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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

O perene presépio do Sacrário (II)

Menino Jesus e Maria (Opus Dei)

O perene presépio do Sacrário

Este é um texto sobre o Natal. Nele recordamos que os Magos levaram ouro, incenso e mirra. E nós, o que levamos para o Menino Jesus? O trabalho de todas as atividades humanas.

27/12/2017

Para amar

Quando trabalhamos, é Ele quem trabalha, quem sofre e se entrega, quem ama. Vamos à casa do Pão, eterno presépio do Sacrário onde está o Filho único do Pai, o Verbo eterno de Deus. Na patena, unindo nossa tarefa ao pão – fruto da terra e do nosso trabalho –; e no cálice, unindo ao vinho – fruto da vide e de nosso trabalho[19] – a gota de água de nossa vida.

Cuida e trabalha, diz São Josemaria. Um trabalho bem feito, cuidado, com esmero. O trabalho que corresponde ao pequeno dever de cada momento: Faz o que deves e está no que fazes[20]. Cuidado, esmero, preparação de tua oferenda. Vamos ao Sacrário que se encontra na paróquia, na igreja próxima ao local de trabalho, ou do caminho para ele; ao Sacrário de algum oratório. Vamos até aí para encurtar o tempo até a próxima Missa, preparando a oferenda da jornada com o cuidado e a impaciência dos enamorados, com o santo entusiasmo de fazer de cada dia uma Missa, para rezar por nossos familiares e amigos, para nos sentirmos amados…, e para amar![21]. De modo muito especial, à hora das provas, ou quando é preciso dar um passo novo, talvez mais custoso, visando um abandono interior maior, então chegou o momento de ir ao Sacrário e falar com o Senhor, que nos mostra as suas chagas como credenciais de seu amor; e, com fé nessas chagas, que não contemplamos fisicamente, descobriremos, com os Apóstolos, a necessidade de que Cristo padecesse e assim entrasse em sua glória; acolheremos mais claramente a Cruz como um dom divino, compreendendo assim aquela exortação do nosso Padre: empenhemo-nos em ver a glória e a felicidade ocultas na dor[22].

O Sacrário é Belém, casa do pão, sempre demasiado pobre para o Senhor. É Belém porque ali está com sua alma, com seu corpo, com seu sangue e sua divindade[23], porque se oferece, como em Belém, à nossa contemplação e à nossa adoração. Não vamos a Ele com as mãos vazias, mas com o trabalho já realizado e aquele por realizar. A visita ao Santíssimo Sacramento é uma pausa de adoração: Jesus, aqui está João, o leiteiro; ou também: Senhor, aqui está este desgraçado, que não sabe Te amar como João, o leiteiro[24].Com nosso nome, nós lhe falamos da oferenda que lhe estamos preparando: sou o médico, o operário, o juiz, o professor escolar…, que venho Te dar o que sou e o que faço; e a Te pedir perdão pelo que deixei de fazer. Vamos a Ele com os anjos, e, como no presépio, está Santa Maria e está São José. O pai e a mãe de família levam seus filhos para saudar Jesus no Tabernáculo; o profissional, o colega; o estudante, seu amigo, ensinando, com o exemplo, como a fé move a ir ao encontro do Senhor que nos espera.

Foto/Crédito: Opus Dei

Fé, pureza, vocação

Pai-Nosso, Ave Maria, Glória. Eu quisera Senhor receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que vos recebeu a vossa Santíssima Mãe, com o espírito e o fervor dos Santos[25]. Depois de adorar ao Pai nosso que está nos Céus, invocamos a Mãe de Deus e Mãe nossa, para que nos ensine a dar glória, com nossa vida, à Trindade. Ela nos deu o Corpo de Jesus; Ela nos dá Cristo na Eucaristia. Suas mãos receberam o ouro, o incenso e a mirra que os Magos ofereceram a Jesus. Em suas mãos se purificam nossas oferendas e também nossas misérias. Dá brilho ao ouro da nossa fé, acende com seu amor materno o incenso de nossa pureza e enche de aroma a mirra da nossa entrega. Santa Maria mantém vivo o fogo de nossa fidelidade e de nosso apostolado. Com Ela, daremos luz e calor. Seremos lâmpadas de fé, de caridade ardente, luz divina que ilumina o caminho até Belém.

Vamos à última e eterna epifania divina, a última revelação descrita no último livro do Novo Testamento, escrito quando, de um lado, pareciam crescer as confusões doutrinais, ameaçando a verdade dos cristãos, e, de outro, desencadeava-se a primeira perseguição universal e sistemática contra a Igreja. O imperador, uma criatura de barro, ébria de glória humana, pretendia ser adorado como Senhor e Deus. Porém, as sombras de glória vã desaparecerão com o rio de água da vida, claro como um cristal, procedente do trono de Deus e do Cordeiro. Os que verão seu rosto não necessitarão de lâmpadas porque o Senhor Deus os iluminará e reinarão pelos séculos dos séculos[26].

Menino Jesusm Maria e José (Opus Dei)

Enquanto isso, o fulgor divino se propaga como um incêndio, de coração a coração: fogo apostólico que se alimenta da fidelidade diária, com a humildade que persevera na fé, com o Pão que torna mais firme a pureza, com a vocação fortalecida na Palavra, na oração. Ouro, incenso e mirra. Fé, pureza, caminho: três pontos intocáveis, que cada semana consideramos com o Senhor, e que nos apraz comentar quando queremos acudir à ajuda da direção espiritual. Assim, recomeçaremos, cada dia, cada semana, preparando nossa oferenda para a Epifania de todos os dias.

Guillaume Derville

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[19] Cfr. Missal Romano, Liturgia Eucarística.

[20] Caminho, n. 815.

[21] Cfr. Forja, n. 837.

[22] D. J. Echevarría, Carta pastoral aos fiéis da Prelazia e cooperadores por ocasião do Ano da Eucaristia, 6-X-2004, em “Romana" 2004 (nº 39), p. 221.

[23] Cfr. Concílio de Trento, sessão XIII, Can. 1.

[24] Cfr. Guillaume Derville, Rezar 15 dias com São Josemaria Escrivá, Ciudad Nueva, Madrí 2002, págs. 71-72.

[25] Cfr. São Josemaria Escrivá de Balaguer, Caminho, edição crítico-histórica, preparada por Pedro Rodríguez, 3ª ed. Rialp, Madrí 2004, pág. 689 (comentário ao ponto 540).

[26] Cfr. Ap 22, 1-5.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-perene-presepio-do-sacrario/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF