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sábado, 29 de janeiro de 2022

São Valério de Treviri

S. Valério de Treviri | Rede Século 21
29 de janeiro
São Valério de Treviri

Origens

Não se tem muita informação sobre São Valério de Treviri. Sabe-se, porém, que ele teria nascido no século III e morrido no século IV.

Vida religiosa

Segundo documentos pontifícios, Valério foi realmente bispo de Treviri e prestou um importante trabalho para a evangelização na Igreja de Roma. Primeiramente, ele auxiliou Eucario, o primeiro bispo de Treviri. Depois, colaborou com Materno. Eucario e Materno estão incluídos no Livro dos Santos, figurando como apóstolos de seu país natal, a Alemanha.

Como Jesus, ressuscitou o amigo

Nos registros oficiais do Vaticano do final dos anos 900, onde estão registradas as causas da santificação dos religiosos, encontra-se a seguinte definição sobre São Valério: “converteu multidões de pagãos e operou milagres singelos e expressivos”. Certamente o milagre de maior destaque foi o da ressurreição do amigo Materno, com apenas um toque de seu cajado episcopal.

Valério soube o dia de sua morte

Valério foi avisado em sonho por Eucario, seu companheiro de missão já falecido, que ele seria recebido no céu no dia 29 de janeiro. Valério faleceu no dia previsto, no começo do século IV. Não se sabe, porém, o ano de sua morte.

Culto e devoção

A fama da santidade de Valério aumentava a cada dia. As pessoas procuravam sua sepultura, onde faziam suas orações de agradecimento e de pedidos. O culto a São Valério se intensificava na medida em que novas igrejas eram construídas e dedicadas a ele, principalmente nas regiões de língua germânica. Ele se tornou o padroeiro de muitas cidades. Suas relíquias estão na Basílica de São Matias, numa urna de prata, em Treviri, atual cidade de Tries, na Alemanha.

Oração a São Valério de Treviri

Inspirai-nos, o Deus de amor, pela intercessão de São Valério, o zelo pastoral pelos mais abandonados e necessitados de conversão. Por Cristo nosso Senhor. Amém. ”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Ator que interpretou Barrabás: “Não temos consciência do milagre da Eucaristia”

You Tube
Por Francisco Vêneto

Pietro Sarubbi já havia comovido o mundo ao contar como o olhar de Jesus o tinha convertido em "A Paixão de Cristo".

Pietro Sarubbi é o ator italiano que não queria interpretar o papel de Barrabás no filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson. Embora muito afastado da Igreja na época das gravações, Pietro desejava interpretar o apóstolo São Pedro – não porque tivesse particular apreço pelo Santo Padre, mas apenas porque o valor a ser pago por dia de trabalho era mais alto. Não foi pequena a sua decepção quando o diretor lhe disse que o queria no papel de Barrabás.

O próprio Mel Gibson, porém, lhe explicou que Barrabás não era apenas um bandido. O rebelde zelote tinha ficado muitos anos preso, fora torturado e levado ao limite do humanamente suportável. Uma frase de Mel Gibson bateu fundo no coração de Pietro: Barrabás tinha ido se transformando num animal, um ser embrutecido e sem palavras que só se expressava com o olhar. Era por isso que o diretor o tinha escolhido: porque Pietro poderia encarnar tanto o animal selvagem quanto, no fundo do coração, manter no olhar o brilho de um homem bom. Durante as gravações, Pietro Sarubbi e o zelote se fundiram num só. A cena avançava e Pietro encarnava os acontecimentos de tal forma que já nem atuava conscientemente. Quando as autoridades libertam Barrabás, escolhido pela multidão no lugar de Jesus, o bandido, entre incrédulo e exultante, fitava os poderosos e depois a turba com ironia. É quando desce as escadas e o seu olhar se cruza com o de Jesus. Pietro mesmo testemunha:

“Foi um grande impacto. Eu senti uma corrente elétrica entre nós. Eu via o próprio Jesus”.

E foi graças à força daquela cena compartilhada com o colega Jim Caviezel, intérprete do Cristo ali condenado ao suplício horrível da morte na cruz, que uma paz desesperadamente procurada ao longo de tantos anos finalmente inundou a alma do incrédulo ator italiano:

“Quando olhou nos meus olhos, os olhos de Jesus não tinham ódio nem ressentimento. Só misericórdia e amor”.

Em 2011, Pietro Sarubbi relatou a sua impactante conversão no livro “Da Barabba a Gesù – Convertito da uno sguardo” (“De Barrabás a Jesus: convertido por um olhar”). O ator relata, nessa obra, que a fé passou a abranger todos os setores da sua vida. As páginas do livro, aliás, se encerram com uma interpretação pessoal daquele episódio que mudou para sempre a sua trajetória:

“Barrabás é o homem a quem Jesus salvou da cruz. É ele que representa toda a humanidade”.

Recentemente, outro testemunho de Pietro Sarubbi tem impactado o mundo católico.

Ele participou de um documentário sobre a Eucaristia intitulado “O Beijo de Deus” e foi entrevistado a esse respeito pelo site Alfa y Omega. Na entrevista, ao falar do sua relação atual com Cristo, Pietro afirmou que segue Jesus “com o cansaço de um pobre pecador que tenta corresponder a um amor tão grande, caindo mil vezes, mas com a certeza de sempre ser perdoado, esperado e amado, mil e uma vezes”.

Ele busca a presença de Jesus principalmente na Eucaristia, da qual declara: “É um presente excepcional que Deus dá ao homem. O homem moderno não tem consciência da grandeza do milagre que é poder participar da Ceia com Cristo todas as vezes que quisermos”.

Pietro também compartilha um depoimento sobre a importância da Eucaristia na sua vida:

“Eu não era casado, mas, depois da minha conversão, quis me casar, ser digno de receber a Eucaristia. Nas primeiras vezes em que fui à Missa depois da minha conversão, fui com meus filhos e minha esposa. A certa altura, uma das minhas filhas começou a preparação para a primeira comunhão, mas, depois de receber toda a catequese, falou para o padre que não queria receber a Eucaristia. Espantado, o padre perguntou por quê e ela disse isso: ‘porque a Eucaristia é muito amarga’. ‘E como é que você sabe, se nunca experimentou?’. E ela respondeu: ‘Eu sei porque, toda vez que o meu pai comunga, ele chora’. Esta é a Eucaristia na minha vida!”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O homem responsável por seus atos

Crédito: Editora Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

“O homem possui realmente liberdade de arbítrio, de modo a ser responsável por seus atos?”

Questão formulada a propósito de um texto de Alexandre Dumas Fils:

De certo modo já foi dada resposta a esta questão ao se abordar o tema do Destino em “Pergunte e Responderemos” nº 3/1957 qu. 4. Voltemos ao assunto, procurando aprofundá-lo.

1. A liberdade de arbítrio de que pretendemos tratar aqui, e a propriedade arraigada na vontade do homem de poder escolher entre o agir e o não agir, entre o agir deste modo e o agir daquele modo.

A existência desta propriedade se deriva das proposições seguintes:

O homem possui duas faculdades que o caracterizam como ser espiritual: a inteligência e a vontade.

A inteligência é capaz de formar o conceito de ser como tal, abstração feita de tal e tal modalidade do mesmo. Quando à vontade, é a faculdade que ama o ser previamente conhecido pela inteligência. Ora todo ser, por natureza, é bom (o mal é uma carência; cf. “Pergunte e Responderemos” 5/1957 qu. 1). Disto se segue que a vontade em qualquer de seus atos quer o bem, e não pode querer senão o bem (o bem real ou, ao menos, o bem aparente).

Digamos agora que a inteligência apresente à vontade o Ser (que é também o Bem) real infinito (Deus) aprendido como infinito, sem mistura de não-ser ou de imperfeição; a vontade então não pode deixar de aderir a Ele e de se dar por plenamente satisfeita; no caso não goza de liberdade, porque o não-agir ou o agir de outro modo não lhe podem parecer um bem (o Bem infinito é o que esgota o conceito de Bem). Todavia o encontro face a face com o Infinito não se dá na vida presente. Todo bem que a inteligência conheça na terra ou é finito ou é o Infinito (Deus) apreendido analogamente, à semelhança dos seres finitos; donde se segue que, enquanto está unida ao corpo, a vontade humana nunca é necessariamente solicitada por determinado objeto. Qualquer ser que se lhe apresente, pode-lhe aparecer não somente como um bem, mas também como um não bem ou como um bem deficiente (o próprio Deus lhe ocorre não apenas como Pai atraente, mas também como o Legislador coibitivo de tais e tais prazeres desregrados e, enquanto tal, pode ser repudiado). É isto que nos leva à conclusão de que a vontade humana goza de liberdade de arbítrio neste mundo em relação a qualquer bem criado e em relação ao próprio Criador; enquanto a inteligência apresenta à vontade os aspectos de um objeto convenientes às disposições momentâneas do sujeito, a vontade se inclina para esse objeto; dado, porém, que o indivíduo se ponha a considerar os aspectos do mesmo objeto que contrariam às paixões do sujeito, a vontade já tem fundamento para o rejeitar.

Eis brevemente o argumento filosófico donde se deduz a existência do livro arbítrio no homem. Tal raciocínio é comprovado pela experiência: todo indivíduo tem consciência de ser, por natureza, senhor de seus atos, responsável do que fez e deixou de fazer; pressuposto isto, as leis sempre estabeleceram sanções correlativas ao procedimento do homem.

2. Vejamos agora outro aspecto da questão.

A vontade humana, cuja natureza considerávamos acima, age dentro de um corpo e em dependência deste, pois é mediante os sentidos que ela é posta em presença dos diversos objetos que a podem solicitar (entre os órgãos da vida sensitiva toca especial importância ao diencéfalo, parte do cérebro que desempenha o papel de uma espécie de central telefônica ou de um radar em relação aos demais sentidos).

Em consequência desta união com o corpo, a vontade sofre as influências da constituição própria do mesmo, constituição que varia de indivíduo para indivíduo, de biótipo para biótipo, sendo em grande parte transmitida pelas leis da hereditariedade, em parte também influenciada por fatores sociais, geográficos, históricos, etc.
A moderna Psicologia científica adverte que não se pode dissociar no homem o plano intelectivo e volitivo do plano sentimental nem este do plano vegetativo é instintivo; todo ato volitivo, por exemplo, é acompanhado, de maneira mais ou menos inconsciente, por movimentos emotivos que escapam ao pleno controle da vontade; a linguagem humana (que é a expressão mais típica do raciocínio ou da espiritualidade do homem) e acompanhada por movimentos mímicos, gestos automáticos do corpo, desencadeados pelo funcionamento da inteligência e da vontade. Assim o espiritual e o corpóreo, o consciente e o inconsciente, colaboram intimamente no homem.

Admita-se, pois, que algum órgão ou a estrutura geral do organismo se ressinta de defeito ou desequilíbrio, transmitido por hereditariedade ou contraído pelo próprio sujeito (…). O psiquismo humano padecerá naturalmente os efeitos daí decorrentes: torna-se-á mais ou menos incapaz de reconhecer as normas objetivas do seu procedimento ou de conceber exatamente, “aqui e agora”, o que é seu dever manifestará também inclinações aberrantes, obsessões (…). Alguns defeitos fisiológicos podem estar tão arraigados que impeçam em grau maior ou menor o devido funcionamento da inteligência e da vontade. Em tais casos a liberdade do agente é diminuída ou de todo tolhida; o pecador é então por Deus isentado de culpa, não lhe sendo imputado o que ele realiza sem a participação de sua livre vontade. Sabe-se que a Moral não obriga a incriminar de antemão todo indivíduo do qual procede materialmente (ou no foro externo) uma ação criminosa.

Na base da experiência, principalmente dos tempos modernos (enervados por guerras e convulsões diversas), pode-se crer que defeitos fisiológicos, hereditários ou adquiridos, afetem grande número de indivíduos, impedindo-lhes em grau parcial ou tal o exercício da liberdade. Não se poderia dizer, porém, que toda e qualquer pessoa acusada de culpa em nossos dias é inocente a multiplicação de casos patológicos não mudou a natureza humana como tal. A prova disto é que se tem empreendido com pleno êxito operações que, corrigindo o mau funcionamento de certos órgãos (cérebro, glândulas, etc.), têm permitido ao indivíduo fazer uso normal de sua liberdade ou da faculdade de dominar os seus atos: o delinquente inveterado se pode às vezes tornar indivíduo sadio, dotado de plena responsabilidade. Destas operações, já mencionamos em “Pergunte e Responderemos” nº 3/1957 qu. 4 as que foram realizadas em cérebros humanos por Orage Nielson e Puech. Tais intervenções cirúrgicas não significam produção ou restauração da inteligência ou da vontade no indivíduo (isto suporia não haver diferença entre espírito e corpo, tese de que trata a resposta nº 1 deste fascículo); significam apenas que os médicos podem restituir à inteligência e à vontade de uma pessoa os instrumentos corpóreos (as “minas” de matéria prima) de que estas faculdades precisam para exercer sua atividade espiritual.

3. Pergunta-se agora: será que os indivíduos predispostos ao mal (e todos o são até certo ponto, porque a natureza humana se ressente do desequilíbrio original ou da desordem que nela introduziu o primeiro pecador) ainda podem ser tidos como criaturas de Deus? Não serão simples produtos da cega fatalidade hereditária, como afirma Dumas?

Na verdade, Deus nunca deixa de reger a natureza que ele criou. Criou-a, porém, dotada de suas leis biológicas, de suas normas de hereditariedade e permite em geral que estas se atuem. O corpo humano, por conseguinte, é formado com as características típicas da família de que descende; e a tal corpo o Criador infunde tal alma a ele adaptada, e a ele só. O Senhor não quis criar todos os indivíduos iguais, pois entende manifestar pelas criaturas a variegada riqueza de suas perfeições. O fato é que todo ser humano nasce normalmente com um cabedal de qualidades e, ao mesmo tempo, com certo lastro de tendências ao erro (devidas à natural falibilidade da criatura acentuada pelo pecado dos primeiros pais; a respeito deste veja-se “Pergunte e Responderemos” nº 8/1957 qu. 6). Em consequência todos tem que lutar contra a concupiscência inata, uns de maneira mais visível, outro de modo mais oculto, mas não menos real. Tenha-se por certo que a cada um o Criador comunica os meios para sair vitorioso deste combate; a ninguém Ele denega o auxílio adequado ao respectivo caso.

A quem mais tem que lutar, competirá também mais íntima participação na felicidade de Deus, pois terá tido ocasião de mais exercer o amor a Deus. Quanto aos indivíduos totalmente tarados ou irresponsáveis, permanecem abaixo da ordem moral, e salvam-se como as criancinhas que morrem antes de chegar ao uso da razão; Deus só julga o homem na medida em que a este é dado agir com liberdade. E saibamos que esta medida escapa facilmente à nossa capacidade de observação; por conseguinte, não queiramos julgar (…), nem aos homens nem a Deus!

D. Estevão Bettencourt, osb
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
Nº 5, Ano 1958, p. 199

Fonte: https://cleofas.com.br/

PRINCÍPIOS DE FIDELIDADE DA EDUCAÇÃO CATÓLICA

Estátua de São Paulo | dreamstime

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

EDUCAÇÃO CATÓLICA:  PRINCÍPIOS DE FIDELIDADE DA EDUCAÇÃO CATÓLICA (Parte 4)

A Igreja Católica se interessa pela educação porque ela faz parte do processo de evangelização. Como já refletimos no primeiro artigo desta série, não existe profunda evangelização sem a educação da fé. O aprofundamento dos conteúdos da fé se dá através de um dinamismo educativo pessoal e comunitário; sem isso, não haverá mudança de mentalidade e nem conversão.

Diante dos desafios do desenvolvimento humano integral, da educação, da evangelização e da catequese, a Igreja orienta-se com firmeza pelo propósito de fidelidade. Por isso o Papa Francisco, na Constituição Apostólica “Veritatis Gaudium”, sobre as universidades e as faculdades eclesiásticas (cf. Art.73 sobre as normas comuns), afirma: “Na investigação e no estudo da doutrina católica deve brilhar sempre a luz da fidelidade ao Magistério da Igreja”.

Esse princípio da fidelidade tem diversos horizontes, a saber: ao ser humano, a Jesus Cristo, à Igreja, à Tradição, ao Reino de Deus, aos princípios éticos. Dentre as muitas recomendações que Jesus deixou aos seus apóstolos, recordemos aquela da vigilância. Hoje, no campo da educação, isso significa, não nos deixarmos seduzir por ideologias que faria a Igreja deixar de ser Sal e Luz na sociedade (cf. CT, 55; ES, 8). Assim a Educação Católica tem uma responsabilidade profética na sociedade.

Por amor e fidelidade a Jesus Cristo a Igreja é chamada a manter-se sempre vigilante para poder superar os desafios da sociedade, sobretudo, aos que se opõe à autêntica visão do ser humano e sua razão de ser neste mundo. Esse princípio basilar de fidelidade não rege somente a Igreja no seu serviço no campo da Educação, mas em todas as suas atividades e em todos os contextos.

  1. Princípio da fidelidade ao ser humano

A Igreja é “perita em humanidade” (Paulo VI, Populorum Progressio, 13) porque o seu senhor, Jesus Cristo, lhe revelou com suas palavras, gestos e atitudes, o sentido da existência humana e a sua vocação última, a vida eterna. A Igreja, através da educação e todas as suas atividades (a evangelização, catequese, liturgia, ação social…) tem o compromisso de fidelidade à sua origem sagrada, vocação, identidade (criatura, sujeito, filho de Deus, irmão), dinâmica de vida, meta definitiva. “O mistério do homem só se esclarece no mistério do Verbo encarnado” (GS, 22).

Cristo nos oferece os critérios fundamentais para se obter uma visão integral do homem que, por sua vez, ilumina e completa a imagem concebida pela filosofia e as contribuições das outras ciências humanas, a respeito do ser do homem e de sua realização histórica. Por isso firme no propósito de fidelidade à verdade sobre o homem a Igreja se manifesta contrária a todo humanismo ateu e ideologias que atentam contra a dignidade humana: ideologia determinista, economicista, psicologista, estatista, técnico-cientificista, biologista etc. (cf. Doc. Puebla,305-317). Todas elas atentam contra a visão holística do ser humano.

  1. Princípio da fidelidade a Jesus Cristo

Filho de Deus, o Senhor, Mestre, Salvador… Autoridade absoluta! “Caminho, Verdade Vida” (Jo 14,6). A Igreja é serva, Jesus é o seu Senhor, a cabeça da Igreja. “Ele é a cabeça do Corpo, que é a Igreja; Ele é o princípio e o primogênito dentre os mortos, a fim de que em absolutamente tudo tenha a supremacia” (Cl 1,17-18).

Recordemos que não existe para a Igreja Católica dicotomia entre a pessoa de Jesus e a Palavra de Deus. Jesus Cristo é a Palavra de Deus: Portanto, Jesus Cristo é o critério de validade de tudo aquilo que se encontra na Bíblia: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (cf. Jo 1,1). “Havendo Deus, desde a antiguidade, falado, em várias ocasiões e de muitas formas, aos nossos pais, por intermédio dos profetas, nestes últimos tempos, nos falou mediante seu Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo o que existe e por meio de quem criou o Universo” (Hb 1,1-2).

O princípio da fidelidade a Jesus Cristo estimula a Igreja a acolher a totalidade da pessoa do Salvador: suas palavras, seus ensinamentos, seus gestos, suas atitudes, suas opções, suas iniciativas, sua sensibilidade, suas virtudes, seus sonhos (inquietudes).

  1. Princípio da Fidelidade ao Magistério da Igreja

“Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles ‘transmitindo seu próprio encargo de Magistério” (CIC,77). O magistério da Igreja tem como função interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida; esse sério serviço de preservar o autêntico tesouro da fé é exercido em nome de Jesus Cristo, em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma e o colégio apostólico. Disse Jesus: “Quem vos ouve a mim ouve” (Lc 10,16).

“Todavia, tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado” (CIC,86).

  1. Princípio da fidelidade ao Reino de Deus

Vejamos o que nos diz o papa Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi: “Como evangelizador, Cristo anuncia em primeiro lugar um reino, o Reino de Deus, de tal maneira importante que, em comparação com ele, tudo o mais passa a ser “o resto”, que é “dado por acréscimo” (EN,8).

Para a Igreja a dinâmica do Reino de Deus é absoluta, e faz com que se torne relativo tudo o que não se identifica com Ele. O Reino de Deus é a manifestação evidente da presença de Jesus agindo através da Igreja em todas as áreas da vida humana. A presença de Jesus gerava impacto na sociedade e assim os cegos enxergavam, os coxos andavam, os leprosos eram curados, os surdos ouviam, os mortos ressuscitavam e a devida atenção cheia de esperança era anunciada aos pobres (cf. Mt 11,5). A promoção do Reino de Deus e a meta de toda atividade pastoral da Igreja.

  1. Princípio da fidelidade aos valores éticos universais

O Concílio Ecumênico Vaticano II, afirmou a íntima união da Igreja com toda a família humana declarando: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história” (GS,1). Mais ainda: tem um compromisso de fidelidade para com a sociedade (cf. CT,67); há uma interdependência dos valores éticos, tudo está interligado. “Amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam” (Sl 85,11).

A Igreja tem o compromisso de contribuir com a promoção da justiça, paz, solidariedade, diálogo em todo o mundo. Tudo o que fere a dignidade humana, atinge a vida da Igreja.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Quais são os diversos horizontes de compromissos de fidelidade da Igreja?
  2. Quais são as consequências de uma educação infiel ao ser humano?
  3. É possível a promoção da educação católica sem a fé em Jesus Cristo

Os remédios (reais) de Santo Tomás de Aquino contra a dor e a tristeza

Shutterstock | roseed abbas
Por Daniel R. Esparza

Você já ouviu a frase segundo a qual Santo Tomás de Aquino recomendaria um bom sono, um banho e uma taça de vinho para espantar a tristeza? Saiba o que realmente está por trás dessa afirmação.

A navegar pela internet, você já deve ter-se deparado com uma frase bastante reconfortante atribuída a Santo Tomás de Aquino. Ela diz o seguinte: “a tristeza pode ser aliviada por um bom sono, um banho e uma taça de vinho”.

Isso sim é uma bela combinação! Uma taça de vinho antes ou depois de um bom banho pode ajudar a maioria de nós a dormir melhor — pergunte a qualquer um de seus amigos mediterrâneos em caso de dúvida. No entanto (e desculpe decepcionar) não é isso que Aquino disse.  

Tomás de Aquino discute as curas para a dor na Segunda Parte da Summa Theologica, mais especificamente na questão 38 (Dos remédios da dor ou tristeza). Porém, enquanto o sono e os banhos são de fato recomendados, o vinho não aparece na lista.

De maneira tipicamente escolástica, Tomás de Aquino procede fazendo perguntas e levantando objeções a algumas respostas possíveis. Na maioria das vezes, essas objeções vêm de textos aristotélicos ou agostinianos. Para facilitar a leitura (e, portanto, o processo de pensamento), a questão é subdividida em cinco artigos concisos, porém abrangentes, que abordam os aspectos mais relevantes do problema em questão. Tomás de Aquino divide a Questão 38 da seguinte forma:

1.- se o prazer mitiga a dor ou a tristeza;

2.- se o pranto mitiga tristeza;

3.- se o amigo que se compadece conosco mitiga a tristeza;

4.- se a contemplação da verdade mitiga a dor;

5.- se o sono e o banho mitigam a tristeza.

Enquanto Tomás de Aquino escreveu de forma clara, concisa e diretamente ao ponto, a filosofia escolástica não é necessariamente sempre citável. Estes são processos de pensamento silogísticos minuciosos, muitas vezes meticulosos, que exigem paciência, conhecimento e atenção. Você pode ler a pergunta inteira aqui, mas se você não quiser filosofar, aqui está um resumo (bastante incompleto).  

1.- Todo prazer traz um certo tipo de alívio dos tempos difíceis. Nem todo prazer será necessariamente o melhor remédio, mas alivia a tristeza. 

2.- O choro é remédio para a dor por duas razões. Primeiramente porque “uma coisa dolorosa dói ainda mais se a mantivermos calada, pois a alma está mais atenta a ela”. Segundo, porque “uma ação que convém a um homem de acordo com sua disposição real é sempre agradável para ele”. Lágrimas e gemidos são ações condizentes com qualquer pessoa que esteja com tristeza ou dor.

3.- Os amigos são um remédio. Aqui, Aquino se refere a Aristóteles, que explica que:

– 1.: “quando um homem vê os outros entristecidos por sua própria tristeza, parece que outros carregavam o fardo com ele, esforçando-se, por assim dizer, para diminuir seu peso; portanto, o fardo da tristeza torna-se mais leve para ele”. e

– 2.: “quando os amigos de um homem se condoem com ele, ele vê que é amado por eles, e isso lhe dá prazer”. E “todo prazer traz alívio”.

4.- A contemplação da verdade é o melhor remédio para a dor por uma razão muito simples. Novamente, o prazer traz alívio, e “o maior de todos os prazeres consiste na contemplação da verdade”.

5.- Sim, o sono e os banhos são um remédio. Aquino diz que, “pela sua natureza específica, a dor é repugnante ao movimento vital do corpo” (ou seja, enfraquece-o, arrasta nossa energia e força). Consequentemente, “tudo o que restabelece a natureza corpórea ao seu devido estado de movimento vital, opõe-se à dor e a acalma ”. Banhos e sono “trazem a natureza de volta ao seu estado normal”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa aos comunicadores: contrastar as fake news, mas não isolar os que têm dúvidas

Encontro do Papa com os membros do Consórcio internacional da mídia
católica "Catholic fact-checking" | Vatican News

"Se for necessário combater as fake news, as pessoas devem sempre ser respeitadas porque muitas vezes aderem inconscientemente a elas". Palavras do Papa no encontro com aos membros do Consórcio internacional da mídia católica "Catholic fact-checking" nesta sexta-feira (28) no Vaticano.

Adriana Masotti – Vatican News

Dirigindo-se aos membros do consórcio internacional da mídia católica "Catholic fact-checking", o Papa Francisco convida a refletir sobre o estilo dos comunicadores cristãos diante de certas questões relacionadas com a pandemia. Para isso, ele cita algumas expressões de São Paulo VI presentes na Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais de 1972, onde ele reconheceu o poder dos instrumentos de comunicação social sobre o comportamento e as escolhas das pessoas. O Papa Paulo VI dizia ainda que "a excelência da tarefa do informante consiste não apenas em destacar o que é imediatamente perceptível, mas também em buscar elementos de enquadramento e explicação sobre as causas e circunstâncias de cada fato que ele deve relatar". Uma tarefa, portanto, que requer um senso de responsabilidade e rigor. Francisco continua:

“O Papa Montini falava da comunicação e da informação em geral, mas suas palavras estão muito de acordo com a realidade se pensarmos em certas desinformações que circulam hoje na web. De fato, vocês se propõem em chamar a atenção às fake news e informações tendenciosas ou enganosas sobre as vacinas Covid-19, e o fazem colocando em rede com diferentes mídias católicas e envolvendo vários especialistas.”

Estar juntos pela verdade

Francisco lembra que o objetivo do Consórcio é "estar juntos pela verdade". Estar juntos, o trabalho em rede, disse, é fundamental no campo da informação e, em um tempo de divisões, já é um testemunho. Hoje, além da pandemia, observou, a "infodemia" se espalhou, ou seja, "a distorção da realidade baseada no medo, que na sociedade global faz ecos e comentários sobre notícias falsificadas ou mesmo inventadas". A multiplicação de informações e a circulação dos chamados pareceres científicos também podem gerar confusão. É necessário, continua o Papa, citando o que ele já havia dito em um discurso em outubro de 2021, "fazer aliança com a pesquisa científica sobre doenças, que progride e nos permite combater melhor", considerando sempre que o conhecimento deve ser compartilhado.

Isto também se aplica às vacinas, recordou o Papa:

“Há uma necessidade urgente de ajudar os países que têm menos, mas isto deve ser feito com planos a longo prazo, não apenas motivados pela pressa das nações ricas em serem mais seguras”.

"Os remédios devem ser distribuídos com dignidade, e não como esmolas de piedade. Para fazer um bem real, é preciso promover a ciência e sua aplicação integral. Portanto, estar corretamente informado, ser ajudado a entender com base em dados científicos e não em fake news, é um direito humano.

A palavra "para"

A segunda palavra que o Papa Francisco enfatiza é para, uma palavra pequena, mas cheia de significado: os cristãos, comentou, são contra as mentiras, mas sempre em prol das pessoas. Não devemos esquecer a "distinção entre as notícias e as pessoas". Se for necessário combater as fake news, as pessoas devem sempre ser respeitadas porque muitas vezes aderem inconscientemente a elas. E o Papa afirma ainda:

"O comunicador cristão faz seu o estilo evangélico, constrói pontes, é um artífice da paz também e sobretudo na busca da verdade. Sua abordagem não é de oposição às pessoas, ele não assume atitudes de superioridade, ele não simplifica a realidade, para não cair em um fideísmo do estilo científico. Na verdade, a própria ciência é uma contínua aproximação à resolução dos problemas. A realidade é sempre mais complexa do que pensamos, e devemos respeitar as dúvidas, ansiedades e perguntas das pessoas, tentando acompanhá-las sem jamais tratá-las com superioridade".

O Papa Francisco sublinha mais uma vez o dever como cristãos de fazer todo o possível para "evitar a lógica da contraposição", sempre tentando aproximar e acompanhar o percurso das pessoas. "Tentemos trabalhar pela informação correta e verdadeira sobre a Covid-19 e sobre as vacinas", afirmou, "mas sem criar muros, sem criar isolamentos".

Verdade

A terceira palavra que Francisco prende em consideração é verdade, que deve ser sempre procurada e respeitada pelos comunicadores. O Papa adverte a este respeito:

"A busca da verdade não pode ser levada a uma perspectiva comercial, aos interesses dos poderosos, aos grandes interesses econômicos. Ficar juntos pela verdade significa também buscar um antídoto para algoritmos destinados a maximizar a rentabilidade comercial, significa promover uma sociedade informada, justa, saudável e sustentável. Sem uma correção ética, estes instrumentos geram ambientes de extremismo e levam as pessoas a uma radicalização perigosa".

A verdade para o cristão, continuou o Papa, não se trata apenas de coisas individuais, mas de toda a existência e também inclui significados relacionais como "apoio, solidez, confiança". E o único "verdadeiramente confiável e digno de confiança, com quem se pode contar, que é 'verdadeiro', é o Deus vivo". Jesus disse de si mesmo: "Eu sou a verdade". E conclui indicando novamente um estilo preciso de comunicação:

“Trabalhar ao serviço da verdade significa, portanto, buscar o que favorece a comunhão e promove o bem de todos, não o que isola, divide e se opõe.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São José Freinademetz

S. José Freinademetz | arquisp
28 de janeiro

São José Freinademetz

José Freinademetz nasceu no dia 15 de abril de 1852, na cidade de Oites, no Tirol do Sul, que na ocasião era território austríaco, mas a cidade hoje se chama Alta Badia e pertence a Itália. Seus pais eram camponeses muito pobres, tiveram treze filhos e formaram uma família muito cristã.

O pequeno José, desde a infância queria ser um missionário. Estudou no seminário diocesano de Bressanone, onde foi ordenado sacerdote em 1875. Depois de três anos de ministério em São Martino, na Alta Badia, com autorização de seu Bispo, ingressou na Sociedade do Verbo Divino, em Steyl, na Holanda, para ser um missionário.

Em 1879, recebendo a cruz dos verbitas, foi enviado para a missão da China. Ficou dois anos em Hong Kong, para adaptação dos costumes, e depois foi enviado para a primeira missão católica em Shandong do Sul, junto com um companheiro da Ordem, o holandês João Batista Anzer.

Os dois missionários encontraram uma comunidade minúscula de cristãos, com menos de duzentos fiéis. Começaram a evangelização com visitas pastorais em todas as vilas, contatando as pessoas e as famílias, pois o total de habitantes era de nove milhões.

Aos poucos o povo se afeiçoou ao caridoso, ativo e incansável Padre José, a quem deram o nome chinês de Padre Fu Shen Fu, que significa Padre Feliz. Com muita oração, fé na Divina Providência e extremo zelo missionário, conseguiram construir a Igreja, o seminário, o orfanato, a tipografia e a escola.

Até que em 1898, Padre José adoeceu e teve de se distanciar de sua querida Shandong, aliás ele só o fez esta única vez. Viajou para Nagasaki, no Japão, para tratar de uma tuberculose que iniciara. Mas retornou logo, mesmo sem estar totalmente curado.

Em 1900, quando a China viveu a rebelião dos Boxer, e os cristãos eram perseguidos por seus integrantes, Padre José permaneceu firme ao lado do seu rebanho, rezando e sofrendo com eles. Recusou viajar para a Holanda e participar das celebrações do jubileu de prata da Congregação do Verbo Divino, que, por sinal, coincidiam com o de sua ordenação.

Sete anos depois o governo chinês declarou uma epidemia de tifo. Padre José, à frente no atendimento e socorro às vitimas, contraiu a moléstia e morreu no dia 28 de janeiro de 1908, em Taikia.

Nesta ocasião, a diocese já contava com quarenta mil adultos convertidos e cento e cinqüenta mil crianças batizadas. A sua entrega à vida missionária no segmento de Cristo e seu amor ao povo chinês ele expressou nesta declaração à um irmão verbita: "Se pudesse reaver a juventude, escolheria outra vez a minha vocação, escolheria ser missionário no sul de Shandong".

Canonizado no ano 2003, pelo Papa João Paulo II, São José Freinademetz é festejado no dia de sua morte, sendo reconhecido o "Padre fundador da Igreja do Sul da província de Shandon".

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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São Tomás D'Aquino

S. Tomás D'Aquino | arquisp
28 de janeiro

São Tomás D'Aquino

Doutor da Igreja, professor de teologia, filosofia e outras ciências nas principais universidades do mundo em seu tempo; frei caridoso, estudioso dos livros sagrados, sucessor na importância teórica de São Paulo e Santo Agostinho. Assim era Tomás d'Aquino, que não passou de um simples sacerdote. Muito se falou, se fala e se falará deste Santo, cuja obra perdura atualíssima ao longo dos séculos. São dezenas de escritos, poesias, cânticos e hinos até hoje lidos, recitados e cantados por cristãos de todo o mundo.

Tomás nasceu em 1225, no castelo de Roccasecca, na Campânia, da família feudal italiana dos condes de Aquino. Possuía laços de sangue com as famílias reais da Itália, França, Sicília e Alemanha, esta ligada à casa de Aragão. Ingressou no mosteiro beneditino de Montecassino aos cinco anos de idade, dando início aos estudos que não pararia nunca mais. Depois, freqüentou a Universidade de Nápoles, mas, quando decidiu entrar para a Ordem de São Domingos encontrou forte resistência da família. Seus irmãos chegaram a trancá-lo num castelo por um ano, para tentar mantê-lo afastado dos conventos, mas sua mãe acabou por libertá-lo e, finalmente, Tomás pôde se entregar à religião. Tinha então dezoito anos. Não sendo por acaso a sua escolha pela Ordem de São Domingos, que trabalha para unir Ciência e Fé em favor da Humanidade. Este sempre foi seu objetivo maior.

Foi para Colônia e Paris estudar com o grande Santo e doutor da Igreja, Alberto Magno. Por sua mansidão e silêncio foi apelidado de "boi mudo", por ser também, gordo, contemplativo e muito devoto. Depois se tornou conselheiro dos papas Urbano IV, Clemente IV e Gregório X, além do rei São Luiz da França. Também, lecionou em grandes universidades de Paris, Roma, Bologna e Nápoles e jamais se afastou da humildade de frei, da disciplina que cobrava tanto de si mesmo quanto dos outros e da caridade para com os pobres e doentes.

Grande intelectual, vivia imerso nos estudos, chegando às vezes a perder a noção do tempo e do lugar onde estava. Sua norma de vida era: "oferecer aos outros os frutos da contemplação". Sábios e políticos tentaram muitas vezes homenageá-lo com títulos, honras e dignidades, mas Tomás sempre recusou. Escrevia e publicava obras importantíssimas, frutos de seus estudos solitários desfrutados na humildade de sua cela, aliás seu local preferido. Seus escritos são um dos maiores monumentos de filosofia e teologia católica.

Tomás D'Aquino morreu muito jovem, sem completar os quarenta e nove anos de idade, no mosteiro de Fossanova, a caminho do II Concílio de Lion, em 07 de março de 1274, para o qual fora convocado pelo papa Gregório X. Imediatamente colégios e universidades lhe prestaram as mais honrosas homenagens. Suas obras, a principal, mais estudada e conhecida, a "Summa Teológica", foram a causa de sua canonização, em 1323. Disse sobre ele, nessa ocasião, o papa João XXII: "Ele fez tantos milagres, quantas proposições teológicas escreveu". É padroeiro das escolas públicas, dos estudantes e professores.

No dia 28 de janeiro de 1567, o papa São Pio V lhe deu o título de "doutor da Igreja", e logo passou a ser chamado de "doutor angélico", pelos clérigos. Em toda a sua obra filosófica e teológica tem primazia à inteligência, estudo e oração; sendo ainda a base dos estudos na maioria dos Seminários. Para isso contou, mais recentemente, com o impulso dado pelo incentivo do papa Leão XIII, que fez reflorescer os estudos tomistas.

A sua festa litúrgica é celebrada no dia 28 de janeiro ou no dia 07 de março. Seus restos mortais estão em Tolouse, na França, mas a relíquia de seu braço direito, com o qual escrevia, se encontra em Roma.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A Idade Moderna – De Erasmo a Nietzsche (Parte 6/6)

Presbíteros

A Idade Moderna
De Erasmo a Nietzsche
ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS
por Eric Voegelin

Tradução e abreviação de M. C. Henriques, Lisboa, Ática, 1996

§ 7 O Princípio do Fim

Em 1520, Lutero atingira o cume das suas capacidades. A partir de então as circunstâncias obrigaram-no a escrever cada vez mais e a dizer cada vez menos com tantas modificações que acabava por contradizer posições anteriores. Já não é a história de uma doutrina mas a de um homem que está a inaugurar um período de mais de 100 anos de revoluções e guerras religiosas.Von weltlicher Oberkeit wie weit man ihr Gehorsam schuldig sei de 1523 é, talvez, a sua mais detalhada exposição das ideias políticas e que, como o título indica, lida com a autoridade temporal. Em alguns territórios alemães (Meissen e Baviera por exemplo) fora proibida a tradução do Novo Testamento e as pessoas intimadas a entregar os exemplares que possuíam. Aconselha os seus fiéis a desobedecer às leis e a sofrer como os mártires. Para se justificar expôs a doutrina da instituição divina da autoridade temporal e a obrigação do cristão em desobedecer civilmente se a autoridade prevaricasse. A argumentação parte de Romanos,13,1 e ss., epístola endereçada a uma comunidade romano-cristã, vivendo sob autoridades pagãs, e a que um pouco de ordem nas suas más inclinações e atitudes apenas faria bem. No Apelo de 1520, considerara, em continuidade com a tradição medieval, que a função governamental se tornara uma das funções carismáticas do corpo místico; o estado cristão coincidia com a nação; a nobreza alemã podia ser chamada para levar a cabo a reforma nacional-cristã. As ideias de 1520 eram ainda reforma. Três anos depois tudo mudara. A individualização da experiência religiosa destruíra o equilíbrio entre os poderes carismáticos temporal e espiritual. O governante é um não-cristão que persegue os bons cristãos luteranos. Deve invocar-se a nova autoridade espiritual contra o poder temporal que se tornou não- cristão. Os fiéis devem seguir a Bíblia contra a Igreja e seus concílios. O poder espiritual tornara-se o Anticristo, o temporal era tirânico, o indivíduo estava entregue a si próprio. Situação insuportável? Mas levou mais de 100 anos a ser estabilizada. Neste sentido, 1523 é o fim da Idade Média.

Ao destruir-se o equilíbrio entre autoridades institucionais espiritual e temporal, todos os homens pertencem quer ao Reich Gottes (os fiéis) quer ao Reich der Welt cuja espada pune os atos malvados. Os cristãos não carecem da espada porque vivem em paz; mas devem respeitar o poder da espada porque é útil ao seu próximo. E assim é possível satisfazer dois senhorios, o reino de Deus e o reino do Mundo. Infelizmente não é fácil satisfazer a dois senhores. A civitas Dei e a civitas terrena de Agostinho não são reinos no tempo. Na história concreta existe Igreja e império. A Igreja representa a Civitas Dei mas boa parte dos seus membros pertencem à civitas terrena. A salvação é um dom divino imperscrutável. Lutero regressa ao significado de Tyconius. A ideia de Igreja é destruída pela doutrina que só a fé salva. Ser cristão é comprar a Bíblia de Lutero e seguir a consciência. A civitas dei torna-se demasiado fácil e visível. Ora a consciência de ser bom Cristão é muito fácil de surgir. Se aparece alguém que se considera bom cristão e que só pratica iniquidades que se lhe pode responder? E se for um movimento de massas que pedem a abolição da autoridade temporal porque o reino de deus já chegou? Poderiam sobrevir abusos da liberdade evangélica. A solução era remeter os abusadores para o redil do governo temporal. Mas se o governo temporal age mal? Se interfere com os cristãos e os proíbe de ler as Bíblias que Lutero traduzira? Deverá o cristão então resistir? Em resumo, não há solução.

Quando a ordem institucional destruída fica à mercê do decisisonismo da consciência individual é a guerra de todos contra todos. A nova ordem terá que ser imposta às consciências rebeldes. Esta é origem da razão de estado, aceite pelas Igrejas. Mas de momento é só o princípio. A liberdade evangélica significava, por exemplo, o que vinha no III dos Doze Artigos dos servos camponeses revoltados (1525) um documento de inegável grandeza humana: “Tem sido costume até agora que os homens nos possuam como sua propriedade; e isto é lamentável vendo que Cristo nos redimiu a todos com o precioso derramamento do seu sangue, aos humildes bem como aos grandes, sem excepção de ninguém. Portanto é conforme às Escrituras que sejamos livres e assim o queremos ser.” Que respondeu Lutero? “Isto é tornar a liberdade cristã uma realidade totalmente carnal. Não tiveram também escravos Abraão e outros patriarcas?. Este artigo tornaria todos os homens iguais e converteria o reino espiritual de Cristo num reino mundano e externo; e isso é impossível porque um reino mundano não pode ficar em pé a menos que nele exista a desigualdade, de modo a que uns sejam livres, outros presos, uns senhores e outros súbditos “. Os camponeses não o escutaram, seguiram outra interpretação das Escrituras e o seu coração tomou a decisão da revolução social violenta. Em 1523 aconselhara no escrito Von weltlicher Oberkeit : “A heresia é um assunto espiritual que não pode ser cortado com o ferro, queimado com o fogo ou afogado em água“. Em 1525 pediu aos nobres e aos cavaleiros para massacrar os heréticos. Os cavaleiros não se fizeram rogados. Foi o fim do sonho da Reforma através da palavra. Lutero viveu ainda 20 anos. Mas nada mais tinha para dizer. Em cerca de oito anos criara ideias decisivas para o decurso da história da consciência moderna e perante as quais o cisma Protestante é quase secundário.

1. Destruíra o núcleo da cultura espiritual cristã ao atacar a doutrina da fides caritate formata. Reduzira a fé a um ato de confiança ao retirar-lhe a intimidade da graça, sempre exposta às tentações do orgulho e da soberba. A consciência empírica da justificação pela fé cria uma ruptura na natureza humana.

2. Destruíra a cultura intelectual ocidental ao atacar a Escolástica aristotélica. Se o esplendor medieval foi escurecido pelas lentes torpes dos modernos, parte da responsabilidade deve-se a Lutero. A sua atitude anti-filosófica criou o padrão depois agravado por sucessivas gerações de intelectuais Iluministas, positivistas, marxistas e liberais.

3. A justificação sola fide arruina o equilíbrio da existência humana. A ideia do paraíso de amor industrioso transferiu a ênfase da vita contemplativa para a ideia de realização humana através de um trabalho e de um serviço útil. O homem confia em Deus; depois vai à vida. No nosso tempo, esta atrofia da cultura intelectual e espiritual degenera no pragmatismo do sucesso.

4. Fala-se de Lutero como de alguém que possuía as virtudes e os vícios típicos do alemão. Mas se pensarmos, para só referir teólogos, em Alberto Magno, Eckhardt, Tauler, Nicolau de Cusa e o anónimo de Frankfurt, então ele nada tinha de germânico. Criou certamente um tipo humano: o revoltado voluntarista que deseja impor a sua razão como o centro da ordem institucional.

A sua obra é a manifestação de uma personalidade bizarra cuja força vital o faz romper com a história e lançar-se sozinho contra o mundo. O seu apelo à ação direta contrasta com o contemptus vulgi de Maquiavel, o ascetismo e a pleonexia do intelectual de Erasmo e a ironia jocosa e amargura diplomática de Moro. Perante a força dramática da vontade luterana de violentar o juízo da história, tais autores fazem figuras de pobres revoltados. Força, porém, não é sinónimo de grandeza e não se pode pensar à maneira dos liberais do séc. XIX que o sucesso seja sinal de valor. O grande indivíduo é um sintoma da ruptura da civilização. Por outro lado, os críticos de Lutero costumam ver a desordem espiritual e as carências do seu temperamento mas esquecem a degradação das tradições por ação de instituições e pessoas que já quase só representavam os defeitos. Ora as revoluções só se desencadeiam se houver condições de resposta das massas. No início da Reforma, a tradição degradara-se a tal ponto que um número cada vez maior de pessoas se sentia desligada de qualquer corpo místico. O indivíduo estava disponível para a violência renovadora. Entre os aspectos mais negativos da ação de Lutero conta-se a irresponsabilidade do apelo à autonomia de interpretação das escrituras e ao homo spiritualis. Faltava-lhe intuição intelectual e imaginação para ver as consequências. Mas esta deficiência que o cegava na teoria, robustecia a capacidade de agir; não entendia os enormes obstáculos iria criar. No aspecto positivo, era um observador excepcional e um talento administrativo. Conhecia os males do seu povo; tinha a moralidade e o bom senso de os aconselhar a diminuir as suas dependências; estimava os seus compatriotas: e conhecia perfeitamente o animal em que o homem se transforma se não for vigiado. Tinha todos os requisitos para ser um bom ministro num estado social-democrata. Mas passou à história convencional como o reformador da religião cristã.

BIBLIOGRAFIA:

Joseph Denifle, Luther und seine Entwicklung, 2 vols., 1904-6

Jacques Maritain, Trois Réformateurs, 1923

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF