do bispo Hilario e do diácono Tatian em 16 de março de 284. Suas relíquias, primeiro guardadas em Aquileia, foram transferidas para Grado por medo dos longobardos. Uma igreja, depois uma catedral, foi dedicada a eles na cidade de Gorizia, da qual são patronos.

Martirológio Romano: Em Aquileia, no território de Veneza (Itália), santos mártires Hilário, bispo, e Taciano, diácono ( † c.284).

Curta biografia

Hilário de Aquileia foi educado desde a infância no cristianismo. Renunciou ao comércio com o mundo para se dedicar ao estudo das Sagradas Escrituras. Ele foi ordenado diácono e mais tarde, por insistência de seus companheiros cristãos, foi consagrado bispo. Ele governou seu rebanho com sabedoria e prudência, foi ele quem ordenou um discípulo seu, chamado Taciano, como diácono para ajudá-lo em seu ministério.

César Numeriano emitiu um decreto que obrigava os cristãos a adorar ídolos. Beronio, prefeito da cidade, encarregou-se de sua execução. Por instigação de um certo Monofanto, sacerdote dos ídolos, Hilário e seu diácono Taciano foram os primeiros a comparecer perante o prefeito.

Eles foram informados de que deveriam obedecer às ordens do imperador:

“Desde a minha infância, disse Hilário a Beronio, aprendi a sacrificar ao Senhor, ao Deus Vivo, e adoro incessantemente a Jesus Cristo, seu Filho. Mas aos demônios vaidosos e ridículos que vocês chamam de deuses e não são, não ofereço nenhum sacrifício.

Beronio tentou em vão subjugá-lo com ameaças; não surtiram efeito. Sem sucesso, ele conduziu Hilário diante da estátua de Hércules em seu suntuoso templo. O bispo não tinha nada além de desprezo e desdém por aqueles deuses feitos pelas mãos dos homens e que não podiam falar nem andar.

Então, Beronio o fez despir-se e açoitá-lo com varas. Em seguida, ele o estendeu sobre o cavalete e seus lados foram rasgados com ganchos até que as entranhas aparecessem. Hilário não parava de cantar hinos ao Senhor em meio à tortura. Beronio ordenou que as torturas fossem multiplicadas e variadas. Mais tarde, ele o trancou em uma prisão para aplicar ainda mais tormento.

No dia seguinte, denunciaram Taciano, diácono do bispo Hilário, ao prefeito. Taciano teve que comparecer perante Beronio, mas todas as tentativas de fazê-lo sacrificar aos deuses foram igualmente infrutíferas. Os mesmos tormentos aplicados a Hilário, foram renovados em sua pessoa.

Ao encontrar Hilário na prisão, saudou-o com alegria e os dois oraram juntos para que o Senhor confundisse os que adoravam ídolos. Uma terrível tempestade irrompeu na cidade e aterrorizou os pagãos de Aquileia. Muitos morreram com o mero choque.

O templo de Hércules desabou no chão. Beronio deu ordem para decapitar Hilário e Taciano, a pedido dos sacerdotes dos ídolos. Outros cristãos que também haviam sido presos em nome de Cristo foram imolados com eles.

Todos morreram em 16 de março. No dia seguinte, o clero e os fiéis obtiveram autorização para recolher seus corpos e sepultá-los com honras fora dos muros da cidade.

Alban Butler (†)

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF