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segunda-feira, 2 de agosto de 2021

SOLENIDADE DO PERDÃO É CELEBRADA EM ASSIS DIAS 1º E 2 DE AGOSTO

Basílica Santa Maria dos Anjos | Vatican News

A Solenidade do Perdão é celebrada em Assis nos dias 1 e 2 de agosto. Os fiéis que vão à Porciúncula, dentro da Basílica Santa Maria dos Anjos, ou a qualquer igreja franciscana do mundo, poderão obter a Indulgência Plenária. Todas as celebrações em Assis também podem ser acompanhadas via streaming. “O perdão é o abraço do Pai em cada filho”, explica o ministro Provincial dos Frades Menores da Úmbria e da Sardenha, padre Francesco Piloni, ministro provincial dos Frades Menores da Úmbria e da Sardenha.

“Peço-Te para que todos aqueles que, arrependidos e confessados, visitarem esta igreja, obtenham o perdão amplo e generoso, com a remissão completa de todos as culpas”.

Foi um pedido quase ousado aquele que São Francisco fez diretamente ao Senhor, que lhe apareceu numa noite de 1216 enquanto ele estava mergulhado em oração na Porciúncula. Segundo fontes franciscanas, ele se viu repentinamente cercado por um faixo de luz.

O Senhor então concedeu essa graça a Francisco que foi imediatamente ao Papa Honório III para obter a indulgência e em 2 de agosto de 1216, diante de uma grande multidão, na presença dos bispos da Úmbria, promulgou o Grande Perdão.

Francisco, naquele dia de agosto, disse às pessoas abrigadas à sombra dos carvalhos: “Irmãos, quero enviar-vos todos ao Paraíso e anuncio uma graça que obtive da boca do Sumo Pontífice”.

A indulgência do Perdão

Aquele distante dia de verão marca assim o nascimento do tesouro da Porciúncula: a Indulgência do Perdão que pode ser pedida para si ou pelos falecidos. Para obtê-la, é necessária a Confissão, a participação na Missa e a Comunhão, a renovação durante a visita à igreja da própria profissão de fé recitando o Credo e o Pai Nosso e, por fim, a oração segundo as intenções do Papa e pelo Papa.

Das 12 horas de 1º de agosto até às 24 horas de 2 de agosto, a Indulgência Plenária concedida à Porciúncula todos os dias se estende a todas as igrejas paroquiais do mundo e também a todas as igrejas franciscanas.

O programa das celebrações

Ao final de um Tríduo preparatório, a Solenidade do Perdão foi aberta às 11 horas deste domingo. O recém-eleito Ministro geral da Ordem dos Frades Menores presidiu a Solene Celebração Eucarística que se encerrar com a procissão da “Abertura do Perdão”. A partir de então, a Indulgência Plenária passa a ser concedida.

Na segunda-feira, às 11h30, o Penitenciário-Mor do Tribunal da Penitenciária Apostólica, cardeal Mauro Piacenza, presidirá uma solene celebração. Já às 19 horas, as segundas Vésperas da Solenidade do Perdão serão presididas pelo Ministro Provincial dos Frades Menores da Úmbria e da Sardenha, Pe. Francesco Piloni. Por fim, às 20 horas, ao vivo da Porciúncula, está programada a Vigília dos Jovens.

Será possível acompanhar ao vivo todos os principais acontecimentos pela WebTV da Porciúncula e pelas redes sociais dos Frades.

Perdão: o caminho de retorno no abraço do Pai

“O perdão de Assis é um “super” dom que Francisco quis oferecer a cada pessoa, de cada época e lugar. Um retorno à uma relação com Deus, explica padre Francesco Piloni. Em uma noite conturbada, o Santo sentiu que cada pessoa é esperada e desejada por Deus, que cuida da pessoa, deixando nela uma saudade de casa: a relação com Ele. O perdão é voltar para casa, sentir o abraço de um Pai que desde sempre nos acompanhou”.

Padre Francesco Piloni, explicou ao Vatican News o significado da palavra perdão, em particular neste ano:

O perdão é, acima de tudo, aquele a ser dado a nós mesmos, pelo tempo vivido mal, pela pressa e pelas oportunidades perdidas. Frequentemente percebemos a bondade de uma coisa quando a perdemos, quando ela não existe mais. E é muito triste viver de oportunidades perdidas. Perdoar-nos por aquilo que negligenciamos ou vivenciamos de maneira superficial e também perdoar a forma como tratamos a Criação, falando em ecologia integral. Ou a não acolhida com que tratamos quem é diferente de nós, tendo em vista que se as diferenças podem gerar conflitos, mas a uniformidade gera asfixia, então é mais bonito enfrentar e buscar juntos o valor de um encontro.

Como vocês se prepararam para viver esta grande e solene festa do Perdão?

Além das habituais iniciativas que propomos todos os anos, criamos um novo site www.perdonodiassisi.org que permite não só acompanhar ao vivo todas as celebrações, mas também enviar pedidos de oração. Neste período assim difícil, percebemos que muitas pessoas nos pediram para serem amparadas com orações de intercessão. Portanto, é possível enviar pedidos de oração e receber ou dar um santinho personalizado com o próprio nome. Doações também podem ser feitas para apoiar as iniciativas da basílica.

É, portanto, um instrumento a mais para oferecer a muitas pessoas em todo o mundo este lugar de graça que custodiamos, mas que pertence a cada pessoa que deseja o perdão: aquele retorno para casa nos braços do Pai em uma reconciliação que fala de beleza de ser filhos e irmãos.

Fonte: CNBB

Bispos EUA: financiamento público do aborto e violação da objeção de consciência são abusos dos direitos humanos

Manifestação pró-Vida em frente à Suprema Corte em Washington,
em 24 de julho  (AFP or licensors)

“Os fundos públicos seriam gastos muito melhor no apoio a mulheres com gravidez problemática e as novas mães necessitadas, de modo que nenhuma mulher se sinta pressionada por dificuldades econômicas para realizar um aborto”, havia defendido em maio Dom Joseph F. Naumann, presidente da Comissão Episcopal para atividades pró-vida.

Isabella Piro - Vatican News

Com 219 votos a favor e 208 contrários, a Câmara baixa do Congresso dos Estados Unidos aprovou em 29 de julho o projeto de lei 4502 sobre verbas destinadas ao trabalho, à saúde, aos serviços humanos e à educação.

O projeto de lei em questão exclui, no entanto, duas emendas bipartidárias de longa data, ambas relacionadas ao financiamento público do aborto: a emenda Hyde, que remonta há 46 anos e proíbe o uso do dinheiro dos contribuintes para financiar o aborto - com exceção dos casos de estupro, incesto ou quando a vida da mãe está em risco -, e a Emenda Weldon, que proíbe agências federais e administrações estaduais e locais, destinatárias de fundos públicos, de fornecer, pagar ou cobrir custos de aborto.

 A eliminação dessas duas disposições, consequentemente, forçaria os contribuintes estadunidenses a pagar os abortos e levaria os profissionais de saúde a praticar e aconselhar o aborto, mesmo contra suas convicções. Além disso, empregadores e seguradoras seriam forçados a pagar por intervenções de aborto.

A reação da Conferência Episcopal (USCCB), que no passado já havia se manifestado contra a lei 4502, foi imediata: em nota assinada pelo cardeal Timothy M. Dolan, presidente do Comitê para a Liberdade Religiosa, e por Dom Joseph F. Naumann, presidente do Comitê para Atividades Pró-Vida, diz: "A Câmara votou de uma forma que não está absolutamente de acordo com a vontade do povo americano, que se opõe esmagadoramente ao aborto financiado pelos contribuintes."

“A emenda Hyde salvou pelo menos 2,4 milhões de vidas desde sua promulgação - recordam os prelados -, agora, sem ela, milhões de mulheres pobres, em circunstâncias desesperadoras, tomarão a decisão irrevogável de aceitar a oferta do governo pelo fim da vida de seus filhos."

Embora reconhecendo, depois, que a legislação proposta “inclui disposições que ajudam pessoas vulneráveis, inclusive mulheres grávidas”, a USCCB reitera que, apesar disso, “não se pode justificar a escolha errada” de atacar de forma direta, por meio do aborto, “uma vida humana inocente”. Isso porque "a incapacidade de proteger e defender a vida em suas fases mais vulneráveis ​​torna suspeita qualquer pretensão de justiça das outras disposições que dizem respeito aos mais pobres e frágeis dentro de uma comunidade".

E não só: o cardeal Dolan e Dom Naumann destacam que "a injustiça da legislação em questão também se estende ao cancelamento da objeção de consciência e da exoneração dos profissionais de saúde que acreditam que o aborto seja um erro ou cuja fé os leve a servir e curar vida, em vez de suprimi-la”.

Por isso, “financiar a destruição de vidas humanas inocentes ainda não nascidas e obrigar as pessoas a matar, violando a sua consciência - notam os prelados - representam um grave abuso dos direitos humanos”.

Neste sentido o pedido explícito da USCCB ao Senado para pôr fim ao projeto de lei 4502, enquanto ao Congresso os bispos pedem a aprovação de leis que "apoiem e protejam plenamente a dignidade humana e os mais vulneráveis" dentro da sociedade.

Fonte: Vatican News Service - IP

SÃO PEDRO JULIÃO EYMARD

S. Pedro Julião Eymard | ArquiSP
02 de agosto

S. PEDRO JULIÃO EYMARD, SACERDOTE FUNDADOR DOS SACRAMENTINOS

Pedro Julião Eymard nasceu no norte da França, em Esère, no dia 4 de fevereiro de 1811, primeiro filho de um casal de simples comerciantes, profundamente religioso. Todos os dias, sua mãe levava-o à igreja, para receber a bênção eucarística. Assim, aos cinco anos de idade, despontou sua vocação religiosa e sacerdotal.

Mas encontrou a objeção do seu pai. Apesar de muito religioso, ele não concordou com a decisão do filho, porque precisava da sua ajuda no trabalho, para sustentar a casa. Além disto, não tinha condições de pagar as despesas dos estudos no seminário. Diante desses fatos, só lhe restava rezar muito enquanto trabalhava e, às escondidas, estudar o latim. Em 1834, conseguiu realizar o seu sonho, recebendo a ordenação sacerdotal na sua própria diocese de origem.

Após alguns anos no ministério pastoral, em 1839, padre Eymard entrou na recém-fundada Congregação dos Padres Maristas, em Lyon. Nesta Ordem permaneceu durante dezessete anos, chegando a ocupar altos cargos. Foi quando recebeu de Maria Santíssima a missão de fundar uma obra dedicada à adoração perpétua da eucaristia.

Aliás, padre Eymard já notava que havia um certo distanciamento do povo da Igreja. Algo precisava ser feito. Rezou muito, pediu conselhos aos superiores e para o próprio papa Pio IX. Entretanto, percebeu que por meio do Instituto dos Maristas não poderia executar o que era preciso. Deixou o Instituto e foi para Paris.

Lá, em 1856, com a ajuda do arcebispo de Paris, fundou a Congregação dos Padres do Santíssimo Sacramento. E, depois de três anos, a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. Mais tarde, também fundou uma Ordem Terceira, em que leigos comprometem-se na adoração do Santíssimo Sacramento.

Padre Pedro Julião Eymard foi incansável, viajando por toda a França, para levar sua mensagem eucarística. Como seu legado, além da nova Ordem, deixou inúmeros escritos sobre a espiritualidade eucarística.

Muito doente, ele faleceu na sua cidade natal no dia 1o. de agosto de 1868, com apenas cinqüenta e sete anos de idade. Beatificado pelo papa Pio XI em 1925, foi canonizado pelo papa João XXIII em 1962. Na ocasião, foi designado que a memória litúrgica de são Pedro Julião Eymard deve ser celebrada em 2 de agosto, um dia após o de sua morte.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

domingo, 1 de agosto de 2021

Abraão jamais existiu?

Presbíteros

Em síntese: A quem nega a existência de Abraão, como faz  Vinicius Romanini em SUPERINTERESSANTE de julho 2002, se pode apresentar a obra de Walter Vogel, professor universitário no Canadá, que, com mais autoridade do que o jornalista, trata do assunto, fornecendo dados lingüísticos e arqueológicos que abonam a historicidade do Patriarca. O cientista aceita haver anacronismos no relato bíblico, de tal monta, porém, que não afetam o valor historiográfico das páginas bíblicas.

A revista SUPERINTERESSANTE de julho 2002 nega a existência do Patriarca Abraão nos seguintes termos:

“Na viagem para Canaã Abraão e seus filhos comerciavam em caravanas de camelos. Mas não há registros de migrações de Ur em direção a Canaã que justifiquem o relato bíblico, naquela época, os camelos ainda não haviam sido domesticados… Hoje a análise filológica dos textos indica que Abraão foi introduzido na Torá entre os séculos VIII e VII a.C. (mais de mil anos após a suposta viagem)” (pp. 43 e 46).

A afirmação do jornalista causou surpresa e curiosidade. Deve-se-lhe responder citando a obra de um professor  universitário, dotado de autoridade de um profissional para falar do assunto. É o que faremos a seguir.

FALE O PROF. WALTER VOGELS

Já em PR 462/2000, pp. 508-515 foi apresentado o Prof. Walter Vogels, que ensina Exegese do Antigo Testamento na Universidade Saint Paul de Ottawa (Canadá). Publicou um livro cujo título pode causar reserva à primeira vista: ABRAÃO E SUA LENDA. Gn 12, 1-25, 11.¹ Lenda (légende, original francês) é tomada no sentido etimológico; em latim, legenda significa as coisas que devem ser lidas ou as tradições escritas, sem algum juízo de valor a respeito. O autor se concentra no ciclo do patriarca Abraão, que ocupa a secção de  Gn 12, 1-25, 11.

W. Vogels considera as hipóteses dos que negam a historicidade de Abraão e dos patriarcas bíblicos em geral. Todavia na base de bons argumentos dissipa-se e afirma a credibilidade das secções em pauta, admitindo pormenores acrescentados à história real no decorrer dos séculos (como se dirá a seguir).

  1. Falam pesquisadores modernos
    À p. 27  W. Vogels cita estudiosos de bom nome:

Roland de Vaux, Professor da École Biblique de Jerusalém: “Se, como se afirmou por muito tempo, (os autores bíblicos) tivessem reconstruído o passado segundo o que viam e imaginavam, eles teriam obtido um quadro diferente do que possuímos, e que teria sido falso” (“Les patriarches hébreux et les découvertes nodernes”, Revue biblique 56 (1949), pp. 5-36, citação pp. 36).

A. Parrot: “A vida, tal como aparece nos relatos do Gênesis que são consagrados, encaixa-se perfeitamente com o que hoje sabemos, por outras vias, sobre o início do segundo milênio, mas imperfeitamente com um período mais recente” (Abraham et son temps, “Cahiers d’archéologie biblique” 14, Neuchatel, elachaux et Niestlé, 1962, p. 11).

W. F. Albright: “Abraão, Isaac e Jacó não parecem mais, doravante, figuras isoladas, quanto menos reflexos da história hebraica posterior; parecem atualmente verdadeiros filhos de sua época, trazendo os mesmos nomes, deslocando-se sobre o mesmo território, visitando as mesmas cidades (especialmente Harran e Nahor), submetidos aos mesmos costumes que seus contemporâneos. Em outros termos, os relatos dos patriarcas têm de cabo a rabo um fundo histórico”.

  1. A Religião dos patriarcas em favor da historicidade
    Às pp. 32s escreve Vogels:

“Autores como Wallhausen, Thompson e Van Setes, que rejeitam todo valor histórico, afirmam que os relatos dos patriarcas nos informam unicamente sobre a época em que os textos foram redigidos. Isso é contraditado pelos menos no que concerne à religião dos patriarcas. Se os autores bíblicos tivessem inventado as tradições dos patriarcas, inspirando-se na religião que eles próprios praticavam, os relatos teriam sido bem diferentes. Os patriarcas praticavam, segundo, os textos bíblicos, uma religião pré-israelita, pré-mosaica. Alguns pontos podem mostrá-lo.

Não existe antagonismo religioso entre os patriarcas e as pessoas com as quais entram em contato. No restante da Bíblia, a oposição entre Yahweh, o Deus de Israel, e os Baals, os deuses dos cananeus, é habitual. Nos relatos dos patriarcas, diríamos que todos adoram o mesmo Deus. Melquisedec, rei de Shalêm, abençoa Abraão em nome do “Deus Altíssimo” (14, 18-20), e Abraão levanta a mão em nome do “Deus Altíssimo” (14, 22).

A Bíblia distingue com freqüência Israel o povo eleito, e as nações, os povos pagãos. Tal distinção não se encontra nos relatos dos patriarcas. Abraão crê que não existe temor algum de  Deus em Guerar (20, 11), mas o texto prova o contrário. O povo de  Guerar é uma nação justa (20, 4), e seu rei Abimélek age com o coração íntegro e mão inocentes (20, 5-6). Todos são iguais diante de Deus; a perspectiva dos relatos dos patriarcas é mais universalista do que no restante da Bíblia.

As práticas são bem diferentes. Não há indicação alguma de que os patriarcas observassem o sabbat, ou as leis concernentes aos alimentos, o que era muito importante na época do exílio. Se as tradições  patriarcais tivessem sido inventadas nessa época, os autores teriam muito provavelmente feito os patriarcas viverem segundo essas leis. O mesmo se aplica aos locais do culto. Abraão constrói altares onde quer (12, 7; 13, 18) e planta árvores sagradas (21, 33). Tais práticas eram proibidas  pela lei mosaica, que prescreve o lugar do culto (Dt 12, 2-5) e condena essas árvores sagradas (Dt 16, 21).

A religião dos patriarcas não conhece mediadores, sacerdotes ou profetas. Os patriarcas não se dirigem aos outros à maneira de Moisés ou dos profetas, e ninguém lhes fala em nome de Deus. Eles estão em contato direto, pessoal com Deus (17, 1). Os patriarcas oferecem seus próprios sacrifícios (22, 13) e não necessitam de sacerdotes que o façam em seu nome.

Na religião de Israel, a lei ocupa um lugar bem central, sua observância traz a bênção; sua rejeição, a  maldição. Na religião  dos patriarcas, encontramos promessas e bênçãos (12, 2-3), mas dadas sem menção de estipulações que os patriarcas deveriam observar para obtê-las. Não existe tampouco ameaça de julgamento, no caso de não serem fiéis.

Esses poucos exemplos, entre outros, ilustram a  diferença entre a religião descrita nos relatos dos patriarcas e a religião do restante do Pentateuco. Os patriarcas tinham certas práticas religiosas condenadas pela lei. É difícil, portanto, imaginar que essa religião tivesse sido inventada por um autor que era um fiel javista. Se ele houvesse “inventado” a história de Abraão, teria escrito uma história mais “ortodoxa”. Os textos testemunham uma forma de religião antiga pré-javista”.

  1. Anacronismos

“Um versículo do ciclo de Abraão diz que “Abraão residiu por muito tempo na terra dos filisteus” (21, 34), mas  esses filisteus só se instalaram em Canaã depois de 1200 a.C. O nome da cidade da qual partiram Terah e sua família, “Ur dos caldeus” (11, 31), também constitui problema. A cidade de Ur é conhecida e muito antiga, mas o termo “Caldéia” é problemático. Os caldeus só surgem nos textos assírios no século IX a.C. Além disso, referir-se a “Ur dos caldeus” pressupõe a ascensão ao poder dos caldeus, ou seja, babilônicos, que só ocorre no final do século VII a.C. No início do segundo milênio, talvez se dissesse “Ur dos sumérios”. Tais dificuldades não perturbam aqueles estudiosos, eles as explicam por meio de anacronismos que não afetariam o fundo verdadeiramente histórico dos textos. Os autores dos relatos dos patriarcas substituíram os nomes antigos pelos nomes em uso na época em que escreviam.

Outra dificuldade para a hipótese do início do segundo milênio é o costume dos patriarcas, como Abraão, de se servir de camelos (12, 16). Aceita-se, em geral, que o camelo só foi domesticado e utilizado no Oriente Próximo antigo depois de 1200 a.C. É verdade que se conhecem alguns casos raros um pouco antes no segundo milênio. Poderíamos, assim, recorrer a tais casos excepcionais e afirmar que os patriarcas faziam um uso restrito de camelo. Mas prefere-se, em geral, explicar essas referências aos camelos como anacronismos. Chega-se a sugerir que o texto, de início, falava de jumentos, substituídos posteriormente por camelos.

Explicar tais dificuldades como anacronismos não  é, em si, uma solução absurda. Todos nós tendemos, ainda hoje, a introduzir semelhantes anacronismos em nossos textos. Um dos subúrbios da cidade de Ottawa se chamava, outrora, Eastview. Esse nome foi alterado, em 1969, para Ville de Vanier, Se escrevo em 1996: “Em minha chegada no Canadá, instalei-me em Vanier”, cometo um anacronismo. Quando cheguei ao Canadá, em 1960, a cidade se chamava ainda Eastview. Meu texto, cientificamente falando, não é exato, mas o leitor comum compreende mais facilmente, pois muitas  pessoas não sabem mais nada  a respeito dessa mudança de nome. Mas o leitor que se baseasse em meu texto para concluir que devo ter chegado ao país depois de 1969 se enganaria. É certo, em contrapartida, que o texto deve Ter sido escrito após 1969. Uma frase que afirmasse “Livingstone morreu na Zâmbia” seria outro exemplo de anacronismo. O país, que sob o regime britânico se chamava Rodésia do Norte, tornou-se Zâmbia no momento de sua independência, em 1964. Isso me indica que a frase deve ter sido escrita depois de 1964. Mas concluir, a partir daí, que Livingstone teria morrido depois de  1964 seria um erro histórico. Esse explorador britânico morreu em 1873 na região da África que hoje se chama Zâmbia” (pp. 28s).

Assim fala o professor universitário, à diferença do jornalista.

¹ Ed. Loyola, São Paulo, 160 x 230 mm, 183 pp. 

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb.
Nº 485 – Ano 2002 – Pág. 445.
Fonte: http://www.pr.gonet.biz/index-catolicos.php


Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Uma partilha equitativa para lutar contra o escândalo da fome das crianças

Papa Francisco | L'Osservatore Romano
27 de julho 2021

«Ainda hoje, a multiplicação de bens não resolve os problemas sem uma partilha justa. Vem-me à mente a tragédia da fome, que atinge particularmente os mais pequeninos. Face a escândalos como estes, Jesus dirige-nos um convite... semelhante ao que provavelmente recebeu o rapaz do Evangelho: “Coragem, dá o pouco que tens... acredita na força da gratuidade”», frisou o Papa no Angelus recitado da janela do estúdio particular do Palácio apostólico do Vaticano com os fiéis presentes na Praça de São Pedro ao meio-dia de 25 de julho. A seguir as palavras pronunciadas pelo Pontífice ao comentar o Evangelho dominical centrado no episódio da multiplicação dos pães e dos peixes.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da Liturgia deste domingo narra o célebre episódio da multiplicação dos pães e dos peixes, com o qual Jesus dá de comer a cerca de cinco mil pessoas que o vieram ouvir (cf. Jo 6, 1-15). É interessante ver como este prodígio acontece: Jesus não cria os pães e os peixes a partir do nada, não, mas opera a partir do que os discípulos lhe trazem. Um deles diz: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes: mas que é isso para tanta gente?» (v. 9). É pouco, é nada, mas a Jesus é suficiente.

Procuremos agora colocar-nos no lugar desse rapazito. Os discípulos pedem-lhe que partilhe tudo o que tem para comer. Parece uma proposta sem sentido, aliás, injusta. Por que privar uma pessoa, sobretudo um menino, do que trouxe de casa e tem o direito de reservar para si? Por que tirar a uma pessoa o que não é suficiente para alimentar toda a gente? Humanamente, é ilógico. Mas para Deus não. Pelo contrário, graças a esse pequeno dom gratuito e, portanto, heroico, Jesus pode dar de comer a todos. Para nós é um grande ensinamento. Diz-nos que o Senhor pode fazer muito com o pouco que pomos à sua disposição. Seria bom perguntarmo-nos todos os dias: “O que levo hoje a Jesus?”. Ele pode fazer muito com uma nossa oração, com um nosso gesto de caridade para com os outros, até com uma das nossas misérias entregues à sua misericórdia. A nossa pequenez a Jesus, e Ele faz milagres. É assim que Deus gosta de agir: Ele faz grandes coisas a partir das pequenas, a partir das gratuitas.

Todos os grandes protagonistas da Bíblia — Abraão, Maria e o menino de hoje — mostram esta lógica da pequenez e do dom. A lógica do dom é muito diferente da nossa. Procuramos acumular e aumentar o que temos, mas Jesus pede-nos para dar, para diminuir. Gostamos de acrescentar, gostamos das adições; Jesus gosta das subtrações, de tirar algo para o dar a outros. Queremos multiplicar para nós; Jesus aprecia quando dividimos com os outros, quando partilhamos. É curioso que nos relatos da multiplicação dos pães nos Evangelhos, o verbo “multiplicar” nunca aparece. Pelo contrário, os verbos utilizados são de sinal oposto: “partir”, “dar”, “distribuir” (cf. v. 11; Mt 14, 19; Mc 6, 41; Lc 9, 16). Mas o verbo “multiplicar” não é usado. O verdadeiro milagre, diz Jesus, não é a multiplicação que produz ostentação e poder, mas a divisão, a partilha, que aumenta o amor e permite que Deus realize maravilhas. Procuremos partilhar mais, tentemos este caminho que Jesus nos ensina.

Ainda hoje, a multiplicação de bens não resolve os problemas sem uma partilha justa. Vem-me à mente a tragédia da fome, que atinge particularmente os mais pequeninos. Foi calculado — oficialmente — que todos os dias no mundo cerca de sete mil crianças com menos de cinco anos morrem devido à desnutrição, pois não têm o suficiente para viver. Face a escândalos como estes, Jesus dirige-nos um convite, um convite semelhante ao que provavelmente recebeu o rapaz do Evangelho, que não tem nome e no qual todos nós nos podemos ver: “Coragem, dá o pouco que tens, os teus talentos, os teus bens, torna-os disponíveis para Jesus e para os teus irmãos. Não tenhas medo, nada se perderá, porque se partilhares, Deus multiplica. Expulsa a falsa modéstia de te sentires inadequado, confia. Acredita no amor, acredita no poder do serviço, acredita na força da gratuidade”.

Que a Virgem Maria, que respondeu “sim” à proposta sem precedentes de Deus, nos ajude a abrir o coração aos convites do Senhor e às necessidades dos outros.

No final da oração mariana, o Pontífice, pedindo uma salva de palmas para os avós e os idosos, recordou o primeiro Dia mundial a eles dedicado; depois expressou solidariedade para com as populações chinesas atingidas pelas inundações e abençoou os organizadores, os atletas e quantos participam nos Jogos Olímpicos de Tóquio nestes dias.

Amados irmãos e irmãs!

Acabámos de celebrar a Liturgia por ocasião do Primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. Um aplauso a todos os avós, a todos! Avós e netos, jovens e idosos juntos manifestaram uma das belas faces da Igreja e demonstraram a aliança entre as gerações. Convido a celebrar este Dia em cada comunidade e a visitar avós e idosos, aqueles que estão mais sozinhos, a fim de lhes transmitir a minha mensagem, inspirada na promessa de Jesus: “Estou contigo todos os dias”. Peço ao Senhor que esta festa possa ajudar-nos, a nós que somos mais velhos, a responder à sua chamada nesta estação da vida, e a mostrar à sociedade o valor da presença dos avós e dos idosos, especialmente nesta cultura do descarte. Os avós precisam dos jovens e os jovens precisam dos avós: devem falar uns com os outros, devem encontrar-se! Os avós têm a seiva da história que sobe e dá força à árvore que cresce. Lembro-me — penso que já o disse — daquelas palavras de um poeta: “Tudo o que a árvore tem de florescido vem do que está enterrado”. Sem diálogo entre jovens e avós, a história não avança, a vida não avança: precisamos de retomar isto, é um desafio para a nossa cultura. Os avós têm o direito de sonhar olhando para os jovens, e os jovens têm o direito à coragem da profecia, tirando a seiva dos avós. Por favor, fazei isto: encontrar avós e jovens e falar, conversar. Fareis felizes todos.

Nos últimos dias, chuvas torrenciais atingiram a cidade de Zhengzhou e a província de Henan na China, causando inundações devastadoras. Rezo pelas vítimas e pelas suas famílias, e expresso a minha proximidade e solidariedade a quantos sofrem por esta calamidade.

Na sexta-feira passada, os 32º Jogos Olímpicos foram inaugurados em Tóquio. Que neste tempo de pandemia, estes Jogos sejam um sinal de esperança, um sinal de fraternidade universal sob a bandeira da competição saudável. Deus abençoe os organizadores, os atletas e todos os que colaboram nesta grande festa do desporto!

Dirijo de coração uma saudação a vós, romanos e peregrinos. Em particular, saúdo o grupo de avós de Rovigo — obrigado por terdes vindo! — os jovens de Albinea que percorreram a Via Francigena desde a Emilia até Roma; e os participantes no “Rally de Roma Capital”. Saúdo também a comunidade do Cenáculo. Desejo bom domingo a todos. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista! Parabéns pela aprovação definitiva, a vós, rapazes da Imaculada!

Fonte: https://www.osservatoreromano.va/

A cautela da Igreja quanto às aparições reconhecidas de Nossa Senhora

Adam Jan Figel I Shutterstock
Por Arquidiocese de São Paulo

"A Igreja é tão cautelosa que não declarou e nem pode declarar dogma de fé nenhuma aparição", destaca o pe. Cido Pereira.

Aparições reconhecidas de Nossa Senhora e cautela da Igreja ao reconhecê-las: este foi o tema que o pe. Cido Pereira abordou na semana passada, em sua coluna no jornal O São Paulo. Ele respondeu, de fato, à seguinte pergunta da leitora Sônia Alves:

“Padre Cido, o que o senhor diz sobre as aparições de Nossa Senhora?”

Eis a resposta completa do sacerdote:

É uma pena, Sônia, que, de repente, as pessoas fiquem como que alienadas por esses fenômenos de aparições, que se sucedem tanto no Brasil quanto no mundo todo, sendo que a maioria deles – digo a você com toda a convicção –, não passa de alucinações de pessoas infelizmente desequilibradas, por mais tranquilidade que demonstrem ter.

Atenção à coerência das mensagens

Sônia, é uma pena que as pessoas não ouçam os pastores da Igreja que alertam contra esses fenômenos de aparições, oferecendo muitos critérios para a gente examinar antes de dar fé a eles. Entre esses critérios estão a coerência das mensagens, o equilíbrio psíquico dos videntes, a concordância ou não com os ensinamentos da Igreja. Você já reparou como muitas destas mensagens que colocam revelações na boca de Jesus, de Nossa Senhora, são muito mais ameaças do que palavras de orientação e confiança? Como qualquer profeta de mau agouro, muitos desses videntes só fazem anunciar castigos tremendos, fim do mundo, inferno… Ora, como acreditar que Jesus, o Bom Pastor, saia por aí anunciando desgraça em vez de salvação? Como acreditar que Maria, a doce mãe de Jesus, a mulher do silêncio, a mãe de bondade e de misericórdia, saia por aí anunciando que não está dando mais para segurar o braço de seu Filho, como se este fosse um vingador cruel pronto a despejar sua ira sobre a humanidade?

Aparições reconhecidas de Nossa Senhora não são dogma

É por tudo isso que a Igreja é prudente diante dessas aparições. A Igreja é tão cautelosa que não declarou e nem pode declarar dogma de fé nenhuma aparição e nenhuma mensagem transmitida nessas aparições. Ela não nega que essas aparições podem acontecer, porque Deus, sendo onipotente, pode fazer e permitir o que Ele quiser. No entanto, a Igreja entende e ensina que tudo o que Deus tem a dizer à humanidade já foi revelado pelos profetas do Antigo Testamento, por Jesus, a Palavra viva do Pai, e pelos apóstolos. As revelações de Deus terminaram com a morte do último apóstolo. Dito isso, minha irmã, é preciso que você tenha no seu coração que a Igreja leva tempo para reconhecer uma aparição de Maria. As aparições existem e nós veneramos: Nossa Senhora de Lourdes, de Fátima, de Guadalupe e Aparecida. Fique com Deus, minha irmã. Que Ele abençoe você e sua família.

 Fonte: Aleteia

A Igreja que agrada a todos

Guadium Press
O que aconteceria com a Igreja se adotasse para si as doutrinas do mundo?

Redação (05/07/2021 18:01Gaudium Press) Quem nunca quis agradar todo o mundo? É preciso reconhecer: trata-se geralmente de uma experiência amarga, ingrata e… fracassada! Mesmo quando se fez o possível, depois sabe-se que outro se ofendeu, que um terceiro interpretou mal, que alguém ficou com inveja, e assim por diante. Em suma, não é fácil agradar a todos.

O desastre de agradar a todos

Ora, esse fenômeno é mais indissociável da vida do homem do que parece…

Tome-se, por exemplo, o Sol. Enquanto que para uns, em determinada circunstância, ele está insuportavelmente quente, para outros ele aquece de forma insuficiente. Em certos lugares, é ele que sustenta a vida, em outros, ele causa a seca… Uns caminham debaixo de seus raios para fazer bem à própria saúde; outros fogem dele.

Suponhamos agora que o Sol pudesse pensar e desejasse agradar a todos e, de repente, chegasse aos seus “ouvidos” que ele está forte demais. Preocupado, ele resolve diminuir sua força, causando nevascas inimagináveis, frios históricos, congelamentos, mortes, etc. Em seguida, diriam que ele está muito fraco; então ele aumentaria sua intensidade, produzindo queimadas, cegueiras, secas, decessos em quantidade.

A verdade é que o Sol sustenta a vida na terra. Ele é ele, sem precisar se adaptar a ninguém. Tudo depende da posição e das condições que as pessoas têm em relação a ele. O que faz dele o eixo, a sustentação e fonte da vida é o fato de ele não se adulterar pela opinião de ninguém e ser sempre ele mesmo!

A doutrina da Igreja deve agradar?

As opiniões dos homens de hoje são tão distantes e tão opostas entre si, que binômios como Norte-Sul ou Verão-Inverno nem podem ser usados como termos de comparação.

Ora, não seria uma autêntica hipocrisia seguir aqueles que ensinam que devemos nos adaptar aos erros e aos horrores do mundo, para não ferir os demais? Esses não são como o sol para seu próximo, mas sim como um buraco negro que aniquila o que encontra no caminho.

A doutrina da Igreja sim é como o sol: se permanecer fiel a si mesma e imutável poderá manter as almas com vida. No entanto, se procurar adaptar-se às opiniões, ceder às doutrinas e aprovar os horrores do mundo, acabará por destruir a si e àqueles que a ela se confiam.

Por Cícero Leite

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Papa: aprender da amizade com Jesus o amor desinteressado e sem cálculo pelos outros

Fiéis e turistas na Praça São pedro para o Angelus | Vatican News

"É justo apresentar ao coração de Deus as nossas necessidades, mas o Senhor, que age bem além das nossas expectativas, deseja viver conosco sobretudo uma relação de amor. E o amor verdadeiro é desinteressado, é gratuito: não se ama para receber um favor em troca!"

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

https://youtu.be/u7Qu1UfNvos

No centro de uma fé imatura não existe Deus, mas as nossas necessidades. Assim, para viver uma relação de amor verdadeiro com o Senhor, devemos interrogar-nos sobre os motivos pelo qual O buscamos, fugindo assim da tentação idolátrica que leva a buscá-Lo apenas para o “próprio uso e consumo”, e depois de satisfeitos, “nos esquecemos dele”.

Jesus o Pão da vida: a narrativa do Evangelho de João da liturgia deste XVIII Domingo do Tempo Comum, ofereceu ao Santo Padre a ocasião para exortar-nos a buscar uma relação com Deus que “vá além das lógicas do interesse e do cálculo”, ou seja, a ter com Ele uma relação de amor.

Dirigindo-se aos fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro a uma temperatura de 34ºC, Francisco comenta que as pessoas que haviam testemunhado a multiplicação dos pães não haviam compreendido o significado do gesto, “se restringiram ao milagre externo e ao pão material.”

O risco da "tentação idolátrica"

Neste sentido, o Papa propõe a primeira pergunta que poderíamos fazer a nós mesmos: “Por que buscamos o Senhor? Por que eu busco o Senhor? Quais são as motivações da minha fé, da nossa fé?”:

“Temos necessidade de discernir isso, porque entre as tantas tentações que temos na vida, entre as tantas tentações há uma que poderíamos chamar de tentação idolátrica. É aquela que nos leva a buscar a Deus para nosso próprio uso e consumo, para resolver os problemas, para obter, graças a Ele, o que não conseguimos obter sozinhos, por interesse.”

Amor verdadeiro é desinteressado e gratuito

Mas assim – observou o Papa - a fé permanece superficial e miraculosa: “buscamos a Deus para matar nossa fome e depois quando estamos satisfeitos nos esquecemos dele”:

“No centro desta fé imatura não existe Deus, estão as nossas necessidades.  Penso nos nossos interesses, tantas coisas...É justo apresentar ao coração de Deus as nossas necessidades, mas o Senhor, que age bem além das nossas expectativas, deseja viver conosco sobretudo uma relação de amor. E o amor verdadeiro é desinteressado, é gratuito: não se ama para receber um favor em troca. Isso é interesse, e tantas vezes na vida nós somos interesseiros!”

Passar de uma fé mágica para uma fé que agrada a Deus

Vem então um segundo questionamento: "Mas, como fazer para purificar a nossa busca por Deus? Como passar de uma fé mágica, que só pensa nas próprias necessidades, para uma fé que agrada a Deus?”. E é o próprio Jesus que responde, afirmando que “a obra de Deus é acolher Aquele que o Pai enviou, ou seja, Ele mesmo, Jesus”:

“Não é acrescentar práticas religiosas ou observar especiais preceitos; é acolher Jesus, é acolhê-Lo na vida, é viver uma história de amor com Ele. Será Ele quem purificará a nossa fé. Sozinhos, não somos capazes. Mas o Senhor deseja uma relação de amor conosco: antes das coisas que recebemos e fazemos, existe Ele a ser amado. Existe uma relação com Ele que vai além das lógicas do interesse e do cálculo.”

A partir da amizade com Jesus, aprender a amar-nos uns aos outros

E isso – disse Francisco - vale não só em relação a Deus, mas também nas nossas relações humanas e sociais:

“[Quando buscamos sobretudo a satisfação das nossas necessidades, corremos o risco de usar as pessoas e de instrumentalizar as situações para os nossos objetivos.  Quantas vezes ouvimos sobre uma pessoa: 'Mas ele usa as pessoas e depois se esquece'. Usar as pessoas em proveito próprio, é feio isso! E uma sociedade que coloca no centro os interesses em vez das pessoas, é uma sociedade que não gera vida. O convite do Evangelho é este: em vez de nos preocuparmos apenas com o pão material que nos alimenta, acolhamos Jesus como o pão da vida e, a partir da amizade com Ele, aprendamos a amar-nos uns aos outros. Com gratuidade e sem cálculos.  Amor gratuito e sem cálculos, sem usar as pessoas, com gratuidade, com generosidade, com magnanimidade.]”

Rezemos agora à Virgem Santa - disse o Santo Padre ao concluir - Aquela que viveu a mais bela história de amor com Deus, para que nos conceda a graça de nos abrirmos ao encontro com o seu Filho.

Fonte: Vatican News

XVIII DOM TEMPO COMUM - Ano "B"

Dom Paulo Cezar | arqbrasília

Por Dom Paulo Cezar Costa / Arcebispo de Brasília

Eu sou o Pão da Vida

            A primeira leitura da liturgia deste domingo colocou diante de nós a experiência do Povo de Deus no deserto. O Povo murmura contra Moisés e Aarão: “Por que nos trouxeste a este deserto para matar de fome a toda esta gente?” O deserto é o descampado, o árido onde o homem sente a falta de tudo. É onde o homem se vê diante da sua solidão, onde a fragilidade da vida se manifesta, onde o ser humano se volta para o essencial. O Povo de Deus se viu privado de tudo, até do pão que é essencial à vida. É no deserto que nos encontramos com a nossa fragilidade, pois não podemos suprir a nós mesmos, devemos esperar por tudo. Nesta condição de essencialidade, o homem aprende que não é Deus, mas somente homem. O deserto relembra a precariedade da vida, a nossa condição de indigente. “No deserto, o homem se revela e se revela a si mesmo, manifestando o seu eu …” (M. Grilli, In Ascolto della Voce, 185). O deserto é uma imagem que serve para designar a nossa cultura e, principalmente, este tempo difícil de pandemia que estamos vivendo. Esta imagem revela à nossa opulência aquilo que é essencial à vida humana. No deserto, foi Deus quem nutriu o seu povo com o maná, para fazer Israel entender que “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Dt 8, 3).

O Evangelho inicia com a multidão que procura Jesus e Ele vai dizer que O estão procurando não pelos sinais, mas por que comeram pão e ficaram saciados (Jo 6, 26). Procurar é um verbo essencial no evangelho de são João. Os judeus não estão procurando Jesus por aquilo que Ele é, mas permaneceram na superfície, no alimento físico, que alimenta somente a fome do corpo. Não perceberam o verdadeiro sentido do sinal que Jesus tinha realizado. Os sinais, isto é, os milagres querem conduzir à experiência da fé, querem conduzir à fé em Jesus Cristo. Jesus vai, neste discurso, conduzindo progressivamente os ouvintes à fé nEle. A multiplicação dos pães quer conduzir à percepção de que Ele é o verdadeiro pão da vida. Vida, aqui, não é somente vida biológica, “é um conceito que abrange a salvação, que contém em si tudo o que o Redentor enviado por Deus ao mundo traz aos homens” (F. Mussner). Há, agora, no meio dos homens, alguém que pode dar vida. O ser humano foi criado para ter vida eterna. Ele traz em si, inscrito no seu ser, esta tensão para o infinito de Deus. O ser humano, no seu estar na existência, se manifesta como um ser vocacionado ao infinito.  Só o ser humano é capaz de refletir sobre a existência, só ele é autoconsciente de si, só ele se autotranscende rumo ao outro e rumo ao totalmente Outro, Deus. À precariedade da vida humana, Jesus mostra que a Sua vida, vindo ao encontro da nossa vida, dá a nós a vida eterna. Jesus é o verdadeiro pão do céu, Ele é o pão da vida. Que a precariedade da vida que estamos experimentando, neste tempo de pandemia, nos ajude a ancorarmos a nossa existência no absoluto de Jesus Cristo, Pão da Vida: “Eu sou o Pão da Vida.” (Jo 6, 35)

Fonte: Arquidiocese de Brasília

Santo Afonso Maria de Ligório

S. Afonso Maria de Ligório | ArquiSP
01 de agosto

Santo Afonso Maria de Ligório

Afonso de Ligório nasceu no dia 27 de setembro de 1696, no povoado de Marianela, em Nápoles, na Itália, filho de pais cristãos, ricos e nobres, que, ao se depararem com sua inteligência privilegiada, deram-lhe todas as condições e todo o suporte para tornar-se uma pessoa brilhante. Enquanto seu pai o preparava nos estudos acadêmicos e científicos, sua mãe preocupava-se em educá-lo nos caminhos da fé e do cristianismo. Ele cresceu um cristão fervoroso, músico, poeta, escritor e, com apenas dezesseis anos de idade, doutorou-se em direito civil e eclesiástico.

Passou a advogar e atender no fórum de Nápoles, porém jamais abandonou sua vida espiritual, que era muito intensa. Sempre foi muito prudente, nunca advogou para a Corte, atendia a todos, ricos ou pobres, com igual empenho. Porém atendia, em primeiro lugar, os pobres, que não tinham como pagar um advogado, não por uma questão moral, mas porque era cristão.

Depois de dez anos, tornara-se um memorável e bem sucedido advogado, cuja fama chegara aos fóruns jurídicos de toda a Itália. Entretanto, por exclusiva interferência política, perdeu uma causa de grande repercussão social, ocasionando-lhe uma violenta desilusão moral. A experiência do mundo e a forte corrupção moral já eram objeto de suas reflexões, após esse acontecimento decidiu abandonar tudo e seguir a vida religiosa.

O pai, a princípio, não concordou, mas, vendo o filho renunciar à herança e aos títulos de nobreza, com alegria no coração, aceitou sua decisão. Afonso concluiu os estudos de teologia, sendo ordenado sacerdote aos trinta anos, em 1726. Escolheu o nome de Maria para homenagear o Nosso Redentor por meio da Santíssima Mãe, aos quais dedicava toda a sua devoção, e agora também a vida.

Desde então, colocou seus muitos talentos a serviço do Povo de Deus, evidenciando ainda mais os da bondade, da caridade, da fé em Cristo e do conforto espiritual que passava a seus semelhantes. Em suas pregações, Afonso Maria usava as qualidades da oratória e colocava sua ciência a serviço do Redentor. As suas palavras eram um bálsamo aos que procuravam reconciliação e orientação, por meio do confessionário, ministério ao qual se dedicou durante todo o seu apostolado. Aos que lhe perguntavam qual era o seu lema, dizia: "Deus me enviou para evangelizar os pobres".

Para viver plenamente o seu lema, em 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor, ou dos Padres Redentoristas, destinada, exclusivamente, à pregação aos pobres, às regiões de população abandonada, sob a forma de missões e retiros. Ele mesmo viajou por quase todo o sul da Itália pregando a Palavra de Deus e a devoção a Maria, entremeando sua atividade pastoral com a de escritor de livros ascéticos e teológicos. Com tudo isso, conseguiu a conversão de muitas pessoas.

Em 1762, obedecendo à indicação do papa, aceitou ser o bispo da diocese de Santa Águeda dos Godos, diante da qual permaneceu durante treze anos. Portador de artrite degenerativa deformante, já paralítico e quase cego, retirou-se ao seu convento, onde completou sua extensa e importantíssima obra literária, composta de cento e vinte livros e tratados. Entre os mais célebres estão: "Teologia moral"; "Glórias de Maria", "Visitas ao SS. Sacramento"; além do "Tratado sobre a oração".

Depois de doze anos de muito sofrimento físico, Afonso Maria de Ligório morreu aos noventa e um anos, no dia 1º de agosto de 1787, em Nocera dei Pagani, Salerno, Itália. Canonizado em 1839, foi declarado doutor da Igreja em 1871. O papa Pio XII proclamou santo Afonso Maria de Ligório Padroeiro dos Confessores e dos Teólogos de Teologia Moral em 1950.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF