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quarta-feira, 1 de abril de 2020

O Santíssimo Sacramento: Jesus Cristo

Canção Nova
  • Autor: Anônimo
  • Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto
– “O cálice de bênção que abençoamos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? O pão que partimos, não é a comunhão do Corpo de Cristo?” (1Coríntios 10,16)
* * *
Como cristãos, somos salvos (isto é, preparados para o Céu) pela fé através da graça – o dom gratuito da vida de Deus conquistado por Jesus Cristo no madeiro da cruz (cf. Efésios 2,8-10; Atos 15,11). Recebemos essa graça salvadora na fé através dos Sacramentos, sinais externos e sensíveis instituídos por Cristo através dos quais a graça interior é dada às nossas almas. Por exemplo, durante o batismo (cf. Mateus 28,19), somos exteriormente lavados com água, mas interiormente recebemos a graça santificadora que nos reconcilia com Deus (cf. 1Coríntios 6,11; 1Pedro 3,21; Atos 2,38). Segundo a Igreja Católica, existem 7 Sacramentos: Batismo (cf. Marcos 16,16), Reconciliação (cf. João 20,21-23), Confirmação (cf. Atos 8,14-17), Eucaristia (cf. 1Coríntios 10,16), Sagrado Matrimônio (cf. Efésios 5,22-32), Ordens Sagradas (cf. Atos 6,5-6) e Unção dos Enfermos (cf. Marcos 6,13; Tiago 5,14-15).
A Eucaristia é um Sacramento já que foi instituído por Cristo nos Evangelhos (cf. Mateus 26; Marcos 14Lucas 22João 6). Seus sinais exteriores são o pão de trigo e o vinho de uva, sobre os quais as palavras de consagração “Isto é o meu corpo… Isto é o meu sangue…” são ditas pelo padre como representante de Cristo. A graça interior é o próprio Cristo, o Autor de toda graça: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” (João 6,56). A Igreja Católica ensina que a Eucaristia, apesar de ainda parecer ser pão e vinho após a consagração, é verdadeiramente a Presença Real de Cristo: Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade (cf. Concílio de Trento, 13ª Sessão).
Antes de irmos para os Evangelhos, vamos considerar algumas prefigurações do Antigo Testamento ou tipos de Eucaristia. O primeiro prenúncio é o pão e o vinho oferecidos pelo sacerdote Melquisedec, em Gênesis 14,18-20. Melquisedeque trouxe pão e vinho, não para almoçar com Abrão, mas para sacrificá-los a Deus por Abrão. Depois Abrão lhe ofereceu um dízimo (cf. Gênesis 14,20). Em Hebreus 5,10, São Paulo escreve que Deus designou Cristo como Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec.
Um segundo tipo é o Maná, o pão do céu, que alimentou os israelitas durante o êxodo (Êxodo 16,14-15). Jesus, em João 6,31-33, se compara a este Maná.
Um terceiro tipo é o cordeiro pascal. O cordeiro pascal deveria ser sacrificado a Deus; sua carne tinha que ser inteiramente consumida (cf. Êxodo 12,8) e esse costume devia ser praticado por todas as gerações. No Novo Testamento, Cristo é chamado “nosso Cordeiro Pascal” (cf. 1Coríntios 5,7). Em Apocalipse 5,6, Jesus é referido como “um Cordeiro de pé, como se tivesse sido morto”. Para os católicos, esses tipos são cumpridos na Eucaristia.
Um texto forte do Evangelho para a Presença Real de Cristo na Eucaristia é o de João 6,31-71. Nesta passagem, Jesus disse: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (João 6,51). Jesus disse ainda:
  • “Em verdade, em verdade vos digo: (…) quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia” (João 6,53-54).
Nos versículos 52-59, Jesus repetiu esse ensinamento de quatro maneiras diferentes, enquanto Sua platéia ficou transtornada. Muitos dos seus discípulos reclamaram: “Este é um ensino difícil; quem pode ouvi-lo?” (João 6,60) e O abandonaram (cf. João 6,66). Mesmo com a multidão indignada e seus discípulos abandonando-O, Jesus não mudou os seus ensinamentos, nem disse que estava apenas falando figurativamente ou em parábola. Sua resposta aos Apóstolos foi: “Também quereis ir embora?” (João 6,67), ao que São Pedro respondeu: “Senhor, a quem iremos? Tu tem palavras de vida eterna; e cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus” (João 6,68-69).
Alguns cristãos afirmam que Jesus, no capítulo 6 do Evangelho de João, estava falando em sentido figurado já que Ele comumente falava em parábolas enquanto pregava para as multidões. No entanto, esse não parece ser o caso aqui: seus ouvintes interpretaram literalmente e ficaram irados. Em nenhum lugar nos Evangelhos as multidões ficam iradas quando Cristo ensina em parábolas. Além disso, após João 6,60, Jesus não estava mais se dirigindo à multidão, mas em particular aos Seus discípulos (cf. Marcos 4,34). Ainda assim, eles O interpretaram como antes [isto é, literalmente] e muitos O abandonaram. Essa reação teria sido bem inadequada se Cristo estivesse falando apenas em parábolas.
Cristo instituiu a Eucaristia durante a última ceia (cf. Mateus 26,26-29; Marcos 14,22-25; Lucas 22,14-20). São Paulo, em sua Carta aos Coríntios, também escreveu sobre a Última Ceia:
  • “O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou o pão, deu graças, fracionou-o e disse: “Isto é o Meu corpo, para vós. Fazei isso em memória de Mim” (1Coríntios 11,23-24; v.tb.: 1Coríntios 10,16, em epígrafe).
Observe-se que nas quatro versões da Última Ceia, Jesus diz: “Isto é o Meu corpo” e não “Isto representa (ou simboliza) o Meu corpo”. Alguns versículos depois, São Paulo também acrescentou:
  • “Portanto, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será culpado de profanar o corpo e o sangue do Senhor. Examine, pois, cada um a si próprio e dessa maneira coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem ter discernimento do corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. Por essa razão, há entre vós muitos fracos e doentes, e alguns já morreram” (1Coríntios 11,27-30).
Essas palavras seriam muito fortes se a Eucaristia fosse simplesmente um símbolo de Cristo ou uma mera refeição com pão e vinho comuns. As pessoas não têm como profanar o Corpo de Cristo comendo pão e vinho comuns.
Os primeiros cristãos também possuíam um entendimento católico acerca da Eucaristia. Na Didaqué, um catecismo do século I, os Apóstolos escreveram:
  • “Reúnam-se no dia do Senhor, fracionem o pão e ofereçam a Eucaristia; mas primeiramente, confessem as suas faltas, para que o vosso sacrifício seja puro” (Didaqué 14,1; cf. “Primeiros Escritos Cristãos”, Penguin Classics, 1987, p. 197).
Este é o mesmo conselho dado por São Paulo. Confessar os pecados em preparação não seria necessário se a Eucaristia não fosse um sacrifício ou se fosse apenas um símbolo de Cristo. Em uma carta escrita por volta do ano 110 d.C., Santo Inácio de Antioquia advertiu os esmirnenses acerca dos docetas (hereges gnósticos):
  • “Eles (os docetas) não se importam com o amor, nem pensam na viúva e no órfão, nem nos aflitos, nos cativos, nos famintos ou nos sedentos. Eles até se ausentam da Eucaristia e das orações públicas, porque não admitem que a Eucaristia seja o próprio Corpo de nosso Salvador Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados” (Epístola aos Esmirnenses 6-7; Ibid., p. 102).
São João Crisóstomo, no século IV, durante um sermão, disse o seguinte sobre a Eucaristia:
  • “Quantos de vós dizeis: ‘Gostaria de ver a face Dele, Suas vestes, Suas sandálias’? Vós O vedes; vós O tocais; vós O comeis. Ele Se entrega a vós, não apenas para que possais vê-Lo, mas também para vos servir de comida e alimento” (citado por John Laux, “Mass and the Sacraments”, TAN, 1990, p. 43).
São Justino Mártir, no século II, bem como Santo Ambrósio e Santo Agostinho, no século IV, entre muitos outros, testemunharam a Presença Real de Cristo na Eucaristia.
A Eucaristia, também conhecida como “Santíssimo Sacramento”, é o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo. Quando recebemos ou adoramos a Eucaristia na Missa ou na Hora Santa, na verdade estamos recebendo e adorando o próprio Jesus Cristo. Jesus prometeu estar conosco até o fim dos tempos (cf. Mateus 28,20), e a Sua promessa é especialmente cumprida na Eucaristia. Que o Senhor nos ajude a realizarmos melhor o Seu dom verdadeiramente tremendo para nós.
Veritatis Splendor
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Francisco: na provação, não estamos sozinhos, confiemo-nos a Cristo

Papa Francisco durante a Audiência Geral
Papa Francisco durante a Audiência Geral  (Vatican Media)
Em suas saudações na Audiência Geral, o Papa Francisco recorda que Jesus é um amigo fiel, que nos acompanha e nunca decepciona, e que em sua cruz encontramos “apoio e consolo no meio das tribulações da vida”. Portanto, nos convida a confiar na intercessão de São João Paulo II nas vésperas do 15º aniversário de sua morte.

Alessandro Di Bussolo/Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

Jesus é o amigo fiel “que enche a nossa vida de felicidade, mesmo em tempos difíceis”, que “nos acompanha e nunca decepciona”. Nele e com ele não estamos sozinhos e na sua cruz, os nossos corações encontram “apoio e conforto no meio das tribulações da vida”. Assim, o Papa Francisco saúda os fiéis em várias línguas, conectados através dos meios de comunicação com a Biblioteca Apostólica Vaticana, no final da catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (01/04).
Saudação em língua portuguesa
Eis a íntegra da saudação em língua portuguesa.
Amados ouvintes de língua portuguesa, a todos saúdo e convido a viver com a Igreja inteira, em pensamento e de coração, a próxima Semana Santa, que coloca diante dos nossos olhos a Cruz onde Jesus assumiu e suportou toda a tragédia da humanidade. Não podemos esquecer as tragédias dos nossos dias, porque a Paixão do Senhor continua no sofrimento dos homens. Que os vossos corações encontrem, na Cruz de Cristo, apoio e conforto no meio das tribulações da vida; abraçando a Cruz como Ele, com humildade, confiança e abandono filial à vontade de Deus, tereis parte na glória da Ressurreição.

O homem, com medo, confia-se à Misericórdia Divina
Aos poloneses, o Papa recorda que o homem de hoje vê “os sinais da morte” presentes na civilização e “vive cada vez mais com medo, ameaçado no núcleo de sua existência”. Nestes dias difíceis, “os seus pensamentos corram para Cristo: saibam que vocês não estão sozinhos. Ele os acompanha e nunca decepciona”. Confiem na Sua “Misericórdia Divina e na intercessão de São João Paulo II nas vésperas do 15º aniversário de sua morte”, que recordaremos nesta quinta-feira, 2 de abril.

Nos eventos da vida, descubra a Providência do Senhor
Aos alemães, o Papa Francisco recorda que, ao contemplar “a face do Senhor crucificado e morto por nós”, neste período de provação, podemos reconhecer “em sua cruz a fonte da verdadeira esperança e alegria, através da qual Ele venceu todo o mal”.
Aos ouvintes de língua espanhola, sua língua nativa, o Papa pede para descobrir a Providência do Senhor “nos acontecimentos da vida cotidiana”. E nos convida a lembrar, nesses momentos de provação e escuridão, “todos os nossos irmãos e irmãs que sofrem, e aqueles que os ajudam e acompanham com amor e generosidade”.

Obrigado, jovens milaneses, não percam a esperança em Jesus
Por fim, entre os fiéis de língua italiana, Francisco saúda em particular “os grupos que tinham feito reservas para estarem presentes hoje” na Audiência Geral, dentre eles “os jovens da profissão de fé da Diocese de Milão”. “Queridos jovens, mesmo que sua peregrinação a Roma seja apenas virtual, quase sinto a sua presença alegre e barulhenta, concretizada também nas muitas mensagens que vocês me enviaram”. O Papa agradece e encoraja os jovens milaneses a “viverem sempre a fé com entusiasmo e a não perder a esperança em Jesus, amigo fiel que enche a nossa vida de felicidade, mesmo nos momentos difíceis”. Que esses últimos dias da Quaresma possam favorecer “uma preparação adequada da celebração da Páscoa, levando cada pessoa a uma proximidade maior a Cristo”.

Vatican News

São Hugo de Grenoble, Bispo e grande orador

REDAÇÃO CENTRAL, 01 Abr. 20 / 05:00 am (ACI).- São Hugo foi Bispo de Grenoble (França) entre 1080 e 1132 e sua eleição se deu quando nem era sacerdote.

Em Grenoble, permaneceu como Bispo durante 50 anos, apesar de ter apresentado sua renúncia em cinco oportunidades ante cinco Pontífices diferentes. Também contribuiu para a fundação da Ordem dos Cartuxos.
O santo nasceu na França em 1052 e seu nome significa “o inteligente”. Foi nomeado cônego na cidade de Valence e, aos 28 anos já estava instruído em ciências eclesiásticas. Era tão bom que seu bispo lhe pediu que o acompanhasse ao Concílio de Avignon de 1080.
Os bispos lhe propuseram que se fosse ordenado sacerdote para se encarregar da Diocese de Grenoble, mas Hugo se opunha, porque era muito tímido e se achava indigno.
O Delegado do Sumo Pontífice conseguiu convencê-lo e lhe conferiu a ordenação sacerdotal. Em seguido, foi levado a Roma para que o Papa Gregório VII o ordenasse Bispo.
Ao chegar a Grenoble, viu que a situação de sua diocese era desastrosa e, por isso, encarregou-se de introduzir a reforma gregoriana. Combateu uma séria de abusos como os cargos eclesiásticos conseguidos com dinheiro (simonia); não cumprimento do celibato pelos sacerdotes; leigos apoderados de bens da Igreja; dívidas com empregados da Igreja; e um povo que não recebia instrução em religião.
Por vários anos, dedicou-se a combater corajosamente todos esses abusos dedicando longas horas à oração e à meditação. Do mesmo modo, recorria sua diocese de paróquia em paróquia corrigindo erros e ensinando como fazer o bem.
Chegou a se tornar um grande orador e, como rezava muito antes de pregar, seus sermões comoviam profundamente os seus ouvintes e alcançavam várias conversões.
Pouco antes de sua morte, perdeu a memória e a única coisa que lembrava eram os salmos e o Pai Nosso. Passou seus últimos dias repetindo essas orações.
São Hugo faleceu com quase 80 anos, em 1º de abril de 1132. O Papa Inocêncio II o declarou santo dois anos depois de sua morte.
ACI Digital

terça-feira, 31 de março de 2020

A Didaqué, a instrução dos doze Apóstolos

“O Caminho da Vida e o caminho da morte”

Capítulo I

Existem dois caminhos: um da vida e outro da morte [Cf Jer 21,8Dt 5,32s; 11,26-28; 30,15-20; Eclo 15,15-17]. A diferença entre ambos é grande.
O caminho da vida é, pois, o seguinte: primeiro amarás a Deus que te fez; depois a teu próximo como a ti mesmo [Cf Dt 6,5; 10,12s; Eclo 7,30Lev 19,18Mt 22,37;]. E tudo o que não queres que seja feito a ti, não o faças a outro [Cf Mt 7,12Lc 6,31;].
Eis a doutrina relativa a estes mandamentos: Bendizei aqueles que vos amaldiçoam, orai por vossos inimigos, jejuai por aqueles que vos perseguem. Com efeito, que graça vós tereis, se amais os que vos amam? Não fazem os gentios o mesmo? Vós, porém, amai os que vos odeiam e não tenhais inimizade [Cf Mt 5,44s; Lc 6,27s; 6,32s].
Abstém-te dos prazeres carnais [Cf 1Ped 2,11]. Se alguém te bate na face direita, dá-lhe também a outra e tu serás perfeito. Se alguém te obrigar a mil (passos), anda dois mil com ele. Se alguém tomar teu manto, dá-lhe também tua túnica. Se alguém toma teus bens, não reclames, pois de todo o jeito não podes [Cf Mt 5,39ss; Lc 6,29].
Dá a todo aquele que te pedir, sem exigir devolução. Pois a Vontade do Pai é que se dê dos seus próprios dons. Bem-aventurado é aquele que dá conforme a lei, pois é irrepreensível. Ai daquele que toma (recebe)! Se, porém, alguém tiver necessidade de tomar (receber), é isento de culpa. Mas se não estiver em necessidade, terá que se responsabilizar pelo motivo e pelo fim por que recebeu. Colocado na prisão, ele não sairá de lá, até ter pago o último quadrante (centavo) [Mt 5,25s; Lc 12,58s].
Mas é verdade que a este propósito também foi dito: Que tua esmola sue em tuas mãos, até souberes a quem dar [Cf Eclo 12,1].

Capítulo II

O segundo mandamento da Instrução (dos Doze Apóstolos) é:
Não matarás, não cometerás adultério; não te entregarás à pederastia, não fornicarás, não furtarás, não exercerás magia nem bruxaria (charlatanice). Não matarás criança por aborto, nem criança já nascida; não cobiçarás os bens do próximo.
Não serás perjuro [Cf Mt 5,33; Ex 20,7] nem darás falso testemunho; não falarás mal do outro nem lhe guardarás rancor.
Não usarás de ambiguidade nem no pensamento nem na palavra, pois a duplicidade é uma trama fatal [Cf Prov 21,6].
Tua palavra não seja falsa, nem vã; mas, ao contrário, seja cheia de sinceridade e seriedade (comprovada pela ação).
Não serás cobiçoso nem rapace, nem hipócrita, nem malicioso, nem soberbo. Não nutrirás má intenção contra teu próximo [Cf Ex 20,13-17Dt 5,17-21].
Não odiarás ninguém, mas repreenderás uns e rezarás por outros, e ainda amarás aos outros mais que a ti mesmo (que tua alma).

Capítulo III

Meu filho, evita tudo o que é mau e semelhante ao mal.
Não sejas odiento ou rancoroso, pois o ódio conduz à morte; nem ciumento, nem brigão ou provocador, pois de tudo isso nascem os homicidas.
Meu filho, não sejas cobiçoso de mulheres, pois a cobiça conduz à fornicação. Evita a obscenidade e os maus olhares, pois de tudo isto nascem os adúlteros.
Meu filho, não te dês à adivinhação, pois ela conduz à idolatria. Abstém-te também da encantação (feitiçaria) e da astrologia e das purificações, nem procures ver ou ouvir (entender) estas coisas, pois tudo isto origina a idolatria.
Meu filho, não sejas mentiroso, pois a mentira conduz ao roubo; não sejas avarento ou cobiçoso de fama, pois tudo isto origina o roubo.
Meu filho, não sejas furioso, pois isto conduz à blasfêmia; não sejas insolente nem malvado, pois tudo isto origina as blasfêmias.
Sê, antes, manso, pois os mansos possuirão a Terra [Cf Mt 5,5; Sl 31,11].
Sê longânime (têm grandeza de ânimo), misericordioso, sem falsidade, tranquilo e bom, e guarda com toda a reverência a instrução ouvida.
Não te eleves a ti mesmo e não entregues teu coração à insolência; não vivas com os “grandes” (deste mundo), mas com os justos e humildes.
Tu aceitarás os acontecimentos da vida como sendo bons, sabendo que a Deus nada daquilo que acontece é estranho.

Capítulo IV

Meu filho, lembra-te dia e noite daquele que te anuncia a Palavra de Deus e o honrarás como ao Senhor, pois onde se proclama sua Soberania aí está o Senhor presente [Cf Hb 13,7].
Todos os dias procurarás a companhia dos santos, para encontrar apoio em suas palavras.
Não causarás cismas, mas reconciliarás os que lutam entre si. Julgarás de maneira justa, sem considerar a pessoa na correção das faltas [Cf Dt 1,16s; Pr 31,9].
Não te demorarás em procurar o que te há de acontecer (adivinhação do futuro) ou não.
Não terás as mãos sempre estendidas para receber, retirando-as quando se trata de dar.
Se possuíres algo, graças ao trabalho de tuas mãos, dá-o em reparação por teus pecados.
Não hesitarás em dar e, dando, não murmurarás, pois algum dia reconhecerás quem é o verdadeiro Dispensador da Recompensa.
Não repelirás o indigente, mas antes repartirás tudo com teu irmão, não considerando nada como teu, pois, se divides os bens da imortalidade, quanto mais o deves fazer com os corruptíveis [Cf At 4,32Hb 13,16].
Não retirarás a mão de teu filho ou de tua filha, mas desde sua juventude os instruirás no temor a Deus.
Não darás ordens com rancor ao teu povo ou à tua serva, que esperam no mesmo Deus que tu, para que não percam o temor de Deus que está acima de todos. Com efeito, Ele não virá chamar segundo a aparência da pessoa, mas segundo a preparação do espírito.
Vós, servos, sede submissos aos vossos senhores como se eles fossem uma imagem de Deus, com respeito e reverência [Cf Ef 6,1-9Col 3,20-25].
Detestarás toda a hipocrisia e tudo o que é desagradável ao Senhor.
Não violarás os mandamentos do Senhor e guardarás o que recebeste, sem acrescentar nem tirar algo.
Na assembleia, confessarás tuas faltas e não entrarás em oração de má consciência. – Este é o caminho da vida.

Capítulo V

O caminho da morte é o seguinte: em primeiro lugar, é mau e cheio de maldições: mortes, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatrias, práticas mágicas, bruxarias (necromancias), rapinagens, falsos testemunhos, hipocrisias, ambiguidades (falsidades), fraude, orgulho, maldade, arrogância, cobiça, má conversa, ciúme, insolência, extravagância, jactância, vaidade e ausência do temor de Deus;
Perseguidores dos bons, inimigos da verdade, amantes da mentira, ignorantes da recompensa da justiça, não-desejosos do bem nem do justo juízo, vigilantes, não pelo bem, mas pelo mal, estranhos à doçura e à paciência, amantes da vaidade, cobiçosos de retribuição, sem compaixão com os pobres, sem cuidado para com os necessitados, ignorantes de seu Criador, assassinos de crianças, destruidores da obra de Deus, desprezadores dos indigentes, opressores dos aflitos, defensores dos ricos, juízes iníquos dos pobres, pecadores sem fé nem lei. – Filho, fica longe de
tudo isso.

Capítulo VI

Vigia para que ninguém te afaste deste caminho da instrução, ensinando-te o que é estranho a Deus [Cf Mt 24,4].
Pois, se puderes portar todo o jugo do Senhor, serás perfeito; se não puderes, faze o que puderes.
Quanto aos alimentos, toma sobre ti o que puderes suportar, mas abstém-te completamente das carnes oferecidas aos ídolos, pois este é um culto aos deuses mortos.

“Celebração Litúrgica”

Capítulo VII

No que diz respeito ao batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente [Cf Mt 28,19].
Se não tens água corrente, batiza em outra água; se não puderes em água fria, faze-o em água quente.
Na falta de uma e outra, derrama três vezes água sobre a cabeça em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Mas, antes do batismo, o que batiza e o que é batizado, e se outros puderem, observem um jejum; ao que é batizado, deverás impor um jejum de um ou dois dias.

Capítulo VIII

Vossos jejuns não tenham lugar com os hipócritas; com efeito, eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; vós, porém, jejuai na quarta-feira e na sexta (dia de preparação).
Também não rezeis como os hipócritas, mas como o Senhor mandou no seu Evangelho: Nosso Pai no Céu, que Vosso Nome seja santificado, que Vosso Reino venha, que Vossa vontade seja feita na Terra, assim como no Céu; dá-nos hoje o pão necessário (cotidiano), perdoa a nossa ofensa assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal [Cf Mt 6,9-13Lc 11,2-4], pois Vosso é o Poder e a Glória pelos séculos.
Assim rezai três vezes por dia.

Capítulo IX

No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira:
Primeiro sobre o Cálice, dizendo: Nós vos bendizemos (agradecemos), nosso Pai,
pela santa vinha de Davi, vosso servo, que vós nos revelastes por Jesus, vosso Servo; a Vós, a
Glória pelos séculos! Amém.
Sobre o Pão a ser quebrado: Nós vos bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela
Vida e pelo Conhecimento que nos revelastes por Jesus, vosso Servo; a Vós, a Glória pelos
séculos! Amém.
Da mesma maneira como este Pão quebrado primeiro fora semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da Terra seja unida a Vós vossa Igreja em vosso Reino; pois vossa é a Glória e o Poder pelos séculos! Amém.
Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em Nome do Senhor. Pois a respeito dela disse o Senhor: “Não deis as coisas santas aos cães!”.

Capítulo X

– Mas depois de saciados, bendizei (agradecei) da seguinte maneira:
Nós vos bendizemos (agradecemos), Pai Santo, por vosso Santo Nome, que fizestes habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelastes por Jesus, vosso Servo; a Vós, a Glória pelos séculos. Amém.
Vós, Senhor Todo-poderoso, criastes todas as coisas para a Glória de Vosso nome e, para o gozo deste alimento e a bebida aos filhos dos homens, a fim de que eles vos bendigam; mas a nós deste uma Comida e uma Bebida espirituais para a vida eterna por Jesus, vosso Servo.
Por tudo vos agradecemos, pois sois poderoso; a Vós, a Glória pelos séculos. Amém.
Lembrai-vos, Senhor, de vossa Igreja, para livrá-la de todo o mal e aperfeiçoá-la no vosso Amor; reuni esta Igreja santificada dos quatro ventos no vosso Reino que lhe preparaste, pois vosso é o Poder e a Glória pelos séculos. Amém.
Venha vossa Graça e passe este mundo! Amém. Hosana à Casa de Davi [Cf Mt 21,15]. Venha aquele que é santo! Aquele que não é (santo) faça penitência: Maranatá! [Cf 1Cor 16,22Ap 22,20] Amém.
Deixai os profetas bendizer à vontade.

A Vida em comunidade

Capítulo XI

Se, portanto, alguém chegar a vós com instruções conformes com tudo aquilo que acima é dito, recebei-o.
Mas, se aquele que ensina é perverso e expõe outras doutrinas para demolir, não lhe deis atenção; se, porém, ensina para aumentar a justiça e o conhecimento do Senhor, recebei-o como o Senhor.
A respeito dos Apóstolos e profetas, fazei conforme os dogmas do Evangelho.
Todo o Apóstolo que vem a vós seja recebido como o Senhor.
Mas ele não deverá ficar mais que um dia, ou, se necessário, mais outro. Se ele, porém, permanecer três dias, é um falso profeta.
Na sua partida, o Apóstolo não leve nada, a não ser o pão necessário até a seguinte estação; se, porém, pedir dinheiro, é falso profeta.
E não coloqueis à prova nem julgueis um profeta em tudo que fala sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas este pecado não será perdoado [Cf Mt 12,31].
Nem todo aquele que fala no espírito é profeta, a não ser aquele que vive como o Senhor. Na conduta de vida conhecereis, pois, o falso e o verdadeiro profeta.
E todo profeta que manda, sob inspiração, preparar a mesa não deve comer dela; ao contrário, é um falso profeta.
Todo profeta que ensina a verdade sem praticá-la é falso profeta.
Mas todo profeta provado (e reconhecido) como verdadeiro, representando o Mistério cósmico da Igreja, não ensinando, porém, a fazer como ele faz, não seja julgado por vós, pois ele será julgado por Deus. Assim também fizeram os antigos profetas.
O que disser, (supostamente) sob inspiração: “Dá-me dinheiro”, ou qualquer outra coisa, não o escuteis; se, porém, pedir para outros necessitados, então ninguém o julgue.

Capítulo XII

Todo aquele que vem a vós, em nome do Senhor, seja acolhido. Depois de o haverdes sondado, sabereis discernir a esquerda da direita (pois tendes juízo).
Se o hóspede for transeunte, ajudai-o quanto possível. Não permaneça convosco senão dois ou, se for necessário, três dias.
Se quiser estabelecer-se convosco, tendo uma profissão, então trabalhe para o seu sustento.
Mas, se ele não tiver profissão, procedei conforme vosso juízo, de modo a não deixar nenhum cristão ocioso entre vós.
Se não quiser conformar-se com isto, é alguém que quer fazer negócios com o cristianismo. Acautelai-vos contra tal gente.

Capítulo XIII

Todo verdadeiro profeta que quer estabelecer-se entre vós é digno de seu alimento.
Do mesmo modo, também o verdadeiro mestre, como o operário, é digno de seu alimento.
Por isso, tomarás as primícias de todos os produtos da vindima e da eira, dos bois e das ovelhas e darás aos profetas, pois estes são os vossos grandes sacerdotes.
Se vós, porém, não tiverdes profeta, dai-o aos pobres.
Se tu fizeres pão, toma as primícias e dá-as conforme manda a lei.
Do mesmo modo, abrindo uma bilha de vinho ou de óleo, toma as primícias e dá-as aos profetas.
E toma as primícias do dinheiro, das vestes e de todas as posses e, segundo o teu juízo, dá-as conforme a lei.

Capítulo XIV

Reuni-vos no dia do Senhor (Domingo) para a Fração do Pão e agradecei (celebrai a Eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.
Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter se reconciliado, a fim de que vosso Sacrifício não seja profanado [Cf Mt 5,23-25].
Com efeito, deste Sacrifício disse o Senhor: “Em todo o lugar e em todo o tempo se me oferece um Sacrifício puro, porque sou o Grande Rei – diz o Senhor – e o meu Nome é admirável entre todos os povos” [Cf Mal 1,11-14].

Capítulo XV

Escolhei-vos, pois, bispos e diáconos dignos do Senhor, homens dóceis, desprendidos (altruístas), verazes e firmes, pois eles também exercerão entre vós a Liturgia dos profetas e doutores (mestres).
Não os desprezeis, porque eles são da mesma dignidade entre vós como os profetas e doutores.
Repreendei-vos mutuamente uns aos outros, não com ódio, mas na paz, como tendes no Evangelho. E ninguém fale com aquele que ofendeu o outro (próximo), nem o escute até que ele se tenha arrependido.
Fazei vossas preces, esmolas e todas as vossas ações como vós tendes no Evangelho de Nosso Senhor.

O Fim dos tempos

Capítulo XVI

Vigiai sobre vossa vida. Não deixeis apagar vossas lâmpadas nem solteis o cinto de vossos rins, mas estai preparados, pois não sabeis a hora na qual Nosso Senhor vem [Cf Mt 24,41-44; 25,13; Lc 13,35].
Reuni-vos frequentemente para procurar a salvação de vossas almas, pois todo o tempo de vossa fé não vos servirá de nada se no último momento não vos tiverdes tornado perfeitos.
Com efeito, nos últimos dias se multiplicarão os falsos profetas e os corruptores; as ovelhas se transformarão em lobos e o amor em ódio [Cf Mt 24,10-13; 7,15].
Com o aumento da iniquidade, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente, e então aparecerá o sedutor do mundo como se fosse o filho de Deus. Ele fará milagres e prodígios e a Terra será entregue em suas mãos e ele cometerá crimes tais como jamais se viu desde o começo do mundo [Cf Mt 24,24; 2Tes 2,4-9].
Então toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos se escandalizarão e perecerão. Mas aqueles que permanecerem firmes na sua fé serão salvos por Aquele que os outros amaldiçoam [Cf Mt 24,10-13].
Aparecerão os sinais da verdade: primeiro o sinal da abertura no céu, depois o sinal do som da trombeta e, em terceiro lugar, a ressurreição dos mortos [Cf Mt 24,311Cor 15-521Ts 4,16].
Mas não de todos, segundo a Palavra da Escritura: O Senhor virá e todos os santos com Ele.
Então verá o mundo a vinda do Senhor sobre as nuvens do céu [Cf Mt 24,30; 26,64].
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Fonte:
• ALTANER, Berthold & STUIBER, Alfred. Patrologia, São Paulo: Paulinas, 1972, pp. 89/91
• DIDAQUÉ, O Catecismo Dos Primeiros Cristãos Para As Comunidade De Hoje. São Paulo: Paulus, 1997.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF