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domingo, 9 de julho de 2017

14º Domingo do Tempo Comum: Manso e Humilde

+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O Evangelho nos traz a esperança e a paz que jorram do coração de Jesus ‘manso e humilde’. O convite que ele dirige aos pequeninos e sofredores daquele tempo continua a ecoar hoje. A sua palavra se destina a todos nós, especialmente aos  “cansados e fatigados sob o peso dos fardos”, aos sofredores que necessitam de descanso em meio a tantas situações difíceis.
Encontram descanso os pequeninos, pessoas humildes e sofridas, pois no coração dos que se julgam “sábios e inteligentes”, grandes e poderosos, não ha lugar para Deus. Os fariseus e doutores da lei se consideravam justos e donos da verdade porque conheciam os inúmeros preceitos da Lei e alegavam cumpri-los rigorosamente. Por isso, não acolhiam a boa nova proclamada por Jesus. Eles julgavam condenados e indignos da salvação os que não conseguiam conhecer e cumprir os grande número de mandamentos, dentre os quais, pessoas com fama de pecadores públicos e tantos marginalizados em função de enfermidades, origem estrangeira ou outra condição. Ao contrário dos fariseus, muitos deles acolheram Jesus e passaram a segui-lo, integrando o grupo dos “pequeninos”, aos quais é revelado o Reino de Deus, motivo do louvor que Jesus dirige ao Pai.   
Naquele tempo, entre os fariseus, a imagem do “jugo” era aplicada a Lei, devendo ser carregado, de bom grado, através do seu minucioso cumprimento. Pela rigidez dos doutores da lei, este jugo tornava-se ainda mais pesado para os pequeninos que não conseguiam conhecer e cumprir seus 613 preceitos. Ao contrário, o “jugo” de Jesus é leve, trazendo “descanso” para os que o recebem.
Entretanto, o repouso oferecido por Jesus não implica em comodismo ou passividade. Ser cristão manso e humilde de coração não condiz com vida fácil. São Paulo, grande defensor da nova lei e critico dos fariseus,  exorta a uma vida nova, a vida “segundo o espírito” e não “segundo a carne”. Nós necessitamos continuamente da graça de Deus para viver segundo o Espírito. Contudo, a confiança na graça não exclui o esforço sincero de cada um, a atitude permanente de conversão, como resposta ao amor de Deus e ao dom do Reino.
O mundo de hoje, marcado pela busca do poder, do dinheiro e da fama, necessita do testemunho de fé e de simplicidade de vida dos “pequeninos” que encontram “descanso” no coração “manso e humilde” de Jesus. A profecia de Zacarias apresenta a imagem do Messias “humildemente montado num jumentinho”, portador de paz e esperança. Em nosso tempo, em meio a tanta mania de grandeza e conflitos, somos convidados a acolher e a seguir aquele que nos traz a simplicidade, o descanso e a paz, sendo mansos e humildes de coração, com Jesus e como Jesus.
Arquidiocese de Brasília

Angelus: Jesus não tira os fardos da vida, mas a angústia do coração

ANSA
Cidade do Vaticano (RV) – Jesus não tira os fardos de nossa vida, mas a angústia de nosso coração: foi o que disse o Papa neste quente domingo de julho (09/07), ao rezar o Angelus com os fiéis na Praça S. Pedro
Na alocução que precede a oração mariana, Francisco comentou o Evangelho do dia, em que Jesus diz: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).
“Jesus sabe quanto a vida pode ser dura: desilusões e feridas do passado, fardos a carregar e incertezas e preocupações pelo futuro”, disse o Papa, acrescentando que diante disto, a primeira palavra de Jesus é um convite a se mexer e a reagir: “Vinde”.
Areias movediças
“O erro, quando as coisas não vão bem, é permanecer onde se está. Parece evidente, mas quanto é difícil reagir e abrir-se!”, afirmou Francisco. Jesus, disse ele,  quer nos tirar das “areias movediças” de ficar fechado em si mesmo, remoendo quanto a vida é injusta, quanto os outros são ingratos e como o mundo é malvado.
“O caminho para sair está na relação, em estender a mão e em levantar o olhar para quem realmente nos ama”, afirmou o Pontífice. Todavia, advertiu, sair de si não basta, é preciso saber para onde ir, porque muitas metas são ilusórias, são “fogos de artifício”.
Cristo caminha conosco
Por isso, Jesus indica onde ir: “Vinde a mim”. É sempre válido buscar um amigo ou um especialista quando estamos com um problema, mas não se deve esquecer Jesus.
“Não nos esqueçamos de nos abrir a Ele e de contar-lhe a nossa vida, confiar-lhe as pessoas e as situações. Ele nos espera, não para resolver magicamente nossos problemas, mas para nos fortalecer neles. Jesus não tira os fardos da vida, mas a angústia do coração; não nos tira a cruz, mas a carrega conosco.”
Com Jesus, a paz
E com Ele, disse ainda o Papa, todo fardo se torna leve, porque Ele é o descanso que buscamos. E concluiu:
“Quando Jesus entra na vida, chega a paz, aquela que permanece inclusive nas provações. Vamos até Jesus, dediquemos a Ele nosso tempo, vamos encontrá-Lo diariamente na oração, num diálogo confiante e pessoal; vamos nos familiarizar com a sua Palavra, redescobrir sem medo o seu perdão, matar a nossa fome com seu Pão de vida: nos sentiremos amados e consolados por Ele.”
Fiéis polonses
Ao final do Angelus, Francisco saudou os grupos na Praça e os parabenizou pela "coragem" de estarem ali não obstante o calor. De modo especial, dirigiu uma saudação aos poloneses da família da Rádio Maria que realizam uma peregrinção aos santuário de Czestochowa, rezando com os fiéis uma Ave-Maria para acompanhá-los nesta peregrinação.
Desabamento em Nápoles
Neste domingo, Francisco manifestou seu pesar pelo desabamento de um prédio na região de Nápoles, que matou oito pessoas, inclusive duas crianças. Em telegrama, o Pontífice garante sua oração pelos mortos e consolação aos familiares e feridos.
Rádio Vaticano

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Do livro sobre a predestinação dos santos, de Santo Agostinho, bispo

(Cap.15,30-31:PL44,981-983)                (Séc.V)

Jesus Cristo, da linhagem de Davi segundo a carne
            Esplêndida luz da predestinação e da graça é o próprio Salvador, o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus. Para que isto acontecesse, como o adquiriu a natureza humana que nele existe? Com que precedentes méritos de obras ou de fé? Respondam-me, por favor: aquele homem, para ser assumido na unidade de pessoa pelo Verbo coeterno com o Pai e ser o Filho unigênito de Deus, o que fez para merecê-lo? Qual o bem que precedeu? Que fez antes, que acreditou, que pediu, para chegar a esta indizível excelência? Na verdade, não foi pela ação do Verbo, ao assumi-lo, que este mesmo homem, desde que começou a existir, começou a ser o Filho único de Deus? Manifeste-se assim a nós, em nossa Cabeça, a fonte de graça, donde ela se vai difundir por todos os membros segundo a medida de cada um.
            Com efeito, a graça pela qual, no início de sua fé, um homem se torna cristão, é a mesma pela qual esse homem, desde sua origem, foi feito Cristo. Assim pelo mesmo Espírito renasceu aquele cristão e nasceu este o Cristo. Pelo Espírito, faz-se em nós a remissão dos pecados, por esse mesmo Espírito que fez com que o Cristo não tivesse pecado algum. Deus teve a presciência de que faria tais coisas. Esta é, portanto, a predestinação dos santos, aquela que refulge ao máximo no Santo dos santos. Quem poderá negá-la se compreende com justeza as palavras da verdade? Pois foi-nos ensinado que o próprio Senhor da glória, enquanto homem feito Filho de Deus, foi predestinado.
            Jesus foi predestinado: ele, que haveria de ser filho de Davi segundo a carne, haveria de ser também, segundo a virtude, Filho de Deus segundo o Espírito de santidade, porque nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria. É esta a singular assunção do homem pelo Deus Verbo que se realizou de modo inefável, a fim de que o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, filho do homem, a saber, filho do homem por causa da humanidade assumida e filho de Deus por causa daquele que assumia – fosse verdadeira e propriamente dito o Deus unigênito. Que não acontecesse termos de crer numa quaternidade e não na Trindade!
            A natureza humana foi predestinada a tão imensa, sublime e máxima elevação que não tem por onde mais se elevar, assim como a própria divindade não encontrou meios de se rebaixar mais por nós do que aceitando a natureza do homem, com a fraqueza da carne, até à morte da cruz. Assim como foi predestinado o Único para ser nossa Cabeça, assim também, embora muitos, nós somos predestinados para sermos seus membros. Calem-se aqui os méritos humanos, mortos por Adão, e reine aquela que reina, a graça de Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor, único Filho de Deus, um só Senhor. Quem quer que encontre em nossa Cabeça méritos anteriores àquela singular geração, busque em nós, seus membros, os méritos precedentes à múltipla regeneração.
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quinta-feira, 6 de julho de 2017

Ensaio fotográfico de “mini São Francisco” conquista as redes sociais

Bernardo vestido de São Francisco de Assis. Foto: Lanne Benatto Fotografia
SÃO PAULO, 05 Jul. 17 / 06:00 pm (ACI).- Um ensaio fotográfico de 1 ano de um bebê conquistou as redes sociais esta semana não só pelo tema escolhido, mas pela mensagem que transmitiu: o pequeno Bernardo foi vestido de São Francisco de Assis e junto com seus pais mostrou que os santos são verdadeiros exemplos para as crianças.
Bernardo completará 1 ano no próximo dia 10 de julho. A mãe do menino, Alessandra Oliveira, contou à ACI Digital que a ideia de realizar esse ensaio surgiu quando começaram a pensar no tema da festinha de seu filho.
“Pensamos em vários tipos de temas como super-heróis, animais infantis e até mesmo de príncipes. Porém, nós queríamos dar a ele algo mais verdadeiro. Pensamos da seguinte forma: se for para que ele queira ser igual a alguém na vida, que seja como Jesus”, explicou Alessandra.
Nesse sentido, considerou, “para mostrar a santidade de Deus, quem melhor do que os santos da nossa igreja, que imitaram Cristo em toda a sua vida?”. “É isso o que queremos para a geração em que vivemos”, acrescentou.
Alessandra e o marido, Marcelo Oliveira, são leigos da Fraternidade Toca de Assis e cultivam especial estima por São Francisco de Assis, por isso, escolheram o santo para o ensaio e também para o tema da festinha de um ano de Bernardo, que será feita de forma singela com a família. “O simples nos encanta”, expressa a mãe.
O local onde fizeram o ensaio foi  a Casa contemplativa Bendita Árvore da Cruz, da Fraternidade Toca de Assis, em Cotia (SP).
De acordo com Alessandra, “a mais bela herança” que deseja transmitir ao seu filho é “a nossa fé”. “Deus tem sido maravilhoso em nossa vida . É por Ele e para Ele que nós vivemos, para que o nome Dele seja exaltado todo momento, até no sorriso de uma criança”, completou.
Este ensaio fotográfico também comoveu de modo especial a fotógrafa responsável pelos cliques, Lanne Benatto, amiga dos pais de Bernardo e também católica.
Diante da sugestão dos pais do “mini São Francisco”, a fotógrafa disse que amou a ideia, “pois seria diferente”. “Como seria bom ver mais crianças vestidas assim, como santos que viveram buscando a santidade”, declarou, ressaltando que “não é todo mundo que veste seu filho assim”.
“Fiquei muito feliz e encantada, pois além de fazer o que gosto, estaríamos levando uma mensagem de uma família que busca a santidade, que ensina seu filho desde cedo sobre a fé, os valores que existem na nossa amada Igreja”.
Para Lanne, é necessário transmitir “testemunhos de vida como esses, famílias que precisam ser exemplos na sociedade em que vivemos hoje” para, assim, “viver a fé, a caridade, o amor, anunciar a palavra de Deus”.
“É tão belo ver exemplos como esses. Para mim, foi um grande prazer fotografá-los e falar de Deus de forma tão natural”, afirmou a profissional, ressaltando que “através das imagens também é uma forma de evangelizar”.
Acidigital

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Do livro O Caminho da Perfeição, de Santa Teresa, virgem

Imagem relacionada
(Cap. 30,1-5: Oeuvres complètes. Desclée de Brouwer, Paris, 1964, 467-468)         (Séc.XVI)


Venha a nós o vosso reino
Quem haverá, por mais irrefletido que seja, que, desejando fazer um pedido a uma pessoa importante, não discuta consigo mesmo como lhe falará, de forma a lhe agradar e não o aborrecer? Pensará também no que lhe irá pedir e para que fim, sobretudo quando se trata de coisa tão importante, como a que nosso bom Jesus nos ensina a pedir. Na minha opinião, é isso o mais fundamental.
Não poderíeis, Senhor meu, englobar tudo numa palavra e dizer: “Dai-nos, ó Pai, o que for conveniente e adequado?” Assim nada mais seria preciso dizer a quem tudo conhece com perfeição.
Isto na verdade, ó eterna Sabedoria, seria suficiente entre vós e vosso Pai, e foi assim que orastes no Horto de Getsêmani. Vós lhe manifestastes vossa vontade e temor, mas vos conformastes totalmente à sua vontade. Quanto a nós, Senhor meu, sabeis não sermos tão conformados assim, como o fostes à vontade do Pai. Por esta razão, cumpre pedir coisa por coisa. Deste modo, refletiremos antes se nos convém o que pedimos. Em caso contrário, deixemos de pedi-lo. De fato, somos assim: se não nos for concedido o que pedimos, este nosso livre-arbítrio não aceitará o que o Senhor nos der. Porque, embora seja o melhor quanto o Senhor nos der, se não vemos logo o dinheiro na mão, nunca pensamos ser ricos. Por isso Jesus nos ensina a dizer as palavras com que pedimos a vinda de seu reino: Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino. Admirai, minhas filhas, a profunda sabedoria de nosso Mestre! Considero eu aqui – e para nós é bom entender – o que pedimos com este reino. A majestade de Deus via que não podíamos santificar ou glorificar como seria bom este santo nome do Pai eterno, de acordo como pouquinho que podemos, a menos que sua Majestade não providenciasse, dando-nos aqui o seu reino. Por isso o bom Jesus pôs um pedido ao lado do outro. Para entendermos o que pedimos e quanto interessa pedirmos, importuna e ardentemente, e, além disso, fazer tudo que estiver a nosso alcance para satisfazer àquele que no-lo dará, quero expor-vos aqui o que sobre isso compreendo.
O supremo bem que me parece existir no reino dos céus é que já não se dá valor às coisas da terra. Sendo assim, há um alegrar-se da alegria de todos, uma paz perpétua, uma satisfação imensa em si mesmos por ver que todos engrandecem ao Senhor e bendizem seu nome, sem ninguém mais o ofender com seus pecados. Todos o amam e em seu coração não anseiam nada mais do que amá-lo, nem podem deixar de amá-lo, porque o conhecem. É assim que o deveríamos amar também aqui, embora não o possamos com toda esta perfeição e em sua essência. Pelo menos, nós o amaríamos muito mais do que o amamos, se melhor o conhecêssemos.
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terça-feira, 4 de julho de 2017

Papa: direito de cuidar do próprio filho até o fim

AP

“O Santo Padre acompanha com afeto e comoção o caso do pequeno Charlie Gard e manifesta a sua proximidade aos seus pais. Ele reza por eles, fazendo votos de que não seja negligenciado o seu desejo de acompanhar e cuidar do próprio filho até o fim”, diz comunicado divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
O Papa já havia se manifestado sobre o caso na noite de sexta-feira com um tweet, que dizia:  “Defender a vida humana, sobretudo quando é ferida pela doença, é um compromisso de amor que Deus confia a cada ser humano”.
O pequeno Charlie, de apenas dez meses, sofre de uma doença genética rara incurável. Contra o desejo dos pais, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos autorizou o desligamento dos aparelhos que o mantém vivo.
Os pais de Charlie haviam lançado uma campanha de coleta de recursos para poder levar o pequeno aos Estados Unidos, onde seria submetido a um tratamento experimental.
O Hospital pediátrico londrino “Great Ormond Street” – onde Charlie está internado –  emitiu uma nota na sexta-feira após a decisão do Tribunal Europeu, sem especificar quando os aparelhos que o mantém vivo seriam removidos.
"Juntamente com os pais de Charlie”, estamos providenciando um lugar para seus cuidados, e para  “dar a eles mais tempo juntos como família” – diz a nota -  pedindo privacidade para os pais do bebê.
Os tribunais – britânico e europeu - haviam decidido que manter o bebê com aparelhos somente prolongaria seu sofrimento, pois não havia esperança de recuperarão da doença, que provoca fraqueza muscular progressiva, inclusive em órgãos-chave como o coração.
Um pequeno grupo de cem manifestantes realizou uma manifestação diante dos portões do Palácio de Buckingham, em Londres, no domingo, gritando "Salve Charlie Gard", ao lado de uma bandeira que dizia "Assassinato!”.

Rádio Vaticano
Arquidiocese de Brasília

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa.

(Hom. 25,7-9:PL76,1201-1202)            (Séc.VI)


Meu Senhor e meu Deus !
            Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio (Jo 20,24). Era o único discípulo que estava ausente. Ao voltar, ouviu o que acontecera, mas negou-se a acreditar. Veio de novo o Senhor, e mostrou seu lado ao discípulo incrédulo para que o pudesse apalpar; mostrou-lhe as mãos e, mostrando-lhe também a cicatriz de suas chagas, curou a chaga daquela falta de fé. Que pensais, irmãos caríssimos, de tudo isto? Pensais ter acontecido por acaso que aquele discípulo estivesse ausente naquela ocasião, que, ao voltar, ouvisse contar, que, ao ouvir, duvidasse, que, ao duvidar, apalpasse, e que, ao apalpar, acreditasse?
            Nada disso aconteceu por acaso, mas por disposição da providência divina. A clemência do alto agiu de modo admirável a fim de que, ao apalpar as chagas do corpo de seu mestre, aquele discípulo que duvidara curasse as chagas da nossa falta de fé. A incredulidade de Tomé foi mais proveitosa para a nossa fé do que a fé dos discípulos que acreditaram logo. Pois, enquanto ele é reconduzido à fé porque pôde apalpar, o nosso espírito, pondo de lado toda dúvida, confirma-se na fé. Deste modo, o discípulo que duvidou e apalpou tornou-se testemunha da verdade da ressurreição.
            Tomé apalpou e exclamou: Meu Senhor e meu Deus! Jesus lhe disse: Acreditaste, porque me viste? (Jo 20,28-29). Ora, como diz o apóstolo Paulo: A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem (Hb 11,1). Logo, está claro que a fé é a prova daquelas realidades que não podem ser vistas. De fato, as coisas que podemos ver não são objeto de fé, e sim de conhecimento direto. Então, se Tomé viu e apalpou, por qual razão o Senhor lhe disse: Acreditaste, porque me viste? É que ele viu uma coisa e acreditou noutra. A divindade não podia ser vista por um mortal. Ele viu a humanidade de Jesus e proclamou a fé na sua divindade, exclamando: Meu Senhor e meu Deus! Por conseguinte, tendo visto, acreditou. Vendo um verdadeiro homem, proclamou que ele era Deus, a quem não podia ver.
            Alegra-nos imensamente o que vem a seguir: Bem-aventurados os que creram sem ter visto (Jo 20,29). Não resta dúvida de que esta frase se refere especialmente a nós. Pois não vimos o Senhor em sua humanidade, mas o possuímos em nosso espírito. É a nós que ela se refere, desde que as obras acompanhem nossa fé. Com efeito, quem crê verdadeiramente, realiza por suas ações a fé que professa. Mas, pelo contrário, a respeito daqueles que têm fé apenas de boca, eis o que diz São Paulo: Fazem profissão de conhecer a Deus, mas negam-no com a sua prática (Tt 1,16). É o que leva também São Tiago a afirmar:A fé, sem obras, é morta (Tg 2,26).
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domingo, 2 de julho de 2017

Solenidade de São Pedro e São Paulo: Martírio de São Pedro e São Paulo


+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A solenidade dos apóstolos São Pedro e São Paulo, prevista para o dia 29 de junho, no calendário universal da Igreja, é transferida para o domingo seguinte, no Brasil, quando esse dia ocorrer durante a semana, para que todos possam participar da celebração eucarística, pela extraordinária importância destes grandes Apóstolos no passado e no presente da Igreja. Por isso, celebramos neste domingo esta solenidade, louvando a Deus pela vida e a missão de São Pedro e São Paulo, especialmente, pelo martírio de ambos, testemunhando a fé em Jesus Cristo.  Ao mesmo tempo, iluminados pela Palavra de Deus, somos chamados a imitar os exemplos que eles nos deixaram.

A figura de Pedro é destacada pelos Atos dos Apóstolos (At 12,1-11). Ele se encontrava na prisão, por anunciar o Evangelho, mas foi libertado pelo Senhor.  Deus sustenta com a sua graça os que são perseguidos por serem testemunhas do Evangelho. Conforme o Salmo 33, “o anjo do Senhor vem acampar ao redor dos que o temem e os salva”; por isso, “é feliz o homem que tem nele o seu refúgio”. A 2ª Carta de São Paulo a Timóteo nos apresenta o testemunho de Paulo, também perseguido e preso por causa da pregação do Evangelho, ressaltando a sua confiança em Deus, naquela situação tão difícil (2Tm 4,17-18).
A fé, por eles anunciada e testemunhada através do martírio, foi proclamada por Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,16). Esta fé fundamenta e sustenta a vida da Igreja, ao longo dos séculos. A proclamação desta passagem nesta celebração nos recorda que a confissão de fé de Pedro não se restringiu a palavras, mas foi testemunhada pela doação da própria vida. Diante da sua confissão de fé, Jesus lhe dirigiu a palavra que fundamenta a missão exercida por ele e por seus sucessores, na Igreja: “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19).
Por isso, celebramos o Dia do Papa, nesta solenidade. Rezemos pelo Sucessor de Pedro, o Papa Francisco, a exemplo dos primeiros cristãos que estavam unidos a Pedro, em oração: “A Igreja rezava continuamente a Deus por ele” (At 12,5). Hoje, também, somos convidados a permanecer unidos ao Santo Padre, rezando por ele. Como sinal de comunhão e de partilha, oferecemos, nas missas desta Solenidade, o Óbolo de São Pedro, oferta a ser enviada ao Papa para atender às necessidades da Igreja.
Arquidiocese de Brasília

sábado, 1 de julho de 2017

“Sejam sacerdotes santos, segundo o coração de Deus”

Canção Nova
“Sejam sacerdotes santos, segundo o coração de Deus”, frisou dom Sergio da Rocha, cardeal arcebispo de Brasília, aos sete novos sacerdotes da Arquidiocese – todos eles provenientes do seminário missionário Redemptoris Mater. São eles:

  • Cristian Evangelista
  • Felipe Cardoso de Medeiros
  • Germán Eduardo Machado Córdova
  • João Antônio Benites Júnior
  • Mateus da Costa dos Santos
  • Sebastião de Sousa Júnior
  • Vinicius de Lima Podda
A Catedral Metropolitana de Brasília recebeu três mil fieis para a ordenação que também contou com a presença dos quatro bispos auxiliares da Arquidiocese, do clero, seminaristas da Igreja local e dos familiares e amigos dos neo sacerdotes.  
Na homilia, dom Sergio exortou aos eleitos à missão e ao discipulado, sem esquecer os seguintes aspectos da vida sacerdotal:
Oração – “Ao exercer o ministério sacerdotal, se deixem moldar pelo Senhor como o vaso nas mãos do oleiro; gastem tempo para rezar pelo povo. Sejam conhecidos como sacerdotes que rezam por si e pelo povo de Deus”
Perseverança – “A Igreja confia a vocês um bem inestimável: o sacerdócio que é de Cristo. Sejam perseverantes. O sacerdócio é fonte de alegria. Mas a Igreja sofre quando alguém deixa o sacerdócio ou é obrigado a deixá-lo. Para perseverar é preciso esforço sincero. Sejam sempre sacerdotes, totalmente sacerdotes, sacerdotes para sempre”.
Olhos em Cristo – “Perante as dificuldades jamais desanimar, nem recuar, mas seguir em frente. Vocês não estão sozinhos. Sabemos que trazemos tesouros em vasos de barro, mas sabemos que podemos contar com a graça de Deus.  (...) E quando alguém passar por algum crise, lembre-se, Jesus está lhe esperando no sacrário. Vá até Ele nos hospitais, nos asilos, nas periferias, onde os irmãos sofrem. Não desanimem, nem se acomodem, caminhem sempre com os olhos e coração voltados para Jesus”.
Em breve será publicada a homilia completa de dom Sergio.
Rito de ordenação
O sacramento da Ordem tem três graus: episcopal, presbiteral e diaconal. Em cada um dos ritos está presente a imposição de mãos e a prece de ordenação. A celebração sacerdotal tem as seguintes partes:
Eleição do candidato – Um diácono chama o eleito ao sacerdócio e o ordenando se coloca diante do arcebispo. Logo em seguida um padre pede ao arcebispo que ordene o eleito. Então, o arcebispo pergunta ao padre se o eleito está pronto para adentrar a vocação, ao passo que o padre responde afirmativamente.
Homilia – O arcebispo se volta aos fiéis ressaltando a grandiosidade do momento e aos candidatos, admoestando-os a seguirem juntos a Jesus Cristo.
Propósito do Eleito – Logo após a homilia, o arcebispo pergunta ao eleito, em pé, se ele quer:
  • Apascentar o rebanho do Senhor sob a direção do Espírito Santo
  • Desempenhar o ministério da palavra ao anunciar o Evangelho
  • Celebrar a Eucaristia e o Sacramento da Reconciliação para a santificação do povo de Deus
  • Ter assiduidade na oração
  • Se unir cada vez mais a Cristo, Sumo Sacerdote
A todas as perguntas o eleito responde “Quero!” e, depois, se ajoelha para prometer respeito e obediência ao arcebispo e às autoridades.
Ladainha – Os eleitos se prostram ao chão em sinal de oferta total de vida a Deus. Enquanto isso, os demais, de joelhos (exceto em domingos ou tempo pascal), rezam a Ladainha de Todos os Santos, pedindo a graças dos Céus aos eleitos. 
Imposição das mãos e prece de ordenação – Os eleitos se ajoelham novamente para, agora, receber uma prece do arcebispo e do clero: um a um, o clero impõe as mãos sobre a cabeça de cada ordenando pedindo pela vocação e vida destes.
Unção das mãos e entrega da patena e do cálice – Com a ajuda de um padre, o eleito veste a estola e a casula sacerdotal. Depois, o arcebispo unge as palmas das mãos do eleito com o óleo do Crisma – como sinal da unção de Cristo – e faz uma oração. Em seguida, o arcebispo amarra as mãos do eleito com um tecido. Este vai em direção a quem deve desamarrar e receber a primeira bênção sacerdotal.
Logo depois o eleito recebe das mãos do arcebispo o pão, na patena, e o vinho, no cálice. Por fim, todo o clero abraça o neo sacerdote que, a partir deste momento, tem a graça de exercer, pela primeira vez, o ministério ao concelebrar a Missa.
Felipe Cardoso passou pelo rito e, agora, como padre, expressa aquilo do que o coração está repleto: “Estou muito feliz, cheio da graça de Deus! Recebi a unção nas mãos, a benção do arcebispo e de todo o presbitério. Só isso o que eu posso dizer mesmo: muito feliz!”

Por Lilian da Paz
Imagem - Farley e Chico Ferreira
Arquidiocese de Brasília

Das Homilias de São Gregório de Nissa, bispo

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(Orat. 6 De beatitudinibus:PG 44, 1270-1271)                (Séc.IV)


Deus pode ser encontrado no coração do homem
            Na vida humana, a saúde do corpo é boa coisa, mas o que torna feliz não é saber em que consiste a saúde, mas viver com saúde. Com efeito, se alguém, muito entretido em elogiar a saúde, toma alimentos que causam maus humores e doenças, de que lhe aproveitam, quando fica doente, os louvores à saúde? De modo semelhante entendamos a palavra que nos foi proposta, pois o Senhor não diz que a felicidade não está em conhecer algo sobre Deus, mas ter Deus em si. Bem-aventurados os que têm coração puro porque verão, eles próprios, a Deus.
            Não me parece que Deus vá colocar-se perante quem o contempla por ter purificado os olhos da alma, mas que talvez a magnificência desta palavra nos sugira aquilo que expressou mais claramente a outros: O reino de Deus está dentro de vós. Por aí ficamos sabendo como quem purificou seu coração de todo o criado e de toda paixão má verá em sua própria beleza a imagem da natureza divina.
            Creio que o Verbo incluiu, nestas poucas palavras que disse, o seguinte conselho: “Ó vós, homens, que tendes algum empenho em contemplar o verdadeiro bem, quando ouvirdes falar da majestade divina exaltada acima dos céus, de sua glória inefável, de sua indizível beleza, não vos deixeis levar pelo desespero por não poderdes ver o que desejais!”
            Se, por uma vida intensa e diligente, lavares de novo as sujeiras que mancham e escurecem o coração, resplandecerá em ti a divina beleza. Como acontece com o ferro, preto antes, retirada a ferrugem pelo polimento, começa a mostrar seu brilho ao sol, assim o homem interior, a quem o Senhor dá o nome de coração, quando limpar as manchas de ferrugem que surgiram em sua forma pela corrupção, recuperará a semelhança com sua principal forma original e se tornará bom. Pois o semelhante ao bom é bom.
            Por consequência, quem se vê a si, em si vê a quem deseja. Deste modo é feliz quem temo coração puro porque, olhando sua pureza, pela imagem descobre a forma principal. Aqueles que veem o sol refletido num espelho, embora não tenham os olhos fixos no céu, não veem menos seu esplendor do que aqueles que olham diretamente para o próprio sol; da mesma forma, também vós, embora sem possuirdes a capacidade de contemplar a luz inacessível, se voltardes à beleza e à graça da imagem que vos foi dada no início, em vós mesmo tereis o que procurais.
            A pureza, a ausência das paixões desregradas e o afastamento de todo o mal é a divindade. Se, portanto, se encontrarem em ti, Deus estará totalmente em ti. Quando, pois, teu espírito estiver puro de todo vício, liberto de todo mau desejo e longe de toda nódoa, serás feliz pela agudeza e luminosidade do olhar, porque aquilo que os impuros não podem ver, tu, limpo, o perceberás. Retirada dos olhos da alma a escuridão da matéria, pela serenidade pura contemplarás claramente a beatificante visão. E esta, o que é? Santidade, pureza, simplicidade, todo o esplendor da luminosa natureza divina, pelos quais Deus se deixa ver.
www.liturgiadashoras.org

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF