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quarta-feira, 15 de março de 2023

Exemplos de fé: São Pedro

Exemplo de fé: São Pedro | Opus Dei

Exemplos de fé: São Pedro e o caminho da fé

Continua a série de editoriais sobre a virtude da fé. O apóstolo São Pedro é um exemplo de discípulo de Cristo que pede, tem dúvidas, combate e alcança a fé.

Em um dos capítulos anteriores considerávamos como a vida de Santa Maria é modelo de fé para todo cristão, pois sua existência esteve sempre orientada para Deus e realizar a Sua Vontade. Além disso, “conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. At 1, 14; 2, 1-4). Animados pelo exemplo e a proximidade da Virgem Maria, os apóstolos souberam dar um valente e frutuoso testemunho de fé, propagando o Evangelho pelo mundo inteiro.”

“No entanto, antes desse momento, os apóstolos tiveram que percorrer um longo caminho e amadurecer em sua fé. Enquanto acompanharam o Senhor pela terra, sua generosidade – tinham deixado tudo para seguir Jesus – era compatível com uma fé vacilante ou, às vezes, excessivamente humana, como o próprio Senhor os repreendeu em algumas ocasiões[1]. Ponhamos agora nosso olhar nos apóstolos, especialmente em São Pedro, cabeça do colégio apostólico, para acompanhá-lo em seu caminho até a maturidade da fé. Será uma nova oportunidade para acolher o convite eterno a “uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo”[2].

O caminho da fé

Lemos, no Evangelho, que, depois da multiplicação dos pães, o Senhor manda os apóstolos irem “adiante dele para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões”[3]. Os apóstolos, então, sobem a uma barca e começam a atravessar o mar de Tiberíades, deixando o Senhor para trás, que fica orando. A narração evangélica enfatiza essa separação que se produz entre Jesus e os discípulos: “entretanto, já a boa distância da margem, a barca era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário”[4].

Não é difícil imaginar a confusão de sentimentos que devia reinar no coração dos apóstolos. Acabavam de presenciar um grande prodígio: dar de comer a mais de cinco mil pessoas com apenas cinco pães e dois peixes. E o milagre se realizara em suas próprias mãos, enquanto distribuíam a pouca comida que tinham: bastara obedecer a Jesus. Mas a alegria e euforia diante daquele evento se desvaneceram. Agora, poucas horas depois, os apóstolos se encontram sem Jesus e brigando contra uma tempestade.

Jesus está, aparentemente, longe. São João Crisóstomo comenta esta passagem afirmando que, deixando-os ir adiante, sozinhos, Jesus queria despertar “em seus discípulos um desejo maior e uma contínua lembrança Dele mesmo”[5]. Fazê-los entender que a distância física é só uma distância aparente, porque Ele quer – e pode! – estar sempre próximo de seus discípulos. E por isso, “pela quarta vigília da noite, Jesus veio a eles, caminhando sobre o mar”[6]. Como isso era possível? Quem podia caminhar sobre o mar senão o que é criador do universo? Aquele de quem antigamente anunciara o Espírito Santo por meio do bem-aventurado Jó: “Ele só estendeu a terra e caminha pelas ondas dos mares”[7]. Os da barca se assustam, e começam a gritar “– É um fantasma!”[8]: não esperam a aparição: ainda não sabem que Ele quer e pode estar junto deles, estejam onde estiverem. Jesus então os acalma: “– Tranquilizai-vos, sou eu. Não tenhais medo!”[9].

É nesse momento que se manifesta o caráter de Pedro. Ao escutar essas palavras, pede para fazer algo que é impossível de modo natural: “– Senhor, se és tu, manda-me ir sobre as águas até junto de ti!”[10].O pedido contrasta com o pânico que tinha se desencadeado pouco antes na barca, e mostra o amor e a fé do príncipe dos apóstolos. Quer ir para junto do Senhor o quanto antes. Jesus, apoiando-se neste desejo, chama-o: “–Vem”[11]. Isso é o que Deus precisa de nós: um coração pronto, desejoso. Ainda que seja fraco. Como acontece com todas as coisas maravilhosas que Deus faz a favor dos homens, necessita o nosso pouco, como ocorreu com os pães e os peixes.

A negação de São Pedro (Caravaggio, 1610)

O apóstolo quer chegar ao Senhor o quanto antes, sentir-se seguro com Ele, porém não sabe muito bem o que pede. Seu amor o leva a lançar-se às águas, e começa a caminhar: porém logo deixa que o temor se apodere do seu coração, e começa a afundar[12]. A que se deve essa mudança de atitude? Por que assustar-se quando vê que Jesus cumpriu a sua palavra, que está andando sobre o mar? O Evangelho nos diz que o medo surgiu “ao ver que o vento era muito forte”[13], o suficiente para duvidar de que pudesse manter-se em pé sobre o mar agitado. Pedro teme cair e afogar-se, um temor que pode parecer absurdo visto que, de fato, está fazendo algo impossível. É como se Pedro perdesse de vista que o milagre só é possível porque Jesus o chamou, que é Ele quem o sustenta e lhe permite andar sobre as águas. Necessita outras seguranças, também a de que será capaz de resistir, de que a sua força natural é suficiente para resistir ao vento. E quando toma consciência de que essa confiança é infundada, deixa de crer na palavra de Jesus e começa a afundar.

Na vida do cristão, uma parte importante do caminho para a maturidade da fé está em aprender a confiar somente nas palavras de Jesus, sem deixar-nos empequenecer pela consciência das próprias limitações: “Viste? Com Ele, pudeste! De que te admiras? – Convence-te: não tens por que maravilhar-te. Confiando em Deus – confiando deveras! –, as coisas tornam-se fáceis. E, além disso, ultrapassa-se sempre o limite do imaginado”[14].

No entanto, apesar das suas dúvidas, Pedro nos dá uma lição: a sua fé e a sua confiança podem estar entorpecidas pelo temor às circunstâncias, porém faz um último esforço para lançar-se nos braços de Jesus: “– Senhor, salva-me!”[15]. E Jesus responde imediatamente, o levanta, leva-o à barca[16], “faz a calma voltar sobre o mar. E todos ficam cheios de temor”[17]. É o temor que se sente frente às maravilhas de Deus; o alegre temor que supõe experimentar a ação da graça e do Espírito Santo. Portanto, como nos ensina o Papa, diante do pecado, a nostalgia e o medo, é necessário “olhar para o Senhor, contemplar o Senhor: somos fracos mas devemos ser valentes na nossa debilidade”[18], porque o Senhor sempre nos espera. “Basta um sorriso, uma palavra, um gesto, um pouco de amor para derramar copiosamente a sua graça sobre a alma do amigo”[19]. Ao experimentar nossa debilidade dirijamo-nos ao Senhor: “Estende do alto a tua mão, liberta-me e salva-me das águas caudalosas”[20].

Sem desanimarmos

Pedro recebeu uma lição. Duvidou, e ao mesmo tempo descobriu que o seu amor e sua fé não são tão fortes como pensava. Só com estas lições, o apóstolo poderá conhecer-se melhor e perceber que o seu amor é imperfeito, que ainda pensa demais em si mesmo: “Os primeiros Apóstolos estavam junto à barca velha e junto às redes furadas, remendando-as. O Senhor disse-lhes que O seguissem; e eles, "statim" – imediatamente –, "relictis omnibus" – abandonando todas as coisas, tudo! –, O seguiram... E acontece algumas vezes que nós – que desejamos imitá-los – não acabamos de abandonar tudo, e fica-nos um apego no coração, um erro em nossa vida, que não queremos cortar para oferecê-lo ao Senhor”[21].

“Quem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?”[22]. Apesar das patentes limitações dos homens, Cristo estimula, com a sua presença, com as suas palavras e com as suas ações, o amor e a fé daqueles que depois enviaria por todo o mundo. Em Cesaréia de Filipe, Pedro confessa claramente que Jesus é o Messias prometido e que ele é o Filho de Deus: “tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”[23]. Todavia convém considerar que, “quando confessou sua fé em Jesus, não o fez por suas capacidades humanas, mas porque tinha sido conquistado pela graça que Jesus irradiava, pelo amor que sentia em suas palavras e via em seus gestos: Jesus era o amor de Deus em pessoa!”[24].

Sem dúvida, a confissão de Pedro não significa que a sua fé já fosse perfeita. De fato, pouco depois, vemos Pedro querendo afastar Jesus da Paixão[25], e recebendo, por isso, a recriminação do Mestre. A vida de fé sempre pode crescer. Pedro seguirá lutando contra o medo, contra uma visão excessivamente humana da sua missão, contra certa ignorância do valor da cruz e do sofrimento. Até perguntará sobre uma possível recompensa para aqueles que, como ele, deixaram tudo para seguir ao Senhor[26], se assustará no Tabor e, inclusive, negará o Senhor[27]. Em todos esses casos, o Príncipe dos Apóstolos saberá voltar para Jesus. Aceitará suas repreensões, buscará o seu olhar, confiará na sua misericórdia. A fé é um caminho de humildade, que implica “confiar-se a um amor misericordioso, que sempre acolhe e perdoa, que sustenta e orienta a existência, que se manifesta poderoso em sua capacidade de endireitar o torcido da nossa história”[28]. A fé é conhecimento verdadeiro, luz, que também nos torna conscientes da própria pequenez, e destrói as falsas concepções e os autoenganos. A fé nos torna humildes e simples: prepara esta matéria prima de que Deus precisa para fazer-nos santos, para que o ajudemos a transformar o mundo. E assim, “Pedro tem que aprender que é débil e precisa do perdão. Quando finalmente cai em si e entende a verdade de seu coração fraco de pecador que crê, desata em um choro de arrependimento libertador. Depois desse pranto já está pronto para a missão”[29].

Praça São Pedro | Opus Dei

Comprovar a nossa debilidade pessoal e perceber que nossa fé não é tão forte como gostaríamos não deve nos preocupar. O Senhor quer todo o nosso coração, e não lhe importa que seja fraco. Deus se conforma com que lhe demos tudo o que podemos dar. De algum modo, poderíamos pensar que é precisamente esta a última lição que Jesus ensina a Pedro. Depois da ressurreição o Senhor sai ao encontro dos apóstolos junto ao mar de Tiberíades. E ali pergunta a Pedro três vezes: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?”[30]. As perguntas relembrariam ao apóstolo a sua tripla negação, e se entristeceria diante da insistência de Jesus, como se não confiasse mais nele. Porém ao final entende: a Jesus basta o amor que Pedro é capaz de dar-lhe. Um amor talvez imperfeito – mesmo que deva ser muito mais do que possamos imaginar, pela grandeza de coração e de mente do pescador da Galiléia –, mas Deus se adapta, por assim dizer, à capacidade que cada um tem de amar, e isso é o que nos faz capazes de seguir a Cristo até o fim.

“Desde aquele dia, Pedro ‘seguiu’ ao Mestre com a consciência clara de sua própria fragilidade; porém essa consciência não o desanimou, pois sabia que podia contar com a presença do Ressuscitado ao seu lado. Do entusiasmo ingênuo da adesão inicial, passando pela experiência dolorosa da negação e o pranto da conversão, Pedro chegou a confiar nesse Jesus que se adaptou à sua pobre capacidade de amar. E assim também nos mostra o caminho, apesar de toda a nossa debilidade. Nós o seguimos com a nossa pobre capacidade de amar e sabemos que Ele é bom e nos aceita. Pedro teve que percorrer um longo caminho até converter-se em testemunha confiável, em “pedra” da Igreja, por estar constantemente aberto à ação do Espírito de Jesus”[31]. Recorramos todo dia a São Pedro, com mais fé e admiração, para que interceda por nós; Sancte Petre, ora pro nobis!

J. Yániz


[1] Cfr. Mt 6, 30; 8, 26; 16, 8; 17, 20; Lc 12, 28.

[2] Bento XVI, Motu próprio Porta fidei, 11-X-2011, n. 6.

[3] Mt 14, 22-23.

[4] Mt 14, 24.

[5] São João Crisóstomo, In Matthaeum homiliae, 50, 1.

[6] Mt 14, 25.

[7] Cromácio de Aquileia, In Matthaei Evangelium tractatus, 52, 2.

[8] Mt 14, 26

[9] Mt 24, 27.

[10] Mt 14, 28

[11] Mt 14, 29.

[12] Cfr. Mt 14, 30.

[13] Mt 14, 30

[14] São Josemaria, Sulco, n. 462.

[15] Mt 14, 30.

[16] Cfr. Mt 14, 31-32.

[17] Francisco, Homilia, 2-VII-2013.

[18] Francisco, Homilia, 2-VII-2013.

[19] São Josemaria, Vía Sacra, V estação.

[20] Sal 144 [143], 7.

[21] São Josemaria, Forja, n. 356.

[22] Mt 8, 27.

[23] Mt 16, 16.

[24] Francisco, Ângelus, 29-VI-2013.

[25] Cfr. Mt 16, 22.

[26] Cfr. Mt 19, 27.

[27] Cfr. Mt 26, 33-35.

[28] Francisco, Carta enc. Lumen fidei, 29-VI-2013, n. 13.

[29] Bento XVI, Audiência geral, 24-V-2006.

[30] Jo 21, 15.

[31] Bento XVI, Audiência geral, 24-V-2006.

Remédio para o suicídio de sacerdotes

Oração pela Santificação dos Sacerdotes | diocesedetaubate

REMÉDIO PARA O SUICÍDIO DE SACERDOTES

Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Teófilo Otoni (MG) 

Todas as vezes que um padre se auto extermina muitos comentários são feitos. Quase sempre se procura um culpado. O encontro de um culpado parece que conforta e se parece com a atitude de Pilatos de lavar as mãos e não se comprometer. Quem é o culpado? O Bispo? Os superiores? O presbitério? O Sacerdote? A família? A Igreja? O sistema?  Os questionamentos seguem quase sempre sem respostas geradoras de vida. Os fatos vão se repetindo. 

Raramente se fala de um modo de viver que leva à morte ou à vida.  É preciso ao longo da vida encontrar o jeito de viver que esteja em sintonia com a alegria vocacional. Um modo de viver que faz o coração arder e os pés se colocarem a caminho (cf. Lc 24,32-33). Esse modo de viver não se constrói de uma hora para outra.  

Um modo de viver que não esteja em sintonia com o Projeto vocacional gera crises, culpabilizações, reclamações e arrefecimento do ardor do coração. Tudo parece estar errado e isso não gera vínculo dos vinhateiros com a vinha e principalmente com seu proprietário. Muitas vezes prepara-se para proteger dos perigos externos, mas esquece-se dos inimigos internos. Fervilham-se no interior muitos males, pois é de dentro do coração que eles vem (cf. Mt 15,19). 

Recentemente o Papa Francisco, falando aos Bispos do Regional Leste 2 da CNBB na Visita Ad Limina, disse que não é possível formar presbíteros da mesma forma que se formava há 30 anos. Não é possível formar bem, se não permitir aos seminaristas   mostrarem  seus corações fragilizados, suas marcas da história e suas inseguranças. Como limpar o interior se não se pode abrir, por medo de punição, ou temor das portas se fecharem? O mesmo vale para os sacerdotes, os quais escondem suas dificuldades por medo de punição, ou rejeição. John Powell em seu livro “Por Que Tenho Medo de Lhe Dizer Quem Sou?” diz que, ao revelar a alguém o seu interior, o ouvinte pode não gostar e rejeitar a pessoa. A rejeição é sempre um sentimento que impede crescimento. É necessário um processo que gere confiança. 

Atrás de um sacerdote ou de um agente religioso está um ser humano com todas as vicissitudes, mazelas e virtudes da “natureza” humana. O modo de estar no mundo depende dos condicionamentos e das estruturas originárias em que cada um edificou a sua forma de existir para si mesmo e para os outros. Ainda que a graça de Deus atue na fragilidade de uma pessoa, a ação de Deus vai sempre supor o conjunto estrutural humano que carrega este dom. E quando há um processo de adoecimento estrutural humano-psíquico-afetivo-social e ético, o arcabouço religioso não se sustenta (“a graça supõe a natureza”) e fica comprometida a liberdade verdadeira no seguimento ao projeto de Cristo na aposta vocacional. Não se trata, portanto de ausência de Deus, ou distanciamento dele. 

Um modo de viver sacerdotal sem vínculo com o presbitério, sem comunhão, sem cuidado da saúde física, emocional, relacional e espiritual conduz para a morte. E isto tem se tornado o grande desafio para a nossa missão de Bispos Pastores enquanto cuidadores do rebanho, desde a formação inicial até a permanente. Gerar confiança e ajudar a curar os corações é um caminho que não se pode dar por descontado. Necessário também é evitar aquilo que precisa ser escondido. 

Kant (citado pelo filósofo brasileiro Mário Cortella em uma de suas palestras em seu canal no Youtube, 20/02/2020), refletindo sobre ética e integridade, não querendo abolir a privacidade interior de ninguém, disse que tudo o que não se puder contar aos outros não se deve fazer. Porque daí começa ambiguidade da vida dupla (aquela com a qual eu me apresento a todos e aquela oposta e contraditória que só eu sei que vivo). Nosso eu, quando escondido, adoece fugindo do real. As satisfações criadas pelo imaginário distanciam-se da realidade, colocam a pessoa no mundo irreal e vão matando aos poucos.  

Por um lado, ilumina-se o papel da Formação Sacerdotal e Religiosa como lugar da percepção dos indícios do adoecimento da pessoa, cujas manifestações já se anunciam nos jogos e artimanhas psicológicas de defesa e escondimento. A Formação precisa assumir, em parceria com os profissionais da área e outras instituições da saúde mental, a tarefa curadora de ressignificação das experiências existenciais, possíveis causas das depressões escondidas, pois, se jogadas para debaixo do tapete, está aberto o caminho para que, uma vez fora das paredes protetoras da Instituição, o futuro sacerdote ou religioso se perca sozinho no embate com o mundo real que é cruel e acaba por expor as fragilidades de um indivíduo. 

Por outro lado, no cuidado da saúde relacional é preciso criar relações que edificam. Nunca se deve iniciar um relacionamento que não pode ser revelado aos outros. Relações mal direcionadas podem matar, sejam elas com pessoas, com as coisas, com os bens materiais, com o poder, com as ilusões imaginárias e até consigo mesmo.  

Um sacerdote não terá boa saúde vocacional se deixar-se ser atraído por situações de pessoas maldosas que usam as redes sociais ou outros meios para viciar, extorquir, difamar e desconstruir um projeto vocacional que foi construído ao longo de muitos anos. Esses predadores estão especialmente escondidos nas redes sociais escolhendo vítimas e esperando a hora certa para as atacar. Muitas vezes quando se percebe já se caiu na armadilha. Nestas situações a impossibilidade de pagar o exigido, a dor e a vergonha aparecem  e aumenta o  risco de querer se esconder ainda mais, até mesmo  eliminando a vida.  

O problema do suicídio vem de longa data. O suicídio é a culminância de um processo de adoecimento que vai tornando a vida um peso intransponível para a pessoa que lida com suas dificuldades, esmagada pela impossibilidade de sair do sofrimento. Não é uma escolha racional livre e descontaminada. É a única forma viável dentro da lógica de um coração adoecido para abortar o sofrimento e, quem sabe, ser feliz, ainda que depois da morte.   

Talvez não consigamos resolver o problema do suicídio de uma vez para sempre como gostaríamos, mas é preciso melhorar a baixa imunidade especialmente dos líderes espirituais e o remédio para essa melhoria é criar relações sadias consigo mesmo, com o presbitério, com a família, com as pessoas, com a Igreja e com Deus, através de um bom enfrentamento das próprias limitações e ilusionismos de falsas seguranças ainda no período da formação, o que deveria ser o papel da dimensão humano-afetiva da formação presbiteral e religiosa. Além do mais é preciso sair da mesquinhez que aprisiona e não deixa o sacerdócio crescer. Nossas pragas diárias, como as do Egito, são um grito para que deixemos nosso sacerdócio ir para servirmos ao Senhor. Moisés falava ao Faraó para deixar o povo ir. É preciso libertar-se das escravidões e deixar o sacerdócio ir, pois o caminho é longo. É preciso tomar consciência que se está escravo. Escravidão tem cura.  Assim, livres e radiantes, será sempre prazeroso viver a vocação até mesmo no sofrimento por causa do Evangelho. Os riscos e problemas continuarão a existir, mas haverá um sentido para a vida que conduzirá para o crescimento.  Todos serão beneficiados com essa luz que se acenderá. 

A leveza da Cruz é encontrada no amor. Cristo encontrou a leveza de seu sofrimento confiando no Pai e na alegria da redenção. Ver a humanidade toda redimida lhe trouxe grande alegria. Podemos dizer que Ele viveu a alegria da Cruz. Encarnação e Redenção são mistérios que nos permitem equilibrar e desequilibrar entre passado e futuro. Dar passos é sempre correr o risco de se equilibrar e se desequilibrar. É seguir com os corações ardendo no presente enquanto se faz e ama o caminho que leva para o amanhã, mesmo que seja um caminho com muitas surpresas e obstáculos.

Uma Igreja que reverbera a misericórdia recebida

Francisco o Papa da misericórdia (Vatican News)

As mensagens fundamentais do pontificado de Francisco.

ANDREA TORNIELLI

Uma Igreja que sai e "toma a iniciativa" porque experimentou por primeiro a iniciativa do Senhor e foi "precedida no amor". Dez anos após a eleição de Jorge Mario Bergoglio, em 13 de março de 2013, vale a pena voltar ao essencial. Vale lembrar o que o próprio Francisco continua a propor e a testemunhar: o rosto de uma Igreja que, como lemos na Evangelii gaudium, "sabe dar o primeiro passo, sabe tomar a iniciativa sem medo, sair ao encontro, buscar os distantes e chegar ao cruzamento das ruas para convidar os excluídos. Vive um desejo inesgotável de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a infinita misericórdia do Pai e sua força propagadora".

O que Francisco propõe é o rosto de comunidades cristãs livres do flagelo da autorreferencialidade, conscientes de que só são verdadeiramente missionárias quando refletem a luz de seu Senhor, sem nunca se considerarem fonte de luz. Comunidades que não recorrem a técnicas de marketing e proselitismo e estão livres do pessimismo nostálgico daqueles que se lamentam de um "cristianismo" que já não existe. Comunidades de "pecadores perdoados" - para recordar a definição que o bispo de Roma dá de si mesmo - que, continuando a experimentar a infinita misericórdia de Deus, a reverberam sobre os outros.

É precisamente a "misericórdia" a palavra que melhor resume o magistério do Papa argentino ao entrar no terceiro quinquênio de seu pontificado. Misericórdia como mensagem chave de Jesus no Evangelho, como a consciência de ser continuamente amado e elevado depois de cada queda. Misericórdia como a chave para a missão desta nossa mudança de época. "A comunidade evangelizadora", lê-se ainda na Evangelii gaudium, "se coloca através de obras e gestos na vida cotidiana dos outros, encurta distâncias, inclina-se ao ponto da humilhação se necessário, e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo". É uma comunidade disposta a acolher, escutar, acompanhar, ou seja, "envolver-se", como Jesus fez com seus discípulos, de joelhos, lavando seus pés. Uma comunidade paciente, que não precisa de inimigos para encontrar sua própria consistência, mas "cuida do trigo" sem perder sua paz "por causa da cizânia".

Francisco deu testemunho desta mensagem em seus primeiros dez anos de serviço, encarnando as palavras que ele mesmo pronunciou ainda cardeal, em seu breve discurso às congregações gerais antes do conclave: "Pensando no próximo Papa, há necessidade de um homem que, a partir da contemplação e adoração de Jesus Cristo, ajude a Igreja a sair de si mesma rumo à periferia existencial da humanidade, de modo a ser mãe fecunda da doce e confortante alegria de evangelizar".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O santo que adorava bater na porta do sacrário

© Luis Andrade | Shutterstock
15 de março
São Clemente Hofbauer

Ele também viveu os horrores da guerra, foi um bom pregador e criou uma grande obra missionária.

São Clemente Hofbauer , cujo nome de batismo era Johannes (João) Hofbauer, nasceu em 26 de dezembro de 1751, em Tasswitz, República Tcheca. O pai dele morreu quando Clemente tinha só seis anos de idade. Sua mãe, então, segurou um crucifixo diante dele e disse-lhe: “De agora em diante, Ele é seu pai. Cuide para que você nunca o aflija pelo pecado”. Clemente levou essas palavras em seu coração para o resto da vida.

KLEMENS MARIA HOFBAUER
joergens.mi/Wikipedia | CC BY-SA 4.0

Como era muito pobre, não tinha condições de fazer os estudos eclesiásticos. Quando trabalhava em uma famosa padaria de Viena, conheceu duas senhoras, que se ofereceram para pagar pelos seus estudos.

Devoção ao Rosário e ao Santíssimo

Clemente foi um grande devoto de Nossa Senhora. Quando criança, rezava o Rosário todos os dias com sua família. Depois, ficou conhecido como o “padre que benzia terços”. Em um mosteiro, recebeu o nome de Clemente Maria, seguindo sua devoção à Mãe de Jesus.

Clemente também ficou conhecido por sempre visitar o sacrário e bater na porta dele para dizer a Jesus que ele estava ali. Rompeu, assim, as barreiras de qualquer espiritualidade baseada no medo ou na escravidão.

Pregações e Missão

São Clemente também foi um grande pregador. Ele falava de um jeito que as pessoas pudessem reconhecer os seus pecados, experimentar a bondade de Deus e viver conforme a vontade divina. No confessionário, ouvia os pecados dos penitentes, dizia-lhes palavras de encorajamento e pedia perdão a Deus por eles.

Na Polônia, criou a igreja de São Beno, e realizou um grande trabalho de missões. A igreja tinha uma intensa programação de pregações, instruções, confissões e devoções todos os dias. Isso atraiu multidões, que mal cabiam dentro da igreja. Ele fundou também um orfanato para meninos e meninas. A atividade começou em 1787 e continuou até 1808, quando Napoleão Bonaparte fechou a igreja e dispersou a comunidade.

Os Redentoristas foram expulsos de Varsóvia na Polônia, numa época de grande restrição à religiosidade. São Clemente vivenciou o período posterior à Revolução Francesa e, com a expansão liderada por Napoleão Bonaparte, todos os Redentoristas tiveram que ir para o exílio, em 1808. A igreja de São Beno foi fechada e os quarenta redentoristas que lá moravam foram presos por um mês, até ser dada a ordem para cada qual voltar para seu país.

Em Viena, depois de trabalhar com os soldados feridos pela guerra de Napoleão, Clemente trabalhou em uma paróquia para italianos e depois foi capelão das Irmãs Ursulinas. Nesses anos, atraiu a atenção de muitos intelectuais e estudantes, além de pessoas ricas e artistas. Também ali chegou a ser proibido de pregar e foi ameaçado de expulsão. No entanto, o Papa Pio VII soube de seu zelo apostólico e, no lugar de um decreto de expulsão, por uma questão política, emitiu um decreto de fundação da primeira comunidade redentorista na Áustria. Isso ocorreu às vésperas de sua morte. São Clemente morreu com seu sonho sendo realizado

Com informações de A12.com

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: o cristão é um apóstolo humilde, não vaidoso

Papa Francisco | Vatican News

Na Audiência Geral, Francisco continuou sua catequese sobre a paixão de evangelizar e esclareceu o que significa ser apóstolo hoje: sacerdotes, pessoas consagradas e leigos têm tarefas diferentes, mas um chamado comum à missão, mesmo aqueles que ocupam os cargos mais altos no Igreja é chamada para servir.

https://youtu.be/hFpPCiFmkO0

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco prosseguiu com a catequese sobre a paixão de evangelizar, na Audiência Geral desta quarta-feira (15/03), realizada na Praça São Pedro.

Na escola do Concílio Vaticano II, buscamos entender melhor o que significa “ser apóstolos” hoje em dia. Ser apóstolo significa ser "enviado para uma missão". Assim, o Cristo Ressuscitado envia os seus apóstolos ao mundo, "transmitindo-lhes a força que Ele mesmo recebeu do Pai e dando-lhes o seu Espírito".

A seguir, o Papa falou sobre outro aspecto fundamental do “ser apóstolo”: a vocação, ou seja, o chamado. Foi assim desde o início: “Jesus chamou os que ele quis e eles foram até ele”. "Constituiu-os como um grupo, dando-lhes o título de "apóstolos", para estarem com Ele e enviá-los em missão", sublinhou Francisco. O mesmo aconteceu com São Paulo, “chamado a ser apóstolo”.

A vocação cristã é também vocação ao apostolado

A experiência dos Doze apóstolos e o testemunho de Paulo nos interpelam também hoje. Convidam-nos a verificar as nossas atitudes, a verificar as nossas escolhas, as nossas decisões, com base nestes pontos fixos: tudo depende de um chamado gratuito de Deus; Deus também nos escolhe para serviços que às vezes parecem sobrecarregar nossas capacidades ou não corresponder às nossas expectativas. O chamado recebido como um dom gratuito deve ser respondido gratuitamente.

O Concílio ensina que “a vocação cristã é também, por sua própria natureza, vocação ao apostolado”. Trata-se de um chamado comum aos que receberam o Sacramento da Ordem, às pessoas consagradas, e a cada fiel leigo, homem ou mulher, "é um chamado a todos. O tesouro que você recebeu como vocação cristã, você deve doá-lo. É a dinamicidade da vocação, é a dinamicidade da vida", frisou o Papa. "É um chamado que nos permite desempenhar a nossa tarefa apostólica de maneira ativa e criativa, dentro da Igreja em que «há diversidade de ministério, mas unidade de missão».

A vocação cristã não é uma promoção para subir

No âmbito da unidade da missão, a diversidade de carismas e ministérios não deve dar lugar, no seio do corpo eclesial, a categorias privilegiadas. Não há promoção aqui, e quando você concebe a vida cristã como uma promoção, que o de cima comanda os outros porque conseguiu subir, isso não é cristianismo. Isso é puro paganismo. A vocação cristã não é uma promoção para subir, não! Isso é outra coisa.

Existe algo maior, porque, embora «por vontade de Cristo, alguns sejam constituídos doutores, dispensadores dos mistérios e pastores a favor dos demais, reina, porém, a igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em benefício da edificação do corpo de Cristo». "Quem tem mais dignidade na Igreja: o bispo, o sacerdote? Não... Somos todos cristãos a serviço dos outros. Quem é mais importante na Igreja: a religiosa ou a pessoa comum, batizada, não batizada, a criança, o bispo...?

A vocação que Jesus dá é a do serviço

Todos são iguais, somos iguais e quando uma das partes se considera mais importante das outras e levanta um pouco o nariz, então, está errada. Essa não é a vocação de Jesus. A vocação que Jesus dá, a todos, mas também a quantos parecem estar em lugares mais elevados, é a do serviço, o serviço aos outros, a humilhação. Se você encontrar uma pessoa que tem uma vocação mais elevada na Igreja, mas é vaidosa, então você vai dizer: 'Coitada'! Reze por ela porque não compreendeu qual é a vocação de Deus. A vocação de Deus é a adoração do Pai, o amor à comunidade e o serviço. Isso é ser apóstolos, este é o testemunho dos apóstolos.

"Queridos irmãos e irmãs, essas palavras podem nos ajudar a verificar o modo em que vivemos a nossa vocação batismal, como vivemos a nossa maneira de ser apóstolos numa Igreja apostólica que está a serviço dos outros", concluiu Francisco.

terça-feira, 14 de março de 2023

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (16/16)

O cristianismo e as religiões | Lausanne Movement

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

IV. CONCLUSÃO:
 DIÁLOGO E MISSÃO DA IGREJA

114. Neste fim do segundo milênio, a Igreja está chamada a dar testemunho de Cristo crucificado e ressuscitado "até as extremidades da terra" (At 1,8), em amplos mundos culturais e religiosos. O diálogo religioso é conatural à vocação cristã. Inscreve--se no dinamismo da Tradição vivente do mistério da salvação, cujo sacramento universal é a Igreja; é um ato dessa Tradição.

115. Como diálogo da Igreja, tem sua fonte, modelo e fim na Trindade Santa. Manifesta e atualiza a missão do Logos eterno e do Espírito Santo na economia da salvação. Por seu Verbo o Pai chama todos os seres humanos do nada à existência, e é seu Sopro que lhes dá a vida. Por seu Filho, que assume nossa carne e é ungido por seu Espírito, dirige-se a eles como a seus amigos, "fala com eles na terra" e lhes revela "todo o caminho do conhecimento" (cf. Br 3,36-38). Seu Espírito vivificante torna a Igreja Corpo de Cristo, enviada às nações para anunciar-lhes a Boa Notícia da ressurreição.

116. O Verbo pode nos dar a conhecer ao Pai porque aprendeu tudo dele e consentiu em aprender tudo do homem. Assim, deve se dar na Igreja para aqueles que querem encontrar seus irmãos e irmãs de outras religiões e dialogar com eles. Não são os cristãos os enviados, mas a Igreja; não são suas idéias o que apresentam, mas a Cristo; não será sua retórica que tocará os corações, mas o Espírito Paráclito. Para ser fiel ao "sentido da Igreja", o diálogo inter-religioso pede a humildade de Cristo e a transparência do Espírito Santo.

117. A pedagogia divina do diálogo não consiste apenas em palavras, mas também em fatos; as palavras manifestam a "novidade cristã", a do amor do Pai, de que os fatos dão testemunho. Agindo assim, a Igreja se mostra como sacramento do mistério da salvação. Nesse sentido, o diálogo inter-religioso forma parte, segundo os tempos e os momentos fixados pelo Pai, da "preparação evangélica". Com efeito, o testemunho mútuo é algo" inerente ao diálogo entre pessoas de religiões distintas. O testemunho cristão, aqui, não é ainda o anúncio do evangelho, mas já é parte integrante da missão da Igreja, como irradiação do amor derramado nela pelo Espírito Santo. Aqueles que, nos diversos modos do diálogo inter-religioso, dão testemunho do amor de Cristo Salvador realizam, em nível da "preparação evangélica", o ardente desejo do Apóstolo: "ser 'liturgo' de Jesus Cristo, consagrado ao ministério [hierourgunta] do Evangelho de Deus, a fim de os pagãos se tornarem uma oferenda que, santificada pelo Espírito Santo, seja agradável a Deus" (Rm 15,16).

Fonte: https://www.vatican.va/

Jesus olha para nós toda vez que olhamos para o crucifixo

Antoine Mekary | ALETEIA
Por Philip Kosloski

Às vezes pode ser tentador esquecermos que Jesus está vivo e presente.

Muitas vezes, ao olharmos para um crucifixo, imaginamo-nos ao pé da cruz contemplando o corpo sem vida de nosso Salvador.

No entanto, a representação de Jesus no crucifixo também deve recordar ao nosso coração a realidade de que Jesus está olhando para nós.

Bento XVI destacou esta realidade em uma alocução do ângelus em 2007.

Contemplando com os olhos da fé o Crucificado, podemos compreender em profundidade o que é o pecado, quanto é trágica a sua gravidade e, ao mesmo tempo, quanto incomensurável é o poder do perdão e da misericórdia do Senhor. Durante estes dias da Quaresma não afastemos o coração deste mistério de profunda humanidade e de alta espiritualidade. Olhando para Cristo, sintamo-nos ao mesmo tempo protegidos por Ele. Aquele que nós trespassámos com as nossas culpas não se cansa de derramar sobre o mundo uma torrente inexaurível de amor misericordioso.

Às vezes pode ser tentador esquecer que Jesus está vivo e presente não só no mundo, mas também na nossa vida pessoal. Ele está conosco, ao nosso lado. Jesus olha para nós com muita ternura e amor, não importa quantas vezes tenhamos falhado.

Da próxima vez que você olhar para um crucifixo, sinta o amor de Jesus fluir da cruz para o seu coração.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Francisco: "Não trocaria ser padre por nada"

Pe. Guillermo Marcó e o Papa Francisco | Vatican News

Publicamos um amplo trecho da entrevista com o Papa Francisco na Casa Santa Marta realizada para o site Infobae pelo padre argentino Guillermo Marcó, ex-porta-voz de Bergoglio quando era arcebispo de Buenos Aires.

Guillermo Marcó - Infobae

Andando pela Praça São Pedro, penso nos milhões de pessoas que adorariam ter uma conversa com o Papa Francisco. Tive por anos este raro privilégio. Em Buenos Aires eu costumava conversar com ele, às vezes mais de uma vez por dia. Hoje os contatos são menos frequentes, mas ele conserva o frescor da proximidade e da amizade adquirida ao longo dos anos; ele não mudou neste aspecto... Ouvi-lo é particularmente interessante ...

A primeira coisa que quero perguntar ao senhor é: o que mais o atrai no seguir Jesus ...

Não consigo expressá-lo verbalmente. O que posso dizer é que, quando estou em sintonia com Ele, sinto-me em paz, sinto-me feliz. Quando não o sigo, porque estou cansado, porque lhe fixo um horário determinado ou um limite de tempo, sinto-me insípido. É como se eu já estivesse cheio da minha vida... Alguém me disse uma vez: "Deus lhe dá liberdade, Ele sempre lhe dá liberdade, mas uma vez tendo conhecido Jesus, você perde a liberdade". Isso me colocou em crise. Não sei se a pessoa perde ou não, mas a maneira como o Senhor o chama e estabelece um diálogo com você o faz dizer "não, não vou a nenhum outro lugar, isso é suficiente para mim". Assim, sinto esse equilíbrio no bom senso da palavra, não psicológico, de paz, mesmo naqueles momentos de grande desequilíbrio devido a situações difíceis de enfrentar.

Naquele confessionário da paróquia de São José de Flores, o senhor pôde discernir sua vocação: o que sentiu de especial naquele chamado?

É curioso porque, depois daquela experiência de 21 de setembro, continuei minha vida sem saber o que ia fazer. Mas havia algo diferente que estava lentamente se impondo. Eu não saí de lá para ir para o seminário... Passaram-se três anos. É como um processo que muda suas orientações, suas referências. O Senhor entra em sua vida e a rearranja. E sem tirar-lhe a liberdade. Eu nunca tive a sensação de não ser livre.

O senhor continua se definindo como um "padre": do que o senhor mais gosta da vocação sacerdotal?

Estar a serviço. Uma vez um padre me disse - ele vivia em um bairro muito pobre, não em uma favela, mas quase, e tinha sua casa paroquial ao lado da igreja - e me contou que quando ele tinha que fechar a porta, as pessoas batiam na janela. Então ele me dizia: "Eu gostaria de fechar aquela janela porque as pessoas não deixam você em paz". As pessoas não o deixam em paz. E por outro lado, ele me dizia que se fechasse a janela, não ficaria tranquilo, mas muito pior. Porque quando você entra no ritmo do serviço, se sente mal quando toma uma fatia de egoísmo para si mesmo. A vocação para o serviço é um pouco assim, você não pode imaginar a vida se não estiver a serviço. Eu não trocaria ser padre por nada, depois da experiência de ser padre. Com limitações, com erros, com pecados, mas padre.

O que o senhor diz aos padres?

O que eu digo a um padre é "seja um padre". E se não funcionar para você, procure outro caminho, a Igreja abre outras portas para você. Mas não se torne um funcionário. Gosto de dizer o seguinte: seja um pastor do povo e não um clérigo de estado.

Como o senhor percebe a fraternidade entre os cardeais?

A longo prazo, há uma proximidade. Eles podem ter opiniões diferentes, mas a coisa positiva é que lhe dizem o que pensam. Eu tenho receio de agendas escondidas. Quando se tem algo e não se diz. Agradeço a Deus que no Colégio cardinalício haja comunicação, tanto entre os novos como entre os mais velhos, e que eles tenham a liberdade de falar ... Não sei se todos eles, mas muitos têm. Às vezes "Ei, tenha cuidado com isso", "olhe... ". Ah, obrigado. Vou pensar nisso e depois resolvo, lhe digo como ... ou eu não lhe dou ouvido, lhe digo: olhe, não lhe dou ouvido por causa disso, disso e disso. Mas o diálogo é aberto.

O senhor tem suas devoções. Aqui está este quadro de Nossa Senhora que desata os nós, uma devoção que adquiriu na Alemanha. Pode nos dizer por que sempre a enviava como cartão devocional em seus envelopes?

Eu nunca fui ao lugar onde está a imagem original. Aconteceu que uma freira alemã a enviou para mim como uma saudação. Eu gostei. Comecei a ter uma devoção a esta imagem na Argentina. A história é bonita, o quadro não vale muito, é do baixo barroco do século XVIII, já decadente. Um pintor da época que insultava a esposa. Eles eram muito católicos, mas discutiam todos os dias. E um dia ele leu o texto de Santo Irineu de Lyon, segundo o qual os nós que nossa mãe Eva tinha atado com seu pecado eram desatados por nossa mãe Maria com sua obediência. O Concílio o tomou e o incluiu, creio, na Constituição sobre a Igreja. Ele gostou e assim pediu a Nossa Senhora que desatasse o nó que tinha com sua esposa porque eles não se davam bem. E é por isso que, abaixo, retrata o arcanjo Rafael com Tobias levando-o para encontrar sua noiva, sua esposa, para conhecê-la. A Virgem realizou o milagre e tudo começou a partir daí. Eu tomei a devoção. Augsburg é a cidade. Na Igreja de São Pedro em Perlach. Eu nunca fui lá, estava perto dali, em Frankfurt. Mas isso foi o suficiente para mim, e a devoção começou na Argentina. É como se Nossa Senhora fosse capaz de ajudá-lo, como diz o texto de Santo Irineu, de ajudá-lo a desbloquear as coisas.

A desatar os nós da vida....

É a "maternidade" de Nossa Senhora.

E no que diz respeito a São José?

Foi minha avó que colocou São José na minha cabeça... Quando criança ela me fazia recitar orações a São José. A devoção permaneceu.

O senhor também tem uma pequena imagem de São José dormindo. Nela são colocadas intenções especiais....

Quando me pedem orações, eu as coloco debaixo da imagem. Eu digo: "Tu que dormes, resolve os problemas".

E Santa Teresinha?

Santa Teresinha sempre me atraiu... A coragem da pessoa comum. Se me perguntarem que coisas extraordinárias Santa Teresinha tinha: nenhuma. Ela era uma freira pobre e normal. Em seus últimos dias ela também sofreu as maiores trevas, as maiores tentações contra a fé, ela passou por todas elas. Uma mulher normal.

Para terminar, peço ao senhor algumas breves mensagens. A primeira mensagem é dirigida às crianças:

Cuidem dos avós. Falem com os avós. Visitem os avós. Deixem que os avós as encham de mimos.

Aos jovens...

Não tenham medo da vida. Não fiquem parados. Avancem. Vocês cometerão erros, mas o pior erro é ficar parado, então sigam em frente.

Aos pais e às mães...

Não desperdicem o amor. Tomem conta um do outro, assim poderão cuidar melhor de seus filhos.

Aos doentes...

Ah, isto é difícil porque aconselhar a paciência é fácil, mas eu não a tenho, portanto, entendo quando vocês ficam um pouco irritados. Peçam ao Senhor a graça da paciência e Ele lhes dará a graça de suportar tudo isso.

Por fim, aos idosos, dos quais o senhor fala tão frequentemente....

Aos idosos: não se esqueçam de que vocês são as raízes. Os idosos devem transmitir isto aos jovens, às crianças e aos jovens. Aquele versículo do Livro de Joel: qual é sua vocação como ancião, os idosos terão visões e os jovens farão profecias. Quando estão juntos, os idosos sonham com o futuro e o transmitem, e os jovens, apoiados pelos idosos, são capazes de profetizar e trabalhar para o futuro. Juntamente com os jovens, não tenham medo de nada. Um idoso amargurado é muito triste. É pior do que um jovem triste. Portanto, sigam em frente, estejam junto com os jovens.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF