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segunda-feira, 27 de março de 2023

Ascese: que é isso?

Perkan photography | Shutterstock
Por Vanderlei de Lima

A ascese pode ser ativa (subdividida em negativa e positiva) ou passiva, conforme veremos neste artigo. Entenda:

Ascese é um termo grego (áskesis) que significa exercício. Especialmente o treinamento do atleta para competir nas Olimpíadas ou do soldado convocado para a guerra.

Ora, os cristãos adotaram essa palavra para designar os exercícios ou práticas de autodomínio a fim de estarem “em forma” nas horas de combate contra as provações que nos atacam cotidianamente. Essa ascese pode ser ativa (subdividida em negativa e positiva) ou passiva, conforme veremos neste artigo.

É ativa quando o cristão faz, por vontade própria, seu exercício movido pela graça de Deus. Será positiva sempre que o fiel se dedicar a um trabalho complexo como visitar doentes incuráveis ou portadores de moléstias contagiosas, atender a menores infratores, visitar presídios etc. Será negativa sempre que a pessoa ascética deixa de fazer algo que muito lhe agrada tal como seria para alguns tomar um delicioso sorvete, assistir a um filme, fazer uma viagem etc.

É passiva quando a pessoa não procura a penitência ou a cruz, mas esta vem até ela pelas circunstâncias diversas da vida e é aceita com resignação, sem, no entanto, deixar, se for o caso, de buscar os meios legítimos para se livrar do revés (doença, questões judiciais, perseguições no emprego etc.).

Como enunciamos, contudo, a ascese ativa se subdivide em negativa e positiva. A negativa leva o fiel a se esforçar para remover todos os obstáculos que o impeçam de rumar à perfeição e ao crescimento do amor a Deus e ao próximo. Com esses exercícios levados a sério, a pessoa é capaz de dizer “sim” ou “não” de modo livre e decidido quando as circunstâncias o exigirem, independentemente do que a maioria acha. Aqui entram o jejum de alimentos que deem prazer, a aceitação voluntária da perseguição sofrida, a humilhação injusta dos superiores ou encarregados etc.

Já a ascese positiva consiste em exercer atividades que levem ao crescimento do amor a Deus e ao próximo e à prática das demais virtudes dando especial atenção àquela virtude que a pessoa mais precisa (se é grosseira ou ríspida, pedirá a mansidão; se orgulhosa, suplicará a humildade; se negligente, rezará para obter a diligência etc.). Mesmo o esforço por rezar continuamente e sem distrações pode ser um grande exercício de ascese a quem tem dificuldade com algo metódico que leve ao conhecimento de Deus como é a Missa, o terço, a via-sacra, por exemplo.

Óbvio é que a ascese positiva complementa a negativa, visto que a vida cristã não é feita apenas do “não”, ainda que este seja necessário, mas do “sim” dado a Deus rumo à santidade. Daí a abstinência (de carne, de programas de TV, de leituras etc.) não ter a última palavra na vida cristã. Ela deve ser, antes de tudo, a preparação para se libertar das amarras deste mundo a fim de se obter maior intimidade com o Pai do céu.

Em outras palavras: na medida em que nos penitenciamos, vamos fazendo morrer em nós o velho homem, Adão, a fim de que possa viver o novo homem, Cristo, cuja plena estatura somos chamados a atingir (cf. Ef 4,13).

Por fim, resta entender uma importante verdade: se é lícito (e é) batalhar pela conquista de troféus nas competições deste mundo, muito mais importante é a batalha pelos bens eternos, conforme nos assegura o grande Apóstolo São Paulo: “Os atletas abstêm-se de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, porém, para ganhar uma coroa imperecível” (1Cor 9,25).

Possam as reflexões acima levar-nos ao reforço da prática da ascese neste tempo quaresmal e também na vida do dia a dia, com a graça de Deus.

Para aprofundamento: E. Bettencourt. Curso de Espiritualidade. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2006, p. 37-69.

https://pt.aleteia.org/apoie-a-aleteia/

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A kênosis de Cristo e a nossa

A kênosis de Cristo | estiloadoracao

A KÊNOSIS DE CRISTO E A NOSSA

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
 

Neste tempo da Quaresma e já nos aproximando da Semana Santa – tempo litúrgico especial que a mãe Igreja nos oferece em preparação à Páscoa do Senhor, maior solenidade cristã –, desejo meditar, à luz de excertos de preciosos textos de alguns sábios monges cartuxos, filhos espirituais de São Bruno de Reims (cerca de 1030 a 1101), sobre a kênosis, um termo grego muito importante, mas, infelizmente, assaz esquecido entre parte do Povo de Deus. 

Significativa para nossa reflexão é a Carta de São Paulo aos Filipenses 2,6-11: “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor”. 

Em suma, o trecho citado nos diz que Jesus, mesmo sendo Deus, não se valeu disso a fim de se engrandecer, mas, ao contrário, humilhou-se e se fez igual a nós em tudo, exceto no pecado. Foi extremamente obediente a ponto de morrer na cruz, após indizíveis sofrimentos, para nos salvar da morte eterna. Deus, porém, que derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes (cf. Lc 1,52) e, mais de uma vez, ensina ser a exaltação caminho para a humilhação e a humilhação via para a exaltação (cf. Lc 14,11), fez Seu amado Filho triunfar. Daí, no céu, na terra e nos infernos, todos O reconhecem, de modo reverente, como Kýrios (Senhor, termo grego que, na Bíblia dos LXX, traduz o nome Javé: Deus). 

Ora, essa humildade, esse despojamento ou abaixamento de Cristo, nosso Senhor, é o que a Teologia chama de kênosis, expressão derivada do citado texto grego de Fl 2,7: heautón ekênosen. Quer dizer, uma renúncia de privilégios, privilégios que Sua divindade unida à humanidade Lhe daria direito, mas Ele renunciou e preferiu assumir a condição de escravo, uma vez que, mesmo sem pecado algum, carregou sobre si as nossas penas e enfermidades (cf. Is 53,4.6; 2Cor 5,21; Gl 3,13) para nos salvar. Afinal, só em Cristo há salvação (cf. At 4,12; Ef 1,7; Cl 1,14 etc.). É só por Ele que fomos, de fato, reconciliados com Deus (cf. Dom Cirilo Folch Gomes, OSB. Riquezas da mensagem cristã. 2ª ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1981, p. 353-368). Isso também é o que nos recorda o Concílio Vaticano II (1962-1965) ao ensinar: “Por si mesmo e por próprias forças não há ninguém que se liberte do pecado e se eleve acima de si mesmo, ninguém absolutamente que se liberte a si mesmo da sua enfermidade, da sua solidão ou da sua escravidão, mas todos precisam de Cristo como modelo, mestre, libertador, salvador, vivificador” (Ad Gentes, n. 8).  

Feito este breve, mas necessário preâmbulo, volto-me a alguns trechos de obras escritas por monges cartuxos ao longo da história. Extraio-os do alentado livro assinado por “Um Cartuxo”, como é tradição da Ordem, e tem por título Antologia de autores cartuxos. Itinerário de contemplação (São Paulo: Cultor de Livros, 2020). Ao citar suas palavras originárias de uma madura reflexão da Palavra de Deus em suas próprias celas, materialmente modestas, mas espiritualmente repletas da graça divina, desejo estimular a busca sequiosa da água que jorra da verdadeira fonte, que é Cristo (cf. Jo 4,14), e não de cisternas furadas (cf. Jr 2,13). Possa este meu desejo, se for da vontade do Pai celestial, produzir seus frutos em cada leitor(a). 

O primeiro cartuxo que desejo mencionar é Ludolfo da Saxônia († 1377), em sua Vita Christi, obra magistral que muito ajudou Santo Inácio de Loyola (1491-1556) chegar à conversão. Escreve ele sobre o tema central desta nossa reflexão estas ricas palavras: “Assim como a soberba é abominada por Deus e pelos homens, do mesmo modo a humildade é amada diante de Deus e dos homens; porque quem é humilde está repleto de caridade, é agradável, afável e serviçal; nenhuma coisa vale tanto para fazer-se amável a Deus e aos homens quanto ser grandes em méritos e virtudes, e pequeninos pela humildade. Para ser humildes desse modo, consideremos diligentemente a humildade de Jesus Cristo que, mesmo sendo o Rei dos reis, Deus Verdadeiro, Unigênito do Pai, viveu neste mundo como verdadeiro humilde a fim de que nós o imitássemos (cf. 1Pd 2,21)”. 

“Jesus Cristo fez primeiro com as obras o que ensinou depois com as palavras; dizia, com efeito: ‘Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração’ (Mt 11,29b). Isso Ele quer, antes de nada, fazer; e não dissimulando, mas sinceramente porque era, verdadeiramente, manso e humilde de coração. Nele não podia existir simulação alguma; em contrapartida, praticou uma íntima e profunda humildade, ‘despojo’ e abaixamento até humilhar-se diante de todos. É, portanto, verdade nisso o que diz o Apóstolo: ‘Despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano’ (Fl 2,7) e não só a condição, quer dizer a forma de um servo inútil, mas com sua humildade de vida. Considera as ações únicas de Jesus Cristo e verás que nelas resplandece, sempre, a humildade” (Vita Jesu Christi, parte I, c. XVI, nn. 4-5, p. 161). 

Da humildade de Cristo, deve vir a nossa. Isso é o que nos recorda Dionísio, o cartuxo († 1471). Diz ele: “A humildade é uma virtude com a qual o homem, por meio da contemplação profunda do seu Criador e do verdadeiro conhecimento de si mesmo, se faz vil aos seus próprios olhos, se rebaixa e submete-se a Deus”. Por isso, quem, como Nosso Senhor, Nossa Senhora, os anjos e alguns seres humanos agraciados – cada um em seu grau – conheceu a dignidade, a onipotência e a perfeição imensa de Deus, fez-se humilde sem hesitar. Com efeito, segue o monge seu lógico raciocínio: “Se analisarmos bem, encontraremos muita matéria para nos humilharmos. E o que somos por natureza? O que somos na alma? O que somos em nossa carne corrompida? E, quiçá, não é verdade que estamos cheios de defeitos e que somos frágeis e impuros? E o que somos depois do pecado original? Somos muito ingratos, perversos e malvados, cometemos continuamente muitas faltas, estamos rodeados de laços e perigos, e nossas misérias são infinitas, como disse Jó: ‘O homem, nascido de mulher, curto de dias, farto de inquietude, como flor se abre e se murcha, foge como a sombra sem parar-se’ (Jó 14,1). […]” 

“Consideremos com frequência esta verdade, e humilhemo-nos profundamente diante de Deus, confessando com humildes lágrimas nossa pobreza, misérias, ruindade, enfermidade e nossas culpas, assim como as inclinações a todo vício para ser, assim, por Ele ajudados, confortados e defendidos em todo tempo. Então, certamente virá ao nosso socorro o Senhor, rico em misericórdia, o qual cobre os vales, quer dizer, os espíritos humildes, enchendo-os de graças, conservando-os e conduzindo-os à perfeição. Deus guarda e defende os humildes como está escrito na Escritura: ‘O Senhor protege os humildes’ (Sl 114,6a); O Senhor dá aos humildes sua luz, já que, como está escrito nos Salmos: ‘Ao revelar-se, tua palavra dá sabedoria aos simples’ (Sl 118,130)”. (Dominica IV Adventus, sermo sextus, Opera omnia, t. 29, pp. 109-110). 

Possam estas modestas reflexões – associadas à Regra de São Bento, capítulo VII, comentada n’Os graus da humildade e da soberba, de São Bernardo de Claraval (São Paulo: Katechesis, 2022) – ser útil a quantos desejam configurar-se a Cristo Jesus (cf. Rm 8,29) por meio de sua kênosis. Santa Quaresma a todos!

A Virgem Maria e a Igreja na Lumen Gentium

Papa Francisco durante a Santa Missa celebrada no Estádio 
Hariri em Erbil, no Curdistão iraquiano 
(© Photo by Safin Hamed) (AFP or licensors)

Maria é “verdadeiramente Mãe dos membros de Cristo, porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça, que é o seu filho Jesus." (Paulo VI)

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“O sagrado Concílio, ao expor a doutrina acerca da Igreja, na qual o divino Redentor realiza a salvação, pretende esclarecer cuidadosamente não só o papel da Virgem Santíssima no mistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, mas também os deveres dos homens resgatados para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis. Não tem, contudo, intenção de propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos. Conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós (LG 54)”

O capítulo VIII da Lumen gentium constituiu uma virada decisiva na reflexão teológica sobre a Bem-aventurada Virgem Maria. No artigo “Maria, da Lumen gentium à Redemptoris Mater”, o Prof. Michael F. Hull recorda que após um acalorado debate, o Concílio modificou completamente os fundamentos da Mariologia fazendo duas coisas simples: primeiro, “não produziu um documento separado sobre Maria, destacando assim que a futura Mariologia não poderia ser separada de outros aspectos teológicos importantes.” Depois, “o Concílio incorporou suas instruções relativamente breves sobre Maria na Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium. Assim, a Mariologia foi colocada no contexto do Verbo Encarnado e do Corpo Místico, sem implicar uma nova doutrina sobre Maria ou impedir a reflexão teológica (LG, 54).

Embora Paulo VI tenha tentado despertar uma compreensão mais profunda com sua Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974) e outros escritos - observa ainda o estudioso -, a Igreja teve que esperar quase um quarto de século antes que a Carta Encíclica Redemptoris mater (25 de março de 1987) reacendesse o interesse dos teólogos pela mariologia.

Depois de "Eclesiologia Mariana na Lumen Gentium", Pe. Gerson Schmidt* nos traz hoje a reflexão "A Virgem Maria e a Igreja na Lumen Gentium":

"Maria é a imagem da Igreja, membro singular da Igreja. O capítulo da Mariologia no documento sobre a Igreja, o capítulo oitavo, intitulado “A bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja” não é por causa de uma simples devoção católica. Tal inserção não foi fruto do acaso, mas corresponde à orientação presente na Constituição. A relação entre Maria e a Igreja só é possível de ser compreendida enquanto a Mariologia se insere na eclesiologia, enquanto Maria é a imagem da Igreja. Lembramos que a Lumen Gentium se encerra com a teologia mariana, colocando Maria dentro do seu papel relevante discípula, mãe, mestra, e membro da Igreja.

O número 53 da Constituição sobre a Igreja afirma assim: “Efetivamente, a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor. Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da graça, leva vantagem à todas as demais criaturas do céu e da terra. Está, porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens necessitados de salvação; melhor, «é verdadeiramente Mãe dos membros (de Cristo)..., porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça» ¹. É, por esta razão, saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afeto de piedade”(LG, 53).

Cabe aqui perfeitamente a reflexão sobre essa temática da LG, que tem aqui por título “A Virgem e a Igreja”(LG, 53-54). Procuraremos dedicar vários programas a esse aspecto importante na eclesiologia, a mãe de Cristo como Mãe da Igreja, nos aspectos relevantes que os santos padres conciliares apontaram a respeito da Mariologia.

Maria leva vantagem às demais criaturas, diz esse artigo da LG. Como afirmou Papa Paulo VI, hoje proclamado santo pela Igreja, Maria é “verdadeiramente Mãe dos membros de Cristo, porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça, que é o seu filho Jesus. Todos nós nos tornamos filhos de Deus e membros da Igreja pelo batismo. Maria é membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade. Maria é o símbolo perfeito da cristã autêntica, filha predileta de Deus. É um arquétipo, retrato verdadeiro do cristão que é membro da Igreja, discípulo de Cristo. Se queremos ser verdadeiros cristãos, seguimos seus passos, que nos conduzem aos pés do verdadeiro Mestre. Por isso, diz o Concilio que a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afeto de piedade. Quem não poderá amar aquela que gerou, cuidou, educou o Salvador? Como não amar a mãe do Salvador? Como não venerar aquela que tanto amou a Jesus Cristo, se encarnou em seu ventre? Como não honrar a mãe que se foi sacrário do Altíssimo?"

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS. 
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¹ Paulo VI, Alocução no Concílio, no dia 4 dez. 1963: AAS 56 (1964) p. 37.

domingo, 26 de março de 2023

Cristo é uma parte presente da realidade

A Sagrada Eucaristia | ofielcatolico
Arquivo 30Dias - 12/1998
Por Dom Luigi Giussani

Cristo é uma parte presente da realidade

Mensagem de Mons. Dom Giussani a sete mil universitários reunidos em Rimini para exercícios espirituais.

“Viver a realidade”: assim foi dado o tema a estes exercícios.

Mas Cristo, como podemos concebê-lo e viver relações com ele? É uma realidade: Cristo também é uma realidade, faz parte do real.
Se Cristo está, onde está, qual é o caminho até ele: é a questão culturalmente mais importante sobre o passado.
A resposta da história foi e é a Igreja, isto é, aquele lugar que desde o início manteve fielmente o reconhecimento do que é Jesus de Nazaré e a concepção moral da vida que dele deriva. Mas o profeta Jeremias fala de um desastre em que se dissolve a própria unidade do povo judeu: ele não reconhece o Messias atual. Jeremias conclui: «Por isso cairão com as outras vítimas. Na hora do castigo, eles serão prostrados."

A história é feita de alternâncias dramáticas: os pontos objetantes parecem se expandir mais do que os do passado.
Sua prevalência é estatisticamente a observação mais amarga e dramática que um cristão autêntico pode fazer precisamente sobre a situação da Igreja.
Hoje o fato de que Cristo existe – quem é, onde está, que caminho ir até ele – é experimentado por poucos, quase um remanescente de Israel, e mesmo estes muitas vezes infiltrados ou bloqueados pela influência da mentalidade comum . No entanto, da Igreja vem esta palavra, repetida por dois mil anos: "Aos desanimados digam: Coragem! O Senhor nosso Deus está vindo”. Coragem! Entrei na escola pela evidência desse fato ou, como já disse, desse acontecimento.

Obedeci, como resposta clara e cada vez mais razoável da Igreja e, portanto, de todos aqueles que tornam presente aquele grande acontecimento. Assim minha vida cresceu em paz. Desejo-vos, com a força de um grande afecto e com a consciência do esforço necessário para uma abertura à verdade, que o Espírito de Jesus vos comprove de forma persuasiva o que me fez de persuasão. Tens a simplicidade da "realidade viva", da qual Cristo, como disse, é parte presente. (OI! Palavras introdutórias de Dom Luigi Giussani aos Exercícios Espirituais dos universitários de Comunhão e Libertação, Rimini, 12 de dezembro de 1998).

Como um saco de batatinhas fritas pode salvar sua Quaresma

Aquarius Studio | Shutterstock
Por Cerith Gardiner

A partir de um simples pacote de batatas fritas, um padre americano muito popular nas redes sociais partilha uma reflexão espiritual para nos ajudar a viver bem a Quaresma.

O padre David Michael Moses, um jovem padre americano do Texas muito popular nas redes sociais, está de volta em um vídeo para dar alguns conselhos espirituais aos seus milhares de seguidores. Com seu humor invejável, ele utiliza um saco de batatinhas fritas para explicar a importância de aproveitar ao máximo o tempo livre da Quaresma com atividades significativas. 

A analogia parte de uma constatação simples: comer batata frita em festa – quando todo mundo enfia a mão no pacote – não é muito higiênico. Por isso, uma possível solução para tirar as batatinhas fritas com mais facilidade é criar uma tigela a partir do próprio pacote: se você empurrar por baixo e retirar o espaço vazio dentro do saco, terá uma tigela perfeita transbordando de batatas fritas!

https://www.facebook.com/watch/frdavidmichael/

A lição

Que lição podemos aprender com isso? Pe. David Michael Moses explica que é importante se livrar de todos os espaços vazios em sua vida, ou seja, os momentos do dia em que somos tentados pela preguiça e pelo pecado, pois não há nada planejado para fazermos. Em vez disso, ele nos encoraja a preencher esses tempos vazios com ações significativas, como oração e cuidado da alma, além de exercícios físicos e do convívio com amigos que nos animam.

Então, da próxima vez que vir um saco de batatas fritas, pense em todo aquele espaço vazio em sua vida e como você pode preenchê-lo com ações significativas!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

https://pt.aleteia.org/apoie-a-aleteia/

Papa no Angelus: não ceda à dor e ao pessimismo, Deus está perto de nós!

Papa Francisco no Ângelus (Vatican Media)

Francisco no Angelus deste domingo: “talvez também nós, neste momento, carregamos em nossos corações algum peso ou algum sofrimento, que parecem nos esmagar. Então é hora de remover a pedra e sair ao encontro de Jesus, que está próximo”.

Silvonei José - Vatican News

"Não ceda ao pessimismo que deprime, ao medo que isola, ao desânimo pela recordação de más experiências, ao medo que paralisa"! O Papa Francisco introduzindo a recitação do Angelus comentou a passagem do Evangelho deste V Domingo da Quaresma, a ressurreição de Lázaro, "querido amigo de Jesus", para sublinhar que Jesus "dá vida mesmo quando parece não haver mais esperança" e "convida-nos a não deixar de acreditar e esperar, a não nos deixarmos esmagar por sentimentos negativos".

"Acontece, às vezes, sentir-se sem esperança, aconteceu com todos, ou encontrar pessoas que perderam a esperança: amarguradas", com "um coração ferido", "por causa de uma perda dolorosa, uma doença, uma decepção, um erro ou uma traição sofrida, por um grave erro cometido", observou o Pontífice.

Papa Francisco (Vatican Media)

"Às vezes ouvimos as pessoas dizerem: 'Não há mais nada a ser feito!' e fecha a porta a toda esperança. Estes são momentos em que a vida parece um sepulcro fechado: tudo é escuro, ao redor vemos apenas dor e desespero". Em vez disso, Jesus "nos diz que isto não é assim, o fim não é este, que nestes momentos não estamos sozinhos, pelo contrário, que precisamente nestes momentos Ele se aproxima mais do que nunca para restaurar nossa vida". Jesus chora, o Evangelho diz que ele chora diante do sepulcro de Lázaro, e Jesus chora conosco, como chorou por Lázaro: o Evangelho repete duas vezes que ele se comoveu e sublinha que Ele chorou".

Fiéis na Praça São Pedro (Vatican Media)

Jesus, continua Francisco, "aproxima-se de nossos sepulcros e nos diz, como então: 'Tire a pedra'". "Tire a pedra: a dor, os erros, também os fracassos, não os escondam dentro de vocês, em um quarto escuro e solitário, fechado". Tire a pedra: tire tudo o que está dentro, jogue-a em mim com confiança, sem medo, porque estou com você, amo você e desejo que viva novamente".

E, como a Lázaro, acrescenta o Papa, "repete a cada um de nós: vem para fora! Levante-se, retome o caminho, recupere a confiança! Eu levo você pela mão, como quando você era uma criança aprendendo a dar seus primeiros passos". "Tire as ataduras que o prendem, por favor não ceda ao pessimismo que deprime, não ceda ao medo que isola, não ceda ao desânimo por causa da recordação de más experiências, não ceda ao medo que paralisa. Eu o quero livre e vivo, não o abandonarei e estou com você". "Não se deixe aprisionar pela dor, não deixe morrer a esperança: volte à vida". "Eu pego você pela mão e trago você para fora" da escuridão, diz Jesus.

Fiéis na Praça São Pedro (Vatican Media)

Esta passagem, capítulo 11 do Evangelho de João, nos faz tão bem lê-la, enfatiza o Papa. "É um hino à vida", diz, "e nós o lemos quando a Páscoa está próxima. Talvez também nós, neste momento, carregamos em nossos corações algum fardo ou algum sofrimento, que parece nos esmagar. Alguma coisa ruim, algum pecado feio, algum erro da juventude", acrescenta Francisco.

"Então é o momento de remover a pedra e sair ao encontro de Jesus, que está próximo". "Conseguimos abrir nossos corações e confiar nossas preocupações a Ele? Abrir o sepulcro dos problemas e olhar para além da soleira, em direção à sua luz? Ou será que temos medo disso? E, por sua vez, como pequenos espelhos do amor de Deus, será que conseguimos iluminar os ambientes em que vivemos com palavras e gestos de vida? Damos testemunho da esperança e da alegria de Jesus? Nós pecadores, todos nós?".

Francisco dirigiu-se novamente aos confessores: "Caros irmãos, não esqueçam que vocês também são pecadores e no confessionário não sejam torturadores, mas perdoem tudo".

O Papa concluiu: “Maria, Mãe da Esperança, renove em nós a alegria de não nos sentirmos sozinhos e o chamado a levar luz à escuridão que nos circunda”.

São Ludgero

São Ludgero | arquisp
26 de março

São Ludgero

Ludgero nasceu no ano 742 em Zuilen, Friesland, atual Holanda, e foi um dos grandes evangelizadores do seu tempo. Era descendente de família nobre e, dedicado aos estudos religiosos desde pequeno. Ordenou-se sacerdote em 777, em Colônia, na Alemanha. Seu trabalho de apóstolo teve início em sua terra natal, pois começou a trabalhar justamente nas regiões pagãs da Holanda, Suécia, Dinamarca, ponto alto da missão de São Bonifácio, que teve como discípulos São Gregório e Alcuíno de York, dos quais foi seguidor também Ludgero.

Mais tarde, foi chamado pelo imperador Carlos Magno para evangelizar as terras que dominava. Entretanto, este empregava métodos de conversão junto aos povos conquistados, não condizentes com os princípios do cristianismo. Logo de início, por exemplo, obrigava os soldados vencidos a se converterem pela força, sob pena de serem condenados à morte se não se batizassem.

Como conseqüência dessa atitude autoritária estourou a revolta de Widukindo e Ludgero teve que fugir, seguindo para Roma. Depois foi para Montecassino, onde aprimorou seus estudos sobre o catolicismo e vestiu o hábito de monge, sem contudo emitir os votos.

A revolta de Widukindo foi a muito custo dominada em 784 e o próprio Carlos Magno foi a Montecassino pedir que Ludgero retornasse para seu trabalho evangelizador, que então produziu muitos frutos. Pregou o evangelho na Saxônia e em Vestfália. Carlos Magno ofereceu-lhe o bispado de Treves, mas ele recusou. Ludgero emitiu os votos tomando o hábito definitivo de monge e fundou um mosteiro, ao redor do qual cresceu a cidade de Muester , cujo significado, literalmente, é mosteiro, e da qual foi eleito o primeiro bispo.

Ludgero não parou mais, fundou várias igrejas e escolas, criou novas paróquias e as entregou aos sacerdotes que ele mesmo formara. Ainda encontrou tempo para retomar a evangelização na Frísia, realizando o seu sonho de contribuir para a conversão de sua pátria, a Holanda, e fundar outro mosteiro, este beneditino, em Werden, antes de morrer, que ocorreu no dia 26 de março de 809.

O corpo de Ludgero foi sepultado na capela do mosteiro de Werden. Os fiéis tornaram o local mais uma meta de peregrinação pedindo a sua intercessão para muitas graças e milagres, que passaram a ocorrer em abundância. O culto à São Ludgero, que ocorre neste dia é muito intenso especialmente na Holanda, Suécia, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Itália, países cujo solo pisou durante seu ministério.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Dom Antonio de Marcos é apresentado como novo Bispo Auxiliar de Brasília

Apresentação de Dom Antonio Marcos | arqbrasilia

Dom Antonio de Marcos é apresentado como novo Bispo Auxiliar de Brasília

Na manhã de hoje, 25 de março, o Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cesar Costa presidiu a Santa Missa Solene de Apresentação do novo Bispo auxiliar de Brasília, Dom Antonio de Marcos. A celebração aconteceu na Catedral Metropolitana de Brasília. Estiveram presentes Dom Raymundo Cardeal Damasceno, vigário geral da Arquidiocese, do Bispo auxiliar, Dom José Aparecido, Bispo auxiliar, Dom Marcony Vinícius, Arcebispo Militar do Brasil, Mons. Denilson Geraldo, bispo eleito auxiliar, diáconos, religiosos, seminaristas e toda a comunidade.

Durante a celebração, Dom Paulo Cezar destacou o importante do trabalho da igreja na vida das pessoas, principalmente daqueles mais necessitados, e fez questão de acolher o novo Bispo auxiliar, Dom Antonio de Marcos: ”Sinta que Brasília agora é sua cassa, sinta que aqui é sua família, estamos todos aqui apara te acolher, para que você se sinta em casa, que você possa servir a igreja se sentindo em casa. Um homem que quer servir,  quer fazer da sua vida um dom de amor, um dom de serviço. Olhe sempre para Maria, a tenha sempre como a servidora da excelência, como esse grande exemplo de vida.”

Já Dom Antonio de Marcos reiterou seu comprometimento em ajudar  naquilo que aprouver a Vontade de Deus e o mandato da sua Santa Igreja. ”Se somos pares no mesmo grau da Graça, recebendo eu de suas mãos a sucessão apostólica, faço-me, antes, servo vosso. Do mesmo modo, eminência, coloco-me, embora irmão vosso, a serviço da pastoral dessa Arquidiocese. Estou em suas mãos, porque sei e confio plenamente que, antes de tudo, vossa eminência está nas mãos de Deus. Nossa missão é, convosco, assim nos comprometemos, construir unidade, comunhão e participação pela libertação e salvação do povo de Deus.”

Confira o discurso de Dom Antonio de Marcos (Parte). 

Peço a licença a cada um para saudar à

Sua Eminência Reverendíssima, Dom Paulo Cezar Cardeal Costa, Arcebispo Metropolitano desta tão querida arquidiocese, que nos acolhe em sua Catedral, presidindo essa belíssima celebração;

(***)

Eu que não almejara senão ganhar um pequeno povo, que me fizera tanta falta nos anos em que fui reitor, ganhei a missão e o mandato apostólico de auxiliar Dom Paulo Cardeal Costa na condução desse enorme povo da tão querida e importante arquidiocese de Brasília. Confesso-vos que, aflito, pensei que não chegaria aqui. Mas, agora que estou entre vós, repito insistente o que escolhi por lema para o meu ministério: “Teu povo é o meu povo”. Em minha ordenação episcopal, há exatamente um mês atrás, em horário símile a esse, sua eminência, o Cardeal Costa, dizia em seu brilhante sermão que somos pastores-rebanho, porque apascentamos o rebanho do único Pastor, Nosso Senhor. É isso que almejo e a isso me comprometo diante de nosso irmão no episcopado, o Arcebispo dessa grei tão numerosa: dar razões à fé, isto é, auxiliá-lo a orientar o rebanho ao único redil de Nosso Senhor. Não anseio outra coisa, senão ser promotor, convosco, da unidade e da sinodalidade. Unidade essa que só se constrói pelo Divino Espírito Santo, dos quais somos instrumentos.

Nesta manhã, celebramos a anunciação do Arcanjo à Santíssima Virgem Maria. Ao FIAT de Nossa Senhora, Nosso Senhor encarnou-se em seu ventre. Não foi mágica, não foi ilusão, não é história: é mistério! Esse mistério sublime de Deus que se encarna no seio duma Virgem, Sua criatura. A Segunda Pessoa Adorável da Santíssima Trindade, sendo pessoa divina, quis fazer-se pessoa humana, e encarnou-se no dia de hoje. A vida estava lá, desde o exato segundo do assentimento de Nossa Senhora, Deus fez-se homem. Hoje chego nessa arquidiocese, não como seu pastor, mas como auxiliar dele. Hoje chego nessa importante capital, nesse distrito, no Grande Paço Nacional, para fazer o que aprendemos de Nossa Senhora no evangelho de hoje: “Eis aqui a serva, o servo, do Senhor.”

Não vim para fazer minha vontade, não vim para adequar-vos aos meus desejos, não vim parar galgar mais altos degraus. Vim, simples e obedientemente, para fazer a Vontade de Deus.

(***)

A Vontade de Deus é Boa, Justa e Verdadeira, conferindo-nos sentido e Beleza. Se Santo Agostinho já dissera que “se me amedronta o que sou para vós, consola-me o que sou convosco”, não há outra explicação pelo nome que recebemos da Graça Baptismal: cristãos. Servidores de Cristo; Arautos de sua Boa-Nova; Companheiros em sua caminhada; apóstolos e discípulos, enfim: novo Povo de Deus, servos de sua vontade amorosa. Que ao chegar a aurora do amanhecer do novo mundo, quando vier Nosso Senhor em sua glória, encontre-nos, Ele, disponíveis e recolhidos num constante cantar, num hino sem fim, numa prontidão Marial que, a cada batida do coração, diz a Deus: “Amo-Vos, Adoro-Vos, Busco-Vos: Eis aqui seu servo, faça-se o Teu Querer Supremo”.

(***)

A cada um de vós, entre os quais temos os presbíteros, diáconos, religiosos, seminaristas, autoridades civis, pais e mães, catequistas, missionários, e toda a ordem de vocações no coração da Igreja faço esse convite: disponibilidade ao Pastor. Disponibilidade ao apelo e mandato de Deus. Sejamos servos, humildes, entregues, prontos, disponíveis. De que forma o faremos? “Faça-se em mim segundo a Vossa Palavra!” Amemos, interpelo-vos, à Palavra de Deus. Leiamos, rezemos, ouçamos, vivamos, procuremos, estejamos sedentos a essa Palavra de Salvação, Palavra de Vida, Palavra de Redenção.

Dando afetuoso preito de gratidão e amor à Diocese de São Carlos, que desde a fonte baptismal me tem acompanhado, hoje, membro do Colégio Episcopal, faço-me convosco, povo arquidiocesano de Brasília, servidor de Cristo. Estou convosco, estou no meio de vós, sou, a partir de agora, membro de vossa família de almas porque escolhi dizer a Deus o SIM, e repetir insistente em meu temeroso e receoso coração: “Teu povo é o meu povo”, Senhor. Assim seja! Obrigado!

 Missa Solene de apresentação novo Bispo Auxiliar de Brasília

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Como fazer a experiência da misericórdia de Deus?

Shutterstock I Iryna Inshyna
Por Diego Afonso Ribeiro

O Papa Francisco recordou de forma marcante em seu primeiro Angelus na Praça São Pedro que “Deus nunca Se cansa de nos perdoar; nunca”.

Se pudéssemos sondar o coração de Deus que sentimentos encontraríamos? Não apenas podemos questionar a respeito disso, mas o próprio Deus nos dá a oportunidade de conhecer e sentir com o seu próprio coração, pois característica preciosa do coração de Deus é a misericórdia infinita dirigida a todos os seus filhos.

Assim somos provocados a examinar nossa consciência, sobretudo na Quaresma, e apontar os erros e falhas, os pecados cometidos na caminhada. Trata-se de um encontro com o pior de nós nas fragilidades humanas, mas sobretudo, um encontro precioso com o dom Deus que busca absolver as misérias que nos desumanizam.

No Antigo Testamento Deus se apresenta como vagaroso na ira ao dialogar com Adão e Eva logo após o rompimento da aliança; demonstrasse ainda cheio de bondade e fidelidade ao resgatar o povo da escravidão; um Deus paciente acompanhando o povo no deserto e saciando a fome dos que migravam. Expressão ainda significativa é sua clemência junto aos apelos de Abraão para que Sodoma e Gomorra fossem poupadas.

Jesus Cristo

Belas expressões da compaixão do Pai encontramos também na percepção dos salmistas ao afirmarem que “É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades (Sl103); o Senhor liberta os prisioneiros, dá vista aos cegos, levanta os abatidos, ama o homem justo. Todos estes sinais de Deus são revelados no Novo Testamento de modo concreto em Jesus Cristo: Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. 

Através de seu filho Jesus, o Deus de Misericórdia sempre vem ao encontro das necessidades humanas. Deus fala a todos nós pelas ações e pelo coração Jesus. O coração do Filho é o coração do Pai. Podemos destacar as vezes em que Cristo sente compaixão de seu povo, Cristo chora por Jerusalém. Também bela expressão de amor ao deixar que as lágrimas caiam quando informado da morte de seu amigo Lázaro. 

Deus Filho tem coração, um coração que ama, sente e pulsa em favor de seus amados. Junto ao poço da samaritana pede “Dá˗me de beber”, se fez sedento para que a aridez daquela mulher desgastada por diversos deuses fosse saciada eternamente. Aos pecadores visitava a casa, entrando no coração de Zaqueu, de Marta, de Pedro e tantos outros. De igual modo, se rebaixa ao chão da mulher prestes a ser apedrejada para que a levantasse renovada. Este é o mover de Deus, que se coloca sempre disponível a nos buscar, resgatar e salvar.

O perdão

Papa Francisco recordou de forma marcante em seu primeiro Angelus na Praça São Pedro que “Deus nunca Se cansa de nos perdoar; nunca”. Lembrou ainda de uma grande verdade: “problema está em nós que nos cansamos e não queremos, cansamo-nos de pedir perdão. Ele nunca se cansa de perdoar, mas nós às vezes cansamo-nos de pedir perdão”. Fica claro a dinâmica do perdão de Deus, na qual constantemente o Pai busca, procura e deseja reconciliar-se com seus filhos.

Ao longo deste retiro quaresmal, o coração de Cristo, com suas belas expressões de misericórdia, possa divinizar cada coração humano. Que nossas práticas quaresmais permitam experimentar de maneira profunda e verdadeira os sentimentos de Deus através de Cristo, de modo que, o nosso sentir seja o sentir de Deus. Dai-nos Senhor um coração igual ao Vosso, tira nosso coração de pedra e nos apresente um novo coração pleno de amor e misericórdia.

Como fazer a experiência da misericórdia de Deus?

  1. Repetir mantras que suplicam a Deus um coração rico em misericórdia: Jesus manso e humilde de coração, fazei meu coração semelhante ao vosso.
  2. Meditar passagens bíblicas onde Cristo perdoa os pecadores: a mulher pecadora (Lc 7,36-50); Filho pródigo (Lc 15,11-32).
  3. Fazer um bom exame de consciência e buscar confissão.
  4. Aceitar o perdão dos pecados recebido na confissão. Assim, poderá festejar a graça do perdão, não remoendo ou culpando-se pelo que já foi confessado.
  5. Ler a Bula do Papa Francisco sobre o Ano da Misericórdia: “Misericordiae Vultus”.

Reflexão para o V Domingo da Quaresma (A)

Evangelho de Domingo (Vatican News)

O tema da liturgia deste domingo é o Senhor como fonte da Vida, como a própria Vida.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

O tema da liturgia deste domingo é o Senhor como fonte da Vida, como a própria Vida.

Este relato é uma catequese sobre a ressurreição. Faz parte do tradicionalmente chamado Livro dos Sinais, do qual é o sétimo e o último sinal realizado por Jesus, segundo o Evangelho de João.

A primeira leitura fala da revivificação de ossos ressequidos e o evangelho nos apresenta a belíssima cena conhecida como ressurreição de Lázaro. O Senhor mostra seu poder não para intimidar o ser humano, mas para salvá-lo, para trazê-lo à vida e devolver a alegria à sua família.

Se prestarmos bastante atenção nos gestos de Jesus, ele não restringe sua ação aos momentos limites como a morte, mas ele age trazendo a saúde, recuperando pessoas envolvidas com situações de morte, enfim perdoando o pecados. Ele, a Vida, recupera o que estava perdido. Por isso, supliquemos ao Senhor da Vida que traga harmonia àquele casal que está com dificuldades no relacionamento conjugal, àquele jovem que perde sua vida nas drogas, àquele pai de família que gasta o dinheiro do sustento familiar nos jogos de azar, àquela moça que destrói sua vida através da prostituição.

Apresentemos ao Senhor aquelas mães que pensam em abortar a vida que Deus colaborou para que gerassem, aqueles médicos que desejam aliviar o sofrimento de seus pacientes agindo diretamente contra o dom divino da vida, e tantos outros casos que conhecemos. Só Deus poderá iluminar essas pessoas, mostrando-lhes o verdadeiro sentido da vida e dando-lhes coragem para enfrentar  com fé, esperança e caridade essas situações dificílimas.

O Senhor quer nos libertar de todas essas mortes e também daquela que leva nosso corpo para o cemitério, quer sinalizar que pode muito mais, que pode nos libertar da morte definitiva. Ele disse: “ Quem crê em mim, ainda que morra viverá, e quem vive e crê em mim, não morrerá para sempre.”

A segunda leitura da liturgia de hoje nos apresenta Paulo dizendo que não morremos porque, no batismo, assumimos essa vida dada a nós, por Jesus, em sua cruz e ressurreição. A partir do batismo, da profissão de fé em Jesus, viveremos, mesmo que, aparentemente, estejamos mortos. Aí não será uma reanimação do corpo ou revivificação como em Lázaro, que voltou à vida e depois morreu de novo, mas ressurreição, ou seja, Jesus nos dá a vida sem fim e plena, sem doenças, sem drogas, sem desavenças.

Ele nos dará aquilo que desejamos: vida saudável, ao lado das pessoas queridas que amamos, ao lado do Pai, de Maria, de todos os santos, e para sempre. Essa vida já pode começar agora, se colocarmos em prática a renúncia à cultura de morte, renúncia feita no batismo e, simultaneamente, colocarmos também em prática a profissão de fé na cultura de vida trazida por Jesus.

Que a graça de Deus nos conduza à opção pela Vida, em todos os momentos de nossa caminhada. Que nossa religiosidade nos leve a colocar em prática a ordem de Jesus: “Desatai-o e deixai-o ir”. Desatemos os laços de morte que amarram a nós e a nossos irmãos, e caminhemos juntos para a vida, como filhos do mesmo Pai, como destinatários que somos todos nós da salvação trazida por Cristo Jesus, nosso Redentor!

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF