Translate

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Há 150 anos nascia Guglielmo Marconi, o italiano que ouviu o futuro

Guglielmo Marconi, inventor do rádio (Vatican News)

Do interior de Bolonha para conectar o mundo inteiro. Os meios de comunicação do Vaticano comemoram o inventor da tecnologia sem fio, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1909 e responsável pela execução da Rádio Vaticano com um documentário em vídeo. A obra percorre as etapas mais importantes da vida de Guglielmo Marconi: desde os primeiros experimentos na Itália, passando pela consagração internacional e a inauguração da iluminação do Cristo Redentor no Rio, direto da sua casa em Roma.

https://youtu.be/wUpKo5o4WmI

Michele Raviart e Andressa Collet - Vatican News

“Eu tive a forte intuição. Diria quase que a visão clara e certa de que as transmissões radiotelegráficas seriam possíveis através das maiores distâncias.”

As próprias palavras de Guglielmo Marconi, que nasceu no interior da Itália em 25 de abril de 1874, dão início ao documentário em vídeo produzido em língua italiana pelos meios de comunicação do Vaticano para comemorar os 150 anos de nascimento do inventor da tecnologia sem fio, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1909 e, chamado por Pio XI, projetista e responsável pela execução da Rádio Vaticano - o primeiro serviço de radiodifusão global com "a missão de levar o anúncio cristão, a esperança no mundo", comenta Massimiliano Menichetti, responsável da Rádio Vaticano - Vatican News.

O curta-metragem percorre, assim, as etapas mais importantes da vida do italiano: desde os primeiros experimentos em solo italiano, passando pela consagração internacional, e a inauguração da iluminação do Cristo Redentor no Rio, direto da sua casa, na Via Condotti, em Roma. Um dos feitos memoráveis do cientista ao lançar, da Itália, o sinal de rádio que iluminou a imagem no Brasil em 12 de outubro de 1931.

Elettra Marconi: nas ondas elétricas, meu pai viu o mundo de hoje

E foi nessa casa da família que Guglielmo Marconi morreu, em 20 de julho de 1937. Época em que a pequena Elettra tinha 7 anos de idade. Ela era filha do inventor do rádio e da condessa Maria Cristina Bezzi-Scali, com quem Marconi se casou no seu segundo casamento, em 1927.

Elettra relembra à mídia do Vaticano sua vida ao lado do pai, desde os experimentos no iate que leva seu nome até os encontros com Pio XI. Ele costumava dizer:

“Minhas invenções são para salvar a humanidade e não para destruí-la!”

Guglielmo Marconi, inventor do rádio (Vatican News)

"Guglielmo Marconi era uma personalidade muito complexa. Acima de tudo, ele era muito inteligente e tinha uma inspiração... Ele era atraído pela eletricidade! Nas ondas elétricas, ele teve visões do futuro. Sabia que elas poderiam ser usadas e desenvolvidas. Seu pai havia lhe dado um barco a vela quando morava em Livorno. Com a mãe e o irmão, via esses navios, esses veleiros que se afastavam sem poder pedir ajuda. Quando havia tempestades e naufrágios, eles não podiam pedir ajuda. Os marinheiros não tinham notícias de suas famílias por meses em viagens muito longas. Então, meu pai teve a ideia de usar essas ondas para poder salvar a vida dessas pessoas e se comunicar no espaço por longas distâncias sem fios. Antes só havia fios. E todo o seu trabalho era em física, matemática, química... Ele também era uma pessoa muito leal. Ele havia sido educado na retidão e na sinceridade desde a infância e, durante toda a sua vida, seguiu essa linha."

Seu pai era um autodidata. Como ele fez seus primeiros experimentos com ondas?

Ele começou aos 14 anos de idade... Ele as fazia de forma rudimentar. Construía antenas com cabos de vassoura, facas e garfos. Ele usava qualquer coisa para atingir o objetivo. Ele era cheio de imaginação... Ele era muito original nisso.

A senhora pode nos lembrar como surgiu a criação do rádio?

Eu nasci bem mais tarde! (risos). Eu sempre ouvi falar sobre isso! Cresci com meu pai. Ele me falou sobre isso a vida toda. Em 1901, ele fez a primeira transmissão sem fio através do Atlântico, mas foi em 1895 que fez a primeira transmissão do interior, perto de Bolonha, na casa dos pais do meu pai. Do que hoje é o Sasso Marconi, do outro lado da colina. Há a história, verdadeira, do disparo do rifle. Ele fez esse transmissor e enviou seu irmão e um fazendeiro com o receptor para o outro lado da colina. Ele lançou três pontos de código Morse e, quando o irmão ouviu o sinal, o fazendeiro disparou o rifle para avisá-lo que o sinal havia chegado. Ele tinha 21 anos de idade e seus pais entenderam imediatamente. Sua mãe, que o adorava e apoiava, acreditou cegamente no filho e foi com ele para a Inglaterra, para Londres. Ela era irlandesa e, em 1895, a Irlanda fazia parte do Reino Unido. Em Londres, havia o chefe dos correios, o inglês William Preece, que, quando viu a invenção, imediatamente entendeu a importância e disse: fique conosco porque na Itália eles não o haviam compreendido. Ele não perdeu tempo. Era muito grato à Inglaterra, mas preferiu ser italiano.

Que tipo de pai era Guglielmo Marconi?

Ele era um pai muito carinhoso. Muito engraçado, tinha humor. E, acima de tudo, era muito inteligente. Ele me tratava como uma pessoa grande, me fez crescer. Ele me deu responsabilidade. Queria que eu seguisse seus conselhos. De fato, quando perdi meu pai, foi mais do que uma mutilação.

Em vez disso, como era o relacionamento de Marconi com sua mãe, Maria Cristina. Que tipo de casal eles formavam?

Eles estavam muito apaixonados. Era um grande amor. Sempre de acordo, em harmonia. Eles tinham as mesmas paixões. Amavam a beleza da natureza. O mar. Paixões que eles passaram para mim também. E a música. Eles tinham uma grande paixão pela beleza artística. Eles eram muito parecidos. E não ficavam enjoados, porque o barco deles era uma casa flutuante. Uma oficina. Era o iate Elettra, que meu pai comprou no final da guerra, em 1919. Quando eu nasci, ele havia se casado com minha mãe e queria me dar o nome do seu lindo iate. E estou feliz com esse nome!

A senhora esteve no navio Elettra. Que experimentos testemunhou com seu pai? Para onde ele a levou?

Ele me explicou a navegação. Os ventos. As correntes... Nós navegamos. Aprendi muito com meu pai. E também moralmente. No navio, ele estava mais comigo e com minha mãe. Estávamos sempre juntos. Ele costumava me dizer: a sinceridade e a retidão são as coisas mais valiosas da vida. Ele me incentivava a realizar meus desejos. Era muito jovem. Preferia conversar com jovens do que com adultos.

A senhora disse que a intuição de Marconi veio da tentativa de ajudar os navios. Há um evento famoso que é o Titanic, no qual as invenções do seu pai foram decisivas...

Por meio dos heróicos marconistas que lançaram um SOS com o radiotelégrafo e pediram ajuda! Por sorte, o navio Carpathia estava a três horas e meia de distância... Infelizmente, o outro navio próximo era o Califórnia, que estava a meia hora de distância, mas o operador de rádio era apenas um e, às oito horas, tinha ido dormir. O primeiro navio que foi salvo com a invenção do rádio pelo meu pai, no entanto, foi o Republic em 1909, ano em que recebeu o Prêmio Nobel. Havia 2 mil passageiros lá, todos salvos pelo rádio.

Ele lhe contou alguma coisa sobre o Prêmio Nobel? Ficou feliz? Como ele recebeu a notícia?

Sim, mas depois ele foi embora antes do fim da cerimônia, por causa do trabalho que fazia. Ele sempre se dedicava ao trabalho, que era a coisa mais importante. Portanto, ele ficou muito grato por ter recebido o Prêmio Nobel, mas sua paixão era o trabalho.

Entre as emissoras que Marconi fundou, incluindo a BBC e a precursora da RAI, estava a Rádio Vaticano...

A Rádio do Vaticano! Ele se preocupava muito com ela. Foi o período mais longo em que ele esteve em Roma, com minha mãe e comigo, quando eu era pequena. Só para construir a rádio ele mesmo. Ele acompanhava o trabalho todos os dias. Pio XI pediu a ele que construísse essa rádio, porque assim a voz do Papa seria transmitida para o mundo inteiro. Ele aceitou com grande entusiasmo e se tornou um grande amigo, mas já era, de Pio XI, que também era apaixonado por física e queria estar por dentro e perto do Papa, mesmo quando estava construindo. Há muitas fotografias, há também a Via Guglielmo Marconi no Vaticano, onde ele costumava caminhar... Ele ficou muito feliz com a inauguração, quando o Papa, pela primeira vez, pôde dar a bênção Urbi et Orbi para o mundo inteiro.

Ela também costumava visitar Pio XI...

Eu era muito pequena! Eu sempre fui muito ligada ao Vaticano, porque Pio XI sempre queria encontrar meu pai em audiências particulares, com minha mãe e a pequena Elettra! Eu sempre ia com meus pais visitar o Papa. Isso se tornou uma coisa natural para mim. Eu via o Papa vestido de branco, meu pai sorrindo e minha mãe se desesperando por eu ser tão agitada.

Entre as muitas invenções e percepções do seu pai, há algumas que prenunciaram a vida cotidiana. Estou pensando no telefone celular, no radar e em suas implicações. A senhora pode nos contar algo sobre essas invenções?

O radar a bordo do iate Elettra! Ele nos chamava: 'Elettra! Cristina! Ajudem a colocar lençóis brancos ao redor dos vidros das janelas da cabine do capitão!”. Com um dispositivo, ele primeiro conectou duas boias, deixando um espaço para o iate Elettra atravessar pela proa. Com esse aparelho, ele “viu” à distância e deu ordens ao timoneiro para deixar passar o belo iate, que conseguiu não tocar nas boias. Os lençóis cobriam tudo. Não havia visibilidade, como na neblina, como se fosse noite. Mesmo antes de fazer esses experimentos, ele conversava comigo e com minha mãe, principalmente, dizendo que a neblina atrapalha a navegação e também causa naufrágios: pessoas que morrem porque colidem de repente. Portanto, ele estava muito feliz. Mas ele havia criado a empresa Marconi na Inglaterra. Assim, ele deu essa invenção à Inglaterra.

Outra invenção que ele antecipou foi a do telefone celular....

O primeiro telefone celular foi realmente para o Papa! Ele tinha um celular enorme em seu carro, um aparelho grande com o qual ele podia falar com Castel Gandolfo, quando estava viajando, ou com o Vaticano. Conheci Martin Cooper, nos Estados Unidos, que é o criador do telefone celular, e ele me pediu que o acompanhasse para explicar a ele o que meu pai costumava dizer: 'chegará o dia em que as pessoas carregarão uma caixinha no bolso para falar com o namorado, com a família, com o banco'.

Que mensagem seu pai deixaria para os jovens, para as pessoas do mundo, hoje?

Entusiasmo, coragem, tenacidade... insistir quando há uma chance de atingir uma meta. Ele tinha muita fé em Deus. É Deus, dizia ele, que disponibiliza essas forças da natureza para que nós, homens, as utilizemos, salvemos a vida dos homens e a melhoremos. Ele sempre foi grato a esse ser supremo por toda essa beleza, que eu também vi enquanto navegava, esses pores do sol... Então meu pai sempre dizia: “minhas invenções são para salvar a humanidade e não para destruí-la!”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 25 de abril de 2024

O Sudário de Oviedo

O Sudário de Oviedo (Astúrias, Espanha). Segundo uma tradição, é o pano com que o rosto de Jesus foi coberto durante a deposição da cruz e o transporte para o túmulo. As manchas de sangue nele impressas são compatíveis, em termos de composição, tipo de grupo sanguíneo e difusão geométrica, com as presentes no Sudário de Turim | 30Giorni

Arquivo 30Dias - 04/2009

Pistas para a ressurreição de Jesus

O Sudário de Oviedo

Segundo a tradição, o “Sudário do Senhor” foi preservado na antiga capital das Astúrias desde o século VIII. Investigações científicas reconheceram manchas de sangue compatíveis com as do Sudário.

por Lorenzo Bianchi

A investigação científica sobre o Sudário conservado na Catedral de São Salvador de Oviedo (Astúrias, norte de Espanha) já está em curso há vários anos, embora permaneça pouco conhecido pela maioria. É um tecido de linho retangular, apenas parcialmente regular, medindo aproximadamente 53 por 86 centímetros, com a mesma composição do Sudário em termos de tamanho de fibra, fiação e torção, com exceção da trama, que possui urdidura ortogonal enquanto o do Sudário tem a forma de uma espinha de peixe. A olho nu, são visíveis apenas manchas marrons claras de intensidade variável, que parecem ser sangue humano; As análises microscópicas também mostraram mais manchas de sangue (algumas pontuais), bem como grãos de pólen e vestígios de babosa e mirra. As fontes históricas tradicionalmente colocam o sudário em relação à paixão de Jesus; é exibido aos fiéis três dias por ano: na Sexta-feira Santa e no primeiro e último dia do Jubileu da Santa Cruz, ou seja, 14 de setembro (festa da Santa Cruz) e 21 de setembro (festa de São Mateus).

A história 

A informação que nos chegou sobre a sua história deriva sobretudo da reconstrução medieval feita dela no Liber Testamentrum por Pelágio, bispo de Oviedo de 1101 a 1130 (ano em que foi deposto), falecido em 1153. Ele afirma que o Sudário, proveniente do túmulo de Jesus, foi guardado em Jerusalém junto com outras relíquias em uma arca de madeira de cedro, que ali permaneceu até a época da conquista da cidade pelos persas de Cosroes II, em 614, quando um monge chamado Filipe fugiu carregando-o em Alexandria, no Egito. Assim que os persas também aqui chegaram em 616, Filipe trouxe a arca do Norte de África para a Península Ibérica, entregando-a a São Fulgêncio, bispo de Écija, que a entregou ao seu irmão São Leandro, bispo de Sevilha (na realidade Leandro morreu por volta de 600). Santo Isidoro, também irmão de Leandro e seu sucessor, deu-o ao seu aluno Santo Ildefonso (607-667), que, ao ser consagrado bispo de Toledo em 657, o levou consigo para a capital do reino hispano-visigótico. A estas notícias de Pelágio podemos acrescentar uma referência feita ao "sudário do túmulo de Cristo" em 570 pelo peregrino Antonino de Placência, que sabia da sua localização na gruta de um mosteiro às margens do rio Jordão, perto de Jericó (mas não diz ter visto); enquanto São Bráulio, bispo de Saragoça de 631 a 651, fala da sua descoberta (não está claro onde, mas provavelmente na Espanha). Outro peregrino, porém, Dom Algulfo, diz ter visto o Sudário em Jerusalém em 670.

Ainda segundo Pelágio, de Toledo, por medo dos árabes que haviam iniciado a invasão da Espanha em 711, o Sudário e as demais relíquias, colocadas numa nova arca de carvalho, foram transferidos diretamente para Oviedo, nas Astúrias. Outra tradição, talvez mais fiável, diz que nesta ocasião o sudário e as relíquias foram escondidos numa ermida de Monsacro, uma montanha a dez quilómetros de Oviedo. Só por volta de 840 é que o rei das Astúrias Alfonso II o Casto (791-842) os trouxe para Oviedo: por isso mandou construir no seu palácio a “Câmara Santa”, capela que desde então alberga a arca com as relíquias (atualmente a capela está incorporada na Catedral Gótica de São Salvador, construída no século XIV).

Depois de uma possível abertura da arca, ocorrida talvez nas primeiras décadas do século XI, um documento datado de 14 de março de 1075 (do qual se conserva uma cópia do século XIII nos arquivos da Sé Catedral de Oviedo) atesta um reconhecimento que ocorreu ocorre na véspera da presença do rei de Castela e Leão Alfonso VI (1065-1109) e fornece-nos o primeiro inventário do conteúdo, com a menção expressa «de Sudário eius [Domini]». Menção que também aparece na cobertura prateada da arca, encomendada pelo próprio Afonso VI e realizada poucos anos após a sua morte, como atesta a data gravada no metal (1113).

Um novo reconhecimento do conteúdo da arca ocorreu na época do bispo Diego Aponte de Quiñones (1585-1598), quando o rei Filipe II ordenou um novo inventário das relíquias ao seu enviado Ambrogio de Morales.

Portanto, a história do Sudário, que remonta essencialmente a um testemunho muito tardio (meados do século XII), parece não ter muitos requisitos de fiabilidade. No entanto, contra todas as expectativas, a investigação científica não a contradisse, antes fortaleceu-a.

A Catedral de São Salvador de Oviedo (século XIV), que inclui a "Câmara Santa" onde se guarda a arca que contém as relíquias que chegaram a Oviedo no século VIII, incluindo o "Sudário do túmulo de Cristo" | 30Giorni

Investigações científicas

Os primeiros estudos sobre o Sudário devem-se, a partir de 1965, a Monsenhor Giulio Ricci, que apontou algumas analogias com o Sudário, de cujo estudo teve muita experiência. As investigações mais recentes (a última conferência internacional de estudos sobre o Sudário realizou-se em Oviedo em Abril de 2007), que continuam a ser levadas a cabo pelo Edices (Equipo de investigación del Centro español de Sindonología), conseguiram, em primeiro lugar, constatar que o um pano foi colocado sobre o rosto de um homem, já morto, dobrado e preso atrás da cabeça. Uma série quádrupla de manchas, espelhadas em ambos os lados do pano dobrado, revelou-se na verdade composta por uma parte de sangue e seis partes de líquido edemaciado pulmonar, substância que se acumula nos pulmões devido à morte por asfixia, como aquela que ocorre após uma crucificação. O homem a quem pertence o sangue presente no Sudário de Oviedo morreu, portanto, pelas mesmas causas que o homem do Sudário. Algumas manchas são sobrepostas a outras de modo a deixar claro que estas já estavam secas quando se formaram as que se sobrepuseram e, portanto, os estudiosos também conseguiram estabelecer que o Sudário foi colocado no rosto do falecido pelo menos em dois momentos distintos. Impressões digitais também podem ser vistas entre as manchas, colocadas ao redor da boca e do nariz, provavelmente deixadas por alguém que tentava estancar o fluxo de sangue do nariz depois que o pano foi enrolado na cabeça. Além das manchas de líquido edemaciado, podem ser reconhecidas outras de diferentes tipos, incluindo pontos de sangue causados ​​por pequenos corpos pontiagudos, talvez espinhos.

Mas a coincidência mais notável é que as manchas do Sudário apresentavam correspondência geométrica com as do Sudário, das quais também são um pouco mais extensas. A marca do nariz, mensurável tanto no Sudário quanto no Sudário, parece ter o mesmo comprimento de oito centímetros. As investigações realizadas em 1985 e novamente em 1993 demonstraram que o sangue do Sudário de Oviedo pertence ao grupo AB, comum no Médio Oriente mas raro na Europa, o mesmo que o sangue presente no Sudário. No entanto, a investigação do ADN não teve sucesso, pois foi considerado demasiado fragmentado e, portanto, inutilizável, e a do carbono 14, que deu uma datação do século VII d.C., porém considerada pouco fiável pelos próprios executores do teste devido à poluição excessiva do as amostras.

Tal como acontece com o Sudário, o pólen encontrado no Sudário, estudado em 1979 pelo biólogo Max Frei, também se refere ao Médio Oriente e é compatível com o ambiente palestino do século I. Em particular, ele encontrou vestígios de pólen de seis tipos diferentes de plantas. Duas eram plantas características da Palestina: quercus calliprinos tamarindus. O outro pólen veio do Norte de África e de Espanha, confirmando inesperadamente o itinerário do Sudário e a imagem negativa que aparece no Sudário, onde sabemos que se formou após as manchas de sangue. Tendo em conta o que foi observado, levanta-se, portanto, a hipótese de que o Sudário de Oviedo poderá ser o pano que serviu, segundo o costume judaico, para cobrir o rosto de Jesus no transporte da cruz ao túmulo, mas que foi removido do rosto antes de ser coberto com o Sudário; e que, precisamente por estar encharcado de sangue, teve de ser deixado (de acordo com os regulamentos funerários judaicos) no túmulo. No entanto, não podemos estabelecer se este é o sudário que João viu e de que fala no Evangelho.
Há outro objeto que apresenta correspondências geométricas muito notáveis ​​tanto com o Sudário de Turim como com o Sudário de Oviedo: a Sagrada Face de Manoppello.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Ética e a era do vazio

Ética e Moral (Netmundi)

ÉTICA E A ERA DO VAZIO

Dom Leomar Antônio Brustolin  
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Constata-se hoje a passagem de uma única moral objetiva para as muitas opções éticas. Isso leva a um niilismo, no qual o ser humano caminha sem muitas balizas, tudo é livre e permitido e acaba-se vivendo o dia a dia sem um grande ideal ou meta para a existência. O mundo se tornou um mar aberto. O que vale é o acontecimento e não a realização de um projeto. Trata-se de uma ética que não prevê nada de seguro, estável e fixo. Não há terra firme, apenas o mar aberto.  

A ética que deriva dessa situação é uma ética que dissolve certezas e se configura como ética do passageiro, do viajante, que não apela à lei, ao direito ou à norma, mas à experiência. O humano desterritorializado tem referências pontuais e recorre mais à história do que à natureza.  

Assim, o ser humano sem saber o que fazer ou não fazer, perde o sentido último de seu trabalho, do seu sofrer, do seu festejar e até de ser livre. A liberdade fica reduzida à espontaneidade. A consciência não indica mais um juízo especulativo sobre a moralidade das ações, mas um julgamento sobre a sinceridade do momento a respeito da vontade de cada ser humano.  

Nessa falta de ética, percebe-se um terrível vazio interior, uma perda generalizada da esperança e de sentido, o obscurecimento da inteligência e uma enorme carência de espiritualidade que pautaram, por exemplo, a construção da cultura ocidental.  

Sem viver aguardando uma vida plena e eterna, o horizonte da esperança fica reduzido ao horizonte da expectativa. Consequentemente o mistério da presença do mal no mundo dispensa o sentido de pecado e reduz-se a uma experiência instintiva de agressividade e erro. Há uma mundanização do eterno e o tempo é considerado um recipiente vazio a ser preenchido de fatos, eventos e pessoas sem uma orientação ou um desígnio.  

Tudo fica restrito a obter o melhor da vida terrena, quando aparece a enfermidade, o envelhecimento e a morte, cada ser humano deverá lidar solitariamente essa experiência sem referenciais capazes de lhe dar sentido e discernimento sobre a existência.  

Para vencer essa horizontalidade da ética de quem não sabe para onde vai, é preciso trabalhar pela ética de quem tem uma meta para caminhar. Enfim, o ser humano nasceu para olhar para o alto, é peregrino do céu com os pés bem firmes sobre a terra.  O humano não nasceu para olhar somente ao redor. O animal olha para a terra e ao redor, o ser humano olha para o céu e o além. O olho do corpo vê coisas e objetos, capta as coisas visíveis. O olhar vertical olha para a eternidade escondida atrás das mesmas coisas e dos mesmos objetos. Um único olhar sobre a terra é insuficiente para esgotar toda a capacidade da força do olhar humano.

Como respondo a Nossa Senhora que bate à porta? Com coragem, diz o Papa

Papa Francisco (Vatican Media)

Afinal, "Deus perdoa tudo". E quando ela "bate à porta do seu coração, é: 'entra, Mãe, a senhora conhece melhor do que eu as coisas que fiz, os problemas que tenho...'", acrescentou Francisco em mensagem de vídeo enviada nesta quarta (24) à Paróquia de São Timóteo em Termoli, região italiana de Molise, que vai acolher a peregrinação de Nossa Senhora de Fátima por quase 10 dias.

https://youtu.be/5Dfh84y6Va0

Andressa Collet - Vatican News

"Um evento de graça", definiu Pe. Benito Giorgetta ao apresentar a peregrinação da imagem de Nossa Senhora de Fátima que chega no próximo sábado (27) a Termoli, cidade litorânea adriática da província italiana de Campobasso, região de Molise. Em preparação a essa "importante visita", como o próprio Papa antecipou, foi divulgada nesta quarta-feira (24) uma mensagem em vídeo de Francisco à comunidade da Paróquia de São Timóteo

"Nossa Senhora nos visita. E Nossa Senhora entra: entra na diocese, entra na paróquia, entra nas suas casas, entra nas suas famílias... Mas é muito educada a Nossa Senhora, não entra de repente, não. 'Pum-pum', bate à porta. Cada um de vocês deve responder: ela bate à porta do seu coração, da sua consciência, da sua casa, da sua família... Você pode dizer: 'entra, entra, entra'. Ou você pode dizer: “mas hoje não posso, volta amanhã”, e pode dizer o mesmo amanhã. E por isso, cuidado, esse 'hoje não, amanhã sim', e 'amanhã sim', 'depois de amanhã não'... e assim, não?"

A peregrinação de 27 de abril a 5 de maio em Termoli

O Papa Francisco insistiu sobre o cuidado ao responder a Nossa Senhora quando ela bate à porta da nossa casa. Neste final de semana, lembrou o Pontífice, ela estará chegando de helicóptero. Segundo a programação oficial, será recebida com a saudação dos tradicionais lenços brancos, o badalar dos sinos por toda a cidade, além do som das sirenes dos barcos de pesca do porto. Após a cerimônia de boas-vindas, haverá a liturgia da coroação e a procissão em direção à Igreja de São Timóteo, acompanhada da banda música dos policiais. Em seguida, a programação prevê a entronização do simulacro e a lâmpada mariana será acesa, para iniciar a celebração eucarística presidida pelo bispo diocesano Gianfranco De Luca.

Assim, "Nossa Senhora está conosco", disse o Papa, e, com a sua presença, irá bater à porta das famílias, dos lares e dos nossos corações. Serão quase 10 dias de peregrinação do simulacro em Termoli e Francisco questiona no vídeo como iremos responder quando ela bater à porta: com "coragem", enfatizou o Pontífice, porque "Deus perdoa tudo":

“Quando ela bate à porta do seu coração, é: 'entra, Mãe, a senhora conhece melhor do que eu as coisas que fiz, os problemas que tenho...'. Abrir a porta para Nossa Senhora.”

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Marcos Evangelista

São Marcos Evangelista (A12)

25 de abril

São Marcos Evangelista

João Marcos era judeu da tribo de Levi, e sua mãe, já viúva, com boas condições materiais, ajudou os primeiros cristãos em sua casa, para onde dirigiu-se São Pedro ao ser milagrosamente liberto da prisão, em Jerusalém (cf. At 12,12).

Por isso ela é conhecida como Maria, mãe de João Marcos, ou Maria de Jerusalém, numa das primeiras famílias cristãs da cidade. Neste episódio, Marcos ainda era uma criança. Segundo a Tradição, foi batizado por São Pedro, e certamente conheceu Jesus e todos os Apóstolos.

Marcos era primo de São Barnabé, amigo de São Paulo, e em 44 ambos o seguiram na sua primeira viagem apostólica. Mas depois de Chipre, Marcos não conseguiu prosseguir, voltando para Jerusalém. Por este motivo, São Paulo não quis sua companhia na segunda viagem missionária, separando-se de Barnabé, que levou o primo consigo.

Mas posteriormente Marcos auxiliou São Paulo em Roma, quando este foi preso pela primeira vez, e em 66, novamente preso, Paulo escreve a Timóteo pedindo que lhe envie Marcos, por este lhe ser muito útil no apostolado: assim vê-se que São Paulo reconhecera o valor deste evangelista, perdoando-o da primeira fraqueza.

Também em Roma, Marcos trabalhou com São Pedro, que o chamava de “meu filho” (cf. 1Pd 5,13). Provavelmente ali escreveu seu Evangelho, o mais antigo e curto dos quatro e baseado nos relatos de São Pedro, no ano 67 ou 68, dirigindo-se primariamente aos cristãos latinos convertidos do paganismo.

A Tradição diz que São Marcos foi pregar em Chipre após as mortes de São Pedro e São Paulo. A seguir viajou para a Ásia Menor e Egito, fundando em Alexandria uma das igrejas que mais se desenvolveram.

Teria sido martirizado entre 68 e 72, enquanto celebrava uma Missa de Páscoa, de acordo com um documento do século IV chamado Atos de Marcos. Seu corpo foi posteriormente levado para Veneza, sendo depositado na sua famosa catedral. Outras relíquias suas estão no Cairo, no Egito, na igualmente denominada Catedral de São Marcos, sede do patriarcado copta-ortodoxo.

 São Marcos é venerado como santo na Igreja Católica, na Igreja Ortodoxa e na Igreja Copta, sendo padroeiro de Veneza.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Marcos teve a vivência única de acompanhar desde a infância a origem da Igreja, tendo a casa da sua própria família se tornado um centro do Cristianismo. Também marcantes são as suas experiências missionárias, com e sem São Paulo, e o serviço que prestou a São Pedro, em Roma. Foi escolhido e inspirado por Deus para escrever o, cronologicamente, primeiro Evangelho, ditado diretamente por São Pedro (em datas estimadas que variam entre os anos 44 e 67-68, segundo diferentes fontes), mais curto que os demais, e base para os outros Evangelhos sinópticos (“que têm a mesma visão”, no caso, muitos elementos em comum, referindo-se aos Evangelhos de São Mateus e São Lucas). Foi escrito em Grego, uma das línguas mais faladas da época, num estilo simples, espontâneo e com muita vivacidade, destacando os fatos (Mateus, por exemplo, tem mais discursos) e oferecendo muitos pormenores. Pode-se identificar duas grandes partes na obra; a primeira (até Mc 9,27-29) apresenta, gradualmente, Jesus como o Filho de Deus, o Messias poderoso e inequívoco, por isso o destaque dado aos milagres de Cristo. E a segunda destaca o Messias como sofredor. É preciso conhecer, viver e divulgar o Evangelho. Para isso foi escrito. Não se trata de uma consulta breve e ocasional, ou cultura superficial: disso depende a nossa salvação. A representação tradicional de São Marcos por um leão remete ao início do seu Evangelho, com a missão de São João Batista. Este é apresentado como “a voz que grita no deserto”, analogamente ao poderoso rugido de um leão. Há dois leões que combatem por nossa alma: o da tribo de Judá, Jesus, e aquele citado por São Pedro (1Pd 5,8), que deseja nos devorar, o diabo. O primeiro é livre e vem espontaneamente nos proteger, o segundo, amarrado (cf. Santo Agostinho, “O demônio é como um cão preso na coleira, Cristo o prendeu; só morde quem dele se aproxima”) só nos morderá se dele, também livremente, nos aproximarmos...

Oração:

Senhor Deus, que por Vossa Palavra inspirastes os escritos de São Marcos, concedei-nos a sua mesma proximidade com a mensagem de Jesus, e por sua intercessão fazei também da nossa casa um centro cristão, onde, através da perseverança na missão, como ele sirvamos a Pedro, isto é, à Igreja, comunicando a todos a Boa Nova. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

Cura no sábado? (a mulher doente e o homem com hidropisia) - Cap. 39

Nazareno (Vatican News)

Cap. 39 - Cura no sábado? (a mulher doente e o homem com hidropisia)

Jesus e seus amigos partem para Jerusalém. Antes de chegar à Cidade Santa, eles param em Belém. Em uma manhã de sábado, Jesus está ensinando na sinagoga. E eis que se encontrava lá uma mulher, possuída havia dezoito anos por um espírito que a tornava enferma; estava inteiramente recurvada e não podia de modo algum endireitar-se. Ela tinha trinta anos e seu nome era Zilpa. Sua existência havia sido arruinada pela doença. Está curvada sobre si mesma, não consegue se mover com facilidade. O olhar de Jesus dirige-se a ela: vendo, Jesus chamou-a e disse: “Mulher, estás livre de tua doença”, e lhe impôs as mãos. No mesmo instante, ela se endireitou e glorificava a Deus. A cura é imediata e ocorre na frente de todos.

O chefe da sinagoga, indignado por Jesus ter feito uma cura no sábado, tomando a palavra, disse à multidão: “Há seis dias para o trabalho; portanto, vinde nesses dias para serdes curados, e não no dia de sábado!”. Jesus replicou: “Hipócritas! E a multidão está do seu lado. Depois de estar em Jerusalém para a Festa da Dedicação, Jesus atravessa o Jordão com seus protegidos para Pereia.

Naquele dia, um sábado, ele entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição... Eis que um hidrópico estava ali.

Ele é um homem de cerca de quarenta anos, com as pernas, tornozelos e pés deformados pelo inchaço causado pelo fluido que se acumulou sem ser eliminado; ele se movimenta com dificuldade e é obrigado a andar descalço. Ele esperou o Nazareno na entrada da casa.

Tomando a palavra, Jesus disse aos legistas e aos fariseus: “É lícito ou não, curar no sábado?”. Eles, porém, ficaram calados.

Jesus voltou a ensinar. E novamente falou sobre a inversão das lógicas humanas provocada pelo reino de Deus. Sem dizer nada, ele observou como os comensais, ao chegarem à casa, procuravam os primeiros lugares, os melhores lugares. Assim disse-lhes: “Quando alguém te convidar para uma festa de casamento, não te coloques no primeiro lugar; não aconteça que alguém mais digno do que tu tenha sido convidado por ele, e quem convidou a ti e a ele venha a te dizer: ‘Cede-lhe o lugar’. Deverás, então, todo envergonhado, ocupar o último lugar. Pelo contrário, quando fores convidado, ocupa o último lugar, de modo que, ao chegar quem te convidou te diga: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isso será para ti uma glória em presença de todos os convivas. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”.

Jesus então se dirigiu diretamente àquele que o havia convidado para almoçar: “Ao dares um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem os vizinhos ricos; para que não te convidem por sua vez e te retribuam do mesmo modo. Pelo contrário, quando deres uma festa, chama pobres, estropiados, coxos, cegos; feliz serás, então, porque eles não têm com que te retribuir. Serás, porém, recompensado na ressurreição dos justos”.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/04/25/11/137921089_F137921089.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Heresias antigas nas seitas de hoje

O Batismo de Cristo (Veritatis Splendor)

Heresias antigas nas seitas de hoje

  • Autor: Jesús Urones
  • Fonte: Religion en Libertad
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

Quando São Paulo escreve aos coríntios, ensina que é necessário que haja heresias:

  • “E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós” (1Coríntios 11,19).

É pelo erro que se manifestam aqueles que são aprovados na fé, ou seja, aqueles que vivem uma doutrina ortodoxa e não se deixaram confundir pelo erro doutrinário.

Ao longo da História da Igreja, existiram muitas heresias, as quais foram inicialmente combatidas pelos Santos Padres. Algumas duraram vários séculos (como o Arianismo); outras, ao contrário, duraram menos tempo. Não houve época em que não tenha havido heresias, pois até mesmo na Era dos Apóstolos já se dizia:

  • “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1João 2,19).

As antigas heresias voltaram e se manifestam hoje em diversas seitas. Neste artigo, analisarei suas semelhanças.

ARIANISMO E MACEDONIANISMO NAS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

Ário foi um sacerdote da Alexandria, que viveu entre os anos de 256 e 336, e ensinou que Jesus, o Filho de Deus, não era verdadeiro Deus e estava subordinado ao Pai, que o tinha criado. Para Ário, Cristo não era eterno, tinha um início e, portanto, era criatura do Pai. Para apoiar esta ideia, usava o texto de João 14,28, que fala que “o Pai é maior do que eu”. As ideias de Ário foram declaradas heréticas tanto pelo Concílio de Niceia [ano 325] quanto pelo 1º Concílio de Constantinopla (ano 381). O Padre da Igreja que combateu mais incisivamente o Arianismo foi, principalmente, Santo Atanásio de Alexandria.

Algum tempo depois, no século IV, surge Macedônio, patriarca de Constantinopla, afirmando que o Espírito Santo não era uma pessoa divina. Considerava o Espírito Santo uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho. Sendo criatura e não compartilhando da mesma substância ou natureza do Pai ou do Filho, era portanto inferior aos dois. Contra os erros desses grupos, Santo Atanásio, os três Padres Capadócios (São Basílio, São Gregório de Nazianzo e São Gregório de Nissa) e Dídimo de Alexandria defenderam a divindade do Espírito Santo e sua consubstancialidade com o Pai. Esta heresia foi condenada por um Sínodo em Alexandria (362), sob a presidência de Santo Atanásio; pelo 2º Concílio de Constantinopla (381); e por um Sínodo Romano (382), presidido pelo Papa São Dâmaso. O Concílio de Constantinopla acrescentou também um importante artigo ao Símbolo de Niceia, afirmando a divindade do Espírito Santo (cf. Denzinger 86).

Apesar disso, hoje em dia as Testemunhas de Jeová, baseando-se agora no texto de Colossenses 1,15-18, negam a divindade de Cristo, afirmando que Ele é “o primeiro ser criado”, da mesma forma que Ário. Negam também a divindade do Espírito Santo, considerando-O como uma força (não seria sequer uma pessoa), como afirmava Macedônio.

  • “Portanto, se o Espírito do Pai fala através dos Apóstolos, ensinando-os o que deverão responder, e o que é ensinado pelo Espírito é sabedoria – que não podemos imaginar que seja diferente da do Filho -, resta claro que o Espírito é da mesma natureza que o Filho e o Pai (…). Porém, o Pai e o Filho são uma só coisa; logo, a Trindade está unida pela unidade de substância” (Dídimo de Alexandria, Tratado sobre o Espírito Santo 86).

SABELIANISMO E ADOCIONISMO NA SEITA LUZ DO MUNDO E NOS UNITARISTAS

Sabélio foi um sacerdote do século III que viveu em Roma. Este herege ensinava que o único Deus existente tinha se manifestado de três modos diferentes: como Pai, no Antigo Testamento; como Filho, no Novo Testamento; e como Espírito Santo, após Pentecostes. Com ele havia outros defensores desta doutrina (que posteriormente passou a ser chamada de “Modalismo”, pela afirmação de que Deus se manifestara de três modos distintos), como Noeto de Esmirna e Praxeas da Ásia Menor.

Os principais Padres da Igreja que combateram esta heresia foram Hipólito, Tertuliano e, ainda, o Papa São Calisto, que excomungou Sabélio. Também o Papa São Dionísio condenou esta heresia.

Dentro da heresia “Monarquianista” (que ensina que em Deus não há mais do que uma pessoa), há duas tendências: a Sabeliana/Modalista (tratada acima) e a Adocionista; esta última foi professada por Teodoro o Curtidor em torno do ano 190; ele foi excomungado pelo Papa Victor I e pelo Bispo de Alexandria Paulo de Samósata, contra quem se levantou Malquião de Antioquia, que foi por sua vez destituído do cargo de Bispo por um Sínodo em 268. O Adocionismo ensinava basicamente que Cristo nasceu como um simples homem, mas foi “adotado como Filho” por Deus durante seu batismo, sendo a partir daí dotado de poderes divinos. Dessa forma, nega a eternidade do Verbo (v. João 1,1; Hebreus 1,1-3), sua divindade e consubstancialidade com o Pai.

A seita “Luz do Mundo” professa em suas crenças estas duas heresias, afirmando que Cristo não nasceu como Deus, mas foi adotado pelo Pai após o batismo (nascera então como criatura humana). Já os pentecostais “unitaristas” seguem praticando a doutrina modalista/sabelianista, que foi condenada por pelo menos dois Papas. Talvez a referência bíblica mais clara que refuta essas posições seja a seguinte:

  • “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (João 17,5).

Se Jesus afirma que teve glória ao lado do Pai antes da criação do mundo, isto significa claramente que já existia e era diferente do Pai; por isso diz “junto de ti mesmo”: já existia – não pode ser “um modo de Deus” ou “uma nova manifestação de Deus”; é simplesmente uma pessoa divina que desde a eternidade habitava com o Pai e que, em um dado momento, se manifestou na carne, como homem.

  • “Porém, não merece menor repreensão aqueles que opinam que o Filho é uma criatura e que creem que o Senhor foi criado, como qualquer outra coisa que realmente foi criada. (…) Dizer que o Senhor de algum modo foi criado é blasfêmia – e não qualquer blasfêmia, mas a maior blasfêmia, porque se o Filho foi criado, houve um tempo em que não existia. Pois bem: Ele sempre foi, se de fato está no Pai, como Ele o afirma [cf. João 14,10s]. E se Cristo é o Verbo, a Sabedoria e o Poder (com efeito, todas estas coisas, como sabemos, as divinas Escrituras afirmam que Cristo é [cf. João 1,14, 1Coríntios 1,24]), tudo isso são atributos de Deus. Logo, se Cristo foi criado, houve um tempo em que Ele não era nada disso; portanto, teria havido um momento em que Deus estava sem estes atributos, o que é um imenso absurdo” (Papa São Dionísio, Da Trindade: carta contra os triteístas e sabelianos; ano 260).

TRITEÍSMO NO MORMONISMO

A obra “Ensinamentos do Profeta Joseph Smith” afirma:

  • “Sempre declarei que Deus é uma personagem diferente; que Jesus Cristo é uma outra personagem e distinta de Deus Pai; e que o Espírito Santo é uma outra personagem, e é espírito. Estes três constituem três personagens diferentes e três deuses” (Capítulo 2, p.44).

Com esta declaração, o Mormonismo afirma que não crê no conceito cristão de “Trindade”, mas que há três deuses diferentes. Para o mórmon, o Pai é um Deus diferente de Deus Filho e diferente do Deus Espírito Santo. Esta doutrina, no entanto, não é nova para nós, católicos; já era uma heresia, conhecida na Antiguidade como “triteísmo”. Tal heresia era conhecida por dividir a substância da Santíssima Trindade em três substâncias diferentes. Seu fundador foi João Ascunage, diretor da escola sofista de Antioquia; ele tinha sido discípulo do Monofisismo e acabou caindo neste erro teológico. Contudo, foi João Filoponos (+565) quem mais difundiu este erro.

Apesar disso, devemos dizer que esta heresia remonta aos tempos de Marcião, que foi seu real iniciador, tendo desaparecido até os tempos de João Filoponos, que a ressuscitará em suas obras. Este autor é conhecido por ser o primeiro comentarista cristão de Aristóteles. João identificou a “natureza” e a “pessoa” (“ousia” e “hipóstasis”) e acabou caindo, em matéria de Cristologia, no monofisismo, e na doutrina trinitária, no triteísmo. Segundo ele, as três pessoas divinas são três indivíduos divinos, assim como três homens são três indivíduos humanos. Portanto, no lugar da unidade numérica de essência colocou uma unidade específica.

A Igreja Católica condenou esta heresia várias vezes; o primeiro a fazê-lo, foi o Papa São Dionísio, numa carta escrita entre os anos 259/260, em que condenava o Sabelianismo e o Triteísmo de Marcião:

  • “Este é o momento oportuno para falar contra os que dividem, separam e destroem a mais veneranda pregação da Igreja: a unidade de princípio em Deus. Repartem em três potências e hipóstases separadas, em três divindades. Eu soube que há entre vós alguns mestres que pregam e ensinam a Palavra divina, e possuem essa opinião e que se opõem diametralmente – digamos assim – à sentença de Sabélio, porque este último blasfema dizendo que o próprio Filho é o Pai e vice-versa, enquanto que aqueles, pelo contrário, pregam de certo modo três deuses, uma vez que dividem a santa unidade em três hipóstases absolutamente separadas entre si. Porque é necessário que o Verbo divino esteja unido com o Deus do universo, e que o Espírito Santo habite e permaneça em Deus, e consequentemente é de toda necessidade que a divina Trindade se recapitule e reúna, como que em um vértice, em um só, ou seja, no Deus todo-poderoso do universo; porque a doutrina de Marcião, homem de mente vazia, que corta e divide em três a unidade de princípio, é um ensinamento diabólico; não é dos verdadeiros discípulos de Cristo e daqueles que se comprazem nos ensinamentos do Salvador. Estes, com efeito, sabem muito bem que a Trindade é pregada pela divina Escritura e que nem o Antigo, nem o Novo Testamento pregam três deuses. Logo, não se deve dividir em três divindades a admirável e divina unidade, nem reduzir à ideia de criação a dignidade e suprema grandeza do Senhor; mas deve-se crer em Deus Pai todo-poderoso; e em Jesus Cristo, seu Filho; e no Espírito Santo; e que no Deus do universo encontra-se unido o Verbo, porque Ele afirma: ‘Eu e o Pai somos um’ [João 10,30], e: ‘Eu estou no Pai e o Pai está em Mim’ [João 14,10]. Deste modo é possível manter íntegra tanto a divina Trindade como a santa pregação da unidade de princípio” (Papa São Dionísio, Da Trindade: carta contra os triteístas e sabelianos; ano 260).

Roscelino de Compiégne (+~1120) partia de um ponto de vista nominalístico, segundo o qual apenas o indivíduo possui realidade e, assim, ensinava que as três pessoas divinas eram três realidades separadas entre si (“tres res ab invicem separatae”), as quais só moralmente se encontravam unidas entre si, por sua harmonia em vontade e poder, como poderiam estar três anjos ou três almas humanas. Sua doutrina foi combatida por Santo Anselmo da Cantuária e condenada por um Sínodo reunido em Soissons (1092).

Na Idade Média, no que diz respeito à formulação eclesiástica do dogma trinitário, foi de importância o IV Concílio de Latrão (1215), o qual condenou o erro triteísta de Joaquim de Fiori (DZ 428ss).

Por fim, a própria Escritura ensina que Cristo e o Pai são um (cf. João 10,30) e não distintos. Com efeito, ensina-se uma unidade ainda que se tratem de pessoas diferentes. Esta unidade é quanto à substância, à natureza. Logo, as Sagradas Escrituras também não apoiam a doutrina mórmon.

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF