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sábado, 11 de março de 2023

O Papa Francisco: "Quero ir à Argentina"

Entrevista do Papa Francisco ao Infobae (Vatican Media)

Em uma longa entrevista concedida a Daniel Hadad, fundador de Infobae, site de informação on-line argentino, o Pontífice fala, entre outros, sobre sua eleição à Cátedra de Pedro - dez anos atrás, faz uma homenagem ao cardeal brasileiro Cláudio Hummes, que o inspirou na escolha do nome Francisco, e fala de seus hábitos. Ele também fala sobre o drama do tráfico de drogas na América Latina, a situação na Venezuela e na Nicarágua e sobre uma possível viagem à sua Argentina.

Vatican News

Na segunda-feira, 13 de março, Bergoglio está completando 10 anos como Papa, mas acredita que não mudou no essencial. Ele mantém, de fato, a mesma atitude que sempre teve, as nuances do espanhol de Buenos Aires, o humor um pouco cândido. Trazemos, a seguir, um trecho da longa entrevista concedida a Daniel Hadad, fundador de Infobae, site de informação on-line argentino.

Completam-se 10 anos do dia em que foi eleito Papa. Lembra-se desse dia? O que lhe vem à mente primeiro?

Várias vezes quis me lembrar do que aconteceu. Realmente, não me dei conta do que ia acontecer. Como, você não tinha votos? Sim, muitos tinham votos ali, mas no conclave há o fenômeno dos votos depósito. Às vezes não se sabe em quem votar e por isso se espera um pouco, e se dá a alguém que não vai sair, para ver como as coisas vão. É assim que o Espírito Santo move alguém, não é mesmo? De manhã eu vim aqui tranquilo, ao meio-dia, e alguns me fizeram brincadeiras de passagem, que eu não entendi. Mesmo quando cheguei ao refeitório, alguns bispos do centro da Europa me disseram: "Vamos, eminência, o que nos conta sobre a América Latina? Eles me examinaram. Quando eu estava saindo do refeitório, um cardeal veio correndo por trás e me disse: "Um momento, por favor, é verdade que lhe tiraram um pulmão? Eu disse "Não, me tiraram o lóbulo superior direito porque tinha cistos". "Ah, e quando isso aconteceu? E eu disse: "No ano '57″. E ele disse "Estas manobras de última hora..." e voltou para trás. E foi aí que percebi. Foi aí que me dei conta de que havia uma campanha a favor e uma campanha contra. Depois, fui fazer a sesta tranquilo.

Outra lembrança interessante é que, quando cheguei - isto é o que os psicólogos diriam o inconsciente - antes de entrar na Sistina, encontrei o cardeal [Gianfranco] Ravasi e começamos a caminhar na grande sala antes da Sistina. E eu lhe disse: "Sabe que para minhas aulas de escritos sapienciais eu uso - eu costumava usá-los, agora não dou mais aula - seus livros?" E comecei a explicar e começamos a falar sobre os livros sapienciais e ambos entramos em sintonia, até ouvir um grito: "Os senhores vão entrar ou não? Porque eu vou fechar a porta". O inconsciente de não querer entrar. São coisas que não se pode controlar.

Foi muito diferente da eleição de 2005?

Não. A dinâmica é a mesma. Esta teve uma votação a mais. Em 2005, foi na primeira votação da tarde. Nesta, foi na segunda da tarde. Na primeira, já se podia ver a tendência.

E aqui quero prestar homenagem a um grande amigo, o cardeal [Cláudio] Hummes, que estava sentado atrás de mim e veio até mim na primeira votação e me disse: "Não tenha medo, é assim que o Espírito Santo age". Até me emociono porque ele morreu há pouco tempo e eu gostava muito dele. E quando fui eleito na segunda votação - alcancei a marca dos dois terços e a contagem continuava, todos estavam aplaudindo enquanto a contagem continuava -, ele se levantou, me abraçou e me disse "Não se esqueça dos pobres". Isto me toca. Um grande homem, Hummes, um grande homem. Um grande homem. Ele morreu há alguns meses. Silencioso, porém, ele estava marcando o caminho. Bem, os pobres, o que eu sei: São Francisco. Francisco, ponto. Então quando o cardeal [Giovanni Battista] Re me perguntou "Que nome quer dar a si mesmo?", eu disse "Francisco", ponto.

Muitas pessoas que o conhecem há anos às vezes me dizem que o senhor parece muito mais feliz do que antes, desde que se tornou Papa. O senhor sente isso?

Sempre estive contente com meu ministério, mesmo nos momentos difíceis, de dificuldades que tive, porque tive que resolver problemas bastante espinhosos, ou ajudar a resolvê-los. Mas nada jamais me tirou minha paz interior. Essa felicidade. E se vê que as pessoas olham mais para mim agora, mas eu sempre fui assim. Acho que não mudei aqui. Tenho um pouco de saudade de Buenos Aires porque não posso andar pelas ruas como fazia lá. Mas eu não saberia como quantificar a tranquilidade, a paz, a alegria interior que eu tenho. Para mim é sempre a mesma coisa.

É verdade que o senhor não usa telefone celular?

Eu nunca usei.

Nunca?

Quando me fizeram bispo, me deram um, em 92. Na época era um tijolo. Eu disse: "Nunca vou usar isto". "Bem, faça um telefonema. Na frente da pessoa que me presenteou, liguei para minha irmã: "Como você está?" Bum, desliguei! Eu o devolvi. E nunca mais.

Isso me dá uma grande liberdade. Porque eu me intero sobre tudo: tem meu número de telefone ou deixa a [mensagem] e eu ligo de volta. Em outras palavras, para mim não é um impedimento. É claro, reconheço que meus secretários têm celular.

Isso significa que o senhor não vê Twitter, Instagram, Facebook.

Não, não esse mundo.

Mas alguém lhe diz.

Sim, sim, eu me mantenho atualizado. E escrevo à mão.

Como é isso?

Quando eu estava estudando na Alemanha comprei uma máquina de escrever em uma dessas Angebot [vendas de garagem] que os alemães têm, por 45 marcos. Eles se livram de tudo o que podem nas sextas-feiras. E eu gostei dela, era [com] uma linha de memória. Levei-a para Buenos Aires quando voltei e a usei até vir para cá, e foi lá que ela ficou. E então voltei a escrever à mão.

E como envia um e-mail?

À mão.

Porém, o entrega a alguém.

E eu o entrego ao secretário e ele o envia. Sim, tudo à mão. Não quero dizer que é melhor do que o outro modo, não. É um limite que eu tenho, uma incapacidade, digamos.

Quando foi a última vez que o senhor tirou férias?

Em [o ano] 75. Vejamos, se não me engano... Sim. [No ano] 76 Isabel [Perón] caiu, não foi?

Sim, em 24 de março.

Aí se estava falando que havia um golpe militar em 76, e em 75, em Mar del Plata... A comunidade tinha uma casa em Mar del Plata e eu fui lá. Em 76 eu disse: "Olha, fala-se de um golpe, eu não quero deixar isso sozinho". Eu era provincial na época. "Vão embora". Ademais, eu estava preparando a mudança da Cúria Provincial para San Miguel. E isso aconteceu no dia 24 de março, a mudança. E eu fiquei em casa. E foi aí que senti o gosto por um tipo diferente de férias. Ler mais, ouvir música, rezar mais, descansar mais. E acabei gostando desse estilo. E é o que sempre repito.

Santo Padre, o senhor reza em algum momento em particular? Em seu quarto, na capela? Onde reza?

Pela manhã cedo celebro a missa, se não tiver missa fora. Às seis horas da manhã, celebro missa. Antes disso, rezo um pouco, e depois também rezo. Levanto às quatro horas, às cinco horas já estou rezando em meu quarto; às 5h50 vou à capela e lá celebro a missa. Geralmente sozinho ou com um padre que vem e me acompanha, e ele me ajuda; quando há outro padre, ele me ajuda. E então o dia começa.

As três últimas perguntas da entrevista têm a ver com a América Latina. A primeira diz respeito à Venezuela. O relatório Bachelet da ONU fala sobre violações, choques elétricos, prisioneiros políticos, desaparecimentos forçados de pessoas. Isso me lembrou a noite sombria que a Argentina atravessou com a ditadura militar, porém, 40 anos depois. O senhor vê alguma luz de esperança de que o regime na Venezuela possa mudar?

Penso que sim. Penso que sim, porque são as circunstâncias históricas que forçarão a mudar a forma de diálogo que têm. Eu penso que sim. Ou seja, eu nunca fecho a porta para possíveis soluções. Pelo contrário, eu as incentivo.

A segunda tem a ver com a Nicarágua. No início, parecia que só tomava de mira a oposição ou aqueles que pensavam diferente; de fato, acaba de expulsar 222 adversários para o exílio. Mas também vejo um ataque muito forte contra a Igreja católica. Expulsaram o núncio, agora estão proibindo as procissões da Semana Santa. E [há] uma frase do mandatário dizendo [que] "os bispos, os padres, os papas, são uma máfia". O que o senhor pensa disto?

Com muito respeito, não me resta que pensar em um desequilíbrio da pessoa que lidera [Daniel Ortega]. Lá temos um bispo na prisão, um homem muito sério, muito capaz. Ele quis dar seu testemunho e não aceitou o exílio. É algo que está fora do que estamos vivendo, é como trazer a ditadura comunista de 1917 ou a ditadura de Hitler de 1935, trazendo as mesmas aqui... São um tipo de ditadura grosseira. Ou, para usar uma bela distinção da Argentina, guarangas. Guarangas.

A última acerca da América Latina é sobre o tráfico de drogas. Tomou conta de estados, penetrou governos do México até o sul. A Argentina está passando por algo horrível em Rosário, e talvez em outras partes que não têm tanta imprensa ou publicidade. Há diferentes escolas de pensamento que veem a descriminalização ou legalização do consumo como uma solução possível - e digo possível porque é um tema que desconheço. O senhor acredita nisso?

Não, em princípio, não acredito. Para dizer a verdade, ainda não aprofundei muito sobre o assunto. Mas parece-me que é como, vou dar um exemplo guarango, de mãos. Com o filho que bate na mãe e, para resolver o problema vamos mudar o chicote, para que não seja tão prejudicial e vamos dar-lhe um chicote mais suave. Estas são coisas de destruição. O problema das drogas é a destruição da pessoa, da mentalidade. A pessoa se destrói a si mesma. É autodestruição.

Santo Padre, ainda duas últimas perguntas. A primeira é muito humana: se chora algumas vezes e, se chora, quando foi a última vez que lembra ter chorado?

Sim, de vez em quando eu choro às escondidas. Uma vez em público eu não consegui me conter, foi por causa da guerra: eu estava fazendo um discurso e me veio, e eu não consegui me conter. Mas às escondidas. Que os psiquiatras interpretem [risos], eu não me interpreto. Às vezes tenho este tipo de expressão sozinho.

Eu vi a final da Copa. Não estou vivendo na Argentina, estou vivendo nos EUA, mas viajei especialmente porque queria ver, se a Argentina ganhasse, esse festejo. E foi um momento maravilhoso de catarse em uma sociedade muito sofredora. Quando falo com amigos, às vezes ouço - e muitas pessoas dizem - [que] algo semelhante poderia acontecer se o Papa Francisco visitasse a Argentina. O senhor pensa nisso, sonha com isso? Será que teremos essa possibilidade?

Pensei. Pensei sobre isso. Estava planejado para dezembro de 2017. E se iria primeiro ao Chile, depois à Argentina e ao Uruguai. Esse era o plano, mas o que aconteceu? Que [Michelle] Bachelet estava terminando seu governo e as eleições estavam precisamente em torno dessa época. Então tivemos que mudar o Chile para dezembro e depois ir para a Argentina e o Uruguai em janeiro. Em janeiro você não consegue encontrar nem o gato, viu? Então, o programa foi mudado e fizemos o Chile e o Peru. E a Argentina e o Uruguai foram deixados para depois. E esse depois é o que estamos esperando [da] conjuntura. Não há recusa de ir. Não, de forma alguma. A viagem esteve planejada. Estou aberto a essa oportunidade.

Do que isso dependeria?

Milhares de fatores. Milhares de fatores.

Posso pedir dois ou três?

Primeiro, a vontade de eu ir. Creio que isso exista. Em segundo lugar, a conjuntura sociopolítica. Às vezes, a visita de um Papa pode ser usada, em todos os lugares. Ela não deve ser usada nem para um lado nem para o outro.

Poderia realizar-se depois de uma eleição.

Poderia ser. Depois de uma eleição, certamente sim. É por isso que em tempo de eleição não se faz viagens a países, para evitar que a presença seja usada pelo partido no poder para reeleição ou algo parecido. Eu quero ir à Argentina. Quero. Porém...

sexta-feira, 10 de março de 2023

A OASSAB recebe Selo Social

Selo Social para a OASSAB | arqbrasilia
A OASSAB recebe Selo Social
As Obras Sociais da Arquidiocese de Brasília recebeu, nessa quinta-feira, 09/03, o Selo Social. Trata-se de um reconhecimento a nível nacional a todas as instituições que se enquadram nos critérios de impactos sociais aliado a impactos ambientais. O Selo foi idealizado pela Rede Salesiana e a UnB. Para Frei Rogério Soares, Vigário Episcopal para promoção humana e obras sociais, “a conquista do selo social é a confirmação de que nossa instituição faz um serviço relevante na capital federal, em parceria com as paróquias e instituições sociais de inspiração católica. Nossa missão é chegar ainda mais longe com o incentivo desse selo.”
As Obras Sociais da Arquidiocese de Brasília, também conhecida pela sigla OASSAB, foi fundada há mais de 62 anos. A Arquidiocese de Brasília desde o seu início se preocupa com os mais pobres e vulneráveis.

Preparação para o Sacramento do Matrimônio (5/6)

O Sacramento do Matrimônio | Presbíteros

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA

PREPARAÇÃO PARA O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

C. Preparação imediata

50. Onde tenha sido percorrido e assimilado um itinerário conveniente ou cursos específicos durante o período da preparação próxima (cf. n. 32 ss.), as finalidades da preparação imediata poderão consistir nas seguintes:

a) sintetizar o percurso do itinerário precedente, especialmente nos conteúdos doutrinais, morais e espirituais, preenchendo assim as eventuais carências da formação básica;

b) realizar experiências de oração (retiros espirituais, exercícios para nubentes) em que o encontro com o Senhor possa fazer descobrir a profundidade e a beleza da vida sobrenatural;

c) realizar uma conveniente preparação litúrgica que preveja mesmo a participação ativa dos nubentes, com cuidado especial no sacramento da Reconciliação;

d) valorizar, por um conhecimento mais aprofundado de cada um, os colóquios canonicamente previstos com o pároco.

Estas finalidades serão conseguidas através de encontros especiais, de modo intensivo.

51. A utilidade pastoral e a experiência positiva dos cursos de preparação para o matrimônio leva a dispensar deles apenas por causas proporcionalmente graves. Por isso, onde, por tais causas se apresentem casais com a iminência urgente da celebração do matrimônio, sem a preparação próxima, o pároco e seus colaboradores terão o cuidado de lhes proporcionar algumas ocasiões para recuperar o conhecimento conveniente dos aspectos doutrinais, morais e sacramentais que foram expostos como próprios da preparação próxima e, por fim, inseri-los-ão na fase de preparação imediata.

Requere-se isto pela necessidade de personalizar em concreto os itinerários formativos, para aproveitar todas as ocasiões para aprofundar o sentido daquilo que se realiza no sacramento, sem afastar, por motivo da ausência de algumas etapas de preparação, aqueles que revelam uma adequada disposição em relação à fé e ao sacramento.

52. A preparação imediata para o Sacramento do Matrimônio deve encontrar ocasiões convenientes para iniciar os noivos no rito matrimonial. Nesta preparação, além de se aprofundar a doutrina cristã sobre o matrimónio e a família, com particular referência aos deveres morais, os nubentes devem ser ajudados a tomar parte consciente e ativa na celebração nupcial, entendendo também o significado dos gestos e dos textos litúrgicos.

53. Esta preparação para o Sacramento do Matrimônio deveria ser o remate de uma catequese que ajude os noivos cristãos a percorrer de novo, conscientemente, o seu itinerário sacramental. É importante que eles saibam que se unem no matrimônio enquanto batizados em Cristo, que na sua vida familiar se devem comportar em sintonia com o Espírito Santo. Convém, portanto, que os futuros esposos se disponham para a celebração do matrimónio para que ela seja válida, digna e frutuosa, recebendo o sacramento da Penitência (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1622). A preparação litúrgica do Sacramento do Matrimônio deve valorizar os elementos rituais atualmente disponíveis. Para que se veja uma relação clara entre o sacramento nupcial e o mistério pascal, a celebração do matrimónio é normalmente inserida na celebração eucarística.

54. Como a Igreja se torna visível na diocese e esta se articula nas paróquias, compreende-se como toda a preparação canónico-pastoral para o matrimónio seja do âmbito paroquial e diocesano. É, por isso, mais conforme com o significado eclesial do sacramento que o matrimônio seja celebrado, como norma (CIC can. 1115) na igreja da comunidade paroquial a que pertencem os noivos.

É bom que toda a comunidade paroquial tome parte nesta celebração, à volta das famílias e dos amigos dos nubentes. Nas várias dioceses tomem-se disposições sobre a matéria, tendo em conta as situações locais, mas também favorecendo decisivamente uma ação pastoral verdadeiramente eclesial.

55. Convidem-se aqueles que tomarão parte ativa na ação litúrgica a dispor-se oportunamente também para o sacramento da Reconciliação e da Eucaristia. Explique-se às testemunhas que elas são garantes não só de um ato jurídico, mas também representantes da comunidade cristã, que participa por meio delas num ato sacramental que lhe diz respeito, visto que uma nova família é uma célula da Igreja. Pelo seu carácter essencialmente social, o matrimónio requer uma participação plena da sociedade e isto é expresso pela presença das testemunhas.

56. A família é o lugar mais apropriado em que os pais, em virtude do sacerdócio comum, podem realizar gestos sagrados e administrar alguns sacramentais, a juízo do Ordinário do lugar, como por exemplo, nas circunstâncias da Iniciação Cristã, nos acontecimentos alegres ou dolorosos da vida quotidiana, na Bênção da mesa. Um lugar peculiar é dado à oração em família. Ela deve criar um clima de fé no interior do lar e será um meio para viver, em relação aos filhos, uma paternidade-maternidade mais plena, educando-os na oração e introduzindo-os na descoberta progressiva do mistério de Deus e no colóquio pessoal com Ele. Lembrem-se os pais que, através da educação dos filhos, assumem a sua missão de anunciar o Evangelho da vida (cf. EV 92).

57. A preparação imediata é uma ocasião propícia para se iniciar uma pastoral matrimonial e familiar ininterrupta. Deste ponto de vista, é preciso procurar que os esposos conheçam a sua missão na Igreja. Nisto podem ser ajudados pela riqueza que oferecem os diversos movimentos familiares, a cultivar a espiritualidade conjugal e familiar e o modo de realizar a sua tarefa na família, na Igreja e na sociedade.

58. A preparação dos noivos seja acompanhada de sincera e profunda devoção a Maria, Mãe da Igreja, Rainha das famílias; os próprios noivos sejam preparados para saber compreender que a presença de Maria é tão ativa na Grande Igreja como na família, Igreja Doméstica; sejam também levados a imitar Maria nas suas virtudes. Assim, a Sagrada Família, isto é, o lar de Maria, José e Jesus, fará descobrir aos noivos « como é doce e insubstituível a educação em família » (Paulo VI, Discurso em Nazaré, 5, I, 1964).

59. A indicação do que é proposto criativamente pelas várias comunidades para tornar mais profundas e adequadas também estas fases da preparação próxima e imediata, será um dom e um enriquecimento para toda a Igreja.

Alfonso Card. López Trujillo
Presidente do Conselho Pontifício
para a Família

+ S.E.R. Mons. Francisco Gil Hellín
Secretário

Fonte: https://presbiteros.org.br/

São José: o homem que se lança na Providência Divina

Sidney de Almeida | Shutterstock
Por Hozana

Como encontrar em São José um modelo para toda a sua vida.

São José foi contemplado por Deus para que colaborasse com sua obra de salvação. Edifica-nos ver nele, sua docilidade e entrega total aos desígnios do Senhor. São José, não possuía nenhuma segurança humana quando recebeu o encorajamento do anjo para acolher Maria como sua esposa ( Cf. Mt 1, 20), teve apenas um sonho. No entanto, seguiu adiante em total confiança, mesmo nos momentos mais difíceis. E dentre tantas maravilhas, nunca foi desamparado por Deus. O Senhor sempre providenciou e cuidou dele, de Maria e do Menino Deus.

Como está a sua confiança em Deus, sobretudo nos momentos de sofrimento? Quantas mortes, inseguranças, medos assolam o coração humano? Realmente estamos em tempos de provação! Porém, a Palavra de Deus nos é muito clara: “(…) buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia, bastam seus próprios problemas” (Mt 6, 33-34).

O Senhor nos convida hoje, a renovar mais uma vez nossa confiança n’Ele! Como São José, o Senhor quer manifestar sua Providência em nossas vidas, nas realidades mais diversas do nosso cotidiano. Porém, precisamos priorizar a busca do Reino de Deus em nossa vida. O Senhor coloca uma condição para que Ele possa agir e intervir em nossa história: buscar em primeiro lugar o Reino de Deus. Foi exatamente isso que fez São José! Aquele que busca em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, verá grandes manifestações do Senhor em sua vida.

Não importa o que você tem passado: “Se, em determinadas situações, parece que Deus não nos ajuda, isso não significa que nos tenha abandonado, mas que confia em nós com aquilo que podemos projetar, inventar, encontrar” (Cf. Carta Apostólica Patris Corde do Papa Francisco, n. 5). Basta olharmos para nossa história pessoal, familiar etc. nos momentos mais delicados, Deus se manifestou e nos deu a vitória (Cf. Rm 8, 37-39).

Firmemos nossa vida na Palavra de Deus como o fez São José. Olhemos para os santos, pois eles nos ajudam “a tender à santidade e perfeição do próprio estado. A sua vida é uma prova concreta de que é possível viver o Evangelho” (Cf. Carta Apostólica Patris Corde do Papa Francisco, n. 7). 

Em São José encontramos um modelo para toda a nossa vida. Pela confiança e fé, ele respondeu à fidelidade de Deus para com seu povo, ajudou Maria, participou na obra de salvação pela educação humana de Jesus, e foi fiel até a morte à sua humilde paternidade. Podemos e devemos confiar as nossas vidas, dores e angústias a este grande santo. Quero fazer um convite para você, na proximidade da Festa de São José escolha e faça com muita fé e confiança uma novena em sua honra.

Na rede social de oração Hozana, você encontrará a novena São José: modelo de vida, animada pelos padres Salvistas. Não perca tempo e inscreva-se agora mesmo clicando aqui! Confiemos no patrocínio de São José, o casto esposo de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Que se torne uma tradição irmos a ele como Nosso Pai e Protetor. 

Pe. Jucemar Maria da Cruz, sjs, superior geral dos Salvistas, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Existe um neo-hedonismo?

Hedonismo | grupoescolar

EXISTE UM NEO-HEDONISMO?

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)

O prazer pelo prazer ou a satisfação dos sentidos foi, desde sempre, a saída mais comum, seguida pelo vulgo, para responder a busca da felicidade ou do sentido último da vida. Contudo, tal solução tornou-se, nos tempos atuais, um verdadeiro “evangelho”, uma efetiva “mensagem de massa”. De fato, a sociedade pós-moderna faz do prazer pelo prazer o ideal de civilização. 

Trata-se de um ideal que se adequa bem à filosofia geral de nossa época: o subjetivismo e consequente relativismo, que tende normalmente ao hedonismo. Com efeito, quando não existem valores absolutos e só relativos, a decisão acerca dos valores fica entregue ao sujeito, quer isolado, quando se trata da vida privada, quer associado, quando se trata da vida pública. Ora, quando é o sujeito que somente decide, tenderá a fazê-lo em função do que for mais fácil e cômodo para ele. E essa é precisamente a tentação do neo-hedonismo. 

Em extrema síntese histórica, seguindo o pensador cristão, Clodovis Boff, poderíamos dizer que “a ‘cornucópia permissiva’ do neo-hedonismo começou pelos anos 20 nos Estados Unidos da América, lá chegou ao apogeu nos anos 60 e espalhou-se, em seguida, pelo mundo como way of life globalizante graças à expansão do capital e mercado livres. Nos dias de hoje, a economia do capital e do mercado, através das técnicas do marketing, divulga pelo mundo o ‘evangélico do capital e da mercadoria’, prometendo o paraíso das delícias”. É, no jargão dos jovens, a “era do barato” no duplo sentido: de que tudo é a baixo preço e de que tudo é “curtição”. 

Assim, o neo-hedonismo representa hoje a grande “boa-nova” que a propaganda dirige às massas, ou, mais precisamente ao “homem-massa”, segundo o pensador J. Ortega Y Gasset. O nome mais preciso do hedonismo atual seria “sensual-materialismo”, porque apela, quer para o ventre: é o consumismo; quer para o baixo-ventre: é o permissivismo sexual. 

Em tempos de “turbo”, acelerando freneticamente todos os processos, o prazer pelo prazer tem que ser “pra já”. Na análise do sociólogo, G. Schulze, vivemos uma “sociedade do prazer instantâneo e rápido”. 

Ademais, a busca do prazer pelo prazer é hoje mais refinada que no passado. Os objetos do desejo são mais estéticos e sofisticados. Graças às técnicas do design, a mercadoria torna-se um fetiche mais sedutor. Igualmente, o corpo ganha mais erotismo, em virtude dos mais variados meios de estetização. 

O neo-hedonismo acaba assim constituindo uma verdadeira ideologia, que vê a vida como fruição muito mais que como criação. Tal ideologia já penetrou e continua penetrando na nossa cultura hodierna. Mexe mesmo com o conceito de “felicidade”: felicidade torna-se sinônimo de “facilidade” – prazer pelo prazer. E felicidade não é isso! A felicidade sempre foi e sempre será a criação do sentido maior que alcance o prazer divino em nós. 

O neo-hedonismo existe, sim! Já não é hora de enfrentá-lo de frente, tirando-lhe a ilusão de nos proporcionar o sentido verdadeiro da vida?

II Pregação da Quaresma 2023 - texto integral

Segunda pregação de Quaresma | Vatican News

O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, propôs à Cúria Romana, nesta sexta-feira, 10 de março, a segunda pregação da Quaresma intitulada “O Evangelho é poder de Deus para todo aquele que crê”. (Rm 1,16)

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

“O EVANGELHO É PODER DE DEUS PARA TODO AQUELE QUE CRÊ”

(Rm 1,16)

Segunda Pregação, Quaresma de 2023

Da Evangelii Nuntiandi de São Paulo VI à Evangelii gaudium do atual Sumo Pontífice, o tema da evangelização tem estado no centro das atenções do Magistério papal. A isso, têm contribuído as grandes encíclicas de São João Paulo II, como também a instituição do Pontifício Conselho para a Evangelização, promovido por Bento XVI. A mesma preocupação se nota no título dado à constituição para a reforma da Cúria Praedicate Evangelium e na denominação “Dicastério para a Evangelização”, dada à antiga Congregação de Propaganda Fide. A mesma finalidade é designada agora principalmente ao Sínodo da Igreja. A ela, isto é, à evangelização, gostaria de dedicar a presente meditação.

A definição mais sucinta e mais impregnante da evangelização é a que se lê na Primeira Carta de Pedro. Nela, os apóstolos são definidos: “aqueles que vos evangelizaram em virtude do Espírito Santo” (1Pd 1,12). Aí está expresso o essencial sobre a evangelização, isto é, o seu conteúdo – o Evangelho – e o seu método – no Espírito Santo.

Para saber o que se entende com a palavra “Evangelho”, a via mais segura é perguntar a quem usou por primeiro esta palavra grega e a tornou canônica na linguagem cristã, o apóstolo Paulo. Temos a felicidade de possuir uma exposição, de seu próprio punho, que explica o que ele entende por “Evangelho”, e é a Carta aos Romanos. O tema dela é anunciado com as palavras: “Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16).

Para o sucesso de todo novo esforço de evangelização, é vital ter claro o núcleo essencial do anúncio cristão, e isto ninguém trouxe à luz melhor do que o apóstolo nos primeiros três capítulos da Carta aos Romanos. Do entender e aplicar à situação atual a sua mensagem depende, estou convencido, se dos nossos esforços nascerem filhos de Deus, ou se se terá que repetir amargamente com Isaías: “Engravidamos e tivemos dores de parto, mas demos à luz o vento; não trouxemos melhoras à terra, e não nasceram novos habitantes para o mundo” (Is 26,18).

A mensagem do Apóstolo naqueles três primeiros capítulos da sua Carta pode ser resumida em dois pontos: primeiro, qual é a situação da humanidade diante de Deus em seguida ao pecado; segundo, como se sai dela, isto é, como nos salvamos pela fé e nos tornamos nova criatura.  Sigamos o Apóstolo em seu estreito raciocínio. Melhor, sigamos o Espírito que fala por meio dele. Quem já fez viagens de avião, terá escutado algumas vezes o aviso: “Afivelem os cintos, estamos passando por uma área de turbulência”. Seria preciso fazer ressoar o mesmo aviso a quem se presta a ler as seguintes palavras de Paulo.

Revela-se do céu a ira de Deus contra toda impiedade e injustiça dos homens que na injustiça impedem a verdade, pois o que de Deus se pode conhecer é entre eles manifesto, já que Deus o manifestou a eles. De fato, os atributos invisíveis de Deus, seu poder eterno e sua divindade, são compreendidos através das coisas feitas, desde a criação do mundo, a fim de que eles não tenham desculpa. Por isso, mesmo tendo conhecido a Deus, nem o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, perderam-se em seus pensamentos fúteis, e seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se tolos e trocaram a glória do Deus incorruptível pela aparência da imagem de um ser humano corruptível e de pássaros, quadrúpedes e répteis (Rm 1,18-23).

O pecado fundamental, o objeto primário da ira divina, é identificado, como se vê, na asebeia, isto é, na impiedade. Em que consiste, exatamente, tal impiedade, o Apóstolo explica imediatamente, afirmando que ela consiste na rejeição em “glorificar” e “agradecer” a Deus. Estranho! Este fato de não glorificar e agradecer a Deus o suficiente parece-nos, sim, um pecado, mas não tão terrível e mortal. É preciso entender o que se esconde por detrás disso: a rejeição em reconhecer Deus como Deus, o não lhe tributar a consideração que lhe é devida. Consiste, poderíamos dizer, em “ignorar” Deus, onde ignorar não significa tanto “não saber que existe”, mas “fazer como se não existisse”.

No Antigo Testamento, ouvimos Moisés que grita ao povo: “Reconhecei que Deus é Deus!” (cf. Dt 7,9) e um salmista retoma tal grito, dizendo: “Reconhecei que o Senhor é Deus; Ele nos fez, nós somos dele” (Sl 100,3). Reduzido ao seu núcleo germinativo, o pecado é negar este “reconhecimento”; é a tentativa, da parte da criatura, de cancelar, de iniciativa própria, quase por prepotência, a diferença infinita que há entre ela e Deus. O pecado ataca, de tal maneira, a própria raiz das coisas; é um “impedir a verdade na injustiça”. É algo de muito mais sombrio e terrível do que o homem possa imaginar ou dizer. Se os homens soubessem, enquanto vivos, como o saberão no momento da morte, o que significa a rejeição de Deus, morreriam de susto.

Tal rejeição tomou corpo, ouvimos, na idolatria, pela qual se adora a criatura no lugar do Criador. Na idolatria, o homem não “aceita” Deus, mas faz para si um deus; é ele a decidir por Deus, não vice-versa. Os papéis são invertidos: o homem se torna o oleiro e Deus o vaso que ele modela a seu bel-prazer (cf. Rm 9,20ss.). Hoje, esta antiga tentativa assumiu uma nova veste. Ela não consiste em pôr algo – nem mesmo a si mesmo – no lugar de Deus, mas em abolir, pura e simplesmente, o papel indicado pela palavra “Deus”. Niilismo! O Nada no lugar de Deus. Mas não é o caso de nos determos sobre isso neste momento; interromperia a escuta do Apóstolo, que, por sua vez, continua o seu firme raciocínio.

Paulo prossegue a sua acusação mostrando os frutos que brotam, no plano moral, da rejeição de Deus. Daí deriva uma dissolução geral dos costumes, uma verdadeira e própria “torrente de perdição” que arrasta a humanidade em ruína. E aqui, o Apóstolo traça um quadro impressionante dos vícios da sociedade pagã. A coisa mais importante a se considerar, em base a esta parte da mensagem paulina, não é, contudo, esta lista de vícios, presente, além do mais, também junto aos moralistas estoicos do tempo. A coisa mais desconcertante, à primeira vista, é que São Paulo faz de tudo isso desordem moral, não a causa, mas o efeito da ira divina. Por três vezes retorna a fórmula que afirma isso de modo inequívoco:

Por isso, os entregou à impureza (...). Por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas (...). E, porque não quiseram alcançar a Deus pelo conhecimento, Deus os entregou ao seu reprovado modo de pensar (Rm 1,24.26.28).

Deus, certamente, não “quer” tais coisas, mas ele as “permite” para fazer o homem compreender aonde leva a rejeição a Ele. “Estas ações – escreve Santo Agostinho – embora sejam castigo, são elas também pecados, pois a pena da iniquidade é ser, ela própria, iniquidade; Deus intervém para punir o mal e, da sua mesma punição, abundam outros pecados[1].

Não há distinções diante de Deus entre judeus e gregos, entre fiéis e pagãos: “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3,23). O Apóstolo faz tanta questão de nos esclarecer este ponto, que a ele dedica todo o capítulo segundo e parte do terceiro da sua Carta. É a humanidade inteira que se encontra nesta situação de perdição, não este ou aquele indivíduo ou povo.

Onde está, em tudo isso, a atualidade da mensagem do Apóstolo da qual eu falava? Está no remédio que o Evangelho propõe a esta situação. Ele não consiste em se empenhar em uma luta pela reforma moral da sociedade, para a correção dos seus vícios. Seria, para ele, como querer desenraizar uma árvore começando por lhe tirar as folhas ou os ramos mais expostos, ou então preocupar-se em eliminar a febre, ao invés de tratar a doença que a provoca.

Traduzido em linguagem atual, isto significa que a evangelização não começa com a moral, mas com o querigma; na linguagem do Novo Testamento, não com a Lei, mas com o Evangelho. E qual é o conteúdo, ou o núcleo central disso? O que Paulo quer dizer por “Evangelho” quando diz que ele “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”? Crer no quê? “Manifestou-se a justiça de Deus!” (Rm 3,21): eis a novidade. Não são os homens que, improvisamente, mudaram vida e costumes e se puseram a fazer o bem. O fato novo é que, na plenitude dos tempos, Deus agiu, rompeu o silêncio, estendeu a sua mão por primeiro ao homem pecador.

Mas ouçamos agora diretamente o Apóstolo, que nos explica em que consiste este “agir” de Deus. São palavras que temos lido ou escutado centenas de vezes, mas ama-se escutar sempre de nova as árias de uma bela sinfonia:

Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Esses são justificados gratuitamente pela graça de Deus, por meio da redenção em Cristo Jesus. É ele que Deus expôs como instrumento de expiação com o seu sangue, mediante a fé, para demonstrar sua justiça, deixando sem castigo os pecados outrora cometidos sob a tolerância de Deus; e para demonstrar sua justiça no tempo presente, a fim de ser justo e tornar justo aquele que tem fé em Jesus (Rm 3,23-26).

Gostaria logo de tranquilizar a todos: não tenho o intuito de fazer uma enésima pregação sobre a justificação mediante a fé. Há um perigo em insistir unicamente sobre este tema. Não é uma doutrina que Paulo nos apresenta, mas um evento, antes, uma pessoa. Nós não somos salvos genericamente “pela graça”: somos salvos pela graça de Cristo Jesus; não somos justificados genericamente “por meio da fé”: somos justificados por meio da fé em Cristo Jesus. Tudo mudou “por meio da redenção em Cristo Jesus”. O verdadeiro artigo com que está em pé ou cai a Igreja (o famoso Articulum stantis edt cadentis Ecclesiae) não é uma doutrina, mas uma pessoa.

Fico sem palavras cada vez que releio esta parte da Carta aos Romanos. Após ter descrito, com os tons que ouvimos, a situação desesperada da humanidade, o Apóstolo tem a coragem de dizer que ela mudou radicalmente por causa do que aconteceu poucos anos antes, em uma obscura parte do império romano, por obra de um só homem, ainda por cima, morto em uma cruz! Apenas uma “ponta” do Espírito Santo, um seu fulgor, podia dar a um homem a ousadia de crer e proclamar esta coisa inaudita. Ainda mais que este mesmo homem outrora se tornava “furioso” se alguém ousasse proclamar em sua presença uma coisa do gênero. O diácono Estêvão pagou tal preço...

Em nós, o choque é atenuado por vinte séculos de confirmações, mas pensemos sobre como deviam soar as palavras do Apóstolo a pessoas cultas do tempo. Ele mesmo se dava conta; por isso, sentiu a necessidade de dizer: “Eu não me envergonho do evangelho” (Rm 1,16). Poder-se-ia, de fato, envergonhar-se dele. Não consigo entender como historiadores honestos possam crer (como aconteceu por tanto tempo) que Paulo tenha tirado esta sua certeza dos cultos helenísticos, ou não sei de qual outra fonte. Quem teria imaginado, ou poderia humanamente imaginar, algo do gênero?

Mas voltemos ao nosso intuito específico, que é a evangelização. O que aprendemos da palavra de Deus que acabamos de ouvir? Aos pagãos, Paulo não diz que o remédio à sua idolatria está em voltar a interrogar o universo para das criaturas reportar-se a Deus; aos judeus, não diz que o remédio está em voltar a observar melhor a Lei de Moisés. O remédio não está no alto ou atrás; está adiante, está em acolher “a redenção em Cristo Jesus”.

Paulo, para dizer a verdade, não diz algo totalmente novo. Se fosse ele o autor desta mensagem inaudita, teriam razão aqueles que dizem que o verdadeiro fundador do cristianismo é Saulo de Tarso, não Jesus de Nazaré. Mas estão errados! Paulo não faz outra coisa senão retomar, adaptando-o à situação do momento, o anúncio inaugural da pregação de Jesus: “Cumpriu-se o tempo, e está próximo o Reino de Deus. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Em sua boca, “convertei-vos” não queria dizer, como nos antigos profetas e em João Batista: “Voltai atrás, observai a Lei e os mandamentos”; significa mais: “Dai um passo à frente; entrai no Reino que gratuitamente veio em vosso meio! Crede no Evangelho!”. Converter-se é crer. “A primeira conversão consiste em crer”, escreveu Santo Tomás de Aquino: Prima conversio fit per fidem[2].

Nem o discurso de Jesus, nem o de Paulo se detêm, naturalmente, neste ponto. Em sua pregação, Jesus exporá o que comporta acolher o Reino e Paulo dedicará toda a segunda parte da sua Carta a elencar as obras, ou as virtudes, que devem caracterizar quem se tornou criatura nova. Ao querigma, faz seguir a parênese, ao anúncio, a exortação. O importante é a ordem a ser seguida na vida e no anúncio, de onde começar, pois, já dizia São Gregório Magno “não se chega à fé partindo das virtudes, mas às virtudes partindo da fé”[3]. Toda iniciativa de evangelização que quisesse começar com reformar os costumes da sociedade, antes de buscar mudar o coração das pessoas, é fadada a cair no nada, ou, pior, na política.

Mas não é o caso de insistir nem mesmo sobre isso, neste momento. Devemos, antes, colher o ensinamento positivo do Apóstolo. O que diz a palavra de Deus a uma Igreja que – mesmo ferida em si mesma e comprometida aos olhos do mundo – tem um suspiro de esperança e quer retomar, com novo impulso, a sua missão evangelizadora? Diz que é preciso recomeçar a partir da pessoa de Cristo, falar dele “oportuna e inoportunamente”; jamais dar por certo, ou pressuposto, o discurso sobre ele. Jesus não deve estar no pano de fundo, mas no coração de todo anúncio.

O mundo secular faz de tudo (e infelizmente consegue!) para manter o nome de Jesus longe, ou silenciado, em todo discurso sobre a Igreja. Nós devemos fazer de tudo para mantê-lo sempre presente. Não para nos refugiarmos por detrás dele, mas porque é ele a força e a vida da Igreja. No início da Evangelii gaudium, lemos estas palavras:

Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito.

Que eu saiba, esta é a primeira vez que, em um documento oficial do Magistério, aparece a expressão “encontro pessoal com Cristo”. Apesar da sua aparente simplicidade, esta expressão contém uma novidade que devemos procurar entender.

Na pastoral e na espiritualidade católica, eram familiares, no passado, outros modos de conceber a nossa relação com Cristo. Falava-se de uma relação doutrinal, que consistia em crer em Cristo; de uma relação sacramental, que se realiza nos sacramentos; de uma relação eclesial, enquanto membros do corpo de Cristo, que é a Igreja; falava-se também de uma relação mística ou esponsal, reservada a algumas almas privilegiadas. Não se falava – ou ao menos não era comum falar – de uma relação pessoal – como entre um eu e um tu –, aberta a todo crente.

Durante os cinco séculos que temos às costas – que impropriamente são chamados “da Contrarreforma” –, a espiritualidade e a pastoral católica têm olhado com suspeita para este modo de conceber a salvação. Via-se aí o perigo (de resto, totalmente o contrário de remoto e hipotético) do subjetivismo, isto é, de conceber a fé e a salvação como um fato individual, sem uma verdadeira relação com a Tradição e com a fé do resto da Igreja. O multiplicar-se das correntes e das denominações no mundo Protestante não fazia outra coisa senão reforçar esta convicção.

Entramos agora, graças a Deus, em uma nova fase, na qual nos esforçamos em ver as diferenças, não necessariamente como incompatíveis entre si e, portanto, a serem combatidas, mas, até onde é possível, como riquezas a serem compartilhadas. Neste novo clima, entende-se a exortação para haver uma “relação pessoal com Cristo”. Este modo de conceber a fé nos parece, antes, o único possível desde quando a fé não é mais um fato pressuposto que se absorve quando crianças com a educação familiar e escolástica, mas é fruto de uma decisão pessoal. O sucesso de uma missão não pode ser medido pelo número das confissões ouvidas e das comunhões distribuídas, mas de quantas pessoas passaram de ser cristãos de nome a cristãos reais, isto é, convictos e ativos na comunidade.

Procuremos entender em que consiste, concretamente, este famoso “encontro pessoal” com Cristo. Eu digo que é como encontrar uma pessoa ao vivo, depois de tê-la conhecido por anos apenas por fotografia. Pode-se conhecer livros sobre Jesus, doutrinas, heresias sobre Jesus, conceitos sobre Jesus, mas não o conhecer vivo e presente (insisto sobretudo sobre estes dois adjetivos: um Jesus ressuscitado e vivo e um Jesus presente!). Para muitos, mesmo batizados e crentes, Jesus é um personagem do passado, não uma pessoa viva no presente.

Ajuda-nos a entender a diferença aquilo que acontece no âmbito humano, quando se passa do conhecer uma pessoa ao enamorar-se dela. Alguém pode conhecer tudo sobre uma mulher ou um homem: como se chama, quantos anos tem, que estudos fez, a qual família pertence... Depois, um dia acende uma fagulha e se enamora daquela mulher ou daquele homem. Tudo muda. Quer estar com aquela pessoa, agradá-la, tê-la para si, tem medo de desagradá-la e de não ser digno dela.

Como fazer para que se acenda em muitos aquela fagulha em relação à pessoa de Jesus?  Ela não se acenderá em quem escuta a mensagem do Evangelho, se não se acendeu antes – ao menos como desejo, como busca e como propósito – em quem o proclama. Houve e há exceções; a palavra de Deus tem uma força própria e pode agir, às vezes, mesmo se pronunciada por quem não a vive; mas é exceção.

Para consolação e encorajamento de quantos trabalham institucionalmente no campo da evangelização, gostaria de lhes dizer que nem tudo depende deles. Deles, depende criar as condições para que se acenda aquela fagulha e se difunda. Mas ela acende nas maneiras e nos momentos mais impensáveis. Na maioria dos casos que conheci em minha vida, a descoberta de Cristo que mudou a vida tinha sido ocasionada a partir do encontro com alguém que já tinha experimentado aquela graça, da participação de um encontro, da escuta de um testemunho, de ter experimentado a presença de Deus em um momento de grande sofrimento, e – não posso omiti-lo, pois assim aconteceu também para mim – de ter recebido o chamado batismo do Espírito.

Aqui se vê a necessidade de designar sempre mais os leigos, homens e mulheres, para a evangelização. Eles estão mais inseridos nas tramas da vida em que normalmente se realizam aquelas circunstâncias. Também pela escassez de número, a nós, do clero, torna-se mais fácil sermos pastores do que pescadores de almas: mais fácil apascentar com as palavras e os sacramentos aqueles que vêm à Igreja, do que partir ao alto-mar a pescar os distantes. Os leigos podem nos suprir na tarefa de pescadores. Muitos deles descobriram o que significa conhecer Jesus vivo e estão ansiosos para compartilhar com outros a sua descoberta.

Os movimentos eclesiais, surgidos após o Concílio, foram para muitos o lugar em que fizeram tal descoberta. Em sua homilia na Missa Crismal da Quinta-feira Santa de 2012, a última do seu pontificado, Bento XVI afirmou: “Quem observa a história do período pós-conciliar pode reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação, que frequentemente assumiu formas inesperadas em movimentos cheios de vida e que tornam quase palpável a vivacidade inexaurível da santa Igreja, a presença e a ação eficaz do Espírito Santo”. Junto com os bons frutos, alguns desses movimentos produziram também frutos podres. É preciso recordar-se da expressão: “Não jogue o bebê fora junto com a água do banho”.

Termino com as palavras conclusivas do Itinerário da mente para Deus, de São Boaventura, porque elas nos sugerem de onde começar para realizar, ou renovar, a nossa “relação pessoal com Cristo” e nos tornarmos seus corajosos anunciadores:

É este um dom místico e secretíssimo – escreve – que ninguém conhece, senão quem o recebe. Nem o recebe, senão quem o deseja. Nem o deseja, senão quem está inflamado profundamente pelo fogo do Espírito Santo que Jesus Cristo enviou à terra[4].

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, ofmcap

[1] Cf. Agostinho, De natura et gratia, 22,24.

[2] Cf. Tomás de Aquino, S.Th. I-IIae, q.113, a. 4.

[3] Cf. Gregório Magno, Homilias sobre Ezequiel, II,7 (PL 76, 1018).

[4] Cf. Boaventura de Bagnoregio, Itinerarium mentis in Deum, VII,4.

quinta-feira, 9 de março de 2023

Maior estudo já feito revela o impacto da caminhada na prevenção da morte precoce

Bignai | Shutterstock
Por Cerith Gardiner

Cientistas da Universidade de Cambridge revelam como apenas 11 minutos de caminhada por dia podem melhorar seriamente a expectativa de vida.

Um alerta para quem não gosta muito de se exercitar: um estudo feito por renomados cientistas comprovou os benefícios da caminhada e a importância da atividade na prevenção da morte prematura.

No estudo, que reuniu informações de 196 artigos revisados ​​​​e contou com 30 milhões de participantes divididos em 94 grupos, os pesquisadores conseguiram verificar que apenas 11 minutos de caminhada rápida por dia podem prevenir uma em cada 10 mortes precoces. A informação é do jornal The Guardian.

A pesquisa mostrou também que, se os indivíduos realizarem 75 minutos de exercícios moderados semanais, eles têm ainda mais chances de evitar a morte precoce. E a boa notícia: isso é metade dos 150 minutos de exercício recomendados pelo Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha.

“Se você é alguém que acha a ideia de 150 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana um pouco assustadora, então nossas descobertas devem ser boas notícias”, compartilhou o Dr. Søren Brage, da unidade de epidemiologia do Conselho de Pesquisa Médica de Cambridge. “Fazer alguma atividade física é melhor do que não fazer nada. Essa também é uma boa posição inicial – se você achar que 75 minutos por semana é administrável, tente intensificá-los gradualmente até a quantidade total recomendada”, afirmou o especialista.

A pesquisa descobriu que dançar, caminhar, andar de bicicleta ou jogar tênis – exercícios que aumentam a frequência cardíaca, mas ainda permitem que você fale – também podem contribuir para a longevidade.

Segundo o estudo, destinar 11 minutos do seu dia à atividade física pode reduzir o risco de alguns tipos de câncer em 7%, doenças cardiovasculares em 17% e diminuir as chances de morte precoce em até 23%. (Mais fatos e números estão disponíveis no British Journal of Sports Medicine.)

O professor James Woodcock, da Universidade de Cambridge, também acrescentou: “O que descobrimos é que há benefícios substanciais para a saúde do coração e redução do risco de câncer, mesmo que você consiga administrar apenas 10 minutos todos os dias”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF