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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Holocausto: a fraternidade de uma paróquia romana durante o horror

Refúgio de 15 meninas judias durante as perseguições de 1943na igreja 
romana de Santa Maria ai Monti
27 de janeiro

No Dia da Memória das Vítimas do Holocausto, uma história de salvação: a de uma paróquia romana que salvou quinze meninas judias. Na igreja de Santa Maria ai Monti, a poucos passos do Coliseu, um grupo de meninas foram escondidas graças às irmãs e ao pároco durante as rondas nazistas de 1943. O pároco, padre Francesco Pesce: "Uma antecipação da fraternidade invocada pelo Papa na Fratelli Tutti".

Salvatore Cernuzio – Vatican News

Passavam o dia desenhando, sempre desenhando. Assim as meninas judias refugiadas em um túnel estreito e escuro sob o campanário da igreja romana de Santa Maria ai Monti se distraíam do incessante rumor das botas dos soldados sobre os paralelepípedos, durante o horrível mês de outubro de 1943. Um longo período de terror que transformou Roma em uma floresta onde os predadores alemães arrancaram de suas casas vítimas inocentes. As meninas desenhavam principalmente rostos: os de suas mães e pais para que o terror ou o tempo não turvassem sua memória, os das bonecas perdidas na fuga, o rosto da Rainha Esther segurando um kallá, o pão da oferta. Escreviam seus nomes e sobrenomes, Matilde, Clelia, Carla, Anna, Aida.

Nas paredes desenhos, rostos, recordações

Aida, cuja assinatura ainda está marcada nas paredes com sua elegante caligrafia:

"Aida Sermoneta. Moro na sombra destes arcos".

Arcos nos quais são visíveis, embora desbotados pela umidade, peixes e frases em hebraico, dedicatórias à "Roma santa e popular". Talvez com o atrito do carvão nas paredes, as meninas quisessem cobrir gritos, tiros, portas batidas.

Uma imagem da paróquia de 1943 | Vatican News

Refugiadas no convento

Eram quinze, a menor tinha quatro anos de idade. Elas se salvaram escondendo-se em um espaço de seis metros de comprimento e dois metros de largura no ponto mais alto desta igreja do século XVI a poucos passos do Coliseu. Ali passavam horas agonizantes, que às vezes se transformavam em dias. Entre as paredes e os arcos moviam-se como sombras para escapar dos soldados e delatores. Ajudadas pelas irmãs e pelo pároco da época, padre Guido Ciuffa, elas escaparam do rastreamento e morte certa nos campos de concentração que levaram a vida de seus parentes. As mesmas pessoas que tiveram a coragem de confiá-las às Filhas da Caridade no então Convento das Neófitas. Misturadas com as estudantes e noviças, ao primeiro sinal de perigo, eram levadas à paróquia por uma porta interna de comunicação.

O que não deve mais acontecer

Hoje aquela porta é uma parede de concreto no sala da catequese. "Costumo explicar sempre às crianças o que aconteceu aqui e principalmente o que não deve mais acontecer”, explica ao Vatican News o padre Francesco Pesce, que é o pároco de Santa Maria ai Monti há doze anos. Padre Francesco é muito apreciado em toda a vizinhança, um emblema de uma Roma que ainda é capaz de fazer dialogar etnias e religiões. "Esta porta é simbólica, é uma passagem do desespero para a esperança, do mal para o bem".  Daquela porta as meninas corriam para a sacristia na direção de outra porta, disfarçada pelo padre Guido com tapeçarias, vestes, mantos de Nossa Senhora. Era o ponto de junção para subir a escada que levava sobre a abside, 30 metros acima do solo. Mais acima, tinham apenas os sinos. Ou o céu, a única via de fuga.

A passagem para o esconderijo sobre o campanário da igreja | Vatican News

A escada para a salvação

Padre Francesco nos conduz nesta imensidão de memórias levando-nos escada acima, iluminada por uma tocha. Noventa e cinco degraus de uma escada em espiral escura. Uma espiral angustiante. Nos momentos de perigo, no entanto, o único caminho para a salvação. O chão range por causa das carcaças de pombos mortos, a respiração encurta e os olhos só se acostumam à escuridão após alguns minutos, quando janelas do tamanho de tijolos deixam entrar vislumbres de luz. As meninas subiam e desciam a torre, sozinhas, por sua vez, para recolher alimentos e roupas e levá-los às suas colegas, que esperavam na cúpula de concreto que cobria a abside. O mesmo que usavam nos raros momentos de brincadeira, quando os cantos da missa cobriam o barulho.

Uma história de fraternidade

A história de Santa Maria ai Monti não é apenas a história de uma Igreja comprometida em resistir à fúria dos nazistas, mas é uma história de fraternidade escrita entre as linhas do que o Papa Francisco chamou de ‘a página mais negra’ da humanidade. "Aqui tocamos o auge da dor, mas também o auge do amor", diz ainda o pároco. "Toda a vizinhança ajudava, não apenas cristãos católicos, mas também irmãos de outras religiões que se mantiveram em silêncio e continuaram a obra de caridade. Nisso eu vejo uma antecipação da Fratelli tutti".

Silêncio e caridade

Todos no bairro sabiam que tinha quinze meninas judias escondidas na paróquia, e todos faziam escudo para protegê-las. Não cederam a ameaças ou promessas de recompensas sujas de sangue, não quiseram compartilhar nem mesmo as informações necessárias para organizar as ajudas. Muito arriscado com soldados patrulhando o bairro continuamente; muito perigoso com delatores e espiões infiltrados nas missas para escutar e observar e depois vender a vida de outros. As meninas simplesmente tiveram que desaparecer. Todas elas foram salvas. Como adultas, tendo se tornado mães, esposas e avós, elas continuaram a visitar a paróquia. Uma delas continuou a visitar a paróquia até alguns anos atrás, indo ao refúgio até onde suas pernas permitissem. Mesmo quando ficou idosa, ela parava diante da porta da sacristia de joelhos e chorava. Assim como fazia 80 anos atrás.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Filipinas ganha dois novos Santuários Arquidiocesanos

Guadium Press
As cerimônias de elevação ocorreram no dia em que se celebra a Festa do Santo Niño, uma das principais devoções católicas no país.

Filipinas – Manila (26/01/2022 15:02, Gaudium Press) Dois templos católicos nas Filipinas, localizados nas províncias de Batangas e Iloilo, foram elevados ao status de Santuário Arquidiocesano.

Santuário Arquidiocesano do Santo Niño de Batangan

O Arcebispo de Lipa, Dom Gilbert Garcera, presidiu a celebração eucarística na qual a Basílica Menor da Imaculada Conceição foi declarada Santuário Arquidiocesano do Santo Niño de Batangan.

Segundo o decreto que designa a Basílica como Santuário, a Igreja local “reconhece a profunda devoção dos fiéis da Arquidiocese ao Santo Niño de Batangan e acredita que esta devoção ardente e profunda dos devotos é uma maneira notável de alcançar a santidade”.

Guadium Press

O Santo Niño de Batangan é uma imagem do Menino Jesus de pele escura que foi consagrada na Basílica desde a época espanhola. A atual imagem é uma réplica da original que foi destruída durante um incêndio no convento da igreja no ano de 1999.

Este é o oitavo santuário local da Arquidiocese depois de São Vicente Ferrer (Lipa City), São José Patriarca (San José, Batangas), Nossa Senhora de Caysasay (Taal, Batangas), Santa Teresa do Menino Jesus (Santa Teresita, Batangas), a Cruz Gloriosa Arquidiocesana (Cidade de Batangas), São João Batista (Lian, Batangas) e São Rafael Arcanjo (Calaca, Batangas).

Santuário Arquidiocesano do Santo Niño de Arevalo

O Arcebispo de Jaro, Dom José Romeo Lazo, presidiu uma celebração eucarística na Paróquia Santíssimo Nome de Jesus, na qual foi declarado o novo Santuário Arquidiocesano do Santo Niño de Arevalo.

Guadium Press

O decreto reconheceu o templo como “a casa do venerado Santo Niño de Arevalo, a terceira mais antiga imagem do Niño no país”. A devoção da imagem é datada oficialmente desde a fundação da freguesia em 1581, poucos anos após o início das devoções ao Santo Niño de Cebu e ao Santo Niño de Tondo em Manila.

Também foi abençoada a coroa oferecida pelo povo de Arevalo. O Reitor do Santuário, Padre José Clasico Nufable e seu Vigário Paroquial Padre Rex John Palmos, realizaram o ato de coroação solene.

Guadium Press

O Santo Niño de Arevalo é uma imagem secular de pele parda e é semelhante ao rosto do Santo Niño de Cebu. Também é considerada a primeira devoção do Santo Niño na província de Iloilo que foi devidamente organizada durante o mandato do Padre Anselmo Avanceña, de 1864 a 1882.

Este é o terceiro santuário local na Arquidiocese de Jaro depois de São Vicente Ferrer, na cidade de Leganes, província de Iloilo, e Nossa Senhora de Fátima em Jaro. A Arquidiocese também tem um Santuário Nacional, que é a Catedral Metropolitana de Jaro, na cidade de Iloilo. (EPC)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

A Tradição Mosaica – Oral e Escrita

As Tábuas da Lei | GoConqr
Por Alessandro Lima

Referimo-nos aqui como Tradição Mosaica a Doutrina Divina confiada a Moisés no Monte Sinai e depois transmitida por este a todo povo hebreu que saiu do Egito. Esta Tradição é também conhecida como a Lei de Moisés, pelas razões já apresentadas.

Com efeito, ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica:

Deus escolhe Abrão chamando-o a deixar a sua terra para fazer dele “o pai duma multidão de povos” (Gn 17,5), e promete abençoar nele “todas as nações da terra” (Gn 12,3). Os descendentes de Abraão serão o povo eleito, os depositários das promessas divinas feitas aos patriarcas. Deus forma Israel como seu povo salvando-o da escravidão do Egipto; conclui com ele a Aliança do Sinai, e dá-lhe a sua Lei, por meio de Moisés. Os profetas anunciam uma redenção radical do povo e uma salvação que incluirá todas as nações numa Aliança nova e eterna, que será gravada nos corações. Do povo de Israel, da descendência do rei David, nascerá o Messias: Jesus. (CCIC 8).

Ao contrário do que muitos pensam, a religião dos hebreus baseada na Lei de Moisés ou Torá, não era uma religião do livro. Aos pés do Monte Sinai Deus estabelece a pré-figura da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Estabelece com Moisés um pontificado, cujo que tinha o poder de legislar, ensinar e julgar (cf. Ex 18,13). Estabelece com o Sacerdócio Levita o rascunho do sacerdócio católico. Moisés exercia uma autoridade que estava ao lado da Torá (ou Pentateuco) e ao seu serviço. Temos aqui a pré-figura do Pontificado Católico do Papa (cf. Mt 16,18-19). Com efeito ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica:

Jesus não aboliu a Lei, dada por Deus a Moisés no Sinai, mas levou-a à plenitude, dando-lhe a interpretação definitiva. É o Legislador divino que cumpre integralmente esta Lei. Além disso, Ele, o Servo fiel, oferece mediante a sua morte expiadora o único sacrifício capaz de redimir todas «as faltas cometidas durante a primeira Aliança» (Heb 9,15). (CCIC 114).

O Papa Pio XII na Encíclica Haurietis Aquas, n. 18 deixa este ensinamento ainda mais claro (grifos nossos):

Mas somente pelo Evangelho chegamos a conhecer com perfeita clareza que a nova aliança estipulada entre Deus e a humanidade – aliança da qual a pactuada por Moisés entre o povo e Deus foi somente uma prefiguração simbólica, e o vaticínio de Jeremias mera predição – é aquela que o Verbo encarnado estabeleceu e levou à prática merecendo-nos a graça divina. Esta aliança é incomparavelmente mais nobre e mais sólida, porque, a diferença da precedente, não foi sancionada com sangue de cabritos e novilhos, mas com o sangue sacrossanto daquele que esses animais pacíficos e privados de razão, prefiguravam: “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (cf. Jo1, 29; Hb9, 18-28; 10, 1-17). Porque a aliança cristã, ainda mais do que a antiga, manifesta-se claramente como um pacto, não inspirado em sentimentos de servidão, não fundado no temor, mas apoiado na amizade que deve reinar nas relações entre pai e filhos, sendo ela alimentada e consolidada por uma mais generosa distribuição da graça divina e da verdade, conforme a sentença do evangelho de João: “Da sua plenitude todos nós participamos, e recebemos uma graça por outra graça. Porque a lei foi dada por Moisés, mas a graça foi trazida por Jesus Cristo” (Jo 1, 16-17).

O que nos importa neste artigo é que a Lei não estava ao arbítrio do povo. Moisés foi quem recebeu o múnus de estabelecer seu verdadeiro sentido e ele também tinha o poder de instituir ajudantes (cf. Ex 18,17-26). Com efeito, este Magistério deveria ser perpetuar entre o povo Judeu até a Epifania do Senhor. Nos tempos de Cristo era exercido pelos fariseus:

Na cátedra [ocupando a autoridade de ensino] de Moisés, estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam. (Mt 23,2-3).

Contudo a Torá, a Lei recebida no Monte Sinai foi confiada a Moisés e transmitida por este aos seus sucessores, de forma escrita e oral.

Um importante site [1] especialista na tradição judaica nos informa que (grifos nossos):

D’us também transmitiu a Moisés a Torá Oral, Torah she-Be’alpeh, que consiste das interpretações e explicações dos mandamentos da Torá Escrita. Moisés possuía o mais alto grau de profecia e, por isso, D’us pode ensinar-lhe a Torá Oral de forma abrangente e detalhada. Pois está escrito: “Falava D’us a Moisés face a face, como um homem qualquer fala a seu amigo” (Êxodos 33,11). Ao mencionar especificamente a transmissão da Torá Oral, D’us disse: “Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas” (Números 12,8).

Ainda:

A transmissão da Torá Oral é claramente revelada na Torá Escrita. Pois está escrito: “São estes os estatutos, juízos e leis (Torá) que deu o Senhor entre si e os filhos de Israel no Monte Sinai, pela mão de Moisés” (Levítico 26:46). É importante notar que a palavra Torá está no plural, pois se refere tanto à Torá Escrita quanto à Oral (Rashi; Sifra). Em outra parte da Torá Escrita, D’us diz a Moisés: “Dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei e os mandamentos que escrevi” (Êxodo 24,12). As tábuas de pedra são os Dez Mandamentos, a lei (Torá) significa a Torá Escrita e os mandamentos referem-se à Torá OralDe fato, a Torá Escrita faz inúmeras alusões à Torá Oral. Por exemplo, está escrito: “Então matarás as tuas vacas e tuas ovelhas…como te ordenei” (Deuteronômio 12,21). Isto implica na transmissão das instruções sobre o abate casher de animais, apesar de que não são dadas explicações. De fato, a maioria de nossos mandamentos nunca são explicados na Torá Escrita. A mitzvá da guarda do Shabat é um dos Dez Mandamentos, mas não há nenhuma instrução sobre o significado de guardar o Shabat. São mencionados, também, outros mandamentos tais como a colocação de mezuzot, de tefilin, o cumprimento das festas judaicas, mas não são discutidos, de fato, na Torá Escrita. Está bem claro que todas as instruções são encontradas na Torá Oral.

São Paulo, em 2Tm 3,8 informa-nos os nomes daqueles que resistiram a Moisés em Ex 7,8-10: Iannes e Mambres. Tais nomes não se encontram no texto sagrado, logo ele só poderia ter tomado conhecimento deles através da Torá Oral.

Também quando São Judas nos diz que São Miguel não quis julgar a blasfêmia de Satanás, quando estavam lutando pelo corpo de Moisés, mas deixou-o ao Julgamento de Deus, ele estava também citando a Torá Oral (cf. Tg 1,9). Ou alguém consegue encontrar esta passagem na Bíblia?

Júlio Trebolle Barrera, especialista na cultura dos Judeus, observa que (grifos nossos):

A hermenêutica judaica, haláquica ou hagádica, é uma entidade própria. Constitui o núcleo do judaísmo, definido como a religião da dupla Torá: A Torá escrita, constituída pela Tanak, e a Torá oral, integrada pelo corpo de interpretações autorizadas da Tanak – a Mixná e o Talmude […] O judaísmo desenvolveu a Lei através de uma tradição oral com valor igualável ao da lei escrita [2].

Como foi demonstrado, a Antiga Religião Moisaica nunca foi uma religião do livro. Aos pés do Monte Sinai Deus estabelece não apenas uma religião, mas uma sociedade que cuja perfeição viria alcançar com o Advento da Igreja de Cristo.

NOTAS

[1] http://www.morasha.com.br/leis-costumes-e-tradicoes/a-tora-oral.html

[2] BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã – Introdução à história da Bíblia. Tradução de Ramiro Mincato. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. 2ª. Edição. Pág 20-25.

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

Santo Irineu ajudou a salvar a Igreja Católica do cisma

Santo Irineu na igreja ortodoxa da Santa Ascensão na Carolina do Sul
| Andrew Gould via Wikimedia (CC BY-SA 2.0)

Roma, 27 jan. 22 / 11:05 am (ACI).- Santo Irineu de Lyon uma vez ajudou a salvar a Igreja Católica do século II do cisma e, atualmente, o recém declarado “Doutor da Unidade” é o santo padroeiro de um grupo de teólogos que trabalha em problemas atuais no diálogo ortodoxo-católico.

Segundo o Grupo Misto de Trabalho Ortodoxo-Católico Santo Irineu, o novo Doutor da Igreja entendeu que a “diversidade na prática não implica desunião de fé”.

Durante a “Controvérsia Pascal” no século II, Irineu desempenhou um papel decisivo na mediação da disputa sobre a data da Páscoa.

Duas tradições principais existiam na Igreja primitiva na época. Em grande parte da Ásia Menor, a Páscoa era celebrada no dia 14 de Nisan (a Páscoa judaica), uma observância conhecida como Quartodecimanismo. Mas em Roma e em grande parte do Oriente, a festa caía em um determinado domingo – uma diferença que também tinha implicações nas práticas de jejum.

Quando Irineu servia como padre em Lyon, na atual França, ele foi enviado a Roma em 177 para fazer uma mediação nesta controvérsia e encontrar uma solução.

Irineu escreveu: “O desacordo no jejum só fala de nosso acordo na fé.”

O santo “interveio com sucesso diante do papa Victor para levantar a excomunhão dos quartodecimanos e assim evitar um cisma”, disse o grupo de trabalho de Irineu à CNA, agência do grupo ACI em inglês, em 23 de janeiro.

Os 26 teólogos católicos e ortodoxos que compõem o Grupo Misto de trabalho Ortodoxo-Católico Santo Irineu discutiram o papel de Irineu na Controvérsia Pascal durante sua reunião mais recente em Roma.

Foi durante esta reunião que o papa Francisco revelou pela primeira vez que planejava nomear Irineu o 37º Doutor da Igreja com o título de “Doutor da Unidade”.

O papa oficializou isso em 21 de janeiro com um decreto assinado durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

Após a promulgação do decreto, o Grupo Misto de trabalho Ortodoxo-Católico Santo Irineu disse à CNA por que Irineu era uma escolha adequada para o título de “Doutor da Unidade”.

“Como nativo da Ásia Menor que acabou se tornando bispo no Ocidente, Irineu em sua pessoa reflete a estreita interconexão entre Oriente e Ocidente na Igreja primitiva”, disse o grupo à CNA.

“Seus escritos abordam temas críticos como a ‘regra de fé’, sucessão apostólica, o cânon das Escrituras, todos os quais são elementos-chave da fé em comum entre católicos e ortodoxos.”

o Grupo Misto de trabalho Ortodoxo-Católico Santo Irineu é composto por 13 teólogos católicos e 13 teólogos de várias Igrejas Ortodoxas (Constantinopla, Antioquia, Rússia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Grécia, América).

O grupo se reúne anualmente desde 2004, alternando entre países de maioria católica e ortodoxa, incluindo Itália, Rússia, França, Romênia, Áustria e Grécia.

Segundo o estilo do grupo misto de trabalho, suas respostas às perguntas da CNA foram coescritas por um representante católico e um representante ortodoxo do grupo e depois aprovadas por ambos os seus cossecretários: Assaad Elias Kattan, presidente de Teologia Ortodoxa da Universidade de Münster, e Johannes Oeldemann, diretor católico do Instituto Johann Adam Möhler para o Ecumenismo.

“Irineu nos deixou um magnífico legado teológico escrito de maneira particularmente cara aos ortodoxos, porque integra motivos intelectuais e espirituais, e ao mesmo tempo tão querido no Ocidente que seus principais escritos foram preservados em latim”, disse o grupo de trabalho.

Com o novo decreto papal, Irineu tornou-se o primeiro santo em ostentar os títulos de mártir e Doutor da Igreja.

À raiz do decreto, alguns levantaram a questão de saber se há prova histórica de que Irineu foi realmente um mártir.

O Grupo Misto de Trabalho Ortodoxo-Católico Santo Irineu, no entanto, explicou por que defende que Irineu deveria ter ambos os títulos.

“Embora ele seja venerado como mártir por católicos e ortodoxos, há pouca informação sobre a maneira real de sua morte”, afirmou.

“No entanto, o martírio não se mede apenas pelo sofrimento real, mas também por um amor que expressa esse desejo de passar por tudo o que Deus permite que aconteça. Irineu, nesse sentido, foi ao menos um mártir do desejo”.

“Além disso, em seus influentes escritos, ele foi uma testemunha poderosa (‘mártys’ em grego) da fé cristã, certamente merecendo o título de mártir e ‘Doutor da Unidade’.”

O cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, elogiou o trabalho do Grupo Misto de Trabalho Ortodoxo-Católico Santo Irineu nos últimos 18 anos como um suporte valioso para o diálogo internacional católico-ortodoxo.

A próxima reunião do grupo será na Romênia em outubro de 2022.

“O ensinamento deste santo pastor e mestre é como uma ponte entre o Oriente e o Ocidente: é por isso que o indicamos como Doutor da Unidade, Doctor Unitatis.”, disse o papa Francisco em seu discurso do Ângelus em 23 de janeiro.

“Que o Senhor nos conceda, pela sua intercessão, trabalhar juntos pela plena unidade dos cristãos.”

Fonte: https://www.acidigital.com/

O Papa: pais, não se espantem diante dos problemas dos filhos. Apelo pela paz na Ucrânia

Papa Francisco - Audiência Geral | Vatican News

Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco convidou aos pais, diante dos problemas dos filhos, a pensarem no Senhor, a pensarem em como José resolveu os problemas e a pedirem a José que os ajude. ". Nunca condenar um filho", acrescentou o Papa.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"São José, homem que sonha" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (26/01), realizada na Sala Paulo VI.

O Papa explicou que "na Bíblia, como nas culturas dos povos antigos, os sonhos eram considerados um meio pelo qual Deus se revelava. O sonho simboliza a vida espiritual de cada um de nós, aquele espaço interior, que cada um é chamado a cultivar e a proteger, onde Deus se manifesta e muitas vezes nos fala".

Segundo o Papa, "devemos dizer que dentro de cada um de nós não existe apenas a voz de Deus: existem muitas outras vozes. Por exemplo, as vozes de nossos medos, experiências passadas, das esperanças; e há também a voz do maligno que quer nos enganar e confundir. Portanto, é importante ser capaz de reconhecer a voz de Deus no meio de outras vozes. José demonstra que sabe cultivar o silêncio necessário e tomar as decisões justas diante da Palavra que o Senhor lhe dirige interiormente".

A oração faz nascer em nós a intuição do caminho de saída

Para entender como nos colocar diante da revelação de Deus, o Papa retomou quatro sonhos relatados no Evangelho que têm José como protagonista.

No primeiro sonho, o anjo ajuda José a resolver o drama que o aflige ao saber da gravidez de Maria, quando o anjo lhe apareceu em sonho e lhe disse para não ter medo de receber Maria como esposa. A resposta de José foi imediata, pois quando acordou fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado.

Muitas vezes a vida nos coloca diante de situações que não entendemos e parecem sem solução. Rezar, nesses momentos, significa deixar que o Senhor nos mostre a coisa certa a ser feita.  De fato, muitas vezes é a oração que faz nascer em nós a intuição do caminho de saída. Como resolver aquela situação. Queridos irmãos e irmãs, o Senhor nunca permite um problema sem nos dar também a ajuda necessária para enfrentá-lo. Ele não nos joga ali no forno sozinhos. Não nos joga no meio dos animais ferozes. Não. O Senhor quando nos faz ver um problema ou revela um problema, nos dá sempre sua ajuda, sua presença para sair, para resolvê-lo.

A coragem de José para enfrentar as dificuldades

O segundo sonho revelador de José ocorre quando a vida do menino Jesus está em perigo. Ele pegou o menino Jesus e sua mãe e fugiram para o Egito e ficaram lá até a morte de Herodes.

Na vida fazemos experiência de perigos que ameaçam nossa existência ou a de quem amamos. Nessas situações, rezar significa escutar a voz que pode fazer nascer em nós a coragem de José para enfrentar as dificuldades sem sucumbir.

O medo também precisa da nossa oração

No Egito, José espera de Deus o sinal para poder voltar para casa. Este é o conteúdo do terceiro sonho. O anjo lhe revela que aqueles que queriam matar o menino morreram e ordena a José de partir com Maria e Jesus e retornar à sua pátria. Mas na viagem de volta, "quando soube que Arquelau reinava na Judéia, como sucessor de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá". Depois de receber aviso em sonho, José partiu para a região da Galileia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Esta é a quarta revelação.

O medo também faz parte da vida e ele também precisa da nossa oração. Deus não nos promete que não teremos mais medo, mas que, com sua ajuda, o medo não será o critério de nossas decisões. José experimenta o medo, mas Deus também o guia através do medo. O poder da oração ilumina as situações sombrias.

Os pais diante dos problemas dos filhos

A seguir, o Papa recordou "as muitas pessoas que são esmagadas pelo peso da vida e não conseguem mais esperar e nem rezar. Que São José as ajude a abrir-se ao diálogo com Deus, para reencontrar luz, força e paz".

Francisco recordou também "os pais diante dos problemas dos filhos. Filhos doentes, com doenças permanentes. Quanta dor ali! Pais que veem orientações sexuais diferentes nos filhos, como lidar com isso e acompanhar os filhos e não se esconder no comportamento de condenação. Pais que veem os filhos morrerem por causa de uma doença, e o mais triste, vemos todos os dias nos jornais, os jovens que fazem travessuras e morrem em acidentes de carro. Pais que veem os filhos não prosseguirem na escola, muitos problemas dos pais. Pensemos em como ajudá-los. A esses pais eu digo que não se espantem. Há muita dor, muita, mas pensem no Senhor, pensem em como José resolveu os problemas e peçam a José que os ajude. Nunca condenar um filho".

O Papa recordou as mães que visitam os filhos nas prisões. Uma mãe diante de um filho que errou e está preso, mas não o deixa sozinho, dá a cara e o acompanha. Esta coragem de pai e mãe que acompanham o filho sempre.

A oração não é um gesto abstrato ou intimista

O Papa concluiu, dizendo que "a oração nunca é um gesto abstrato ou intimista, como querem fazer estes movimentos espiritualistas mais gnósticos do que cristãos, não é isso. A oração está sempre indissoluvelmente ligada à caridade. Somente quando unimos o amor à oração, amor pelo filho e pelo próximo, conseguimos compreender as mensagens do Senhor. José rezava, trabalhava e amava, e por isso sempre recebeu o necessário para enfrentar as provações da vida. Confiemo-nos a ele e à sua intercessão".

Apelo pela paz na Ucrânia

No final da Audiência Geral, o Papa convidou a rezar pela paz na Ucrânia, e a fazê-lo muitas vezes durante este dia:

Peçamos ao Senhor com insistência que aquela terra possa ver florescer a fraternidade e superar feridas, medos e divisões. Que as orações e súplicas, que hoje se elevam ao Céu, toquem as mentes e os corações dos responsáveis na terra, para que façam prevalecer o diálogo, e o bem de todos seja colocado acima dos interesses de parte. Rezemos pela paz com o Pai Nosso: é a oração dos filhos que se dirigem ao mesmo Pai, é a oração que nos faz irmãos, é a oração dos irmãos que imploram reconciliação e concórdia.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Ângela de Mérici

Santa Ângela de Mérici | arquisp
27 de janeiro

Santa Ângela de Mérici

Ângela Mérici nasceu em 1470, na cidade de Desenzano, no norte da Itália. O período histórico era o do Renascimento e da Reforma da Igreja, provocada pela doutrina luterana. Os pais eram camponeses pobres e muito religiosos. E desde pequena, ela teve seu coração inclinado pela vida religiosa, preferindo a leitura da vida dos Santos.

De fato, sua provação começou muito cedo, na infância, quando ficou órfã de pai. Logo em seguida perdeu a mãe e a irmãzinha, com quem se identificava muito. Assim, ela foi viver na casa de um tio, que a havia adotado, mas que também veio a falecer. Voltou à terra natal. Depois de passar dias e dias chorando, com apenas treze anos, pediu para ingressar num convento, entrando para a Ordem Terceira de São Francisco de Assis.

Ângela tinha apenas o curso primário e chegou a ser "conselheira" de governadores, bispos, doutores e sacerdotes. Os seus sofrimentos, sua entrega à Deus e a vida meditativa de penitência lhe trouxeram, através do Espírito Santo, o dom do conselho, que consiste em saber ponderar as soluções adequadas para todas as situação da vida.

Ela também, percebeu que naquele momento histórico, as meninas não tinham quem as educassem e livrassem dos perigos morais, e que as novas teorias levavam as pessoas a querer organizar a vida como se Deus não existisse. Para lutar contra o paganismo, era preciso restaurar a célula familiar. Inspirada pela Virgem Maria, fundou a Comunidade das irmãs Ursulinas, em homenagem a santa Úrsula, a mártir do século IV, que dirigia o grupo das moças virgens, que morreram por defender sua religião e sua castidade.

Ângela acabou se tornando a portadora de uma mensagem inovadora para sua época. Organizou um grupo de vinte e oito moças, para ensinar catecismo em cada bairro e vila da região. As "Ursulinas" tinham como finalidade a formação das futuras mães, segundo os dogmas cristãos. Ângela teve uma concepção bastante revolucionária para sua época, quando se dizia que uma sólida educação cristã para as moças só seria possível dentro das grades de uma clausura.

Decidiu que era a hora de fazer a comunidade se tornar uma Congregação religiosa.Consta, pela tradição, que antes de ir à Roma para dar início a esse projeto, quis fazer uma peregrinação em Jerusalém. Assim que chegou, ficou cega. Visitou os Lugares Sagrados e os viu com o espírito, não com os olhos. Só recobrou a visão, na volta, quando parou numa pequena cidade onde existia um crucifixo milagroso, foi até ele, rezou e se curou. Anos depois, foi recebida pelo papa Clemente VII, durante o Jubileu de 1525, que deu início ao processo de fundação da Congregação, que ela desejava.

Ângela a implantou na Bréscia, dez anos depois, quando saiu a aprovação definitiva. E alí, a fundadora morreu aos setenta e cinco anos, em 27 de janeiro de 1540 e foi canonizada, em 1807. Santa Ângela de Mérici, atualmente, recebe as homenagens no dia de sua morte.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Líder protestante suíço em defesa de Bento XVI

Guadium Press
Os ataques da mídia ao Papa Emérito continuam.

Redação (25/01/2022 15:41Gaudium Press) Será que os que acham ter o controle do tribunal da opinião pública querem destruir Bento XVI? É o que muitos já afirmam, pois o Papa Emérito é considerado um obstáculo a ser removido, de forma necessária, para que certas mudanças de base ocorram.

Mas mesmo que se repita uma afirmação ou uma mentira, a realidade tem uma força intrínseca, e se faltam provas, mais cedo ou mais tarde, com paciência, a verdade acaba por se impor à falsidade.

Depois que o Papa Emérito, por meio de seu secretário pessoal, Mons. Georg Ganwein, esclareceu que estava presente em uma reunião, em 15 de janeiro de 1980, a grande mídia se vangloriou, lançando manchetes como: ‘Bento admite’, ou ‘Bento se retrata’, desviando a atenção da questão principal, e é a de que o Papa Ratzinger confirmou não ter nenhuma responsabilidade na designação um sacerdote pedófilo para um cargo pastoral.

Aguardando Bento XVI emitir um pronunciamento abrangente sobre todo o assunto, depois de ter estudado o volumoso Relatório Westpfahl Spilker Wastl sobre abusos na Arquidiocese de Munique, a “tormenta Bento” já traz o benefício de trazer à luz todo o passado de luta do Papa Emérito contra os abusos dentro da Igreja.

O cardeal Ratzinger foi um dos primeiros defensores em Roma, há mais de 20 anos, de que os abusos e encobrimentos na Igreja Católica não podiam continuar. Como Papa, ele iniciou uma grande mudança nesse sentido.

E todo o grande legado de Bento volta à tona, e acabará sendo reconhecido pelos melhores da Igreja e por um amplo setor da opinião pública.

Segundo noticiou Infocatolica, até mesmo líderes protestantes bem conhecidos, como Roger Köppel, estão assumindo a defesa de Bento XVI.

Köppel, editor do “Weltwoche”, afirmou hoje em seu programa matutino “Weltwoche Daily” que “os ataques a Bento XVI têm uma conotação política muito forte. As pessoas estão tentando culpar o Papa Bento XVI por algum tipo de cumplicidade nos casos de abuso na Igreja Católica. O que temos agora são os tribunais da moralidade. A moralidade de hoje é usada para julgar a situação jurídica do passado”.

Para Köppel, as acusações são “absurdas” e a intenção é desacreditar moralmente um Papa que defende uma posição ortodoxa e conservadora.

“Como protestante, estou do lado de Bento. As igrejas têm uma tarefa muito importante: resistir ao zeitgeist (espírito dos tempos). As igrejas não são zeitgeist, elas devem se ater ao que está escrito na Bíblia”, disse Köppel. (SCM)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

A Idade Moderna – De Erasmo a Nietzsche (Parte 5/6)

Presbíteros

A Idade Moderna
De Erasmo a Nietzsche
ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS
por Eric Voegelin

Tradução e abreviação de M. C. Henriques, Lisboa, Ática, 1996

§ 6 A Justificação exclusiva pela Fé

Atente-se na personalidade do “reformador”. Foi influente Administrador da ordem dos Agostinhos, professor em Wittemberg, político eclesiástico ativo, prolífico comentador das Escrituras e a sua tradução da Bíblia cria praticamente o alemão moderno comum. Os seus sermões, conversações e correspondência enchem volumes. É conhecida a sua sensibilidade à natureza e aos animais, a sua obra de músico e de poeta, a irritabilidade e a necessidade de exteriorizar os seus sentimentos. No seu temperamento e na sua obra predominam a espontaneidade lírica. As suas inconsistências radicam na sua ansiedade. Esta atitude fundamental de ansiedade e incerteza de salvação veio a exprimir-se na doutrina da sola fide que retrata o cerne da sua antropologia anti-filosófica e que assenta na censura à justificação pelas obras e à doutrina da fides caritate formata. Sendo mais conhecido o primeiro aspecto, o segundo é mais importante e merece uma análise algo detalhada.

Na Summa Contra Gentiles, cap.116, S. Tomás de Aquino define a essência da fé como amicitia entre Deus e o homem. A fé carece de uma componente intelectual porquanto é impossível amar a Deus sem captar intelectualmente a visão beatífica do summum bonum como finalidade da vida humana. Para alcançar tal desiderato, é necessário o complemento deliberado do amor pois é pela vontade que o homem confirma o que apreendeu pelo intelecto. A relação de amicitia é mútua e livre. Não depende só do impulso humano mas supõe também a atuação da graça divina que eleva por forma sobrenatural a natureza humana. A transferência e o uso analógico do termo aristotélico f orma, permite a Tomás descrever a infusão de graça como a fé formada pela caridade, ou seja como a realidade da existência orientada para Deus.

A doutrina da fides caritate formata é uma obra prima de descrição empírica que permite a Tomás estabelecer uma tipologia da fé, com tipos plenos e deficientes. A fé pode apenas ser uma orientação intelectual sem amor; ou um impulso sentimental desacompanhado da graça; ou uma emoção utilitária marcada pela ansiedade e medo das consequências. Mas nada disto é a fé cristã que é uma cultura integral da vida. Ora, um dos pontos culminantes da filosofia e da teologia helénicas e não-cristãs, o movimento de transcendência para o realissimum que atrai o homem movido pelo impulso de Eros, é ainda um movimento unilateral da alma. A participação na ideia leva à realização da alma mas essa participação não é uma relação mútua. O homem, segundo Platão, procura a divindade; mas a divindade não se inclina graciosamente para aceitar a declaração do amor humano. Não existe um equivalente helénico para uma afirmação como a I João,4, “Deus é Amor “. O clímax medieval de interpenetração do cristianismo com a cultura, da fé com a razão, é talvez a razão de ser do Ocidente e o critério pelo qual se deve avaliar o decurso da história intelectual. E esse curso tem por tema a desintegração do núcleo doutrinário da amicitia entre Deus e o homem. Essa desintegração degenera em revolta contra Deus como base da ordem imanente da sociedade. E a progressão de dogmas da salvação humana hermeticamente fechada à realidade transcendente prenunciam o fim da civilização ocidental.

Neste contexto, a doutrina da justificação pela fé surge como um ataque deliberado à amicitia e como o início de um processo de desintegração espiritual, como se observa no escrito Von der Freiheit eines Christenmenschen de 1520. A primeira parte trata de como, através da fé, o cristão pode libertar a alma da natureza que a aprisiona. A segunda lida com a subserviência do cristão à existência corpórea. A obra abre com uma antinomia: “O cristão é o senhor livre de todas as coisas a não está submetido a ninguém, Um cristão é o servo de todas as coisas e está submetido a todos “. A fé liberta o cristão da corrupção da natureza. Mas ao traduzir a expressão paulina de Romanos 1;17, Justus autem ex fide vivit“, Lutero acrescenta o apenas: “Um cristão justo vive apenas pela fé“. Por que razão se pode afirmar que só a fé justifica? A Bíblia está dividida em duas partes; as leis do Antigo Testamento e as promessas do Novo. Aos que vivem sob a lei, as Escrituras ordenam para executar várias boas obras. Mas uma vez que a lei não confere a força para as executar, os mandamentos instilam no homem uma consciência da sua fraqueza. Se medirmos as nossas ações pelas tábuas da lei, perdemos confiança em nós, experimentamos a ansiedade, o medo de danação e finalmente, o desespero. Trata-se, afinal, de uma autobiografia. O homem que desespera fica pronto para receber a promessa: “Se te queres libertar das tuas paixões malvadas e pecados…crê em Cristo; crê e obterás; não creias e não obterás “. A promessa é a palavra revelada de Deus. Através do ato de fé, a “virtude da palavra “, die Tugend des Worts torna-se uma propriedade da alma. Tudo o que o cristão requer é a fé pois o cumprimento dos mandamentos não é necessário ao justo. E ao libertar o homem dos mandamentos, a fé livra-o da angústia que decorre da impossibilidade de cumprir a lei.

Transparece nesta doutrina uma luta pessoal, tal como a conhecemos de outras fontes. A tentativa de obedecer à lei; o desespero do perfeccionista que não compreende os problemas do pecado; o medo da danação; a ansiedade de aniquilação; a convicção de que a natureza humana é irreparavelmente corrupta e que a salvação provém da descarga do pecado em Cristo. O tom poderá ser optimista mas a experiência espiritual é trágica. A descarga do pecado mediante a fé é apenas a convicção de salvação que consola a alma; esta fé não redime a natureza caída nem eleva o homem à amicitia com Deus através da Graça, como se comprova pela famosa notória expressão pecca fortiter, inserida na carta a Melanchton de 1 Agosto de 1521: “Sê um pecador e peca ainda com mais força (pecca fortiter) mas ainda mais fortemente procura ter fé e alegria em Jesus Cristo que é o conquistador do pecado, da morte e do mundo “. Este pecca fortiter não é decerto um apelo ao deboche. Mas exprime a resignação de que a natureza humana não pode ser redimida. A certeza da salvação através da fé, “mesmo que fornicássemos e assassinássemos mil vezes ao dia” é um prenúncio do que está para vir. A relação do homem para com Deus é de confiança. A amicitia degenerou no sentimento de confiança mútua, característico dos comportamentos da classe média. Tais fórmulas permitem a qualquer radical e sectário reclamar que está habitado pelo Espírito. Pessoalmente, Lutero permaneceu firme na convicção que uma nova terra e novos céus estariam além do mundo. Nada que o homem fizesse na esfera natural poderia afetar a salvação da alma, positiva ou negativamente: e a justificação pela fé abrange só a “alma”: não afeta o velho Adão.

No que se refere à segunda parte da antinomia, sobre a esfera natural, surge primeiro a afirmação que só a fé salva; as obras nada contribuem. Mas como, apesar de tudo, o homem vive neste mundo e governa pelo menos o seu corpo e embora tais comportamentos não façam o homem mais justo, recomenda-se a ascese e a rotina do trabalho diário. Mas então por que razão ser justo? O justo deve viver justamente por amor do Deus que o salvou. Este tipo de amor de Deus segue-se à justificação pela fé; não é o amor da amicitia entre Deus e o homem. É antes uma gratidão, como se depreende do comentário a Gálatas: “Hoc sola fides apprehendit, non caritas quae quidem fidem sequi debt, sed ut gratitudo quaedam“. Enfim, surge uma especulação sobre o paraíso que considera não ser um lugar de ócio, mas um espaço no qual o homem tem obrigações sociais a cumprir. Em conclusão, “Um cristão não vive sózinho, mas em Cristo e com o seu próximo; em Cristo pela fé, e com o seu próximo através do amor “.

Tais sugestões acerca da esfera humana de existência são um conjunto de argumentos mais que uma doutrina, mas têm profundas consequências antropológicas. A ruptura profunda entre a alma e a existência corpórea adquiriu um movimento próprio na filosofia moderna de Descartes a Kant. E já Lutero concebe a justiça da alma de acordo com uma moralidade que ignora as condições concretas de existência. Está à vista o desenvolvimento da sua visão de natureza profana corrupta para uma psicologia das motivações que concebe a consciência sem orientação para um bem supremo. Esta é uma das marcas luteranas na consciência europeia. A justificação pela fé abrange apenas a alma; o homem e a sociedade não são transfigurados de modo fantasista num novo reino histórico. Belo realismo. Mas quando a fé se quebra e ao pseudo-realismo luterano se junta o milenarismo marxista, o resultado é muito diferente. Se o mundo está corrompido sem salvação; e se o reino da liberdade não pode ser a liberdade cristã da alma, a ser aperfeiçoada num outro mundo, ou a transfiguração gnóstica do espírito que mora no homem. então mais não resta do que justificar o homem através da revolução. O sola fide transforma-se no “Só a revolução vos salva” de Marx.

A inconsistência teórica, contudo, permitia a Lutero ressalvar a ideia de um paraíso terrestre. Polemiza contra a justificação pelas boas obras. Na realidade, jamais cristão algum defendera essa posição mesmo que considerasse o seu cristianismo quase perfeito por assentar no cumprimento de certos requisitos. Considera que na justificação não existe obra da lei, nem existe amor: “Se a nossa fé fosse formada pelo amor, então eu teria de tomar em consideração as nossas obras “. A intenção parece ser a de restringir o amor a um princípio imanente constitutivo da ordem social. Em Acerca das Boas Obras escreve que se uma obra é boa ou má não depende de critérios éticos: “Obras más jamais fizeram um homem mau; o malvado é que faz as más obras “. A sociedade dos sacerdotes universais, justificados na sua existência natural em Cristo e amando o próximo habita o reino paradisíaco de amor transfigurador. E assim a doutrina das boas obras, suporta a ideia luterana do estado cristão. Todas as ocupações têm o seu lugar na sociedade cristã. Tal doutrina, sobretudo após a intensificação de Calvinismo, tornar-se-á a grande força motora das sociedades Protestantes para a realização do paraíso progressivo. É, aliás, uma concepção conservadora, não-milenarista e não-revolucionária. Com a atrofia da fé, tal concepção degenera na prática em sociedade de bem-estar sem cultura do espírito nem do intelecto. Se a frágil ligação da fé Cristã for dispensada, o amor imanente torna-se no altruísmo de Comte e na filantropia dos seus sucessores positivistas.

Que aconteceu à ética? Admitindo ser correto que o justo procede sempre bem, não será excessivo afirmar que as obras iníquas não fazem um homem malvado? E que só quem age por gratidão para com Deus e não por resposta à graça divina se salva? E os pagãos não tinham virtudes? Agostinho era mais tolerante ao aceitar as virtudes dos romanos e Paulo dizia que Deus se revelara aos pagãos através da lei da natureza. A Lutero só interessa o ponto de vista pessoal. Este obscurantismo individualista desce sobre as problemáticas de toda a Ética, desde Aristóteles a Tomás. A decisão pessoal tudo resolve: “Cada um pode notar e dizer a si mesmo quando pratica o bem e o mal. Se o coração confiar que agrada a Deus, a obra é boa, mesmo que se trate de uma coisa tão pequena quanto colher uma palha. Se a confiança estiver ausente, ou se ele duvida, a obra não é boa “. Neste coração que tudo resolve, vemos prenunciada a consciência de Kant. Mas a ética da consciência é surpreendentemente conformista e conservadora. Pode ser preenchida com a aceitação das convenções e a ordem concreta da sociedade. O coração até sabe que uma taxa de juro superior 20% não é cristã.

BIBLIOGRAFIA:

Joseph Denifle, Luther und seine Entwicklung, 2 vols., 1904-6

Jacques Maritain, Trois Réformateurs, 1923

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF