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domingo, 4 de outubro de 2020

S. FRANCISCO DE ASSIS, FUNDADOR DA ORDEM FRANCISCANA, PADROEIRO DA ITÁLIA

S. Francisco de Assis, Margaritone de Arezzo  (© Musei Vaticani)

Um jovem com grandes aspirações

Pequeno de estatura, de caráter extrovertido, Francisco sempre nutriu no coração o desejo de realizar grandes empreendimentos; isto o induziu, com a idade de vinte anos, a partir, primeiro para a guerra entre Assis e Perugia e, depois, para a Cruzada. Filho de um rico mercante de tecidos, Pedro de Bernardone, e de uma mulher nobre provençal, Pica, nasceu em 1182 e cresceu entre a opulência da família e a vida mundana. Ao retorno da dura experiência bélica, doente e abalado, foi irreconhecível por todos. Alguma coisa, além da experiência no conflito, havia afetado profundamente a sua alma.

Um encontro perturbante e a pergunta: servir ao servo ou ao Senhor?

Ele jamais havia se esquecido das palavras recebidas em sonho, em Espoleto: “Por que te inquietas em buscar o servo em vez do Senhor?”. A sua existência tomou um novo rumo, guiado pelo constante desejo de saber para que Deus o chamasse. Oração e contemplação, no silêncio dos campos da Úmbria, levaram-no a abraçar como irmãos os leprosos e os desprezados, contra os quais sempre sentia sempre aversão e repugnância.

São Damião: “Francisco, vai e restaura a minha Igreja em ruína”.

A voz que ouviu em Espoleto voltou a ressoar no silêncio da oração diante de um crucifixo bizantino na igrejinha abandonada de São Damião: “Francisco, vai e restaura a minha Igreja, que como vês, está em ruína”. Aquela admoestação, antes entendida como convite a reconstruir pedra por pedra a ruína da capelinha, com os anos revelou ao jovem seu pleno significado. Ele era chamado a “coisas maiores”: “renovar”, em espírito de obediência, a Igreja que, na época, era investida por divisões e heresias.

Esposo da senhora Pobreza

A irreprimível alegria, brotada pelo sentir-se amado e chamado pelo Pai, aumentou no jovem o desejo de viver de Providência e, em prol do Evangelho, decidiu deixar seus bens aos pobres. Era irreparável a divergência criada com o pai, Pedro de Bernardone. Este o denunciou publicamente; então, o filho declarou seu íntimo desejo de casar-se com a senhora Pobreza, despojando-se das suas vestes diante do Bispo Guido.

A primeira comunidade de frades. O Papa aprova a Regra

Numerosos companheiros uniram-se a Francisco, que, como ele, queriam viver o Evangelho ao pé da letra, em pobreza, castidade e obediência. Em 1209, o primeiro núcleo de “frades” foi a Roma encontrar-se com o Papa Inocêncio III, que, impressionado por “aquele pequeno jovem de olhos ardentes”, aprovou a Regra, depois confirmada definitivamente, em 1223, por Honório III.

As Clarissas e a Ordem Terceira

Também Clara, uma nobre de Assis, foi atraída pelo carisma de Francisco. Ele a acolheu e deu início à segunda Ordem Franciscana “as pobres damas”, depois conhecidas como Clarissas. A seguir, fundou uma Terceira Ordem para os leigos.

Francisco, “Alter Christus”

O amor ardente por Cristo, expresso graciosamente com a representação do primeiro Presépio vivo, em Greccio, no Natal de 1223, levou o pobrezinho a conformar-se com Jesus e a receber, como primeiro santo da história, o sigilo dos estigmas. O “Jogral de Deus” foi testemunha da alegria da fé, aproximando do Evangelho também os não crentes e até capturando a atenção do Sultão, que o acolheu com honras na Terra Santa.

A vida de Francisco, Louvor ao Criador

A vida de Francisco foi um constante hino de louvor ao Criador. O “Cântico do Irmão Sol”, primeira obra-prima poética da literatura italiana, - escrita quando Francisco estava enfraquecido pela doença, - é expressão da liberdade de uma alma reconciliada com Deus, em Cristo. O Santo vai ao encontro de Jesus com alegria, quando a “irmã morte” o vem visitar: era a tarde de 3 de outubro de 1226.

O espírito de Assis, inspirador de fé e fraternidade

Francisco morreu, com 44 anos, no piso rude da Porciúncula, lugar onde recebeu o dom da “indulgência do Perdão”. Sua canonização ocorreu dois anos depois. O espírito de Francisco continua a inspirar muitos à obediência à Igreja, à promoção do diálogo entre todos, na verdade, na caridade e na tutela da Criação.

Vatican News

sábado, 3 de outubro de 2020

No túmulo de São Francisco, o Papa assina a Encíclica “Fratelli tutti”

Papa Francisco | Vatican News

Na tarde deste sábado, em Assis, Francisco celebrou a missa e assinou a sua terceira Encíclica, agradecendo a Primeira Seção da Secretaria de Estado pelo trabalho realizado na preparação do documento.

Debora Donnini/Mariangela Jaguraba – Vatican News

É um lugar pequeno, um lugar de recolhimento, mas visitado todos os anos por milhares de pessoas dos quatro cantos da terra. Na cripta da Basílica inferior, o Papa Francisco celebrou a missa e no final, no túmulo do Pobrezinho de Assis, assinou a sua terceira Encíclica, “Fratelli tutti”, dedicada à fraternidade e à amizade social, valores imprescindíveis para restaurar a esperança e o impulso a uma humanidade ferida também pela pandemia da Covid-19. Uma encíclica que extrai o seu nome das palavras escritas por São Francisco e que será apresentada neste domingo (04/10).

Gratidão à Primeira Seção da Secretaria de Estado

O Papa Francisco não fez a homilia. A oração, o silêncio e a simplicidade marcaram esta visita que, por vontade do Papa devido à situação de saúde, se realizou sem nenhuma participação dos fiéis, seguindo as palavras da liturgia dedicada a São Francisco, na véspera da Festa do Pobrezinho de Assis. Pouco antes da assinatura, o Papa agradeceu à Primeira Seção da Secretaria de Estado que trabalhou na redação e tradução da Encíclica.

Agora, assinarei a Encíclica que o monsenhor Paolo Braida, encarregado das traduções e também dos discursos do Papa, na Primeira Seção, traz ao altar. Ele supervisiona tudo e por isso que eu quis que ele estivesse presente aqui hoje e me trouxesse a Encíclica. Vieram com ele dois tradutores: pe. Antônio, tradutor da língua portuguesa, que traduziu do espanhol para o português; e o pe. Cruz que é espanhol e supervisionou um pouco as outras traduções do original em espanhol. Faço isso como um sinal de gratidão a toda a Primeira Seção da Secretaria de Estado que trabalhou nesta redação e tradução.

Vatican News

Esta é a quarta vez que o Papa vai a Assis

O Papa Francisco chegou no início da tarde ao Sagrado Convento, adjacente à Basílica que desde 1230 abriga os restos mortais do santo da Úmbria e leva o seu nome. O Pontífice foi recebido pelo custódio do Sagrado Convento de Assis, pe. Mauro Gambetti. A celebração eucarística contou com a participação de cerca de vinte frades, alguns religiosos, junto com o bispo da diocese, Domenico Sorrentino, e o cardeal Agostino Vallini, legado pontifício para as basílicas de São Francisco e Santa Maria dos Anjos, em Assis. Esta é a quarta vez que o Papa Francisco vai a Assis.

Vatican News

TEOLOGIA: A Catolicidade da Igreja (Parte 8/8)

George Florovsky | ECCLESIA

A Catolicidade da Igreja

Trad.: Pe. Pedro Oliveira Junior

10. A nova criação

A missão primordial da Igreja histórica é a proclamação de outro mundo "que virá." A Igreja dá testemunho da nova Vida, aberta e revelada em Cristo Jesus, o Senhor e Salvador. Isso ela faz por palavras e obras. A verdadeira proclamação do Evangelho seria precisamente a prática dessa nova Vida: testemunhar a fé pelas obras (cf. Mt 5,16).

A Igreja é mais que uma companhia de pregadores, ou uma sociedade de ensino, ou um comitê missionário. Ela não tem só que convidar pessoas, mas também deve introduzi-las nessa nova Vida da qual ela dá testemunho. É na verdade um corpo missionário, e seu âmbito de missão é o mundo inteiro. Mas o objetivo de sua atividade missionária não é meramente levar ao povo certas convicções e idéias, nem mesmo impor a eles uma disciplina definida ou uma regra de vida mas, antes de tudo, introduzi-los nesta nova Realidade, convertê-los, trazê-los, através da fé e do arrependimento, ao próprio Cristo, para que possam nascer de novo, d'Ele e n'Ele, pela água e pelo Espírito. Assim o ministério da palavra é completado pelo ministério dos sacramentos.

"Conversão" é um novo começo, mas é só um começo a ser seguido por um longo processo de crescimento. A Igreja tem que organizar a nova vida do convertido. A Igreja tem, como teve, que mostrar os novos modelos de existência, o novo modo de vida, aquele do "mundo que virá." A Igreja é, aqui nesse mundo, para a sua salvação. Mas, justo por essa razão, ela tem que se opor e renunciar a "esse" mundo. Deus pede o homem todo, e a Igreja dá testemunho e apoio a essa exigência totalitária de Deus revelada em Cristo. O cristão tem que ser uma nova criação. Por isso ele não pode encontrar um lugar definido para si próprio dentro dos limites do "velho mundo." Neste sentido a atitude cristã é, como sempre foi, revolucionária com respeito à velha ordem deste mundo. Não sendo "deste mundo" a Igreja de Cristo "neste mundo" só pode estar em permanente oposição, ainda que pleiteie somente uma reforma da ordem existente. Em todo caso, a mudança é para ser radical e total.

11. Antinomias históricas

Falhas históricas da Igreja não obscurecem o caráter absoluto e decisivo do seu desafio, com o qual está comprometida por sua natureza completamente escatológica; e ela se auto-desafia constantemente.

Vida histórica e missão da Igreja são uma antinomia. E essa antinomia não pode ser nunca resolvida ou superada num nível histórico. É mais uma permanente alusão ao que "virá" no futuro. A antinomia está enraizada na alternativa prática que a Igreja teve de enfrentar desde o início da sua peregrinação histórica. Ou a Igreja deveria ser constituída como uma sociedade exclusiva e "totalitária," esforçando-se por satisfazer todas a expectativas dos fiéis, tanto temporais quanto espirituais, não dando atenção à ordem existente e não deixando nada para o mundo exterior - teria sido uma inteira separação do mundo, um decisivo vôo para fora dele e a negação radical de qualquer autoridade externa; ou a Igreja poderia tentar uma cristianização inclusiva do mundo, submetendo a totalidade da vida à regra e autoridade cristã, para reformar e reorganizar a vida secular com base em princípios cristãos, para construir, a cidade Cristã.

Na história da Igreja podemos rastrear estes dois movimentos: um vôo para o deserto e a construção do Império cristão. O primeiro foi praticado não só no monaquismo de várias tendências, como também em outros vários grupos e denominações cristãs O segundo foi a linha principal tomada pelos cristãos tanto do Oriente quanto do Ocidente, até o surgimento do secularismo militante mas, mesmo atualmente, essa solução não perdeu a força e apoio em muitos povos. Em geral, ambos os movimentos não foram bem sucedidos. Tem-se, no entanto, que reconhecer a realidade do seu problema comum e a verdade do seu propósito comum. O cristianismo não é uma religião individualista e não está só preocupado com a "salvação da alma." Cristianismo é a Igreja, isto é, uma comunidade, o novo povo de Deus, conduzindo sua vida corporativa de acordo com seus princípios peculiares. E, essa vida não pode ser dividida em departamentos, alguns dos quais dirigidos por qualquer princípio heterogêneo. A direção da Igreja não pode ser reduzida a uma orientação ocasional dada a indivíduos ou grupos vivendo em condições totalmente não congênitas com a Igreja. A legitimidade dessas condições devem antes de mais nada ser questionada. A tarefa de uma completa recriação ou remodelagem de toda estrutura de vida humana não pode e não deve ser evitada ou declinada. Não se pode servir a dois senhores e, uma dupla fidelidade é uma solução pobre. Aqui, a alternativa acima mencionada, inevitavelmente vem. Tudo o mais seria meramente um compromisso aberto ou uma redução das decisivas e, portanto, totais demandas. Ou os cristãos devem ir para fora do mundo no qual existe outro Senhor além de Cristo (seja qual for o nome que se dê a ele: César ou Mamon, ou qualquer outro) e no qual a regra e o objetivo da vida são outros que não o evangélico - sair do mundo e iniciar uma sociedade separada; ou de novo os cristãos devem transformar o mundo exterior, fazer com que ele também seja o Reino de Deus, introduzindo os princípios do Evangelho na legislação secular.

Há uma consistência interna em ambos os programas. E, por isso a separação dos dois caminhos é inevitável. Os cristãos parecem compelidos a tomar caminhos diferentes. A unidade da missão cristã está quebrada. Um cisma interno surge dentro da Igreja: uma separação anormal entre os monges (ou a elite dos iniciados) e o povo-leigo (incluindo clero), o que é muito mais perigoso do que a alegada "clericalização" da Igreja. Em última instância, no entanto, é só um sintoma da decisiva antinomia. O problema não tem solução histórica. Uma verdadeira solução transcenderia a história, ela pertence ao "tempo que virá." Nesse tempo, no plano histórico, nenhum principio constitucional pode ser dado, mas somente um princípio regulativo: um princípio de discriminação não um princípio de construção.

Pois, novamente cada um dos dois programas é contraditório em si. Há uma inerente tentação sectária no primeiro (monaquismo): o caráter "católico" e universal da mensagem cristã e do seu propósito, é aqui freqüentemente obscurecido e com freqüência deliberadamente negado, e o mundo é simplesmente deixado fora da visão. E, quanto ao segundo, todas as tentativas de uma direta cristianização do mundo, de modo a torná-lo um Estado ou Império cristão, somente tem conduzido a uma mais ou menos aguda secularização do próprio cristianismo. (Para um tratamento mais detalhado do tema, ver George Florovsky, The Antinomies of Christian History, que será publicado nos Collected Works de George Florovsky). Works de George Florovsky).

Em nosso tempo ninguém consideraria possível a conversão de todos para um monaquismo universal ou a realização de um verdadeiro e universal Estado cristão. A Igreja permanece "no mundo," como um corpo heterogêneo, e a tensão atual é maior do que jamais foi; a ambigüidade da situação é dolorosamente sentida por todos na Igreja. Um programa prático para o tempo presente só pode ser deduzido de uma compreensão restaurada da natureza e essência da Igreja. E a falha de todas expectativas utópicas não pode obscurecer a esperança cristã: o Rei veio, o Senhor Jesus Cristo, e seu Reino virá.


FONTE:

Folheto Missionário nP95. Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant


Ecclesia

O sacramento da unção dos enfermos pode realmente ajudar na cura?

Kzenon

O sacramento da unção dos enfermos é um excelente "remédio" porque tem muitos benefícios e nenhum efeito colateral. Mas é realmente eficaz?

Já se atreveu a falar sobre o sacramento da unção dos enfermos à uma pessoa do seu ambiente que sofre de uma doença grave? E se a nova evangelização passasse principalmente por esse tipo de proposição às vezes esquecida? No entanto, vamos confessar, a parte do sacramento da unção dos enfermos no ministério sacerdotal não é a que mais ocupa o tempo hoje em dia.

No entanto, este sacramento nos fala muito e nos faz viver o mistério pascal e a presença salvífica de Cristo! Talvez devamos ter clareza sobre este sacramento nos momentos mais lúcidos de nossas vidas para não termos que pedi-lo no meio de um sofrimento.

E este momento não é apenas o da perspectiva da morte certa. A unção dos enfermos, que é uma das formas deste sacramento, pode ser experimentada em qualquer momento crítico de uma doença grave. Mas, o que podemos falar da sua eficácia?

Como é medida a eficácia do sacramento da unção dos enfermos?

Quando falamos em eficácia, frequentemente falamos a partir dos caminhos do mundo, o da utilidade imediata, determinada de antemão. O sacramento da unção dos enfermos, como todos os sacramentos, nos convida a uma mudança profunda. É a eficácia da livre iniciativa de Deus que está em questão. Vivenciando a expropriação de nós mesmos para acolher o dom gratuito de Deus. Ir do nosso desejo de cura para o desejo de Deus, o de nossa salvação. Para passar da posse de nossa própria vida à de uma filiação com respeito ao Pai que nos deu a vida. É nessas mudanças que poderíamos medir a eficácia do sacramento da unção dos enfermos e suas consequências. Acolher uma paz profunda, a de saber que somos acompanhados, amados, escolhidos, sem determinar de antemão o caminho desta paz e deste amor renovado.

O sacramento é eficaz quando faz o que diz. É o que ele anuncia: “Por esta santa unção e pela sua benigna misericórdia, o Senhor vos ajude com a graça do Espírito Santo, para que, livre de vossos pecados, vos dê a salvação e vos console na vossa doença”. Fala-nos de uma união consoladora com o Senhor que, para a nossa salvação, viveu a passagem pela Paixão. Fala-nos da libertação da prisão do pecado que nos atrai de volta para nós mesmos. Fala-nos de uma nova dimensão da vida: escolher a luta contra a doença sem prever o seu fruto, mas aberta ao horizonte da salvação de Deus.

O Concílio de Florença afirma que o efeito deste sacramento é “a saúde da alma e, conforme apropriado [para a alma], também a do próprio corpo”. Portanto, trata-se de tomar a decisão de nos colocar sob a amorosa vontade de Deus. E é também com o amor de nós mesmos, desde a nossa fragilidade, através do amor infinito de Deus, que poderíamos medir a eficácia do sacramento da unção dos enfermos!

Padre Marc Fassier

Aleteia

A forma do batismo: somente por imersão? (Parte 5/12) – O banho interior

Veritatis Splendor

O BANHO INTERIOR

Sim, Jesus é claro: temos que nos purificar interiormente, não importa se a forma da água é por infusão ou por imersão. O que importa é o que está dentro. Jesus aponta aqui também para o batismo. Por quê? Porque, como vimos anteriormente, através desse sacrifício que Jesus fez na Cruz Ele nos limpa de todo pecado mediante o batismo, pois é o Espírito Santo quem atua nesse ato:

  • “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3,11).

O texto é muito claro e específico, pois diz que Jesus batizará com o Espírito Santo.

Porém, porque o texto também diz “com fogo”? Porque o “fogo” significa purificação interior (cf. Malaquias 3,2-3).

Assim é que pelo batismo somos limpos interiormente pelo Espírito e não pela água, pois este elemento por si só é símbolo tanto do Espírito Santo (cf. Isaías 55,1; 12,3; Ezequiel 36,25; Jeremias 2,13; Zacarias 14,8; João 7,37-39Apocalipse 21,6; 22,17) quanto de purificação, como já vimos antes.

Pois bem: da mesma forma que João Batista, Jesus também anuncia que serão batizados pelo Espírito Santo no dia de Pentecostes:

  • “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (Atos 1,5).

Será que os Apóstolos foram mergulhados para receber o Espírito Santo? A resposta é: não! O Espírito Santo chegou para eles como derramamento em línguas de fogo sobra a cabeça:

  • “E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Atos 2,3-4).

Aqui a palavra “batismo” tampouco se refere a submergir. Além disso, podemos perceber que o importante no batismo é o “nascer de novo” pelo Espírito, como Jesus anuncia a Nicodemos:

  • “Jesus respondeu, e disse-lhe: ‘Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de cima, não pode ver o reino de Deus’. (…) Jesus respondeu: ‘Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo'” (João 3,3.5-7).

Com efeito, esse “nascer de cima” é pelo Espírito Santo que chega até nós a partir de cima (derramado). E recordemos que a água do batismo simboliza o Espírito Santo (derramado) e, obviamente, a purificação:

  • “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1Coríntios 12,13).
  • “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3,5).
  • “Levanta-te, batiza-te e lava teus pecados invocando seu Nome” (Atos 22,12-16).

O “banho de regeneração” é precisamente o batismo: um “banho” que nos regenera para sermos um novo homem, pois nascemos para uma vida nova. E claro, um “banho” é também por infusão.

Vamos às Escrituras ver alguns eventos que às vezes apontam para algum Sacramento e, no caso do batismo, há vários (como vimos em relação ao centurião Longino). Vejamos o caso do cego de nascença:

  • “Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: ‘Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa ‘o Enviado’)’. Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo” (João 9,6-7).

Eis uma mensagem teológica sobre o batismo: o homem era cego de nascença; ao lavar-se, “aspergindo” água sobre os seus olhos, retornou enxergando! Assim também com o batismo: ele nos lava, nos purifica e a cegueira que trazemos desde o nascimento (pecado original) fica para trás, para que possamos abrir os olhos, para que possamos ver Cristo. Não é impossível que, nesse pensamento (de João), estas águas de Siloé – a água do “Enviado” – façam alusão ao batismo cristão. Tanto pelo “simbolismo” do seu Evangelho quanto por ter falado dele no capítulo 3 (João 3,3-7), o mesmo que na época da composição do seu Evangelho.

Bom, e já que falamos de derramamento do Espírito Santo e de limpeza interior, há no Antigo Testamento uma bela referência ao batismo cristão. Diz assim:

  • “E vos tomarei dentre os gentios, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (Ezequiel 36,24-27).

Estas palavras são típicas do pacto que Deus deu ao seu povo desde a época de Abraão. Observe-se a transformação que tem lugar espiritualmente, cuja essência é a limpeza interior. É assinalida pela aspersão da água pura. E o conhecidíssimo batismo da antiga dispensação. E eses sugere que este mesmo símbolo sera proeminente na futura restauração de Israel. Podemos acrescentar que se a aspersão era sobressalente no passado, e o será no futuro, não dever ser considerada com a mesma importância no presente?

É o que devem responder os nossos amigos imersionistas…

Veritatis Splendor

A religião que agrada a Deus

Cardeal Odílio Scherer

Ter religião é parte da vivência humana e das suas expressões culturais. Há muitas formas de religião e religiosidade, por meio das quais o homem se relaciona com a transcendência. Se a religião é, contudo, uma manifestação humana importante, na visão cristã, não basta ter religião e religiosidade, mas importa vivê-las de maneira correta.

Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo

Algum modo de viver a religião se expressa na tentativa de tomar posse do divino para manipulá-lo e servir-se dele, ao bel-prazer do homem. De certa maneira, essa seria a expressão do desejo de submeter Deus à vontade e aos desejos do homem. Não seria, pois, uma forma correta de viver a religião, mas, sim, um profundo desrespeito a Deus, e revelaria a pretensão de estar acima Dele e de mandar Nele. Definitivamente, isso não pode ser do Seu agrado.

Em outras formas de religiosidade, o homem faz da religião uma fonte de lucro e de busca de prestígio e vaidades. Nesse caso, a referência da religiosidade não é o sobrenatural e o divino, mas o ganho econômico, reduzindo o divino à condição de mercadoria e objeto de transação comercial. Também essa forma de conceber a religião não pode agradar a Deus, e a Bíblia deixa claro que Ele rejeita essa forma desrespeitosa de tratá-lo e de instrumentalizar a religião em vista do lucro material.

Há também formas de religiosidade mediante as quais o homem tenta submeter seu semelhante a um regime de pavor e dependência, ou de sujeição fanática. Nesse caso, não se trata de submeter o homem ao poder e à soberania de Deus, mas do próprio homem. Também essa forma de propor ou viver a religiosidade seria equivocada e perniciosa, pois não levaria a Deus e acabaria produzindo uma espécie de ídolo para colocá-lo em Seu lugar e desviaria para o homem a glória e a sujeição devidas somente a Deus. A verdadeira religiosidade liberta e dá dignidade ao homem, em vez de escravizá-lo e de tirar a sua dignidade.

Há ainda formas de religiosidade meramente formais, reduzidas a ritos exteriores, afirmações intelectuais ou fórmulas cabalísticas, sem incidência na vida pessoal e social. Os profetas do Antigo Testamento e Jesus, no Novo Testamento, são muito críticos em relação a tal forma de religiosidade esquizofrênica e hipócrita. A pretensão de agradar a Deus, sem acolher os seus desígnios e sem obedecer à sua lei, seria profundamente equivocada e falsa.

Qual seria, no entender cristão, a forma correta de viver a religião? Diversos são os elementos da religiosidade bíblico-cristã. Antes de tudo, o reconhecimento sincero e humilde de Deus e de sua soberania sobre o mundo e o homem. O homem não é Deus, nem é igual a Deus, e a soberba humana no trato com o divino e o sobrenatural é das coisas detestáveis diante de Deus. Por outro lado, fazem parte da religiosidade verdadeira a atitude de contemplação, a escuta e a perscrutação da sabedoria e da vontade de Deus a nosso respeito e a respeito do mundo. Essas atitudes levam à adoração e à acolhida do amor misericordioso de Deus para conosco.

Foi Deus que nos amou primeiro e pensou em nós antes mesmo de existirmos. O homem não impõe nada a Deus, mas pode perguntar tudo, quando se deixa envolver de paternidade e familiaridade por Ele. A religiosidade verdadeira leva à obediência a Deus e a colaborar com alegre zelo na sua obra, pois Deus dá ao homem essa dignidade extraordinária.

A religião e a religiosidade, segundo a nossa compreensão cristã, incluem uma referência dupla: Deus e as realidades sobrenaturais de um lado; o homem e as coisas naturais, de outro. Nossa fé nos faz olhar para cima, para os lados e ao nosso redor. Como lembra São João, “não podemos dizer que amamos a Deus, a quem não vemos, se não amamos nosso próximo, a quem vemos” (cf. 1Jo 4,20). Respeito e amor verdadeiro a Deus, sem respeito e amor ao próximo, não existe. E isso inclui também o apreço, respeito e cuidado pela obra de Deus, nossa “casa comum”, como nos lembrou o Papa Francisco na encíclica Laudato si`. A religião e a religiosidade cristã são confrontadas com o Deus Criador, que também é o Deus Salvador, que se encarnou e se fez humanidade, assumindo sobre si a realidade humana para redimi-la. A uma religiosidade que não incluísse a atenção ao homem faltaria muito para ser verdadeiramente cristã.

Fonte: O São Paulo

Arquidiocese de São Paulo

PROTOMÁRTIRES DO BRASIL

Canção Nova

Fazemos memória aos Protomártires do Brasil, missionários e leigos martirizados.

Dentro da conturbada invasão dos holandeses no nordeste do Brasil, encontram-se os dois martírios coletivos: o de Cunhaú e o de Uruaçu. Estes martírios aconteceram no ano de 1645, sendo que o Pe. André de Soveral e Domingos de Carvalho foram mártires em Cunhaú e o Pe. Ambrósio Francisco Ferro e Mateus Moreira em Uruaçu; dentre outros.

No Engenho de Cunhaú, principal pólo econômico da Capitania do Rio Grande (atual estado do Rio Grande do Norte), existia uma pequena e fervorosa comunidade composta por 70 pessoas sob os cuidados do Pe. André de Soveral. No dia 15 de julho chegou em Cunhaú Jacó Rabe, trazendo consigo seus liderados, os ferozes tapuias, e, além deles, alguns potiguares com o chefe Jerera e soldados holandeses. Jacó Rabe era conhecido por seus saques e desmandos, feitos com a conivência dos holandeses, deixando um rastro de destruição por onde passava.

Dizendo-se em missão oficial pelo Supremo Conselho Holandês do Recife, convoca a população para ouvir as ordens do Conselho após a missa dominical no dia seguinte. Durante a Santa Missa, após a elevação da hóstia e do cálice, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina: os fiéis em oração, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelos flamengos com a ajuda dos tapuias e dos potiguares.

A notícia do massacre de Cunhaú espalhou-se por todo o Rio Grande e capitanias vizinhas, mesmo suspeitando dessa conivência do governo holandês, alguns moradores influentes pediram asilo ao comandante da Fortaleza dos Reis Magos. Assim, foram recebidos como hóspedes o vigário Pe. Ambrósio Francisco Ferro, Antônio Vilela, o Moço, Francisco de Bastos, Diogo Pereira e José do Porto. Os outros moradores, a grande maioria, não podendo ficar no Forte, assumiram a sua própria defesa, construindo uma fortificação na pequena cidade de Potengi, a 25 km de Fortaleza.

Enquanto isso, Jacó Rabe prosseguia com seus crimes. Após passar por várias localidades do Rio Grande e da Paraíba, Rabe foi então à Potengi, e encontrou heróica resistência armada dos fortificados. Como sabiam que ele mandara matar os inocentes de Cunhaú, resistiram o mais que puderam, por 16 dias, até que chegaram duas peças de artilharia vindas da Fortaleza dos Reis Magos. Não tinham como enfrentá-las. Depuseram as armas e entregaram-se nas mãos de Deus.

Cinco reféns foram levados à Fortaleza: Estêvão Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira e Simão Correia. Desse modo, os moradores do Rio Grande ficaram em dois grupos: 12 na Fortaleza e o restante sob custódia em Potengi.

Dia 2 de outubro chegaram ordens de Recife mandando matar todos os moradores, o que foi feito no dia seguinte, 3 de outubro. Os holandeses decidiram eliminar primeiro os 12 da Fortaleza, por serem pessoas influentes, servindo de exemplo: o vigário, um escabino, um rico proprietário.

Foram embarcados e levados rio acima para o porto de Uruaçu. Lá os esperava o chefe indígena potiguar Antônio Paraopaba e um pelotão armado de duzentos índios seus comandados. Repetiram-se então as piores atrocidades e barbáries, que os próprios cronistas da época sentiam pejo em contá-las, porque atentavam às leis da moral e modéstia.

Um deles, Mateus Moreira, estando ainda vivo, foi-lhe arrancado o coração das costas, mas ele ainda teve forças para proclamar a sua fé na Eucaristia, dizendo: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.

A 5 de março de 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa João Paulo II beatificou os 30 protomártires brasileiros, sendo 2 sacerdotes e 28 leigos beatificados.

Protomártires do Brasil, rogai por nós!

Por Canção Nova.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

O Que é o Monte Sião?

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Sião significa a cidade celeste (Orígenes)

SION – (Bibl) Na Bíblia , fora de 2Sm 5, 7; 1Rs (2Rs 19, 21.31); 2Cr 5, 2; 1Mc 4, 37.60; 5, 54; 6, 48.62; 7, 33; 10, 11; 14, 26, o nome de Sion, ou Sião, encontra-se apenas nos Salmos (38 vezes) e na literatura profética, a saber, 29 vezes em Is; 17 vezes em Is 2; 15 vezes em Jr; 9 vezes em Mq; 7 vezes em Jl; 8 vezes em Zc 1 – 9 vezes e 15 vezes em Lm; ainda em Am 1, 2; 6, 1; Ab 17, 21; Sf 3, 14-16 e afinal em Ct 3, 11; Eclo 24, 10; 36, 19; 48, 18.24; Br 4,9.14-24.

É nome cananeu, pré-israelita que, como aconteceu em muitos casos, continuou a ser usado na poesia, embora com sentido um tanto modificado. Em 2Sm, 1Cr 11, 5 fala-se no “sudat siyyon”, o que muitos traduzem por “fortaleza do Sion”, mas que pode ser interpretada como “o lugar inacessível” (fortaleza) chamado Sion de sorte que é nome da fortaleza e não de um conjunto maior, do qual a fortaleza formaria uma parte.

Logo depois da marcha de Davi contra Jerusalém alude-se à inacessibilidade da cidade, mas a atenção concentra-se de tal maneira em torno da fortaleza de Sion que causa a impressão de que essa inacessibilidade não era qualidade da cidade toda, mas só de Sion que, por conseguinte, pode ser considerado como acrópole.

Como muitos textos bíblicos já faziam suspeitar e as escavações de modo convincente, a fortaleza achava-se na colina sudeste (ed-dahurah) e não, como pensava a tradição, na colina sudoeste. Localizava-se na parte central de ed-dahurah, e ocupava toda a colina sudeste, de acordo com a denominação “Cidade de Davi” que, conforme 2Sm 5, 9; 2Cr 11, 7 se dava ao Sion, pois o tema “cidade” abrange mais do que apenas uma fortaleza. Aliás, era fácil transformar todo o ed-dahurah em “lugar inacessível”, por meio da muralha pesada do lado do norte.

Isaías e os salmistas gostam da expressão har siyyon (o monte del Sion) que se encontra também em Jl 3, 5; Ab 17, 21; Mq 4, 7; Lm 5, 18. Jeremias fala uma vez na altura de Sion (31, 12). Esse último texto, bem como Is 10, 32; 16, 1 (o monte da filha de Sion); 31, 14 (no monte Sion, e na sua colina); Lm 5, 18 (comparado com v. 11 onde Sion e a cidade de Jerusalém) etc, provam pelo menos de determinada colina; cf. Mq 4, 8 que chama aquela perta da colina oriental de Jerusalém onde se achava a residência real, o “Ofel da filha de Sion”. Na maioria dos casos, trata-se de um conjunto de colinas em que Jerusalém estava construída (Sl 133, 3 usa o plural), de sorte  que “o monte Sion”, tem o mesmo sentido que a expressão “o monte (de) Samaria” (Am 3, 9; 4, 1; 6, 1; Jr 31, 5).

A identidade entre “o monte (de) Sion” e Jerusalém, suposta pelo paralelismo de Is 37, 32; Jl 3, 5 (cf. também Is 10, 12; 24, 23), é muito evidente no Sl 48. A tradição cristã, que remonta pelo menos no século IV d.C, dá o nome de Sion à colina sudoeste de Jerusalém, o “mons Sion christianus”,  onde o santuário de “Sancta Sion”, guardava a lembrança do cenáculo (última Ceia e descida do Espírito Santo). Essa opinião tem talvez sua origem no fato de que no século I d.C (cf. Antig 7, 3, Is; para um tempo mais remoto ainda, cf. 1Mc 1, 33) a cidade de Davi era localizada nesta colina, mais ainda no fato de que aí estivera o berço da Igreja. No monte Sion foi erguida a basílica cristã “Sancta Sion Mater omnium Ecclesiarum”.

Dicionário Enciclopédico das Religiões – Volume II – Pág. 2394.

Hugo Schlesinger e Humberto Porto

Editora Vozes – Petrópolis 1995

Papa Francisco pede para não voltarmos para uma "normalidade doentia"

Vatican News
https://youtu.be/OSK6uFqmlH4

"Precisamos de trabalhar urgentemente para gerar boas políticas, para conceber sistemas de organização social que recompensem a participação, o cuidado e a generosidade"

Em sua catequese desta quarta-feira, no Vaticano, o Papa Francisco discursou mais uma vez sobre como curar o mundo que sofre de um mal-estar que a pandemia realçou e acentuou.

O Papa pediu que “possamos continuar a caminhar juntos, mantendo os olhos fixos em Jesus”: o nosso olhar em Jesus que “salva e cura o mundo”.

Mobilizados interiormente por estes clamores que reclamam de nós outra linha de ação, reclamam uma mudança, poderemos contribuir para a cura das relações com os nossos dons e capacidades.

 Assim – prosseguiu o Papa – “poderemos regenerar a sociedade e não voltar à chamada ‘normalidade’, que é uma normalidade doentia, aliás, estava doente já antes da pandemia: a pandemia realçou-a”.

“Agora voltemos à normalidade”: não, assim não pode ser, porque esta normalidade estava doente de injustiças, desigualdades e degradação ambiental. A normalidade a que somos chamados é a do Reino de Deus.

De acordo com o Papa, na normalidade do Reino de Deus “o pão chega a todos e sobra, a organização social baseia-se em contribuir, partilhar e distribuir, não em possuir, excluir e acumular”.

O gesto que faz progredir uma sociedade, uma família, um bairro, uma cidade, todos, é doar-se, dar, que não é dar esmola, mas uma dádiva que vem do coração. Um gesto que afasta o egoísmo e a ansiedade de possuir.

O Papa explicou que “nunca conseguiremos sair da crise que emergiu da pandemia, mecanicamente, com novos instrumentos – que são muito importantes, que nos fazem ir em frente e dos quais não devemos ter medo – mas sabendo que os meios mais sofisticados poderão fazer muitas coisas, mas uma coisa eles nunca poderão fazer: a ternura”.

E a ternura é o próprio sinal da presença de Jesus. Aproximar-se do outro para caminhar, para curar, para ajudar, para se sacrificar pelo outro.

Assim – disse o Papa –, “a normalidade do Reino de Deus é importante: que o pão chegue a todos, a organização social se baseie em contribuir, partilhar e distribuir, com ternura, e não em possuir, excluir e acumular. Pois no final da existência nada levaremos para a outra vida”.

Precisamos de trabalhar urgentemente para gerar boas políticas, para conceber sistemas de organização social que recompensem a participação, o cuidado e a generosidade, e não a indiferença, a exploração e os interesses particulares.

Devemos ir em frente com ternura.Uma sociedade solidária e equitativa é uma sociedade mais saudável. Uma sociedade participativa – onde os “últimos” são considerados os “primeiros” – fortalece a comunhão. Uma sociedade onde a diversidade é respeitada é muito mais resistente a qualquer tipo de vírus.

Eis a íntegra da catequese do Papa:

PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL

Pátio São Dâmaso

Quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Nas últimas semanas, refletimos juntos, à luz do Evangelho, sobre como curar o mundo que sofre de um mal-estar que a pandemia  realçou e acentuou. Já havia o mal-estar: a pandemia realçou-o mais, acentuou-o.Percorremos os caminhos da dignidade, da solidariedade e da subsidiariedade, caminhos indispensáveis para promover a dignidade humana e o bem comum. E, como discípulos de Jesus, começamos a seguir os seus passos, optando pelos pobresreconsiderando o uso dos bens e cuidando da casa comum. No meio da pandemia que nos aflige, ancorámo-nos nos princípios da doutrina social da Igreja, deixando-nos guiar pela fé, pela esperança e pela caridade. Aqui encontramos uma ajuda sólida para sermos agentes de transformação que fazem sonhos  grandiosos, que não se detêm nas mesquinharias que dividem e magoam, mas encorajam a gerar um mundo novo e melhor.

Gostaria que este percurso não termine com estas minhas catequeses, mas que possamos continuar a caminhar juntos, «mantendo os olhos fixos em Jesus» (Hb 12, 2), como ouvimos no início; o nosso olhar em Jesus que salva e cura o mundo. Como o Evangelho nos mostra, Jesus curou os doentes de todos os tipos (cf. Mt 9, 35), restituiu a vista aos cegos, a palavra aos mudos e audição aos surdos. E quando curava doenças e enfermidades físicas, também curava o espírito perdoando pecados, porque Jesus perdoa sempre, bem como as «dores sociais» incluindo os marginalizados (cf.Catecismo da Igreja Católica, 1421). Jesus, que renova e reconcilia cada criatura (cf. 2 Cor 5, 17; Cl 1, 19-20), concede-nos os dons necessários para amar e curar como ele sabia fazer (cf. Lc 10, 1-9; Jo 15, 9-17), para cuidar de todos sem distinção de raça, língua ou nação.

Para que isto aconteça realmente, precisamos de contemplar e apreciar a beleza de cada ser humano e de cada criatura. Fomos concebidos no coração de Deus (cf. Ef 1, 3-5). «Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário»[1]. Além disso, cada criatura tem algo a dizer-nos sobre Deus  Criador (cf. Enc. Laudato si’69.239). Reconhecer esta verdade e dar graças pelos vínculos íntimos da nossa comunhão universal com todas as pessoas e todas as criaturas ativa «um cuidado generoso e cheio de ternura» (ibid., 220). Ajuda-nos também a reconhecer Cristo presente nos nossos irmãos e irmãs pobres e sofredores, a encontrá-los e a ouvir o seu clamor e o clamor da terra que lhes faz eco (cf.ibid., 49).

Mobilizados interiormente por estes clamores que reclamam de nós  outra linha de ação (cf.ibid., 53), reclamam uma mudança, poderemos contribuir para a cura das relações com os nossos dons e capacidades (cf.ibid., 19). Poderemos regenerar a sociedade e não voltar à chamada “normalidade”, que é uma normalidade doentia, aliás, estava doente já antes da pandemia: a pandemia realçou-a! “Agora voltemos à normalidade”: não, assim não pode ser, porque esta normalidade estava doente de injustiças, desigualdades e degradação ambiental. A normalidade a que somos chamados é a do Reino de Deus, onde «os cegos veem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres» (Mt 11, 5). E ninguém faz de contas  olhando para o outro lado. É isto  que temos de fazer para mudar.Na normalidade do Reino de Deus o pão chega a todos e sobra, a organização social baseia-se em contribuir, partilhar e distribuir, não em possuir, excluir e acumular (cf. Mt 14, 13-21). O gesto que faz progredir uma sociedade, uma família, um bairro, uma cidade, todos, é doar-se, dar, que não é dar esmola, mas uma dádiva que vem do coração. Um gesto que afasta o egoísmo e a ansiedade de possuir. Mas o modo cristão de o fazer não é um modo mecânico: é um modo humano. Nunca conseguiremos sair da crise que emergiu da pandemia, mecanicamente, com novos instrumentos – que são muito importantes, que nos fazem ir em frente e dos quais não devemos ter medo – mas sabendo que os meios mais sofisticados poderão fazer muitas coisas, mas uma coisa eles nunca poderão fazer: a ternura. E a ternura é o próprio sinal da presença de Jesus. Aproximar-se  do outro para caminhar, para curar, para ajudar, para se sacrificar pelo outro.

Assim, a normalidade do Reino de Deus é importante: que o pão chegue a todos, a organização social se baseie em contribuir, partilhar e distribuir, com ternura, e não em possuir, excluir e acumular. Pois no final da existência nada levaremos para a outra vida!

Um pequeno vírus continua a causar feridas profundas e a expor as nossas vulnerabilidades físicas, sociais e espirituais. Pôs a nu a grande desigualdade que reina no mundo: desigualdade de oportunidades, de bens, de acesso aos cuidados médicos, à tecnologia, à educação: milhões de crianças não podem ir à escola, e assim por diante. Estas injustiças não são naturais nem inevitáveis. São obra do homem, vêm de um modelo de crescimento separado dos valores mais profundos. O desperdício das sobras de refeições: com esse desperdício podemos dar de comer a toda a gente. E isto fez com que muitas pessoas perdessem a esperança e aumentou a incerteza e a angústia. É por isso que, para sair da pandemia, temos de encontrar a cura não só para o coronavírus – que é importante! – mas também para os grandes vírus humanos e socioeconómicos. Não devemos escondê-los, dando uma pincelada para que não possam ser vistos. E certamente não podemos esperar que o modelo económico subjacente ao desenvolvimento injusto e insustentável resolva os nossos problemas. Não o fez nem o fará, pois não o pode fazer, apesar de alguns falsos profetas continuarem a prometer “o efeito dominó” que nunca chega[2]. Ouvistes o teorema do copo: o importante é que o copo se encha e assim depois cai sobre os pobres e sobre os demais, e recebem riquezas. Mas há um fenómeno: o copo começa a encher-se e quando está quase cheio, cresce, cresce e cresce  mas nunca acontece o efeito dominó. Deve-se ter cuidado.

Precisamos de trabalhar urgentemente para gerar boas políticas, para conceber sistemas de organização social que recompensem a participação, o cuidado e a generosidade, e não a indiferença, a exploração e os interesses particulares. Devemos ir em frente com ternura.Uma sociedade solidária e equitativa é uma sociedade mais saudável. Uma sociedade participativa – onde os “últimos” são considerados os “primeiros” – fortalece a comunhão. Uma sociedade onde a diversidade é respeitada é muito mais resistente a qualquer tipo de vírus.

Coloquemos este caminho de cura sob a proteção da Virgem Maria, Nossa Senhora da Saúde. Ela, que carregou Jesus no seu ventre, nos ajude a ter confiança. Animados pelo Espírito Santo, poderemos trabalhar juntos para o Reinode Deus que Cristo inaugurou, vindo até nós, neste mundo. É um Reino de luz no meio da escuridão, de justiça no meio de tantos ultrajes, de alegria no meio de tanta dor, de cura e salvação no meio da doença e da morte, de ternura no meio do ódio. Que Deus nos conceda “viralizar” o amor e globalizar a esperança à luz da .

[1] Bento XVI, Homilia para o Início do Ministério Petrino (24 de abril de 2005); cf. Laudato si’, 65.

[2] “Trickle-down effect” em inglês, “derrame” em espanhol (cf.Evangelii gaudium, 54).

Saudações:

Dirijo uma cordial saudação aos fiéis de língua portuguesa. Hoje celebramos a memória de São Jerônimo que nos lembra que a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo. Queridos amigos, de bom grado fazei da Bíblia o alimento diário do vosso diálogo com o Senhor, assim vos convertereis em colaboradores sempre mais disponíveis para trabalhar pelo Reino que Jesus inaugurou neste mundo. Que Deus vos abençoe a vós e a vossos entes queridos!

Resumo da catequese do Santo Padre:

Durante as últimas semanas, refletimos, à luz do Evangelho, sobre o modo de curar o mundo, percorrendo, ancorados nos princípios da doutrina social da Igreja e guiados pela fé, esperança e caridade, os caminhos da dignidade, da solidariedade, da subsidiariedade, necessários para promover a dignidade humana e o bem comum, optando pelos pobres, repensando o uso dos bens e assumindo o cuidado da nossa casa comum. Esses caminhos nos inspiram a preparar o futuro junto com Jesus, que salva e cura as pessoas e as relações humanas, renovando e reconciliando a todas as criaturas, sem fazer distinção de raça, língua ou nação. Jesus nos ensina que cada um de nós é querido e amado por Deus e que devemos saber reconhecê-Lo presente nos nossos irmãos, sobretudo nos pobres e sofredores. Desse modo poderemos regenerar a sociedade e não voltar à famigerada “normalidade”, uma vez que tal normalidade, como nos evidenciou a pandemia, estava doente de injustiças, desigualdades e degradação ambiental. A normalidade, à qual estamos, chamados é a do Reino de Deus, marcada pela partilha e a solidariedade. Esse é o caminho para construir uma sociedade participativa muito mais resistente a qualquer tipo de vírus. Neste processo de cura, contamos com a proteção da Virgem Maria, Nossa Senhora da Saúde, que há de nos ajudar a “viralizar” o amor e a globalizar a esperança à luz da fé.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF