Translate

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Santidade e Sabedoria nos Pais da Igreja

Ecclesia

Santidade e Sabedoria nos Pais da Igreja

Pe. José Artulino Besen*

Com a liberdade, a Igreja recebeu a oportunidade de se organizar, mas também passou a enfrentar um grande perigo, maior do que a perseguição: o controle por parte do imperador e do estado romano. Essa interferência política será sempre um perigo para a fé, ameaçada por imperadores adulados por bispos cortesãos.

Deste modo, as próprias decisões dos concílios sofrem rupturas de acordo com a vontade imperial. Mas, esta é a grande glória da Igreja nos séculos IV e V: grandes pastores, doutores na fé, santos, defenderão a doutrina sem nenhum medo, garantindo a unidade e a ortodoxia. São conhecidos como Pais (Padres) da Igreja, os Santos Pais.

A autoridade deles é tamanha no seio da Igreja que seus escritos quase são colocados ao lado dos textos da Escritura: conservaram a verdadeira doutrina, foram santos, foram sábios. Dividem-se em Pais latinos e Pais gregos, dependendo da língua utilizada.

Defensores da fé e dos pobres

Formados nas escolas de cultura pagã, colocaram essa sabedoria a serviço do Evangelho. Normalmente eram de famílias cristãs; a maioria, porém, pediu o batismo em idade adulta. Após o exercício de uma profissão profana, formaram-se espiritualmente com os Pais do Deserto, aliando a sabedoria à santidade de vida e à contemplação. Retornando a suas cidades, foram ordenados sacerdotes, sendo depois candidatos naturais ao episcopado, oferecendo à Igreja uma plêiade nunca repetida de grandes bispos.

Como pastores zelosos, seus ensinamentos foram ministrados através da catequese e da pregação. O povo que os escutava também os compreendia. Não eram teólogos profissionais: eram santos teólogos. Vale para eles a máxima da sabedoria cristã oriental: Se sabes rezar, és teólogo; se és teólogo, sabes rezar.

Os teólogos da Corte se apressavam em justificar o imperador de plantão. Já os Santos Pais não aceitavam que nada e ninguém se opusesse à doutrina verdadeira e à unidade da Igreja. Em tempos favoráveis, chamavam o imperador de “santo”: mas bastava que ele se desviasse da reta doutrina para chamá-lo de satanás ou anticristo.

Mesmo possuidores de vasta cultura, jamais se afastaram do povo, vivendo junto à multidão dos pobres e humildes. Na mais pura imitação de Cristo, são pais dos pobres. Seus sermões contra os ricos e as riquezas são tão fortes e claros que ainda hoje causam espanto.

Homens normais em sua santidade e sabedoria



Sobre o combativo Atanásio, patriarca de Alexandria, Gregório de Nazianzo afirmou “que estudou apenas o necessário para não parecer ignorante”. Era um homem de Igreja, amado pelo seu povo e odiado pelos adversários heréticos ou pelos poderosos. Constantino disse que ele era insolente, orgulhoso, provocador de confusão. Para salvar a unidade da Igreja, não recuava diante de nada.

Atanásio foi vítima de chantagens, calúnias, mas soube sempre responder, conduzindo o povo a seu favor. Sua defesa da fé o fez sofrer 20 anos de exílio em 46 anos de episcopado.

Toda a Igreja tem em grande conta três Pais conhecidos como os Grandes Capadócios, por serem da Capadócia: os dois irmãos, Basílio de Cesaréia e Gregório de Nissa, e Gregório de Nazianzo.

Basílio de Cesaréia, o maior dos Pais do Oriente, esperou muito tempo para pedir o batismo. Em busca do saber, peregrinou de escola em escola, freqüentando os mestres de Constantinopla e de Atenas. Fundador da vida monástica oriental, teve imensa preocupação com os pobres. Percebeu a exploração dos humildes: em anos difíceis, os impostos e os dízimos eram cobrados com antecipação, criando verdadeiros escravos.

Suas palavras: “As exigências chegam ao cúmulo da desumanidade. Exploras o desespero, fazes dinheiro com lágrimas, estrangulas quem está nu, esmagas o faminto, foram ditas ao ver um pai vender um filho como escravo para escapar da miséria!”. Um prefeito, que não conseguia convencê-lo, lhe disse: “Até hoje ninguém ousou falar-me com tal liberdade”. Respondeu secamente: “Sem dúvida nunca encontraste um bispo!”



O pai de Gregório de Nazianzo era um herege. Com a oração da esposa converteu-se e até tornou-se bispo de Nazianzo, gerando Gregório, filho único depois batizado por ele. Gregório era muito sensível, mais propenso à poesia e à contemplação do que à administração. Foi eleito bispo de Sásima, mas se recusava a assumir um posto povoado de estrangeiros e de vagabundos. Diz, porém, que não se recusava a defender as galinhas e os porquinhos.

Gregório diversas vezes fugiu, pois não queria administração. Quando o velho bispo pai morreu, fugiu mais uma vez. Mas, sua fama persistia e acabou levando-o à escolha como patriarca de Constantinopla, onde adquiriu fama como o bispo da Trindade. Nas vezes em que novamente quis fugir, o povo dizia: “Então nos deixarás sem a Trindade?”

Gregório, durante o concílio de Constantinopla (451), não agüentou mais as discussões em que os mais jovens tagarelavam como um bando de papagaios. Preferindo pregar a Trindade a ficar discutindo, fugiu, fixando-se na diocese de seu pai, que administrou por algum tempo, dedicando-se mais à vida literária e contemplativa.

João Crisóstomo



Nascido em Antioquia, João Crisóstomo (Crisóstomo = boca de ouro) nasceu para ser monge e pregador, e nunca para ser administrador ou político.

Orador nato, conhece todos os recursos para convencer e atrair os ouvintes, especialmente atraindo os humildes, objeto de sua atenção. Denuncia o luxo, a riqueza, a preguiça. A fama de orador fez chegar seu nome à capital do Império e em 397, contra sua vontade, foi praticamente seqüestrado e feito patriarca de Constantinopla. Seu primeiro ato foi limpar do luxo o palácio episcopal. Passou a comer sozinho e não aceitava recepções.

João continua sendo monge e, denunciando os abusos da corte e dos bispos, se indispõe com todos, especialmente com a imperatriz Eudóxia que, para provocá-lo, fez erguer uma imagem própria diante da catedral...

Mas continuou a denunciar a imperatriz e na celebração pascal foi detido e exilado em uma pequena aldeia da Armênia, onde morreu em 407, proferindo suas últimas palavras: “Glória a Deus por tudo”. É o mais amado dos Pais orientais, sendo a liturgia ortodoxa denominada “Divina Liturgia de São João Crisóstomo”.

Qual o assunto dos Pais Orientais

A Santíssima Trindade, a Bíblia, Maria e a justiça social. Os Pais do Oriente eram movidos pelo desejo de contemplar a Deus e esclarecer seu grande mistério.

Saídos do deserto, eram monges em meio ao tumulto da cidade dos homens. O amor a Deus fê-los possuir uma imensa compaixão pelos pobres, criando obras para socorrer os famintos e abandonados.

FONTE:

Seleção "HISTÓRIA DA IGREJA"
Publicação no ECCLESIA autorizada pelo autor

* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.


Ecclesia

Pequena catequese sobre o Santo Rosário

Jeffrey Bruno
por Adilson Júnior

O Papa Bento XVI disse que o rosário é “a oração mais querida pela Mãe de Deus, e que conduz diretamente a Cristo”.

“Felizes as pessoas que rezam bem o Santo Rosário, porque Maria Santíssima lhes obterá graças na vida, graças na hora da morte e glória no Céu”.

Santo Antônio Maria Claret, ao pronunciar esses dizeres, impele-nos ao exercício do mais sublime meio de servir e honrar Nossa Senhora.

De fato, Padre Pio referia-se ao santo rosário como “arma” e, em verdade, ele o é. Trata-se de uma astuta arma espiritual, oriunda do coração de Deus, que obtém senão vitórias! Eis o seu maior propósito: vencer grandes combates, não apenas nos campos de batalha – como, deveras, ocorreu muitíssimas vezes, a exemplo do conflito em Lepanto em que, por intermédio da Santíssima Virgem, nós, cristãos, obtivemos vitória sobre o Império Otomano – mas, também, naquelas batalhas que se travam no âmbito espiritual. Neste, sem o saltério de Maria, tornamo-nos débeis, como muito bem nos recorda São Miguel Febres: “Um cristão sem Rosário é um soldado sem armas”.

Instrumento de conversão

Outrossim, é importante considerarmos a dimensão de vinculância indefectivelmente sobrenatural atribuída ao santo rosário, instrumento de conversão entregue aos homens pelas mãos puríssimas de Nossa Senhora.

Em 1208, São Domingos de Gusmão, sacerdote fundador da ordem dos dominicanos, atormentado pelo crescimento da heresia albigense, refugiou-se num bosque e pôs-se a, em incessante oração e árdua penitência, invocar o auxílio da Virgem Maria.

Após três dias e três noites, Nossa Senhora apareceu-lhe, revelando a arma da qual a Santíssima Trindade dispunha para transfigurar o mundo: o saltério angélico. Pedindo-lhe, ademais, que o rezasse e difundisse sua devoção.

São Domingos, nesse sentido, empenhou-se sobremaneira na divulgação do saltério angélico, precioso meio de combate contra os inimigos da fé. Em pouco tempo, com seu ensino e reza frequentes pelos habitantes daquela região, a heresia albigense, que blasfemava contra a maternidade divina e a perpétua virgindade de Maria, foi dizimada de toda a Europa.

Santo Rosário é atualíssimo

Ademais, a Santíssima Virgem não restringiu essa devoção àquele episódio da história. Pelo contrário, o santo rosário é atualíssimo! Em suas aparições, Ela exorta-nos veementemente à reza diária do saltério angélico, pois nos quer partícipes de sua intercessão em favor da humanidade.

Todavia, sendo o rosário caríssimo e eficaz instrumento de conversão, muitos há que se ergam contra ele – os inimigos do reino de Maria – conforme nos recorda Lúcia, uma das videntes de Fátima: “Por isso, o demônio fará todo o possível para nos distrair desta devoção; nos colocará muitos pretextos: cansaço, ocupações etc., para que não rezemos o Santo Rosário”

Nossa Senhora não nos pediu para rezar terços diversos, mas reavivou seu apreço pelo rosário tal qual como Ela o entregou: 150 ave-Marias – das quais se retira fruto espiritual igual ou maior que aquele inerente à tradicional recitação dos 150 salmos, antiquíssimo costume monástico – distribuídas em 15 mistérios nos quais contemplamos o gozo, a paixão e a glória de Nosso Senhor e Nossa Senhora. (Pode- se acrescentar, ainda, os mistérios propostos por São João Paulo II).

“A oração mais querida pela Mãe de Deus”

Portanto, sendo a alma do saltério angélico a meditação de tão sublimes verdades da fé, pomo-nos a repetir os dizeres do Papa Emérito Bento XVI de que o rosário é “a oração mais querida pela Mãe de Deus, e que conduz, diretamente, a Cristo”.

De fato, eis que o mais ímpio dos homens, o mais obstinado dos pecadores, a mais chagada das almas, o mais convicto dos hereges; todos, por meio do santo rosário, podem emendar-se com a intercessão poderosíssima daquela a quem o próprio Deus quis obedecer.

Infere-se, destarte, tratar-se o santo rosário senão da mais digna forma de louvar Maria e participar do Seu agir corredentor na conversão dos pecadores, na perseverança dos justos, no alívio das almas do purgatório, no combate aos erros do presente e na salvação do mundo. Ela, como Mãe e Rainha nossa, por cujas mãos passam todas as graças que Deus quer-nos conceder, renova-nos seu convite: “rezai o meu saltério!” Imaginemo-nos no céu – se lá chegarmos, por graça de Deus e pelo auxílio da Imaculada – a nós ser revelado quanto bem na Terra distribuímos através de tão simples, porém da mais excelsa de todas as devoções.

Se, no entanto, formos tentados à estagnação, à acídia e ao indiferentismo para com o serviço de Maria, lembremo-nos, da advertência de São Maximiliano Kolbe: “A Imaculada transformou muitos em santos (todos aqueles que a Ela recorreram). A falta de devoção a Ela é um mau sinal.” Assim como a fé sem obras é morta, a devoção mariana, isenta do santo rosário, é senão a mais tísica e anêmica das devoções.

Aleteia

Conheça a Coroa do Advento e seus significados

arquimoc

Coroa do Advento é uma tradição que remonta do Século XIX, nos servindo de lembrança para a importância desse período tão importante para nós católicos, “O Advento”.

A Coroa do Advento é um símbolo cristão que pode ser colocada na casa de qualquer católico, muito importante pois além da lembrança do período do advento nos traz mensagens importantes dentro dos símbolos das quais esta guirlanda contém.

Para entendermos mais à fundo os significados desse ícone listamos abaixo os significados de cada elemento nela presente:

A guirlanda da Coroa do Advento

As velas são colocadas em uma guirlanda redonda, pois representa o amor de Deus que é infinito, assim como em um círculo você não encontra seu início e seu fim. Além do mais como no círculo não existem lados diferentes representa que o amor de Deus é igual para todos nós.

O verde dos ramos da Coroa do Advento

O verde dos ramos encontrados na coroa do advento é a representação da esperança que é renovada com a vinda do Príncipe da Paz, e o Senhor da Esperança que está para chegar.

A fita vermelha da Coroa do Advento

Fita vermelha que representa o testemunho e o amor de Deus que nos envolve por completo, um amor forte e infinito.

As velas da Coroa do Advento

Na Coroa do Advento também encontramos as velas, e assim como os outros símbolos dentro desse ícone, sendo elas normalmente colocadas nas seguintes cores: Verde, Vermelha, Roxa e Branca. Abaixo conheceremos os significados das cores das Velas do Advento e quando acender-las.

As Velas da Coroa do Advento possuem uma ordem que devem ser acesas, começando pelo primeiro Domingo do Advento (primeiro domingo de dezembro):

1° Verde

Deve ser acendida no primeiro domingo de dezembro representada pelo verde que é a esperança que é trazida pelos profetas que anunciam a vinda do Messias.

2° Vermelha

A segunda vela a se acender, a cor vermelha que representa o amor de Deus, também representa a anunciação feita por João Batista

3° Roxa

O roxo durante o advento representa a alegria da chegada do Senhor que se aproxima cada vez mais.  

4° Branca

A vela que representa a pureza do Branco, além da luz que vem da Virgem Maria, na chegada de seu filho O Messias.

https://www.nossasagradafamilia.com.br/

Advento: 8 formas para viver bem este tempo litúrgico

Imagem referencial. Crédito: Unsplash

REDAÇÃO CENTRAL, 26 nov. 20 / 05:00 am (ACI).- Faltando pouco tempo para celebrar o Natal, com as decorações e a compra de presentes, pode ser difícil, especialmente com as crianças, manter o Advento como um tempo sagrado de preparação, e é possível que, quando chegue o dia litúrgico do Natal, já estejamos esgotados por causa do barulho, das luzes e do materialismo da cultura moderna.

Como acalmar o coração e centrá-lo no verdadeiro significado deste tempo litúrgico, sem renunciar à alegria da autêntica preparação? Este é um momento de expectativa que deveria ser sagrado e festivo. Isso é possível?

Apresentamos algumas ideias simples para viver bem o Advento em família.

1. Ter as coisas com antecedência

Tentar fazer a compra de presentes antes do início do Advento, retirando da casa os folhetos de propaganda e referências a brinquedos, lista de desejos ou compras, para focar na preparação espiritual.

2. Boa música

Encher a casa e o carro com música específica de Advento que possa equilibrar as melodias natalinas que enchem as lojas e as rádios. Este tipo de música, que enche a alma e acalma o coração, também poderia ser um presente perfeito para um professor católico.

3. Montar o presépio

Colocar uma manjedoura vazia junto com um recipiente cheio de pedaços de palha ou fios amarelos. Cada vez que alguém da família fizer uma obra de caridade ou um sacrifício, deve colocar uma palha ou fio na manjedoura. Quando chegar o Natal, Jesus terá uma cama macia cheia de palha ou fio que representam ações feitas com amor.

No Natal, o primeiro presente que deve ser aberto é a imagem do Menino Jesus, e o membro mais novo da família pode colocá-la no lugar que prepararam juntos.

4. A coroa do Advento

Comece o tempo litúrgico abençoando a coroa de Advento em alguma paróquia ou colégio, organizando a celebração ou em família com a seguinte oração:

Senhor Deus,
Abençoe com seu poder nossa Coroa de Advento para que, ao acendê-la,
desperte em nós o desejo de esperar a vinda de Cristo
praticando as boas ações, e para que assim,
quando Ele chegar, sejamos admitidos no Reino dos Céus.
Pedimos isso por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.

5. Leitura do Evangelho

Leia as leituras diárias ou o Evangelho no jantar. Demonstre como as leituras nos levam ao nascimento de Cristo com temas de conversão, vigilância e preparação, e assinale como a terceira semana, começando no domingo de Gaudete, nos lembra da alegria enquanto acendemos a vela rosa.

6. Calendário do Advento

Esta atividade trata-se de que as crianças façam um calendário de Advento onde marquem os dias do Advento e escrevam os propósitos que querem cumprir. Podem desenhar na cartolina o dia do Natal com a cena do nascimento de Jesus. As crianças revisarão os propósitos todos os dias para ir preparando seu coração para o Natal.

7. A árvore de Natal

Já tem sua árvore montada? Algumas famílias esperam até o domingo Gaudete ou inclusive mais tarde para colocar as decorações natalinas.

Em vez disso, pode fazer algumas tradições divertidas com as crianças para decorar a casa, como a “Árvore de Jessé”, tradição na qual cada dia do Advento (ou apenas nos quatro domingos) se pendura um enfeite especial na árvore de Natal que represente uma história da bíblia, ensinando sobre o Antigo Testamento e como este conduziu ao nascimento de Cristo.

8. Pouco, mas contínuo

Os pais experientes recomendariam não querer fazer muitas tradições. Escolha algumas que funcionem bem para a sua família e seja fiel a elas. O fundamental é a consistência, a simplicidade e não sentir que fracassou caso não consiga fazer tudo.

Lembre-se: As crianças vão valorizar, acima de tudo, o tempo juntos e continuarão fazendo as tradições que foram mais importantes para a sua família até a idade adulta.

ACI Digital

S. LEONARDO DE PORTO MAURÍCIO, SACERDOTE FRANCISCANO

S. Leonardo de Porto Maurício 

Em 1980, São João Paulo II visitou a paróquia de Acília, perto de Roma, dedicada a São Leonardo de Porto Maurício, pregador da região italiana da Ligúria. Na ocasião, em sua homilia, o Papa disse que este sacerdote franciscano, de “palavra ardente, percorreu toda a Itália, admoestando e convertendo imensas multidões, apelando à penitência e à piedade, e vivendo, pessoalmente, a íntima união com Deus”.

O tema da Via Sacra

São Leonardo de Porto Maurício, - no civil se chamava Paulo Girolamo Casanova - nasceu em Porto Maurício, atual Impéria, no noroeste da Itália, em 20 de dezembro de 1676. Estudou em Roma, no Colégio Romano, depois entrou para a Casa de Retiro São Boaventura, no Palatino, onde recebeu o saio franciscano. Em suas pregações, Frei Leonardo tinha sempre em mente o suplício da Cruz. Além do Nome de Jesus e da Virgem Maria, ele sempre meditava sobre o tema da Via Sacra, devoção tipicamente franciscana, à qual deu grande impulso. Imensas multidões aglomeravam-se para ouvir seus sermões, que as comoviam e emocionavam, a ponto verter lágrimas. “Ele foi o maior missionário do nosso século”, disse Santo Afonso Maria de Ligório. Suas Missões Populares o levaram por toda a Itália, sobretudo à região da Toscana. Enviado também à Córsega, para restabelecer a harmonia entre os cidadãos, conseguiu até a receber um inesperado abraço da paz, apesar das graves divisões entre os habitantes.

Pregador incansável

Debilitado em sua obra missionária, Leonardo voltou para a Ligúria e, depois, para Roma. Pregador incansável, no Ano Santo de 1750, proclamado pelo Papa Bento XIV, criou 14 oratórios, no Coliseu de Roma, para a celebração do rito da Via Sacra, plantou uma grande cruz dentro do anfiteatro. Este foi seu último ato heroico. Leonardo de Porto Maurício faleceu, em 26 de novembro de 1751, na Casa de Retiro São Boaventura, no Palatino, quando já era venerado como Santo, sobretudo pelos romanos. Sua beatificação deu-se em 19 de março de 1796 e a canonização em 29 de junho de 1867, durante o pontificado do Papa Pio IX, que era muito devoto de São Leonardo. Em 1923, Pio XI o proclamou Padroeiro dos missionários nos países católicos. Desde meados dos anos 90, o Santo franciscano foi escolhido também como Padroeiro da cidade de Impéria, sua cidade natal.

Vatican News

S. SILVESTRE, ABADE, FUNDADOR DOS SILVESTRINOS

S. Silvestre, Segna di Bonaventura  (© MET)

Silvestre Guzzolini nasceu em Ósimo, perto de Ancona, em 1177, em uma família italiana opulenta, que o enviou a Bolonha para estudar Direito, porque o pai queria que fosse advogado. Sem avisar a sua família, transferiu-se para Pádua, a fim de estudar teologia. Quando voltou para casa, com o diploma nesta matéria, seu pai ficou furioso e o isolou em casa.

Uma vocação hostilizada em família

A vocação à vida religiosa tornava-se cada vez mais forte em Silvestre, graças à Palavra da Sagrada Escritura, que amava, por ter estudado tanto tempo. Deserdado e sozinho, conseguiu entrar, finalmente, para a Comunidade dos Cônegos de Ósimo, com a ajuda do Bispo local, que muito apreciava seu zelo cristão. Ali, Silvestre viveu de modo exemplar, dedicando-se à oração, meditação e observância radical do Evangelho. Mas, não foi suficiente e percebeu logo.

"Renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me"

Certo dia, Silvestre participou do enterro de uma pessoa nobre e, no cemitério, tem a infeliz ideia de olhar para dentro de uma cova, dentro da qual não havia esperança, apenas o colapso da morte. Mas, para ele, foi uma iluminação: "O que ele era, eu sou; o que ele é, eu serei”. Daí, recordou-se também das palavras de Jesus: "Quem quiser vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me". Naquele momento, Silvestre escolheu a vida eremítica: vagueou, por um bom período, entre as montanhas da região italiana das Marcas. Um dia, o Senhor o fez encontrar uma caverna, chamada Grottafucile, onde se estabeleceu. Durante três anos, não teve contato com nenhuma alma viva. Dedicou toda a sua vida à oração, jejum e penitência, como Moisés na Montanha Sagrada. Por fim, aconteceu-lhe algo inesperado.

Início da comunidade

Os súditos de um senhor de Castelletta descobriram que havia um homem morando em suas propriedades. Assim, muitos curiosos foram visitá-lo para pedir orações ou conselhos espirituais. Então, Silvestre entendeu que a sua experiência de eremita tinha acabado: Deus queria que ele fundasse uma nova comunidade, mas ele nem sabia de onde começar. Mas, a Providência sabia o que fazer: em 1228, Gregório IX enviou uma delegação de Dominicanos, composta por Frei Ricardo e Frei Bonaparte, para saber quem era aquele estranho eremita e convidar Silvestre para entrar em uma Ordem monacal já existente ou, pelo menos, para adotar uma regra de vida bem precisa, segundo as disposições do IV Concílio de Latrão. Os dois Frades foram os primeiros coirmãos de Silvestre na nova Comunidade, que se chamou Ordem de São Bento de Monte Fano.

Escolha da Regra

Como sempre, quando não sabia o que fazer, Silvestre se pôs a rezar. Em particular, pediu a intercessão de Nossa Senhora, que, uma noite, lhe apareceu, em um momento de êxtase, e lhe administrou a Eucaristia com suas santas mãos. Porém, dirigiu-se também a muitos Santos, alguns dos quais até lhe apareceram em sonhos. Mas, quando São Bento lhe apareceu, entendeu que devia seguir a sua Regra. Logo, Silvestre foi o primeiro a usar o hábito Beneditino e, em 1248, recebeu a aprovação do Papa Inocêncio IV. No entanto, os membros da Comunidade aumentavam, como a boa semente, lançada em terra fértil, que começava a produzir muitos frutos. Daí, nasceram novas Comunidades. Mas, já exausto e idoso, com quase 90 anos, Silvestre voltou à Casa do Senhor: era o dia 26 de novembro de 1267.

Vatican News

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

A Liturgia no Primeiro Século

Foto: Divulgação

A liturgia no primeiro século se desenvolveu com o ensino dos Apóstolos por onde passavam

Já nos primórdios da Igreja começaram a compreender os Sacramentos instituídos por Jesus, uma vez que eles têm clara fundamentação nos Evangelhos e Cartas dos Apóstolos: Batismo (Mt 28,19), Crisma (At 8,14-17), Eucaristia (Lc 22,19-20; Mt 26,26-30; Mc 14, 22-26; 1 Cor 11,23-25), Confissão (Jo 20,22-23), Ordem (Lc 22,19), Unção dos enfermos (Tg 5,13-15) e Matrimônio (Mt 19,3-9), e aos poucos foram entendendo o seu significado. A celebração da Eucaristia foi celebrada desde o início aos domingos. São Justino, mártir (†165) escreveu:

“Reunimo-nos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia após o Sábado dos judeus, mas também o primeiro dia em que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, neste mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos” (Apologia 1, 67).

Santo Inácio de Antioquia, mártir (†107) disse:

“Aqueles que vivem segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança, não mais observando o Sábado, mas sim o Dia do Senhor, no qual a nossa vida é abençoada por Ele e por sua morte” (Carta aos Magnésios 9,1).

“Cuidai, pois, de reunir-vos com mais frequência, para dar a Deus ação de graças e louvor. Pois, quando vos reunis com frequência, abatem-se as forças de Satanás e desfaz-se o malefício, pela vossa união na fé. Nada melhor que a paz que aniquila toda guerra de poderes terrestres e celestes” (Carta aos Efésios, 13,1-2; p. 45).

“Sede solícitos em tomar parte numa só Eucaristia, porquanto uma é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, um o cálice para a união com Seu Sangue, um o altar, assim como um é Bispo, junto com seu presbitério e diáconos […]” (Carta aos Filadélfios, 4,1, p. 72).

Vários documentos do primeiro século nos ajudam a conhecer a vida dos primeiros cristãos neste tempo. Um deles é a Didaquè, ou também chamada Doutrina dos Doze Apóstolos; é como um antigo manual da fé cristã que deve ter sido escrita entre os anos 90 e 100, na Síria, ou na Palestina ou em Antioquia. Os antigos Padres falavam muito da Didaquè, o que lhe dá um valor especial. Trata-se de um pequeno tratado moral para os catecúmenos, um antigo ritual litúrgico, que traz instruções relativas à vida comunitária.

A Didaquè foi encontrada em 1873 com duas cartas do Papa São Clemente Romano e a Epístola de Barnabé, na biblioteca do Hospital do Santo Sepulcro em Constantinopla, pelo arcebispo grego Filoteo Briennios. Fala sobre o Batismo, a Eucaristia, o Domingo, a escolha de bispos, presbíteros e diáconos, já no primeiro século:

“Quanto ao Batismo, batizai assim: depois de terdes ensinado o que precede, batizai em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, em água corrente; se não existe água corrente, batize-se em outra água. Se não puder ser em água fria, faze em água quente. Se não tens bastante, de uma ou de outra, derrama água três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Antes do Batismo, jejuem: o que batiza, o que é batizado e outras pessoas” (7,1-14; p. 30).

Esta é a tradição que a Igreja recebeu dos Apóstolos; por isso pode batizar por derramamento de água e não por imersão. A Didaquè nos mostra como já era celebrada a sagrada Eucaristia:

“Celebre a Eucaristia assim: Diga primeiro sobre o cálice: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre”.

Depois diga sobre o pão partido: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre […]”.

Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: “Não deem as coisas santas aos cães” (9,1-5, p. 32).

“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro […]. Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o meu nome é admirável entre as nações” (14,1-3; p. 39).

A Eucaristia sempre foi o ponto alto da fé dos cristãos; reproduz a Santa Ceia tomada por Jesus com seus Apóstolos e que lhes ordenou: Fazei isto em memória de mim, e que os discípulos chamavam de ‘fração do pão’ (cf. At 2,42; 20,11), celebrada especialmente no domingo. Logo eles foram entendendo a palavra de Jesus: Isto é o meu corpo; este é o meu sangue. Logo se firmou esse sentido místico da Eucaristia. São Paulo escreveu: “O cálice de bênção que consagramos não é o sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão com o sangue de Cristo?” (1Cor 10,16). Jamais os cristãos deixaram de ter essa certeza. Já no começo do século II, Santo Inácio de Antioquia (†107) escreveu:

“A Eucaristia é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, a carne que sofreu pelos nossos pecados, a carne que, na sua bondade, o Pai ressuscitou” (Carta aos Esmirnenses, 7,1).

A Eucaristia, como entendida acima, constitui uma afirmação dogmática que nenhuma religião atingiu e que por isso distingue o Cristianismo de todas as outras religiões conhecidas.

Retirado do livro: “História da Igreja – Idade Antiga”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.
Fonte: Cléofas
https://catholicus.org.br/

Ravasi: combater o racismo, “somos todos humanidade”

"Somos todos humanidade" 

O cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura participou de um webinar sobre o tema “O racismo, as mulheres e a Igreja Católica” na Universidade Lumsa com a presença de professores e as embaixadoras junto à Santa Sé.

Isabella Piro – Vatican News

“Não podemos tolerar qualquer tipo de racismo e ao mesmo tempo, afirmar que defendemos a sacralidade de toda vida humana": são palavras do Papa Francisco na Audiência Geral de 3 de junho, enquanto explodiam protestos nos Estados Unidos por causa da morte de George Floyd, o afro-americano que morreu em 25 de maio depois de ser preso por um policial branco. As palavras do Pontífice foram recordadas pelo Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, por ocasião do webinar sobre o tema do racismo, das mulheres e da Igreja Católica. “A luta contra o racismo não pressupõe uniformidade, mas multiplicidade na unidade", disse o cardeal, citando o Antigo Testamento. Na verdade, relata a palavra "adamah", mais tarde traduzida para "Adão", que em hebraico tem o significado de "humanidade”. Isto implica, reiterou o Cardeal Ravasi, que "somos todos Adão", somos todos humanidade. Da mesma forma, o apóstolo São Paulo, na Carta aos Gálatas e na Carta aos Colossenses, afirma que "não há escravo ou liberto, bárbaro ou estrangeiro", porque "somos todos um em Cristo".

O cardeal Ravasi fez também algumas considerações sobre as relações: "O racismo é a negação da relação, é uma forma de negacionismo social e espiritual" da diversidade do outro, explicou. Afirmar a necessidade de ir na direção do outro e, ao mesmo tempo, reconhecer a diferença do outro são, portanto, duas ações fundamentais para combater o preconceito racial.

A importância do fator educativo

Em seguida o webinar ofereceu espaço para vários e importantes testemunhos como o da Irmã Rita Mboshu Kongo, teóloga congolesa e professora na Pontifícia Universidade Urbaniana, que sublinhou a importância do fator educativo como instrumento para combater o racismo. A escola e a família, explicou a professora, são os principais lugares para entender, desde o início, o quanto a discriminação, especialmente a feminina, está errada. Irmã Rita falou sobre sua experiência pessoal: como filha mais velha de sua família, foi incentivada por seu pai a superar preconceitos. "O racismo deve ser combatido com a formação da consciência", afirmou Irmã Rita, sugerindo também ajudar as mulheres a estudar para ampliar seus conhecimentos. "Peço à Igreja que se comprometa mais com a formação das religiosas", reiterou também a Irmã Kongo, "para que elas possam ter uma formação adequada para o apostolado que lhes é pedido".

A ligação entre racismo e sexismo

O webinar foi moderado por Silvia Cataldi, socióloga da Universidade La Sapienza de Roma. Na sua exposição a socióloga destacou que o termo “raça” é usado com muita desenvoltura hoje em dia, apesar de ter sido questionado pela comunidade científica. A ciência demonstrou, de fato, que as diferenças genéticas entre indivíduos são maiores do que as diferenças raciais entre grupos de pessoas. Infelizmente, acrescentou a socióloga, ainda hoje há genocídios e atos de violência perpetrados por causa de "doutrinas" racistas. Não só isso, o racismo está muitas vezes ligado ao sexismo: os dois termos andam de mãos dadas porque se baseiam no mesmo mecanismo, ou seja, generalizam um determinado grupo de pessoas, acabando por classificá-las, de uma forma genérica, como um todo único.

Fraternidade antídoto para o vírus da discriminação racial

A encíclica "Fratelli tutti" do Papa Francisco, concluiu Silvia Cataldi, responde a esta tendência errônea: de fato, a Encíclica lembra que "o racismo é um vírus que muda facilmente e, em vez de desaparecer, dissimula-se mas está sempre à espreita". Mas contra este preconceito podemos responder com a fraternidade, porque - todos os participantes do webinar disseram a uma só voz - "somos todos irmãos e irmãs, criados à imagem e semelhança de Deus".

Vatican News

A VIDA E A MORTE

A12.com

Nesta noite escura, nesta tempestade que estamos atravessando, muitas pessoas temem a morte, pois a consideram como um fim, a pior coisa que pode acontecer ao ser humano. E por não crerem numa vida eterna, muitos vivem como se a nossa existência terminasse definitivamente entre as quatro paredes de um caixão. “Diante da morte, o enigma da condição humana atinge seu ponto alto. O homem não se aflige somente com a dor e a progressiva dissolução do corpo, mas também, e muito mais, com o temor da destruição perpétua.” (Gaudium et spes nº 250).

A morte é uma realidade que todos teremos que atravessar, seja de forma repentina e inesperada ou após um longo período de sofrimento. Diante da realidade da morte todos nós podemos afirmar: “Estou certo de que daqui a pouco terei de sair desta minha tenda”. (2 Pd 1,14). Nestes nossos dias, nunca se falou tanto da morte. Isso porque instalou-se, de uma hora para outra, a pandemia do novo coronavírus. Deste modo, diariamente, a morte que era pouco contabilizada, e sequer divulgada, se tornou um boletim público, pois todos os dias a imprensa divulga o número de mortos, seja na nossa cidade, no estado, no Brasil e no mundo.

Neste contexto, a morte passou a ser discussão coletiva onde os fiéis cristãos também são chamados a participar, anunciando: “Não faça da morte uma tragédia, porque não o é. Só aos filhos desamorados é que não entusiasma o encontro com seus pais.” (São Josemaría Escrivá). Nós, cristãos, “sabemos que, se a tenda terrestre em que vivemos se desfaz, recebemos de Deus a hospedagem de uma eterna moradia no céu, não construída por mãos humanas.” (1 Cor 5,1-2). Somos membros da Igreja militante e estamos no mundo de passagem, peregrinando em direção ao céu; portanto, o ideal básico de toda nossa vida deve ser cada vez mais contemplar a face de Cristo e, assim, viver eternamente junto d’Ele.

Essa constante união com nosso Redentor se concretiza por meio da morte. Sendo assim, a morte é um novo nascimento. Cada dia que passa é uma antecipação desse momento sublime, pois estamos sempre dando um passo a mais em direção à eternidade.  Em termos humanos, sabemos que é difícil aceitar a realidade da morte, pois ela nos afasta das pessoas a quem tanto amamos e deixa uma saudade que não passa.

Por revelação de Deus, nós sabemos que a morte não estava em seus planos e que ela entrou no mundo e em nossas vidas pela desobediência de Adão e Eva. A realidade da morte produz dor e sofrimento, mas esses são passageiros e abarcam um breve período. Quando crescemos na senda da fé, passamos a aceitar a realidade da morte do mesmo modo que São Paulo, professando: “Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro.” (Fl 1,21)

É por meio da morte que penetramos na Igreja Triunfante, desde que tenhamos sido fiéis a graça de Cristo. Por isso, devemos participar, já aqui na terra, da melhor maneira possível da vida divina. Durante todos os dias da nossa vida, devemos manter a união com Jesus Cristo, participando da comunhão eucarística, do sacramento da reconciliação e dos demais sacramentos, realizando fecundos apostolados, rezando intensamente, enfim, fortalecendo nosso caminhar rumo à Pátria celeste.

Para nós, cristãos, a morte não é o fim, mas é, sim, o coroamento de toda uma vida de coerência e autenticidade. Cada findar de dia deve nos trazer a lembrança de que o nosso momento se aproxima. Por outro lado, cada resplandecer do sol deve fortalecer em nós a fé, a doação e a nossa união com Jesus Cristo. O decorrer dos dias, das semanas, dos meses e dos anos deve nos levar a uma maior maturidade espiritual e ao desapego dos bens terrenos, pois, como nos ensina o Papa Francisco: “Nunca se ouviu dizer que o caminhão de mudanças acompanha o percurso do carro da funerária”.

Os bens materiais que são passageiros não nos devem afastar de Deus. O povo simples, munido de sabedoria, gosta de recordar o ditado que nos diz: “Caixão não tem gavetas.” De nada nos valerá o dinheiro, a fortuna e os bens materiais se não soubermos administrá-los de acordo com a vontade de Deus.

Nos Evangelhos, Jesus não se cansa de nos chamar à vigilância: “Vigiai porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor. Compreendei isto: Se o dono da casa soubesse em que vigília viria o ladrão, vigiaria e não permitiria que sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós, ficai preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora que não pensais.” (Mt 24, 42-44).

Vigiar é uma manifestação de amor, de prudência, de cuidado e de zelo e, por isso, a virtude da vigilância deve ser concretizada por todos nós, principalmente, mediante o desapego material, pois quando carregamos coisas em excesso se torna difícil caminhar. “Tu te inquietas e te agitas por muitas coisas, no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só.” (Lc 10, 41-42).  Vigiar é escutar o conselho de Cristo que nos diz: “Acumulai riquezas no céu, onde não roem traça nem caruncho, onde ladrões não arrombam nem roubam.” (Mt 6, 20).  Vivendo a vigilância, cada novo dia será uma ocasião para crescermos espiritualmente, multiplicando os dons e os talentos que administramos por concessão do Cristo.

Em todas as Santas Missas, nós rezamos pelos fiéis defuntos, e em especial, no mês de novembro, dedicamos um dia a eles. No dia 02 de novembro, comemoramos o dia dos finados, mas em todos os dias, somos convidados a rezar pelos fiéis defuntos, como também avivar a certeza de que contamos com a ajuda e a intercessão de inúmeros santos, membros da Igreja Triunfante que intercedem por nós.

A morte não é e não pode ser encarada como um fim. Ela é um começo, o começo de uma vida eterna. O começo de uma vida plena em Deus. A maior felicidade possível é ressuscitar e viver eternamente junto de Deus, de Maria Santíssima, dos Anjos e de todos os santos. Como nos ensina o prefácio dos defuntos do Missal Romano: “Para os que creem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e, desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna.”

No céu, nós seremos tudo em Deus e contemplaremos a doce face da Virgem Santa Maria, viveremos o supremo Amor, junto com outros irmãos que “combateram o bom combate e guardaram a fé.” (2 Cor 4, 7).

Vale a pena lutarmos pelo ideal de vivermos eternamente ao lado do nosso Deus adorado e amado.  Lembrem-se: estar com Deus e viver com Ele é a finalidade básica de toda a nossa existência. E quando a morte vier, Cristo nos receberá de braços abertos e nos acolherá em seu seio, dizendo: “Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!” (Mt 25, 23).

Aloísio Parreiras

(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF