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domingo, 28 de dezembro de 2025

Quando o ano termina: um tempo de olharmos para dentro

PeopleImages | Shutterstock

Talita Rodrigues - publicado em 26/12/25

O fim de ano costuma chegar carregando um brilho que, para muitos, ilumina; para outros, quase cega. As ruas enfeitadas, as músicas repetidas, as expectativas de celebração… tudo isso cria a sensação de que deveríamos estar vivendo alguma espécie de alegria coletiva. Mas, por dentro, nem sempre é assim.

CAMPANHA DE NATAL ALETEIA 2025 - QUERO DOAR EM 3 CLIQUES

Psicologicamente, essa época funciona como um espelho bem nítido. Diante dela, somos convidados — às vezes sem querer — a encarar o que fizemos, o que adiamos, o que não conseguimos sustentar. É como se uma contagem regressiva acendesse também as nossas próprias urgências internas. Por isso surgem perguntas que não fazem barulho, mas fazem presença: “O que eu vivi?”, “O que ficou faltando?”, “Quem sou eu agora?”, “Será que estou onde gostaria de estar?”.

Essas perguntas não são sinais de fraqueza. São sinais de humanidade.

O fim de ano também costuma tocar em lugares sensíveis: a ausência de alguém, uma cadeira vazia à mesa, uma conversa interrompida, um sonho antigo que ainda não chegou

Há quem se sinta deslocado nas festas, como se estivesse presente apenas no corpo, mas distante em alma. Há quem sinta que está tudo rápido demais, ou lento demais. Há quem apenas deseje que esse período passe.

E tudo isso merece ser acolhido com delicadeza.

O que fazer?

Quando permitimos que as emoções apareçam sem julgá-las, elas nos mostram algo importante. A tristeza costuma revelar o que valorizamos. A saudade lembra que existe amor. A frustração aponta para nossos desejos não ditos. O vazio, por mais incômodo que seja, muitas vezes é um pedido silencioso de reconexão — com a própria história, com o próprio ritmo, com a própria verdade.

Nessa travessia, vale a pena criar pequenos espaços de pausa. Para respirar, sentir o corpo, deixar a mente descansar das cobranças externas. Há algo profundamente terapêutico em escutar a si mesmo com o mesmo cuidado que se escuta alguém querido. Talvez o fim de ano não seja um tempo de grandes festas, mas pode ser um tempo de pequenas honestidades: escrever uma carta para o próprio eu, revisitar memórias com mansidão, agradecer o que foi possível, nomear o que ainda dói, permitir-se planejar passos curtos para o que vem.

E, dentro de tudo isso, é importante lembrar da esperança — não aquela esperança romântica, que promete que tudo dará certo de repente, mas a esperança como virtude: aquela que brota devagar, que pede esforço, que se alimenta de gestos simples e de uma confiança discreta no futuro. A esperança que não nega a dor, mas a atravessa; que não garante respostas, mas oferece caminhos.

O fim de ano pode ser, então, menos sobre contabilizar o que faltou e mais sobre reconhecer o que se sustentou. Menos sobre metas grandiosas e mais sobre recomeços humildes. Menos sobre a pressão de estar bem e mais sobre a coragem de estar inteiro — mesmo que isso signifique estar frágil.

Se há algo que esse tempo nos convida a aprender, talvez seja isto: não precisamos terminar o ano prontos. Basta terminarmos verdadeiros. E, nesse espaço de verdade, a esperança encontra sempre uma forma de acender — às vezes como uma chama pequena, mas firme o suficiente para iluminar o caminho que começa de novo.

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Fonte: https://pt.aleteia.org/

Santos Inocentes

Santos Inocentes (Canção Nova)

SANTOS INOCENTES

28/12/2025

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

A Igreja celebra, no dia 28 de dezembro, a festa litúrgica dos Santos Inocentes. Como esse dia cai no domingo neste ano, no lugar dessa celebração iremos celebrar a Festa da Sagrada Família. Porém, é bom recordar um pouco dessa festa dos Santos Inocentes que ocorre três dias após o Natal e dentro do período da Oitava do Natal. Outras festas de santos importantes acontecem ao longo da Oitava do Natal, que é o período entre o Natal e a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, em 1º de janeiro. A Oitava do Natal são oito dias em que celebramos a alegria do Natal; é como se a cada dia dessa semana fosse Natal, e podemos desejar Feliz Natal uns aos outros. Isso porque o mistério do Natal é tão grande que não pode ser resumido em apenas uma celebração. 

Conforme falamos, além dos Santos Inocentes, ao longo da Oitava do Natal acontecem outras festas de santos importantes da Igreja, que dão um sentido ainda maior à Oitava do Natal. No dia 26 de dezembro, a Igreja celebra Santo Estêvão, o primeiro mártir da Igreja, que teve Saulo como testemunha, que depois se tornaria Paulo. No dia 27, celebramos São João Apóstolo e Evangelista, que esteve aos pés da cruz de Jesus e cuidou de Nossa Senhora. No dia 28 de dezembro, celebramos os Santos Inocentes, que são meninos de zero a dois anos que Herodes mandou matar pensando encontrar, em algum deles, Jesus. Além disso, temos a festa da Sagrada Família, normalmente no domingo seguinte ao Natal, neste ano, 28 de dezembro, e a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, em 1º de janeiro, fechando a Oitava do Natal. Em seguida, segue o Tempo do Natal até a festa do Batismo do Senhor. 

Em especial, neste ano, a festa da Sagrada Família será celebrada no domingo, dia 28, que é o domingo seguinte ao Natal. Com isso, a festa dos Santos Inocentes é suprimida. É claro que não deixaremos de lembrar dos Santos Inocentes, mas a liturgia desse domingo será da Sagrada Família. 

Meus irmãos, neste domingo em especial acontecerá o encerramento do Ano Jubilar da Esperança, que vivemos ao longo deste 2025. Convido a todos a participarem da missa em nossa Catedral, onde acontecerá uma Missa de Ação de Graças especial pela clausura do Ano Jubilar da Esperança. Viver um Ano Jubilar é uma grande graça de Deus para todos nós, e muitas graças são derramadas sobre todos. Por isso, celebremos a festa da Sagrada Família, encerremos o Ano Jubilar e lembremos dos Santos Inocentes. Como podemos observar, temos muitos motivos para celebrar e agradecer a Deus neste domingo. Nesse dia também iremos assinar a nossa carta pastoral com as conclusões do II Sínodo Arquidiocesano e comemoraremos a 13ª Festa da Unidade transferida, neste ano, para essa ocasião. 

Herodes ao ouvir falar que tinha nascido o rei dos judeus achava que Jesus veio para ocupar o seu lugar, e ele acreditava que somente ele seria o rei de Israel. Diante disso, Herodes manda matar todos os meninos de zero a dois anos, achando que um deles seria Jesus. Depois que os magos foram embora, o anjo aparece em sonho a José e pede que ele pegue Maria e o Menino e vá para o Egito, a fim de que Herodes não os encontre. O anjo pede que José permaneça lá com Maria e o Menino até nova ordem. Então, durante a noite, José pegou Maria e o Menino e retirou-se para o Egito. 

Por isso, a Igreja celebra nessa data os “Santos Inocentes”, pois são crianças indefesas, sem culpa alguma, que Herodes, por inveja e ciúmes, mandou matar. Os Santos Inocentes são padroeiros de todas as crianças abandonadas. Essa festa foi instituída por São Pio V e nos ajuda a viver com profundidade esse tempo da Oitava do Natal. 

A Sagrada Família permanece no Egito até a morte de Herodes, para se cumprir aquilo que o Senhor havia dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu Filho”. Depois, eles retornam e conseguem continuar a vida. Por isso, Jesus sempre defendeu e acolheu todas as crianças. 

Não temos como calcular o número de crianças que foram arrancadas dos braços de suas mães e depois assassinadas, sem poderem se defender ou ter a oportunidade de expressar a sua fé. Como todos os mártires, elas tiveram seu sangue derramado em nome de Cristo, porém sem a possibilidade de defesa. O relato evangélico desse dia encontra-se no Evangelho de Mateus. 

A celebração da festa dos Santos Inocentes nos chama a refletir sobre a situação de muitas crianças nos dias de hoje, que também podem ser consideradas “santos inocentes”. Crianças que não têm o direito de nascer, ou seja, são abortadas; crianças que são exploradas sexualmente, obrigadas a trabalhar desde cedo ou que vivem em situação de extrema vulnerabilidade. Enfim, rezemos por todas as crianças, para que sejam respeitadas em sua dignidade e possam crescer em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. 

Podemos dizer que os Santos Inocentes são os primeiros mártires da Igreja, pois são celebrados apenas três dias após o Natal. Todo ser humano tem o direito de nascer, amadurecer, envelhecer e depois morrer; não podemos interromper nenhuma vida, seja qual for a idade. Vale ressaltar também que essa festa nos leva a refletir que não devemos fazer justiça com as próprias mãos, nem alimentar inveja ou ciúmes de ninguém, como fez Herodes. A inveja e o ciúme não são sentimentos cristãos. Não podemos achar que o outro vai ocupar o nosso lugar; em qualquer ambiente em que estivermos, devemos seguir em frente, dar o nosso melhor e continuar o nosso trabalho. 

Por esses inocentes e por nós, como cristãos, que possamos construir um mundo mais justo, solidário e fraterno, e criar aqui na terra um lugar bom para se viver, para crianças, idosos e adultos, para que todos vivam em harmonia. Com certeza, toda criança que morre, seja por qualquer motivo, está no céu, ao lado de Jesus. Jesus tinha um carinho especial pelas crianças e deixava que se aproximassem d’Ele. Com certeza, temos no céu grandes intercessores. As crianças são puras e inocentes e não têm culpa das brigas e confusões dos adultos. Precisamos cuidar e amar todas as crianças, educá-las com fé e amor, e tomar o cuidado de nunca as machucar, seja fisicamente ou interiormente. 

Apesar de ser domingo e festa da Sagrada Família, recordemos com esperança renovada este dia, fazendo memória dos Santos Inocentes, pedindo, sobretudo, que as crianças de hoje tenham paz, proteção e uma vida digna aos olhos de Deus e dos homens. Que todas as crianças tenham, em primeiro lugar, o direito à vida; depois, à saúde e à educação. Peçamos melhores condições de vida para todas as crianças e que nenhuma morra precocemente.  

Oração aos Santos Inocentes 

“Meu Senhor, pelos Santos Inocentes, quero Vos rogar hoje por todos aqueles que são injustiçados, sofrem ameaças, são marginalizados e incompreendidos. Olhai pelos pequeninos, abandonados e assassinados pelas estruturas de morte de nossa sociedade. Que, convosco, eles alcancem dignidade e paz. Amém.” 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A encarnação do Verbo

O Mistério da Encarnação do Verbo (Arca de Maria | You Tube)

Santo Agostinho "convidava os seus fiéis a observar a realidade do Verbo de Deus feito carne, na maior humildade, para não envergonhar-se de ser um jumento do Senhor, porque foi esse animal que conduziu Jesus para a entrada de Jerusalém. É bom fazer lembrança do jumento conduzido ao Senhor , ninguém se envergonhe disso, porque somos nós que devemos carregar o Senhor, encontrar-se com Ele. Nós somos convidados a viver a graça da encarnação do Verbo de Deus, feito carne para a nossa salvação".

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá  (PA)

Nós estamos festejando o grande acontecimento divino e humano, que é o santo Natal, mistério tão próximo e infinito, o nascimento de Jesus em nossa realidade humana e pecadora, na qual o Senhor se fez carne e veio habitar no meio de nós (cf. Jo 1,14). Ele foi anunciado pelos patriarcas, os profetas no sentido do Messias que devia vir a o mundo, o Salvador da humanidade. Veremos a seguir este mistério a partir dos santos padres, os primeiros escritores do cristianismo.

O sentido da encarnação do Verbo

 Santo Ireneu de Lião, bispo do século III afirmou diante dos gnósticos, negadores da encarnação, que o Senhor assumiu a carne humana, isto é a realidade humana em tudo menos o pecado cfr. Hb 2,17). O Verbo de Deus recebeu de Maria a geração da recapitulação de Adão. Se os primeiros seres humanos foram tirados da terra e modelados pelo Verbo de Deus, mas que caíram no pecado e na morte, era necessário que este mesmo Verbo, efetuando em si a recapitulação de Adão e de todos os seus descendentes, tivesse geração semelhante à dele. Desta forma não houve uma segunda obra modelada porque foi salva a primeira pelo Verbo encarnado que modelou a primeira obra humana[1].

Ele se fez carne (cf. Jo 1,14)

Diante do argumento que Jesus não tomou nada de Maria, nada da carne humana, Santo Ireneu levantou a pergunta no sentido de que ‘Como isso seria possível não viver a realidade humana, o Verbo que veio do Pai’? O Bispo de Lião colocou a contrariedade do argumento gnóstico que se Ele não recebeu de nenhum ser humano a substância da sua carne, Ele não se fez pessoa humana, nem Filho do Homem. Portanto, se Ele não se fez o que nós éramos, não tinha importância nem o valor do sofrimento e do padecimento pela qual Ele teve que passar na sua paixão, morte de cruz para chegar à glória da ressurreição. Mas nós acreditamos que Ele se fez carne (cf. Jo 1,14) porque Jesus tomou carne de Maria, assumindo toda a realidade humana, com as suas alegrias, dificuldades, problemas, esperanças, espalhando o amor de Deus entre o povo e os seus discípulos. Ele recapitulou em si toda a vida humana, salvando a obra de suas mãos[2].

 A encarnação e a eucaristia

Tertuliano, Padre da Igreja, Norte Africano, dos séculos II e III deu importância à encarnação do Verbo de Deus diante também dos gnósticos que negavam a presença do Senhor na eucaristia, na cruz do sofrimento e da dor de Jesus. O fato era que Jesus desejou ardentemente comer a Páscoa, porque de fato era a sua Páscoa e seria indigno se Deus tivesse desejado alguma coisa que não fosse a sua carne. Por isso, ao tomar o pão disse Jesus que era o seu corpo, figura do seu próprio corpo(Lc 22,19). Como era o seu corpo, não foi uma coisa vazia a sua morte de cruz, de modo que no pão tomado por Ele, estava o seu corpo dado para nós e para a nossa salvação[3].

A encarnação, a cruz e a eucaristia

Tertuliano afirmou também que Jesus Cristo iluminou todas as figuras antigas e realizou todas as promessas feitas a seu respeito. Ele chamou o pão o seu corpo e explicou o significado do pão, verdadeiro alimento para a vida eterna. Da mesma forma falou do cálice (cfr. Lc 22,20) e estabeleceu o pacto selado com o seu sangue derramado ao longo de sua paixão e morte confirmando a sua substância corpórea. Desta forma o sangue não podia ser de nenhum corpo que não fosse de carne. Jesus derramou o seu sangue em vista da redenção humana[4].

 Jesus Cristo encheu o mundo

Santo Agostinho, Bispo de Hipona, Norte da África, séculos IV E V afirmou que Jesus Cristo encheu o mundo, pois Ele era o seu Criador junto com o Pai e o Espírito Santo. Desta forma, ao se encarnar Ele não encontrou lugar na hospedaria, mas Ele foi colocado numa manjedoura (cf. Lc 2,7) e Ele se fez nossa alimento. Dois animais se acostaram no presépio: o boi que conheceu o seu patrão e o burro a manjedoura, o coxo de seu Senhor (cfr. Is 1,3). O bispo convidava os seus fiéis a observar a realidade do Verbo de Deus feito carne, na maior humildade, para não envergonhar-se de ser um jumento do Senhor, porque foi esse animal que conduziu Jesus para a entrada de Jerusalém. É bom fazer lembrança do jumento conduzido ao Senhor (cf. Lc 19,34-35) ninguém se envergonhe disso, porque somos nós que devemos carregar o Senhor, encontrar-se com Ele. Nós somos convidados a viver a graça da encarnação do Verbo de Deus, feito carne para a nossa salvação[5].

Nós desejamos um Feliz Natal com o Senhor Jesus que se fez pessoa humana para nos elevar até à divindade. Somos irmãos e irmãs uns aos outros para viver a alegria do Natal, do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, do encontro com o Senhor Jesus na eucaristia, na sua palavra de salvação e em todas as pessoas de nossas famílias, comunidades, sobretudo aquelas mias necessitadas. O Natal possibilite vida nova para todos nós aqui e agora e um dia na eternidade.

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[1] Cfr. Ireneu de Lião, III,21,10. São Paulo; Paulus, 1995, pg. 349.
[2] Cfr. Idem, III,22,2. In: Idem, pgs. 350-351.
[3] Cfr. Tertulliano. Contro Marcione, IV, cap. 40,1-5. In; Gerardo di Nola. Monumenta Eucharistica. La Testimonianza dei Padri della Chiesa. Roma: Edizioni Dehoniane. 1994, pg. 128.
[4] Cfr. Idem, pgs 128-129.
[5] Cfr. Agostino d`Ippona. Sermone 189,4. In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa. Milano: Paoline, pg 396.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

EXEGESE: Sua verdadeira carne transfigurada (Parte 2/2)

A Transfiguração de Jesus Cristo (Catholic News Agency)

EXEGESE

Arquivo 30Dias nº 12 - 2001

Relatório do Prefeito da Biblioteca Ambrosiana na conferência sobre "A Face das Faces"

Sua verdadeira carne transfigurada

"O Cristo glorioso não apaga a verdade da Encarnação." Publicamos o relatório do Prefeito da Biblioteca Ambrosiana na conferência "A Face das Faces", realizada em outubro de 2001 na Pontifícia Universidade Urbaniana. A conferência, organizada pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Face de Cristo, publicou um volume contendo os seus trabalhos.

Por Gianfranco Ravasi

Os três espectadores, Pedro, Tiago e João,
na solene epifania do protagonista, são três atores de particular importância nos Evangelhos. Trata-se de um grupo privilegiado que, em diversas ocasiões, ocupa uma posição eminente, a ponto de constituir, como observou o exegeta Joachim Gnilka 4, “os portadores especiais da revelação de Cristo”. Na mesma lista dos Doze, emerge esse tipo de primazia: “Simão, a quem deu o nome de Pedro; depois Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, a quem deu o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão” ( Mc 3,16-17). Quando Jesus testemunhou a ressurreição da filha de Jairo, “não permitiu que ninguém o seguisse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago” ( Mc 5,37). Mesmo na noite escura do Getsêmani, “levou consigo Pedro, Tiago e João...” ( Mc 14,33).

Em nossa narrativa, a lista apresenta algumas variações: Pedro, Tiago e João ( Mt 17,1; Mc 9,2); Pedro, João e Tiago ( Lc 9:28). O que resta é a primazia de Pedro (cf. Mt 11:10) .10.2) que também tem a função de porta-voz em nosso “drama”. De fato, sua é a única declaração que vem da terra e se cruza com a celestial: “ kyrie , rabbi , epistáta , é bom estarmos aqui”; a isso se segue, com ligeiras variações de acordo com os três Sinópticos, a proposta de erguer três tendas, uma para cada um dos três atores da teofania, Jesus, Moisés e Elias. Não é nossa tarefa, aqui, buscar as razões para tal reação que, entre outras coisas, é considerada insensata por Marcos ( Mc 9.6), nem isolar sua matriz simbólica ou sinaítica, ou sua conexão com a solenidade dos Tabernáculos ( Lv 23.42; Zc 14.16-19) ou com as “moradas eternas” ( Lc 16.9).

Evidentemente, as palavras de Pedro são marcadas por um mal-entendido: o discípulo deseja conservar para sempre aquele antegosto da bem-aventurança celestial, evitando assim seguir o caminho da cruz e apagando a Paixão e a Morte. Os três, na verdade, são envolvidos pela luminosa nuvem teofânica, participando assim da intimidade divina e, após ouvirem a voz celestial, prostram-se no chão e são tomados pelo temor ( Mt 17,6-7), típico das experiências epifânicas ( Lc 1,12; 1,29; 2,9; 5,10; 8,35). Estas são as características das "apocalipses" divinas ( Dn 8,17; 10,9-10; Ap 1,17).

Os três discípulos, portanto, vivenciam uma verdadeira entrada no transcendente e no misterioso na montanha, e é Jesus quem os reconduz, com seu toque e seu clássico chamado "não tenham medo" nas teofanias, à história na qual a jornada da Encarnação deve se cumprir. Uma história que inclui, precisamente, sofrimento ( Mt 17,12) e morte ( Mt 15,23). Dessa experiência emocionante, porém, um eco permanecerá no coração de Pedro, como atesta uma passagem da Segunda Carta que a tradição atribui ao apóstolo: "...fomos testemunhas oculares da grandeza [de nosso Senhor Jesus Cristo]. Ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando esta voz lhe foi dirigida da Majestosa Glória: 'Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo'. Ouvimos esta voz vinda do céu, quando estávamos com ele no monte santo..." ( 2Pe 1,16-18).

As duas grandes testemunhas, Moisés e Elias

No centro da epifania que tem Jesus como protagonista estão também duas grandes testemunhas da Primeira Aliança, aliás, «os mediadores extremos da Aliança: representam o início e o fim da história que se cumpre em Jesus, juiz escatológico» (assim escreve um comentador do Evangelho de Mateus, Jean Radermakers5).

Curiosamente, Marcos inverte os dois personagens, talvez para enfatizar a tipologia profético-eliana com a qual o Rosto de Jesus é frequentemente retratado nos Evangelhos. A ordem histórico-tradicional, contudo, antecipa a figura de Moisés, o legislador do Sinai. De fato, se seguirmos a orientação do Êxodo até o Sinai, perceberemos que não faltam possíveis alusões presentes em nossa cena. Moisés também sobe a montanha acompanhado por três discípulos escolhidos, Arão, Nadabe e Abiú ( Êx 24:1,9); mesmo na teofania do Sinai há menção do último dia, quando Deus chama Moisés ( Êx 24:16). A nuvem e o fogo, semelhantes à nuvem luminosa da Transfiguração, aparecem como sinal da Glória do Senhor ( Êx 24:16-17). E Moisés, como Cristo, também terá o rosto resplandecente após ter estado em comunhão com Deus ( Êx 34:29).

Se Moisés é, por excelência, a encarnação da lei divina que revela a Israel, Elias representa a profecia que, idealmente, começa com ele. Uma profecia que é lida no Novo Testamento como um dedo apontando para Cristo, tanto que, imediatamente após a Transfiguração, "enquanto desciam do monte", Jesus declara que "Elias já havia vindo" e os discípulos entendem que "ele estava falando de João Batista" ( Mt 17:12-13). Elias, portanto, é o Precursor por excelência com a sua palavra. Mas ele também o é com a sua morte gloriosa, que é revelada como uma ascensão ao céu ( 2 Reis 2:11), antecipando a de Cristo. De fato, sob essa perspectiva, até mesmo Moisés pode estar envolvido, porque a sua morte no túmulo misterioso ( Dt 34:5-6) foi interpretada pela tradição judaica como uma assunção à glória divina (daí o apócrifo Assunção de Moisés ) e a própria tradição judaico-cristã ( Jd 9) seguiu essa linha.

Não é por acaso que Lucas – que tem o cuidado de colocar a ascensão como o objetivo da vida de Cristo (cf. Lc 9,51; 24,50-51; At 1,9-11) – introduz em seu relato da Transfiguração também o tema do diálogo de Jesus com Moisés e Elias, que “aparecem em glória”: eles falam do “ êxodo que [Cristo] estava para completar [ pleroun ] em Jerusalém” ( Lc 9,31). Assim, delineia-se a gloriosa exaltação do Ressuscitado; a cruz que aguarda Cristo e sua morte conduzem à Ascensão, isto é, à entrada no horizonte da eternidade, do infinito e do divino. Uma entrada que fora indicada pelo fim da história de Moisés e Elias e que se realiza plenamente ( pleroun).) por Jesus ressuscitado e exaltado em glória. Chegamos agora ao limiar do ato final do "drama" da Transfiguração. Agora será do céu que o último personagem aparecerá para selar o evento, revelando-se como o outro protagonista com Jesus.

O protagonista final, o Pai

O que decifra completamente o perfil do primeiro protagonista, Jesus, e resolve o enigma da cena da Transfiguração é uma presença-ausência, a do Pai, o protagonista final que sela todo o "drama" apresentando-se com a sua voz. A sua palavra é um sinal de transcendência (o seu Rosto, de fato, não aparece), mas também de proximidade e comunicação. O seu propósito é delinear o retrato perfeito de Cristo, desenvolvido através do recurso às Escrituras. É também evidente que esta intervenção torna a Transfiguração paralela ao batismo, onde a mesma voz divina apresentou solenemente Jesus ao mundo como o filho amado enviado pelo Pai ( Mt 3,17; Mc 1,11; Lc 3,22). As declarações dos Sinópticos na Transfiguração refletem substancialmente dois esquemas.

O esquema de Mateus ( Mt 17:5) também incorpora a fórmula de Marcos ( Mc 9:7), expandindo-a: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo". Em primeiro lugar, há o perfil messiânico do Filho, seguindo o Salmo 2:7; há a proclamação de sua singularidade e predileção divina, com referência também a Isaque, o filho amado e sacrificado ( Gn 22:2); há a satisfação que é adesão, aprovação, exaltação, com referência ao Servo sofredor do Senhor "em quem Deus se compraz" ( Is 42:1). Agora, a outra fórmula, a de Lucas ( Lc 9:35), concentra-se mais nesta última característica: «Este é o meu Filho, o Escolhido», uma expressão que segue precisamente Is 42:1: «Eis... o meu Escolhido, em quem me comprazo». Portanto, em todos os Evangelhos Sinópticos, ainda que com diferentes ênfases, o Pai revela que o Filho será glorificado, mas através do caminho do sofrimento. Jesus é entronizado em sua pessoa divina, mas também em sua missão salvífica.

O Pai, portanto, completa o retrato da Face de Cristo, que é certamente Senhor, rabino, mestre, ápice da lei e da profecia, mas que é acima de tudo Filho e Salvador. Toda a cena e a adesão dos três espectadores que representam os discípulos de toda a história cristã devem convergir para Ele. O imperativo final: «Escutem-no!» não é apenas um apelo para se voltar para Cristo como o profeta definitivo, segundo a releitura messiânica de Deuteronômio ( Dt 114: 11).18:15, 19): “O Senhor teu Deus te suscitará, dentre ti, dentre teus irmãos, um profeta como eu; a ele ouvireis...

Se alguém não der ouvidos às palavras que ele falar em meu nome, eu o responsabilizarei.” O imperativo do Pai é também um convite à plena obediência ao Filho, estabelecido como Senhor da história. Assim, como escreveu o exegeta H. Baltensweiler num ensaio dedicado precisamente à Transfiguração, “o verdadeiro discipulado de Jesus Cristo não consiste em alguma atividade sem sentido e iniciativa vazia, como vemos nos discípulos quando querem construir cabanas, mas somente em ouvir adequadamente o Kyrios, o Jesus transfigurado.”7

No centro da cena, portanto, está o Filho entronizado pelo Pai. Aquele Filho que não perde a sua humanidade deixando-a evaporar na teofania. No final, como vimos, ele toca as mãos ( Mt 17,7) dos três apóstolos espectadores, aproximando-se deles, dissipando seu temor sagrado e descendo com eles as encostas da montanha para retornar a percorrer os vales e planícies da história onde o mal e o demônio se aninham ( Mt 17,14-21; Mc 9,14-29; Lc 9,37-42) e seguir em direção a Jerusalém, a cidade do sofrimento e da morte, mas também do "êxodo" ( Mt 17,22-23; Mc 9,30-32; Lc 9,44-45).

O Venerável Beda comentou com razão: «Transfiguratus Salvator non substantiam verae carnis amisit»8, o Cristo glorioso não apaga a verdade da Encarnação. E nós o deixamos no cume da “alta montanha”, recordando as sete presenças que povoavam aquele espaço místico e geográfico, isto é, transcendente e histórico. Aqui está Jesus, Senhor, rabino, mestre, legislador, profeta, Filho unigênito e Servo sofredor. Em seguida, vem a Primeira Aliança com Moisés e Elias, e os discípulos do Novo Evangelho, Pedro, Tiago e João. E aqui, no final, está o Pai que coloca o primeiro protagonista, Jesus, de volta ao centro da cena.

NOTAS

5 J. Radermakers, Leitura Pastoral do Evangelho de Mateus , Bolonha 1974, p. 248.
6 «Lucas, ao substituir agapetós , ​​amado, por eklelegménos , escolhido, segundo Is 42:1, assimila o texto mais a Is 42:1 (cf. 23:35)... Desta forma, Lucas quer expressar com a devida ênfase a importância única deste Filho e da sua missão» (H. Schürmann, O Evangelho de Lucas , I, Brescia 1983, p. 876).
7 H. Baltensweiler, A Compreensão de Jesus. Relatórios Históricos e Sinópticos , Zurique 1959, p. 136.
PL 92.217.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Sagrada Família de Nazaré (A)

Sagrada Família (Vatican News)
Ano A

Seguindo o exemplo da Família de Nazaré, as nossas famílias, como as famílias humanas, podem aprender a deixar-se guiar pela poderosa mão de Deus.

Vatican News

Celebra-se a festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José no domingo após o Natal. Esta festa desenvolveu-se a partir do século XIX, no Canadá e, depois, em toda a Igreja, a partir de 1920. No início, era celebrada no domingo após a Epifania. Esta festa tem o intuito de apresentar a Sagrada Família de Nazaré como "verdadeiro modelo de vida" (Coleta), no qual as nossas famílias possam se inspirar e encontrar ajuda e conforto.

Texto:  (Mt 2,13-15,19-23)

“Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: do Egito chamei o meu filho". Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino”. José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Ao receber o aviso divino em sonhos, retirou-se para a região da Galileia, onde foi morar na cidade de Nazaré, para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: “Será chamado Nazareno” (Mt 2,13-15,19-23).

Família “em movimento”

O que mais chama a atenção na leitura do texto do Evangelho são os muitos verbos de "movimento": partir, levantar-se, fugir, refugiar-se, morar... O mapa geográfico também não fica muito atrás: Belém, Egito e, depois, Nazaré. Podemos encontrar, com certeza, a chave destes "movimentos" na citação do profeta Oséias: "Do Egito chamei meu filho": lugar de refúgio para os perseguidos e ponto de partida do Êxodo de Israel. Desta forma, a Família de Nazaré retoma o caminho de tantos perseguidos e refugiados, ao longo da história, mas, ao mesmo tempo, confia na mão poderosa de Deus, que sabe libertar seu povo.

A experiência da Sagrada Família leva-nos a pensar nas tantas famílias que, hoje, estão "em movimento". Essas famílias, certamente, são obrigadas a deixar suas casas e suas terras em busca de paz, serenidade e trabalho; faz-nos pensar também naquela apreensão, que nossas famílias cultivam, pela preocupação de não chegar ao final do mês, por causa dos problemas econômicos, da instabilidade emocional dos cônjuges, do medo das doenças...

Seguindo o exemplo da Família de Nazaré, as nossas famílias, como as famílias humanas, podem aprender a deixar-se guiar pela poderosa mão de Deus. Por um lado, em muitas situações, sentimo-nos "refugiados", estrangeiros na nossa própria terra ou no coração de quem amamos; por outro, todos os obstáculos e dificuldades podem transformar-se em uma oportunidade de "êxodo" e de "conversão", que nos conduzem à serenidade, à paz, à estabilidade.

O Espírito Santo fala às famílias de hoje

O Espírito Santo continua, ainda hoje, a guiar "todos os povos", "todos os casais", "todos os pais". Porém, temos que ouvir o que o Espírito nos fala. Se o Filho de Deus vem ao nosso encontro, através de um Menino, e se o nosso olhar de fé pode captar esta presença, então temos que lembrar que as coisas do dia a dia tem sua importância; os encontros cotidianos nunca são inúteis ou puras coincidências. Por isso, é preciso manter nosso olhar de fé, dentro e ao nosso redor, pois podemos encontrar ou rejeitar a presença de Deus em todos os lugares, porque tudo é um sinal, para quem acredita.

Evangelho da família

Viver o Evangelho da família, sobretudo hoje, não é fácil: somos criticados ou atacados porque defendemos a vida, desde o seio materno. No entanto, o Evangelho nos mostra o caminho, talvez exigente, para vivermos uma vida digna, em nível pessoal e familiar, mas fascinante e totalizante: um caminho que, ainda hoje, merece confiança e crédito, sob o exemplo e intercessão da Família de Nazaré. Em toda família há momentos de felicidade e tristeza, de tranquilidade e dificuldades. Esta é a vida. Viver o "Evangelho da família" não nos dispensa de passar por dificuldades e tensões, momentos de alegre fortaleza e de triste fragilidade. As famílias feridas e marcadas pela fragilidade, fracassos, dificuldades... podem reviver, se souberem haurir da fonte do Evangelho; assim, poderão encontrar novas possibilidades para recomeçar.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 27 de dezembro de 2025

Leão XIV diz que o cristão não tem inimigos, mas irmãos e irmãs

Papa Leão XIV na varanda do Palácio Apostólico, no Vaticano. | Captura de tela - Vatican Media

Por Victoria Cardiel*

26 de dez de 2025 às 12:09

O papa Leão XIV exortou hoje (26) à unidade e à fraternidade, dizendo que os cristãos “não têm inimigos, mas irmãos e irmãs", mesmo diante de desentendimentos.

“O cristão, porém, não tem inimigos, mas irmãos e irmãs, que continuam a sê-lo mesmo quando não estão de acordo”, disse ele da varanda do Palácio Apostólico, no Vaticano.

Na oração do Ângelus na festa de santo Estêvão, o primeiro mártir cristão, o papa disse que o Mistério do Natal consiste em reconhecer em cada pessoa, mesmo nos “adversários”, “a dignidade indelével das filhas e dos filhos de Deus”.

Em sua reflexão, Leão XIV disse que aqueles que hoje acreditam na paz e escolhem “o caminho desarmado de Jesus e dos mártires” são frequentemente “ridicularizados” e “excluídos do debate público”, ou até mesmo “acusados ​​de favorecer adversários e inimigos”.

O papa disse que o cristão não tem inimigos, uma convicção que, segundo ele, é fonte de alegria "motivada pela tenacidade de quem já vive a fraternidade".

Leão XIV centrou sua mensagem na figura de santo Estêvão, diácono da Igreja primitiva em Jerusalém e a primeira testemunha a derramar seu sangue por Cristo. Apedrejado depois de ser acusado de blasfêmia, ele morreu perdoando seus algozes, entre eles Saulo de Tarso, o futuro são Paulo Apóstolo. A Igreja celebra sua festa em 26 de dezembro, logo depois do Natal, como sinal da união entre o nascimento do Salvador e o testemunho até o fim.

O martírio é um “nascimento para o Céu”.

“Hoje é o natal de santo Estêvão, como costumavam dizer as primeiras gerações cristãs, certas de que não se nasce só uma vez”, disse o papa. Inspirando-se no relato dos Atos dos Apóstolos, ele disse que aqueles que testemunharam seu martírio “ficaram surpreendidos com a luz do seu rosto”.

“Está assim escrito: Todos os membros do Sinédrio tinham os olhos fixos nele e viram que o seu rosto era como o rosto de um Anjo» (cf At6, 15)”, disse ele. “É o rosto de quem não passa indiferente pela história, mas a enfrenta com amor”.

Leão XIV disse que o martírio é “um nascimento para o Céu” e que, numa perspectiva de fé, mesmo a morte “já não significa só trevas”.

“Viemos ao mundo sem decidir, mas passamos depois por muitas experiências nas quais nos é pedido, cada vez mais conscientemente, que venhamos à luz, que escolhamos a luz”, disse o papa.

O nascimento do Filho de Deus “convida-nos a viver como filhos de Deus, tornando-o possível”, com um “movimento de atração” como o vivido por “pessoas humildes” como Nossa Senhora, são José e os pastores em Belém.

Ele disse que a beleza de Jesus e daqueles que vivem como Ele “é uma beleza rejeitada”, porque sua “força magnética” provocou, desde o princípio, “a reação de quem teme pela sobrevivência do seu poder, de quem é desmascarado na sua injustiça por uma bondade que revela os pensamentos dos corações (cf. Lc 2, 35)”.

Nenhum poder pode prevalecer sobre a obra de Deus

“Até hoje, poder algum prevalece sobre a obra de Deus”, disse o papa. Assim, ele disse que em todo o mundo existem pessoas que escolhem a justiça “mesmo que isso tenha um custo” e “anteponha a paz aos próprios medos”.

“Então, apesar de tudo, brota a esperança e faz sentido estar em festa”, disse Leão XIV.

“Nas condições de incerteza e sofrimento do mundo atual, a alegria pareceria impossível”, disse ele.

Santo Estêvão morreu perdoando, como Jesus Cristo, por uma força “mais verdadeira do que a das armas”, disse o papa.

“Sim, isto é renascer, isto é vir novamente à luz, isto é o nosso Natal”, disse ele, antes de confiar os fiéis a Nossa Senhora, “bendita entre todas as mulheres que servem a vida”, para que ela conduza a Igreja a uma alegria que “dissolve todo o medo e toda a ameaça”.

Ao fim da oração do Ângelus, o papa fez uma saudação aos peregrinos reunidos na praça de São Pedro, renovando "sinceramente" seus votos de paz e serenidade "na luz do Natal do Senhor".

“Saúdo todos os fiéis de Roma e os peregrinos vindos de tantos países”, disse Leão XIV, antes de invocar a intercessão de santo Estêvão. Assim, ele confiou à sua intercessão as comunidades de cristãos perseguidos e pediu que o seu testemunho “fortaleça a nossa fé e sustente as comunidades que mais sofrem por causa do seu testemunho cristão”.

Leão XIV falou sobre o valor do exemplo do protomártir, destacando sua mansidão, coragem e perdão. "Que o seu exemplo de mansidão, coragem e perdão acompanhe todos aqueles que estão envolvidos em situações de conflito para promover o diálogo, a reconciliação e a paz", exortou ele.

*Victoria Cardiel é jornalista especializada em temas de informação social e religiosa. Desde 2013, ela cobre o Vaticano para vários veículos, como a agência de noticias espanhola Europa Press, e o semanário Alfa y Omega, da arquidiocese de Madri (Espanha).

Fonte: https://www.acidigital.com/

O Papa aos jovens de Taizé: sejam construtores da paz e portadores da esperança

Taizé em Paris 2025-2026 | Vatican News.

Numa mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, aos participantes do 48º Encontro Europeu de Fim de Ano, organizado em Paris pela Comunidade Monástica Francesa, Leão XIV faz votos de que os momentos de oração e partilha possam ajudar a aprofundar a sua fé e a discernir "como viver o Evangelho na realidade concreta".

Vatican News

Um convite para ser "peregrinos da confiança, construtores da paz e da reconciliação, capazes de levar uma esperança humilde e alegre aos que os rodeiam". Este é o convite de Leão XIV aos jovens reunidos de domingo, 28 de dezembro, a 1° de janeiro, em Paris, e na região da Île-de-France, para o 48.º Encontro Europeu, organizado anualmente pela Comunidade de Taizé. O Pontífice enviou uma mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, aos cerca de 15 mil participantes, de 18 aos 35 anos, que, a convite das Igrejas na Europa de várias confissões, se reunirão em oração e partilha, num espírito de celebração e amizade. O Papa lhes assegura sua proximidade espiritual.

Ter certeza de ter Jesus ao seu lado

Agradecido por saber que os jovens estarão reunidos "numa cidade marcada por uma rica herança religiosa, moldada ao longo dos séculos pelo testemunho luminoso de tantas figuras de santidade que, cada uma à sua maneira, responderam corajosamente ao chamado de Cristo", o Papa observa que "o tema da Carta escrita este ano pelo frei Mateus, prior de Taizé, 'O que procuram?', aborda uma questão essencial que reside no coração de cada ser humano" e nos convida a não a temê-la, "mas a carregá-la em oração e silêncio", na certeza de ter Cristo ao nosso lado e na convicção de que Ele "se deixa encontrar por aqueles que o procuram com um coração sincero".

Viver o Evangelho na realidade concreta

Para Leão XIV, neste ano "marcado por tantas provações" para a humanidade, a generosa hospitalidade que os jovens estão recebendo em Paris "de fiéis de todas as origens e de pessoas de boa vontade é uma mensagem poderosa para o mundo". "Que os momentos de oração e partilha que vocês viverão nestes dias os ajudem a aprofundar a sua fé, discernindo cada vez mais claramente como viver o Evangelho na realidade concreta de suas vidas", ressalta o Papa.

Comunhão e fraternidade

A mensagem, que destaca o "momento eclesial particular, marcado pelo encerramento de um Ano Jubilar e pelas comemorações dos 1.700 anos do Concílio de Niceia", recorda também que, durante o encontro ecumênico de oração em Iznik, o Pontífice falou da reconciliação como "um apelo que vem de toda a humanidade afligida por conflitos e violência". Por fim, enfatiza que "o desejo de plena comunhão entre todos os fiéis em Jesus Cristo é sempre acompanhado pela busca da fraternidade entre todos os seres humanos".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

EXEGESE: Sua verdadeira carne transfigurada (Parte1/2)

A Transfiguração de Jesus Cristo (Catholic News Agency)

EXEGESE

Arquivo 30Dias nº 12 - 2001

Relatório do Prefeito da Biblioteca Ambrosiana na conferência sobre "A Face das Faces"

Sua verdadeira carne transfigurada

"O Cristo glorioso não apaga a verdade da Encarnação." Publicamos o relatório do Prefeito da Biblioteca Ambrosiana na conferência "A Face das Faces", realizada em outubro de 2001 na Pontifícia Universidade Urbaniana. A conferência, organizada pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Face de Cristo, publicou um volume contendo os seus trabalhos.

Por Gianfranco Ravasi

A nossa leitura da cena da Transfiguração será singular. Consideraremos, de fato, um verdadeiro "drama" no sentido original do termo. Estrutura, desenvolvimento, atores e sequências temporais garantem que o evento seja capaz de se reproduzir diante de nossos olhos em sua ação e mensagem, com sua própria eficácia representativa. Os dados do texto — que, como se sabe, nos são oferecidos nas três versões sinópticas ( Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36)¹ — serão recompostos por nós segundo um enredo confiado a sete personagens que, em diferentes níveis e papéis, sustentam todo o "drama".

Jesus, o protagonista

E precisamente porque uma apresentação solene precisa de sua trilha sonora ideal, propomos imediatamente como fio condutor musical um oratório moderno, aquele que Olivier Messiaen compôs entre 1965 e 1969 para coro misto, sete solistas instrumentais e uma grande orquestra (a estreia contou com 216 músicos no total!), intitulado La Transfiguration de Notre-Seigneur Jésus Christ 2. Apresentada pela primeira vez em 7 de junho de 1969 em Lisboa, por ocasião do Festival Gubelkian, e em 29 de outubro do mesmo ano no Palais de Chaillot, em Paris, esta obra assemelha-se a uma grandiosa catedral harmônica (dura pelo menos uma hora e meia). Complexa em sua divisão em duas linhas de sete sílabas, mas linear em sua monumentalidade, a obra se baseia no relato da Transfiguração em Mateus, bem como em textos litúrgicos e até mesmo citações da Suma Teológica de Tomás de Aquino — tudo estritamente em latim — além de evocações instrumentais exóticas (címbalos turcos, crótalos, marimba, gongo, tam-tam, xilorimba, vários instrumentos folclóricos, etc.). Tudo culmina no coral final da luz da Glória, baseado no Salmo 26:8: "Senhor, como amo a beleza da tua casa e o lugar onde a tua glória habita!". E Messiaen comenta: "A glória habitou no monte da Transfiguração, a glória habita no Santíssimo Sacramento de nossas igrejas, a glória habitará na eternidade".

E se realmente não tivermos à nossa disposição um comentário musical tão monumental, bastará recorrer à mais simples, porém mais encantadora, composição para piano de Franz Liszt, intitulada precisamente In festo Transfigurationis Domini nostri . Como pano de fundo para o nosso "drama", é difícil não pensar imediatamente na famosa tela de Rafael conservada nos Museus Vaticanos (1520), mas também no afresco de Beato Angelico no convento florentino de San Marco (1441), de André Rubliov, com seu ícone da Metamorfose.(1405), a Giovanni Bellini com uma tela (1480) presente em Nápoles na Galeria Capodimonte. Muitos outros pintores, no entanto, oferecem-nos a possibilidade de criar o cenário ideal para esta cena. Um cenário que pode também ser constituído por uma fotografia daquele pico tradicionalmente identificado como a montanha anónima da Transfiguração evangélica, isto é, o Tabor, com os seus 582 metros e com o perfil da basílica franciscana erguida pelo arquiteto Antonio Barluzzi entre 1919 e 1924. Mas chegou agora a hora de apresentar a primeira personagem, o protagonista.

Ele dominará todo o desenrolar do "drama" e é imediatamente apresentado pelo seu próprio nome, Iesous 4, pronunciado quatro vezes na versão de Marcos ( Mc 9,2.4.5.8). Outros títulos solenes ser-lhe-ão atribuídos, propostos na continuação da história e na aparição dos vários intervenientes no evento. Por ora, contentar-nos-emos em destacar o tríptico terminológico colocado na boca de outro personagem da Transfiguração, Pedro. Ele se dirige a Jesus como Kyrie , "Senhor", segundo Mateus ( Mt 17:4): trata-se do reconhecimento da suprema soberania de Cristo sobre o ser e a história, mas também — alusivamente — é uma referência à divindade, se é verdade que na Bíblia grega cristã o nome sagrado YHWH de Deus era traduzido precisamente como Kyrios (cf. Fl 2:9-11). Jesus é invocado por Pedro, segundo Marcos ( Mc 9:5), como rabino, que em sua raiz hebraico-aramaica (rab, "grande") segue o título anterior, mas que também assume a conotação de supremo "mestre" da verdade de Deus. E, finalmente, segundo Lucas ( Lc 9,33), Jesus é epistáta (vocativo de epistátes ), um título caro ao terceiro evangelista ( Lc 5,5; 8,24,45; 9,49; 17,13). O termo pode ser considerado a tradução grega do rabino anterior: o conceito de “mestre” está entrelaçado com o de primazia, superioridade, regência ou inspeção. Sob essa perspectiva, poderíamos dizer que o tríptico de títulos cristológicos converge na atribuição de senhorio a Jesus não apenas na cena da Transfiguração, mas também no palco da história como um todo e da verdade (na prática, poderíamos pensar no francês “maître”, que em si incorpora as funções de “senhor, mestre” e “magisterial”).

O retrato de Jesus, contudo, será completado, de fato capturado em sua identidade mais íntima e profunda, pelo último personagem, como teremos a oportunidade de ver. Os exegetas, aliás, concordam que o propósito final da cena é precisamente revelar a pessoa de Cristo como Senhor da glória, mestre, filho de Deus, e sua missão como profeta e legislador perfeito e definitivo. Sob essa perspectiva, devemos reunir uma série de detalhes. Comecemos pela localização espacial de sua figura no "monte alto" ( Mt 17,1; Mc 9,2), uma evocação simbólica não isenta de certa alusão bíblica: como não pensar em uma espécie de Sinai galileu ou no monte da aparição pascal de Mateus na Galileia ( Mt 28,16)? Existe, portanto, uma coordenada temporal exaltada por Marcos ( Mc 9,2) e Lucas ( Lc 9,28): segundo Marcos, o evento é celebrado "após seis dias", estando, portanto, no sétimo dia da Páscoa, enquanto para Lucas é o "oitavo dia", talvez uma forma mais greco-romana de formular a mesma ideia de uma plenitude temporal da Páscoa já alcançada.

Não é por acaso que, mesmo que o padrão das aparições pascais não possa ser totalmente rastreado em nosso evento, é certo que a "metamorfose" ( Mt 17,2; Mc 9,2; Lucas evita o termo para não gerar mal-entendidos entre seus leitores acostumados às "metamorfoses" dos deuses em forma humana, como ensina Ovídio) é uma cristofania na qual Jesus aparece aureolado pela luz pascal. Na verdade, é o seu Rosto imerso em esplendor ( Mt 17,2) e que se torna “outro” na sua aparência ( Lc 9,29), e é a sua veste que se torna surpreendentemente branca (o “traço” de Marcos é famoso, Mc 9,3) que sinaliza a glória da Páscoa e a eternidade divina. Até François Rabelais, no capítulo X do seu famoso Gargantua (1534), escreveu: “O branco significa alegria, júbilo, celebração... Na Transfiguração de Nosso Senhor, as suas vestes eram brancas como a luz e esta brancura luminosa fez com que os seus três apóstolos presentes, Pedro, Tiago e João, intuíssem a ideia e a essência das alegrias eternas”³. Assim, entrelaçando elementos pascais e apocalípticos, evocando a nuvem – sinal da presença divina no Êxodo ( Mt 17,5; Mc 9,7; Lc 9,34), a teofania sinaítica ( Êx 19,9; 24,15-16; 33,9), à qual retornaremos – obtemos um perfil de Jesus com contornos epifânicos. Na metade de sua jornada terrena, Cristo revela seu autêntico Rosto, por ora oculto sob as feições do homem da Galileia. Não é à toa que falamos de uma “visão” (oftê em Mt 17,5; Mc 9,7; Lc 9,34).17.3; Mc 9.4; cf. Lc 9.31 e Mt 17.9: este é o verbo típico das aparições pascais, mesmo que agora não seja aplicado diretamente a Jesus.

No entanto, há outro detalhe que deve ser observado para completar o retrato do protagonista. É Lucas, como de costume, quem o indica ao mencionar que Jesus sobe ao monte para orar e é durante a oração que a visão se abre. É sabido que o terceiro evangelista situa os eventos principais da vida de Cristo num contexto de oração: a cena do batismo no Jordão é emblemática ( Lc 3.21), em muitos aspectos análoga à da Transfiguração. Poderíamos então dizer que o evento que ocorre no monte se dá no âmbito de um êxtase quase místico, que é uma revelação e um encontro com o mistério de Deus. Não é por acaso que os espectadores ficarão deslumbrados e precisarão, no final, do toque de Jesus ( Mt 17,7) para serem reconduzidos à vida cotidiana. E nesse momento encontrarão autòn Iesoun mónon ( Mt 17,8; cf. Mc 9,8; Lc 17,36): é Jesus quem domina toda a cena, como acontecera no início. Mas ali, após a Cristofania, sua singularidade simbólica eclipsará qualquer outra presença, por mais grandiosa que seja, como a de Moisés e Elias. Só ele nos bastará, só ele será a meta para a qual convergirá nossa “escuta” – obediência ( Mt 17,5; Mc 9,7; Lc 17,35).

NOTAS

1 A análise exegética desta cena é amplamente desenvolvida em todos os comentários sobre os três Evangelhos Sinópticos e em um número considerável de ensaios específicos, entre os quais destacamos, a título de exemplo, JP Heil, A Transfiguração de Jesus , Roma 2000; E. Nardoni, A Transfiguração de Jesus e o Diálogo sobre Elias , Buenos Aires 1977 e J.M. Nützel, O Iluminismo no Evangelho de Marcos , Würzburg 1973.
2 FR Tranchefort (ed.), Guia de Música Coral Sacra e Profana de 1750 aos Nossos Dias , Paris 1993, pp. 628-636.
3 Citado no Dicionário Cultural da Bíblia , Turim 1992, p. 247.
4 J. Gnilka, Marcos , Assis 1987, p. 478.

Fonte: https://www.30giorni.it/

A obra-prima de São João Evangelista

CC | Aleteia

Reportagem local - publicado em 27/12/17

O prólogo do seu Evangelho é uma declaração de fé e de maravilhamento espiritual a ser rezada todos os dias.

O prólogo do Evangelho de São João (1, 1-14) fascina todas as gerações de cristãos. Sua beleza e profundidade teológica são de inspiração quase tangível. Não surpreende que era lido ao final de todas as Missas no Rito Romano Antigo. É uma declaração de fé e de maravilhamento espiritual a ser rezada todos os dias:

Em português:

No princípio era o Verbo,
e o Verbo estava junto de Deus
e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio junto de Deus.
Tudo foi feito por ele,
e sem ele nada foi feito.
Nele havia a vida,
e a vida era a luz dos homens.
A luz resplandece nas trevas,
e as trevas não a compreenderam.

Houve um homem, enviado por Deus,
que se chamava João.
Este veio como testemunha,
para dar testemunho da luz,
a fim de que todos cressem por meio dele.
Não era ele a luz,
mas veio para dar testemunho da luz.

[O Verbo] era a verdadeira luz,
que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.
Estava no mundo
e o mundo foi feito por ele,
e o mundo não o reconheceu.
Veio para o que era seu,
mas os seus não o receberam.

Mas a todos aqueles que o receberam,
aos que creem no seu nome,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus,
os quais não nasceram do sangue,
nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem,
mas sim de Deus.

E o Verbo se fez carne
e habitou entre nós,
e vimos a sua glória,
a glória que o Filho único recebe do seu Pai,
cheio de graça e de verdade.

Em latim:

In principio erat Verbum,
et Verbum erat apud Deum,
et Deus erat Verbum.
Hoc erat in principio apud Deum.
Omnia per ipsum facta sunt,
et sine ipso factum est nihil quod factum est;
in ipso vita erat,
et vita erat lux hominum,
et lux in tenebris lucet,
et tenebrae eam non conprehenderunt.

Fuit homo missus a Deo,
cui nomen erat Iohannes;
hic venit in testimonium
ut testimonium perhiberet de lumine,
ut omnes crederent per illum.
Non erat ille lux,
sed ut testimonium perhiberet de lumine.

Erat lux vera,
quae illuminat omnem hominem,
venientem in mundum.
In mundo erat,
et mundus per ipsum factus est,
et mundus eum non cognovit.
In propria venit,
et sui eum non receperunt.

Quotquot autem receperunt eum,
dedit eis potestatem filios Dei fieri,
his, qui credunt in nomine eius,
qui non ex sanguinibus
neque ex voluntate carnis
neque ex voluntate viri,
sed ex Deo nati sunt.

Et Verbum caro factum est
et habitavit in nobis;
et vidimus gloriam eius,
gloriam quasi unigeniti a Patre,
plenum gratiae et veritatis.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Um dia de descanso para os nervos à flor da pele

Pearl PhotoPix | Shutterstock

Aleteia Polônia - publicado em 25/12/25

Como dominar a arte de se acalmar? Na verdade, é mais fácil do que parece, mas precisamos levar isso a sério.

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Todos nós "perdemos a cabeça" às vezes. Estresse, exaustão, um sentimento de injustiça — em uma fração de segundo, podem nos transformar em alguém que mal reconhecemos. De uma perspectiva neurobiológica, estamos falando de um "desligamento do córtex pré-frontal" — a parte do cérebro responsável pelo raciocínio e autocontrole. Em seu lugar, o sistema límbico, o centro emocional, assume o controle, reagindo automaticamente e acionando o modo de sobrevivência: lutar, fugir ou congelar.

Quando gritamos, batemos portas ou ferimos com palavras, é o nosso "cérebro reptiliano" que assume o controle. Estar ciente desse processo não tem o objetivo de nos envergonhar, mas sim de nos ajudar a entender que a calma não é uma característica imutável, mas sim uma habilidade que pode ser praticada.

Respiração, ritmo, previsibilidade

O remédio mais simples? Ritmo. Respiração profunda e lenta, caminhada, rezar o terço — qualquer coisa que coloque o corpo em um estado de ritmo regular e envie o sinal de "está tudo bem". Um exercício simples de 4-7-8 ajuda com isso: inspire por quatro segundos, prenda a respiração por sete segundos, expire por oito. Algumas repetições e o coração começa a bater mais calmamente. Somente quando o corpo se acalma é que a capacidade de pensar logicamente, comunicar e ter empatia retorna.

Um ritual previamente praticado também pode ajudar. Por exemplo, conheço alguém que, quando se sente estressado, vai à cozinha preparar um chá de erva-cidreira. Por um lado, a própria erva-cidreira tem um efeito calmante, mas, por outro, os movimentos repetitivos e a sequência de ações a acalmam gradualmente. A chave para o sucesso? Fazer isso devagar, concentrando-se no aqui e agora, sem se deter no problema. E para que isso funcione, deve ser uma sequência de ações que praticamos "com calma", para que se torne mais fácil em momentos difíceis.

De onde vêm essas reações violentas?

Muitas vezes, não se trata da situação em si. Chegamos até a nos perguntar por que algo tão pequeno desencadeou uma reação emocional tão violenta. Afinal, não é nada de especial, não é? Uma palavra, um tom de voz, um gesto — tudo isso pode evocar memórias antigas de dor, rejeição ou medo. Reagimos, então, não apenas ao "aqui e agora", mas também a ecos do passado. Ou talvez seja simplesmente um sinal de exaustão ou de um resfriado começando? Como escreve o Dr. Daniel Siegel, a meta-perspectiva — a capacidade de observar as próprias emoções à distância, sem se identificar com elas — ajuda.

Esse estado parece difícil de alcançar, mas muitas vezes tudo o que é preciso é se perguntar: como ele se parece visto de lado? O que está acontecendo dentro do corpo? É como se nosso corpo estivesse em um aquário e nós o observássemos através de um vidro.

Só o fato de saber que esse sistema límbico automático está funcionando já ajuda a acalmar nossos nervos. Mas, para isso, precisamos nos concentrar em nos observar de fora, e não no que nos perturba. Trata-se de mudar o foco.

Com amor por si mesmo e pelos outros

O que precisamos em momentos como este é de uma pausa, uma mudança de ares e um afastamento da situação estressante. Vamos encarar isso não como uma fuga do problema, mas como um ato de compaixão por nós mesmos e pelos outros. Ao nos permitirmos fazer uma pausa, paramos de reagir impulsivamente, no nível mais primitivo. Assim, nosso cérebro recupera o equilíbrio, os relacionamentos se tornam mais saudáveis ​​e as pessoas que amamos nos veem como alguém capaz de se recuperar de fracassos.

Após se acalmar, um pedido de desculpas pode ser necessário se a perda de controle resultou em danos a outras pessoas. Esta é uma lição de humildade. Em tais momentos, uma das mais belas passagens das Escrituras, na minha opinião, pode nos ajudar:

“Vinde a mim, todos vós que estais cansados ​​e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.

(Mt 11,28-30)

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF