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sexta-feira, 24 de abril de 2020

Nova datação do Novo Testamento (Parte 3/11): a importância do ano 70 d.C.


Bíblia - Tradição - Magistério

3. A IMPORTÂNCIA DO ANO 70
No início do Capítulo 2 (“A Importância do Ano 70”), o autor enuncia uma das suas principais teses:
  • “Um dos fatos mais estranhos do Novo Testamento é que aquele, que em qualquer projeção pareceria ser o evento singular mais datável e culminante do período (a queda de Jerusalém no ano 70 d.C. e, com ela, o colapso do judaísmo institucional baseado no Templo), não é mencionado nem uma só vez como fato passado. É obviamente predito e, pelo menos em alguns casos, assume-se que essas predições foram escritas (ou redigidas) depois do evento; porém, o silêncio é de todas as maneiras tão significativo assim como para Sherlock Holmes em relação ao silêncio do cachorro que não ladrou” (p.14).
Em primeiro lugar, Robinson descarta a interpretação de S. G. F. Brandon: esse silêncio seria uma tentativa deliberada de ocultar a simpatia de Jesus e dos primeiros cristãos pelos zelotas revolucionários, cujo levante foi esmagado pelos romanos. Essa interpretação é totalmente arbitrária e recebeu críticas devastadoras por parte de Hengel, Cullmann e muitos outros acadêmicos.
Prossegue Robinson:
  • “Obviamente se tem tentado explicações quanto a esse silêncio. No entanto, a explicação mais simples de todas, de que talvez (…) haja extremamente pouco no Novo Testamento que seja posterior ao ano 70 e que os seus eventos não são mencionados porque ainda não tinham ocorrido, a meu juízo exige mais atenção do que recebeu nos círculos críticos” (p.15).
O restante do capítulo é dedicado a examinar a relação dos três Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) com os eventos do ano 70.
Em primeiro lugar, Robinson analisa o discurso escatológico de Marcos 13, que começa assim:
  • “Ao sair do Templo, disse-lhe um dos seus discípulos: ‘Mestre: olha que pedras e que edifícios!’ Jesus lhe respondeu: ‘Vês estas grandes construções? Não restará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada’. E estando Jesus no Monte das Oliveiras, em frente ao Templo, perguntaram-lhe Pedro, Tiago, João e André: ‘Diga-nos quando se darão estas coisas e qual será o sinal de que tudo isto estará a ponto de chegar ao fim” (Marcos 13,1-4).
Robinson sublinha que a longa resposta de Jesus não faz qualquer referência à destruição do Templo; a única referência que faz em relação ao Templo é esta alusão implícita:
  • “Quando virdes a abominação da desolação erigida onde não deve – quem ler, que entenda – então os que estiverem na Judeia que fujam para os montes; quem estiver no telhado, que não desça para pegar nada em sua casa; e quem estiver no campo, que não retorne para pegar o seu manto” (Marcos 13,14-16).
É claro que “a abominação da desolação” não pode se referir à profanação e destruição do Templo no ano 70. Já nesse momento seria muito tarde para fugir para os montes da Judeia, porque estes já estavam em poder dos romanos desde o ano 67. É sabido que os cristãos de Jerusalém fugiram para Pela, uma cidade grega da Decápolis, por volta do ano 65, antes do início do sitiamento de Jerusalém.
Robinson mostra que o discurso de Marcos 13 é influenciado por dois livros do Antigo Testamento: 1Macabeus e Daniel; mostra também que nesse discurso, em que Jesus exorta os seus discípulos a estarem vigilantes durante os tempos de perseguição que viriam, não há nada que não possa encontrar um paralelo no perídio da História da Igreja coberto pelo livro dos Atos dos Apóstolos.
Em segundo lugar, o autor analisa o Evangelho de Mateus. Antes de mais nada, se detém na única passagem evangélica que foi quase unanimemente considerada pelos exegetas como uma profecia retrospectiva sobre a destruição de Jerusalém no ano 70:
  • “Então pegaram os servos, os maltrataram e mataram. O rei se encolerizou e enviou suas tropas para acabar com aqueles homicidas e incendiou a sua cidade” (Mateus 22,6-7).
Apoiando-se em estudos anteriores de K. H. Rengstorfhas e S. Pedersen, Robinson sustenta que Mateus 22,7 representa uma descrição fixa das antigas expedições militares de vingança, que é um lugar-comum na literatura do Oriente Próximo, do Antigo Testamento e dos rabinos, motivo pelo qual não se deve inferir que reflete um acontecimento em particular.
Robinson mostra que as verdadeiras profecias “ex eventu” (posteriores ao evento) da destruição de Jerusalém, como as do apocalipse judaico conhecido como 2Baruc e dos Oráculos Sibilinos, descrevem vários detalhes históricos. Assim, alguém procuraria em vão essa espécie de detalhes no Novo Testamento.
O autor sublinha que no discurso escatológico de Mateus (capítulo 24), paralelo com o de Marcos, a referência à “abominação da desolação” é explicitamente relacionada com o profeta Daniel (cf. Mateus 24,25).
Robinson também destaca que Mateus 24,20 (“Rogai para que a vossa fuga não se dê no inverno nem no sábado”) denota um ambiente palestinense primitivo e um apego à lei do sábado mais estrito do que aquele recomendado aos cristãos nesse mesmo Evangelho (cf. Mateus 12,1-14), no qual se tende a apoiar a hipótese de uma redação não-tardia de Mateus.
A seguir, o autor sustenta que, na hipótese de uma redação tardia de Mateus, não enxerga nenhuma razão para que o evangelista conservasse (nem mesmo inventasse) profecias de Jesus aparentemente não-cumpridas (como as de Mateus 10,23; 16,28 e 24,34), sem tentar dar alguma explicação da aparente discordância entre essas profecias e os fatos posteriores. Eu acrescento o seguinte: ainda que, a partir do ponto de vista teológico, essa discordância seja apenas aparente, este argumento de Robinson em favor de uma redação não-tardia é bastante forte.
Posteriormente, Robinson afirma que a referência de Jesus ao assassinato de “Zacarias, filho de Baraquias, morto entre o Templo e o altar” (Mateus 23,35) pode ser interpretada razoavelmente como uma referência a 2Crônicas 20,21: “Porém eles se conjuraram contra Zacarias e, por ordem do rei, o apedrejaram no átrio do Templo do Senhor”.
Finalmente o autor analisa o Evangelho de Lucas, detendo-se em duas passagens que parecem descrever detalhes do sitiamento de Jerusalém entre os anos 67 e 70:
  • “E quando se aproximou, ao ver a cidade, chorou por ela, dizendo: ‘Se tu também conhecesses neste dia o que te leva à paz! No entanto, agora está oculto aos teus olhos, porque virão dias sobre ti em que não somente os inimigos te rodearão com valas, te cercarão e te estreitarão por todos os lados, como te esmagarão contra o solo e também os teus filhos que estão dentro de ti; e não deixarão pedra sobre pedra em ti, porque não conheceste o tempo da visita que te foi feito” (Lucas 19,41-44);
  • “Quando virdes Jerusalém cercada por exércitos, sabei que já se aproxima a sua desolação. Então os que estiverem na Judeia, que fujam para os montes; e quem estiver dentro da cidade, que se ponha em marcha; e quem estiver nos campos, que não entre nela. Estes são dias de castigo para que se cumpra tudo o que está escrito. Ai daquelas que estiverem grávidas e das que estiverem criando [os filhos] nesses dias! Porque haverá uma grande calamidade sobre a terra e haverá ira contra este povo. Cairão ao fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisoteada pelos gentios, até que se cumpra o tempo dos gentios” (Lucas 21,20-24).
No entanto, Robinson afirma que estes textos não fornecem mais do que descrições estereotipadas de operações militares da Antiguidade:
  • “Na narrativa de Josefo sobre a captura romana de Jerusalém há algumas características que são mais distintivas, tais como a fantástica luta de facções que permaneceu durante o sitiamento, os horrores da peste e da fome (que incluiu canibalismo) e, finalmente, o incêndio no qual o Templo e uma grande parte da cidade foram destruídos. Foram estes eventos que prenderam a imaginação de Josefo e, podemos supor, de todas as demais testemunhas. Nada disto é dito nesta passagem [bíblica]. Por outro lado, entre todas as barbaridades que Josefo relata, não diz que os conquistadores esmagaram crianças contra o solo (os menores de 17 anos foram vendidos como escravos). A expressão [de Jesus] (…) não é baseada em nada do que ocorreu entre os anos 66 e 70: é [apenas] um lugar comum da profecia hebraica” (pp.26-27).
Apoiando-se nos estudos de C. H. Dodd, Robinson afirma que as descrições de Jesus não se ajustam à tomada de Jerusalém por Tito no ano 70, mas a Nabucodonosor no ano 586 a.C.
Para concluir, acrescento outras duas considerações:
1) Se os Evangelhos Sinóticos tivessem sido escritos após o ano 70 e as profecias de Jesus sobre a destruição de Jerusalém fossem posteriores ao evento, não se explicaria o porquê neste caso (diferentemente de outros), os evangelistas não explicitaram que as profecias de Jesus tinham se cumprido;
2) Quanto à profecia de Jesus de que do Templo de Jerusalém não restaria pedra sobre pedra, ela começou a se cumprir no ano 70, mas o seu pleno cumprimento ocorreu no ano 363, quando uma série de acontecimentos extraordinários fez fracassar uma tentativa de reconstrução do Templo patrocinado pelo imperador romano Juliano, o Apóstata (cf. Stanley Jaki, “To Rebuild Or Not To Try?”, Editora Real View Books: Royal Oak-Michigan, 1999).
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Nova datação do Novo Testamento (Parte 2/11): datas e dados


Bíblia - Tradição - Magistério

2. DATAS E DADOS
No início do Capítulo 1 (“Datas e Dados”), o autor explica que, tal como na Arqueologia, a cronologia do Novo Testamento (NT) é baseada numa combinação de datas absolutas e relativas. Há um número limitado de pontos mais ou menos fixos e os demais fenômenos são classificados conforme os supostos requerimentos de dependência, difusão e desenvolvimento. As novas datas absolutas obrigam a reconsiderar as datas relativas. Eventualmente, as antigas hipóteses sobre os padrões de dependência, difusão e desenvolvimento podem ser perturbadas ou, inclusive, radicalmente questionadas.
Robinson mostra como isto ocorreu no caso do estudo da origem e do desenvolvimento da civilização na Europa: a partir de 1949 se criou a “revolução do radiocarbono”, que obrigou a estender de 500 a 1500 anos este período; e, em 1966, devido a dendrocronologia, se produziu uma “segunda revolução”: desta vez, não apenas foi necessário estender mais uma vez o período apreciado como ainda o padrão de relações entre os fenômenos foi profundamente alterado.
Robinson afirma que:
  • “A cronologia do Novo Testamento depende mais de suposições do que de fatos. Não é que neste caso tenham surgido novos fatos, novas datas absolutas que não possam ser questionadas; elas ainda são extraordinariamente escassas. É que certos questionamentos obstinados simplesmente me levaram a questionar que base existe, na verdade, para certas hipóteses cujo questionamento pareceria ter se tornado arriscado ou, inclusive, impertinente, segundo o consenso predominante da ortodoxia crítica. No entanto, alguém toma coragem quando vê como, em seu próprio campo ou em outro qualquer, as posições estabelecidas de repente ou sutilmente passam a ser vistas como as precárias construções que são. As [posições] que pareciam ser datações firmes, baseadas na evidência científica, se revelam como deduções que se apoiam sobre outras deduções. O padrão é coerente, porém é circular. Se se questiona alguma das hipóteses construídas, todo o edifício parece bem menos seguro” (p.6).
A seguir, o autor apresenta uma visão sintética da história da cronologia do NT, indicando as posições predominantes em intervados de 50 anos. Em geral, até 1800 se considerava que a composição do NT abraçava um período de 50 anos: do ano 50 ao ano 100. Até 1850 esse período tinha mais que duplicado, estendendo-se agora entre os anos 50 e 170. Até 1900, ainda que o período considerado continuasse sendo aproximadamente o mesmo, mudou-se a datação dos diversos livros do NT, restando como datações tardias apenas uns poucos, em geral algumas epístolas. Até 1950, a brecha entre as posições radicais e as conservadoras havia reduzido bastante, atingindo um notável grau de consenso: o período de composição se reduz a cerca de 60 anos (entre 50 e 110), exceto apenas para 2Pedro (cerca de 150).
Robinson opina que:
  • “O que alguém procura em vão em grande parte dos estudos recentes é uma luta séria com a evidência interna ou externa para a datação dos livros individuais (…) mais que um padrão apriorístico do desenvolvimento teológico dentro do qual logo os faz enquadrar” (p.11).
Para o autor, a peça-chave foi o Evangelho de João. Por várias razões, pouco a pouco Robinson se convenceu de que este Evangelho foi escrito na Palestina e antes do ano 70, o que contradiz a tese predominante de que foi escrito na Ásia Menor até o final do século I. Porém, esta redatação de João obriga necessariamente a se refazer toda a cronologia do NT.
Explica Robinson:
  • “Foi neste ponto que simplesmente comecei a me perguntar: por que qualquer um dos livros do Novo Testamento deve ser datado após a queda de Jerusalém, no ano 70? Começando a considerá-los – e em particular a epístola aos Hebreus, os Atos e o Apocalipse – não era estranho que este cataclismo não fosse mencionado ou aludido nem uma só vez? Assim, como uma brincadeira teológica, pensei ver até onde alguém poderia chegar com a hipótese de todo o Novo Testamento ter sido escrito antes do ano 70 (…) Porém, o que começou como uma brincadeira, acabou se convertendo numa séria preocupação durante o processo” (p.12).
A seguir, o autor enumera as limitações da sua obra: não se introduziu nas bases teóricas da cronologia em si mesma, nem em cálculos astronômicos, nem nas complexas relações entre os sistemas cronológicos antigos; tampouco ingressou na cronologia do nascimento, ministério e morte de Jesus, nem na história do cânon do NT, nem no vasto campo da literatura não-canônica, exceto nos casos em que esta é diretamente relevante para o tema analisado.
Robinson conclui este capítulo dizendo:
  • “É provável que minha posição parecerá surpreendentemente conservadora, especialmente àqueles que me consideram radical em outros temas (…) Não reclamo nenhuma grande originalidade – quase cada conclusão individual, como se verá, foi previamente discutida por alguém, muitas vezes por homens renomados e esquecidos – ainda que eu pense que o padrão global seja novo e, assim espero, coerente. O que menos quero é encerrar qualquer discussão. Na verdade, me alegra antepor no meu trabalho as palavras com as quais, segundo dizem, Niels Bohr iniciava as suas conferências: ‘Cada frase que eu emita deve ser tomada por vós não como uma afirmação, mas como uma pergunta'” (p.14).
Veritatis Splendor

Nova datação do Novo Testamento (Parte 1/11): introdução


Bíblia - Tradição - Magistério
(Resenha do livro: John A. T. Robinson. “Redating the New Testament”. Editora Wipf & Stock Publishers: Eugene-Oregon, 2000, 369 pp.; publicado previamente pela Editora SCM Press, 1976)
1. INTRODUÇÃO
Desde a Era Apostólica, a tradição eclesiástica sustenta que os Quatro Evangelhos foram escritos pouco depois da morte e ressurreição de Cristo, com base no testemunho das testemunhas oculares dos fatos ali narrados. Este é um dos principais motivos da multisecular confiança da Igreja Católica no valor histórico dos Evangelhos. Algo semelhante pode-se dizer sobre os demais livros do Novo Testamento (NT). A mais antiga tradição afirma que eles também foram redigidos não-tardiamente por diferentes Apóstolos, alguns dos quais (como Pedro e João) fizeram parte do grupo dos Doze que acompanharam Jesus durante sua vida pública.
A partir do século XVIII, o estudo crítico da Bíblia desafiou estas convicções tradicionais, negando em muitos casos que os autores dos livros do NT fossem os Apóstolos a quem são atribuídos e assinalando aos referidos livros datas de redação tardias, em geral. Deste modo, durante o século XIX, muitos estudiosos de tendência racionalista sustentaram que os Evangelhos e os demais livros do NT tinham sido compostos no século II e, inclusive, na segunda metade desse século. Assim se colocou em dúvida a historicidade dos Evangelhos para sustentar diversas teses sobre a origem da fé cristã a partir de mitos, fraudes ou até mesmo da criatividade das comunidades cristãs primitivas.
No século XX, o estudo histórico-crítico do NT descartou as críticas mais extremas e reverteu parcialmente a tendência anterior, regressando a datações menos tardias, mas (em geral) sem regressar totalmente à visão tradicional. De 1950 até hoje, a maioria dos especialistas situa a composição do Evangelho de Marcos em torno do ano 70, a dos Evangelhos de Mateus e Lucas no período de 80 a 90 e a do Evangelho de João por volta do ano 95. Este consenso majoritário atual enfraquece um pouco os argumentos apologéticos em favor da historicidade do NT, mas sem destruí-los totalmente.
Nada obstante, nas últimas décadas diversos estudos exegéticos, filológicos e papirológicos, desenvolvidos independentemente uns dos outros, têm convergido num resultado inesperado para muitos: um forte questionamento do referido consenso e no sentido de um retorno total à tese da antiga tradição cristã.
Talvez o primeiro passo desse processo tenha sido dado em 1976, com a publicação do livro “Redating the New Testament” (“Nova Datação do Novo Testamento”), do teólogo inglês John A. T. Robinson (1919-1983), ex-bispo anglicano de Woolwich, na Inglaterra. Neste livro, Robinson defendeu a tese de que todo o NT foi escrito antes do ano 70 d.C., ano da destruição de Jerusalém pelos romanos.
O que acabou se tornando mais surpreendente nesta tese de Robinson foi que ele era um teólogo ultra-liberal, que tinha ficado famoso em 1963 por seu livro “Honest to God” (“Sincero para com Dios”), onde expôs uma teologia próxima ao secularismo: a rejeição da noção de um Deus transcendente, a proposta de um Cristianismo sem Igreja etc. Paradoxalmente, após a publicação de “Redating the New Testament”, muitos passaram a considerar Robinson como um teólogo ultra-conservador.
O que destaco disso é que Robinson teve a honestidade e a coragem de superar os seus preconceitos no importante tema da datação do Novo Testamento e a lucidez de reutilizar as observações feitas por estudiosos anteriores a ele para compor um argumento novo e forte em favor da datação não-tardia.
Me proponho a resumir e comentar aqui a obra “Redating the New Testament”. Quando eu citar textos desse livro, o farei segundo a minha tradução a partir do inglês e indicando os números de página da edição de 2000, indicada no início [desta postagem]. Para as citações bíblicas, usarei a Bíblia de Navarra. O livro tem 11 capítulos; apresentarei aqui um capítulo por vez.

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Festa da Conversão de Santo Agostinho poderá ser acompanhada pela web

Santo Agostinho
Santo Agostinho  (©Renáta Sedmáková - stock.adobe.com)
Um dos Padres da Igreja, Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”.

Vatican News

A Festa da conversão de Santo Agostinho poderá ser acompanhada via web nesta sexta-feira, 24 de abril. Religiosos e religiosas que seguem a Regra, recordam seu batismo na noite de Páscoa em 24 de abril de 387, pelas mãos do bispo de Milão Ambrósio.

Batismo que Agostinho pediu aos 33 anos depois que decidiu dedicar toda a sua vida à busca de Deus na Igreja Católica. Escolha que o levou ao sacerdócio e depois ao ministério episcopal, tornado ainda mais profícuo por uma vasta produção de escritos, hoje pedras fundamentais do cristianismo.

Na cidade italiana de Pavia, na Basílica de São Pedro em Ciel d'Oro, onde repousam os restos mortais de Santo Agostinho, o bispo Corrado Sanguineti, celebrará a Missa da Conversão de Santo Agostinho às 18h30 (horário local),  seguida pela exposição da urna com as relíquias do grande Padre da Igreja.

Será possível acompanhar a celebração ao vivo pelo canal YouTube da Diocese de Pavia https://www.youtube.com/channel/UCYZkUkN-mP3OWSApMp4SIaQ, enquanto que para a oração e  a meditação, o Instituto Agostiniano de Espiritualidade disponibilizou subsídios no link http://www.agostiniani.it/2020/04/22/conversione-sant-agostino-2020/.

Santo Agostinho (354-430), Bispo e Doutor da Igreja, nasceu em Tagaste, Tunísia, filho de Patrício e Santa Mônica. Grande teólogo, filósofo, moralista e apologista. Aprendeu a retórica em Cartago, onde ensinou gramática até os 29 anos de idade, partindo para Roma e Milão onde foi professor de Retórica na corte do Imperador. Alí se converteu ao cristianismo pelas orações e lágrimas, de sua mãe Mônica e pelas pregações de S. Ambrósio, bispo de Milão. Após ser batizado em 387 voltou para a África em veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e depois bispo de Hipona aos 42 anos de idade. Combateu as heresias do seu tempo, principalmente o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus. Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”.

Vatican News

Dia Mundial do Livro: A Bíblia foi o primeiro livro impresso por Gutenberg?

Exemplar da Biblia de Gutenberg - Crédito: NYC Wanderer (CC-BY-SA-2.0)
REDAÇÃO CENTRAL, 23 Abr. 20 / 02:25 pm (ACI).- Hoje se celebra o Dia Mundial do Livro em memória de grandes escritores. Embora o dado mais difundido é que a Bíblia foi o primeiro livro reproduzido com a imprensa de Johannes Gutenberg, o certo é que o inventor alemão reproduziu previamente outra obra católica.
Em ano 1449, Gutenberg reproduziu -como ensaio- na sua gráfica em Mainz o chamado “Missal de Constanza”, do qual agora existem somente três exemplares no mundo.
Um missal é o livro católico em que se encontram os textos para a celebração da Santa Missa.
Johannes Gutenberg, o alemão que inventou a impressão em caracteres, começou a impressão da primeira Bíblia em 1450, processo que terminou em 23 de fevereiro de 1455, há mais de 500 anos.
A Bíblia das 42 linhas ou Bíblia de Gutenberg, era a versão impressa da Vulgata, uma tradução ao latim usada pela Igreja Católica. Ele a chamou de Bíblia das 42 linhas pela quantidade de linhas impressas, em duas colunas, em cada página.
Atualmente existem 48 exemplares, mas só 21 estão completos. Um deles está na Espanha e se conserva na Biblioteca Pública de Burgos.
ACI Digital

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 12, De Pasione, 3. 6-7:PL54,355-357)     (Séc.V)

Cristo vivo em sua Igreja  
        Caríssimos filhos, a natureza humana foi assumida tão intimamente pelo Filho de Deus, que o único e mesmo Cristo está não apenas neste homem, primogênito de toda a criatura, mas também em todos os seus santos. Disto não podemos duvidar. E como a Cabeça não pode separar-se dos membros, também os membros não podem separar-se da Cabeça. Se é certo que Deus será tudo em todos não nesta vida mas na eterna, também é verdade que, desde agora, ele habita inseparavelmente no seu templo, que é a Igreja, conforme sua promessa: Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo (Mt 28,20).  
        Por conseguinte, tudo quanto o Filho de Deus fez e ensinou para a reconciliação do mundo, podemos saber não apenas pela história do passado, mas experimentando-o na eficácia do que ele realiza no presente.  
        É ele que, tendo nascido da Virgem Mãe pelo poder do Espírito Santo, por ação do mesmo Espírito, fecunda a sua Igreja imaculada, a fim de gerar pelo nascimento batismal, uma inumerável multidão de filhos de Deus. É deles que se diz: Estes não nasceram do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo (Jo 1,13).  
        É nele que foi abençoada a descendência de Abraão por meio da adoção filial de todos os povos do mundo; e o santo patriarca torna-se pai das nações quando, pela fé e não pela carne, lhe nascemos filhos da promessa.  
        É ele que, sem excluir povo algum, reúne em um só rebanho as santas ovelhas de todas as nações que existem debaixo do céu,e todos os dias cumpre o que prometera, ao dizer: Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor (Jo 10,16).  
        Embora tenha dito de modo especial a São Pedro: Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,17), é ele o único Senhor que orienta o ministério de todos os pastores. É ele que alimenta os que se aproximam desta pedra, com pastos tão férteis e bem irrigados, que inúmeras ovelhas, fortalecidas pela generosidade do seu amor, não hesitam em morrer pelo Pastor, o Bom Pastor que deu a vida por suas ovelhas.  
        É ele que une à sua Paixão não apenas a gloriosa fortaleza dos mártires, mas também a fé de todos aqueles que renasceram nas águas batismais.  
        É nisso que consiste celebrar dignamente a Páscoa do Senhor com os ázimos da sinceridade e da verdade: tendo rejeitado o fermento da antiga malícia, a nova criatura se inebria e se alimenta do próprio Senhor.  
        A nossa participação no corpo e no sangue de Cristo age de tal modo que nos transformamos naquele que recebemos. Mortos, sepultados e ressuscitados nele, que o tenhamos sempre em nós tanto no espírito quanto no corpo.
www.liturgiadashoras.online

Virgem Santa Maria, Mãe da Companhia de Jesus

REDAÇÃO CENTRAL, 22 Abr. 20 / 06:00 am (ACI).- Desde 22 de abril de 1541, celebra-se todos os anos a festa da Mãe da Companhia de Jesus, dia em que os primeiros jesuítas fizeram os votos solenes diante da imagem da Virgem Santa Maria, na Basílica romana de São Paulo Extramuros.

Santo Inácio narrou toda a experiência: “Quando chegamos a São Paulo, os seis nos confessamos, uns aos outros. Decidiu-se que Íñigo dissesse missa na igreja, e que os outros recebessem o Santíssimo Sacramento de suas mãos, fazendo seus votos da seguinte forma: Inácio dizendo missa e antes da comunhão, segurando um papel com a fórmula dos votos, se voltou para seus companheiros que estavam ajoelhados, e pronunciou as palavras dos votos”.
“Depois de dizê-las, comungou recebendo o Corpo de Cristo. Quando terminou de consumir, colocou as cinco hóstias consagradas na patena e se voltou para seus companheiros. Cada um tomou o texto dos votos em sua mão e disse em voz alta as palavras. Quando o primeiro terminou, recebeu o Corpo de Cristo. Em seguida, por turnos, os demais fizeram o mesmo. A missa aconteceu no altar da Virgem, no qual estava reservado o Santíssimo Sacramento”.
“Quando acabou a missa, depois de rezar diante dos outros altares, regressaram ao altar maior, onde todos se aproximaram de Íñigo. Deram-lhe um abraço e o beijo da paz, com muita devoção, sentimento e lágrimas; assim, finalizaram a cerimônia dos votos e deram início a sua vocação”.
Em 27 de setembro de 1540, meses antes que Santo Inácio de Loyola e os cinco companheiros (Salmerón, Laínez, Broet, Jay e Codure) fizessem os votos de pobreza, castidade e obediência, o Papa Paulo III aprovou a Fórmula da Companhia de Jesus e concedeu licença para fazer suas Constituições.
ACI Digital

Arcebispo argentino propõe medidas para reabrir igrejas durante a pandemia de COVID-19

Buenos Aires, 21 Abr. 20 / 03:35 pm (ACI).- O presidente da Comissão de Fé e Cultura da Conferência Episcopal Argentina (CEA), Dom Víctor Fernández, propôs 13 medidas para reabrir as igrejas durante a pandemia de coronavírus para celebrar as Missas, reduzindo os riscos de contágio.

Em 21 de abril a quarentena estabelecida pelo Governo argentino para controlar o contágio de coronavírus fez um mês. Segundo a Universidade John Hopkins, na Argentina há 3.031 casos confirmados de COVID-19, com 145 falecidos.
Dom Fernández, também Arcebispo de La Plata, indicou que, embora a Igreja colabore concedendo o apoio material às pessoas mais afetadas pela pandemia, quando “pensamos em apoiar a vida interior dos fiéis e incentivar seu crescimento, encontramos a séria dificuldade de vê-los privados da Eucaristia durante muito tempo, prevendo também que essa situação possa se prolongar por vários meses”.
Em uma carta datada de 19 de abril, dirigida à Comissão Executiva da CEA, o Prelado destacou que isso representa um dilema, uma vez que o Concílio Vaticano II ensina que "não se constrói nenhuma comunidade cristã se esta não tem a sua raiz e centro na celebração da Sagrada Eucaristia”; e que “São João Paulo II destacava que a Missa ‘antes que um preceito deve ser sentida como uma exigência inscrita profundamente na existência cristã’”.
Dom Fernández, que indicou que a carta inclui sugestões de vários bispos, disse que é compreensível "que muitos fiéis exijam que procuremos alguma maneira de torná-la acessível". “Dizemos a eles que podem experimentar outras formas de oração, e o fazem, mas já dizia São João Crisóstomo: ‘Também podes rezar em tua casa; no entanto, não podes rezar da mesma forma que na Igreja, onde se reúnem os irmãos’”.
"Além disso, há as Missas transmitidas online e eles sabem bem que a comunhão espiritual tem valor, que Deus também derrama sua graça dessa maneira, mas o faz desde que seja o desejo de Cristo presente na Eucaristia", afirmou.
No entanto, recordou que o Papa Francisco "ensina que Deus                 ‘no auge do mistério da Encarnação, quis chegar a nossa intimidade através de um pedaço de matéria’. É bom que nossos fiéis tenham aprendido isso, e é por isso que não são indiferentes”, mas desejam “o alimento do amor que é a fonte da vida sobrenatural”.
"Não será fácil fundamentar que essa situação se prolongue por muito tempo, nem poderemos esperar simplesmente que a pandemia passe por completo”, expressou Dom Fernández.
"Sabemos que expor-se ao contágio é uma irresponsabilidade, sobretudo porque implica expor outros ao contágio e indiretamente pode favorecer uma situação de crise de saúde que não queremos ver em nosso país", indicou.
Por isso, para dar "uma mensagem clara ao nosso Povo de Deus, mostrando que estamos realmente preocupados e que estamos tentando dar um passo para resolver esta situação o mais rápido possível", sem deixar de acompanhar “a preocupação sanitária das autoridades", propôs uma série de medidas obrigatórias para celebrar a Missa, minimizando os riscos e que não seja caracterizada como um ato massivo.
Essas medidas obrigatórias são:
1) Que haja uma distância de dois metros entre as pessoas, tanto para os lados como para trás e para frente. Isso exigirá a remoção ou cancelamento de metade dos bancos do templo.
2) Que não haja mais de duas pessoas por banco.
3) Uma vez que os bancos estejam cheios desta maneira, não poderá aceitar a entrada de mais pessoas.
4) Que nos templos, onde geralmente há um fluxo maior de pessoas, o número de missas seja multiplicado, para que os fiéis sejam distribuídos entre sábado e domingo em diversos horários. Dada a capilaridade e a proximidade dos templos, isso não afetará o transporte.
5) Que não se celebre Missa com fiéis nos santuários mais visitados, devido à dificuldade para estabelecer um controle deste tipo nestes locais. Nestes casos, poderiam ser convidados, a portas fechadas, os agentes pastorais que prestam serviço à comunidade.
6) Que na Missa não haja fila para receber a Comunhão, mas que os ministros se aproximem das pessoas localizadas nas extremidades dos bancos e coloquem a Eucaristia na palma se suas mãos.
7) Que cada ministro que distribua a comunhão lave as mãos antes e depois com sabão e coloque álcool gel.
8) Que se omita a saudação da paz e qualquer contato físico.
9) Que as Missas não durem mais de 40 minutos.
10) Que a saída do templo seja progressiva e que as saudações sejam evitadas.
11) Que as intenções da Missa não sejam anotadas no momento e que sejam recebidas apenas previamente por telefone, email, ou mensagens.
12) Que aqueles que, devido à sua idade, não podem comparecer, possam receber a comunhão em seus lares.
13) Que se mantenha transitoriamente a dispensa do preceito dominical, de forma que as pessoas que prefiram extremar os cuidados não se sintam obrigadas a assistir. De fato, antes de se declarar a quarentena, a quantidade de participantes da Missa já havia diminuído muito de modo espontâneo.
Em sua carta, Dom Fernández indicou que "se temos que prever os impactos econômicos, também é conveniente valorizar aquelas coisas que dão consolo e fortaleza às pessoas nos momentos duros”.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
ACI Digital

terça-feira, 21 de abril de 2020

Papa explica que dinheiro, vaidade e mexericos dividem toda comunidade

Papa Francisco na Missa na Casa Santa Marta. Foto: Vatican Media
VATICANO, 21 Abr. 20 / 08:56 am (ACI).- Na Missa celebrada na capela da Casa Santa Marta nesta terça-feira, 21 de abril, o Papa Francisco alertou que "dinheiro, vaidade e mexericos" são três questões que dividem as comunidades e as famílias.
“Muitas vezes, na história da Igreja, onde há desvios doutrinais – nem sempre, porém muitas vezes –, por trás está o dinheiro: o dinheiro do poder, seja o poder político, seja dinheiro em espécie, mas é dinheiro. O dinheiro divide a comunidade. Por isso, a pobreza é a mãe da comunidade, a pobreza é o muro que protege a comunidade", afirmou o Papa.
Nesta linha, o Papa afirmou que "o dinheiro divide, o interesse pessoal" e acrescentou que isso acontece "também nas famílias: quantas famílias acabaram divididas por (causa de) uma herança? Quantas famílias? E não se falam mais… Quantas famílias… Uma herança… Divide: o dinheiro divide".
Em sua homilia, o Pontífice enfatizou que “nascer do alto é nascer com a força do Espírito Santo. Não podemos pegar o Espírito Santo para nós; somente, podemos deixar que Ele nos transforme. E a nossa docilidade abre a porta ao Espírito Santo: é Ele que faz a mudança, a transformação, este renascimento do alto. É a promessa de Jesus de enviar o Espírito Santo. O Espírito Santo é capaz de fazer maravilhas, coisas que nós nem mesmo podemos pensar”.
Nesse sentido, o Papa Francisco deu um exemplo de uma comunidade cristã "que não é uma fantasia, isto nos é dito aqui: é um modelo, onde se pode chegar quando se tem a docilidade e se deixa o Espírito Santo entrar e nos transforma". Isso pareceria "uma comunidade – digamos assim - ideal".
Por esse motivo, o Pontífice reconheceu que “logo depois disso começam os problemas, mas o Senhor nos mostra até onde podemos chegar se somos abertos ao Espírito Santo, se somos dóceis. Nesta comunidade há harmonia”.
Da mesma forma, o Papa Francisco assegurou que “o Espírito Santo é o mestre da harmonia, é capaz de fazê-la e aqui a fez. Deve fazê-la em nosso coração, deve mudar muitas coisas em nós, mas fazer a harmonia: porque Ele mesmo é a harmonia. Também entre o Pai e o Filho: Ele é o amor de harmonia. E Ele, com a  harmonia, cria essas coisas como esta comunidade tão harmônica”.
Ao refletir sobre a passagem do Livro de Atos dos Apóstolos (4, 32-37), o Santo Padre destacou que narram os “muitos problemas da comunidade” e acrescentou que “este é um modelo”. "O Senhor permitiu este modelo de uma comunidade quase ‘celeste’, para mostrar-nos onde deveremos chegar".
No entanto, o Pontífice descreveu que, depois, nas primeiras comunidades cristãs "começam as divisões, na comunidade". E mencionou uma carta do apóstolo Tiago, onde aconselhou que sua fé "seja imune de favoritismos pessoais".
Por isso, o Papa Francisco mais uma vez pediu "não discrimineis" porque "os apóstolos devem sair para advertir" e São Paulo, na primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 11), reclamou das divisões entre eles.
“Começam as divisões internas nas comunidades. Este ‘ideal’ deve ser alcançado, mas não é fácil: há muitas coisas que dividem uma comunidade, seja uma comunidade cristã, paroquial ou diocesana ou presbiteral ou de religiosos ou religiosas… muitas coisas entram para dividir a comunidade”, advertiu o Papa.
Dinheiro, vaidade, mexericos
Nesse sentido, o Santo Padre alertou sobre três aspectos que dividem as comunidades cristãs, também as famílias: o dinheiro, a vaidade e os mexericos.
Quanto ao dinheiro, Francisco pediu para prestar atenção porque "se na sua igreja, na sua assembleia entra um com o anel de ouro, imediatamente levam-no para frente, e o pobre é deixado de lado”, e acrescentou que o próprio São Paulo escreveu que "os ricos trazem de comer e eles comem, e os pobres, de pé, os deixamos ali como a dizer-lhes: ‘Se vire com pode’. O dinheiro divide, o amor pelo dinheiro divide a comunidade, divide a Igreja”.
“Muitas vezes, na história da Igreja, onde há desvios doutrinais – nem sempre, porém muitas vezes –, por trás está o dinheiro: o dinheiro do poder, seja o poder político, seja dinheiro em espécie, mas é dinheiro. O dinheiro divide a comunidade. Por isso, a pobreza é a mãe da comunidade, a pobreza é o muro que protege a comunidade. O dinheiro divide, o interesse pessoal. Também nas famílias: quantas famílias acabaram divididas por (causa de) uma herança? Quantas famílias? E não se falam mais… Quantas famílias… Uma herança… Divide: o dinheiro divide", exclamou o Papa.
Ao se referir à vaidade, a "aquela vontade de sentir-se melhor do que os outros", o Santo Padre lembrou a oração do fariseu relatada no Evangelho: "Senhor, agradeço, porque não sou como os outros" e enfatizou que "a vaidade divide. Porque a vaidade leva você a pavonear-se e onde está o pavão, há divisão, sempre”.
Finalmente, o Pontífice indicou que os mexericos dividem a comunidade de fiéis e que, embora não seja a primeira vez que diz isso, "é a realidade". Porque o mexerico é aquilo "que o diabo coloca" em cada um "como uma necessidade de difamar os outros" e deu um exemplo, quando alguém diz: "’Mas que pessoa boa que é...’ – ‘Sim, sim, mas porém…’ Imediatamente depois o ‘mas’: isso é uma pedra para desqualificar o outro e logo após algo que ouvi, conto em seguida, e assim o diminuo um pouco".
No entanto, o Papa Francisco reiterou que “o Espírito vem sempre com a sua força par salvar-nos deste mundanismo do dinheiro, da vaidade e do mexerico, porque o Espírito não é o mundo: é contra o mundo. É capaz de fazer esses milagres, essas grandes coisas”.
"Peçamos ao Senhor essa docilidade ao Espírito para que Ele nos transforme e transforme nossas comunidades, nossas comunidades paroquiais, diocesanas, religiosas: as transforme, para caminhar sempre avante na harmonia que Jesus quer para a comunidade cristã.", concluiu.
Leitura comentada pelo Papa Francisco:
Atos 4, 32-37
A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma.
Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía,
mas tudo entre eles era posto em comum.
Com grandes sinais de poder,
os apóstolos davam testemunho
da ressurreição do Senhor Jesus.
E os fiéis eram estimados por todos.
Entre eles ninguém passava necessidade,
pois aqueles que possuíam terras ou casas,
vendiam-nas, levavam o dinheiro,
e o colocavam aos pés dos apóstolos.
Depois,
era distribuído conforme a necessidade de cada um.
José, chamado pelos apóstolos de Barnabé,
que significa filho da consolação,
levita e natural de Chipre,
possuía um campo.
Vendeu e foi depositar o dinheiro aos pés dos apóstolos.

ACI Digital

Santo Anselmo de Cantuária, doutor da Igreja

REDAÇÃO CENTRAL, 21 Abr. 20 / 05:00 am (ACI).- Santo Anselmo foi um monge beneditino nomeado Arcebispo de Cantuária na Inglaterra, proclamado Doutor da Igreja em 1720 pelo Papa Clemente XI e considerado um dos maiores teólogos e filósofos de seu tempo.

É conhecido como “o pai da escolástica”. Como teólogo, é lembrado por suas importantes obras e sua defesa da Imaculada Conceição, e como filósofo, por seu célebre argumento ontológico.
Este santo, que contava com uma piedade e caridade transbordante, é precursor de Santo Tomás de Aquino, pois a Igreja não havia tido um metafísico de sua estatura desde a época de Santo Agostinho. Além disso, é um dos autores mais lidos por professores de teologia durante séculos.
Também foi um hábil mestre para seus irmãos da Ordem de São Bento, aos quais ensinou teologia, e um lutador para conseguir a liberdade da Igreja apesar de sofrer banimento.
Nasceu no ano 1033 em Aosta de Piamonte (Alpes italianos), em uma família nobre. Sua educação foi encarregada aos padre beneditinos, depois de sofrer pela excessiva rigorosidade e diversos maus-tratos de seu antigo professor leigo.
Depois da morte de sua mãe e devido a uma má relação com seu pai, Anselmo abandonou sua casa. Em 1060, aos 27 anos, ingressou no mosteiro de Bec (Normandia), onde se tornou discípulo e grande amigo de Lanfranco, Arcebispo de Cantuária.
Três anos mais tarde, ocupou o cargo de prior do mosteiro, depois que Lanfranco foi enviado para assumir a abadia dos Homens (Normandia).
Como prior de Bec, Anselmo compôs suas duas obras mais conhecidas que serviram para integrar a filosofia e a teologia: “Monologium” (meditações sobre as razões da fé), no qual dava as provas metafísicas da existência e natureza de Deus, e “Proslogium” (a fé que busca a inteligência), ou contemplação dos atributos de Deus.
Do mesmo modo, compôs os tratados da verdade, da liberdade, da origem do mal e da arte de raciocinar.
Em 1078, o santo foi eleito abade de Bec, o que o obrigava a viajar com frequência para a Inglaterra, onde a abadia contava com algumas propriedades.
Após a morte de Lanfranco (1089), Anselmo viajou para a Inglaterra, onde foi nomeado Arcebispo em 4 de dezembro de 1093, embora inicialmente o rei Guilherme, o Vermelho, tenha se oposto. Este último foi hostil com os católicos daquela época e até mesmo baniu Santo Anselmo.
O santo passou um tempo no mosteiro de Campania (Itália) por razões de saúde e ali terminou sua famosa obra “Cur Deus homo”, o mais famoso tratado que existe sobre a Encarnação. Depois, sofreria mais um banimento e regressaria para a Inglaterra.
Faleceu no ano 1109, idoso e debilitado por sua idade, entre os monges de Cantuária. Suas últimas palavras antes de morrer foram: “Onde estão as verdadeiras alegrias celestes, devem estar sempre os desejos do nosso coração”.
Foi canonizado em 1494. Sua festa é celebrada em 21 de abril.
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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF