O perene presépio do Sacrário
Este é um texto sobre o Natal. Nele recordamos que os Magos levaram ouro, incenso e mirra. E nós, o que levamos para o Menino Jesus? O trabalho de todas as atividades humanas.
27/12/2017
Para amar
Quando trabalhamos, é Ele quem trabalha, quem sofre e se entrega, quem ama. Vamos à casa do Pão, eterno presépio do Sacrário onde está o Filho único do Pai, o Verbo eterno de Deus. Na patena, unindo nossa tarefa ao pão – fruto da terra e do nosso trabalho –; e no cálice, unindo ao vinho – fruto da vide e de nosso trabalho[19] – a gota de água de nossa vida.
Cuida e trabalha, diz São Josemaria. Um trabalho bem
feito, cuidado, com esmero. O trabalho que corresponde ao pequeno dever de cada
momento: Faz o que deves e está no que fazes[20]. Cuidado,
esmero, preparação de tua oferenda. Vamos ao Sacrário que se encontra na
paróquia, na igreja próxima ao local de trabalho, ou do caminho para ele; ao
Sacrário de algum oratório. Vamos até aí para encurtar o tempo até a próxima
Missa, preparando a oferenda da jornada com o cuidado e a impaciência dos
enamorados, com o santo entusiasmo de fazer de cada dia uma Missa, para rezar
por nossos familiares e amigos, para nos sentirmos amados…, e para amar![21].
De modo muito especial, à hora das provas, ou quando é preciso dar um passo
novo, talvez mais custoso, visando um abandono interior maior, então chegou
o momento de ir ao Sacrário e falar com o Senhor, que nos mostra as suas chagas
como credenciais de seu amor; e, com fé nessas chagas, que não contemplamos
fisicamente, descobriremos, com os Apóstolos, a necessidade de que Cristo
padecesse e assim entrasse em sua glória; acolheremos mais claramente a Cruz
como um dom divino, compreendendo assim aquela exortação do nosso Padre:
empenhemo-nos em ver a glória e a felicidade ocultas na dor[22].
O Sacrário é Belém, casa do pão, sempre demasiado pobre para
o Senhor. É Belém porque ali está com sua alma, com seu corpo, com seu sangue e
sua divindade[23], porque se oferece, como em Belém, à nossa contemplação e à
nossa adoração. Não vamos a Ele com as mãos vazias, mas com o trabalho já
realizado e aquele por realizar. A visita ao Santíssimo Sacramento é uma pausa
de adoração: Jesus, aqui está João, o leiteiro; ou também:
Senhor, aqui está este desgraçado, que não sabe Te amar como João, o
leiteiro[24].Com nosso nome, nós lhe falamos da oferenda que lhe estamos
preparando: sou o médico, o operário, o juiz, o professor escolar…, que venho
Te dar o que sou e o que faço; e a Te pedir perdão pelo que deixei de fazer.
Vamos a Ele com os anjos, e, como no presépio, está Santa Maria e está São
José. O pai e a mãe de família levam seus filhos para saudar Jesus no
Tabernáculo; o profissional, o colega; o estudante, seu amigo, ensinando, com o
exemplo, como a fé move a ir ao encontro do Senhor que nos espera.
Fé, pureza, vocação
Pai-Nosso, Ave Maria, Glória. Eu quisera Senhor
receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que vos recebeu a vossa
Santíssima Mãe, com o espírito e o fervor dos Santos[25]. Depois de
adorar ao Pai nosso que está nos Céus, invocamos a Mãe de Deus e Mãe nossa,
para que nos ensine a dar glória, com nossa vida, à Trindade. Ela nos deu o
Corpo de Jesus; Ela nos dá Cristo na Eucaristia. Suas mãos receberam o ouro, o
incenso e a mirra que os Magos ofereceram a Jesus. Em suas mãos se purificam
nossas oferendas e também nossas misérias. Dá brilho ao ouro da nossa fé,
acende com seu amor materno o incenso de nossa pureza e enche de aroma a mirra
da nossa entrega. Santa Maria mantém vivo o fogo de nossa fidelidade e de nosso
apostolado. Com Ela, daremos luz e calor. Seremos lâmpadas de fé, de caridade
ardente, luz divina que ilumina o caminho até Belém.
Vamos à última e eterna epifania divina, a última revelação
descrita no último livro do Novo Testamento, escrito quando, de um lado,
pareciam crescer as confusões doutrinais, ameaçando a verdade dos cristãos, e,
de outro, desencadeava-se a primeira perseguição universal e sistemática contra
a Igreja. O imperador, uma criatura de barro, ébria de glória humana, pretendia
ser adorado como Senhor e Deus. Porém, as sombras de glória vã desaparecerão
com o rio de água da vida, claro como um cristal, procedente do trono de Deus e
do Cordeiro. Os que verão seu rosto não necessitarão de lâmpadas porque o
Senhor Deus os iluminará e reinarão pelos séculos dos séculos[26].
Enquanto isso, o fulgor divino se propaga como um incêndio,
de coração a coração: fogo apostólico que se alimenta da fidelidade diária, com
a humildade que persevera na fé, com o Pão que torna mais firme a pureza, com a
vocação fortalecida na Palavra, na oração. Ouro, incenso e mirra. Fé, pureza,
caminho: três pontos intocáveis, que cada semana consideramos com o Senhor, e
que nos apraz comentar quando queremos acudir à ajuda da direção espiritual.
Assim, recomeçaremos, cada dia, cada semana, preparando nossa oferenda para
a Epifania de todos os dias.
Guillaume Derville
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[19] Cfr. Missal Romano, Liturgia Eucarística.
[20] Caminho, n. 815.
[21] Cfr. Forja, n. 837.
[22] D. J. Echevarría, Carta pastoral aos fiéis da Prelazia
e cooperadores por ocasião do Ano da Eucaristia, 6-X-2004, em “Romana"
2004 (nº 39), p. 221.
[23] Cfr. Concílio de Trento, sessão XIII, Can. 1.
[24] Cfr. Guillaume Derville, Rezar 15 dias com São
Josemaria Escrivá, Ciudad Nueva, Madrí 2002, págs. 71-72.
[25] Cfr. São Josemaria Escrivá de Balaguer, Caminho, edição
crítico-histórica, preparada por Pedro Rodríguez, 3ª ed. Rialp, Madrí 2004,
pág. 689 (comentário ao ponto 540).
[26] Cfr. Ap 22, 1-5.
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