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segunda-feira, 14 de abril de 2025

30 perguntas para a confissão

O Sacramento da Penitência (Schoenstatt)

Paulo Teixeira - publicado em 14/04/25

Uma espécie de teste para definir o estado de nossa relação com Deus.

Em 2015, após o Angelus no primeiro domingo da Quaresma, o Papa Francisco presenteou todos os presentes na Praça São Pedro com um pequeno livro. Em suas 28 páginas o opúsculo contém um resumo dos principais ensinamentos de Jesus  e conteúdos essenciais para a fé, como os sacramentos e os dons do Espírito Santo.

O livreto que pretende ser um auxílio para o caminho de conversão da Quaresma traz também uma série de perguntas para um exame de consciência minucioso para uma boa preparação para a confissão.

Na ocasião, o Pontífice disse: “Cada um pegue um livrinho e leve consigo, como ajuda para a conversão e o crescimento espiritual, que parte sempre do coração: alí onde se joga a partida das escolhas cotidianas entre o bem e o mal, entre mundanidade e Evangelho, entre indiferença e partilha”.

Questionamentos

Seguem aqui as perguntas que estão no livrinho e que podem nos ajudar em um check list espiritual e podem ajudar na preparação para a confissão.

Relação com Deus

Dirijo-me a Deus somente em caso de necessidade?

Participo na Missa dominical e nos dias de preceito?

Começo e termino o meu dia com a oração?

Invoquei em vão o nome de Deus, de Maria e dos Santos?

Envergonho-me de me apresentar como cristão?

O que faço para crescer espiritualmente, como e quando o faço?

Revolto-me diante dos desígnios de Deus?

Pretendo que seja Ele a cumprir a minha vontade?

Relação com o próximo

Sei perdoar, partilhar, ajudar o próximo?

Julgo sem piedade, tanto em pensamento quando com palavras?

Caluniei, roubei, desprezei os pequenos e indefesos?

Sou invejoso, colérico, parcial?

Tomo conta dos pobres e dos doentes?

Envergonho-me da carne do meu irmão ou da minha irmã?

Sou honesto e justo com todos ou alimento a “cultura do descartável”?

Instiguei os outros a fazer o mal?

Observo a moral conjugal e familiar que o Evangelho ensina?

Como vivo as responsabilidades educativas para com os meus filhos?

Honro e respeito os meus pais?

Rejeitei a vida após a concepção?

Desperdicei o dom da vida? Ajudei a fazê-lo?

Respeito o ambiente?

Relação com si mesmo

Sou um pouco mundano e pouco crente?

Exagero em comer, beber, fumar e divertir-me?

Preocupo-me em excesso com a saúde física, com os meus bens?

Como uso o meu tempo?

Sou preguiçoso? Procuro ser servido?

Amo e cultivo a pureza de coração, de pensamentos e de ações?

Nutro vinganças, alimento rancores?

Sou manso, humilde, construtor de paz?

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/04/14/30-perguntas-para-a-confissao

O que é o jejum e por que é importante na Semana Santa

Imagem ilustrativa | domínio público

Por Redação central

14 de abril de 2025

O que é o jejum e por que é importante para os cristãos, especialmente durante o tempo da Quaresma e da Semana Santa? Padre Donato Jiménez, membro da Ordem dos Agostinianos Recoletos, falou sobre para que serve esta prática de penitência e qual é o seu propósito.

O jejum, disse padre Donato Jimenez ao Grupo ACI, “é uma forma de abster-se de alimentos corporais, e é uma forma de penitência e de oração. Jesus praticou o jejum em momentos importantes, antes de rezar, antes de escolher os apóstolos e em muitas ocasiões”.

“E a Igreja faz o jejum desde o século IV de forma regular”, disse.

“É uma maneira de ajudar a oração, de purificar o nosso corpo e, assim, nos dispormos melhor para a escuta de nossa oração por Deus”.

A Igreja, continuou o padre Jiménez, nos recorda “o jejum no tempo da Quaresma e do Advento, especialmente na terça e na sexta-feira, como faziam tradicionalmente em muitas comunidades”.

Atualmente, disse, a obrigação do jejum se mantém “na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa”.

O sacerdote disse que “o jejum é fazer apenas uma refeição por dia, ou se comemos duas ou três vezes por dia deve ser uma alimentação frugal. Isso seria o jejum que a Igreja quer”.

Quem deve jejuar?

Segundo indica o Código de Direito Canônico, no número 1252, à lei do jejum “estão sujeitos todos os maiores de idade até terem começado os sessenta anos. Todavia os pastores de almas e os pais procurem que, mesmo aqueles que, por motivo de idade menor não estão obrigados à lei da abstinência e do jejum, sejam formados no sentido genuíno da penitência”.

Quem não jejua?

Além das pessoas que não jejuam devido à sua idade, pessoas com problemas mentais, doentes, mulheres grávidas ou lactantes, trabalhadores de acordo com as suas necessidades, convidados a refeições que não podem ser justificadas sem ofender gravemente ou outras situações morais ou impossibilidade física de manter o jejum.

A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/51734/o-que-e-o-jejum-e-por-que-e-importante-na-semana-santa?

A Esperança como tema central da fé cristã

Missa do Domingo de Ramos na Praça de São Pedro, no Vaticano. (Foto: Yara Nardi)

"Na existência cristã, a fé ocupa o primeiro lugar, mas o primado pertence à esperança. Sem o conhecimento de Cristo que se possui graças à fé, a esperança se converteria em utopia suspensa no ar. No entanto, sem a esperança, a fé esmorece e torna-se tíbia e morta. Por meio da fé, o homem encontra o caminho da vida autêntica, mas somente a esperança pode mantê-lo em tal caminho."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1817)”

A fé é a base da esperança. No seu sentido próprio, "ter esperança" significa olhar para frente. A expressão "fé" significa ter uma confiança forte. Quando minha esperança é baseada nas promessas de Deus, então minha esperança e a minha certeza baseiam-se na Pessoa que me deu essas promessas.

No início desta Semana Santa, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "A Esperança como tema central da fé cristã":

"O tema da esperança ocupa, na reflexão teológica atual, lugar de grande transcendência em virtude da revalorização da dimensão escatológica da mensagem cristã que ocorreu nos últimos anos. O Concílio Vaticano II deu um sentido novo ao tema da Escatologia, não simplesmente como realidade transcendente, mas que tem implicações e mudanças no modo de viver de cada um de nós. Diz assim a Constituição sobre a Igreja, a Lumen Gentium, quando aponta a Índole Escatológica da Igreja Peregrina e sua união com a Igreja Celeste: “A prometida restauração que esperamos, já começou, pois, em Cristo, progride com a missão do Espírito Santo e, por Ele, continua na Igreja; nesta, a fé ensina-nos o sentido da nossa vida temporal, enquanto, na esperança dos bens futuros, levamos a cabo a missão que o Pai nos confiou no mundo e trabalhamos na nossa salvação (cfr. Fil. 2,12).” (LG, 48). A fé nos ensina “o sentido da nossa vida temporal” para levar “a cabo a missão que o Pai nos confiou no mundo e trabalhamos para a nossa salvação”.

O interesse da pesquisa teológica pela temática da Esperança orienta-se primeiramente para a interpretação do futuro do homem e da história. A elaboração de uma “Teologia da Esperança” ou uma “espiritualidade da Esperança” volte a encontrar o lugar que lhe compete pressupõe o correto discernimento sobre o modo como hoje o homem se compreende a si mesmo. Trata-se, pois, de perguntar-se que relação existe entre a condição humana e a esperança, a fim de saber se ela é elemento marginal para o homem ou se, pelo contrário, está profundamente enraizada em sua experiência existencial e histórica.

O teólogo Jürgen Moltmann é autor de mais de 40 livros, incluindo sua famosa trilogia Teologia da Esperança (1964), O Deus Crucificado (1972) e A Igreja no Poder do Espírito (1975) e uma série posterior de “contribuições sistemáticas”. Na Teologia da Esperança, Moltmann começou a expor sua escatologia do “Reino de Deus”, baseada na esperança na ressurreição, mas mais focada no aqui e agora do que em qualquer julgamento final ou individual. Ele também rejeitou qualquer noção de que o Cristianismo pudesse ser reduzido à busca pessoal de um indivíduo para alcançar a salvação. “Se a esperança cristã for reduzida à salvação da alma num céu para além da morte, ela perde o seu poder de renovar a vida e mudar o mundo, e a sua chama é apagada”. Moltmann é o teólogo da esperança, entendida de forma receptiva e ativa, como expressão de uma Palavra de Deus (que é promessa de futuro) e como princípio impulsionador de uma palavra humana, que deve se expressar como protesto contra o que existe e como impulso de perdão e reconciliação futura. Moltmann escrevia, no seu livro Teologia da Esperança, assim: “Em sua integridade, e não como que em apêndice, o Cristianismo é escatologia; é esperança, olhar e orientação voltados para frente, e é também, por isso mesmo, abertura e transformação do presente. O escatológico não é algo situado ao lado do cristianismo, mas constitui, simplesmente, o centro da fé cristã, o tom com que harmoniza tudo nela, a cor de aurora de um novo dia esperado, cor com que, aqui embaixo, tudo se acha banhado... Uma teologia autêntica deveria ser concebida, portanto, a partir de sua meta no futuro. A escatologia deveria ser não o ponto final da teologia, mas seu começo”[1].

Na existência cristã, a fé ocupa o primeiro lugar, mas o primado pertence à esperança. Sem o conhecimento de Cristo que se possui graças à fé, a esperança se converteria em utopia suspensa no ar. No entanto, sem a esperança, a fé esmorece e torna-se tíbia e morta. Por meio da fé, o homem encontra o caminho da vida autêntica, mas somente a esperança pode mantê-lo em tal caminho. Por isso, a fé em Cristo – e em Cristo Ressuscitado - faz que a esperança se transforme em certeza e a esperança confere amplo horizonte à fé, levando à vida. A esperança é, portanto, a verdadeira dimensão da fé; é o caminhar da fé para o seu objeto, ou seja, Deus Senhor do Futuro, O nome bíblico “Iahweh” vem interpretado por Martim Buber com as seguintes palavras: “Eu estarei presente como aquele que estará presente”[2].

Por isso, a fé e a esperança não podem justapor-se como se a fé se referisse ao que já aconteceu, ao passo que a esperança olhasse exclusivamente para o futuro. Tanto o presente quanto o futuro de Cristo o fundamentam a fé e a esperança na imanência recíproca de ambos. A fé lembra a verdade da Ressurreição de Cristo como acontecimento criador de futuro, mas que redimensiona o presente. A esperança, por sua vez, alimenta a tendência para o futuro, baseando-se na realidade do que já aconteceu. “Pelo fato de abrir o futuro, a esperança prevalece sobre todas as outras manifestações vitais do homem. Influi em seu modo de pensar, de conhecer e de viver. O ainda-não ser subjetivo e objetivo, isto é, o possível se converte em fundamento último da realidade que impele o homem para o novum últimum, que não é outra coisa senão o futuro do homem escondido e do mundo escondido”[3].

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
_______________

[1] MOLTMANN, J. Teologia da esperança, Herber, São Paulo, 1971.
[2] BUBER, M. Moses, Oxford, 1947, 51s.
[3] PIANA, G. Dicionário de Espiritualidade, Vocabulário “ESPERANÇA”, Paulinas, SP, 1989, p.334-335.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 13 de abril de 2025

Esperando a Ressurreição: o mosaico de São João de Latrão

Stefano_Valeri | Shutterstock

Marinella Bandini - publicado em 07/04/21 - atualizado em 11/04/25

Reviva a antiga tradição quaresmal dos cristãos romanos descobrindo as "igrejas estacionais”.

A abóbada do mosaico da Basílica de São João de Latrão é uma grande meditação sobre o valor salvífico do Batismo. Uma mensagem adequada ao sábado santo, o dia da expectativa da Ressurreição e, para os catecúmenos, da nova vida em Cristo no Batismo da Vigília Pascal. 

O que vemos hoje é uma restauração do final do século XIX e que manteve a iconografia do mosaico do século XIII, encomendado por Nicolau IV, que aparece aos pés da Virgem.

No topo da bacia absidal, o Cristo Salvador é representado entre nuvens multicoloridas. Diz-se que o rosto é inspirado pela milagrosa imagem de aqueropita que apareceu na primitiva Basílica Lateranense. 

O centro do mosaico é ocupado pela Cruz cravejada, da qual emergem os quatro rios do Paraíso. Deles nasce o Jordão, cujas águas dão vida a homens e animais. Um convite para receber o batismo a exemplo do Salvador que foi batizado no Jordão, retratado no medalhão no centro da Cruz.

A criação se realiza no sacrifício pascal: a Cruz se torna a árvore da vida e o sinal da vitória, o Espírito que pairava sobre as águas é agora o Espírito dado pelo sacrifício de Cristo, a água dos rios da vida é a água do Batismo da qual nasce a nova vida.

Em verdes prados ele me faz repousar. 

Conduz-me junto às águas refrescantes, 

restaura as forças de minha alma. 

Pelos caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome.

Salmos 22, 2-3

Stefano_Valeri | Shutterstock

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* Em colaboração com o Escritório de Comunicação Social do Vicariato de Roma

Fonte: https://pt.aleteia.org/2021/04/07/esperando-a-ressurreicao-o-mosaico-de-sao-joao-de-latrao

Cardeal Gantin: "Eles estavam todos muito felizes" (III)

Cardeal Gantin em audiência com João Paulo I, 28 de setembro de 1978 |30Giorni

Arquivo 30Dias n. 05 - 2008

"Eles estavam todos muito felizes"

O Cardeal Bernardin Gantin, Decano Emérito do Sagrado Colégio, recorda a alegria dos cardeais após a eleição do Papa Luciani.

Entrevista concedida a 30Giorni em agosto/setembro de 2003 por Gianni Cardinale

«Já o disse muitas vezes e nunca o direi o suficiente: Paulo VI enche a minha memória e o meu coração de bispo e de africano. Com muito respeito e carinho o chamamos de “Papa Paulo VI, o Africano”: foi o primeiro sucessor de Pedro a pisar em nosso continente. Ele fez isso no verão de 1969, nos dando uma grande mensagem: chegou a hora em que vocês podem e devem fazer um cristianismo africano, a responsabilidade é de vocês. Portanto, para nós, africanos, sua morte foi uma imensa ferida." O Cardeal Bernardin Gantin, 81, sempre se comove ao lembrar da figura de Paulo VI. E também ao lembrar da de João Paulo I. Em 1978, ele havia sido cardeal por um ano e ocupado cargos na Cúria Romana por sete, depois de ter sido auxiliar desde 1956 e arcebispo de Cotonou, em seu Benim natal, desde 1960.

 Posteriormente, de 1984 a 1998, ele seria prefeito da Congregação para os Bispos. De 1993 a novembro de 2002, foi decano do Sacro Colégio. Atualmente [agosto de 2003] é decano emérito e voltou a viver em sua África. Para lembrar aquele verão de 1978, 30Giorni o contatou por telefone em Paris, onde ele está para um breve período de convalescença.

O que você lembra de 6 de agosto de 1978, quando o Papa Montini faleceu?

BERNARDIN GANTIN: Eu estava viajando para a Nova Caledônia, onde deveria celebrar a solenidade da Assunção, em 15 de agosto. Eu estava em Wellington, Nova Zelândia, quando pela manhã o Núncio Angelo Acerbi me deu a terrível notícia. Não consigo descrever o quão chocado meu coração ficou.

 Sabia-se que ele estava cansado, mas não a esse ponto… Cancelei imediatamente o resto da viagem. Junto com o núncio e o então cardeal Reginald J. Delargey, fui ao primeiro-ministro para informá-lo oficialmente sobre a morte do Papa. Nunca, nunca esquecerei as palavras deste homem, um não católico, que havia sido recebido em audiência por Montini pouco antes: "Paulo VI morreu, mas nunca esquecerei minha última visita ao Vaticano. Ainda posso sentir o calor do coração do Papa em minhas mãos". Que lindo!

Então ele voltou para Roma?

GANTIN: Imediatamente. Lembro-me de que no aeroporto de Fiumicino uma multidão de jornalistas recepcionava todos os cardeais que chegavam do mundo inteiro. Um deles pegou minha mala e começou a me bombardear com perguntas, até mesmo perguntando em quem eu votaria no conclave! Obviamente respondi que não sabia e que mesmo se soubesse certamente não lhes teria dito...

Em Roma, ele assistiu ao funeral de Montini...

GANTIN: Foi para mim um momento de trepidação, de grande oração, de emoção, de comunhão com o meu povo africano: em 1971, Paulo VI me deu a honra de me chamar para colaborar com ele no governo da Igreja universal.

O que você pode dizer sobre aquele primeiro conclave em 1978?

GANTIN: Estava muito quente. Especialmente nos aposentos do Palácio Apostólico. Naquela época, não havia uma bela Domus Sanctae Marthae especificamente equipada para essa eventualidade. Nós nos reunimos com medo e tremor. Mas o Espírito Santo não quis demorar-se em dar-nos um sucessor para Paulo VI, em dar-nos este santo Pontífice que veio de Veneza, que teria dito ao seu motorista antes de entrar no conclave: “O nosso carro não funciona, leve-o para consertar, para que, assim que estiver pronto, possamos ir direto para casa”. Em vez disso, ele nunca mais voltaria. Ele ainda dorme na Basílica de São Pedro.

Ele já conhecia Luciani como patriarca de Veneza?

GANTIN: Não intimamente. Eu o conheci em Veneza para um encontro ecumênico. Ele era um homem muito afável, simples e humilde. Lembro-me de que ele queria receber todos os participantes para o almoço, embora fôssemos muitos e ficássemos bastante apertados à mesa... Naquela ocasião, soube que ele tinha visitado a África, o Burundi.

Você trocou alguma palavra com ele imediatamente após a eleição?

GANTIN: Houve um jantar com todos os cardeais e ele foi nos cumprimentando mesa por mesa. Não me lembro quem eram meus três ou quatro companheiros, mas lembro que todos eram muito felizes.

Ele foi o único a receber uma nomeação curial de João Paulo I em seu breve pontificado. De fato, em 4 de setembro, o Papa Luciani a nomeou pró-presidente do Pontifício Conselho "Cor Unum". Além disso, João Paulo I a recebeu em audiência no último dia de seu pontificado, 28 de setembro. 

GANTIN: Sim, foi a última audiência concedida a um chefe de departamento. Éramos quatro: o Papa, eu, o secretário de "Iustitia et Pax", o jesuíta Roger Heckel, e o secretário de "Cor unum", o dominicano Henri de Riedmatten. Os outros três desapareceram, apenas o abaixo assinado sobreviveu à audiência. Lembro-me que naquela ocasião Luciani me disse que antes de vir a Roma para o conclave havia prometido ir a Piombino Dese, cidade da diocese de Treviso, para visitar a paróquia liderada por Dom Aldo Roma. Incapaz de cumprir a promessa, ele me pediu para ir em seu lugar. Fiz isso e daí nasceu um forte vínculo entre mim e Piombino Dese, da qual sou cidadão honorário. Um vínculo em memória deste Papa que nos uniu. 

Como você soube da morte de João Paulo I? 

GANTIN: Descobri isso de uma forma um tanto paradoxal. Embora eu seja um clérigo do Vaticano, aprendi sobre isso fora da Itália. Eram cerca de seis e meia da manhã do dia 29 de setembro. Eu estava me preparando para ir celebrar a missa quando um amigo me ligou da Suíça para me contar que o Papa havia falecido. Fiquei sem palavras. Mas como é que o Papa que me recebeu ontem de manhã morreu… 

Como é que o encontraram naquela audiência? 

GANTIN: Muito bom. Foi ele quem moveu as cadeiras para que pudéssemos tirar uma foto na qual todos os presentes pudessem ser vistos. Ainda guardo essa foto como uma das coisas mais preciosas. Ninguém poderia imaginar que poucas horas depois ele iria para a Eternidade, para o Senhor. 

Depois, ela participou do segundo conclave de 1978. Os livros que falam sobre isso relatam uma frase que ela teria pronunciado naquela ocasião: «Os cardeais estão chocados e procuram o que fazer no escuro»… e porque eu era membro desta venerada Congregação. O processo nesses casos é muito lento e cauteloso. Mas se eu tivesse que expressar meus pensamentos, lembraria que Luciani foi um homem que merece ser proposto como modelo e exemplo de adesão total à vontade de Deus. Mesmo que no coração essa obediência ao Senhor produza dor, e um sentimento de pequenez e fraqueza diante das grandes responsabilidades às quais se pode ser chamado. 

Qual pode ser o significado de um pontificado curto como o de João Paulo I?

GANTIN: É o Senhor quem organiza tudo. Os homens propõem e a Providência dispõe. Certamente não deixou de ter significado para o presente e o futuro. A brevidade não impede a fecundidade. Esta é uma grande lição para mim: deixar-nos guiar pelo Espírito Santo, não pelos nossos pensamentos e sentimentos pessoais.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Reflexão para o Domingo de Ramos (C)

Domingo de Ramos no Vaticano - Foto arquivo  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Fazei isto em minha memória, tomai e comei, partilhar a vida! Celebremos a Paixão de Jesus, sua Páscoa, acolhendo o pecador, partilhando nossa fé na vitória da Vida, na certeza da vitória do perdão!

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A Ceia, a última Ceia de Jesus, é a prefiguração de sua entrega a Deus por nós e a conclusão de sua missão. Nela ele promete a restauração da humanidade e nos associa ao seu destino. “Fazei isto em memória de mim” é um mandamento convite para nos identificarmos com ele, para repartirmos nossa vida com os outros. Quando celebramos a Eucaristia, o “partir o pão eucarístico” é porque já o fizemos com nosso pão diário e com toda a nossa vida e pretendemos continuar nesse partilhar nossa vida.

Também dentro do contexto eucarístico Lucas nos coloca a atitude cristã do serviço, do ser o último. Jesus diz: “Entre vós o maior seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo”. “…estou no meio de vós como aquele que serve.” Servir, dentro da visão cristã, significa ocupar mesmo o último lugar, ser autoridade significa servir!

São Lucas, no relato da Paixão, destaca a bondade e a misericórdia do senhor.

Já no horto Jesus impede que Pedro pague mal com mal, e lhe diz para “guardar sua espada dentro da bainha”. A atitude dos cristãos para com seus adversários deverá ser a do perdão. Para Jesus, o seu discípulo não tem inimigo, aliás, o inimigo, aquele que deverá ser destruído, esmagado é o demônio. Os demais, os que fazem mal são vistos como adversários que deverão ser trabalhados para que se libertem do mal e se salvem.

Mais adiante, dentro do relato da paixão, ao ser negado por aquele a quem confiaria as suas ovelhas – Pedro -, olha-o com carinho e compreensão por sua fraqueza e a reação de Pedro foram as lágrimas de profundo arrependimento. Por isso, por essa experiência e por outras, Pedro escreveu em sua primeira: “ultrajado, não retribuía com idêntico ultraje; ele, maltratado não proferia ameaças” (1Pd2, 23).

Antes de dar o último suspiro Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes este pecado, porque não sabem o que fazem!” (Lc 23,34)

Em seu relato São Lucas comenta a atitude de pessoas como Herodes e as mulheres que estavam pelo caminho do calvário. Herodes vê Jesus como um proporcionador de benefícios. Mas Jesus não é um mercador, mas sim alguém que age em nome do Pai. Diante das mulheres que choram pelo caminho ao ver suas dores, Jesus reconhece nelas e em seus filhos os frágeis que penam por causa do interesse dos poderosos.

Finalmente Lucas apresenta Jesus morrendo entre dois bandidos. Ele nasceu entre animais, em uma estrebaria e suas primeiras visitas foram os pastores, gente impura para os judeus. Mais tarde chegam os magos, pagãos! Também ao longo de sua vida Jesus se relaciona continuamente com os desprezados da sociedade de seu tempo, os considerados impuros, como os publicanos, as meretrizes, os pecadores. Agora, na hora da morte, seus companheiros são bandidos! Seus discípulos se mantêm à distância, mas ao lado estão os dois ladrões. Mas longe de ser demérito, isto é legitimação da vida do Redentor. Ele não veio para salvar os pecadores? Pois é! Ele volta para o pai com as mãos cheias! Leva consigo Dimas, o bandido que foi recuperado na última hora e que ele mesmo, Jesus, garantiu que estaria com ele no céu, “ainda hoje”. Leva também, só que mais tarde, o oficial romano que declaro; “De fato! Este homem era justo!” Leva tantos pecadores convertidos pelos seus gestos de acolhida, de perdão, de vida!

Fazei isto em minha memória, tomai e comei, partilhar a vida! Celebremos a Paixão de Jesus, sua Páscoa, acolhendo o pecador, partilhando nossa fé na vitória da Vida, na certeza da vitória do perdão! O que recebemos de graça, de graça devemos dar. Recebemos o perdão de Deus mediante a redenção de Jesus Cristo!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

SAÚDE: Como o banho pode revelar sinais precoces de demência

Washing dirty feet with water in the shower room© iStock/BonNontawat

Como o banho pode revelar sinais precoces de demência

História de Thatyana Costa

A demência, condição que afeta principalmente os idosos, é caracterizada pela perda de memória e dificuldades cognitivas. Embora a perda de memória seja o sintoma mais notável, há outros sinais iniciais que podem ser percebidos em atividades diárias, como no momento do banho. Surpreendentemente, esse momento pode ser crucial para detectar um possível sinal de alerta para a demência, especialmente relacionado ao olfato.

Sinal de alerta para demência durante o banho

O banho, onde frequentemente usamos produtos com cheiros intensos, como xampus e sabonetes, pode ser o momento em que se nota a perda de olfato. Essa alteração sensorial, especialmente quando acontece de forma abrupta, está sendo reconhecida como um dos primeiros indícios da demência. Pesquisadores da Universidade de Chicago alertam que o olfato e a memória estão intimamente conectados no cérebro, e alterações no olfato podem refletir um comprometimento cognitivo.

De acordo com o estudo, a perda de olfato pode indicar problemas nas áreas do cérebro responsáveis pela memória e pelas funções cognitivas. A alteração no cheiro de produtos comuns durante o banho pode ser uma pista importante para o diagnóstico precoce da condição.

Como os estudos relacionam olfato e demência

Pesquisadores realizaram um estudo com 515 adultos mais velhos, analisando a capacidade olfativa e suas possíveis correlações com o comprometimento cognitivo. O estudo revelou que pessoas com perda olfativa rápida apresentaram menores volumes nas áreas do cérebro ligadas ao olfato e à memória. Esses dados indicam que, em estágios iniciais da demência, a capacidade de perceber cheiros pode ser significativamente afetada.

Outros sinais que merecem atenção

Além da perda do olfato, existem outros sinais importantes que podem indicar a presença de demência, como:

  • Esquecimentos frequentes
  • Dificuldade de concentração
  • Desorientação em relação ao tempo e ao local
  • Mudanças de humor repentinas
  • Dificuldade em realizar tarefas diárias

Se esses sintomas aparecerem juntos, é recomendável procurar ajuda médica para investigar o quadro e confirmar a possibilidade de demência.

Diagnóstico precoce pode fazer a diferença

Identificar os sinais iniciais da demência é fundamental para o tratamento. Embora não exista cura para a condição, o diagnóstico precoce pode resultar em intervenções que retardam o avanço dos sintomas e melhoram a qualidade de vida do paciente. Médicos estão desenvolvendo novos medicamentos que podem desacelerar a progressão da doença, e por isso, detectar a demência precocemente é um passo crucial para um tratamento mais eficaz.

Primeiros sinais de demência: atenção à saúde cognitiva

Os primeiros sinais de demência podem ser sutis, como lapsos de memória e dificuldades em realizar tarefas diárias. Identificar precocemente esses sintomas é fundamental para um diagnóstico rápido e tratamento adequado, melhorando a qualidade de vida e possibilitando o controle dos avanços da condição. Clique aqui para saber mais.

Fonte: Catraca Livre

Francisco no Angelus: todos temos dores, e a fé ajuda a enfrentá-las, como fez Jesus

O Papa apareceu ao final da missa de Domingo de Ramos e saudou rapidamente os fiéis presentes (Vatican Media)

As palavras do Papa do Angelus foram divulgadas ao final da liturgia do Domingo de Ramos e após o Pontífice surpreender novamente os fiéis aparecendo no Sagrado da Praça São Pedro, quando desejou “Bom Domingo de Ramos! Boa Semana Santa!”. No texto, Francisco recordou o caminho de Jesus ao Calvário, quando era “frágil”, mas confiante no Pai: “todos temos dores, físicas ou morais, e a fé nos ajuda a não nos entregarmos ao desespero, a não nos fecharmos na amargura, mas a enfrentá-las".

Andressa Collet – Vatican News

        “Bom Domingo de Ramos! Boa Semana Santa!”

O Papa Francisco voltou a surpreender os fiéis, desta vez em pleno Domingo de Ramos e para oferecer os melhores desejos para este início de Semana Santa. De fato, ao final da liturgia deste 13 de abril, em missa presidida pelo cardeal Leonardo Sandri, vice-decano do Colégio Cardinalício, o Pontífice apareceu pelo Sagrado na sua cadeira de rodas e para a alegria de cerca de 40 mil fiéis reunidos na Praça São Pedro.

Jesus, escreveu o Papa no texto do Angelus divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, através do relato da Paixão do Senhor segundo Lucas, se apresentava “indefeso e humilhado” no caminho do Calvário. “Nós o vimos caminhar em direção à cruz com os sentimentos e o coração de uma criança agarrada ao pescoço do seu pai, frágil na carne, mas forte no abandono confiante, até adormecer, na morte, em seus braços”, recordou o Pontífice. Sentimentos que a liturgia nos convida “a contemplar e a fazer como nossos”:

    “Todos temos dores, físicas ou morais, e a fé nos ajuda a não nos     entregarmos ao desespero, a não nos fecharmos na amargura, mas     a enfrentá-las, sentindo-nos envolvidos, como Jesus, pelo abraço         providencial e misericordioso do Pai.”

Assim o Papa recordou do seu próprio momento de fragilidade, da internação ao período atual de convalescença, pelo qual reforçou a sua gratidão:

“Irmãs e irmãos, agradeço muito pelas orações de vocês. Neste momento de fraqueza física, me ajudam a sentir ainda mais a proximidade, a compaixão e a ternura de Deus. Eu também rezo por vocês e peço que confiem comigo ao Senhor todos os que sofrem, especialmente aqueles afetados pela guerra, pela pobreza ou pelos desastres naturais. Em particular, que Deus receba em sua paz as vítimas do desabamento de uma estrutura em Santo Domingo e conforte seus familiares.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Martinho I

São Martinho (A12)
13 de abril
São Martinho I

Martinho nasceu no ano de 590 em Todi, região da Úmbria, Itália. Sua família era nobre. Sacerdote em Roma, um grande estudioso, inteligência notável, de grande caridade para com os pobres. Foi enviado a Constantinopla pelo Papa Teodoro I como apocrisiário (uma espécie de embaixador eclesiástico junto aos governantes) para negociar a deposição canônica do patriarca herético Pirro.

Depois disso, falecendo Teodoro, foi eleito no seu lugar, em julho de 649. Ao longo do seu papado, ordenou 33 bispos, cinco diáconos e 11 sacerdotes, e pela primeira vez foi celebrada a festa da Virgem Imaculada, a 25 de março.

Porém, sua maior atuação foi contra a heresia monotelista, espalhada no Oriente e no Ocidente, que negava a plena condição humana de Cristo, ao declarar que Nele havia sim duas naturezas, humana e divina, mas uma só vontade, a divina (o que é contraditório, pois assim a natureza humana de Jesus não seria real).

Para isso agiu com energia, e, uma vez que o imperador do Oriente, Constante II, era tolerante com os monotelitas, chegando a fazer um decreto sobre a questão (o “Tipo de Constante”), não esperou a confirmação imperial para a sua consagração, e imediatamente convocou o Concílio de Latrão, com 150 bispos. O “Tipo” foi condenado, bem como a “Ektésis” de Heráclio, outro imperador oriental, também monotelista; foram excomungados os patriarcas Sérgio, Pirro, Paulo de Constantinopla, Ciro de Alexandria e Teodoro de Phran na Arábia; 20 cânones da doutrina católica sobre as duas vontades em Cristo foram definidas. Os decretos, firmados pelo Papa e pela assembleia dos bispos, foram enviados aos demais bispos e aos fiéis do mundo junto com uma encíclica de Martinho. As atas, com uma tradução grega, foram enviadas a Constante II – que como resposta mandou prender o Papa. Olímpio, seu exarca (representante do imperador romano do Oriente na qualidade de governador, um na Península Itálica e outro na África), planejou porém o assassinato do Papa, durante a distribuição da Eucaristia, que por Providência divina falhou.

Teodoro Calíopas foi o novo enviado de Constante II com a ordem de prisão, e Martinho, para evitar violências, não resistiu, saindo de Roma em junho de 653. Chegando em Constantinopla após longa e sofrida viagem, sob privações, foi humilhado e sujeito a maus-tratos: exposto seminu para a zombaria e insultos da multidão; ficou preso num calabouço fétido, passando fome, sede e frio, por mais de 80 dias; num julgamento iníquo diante do senado foi rotulado de herege, inimigo de Deus e do Estado, e sofreu diversas acusações, que no fundo se resumiam a não ter assinado o “Tipo”. Mas em nenhum momento perdeu a dignidade, nem reconheceu autoridade nos seus juízes. Acabou condenado à morte, mas Constante mudou a pena para exílio, e assim o Papa foi levado para um local de trabalho nas minas para escravos e assassinos em Quersonerso (atual Sebastopol na Criméia, sul da Ucrânia). Ali faleceu, doente e esquecido até pelos parentes, em 16 de setembro de 655. Muitos milagres são a ele atribuídos, tanto em vida quanto depois da morte.

Reflexão:

A vontade humana de Cristo, verdadeiro ser humano e verdadeiro Deus, é livre, como também a nossa, como também a de Adão e Eva, como também a de Nossa Senhora… e como verdadeiro Homem, Jesus livremente escolheu seguir a vontade divina, como também Nossa Senhora, mas não Adão e Eva… cabe a cada um de nós escolher igualmente, pois Deus não “absorve” impositivamente a nossa vontade, mas sim nos orienta e ampara na escolha da Verdade e do Bem, inclusive quando é necessário sofrer por isto: de outro modo, o próprio sacrifício de Cristo na Cruz, e os de todos os mártires por exemplo, não teriam qualquer valor, pois seriam uma mera imposição arbitrária. Na viagem desta vida, muitas vezes penosa, jamais encontraremos a morte definitiva, se estivermos, como São Martinho, em comunhão com Deus, pela Eucaristia.

Oração:

Pai santo, providente e infinitamente bondoso, que nos ensinas a Verdade e nos concede, por amor, a plena liberdade, a qual é um Vosso atributo divino partilhado com Vossos filhos: concedei-nos pela intercessão de São Martinho I manter a dignidade de alma ao não reconhecermos nos nossos corações as falsas autoridades das mentiras, mas sermos enérgicos contra elas, e que não nos falte a mansidão e total confiança em Vós, ainda que sob perseguições e injustiças. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 12 de abril de 2025

Cardeal Gantin: «Um bispo, uma vez nomeado para um determinado cargo, deve permanecer ali» (II)

Paulo VI com o Cardeal Gantin | 30Giorni

Arquivo 30Dias n. 05 - 2008

«Um bispo, uma vez nomeado para um determinado cargo, em princípio e para sempre, deve permanecer ali»

O cardeal Bernardin Gantin, decano do Sacro Colégio, pede o retorno à prática antiga reintroduzindo a norma de estabilidade para os bispos. Entrevista.

Entrevista concedida a 30Giorni em abril de 1999 por Gianni Cardinale

«Um bom artigo que chamou minha atenção por muitos motivos. O Cardeal Vincenzo Fagiolo é um homem de grande sabedoria e experiência jurídica e pastoral. E então ele foi membro da Congregação que tive a honra de liderar, colegialmente, por quatorze anos. Sou-lhe muito grato, porque alguém como ele precisava de nos apontar estas reflexões." O Cardeal Bernardin Gantin, Decano do Sacro Colégio, leu e apreciou o artigo do Cardeal Fagiolo publicado em L'Osservatore Romano em 27 de março [1999] e relatado por 30Giorni no último número [ 30Giorni , n. 3, março de 1999].

No artigo em questão, o cardeal italiano afirmou: «A dignidade do episcopado reside no munus que ele implica e é tal que, em si mesmo, prescinde de qualquer hipótese de promoções e transferências, que devem, se não forem eliminadas, ser tornadas raras. O bispo não é um funcionário, uma pessoa adventícia, um burocrata passageiro, que se prepara para outros cargos mais prestigiosos."

Gantin é particularmente versado em falar sobre esses temas porquê de 1984 até o ano passado [1998] foi prefeito da Congregação para os Bispos, o departamento do Vaticano que ajuda o Papa a nomear os sucessores dos apóstolos em grande parte do mundo (nos territórios de missão essa tarefa, de fato, cabe à Congregação para a Propagação da Fé , enquanto nas Igrejas Católicas Orientais os bispos são escolhidos de acordo com seus próprios procedimentos).

Eminência, que reflexões o artigo do Cardeal Fagiolo lhe suscitou?
BERNARDIN GANTIN: A diocese não é uma realidade civil, funcional, mas faz parte da realidade do mistério da Igreja. É uma porção do povo de Deus em um território definido. O sacerdote, que é nomeado bispo e assume a responsabilidade por este povo de Deus, deve estar bem consciente do compromisso que lhe é confiado pela autoridade suprema que é o Papa. É o Papa quem nomeia os bispos, não o prefeito, não a Congregação. Quando nomeado, o bispo deve ser um pai e um pastor para o povo de Deus. E você é pai para sempre. E assim, um bispo, uma vez nomeado para um determinado cargo, em princípio e para sempre, deve permanecer ali. Vamos ser claros. A relação entre bispo e diocese também é descrita como um casamento, e um casamento, segundo o espírito evangélico, é indissolúvel. O novo bispo não deve fazer mais planos pessoais. Pode haver razões sérias, muito sérias, pelas quais as autoridades decidem que o bispo deve ir, por assim dizer, de uma família para outra. Ao fazer isso, a autoridade leva em consideração vários fatores, e entre eles certamente não está o possível desejo de um bispo de mudar de assento. Portanto, concordo plenamente com os argumentos do Cardeal Fagiolo: o bispo que é nomeado não pode dizer: "Estou aqui por dois ou três anos e depois serei promovido por minhas habilidades, meus talentos, meus dons...". Espero, portanto, que este artigo seja lido por muitos bispos aqui no Vaticano, na Europa e nos países de jovem evangelização. Todos precisam pensar sobre isso.

Destinos de transferência particularmente populares são, acima de tudo, as chamadas dioceses cardeais... GANTIN: O conceito das chamadas dioceses cardeais deve ser colocado em perspectiva. O cardinalato é um serviço que é pedido a um bispo ou a um padre, levando em consideração muitas circunstâncias. Hoje em dia, em países recentemente evangelizados, como na Ásia e na África, não existem os chamados assentos cardeais, mas a púrpura é dada à pessoa. Deveria ser assim em todos os lugares, até mesmo no Ocidente. Não haveria deminutio capitis , nem haveria qualquer desrespeito se, por exemplo, o arcebispo da grande arquidiocese de Milão, bem como de outras dioceses antigas e prestigiosas, não fosse feito cardeal. Não seria uma catástrofe. 

Ele esteve à frente da Congregação para os Bispos por quatorze anos. Você se lembra de alguma ocasião em que lhe foi expressado o desejo de ser transferido por prelados que consideravam sua diocese “inadequada”?
GANTIN: Claro. Já ouvi pedidos como este: "Eminência, estou naquela diocese há dois ou três anos e já fiz tudo o que me foi pedido..." Mas o que isso significa? Fiquei muito chocado com declarações como essa. Também porque aqueles que faziam esses pedidos — e às vezes o faziam de brincadeira, às vezes não — acreditavam estar expressando um desejo legítimo. Outras vezes ouvi, no final de uma ordenação episcopal, alguns eclesiásticos gritando "ad altiora!", "para cargos mais elevados!". Isso também me perturbou profundamente.

Nos primeiros séculos, qualquer transferência de assentos episcopais era estritamente proibida. Essa proibição deixou de ser aplicada ao longo do tempo. Você acha que é hora de retornar à prática antiga?
GANTIN: Com certeza. No passado, quando o número de dioceses aumentava, era compreensível que fossem feitas transferências. Hoje em dia, essa necessidade não existe mais em países onde a hierarquia católica já está estabelecida, como na Europa, por exemplo. Embora necessidades desse tipo ainda possam estar presentes em terras de missão. Mas neste último caso, as transferências devem ser para locais mais desfavorecidos e difíceis, e não para locais mais confortáveis ​​e prestigiosos... Multiplicar as transferências cria desordem e mina o princípio fundamental da estabilidade. E é também uma falta de respeito para com o povo de Deus que recebe o bispo como pai e pastor, e vê esse pai e pastor partir depois de poucos anos.

É desejável que essa estabilidade seja de alguma forma sancionada legalmente?
GANTIN: Certamente. Seria uma boa ideia iniciar um procedimento para introduzir esta regra no Código de Direito Canônico. Claro que pode haver exceções, determinadas por razões sérias. Mas a norma deve ser a da estabilidade, para evitar o carreirismo e o arrivismo... Espero que o artigo do Cardeal Fagiolo, e por que não, também esta entrevista, sejam um estímulo para conseguir isso. Também porque, de outra forma, corremos o risco de fornecer mais material para livros escandalosos escritos, infelizmente, por eclesiásticos que não têm a coragem de assiná-los com seus nomes...

Imagino que ele esteja se referindo ao panfleto " E o Vento Levou" no Vaticano, que causou tanto clamor na Cúria Romana...
GANTIN: A Igreja é uma realidade divina e humana. É claro que reconhecemos nossos pecados e pedimos perdão a Deus e à Igreja por esses pecados. Não somos santos, estamos a caminho da santidade. Mas não é bom nem bonito espalhar notícias que não servem para ninguém. É falta de bom senso. fundo. Onde está a sensibilidade humana daqueles que queriam essa guerra? O Papa corretamente pediu reconciliação, pediu retorno às negociações. Quando tudo estiver destruído, voltamos à mesa para negociar. Não é melhor fazer isso primeiro? Nós, que não conhecemos bem as razões deste conflito, perguntamo-nos: quem e o que leva estes homens, que foram democraticamente eleitos pelos seus respectivos povos para promover a paz, a praticar a guerra?

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF