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segunda-feira, 29 de maio de 2023

Tempo Comum

Tempo Comum | CNBB

TEMPO COMUM

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

O Tempo Comum é o tempo litúrgico mais extenso, sendo 34 semanas, divididas em duas partes. A primeira parte inicia após a Festa do Batismo do Senhor e vai até a terça-feira de Carnaval. A segunda parte inicia após a festa de Pentecostes. A cor predominante desse tempo é o verde, que simboliza a esperança, a esperança na vinda do reino de Deus. Durante o Tempo Comum, acompanhamos Jesus em sua vida pública e percorrendo Israel até chegar em Jerusalém e ser aclamado como Rei.  

O Tempo Comum encerra o ano litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei e predomina durante quase todo o ano. Durante o Tempo Comum, vivemos a esperança da chegada do reino de Deus e da segunda vinda de Cristo. Vivemos a expectativa do “já” e “ainda não”, ou seja, construir o Reino de Deus aqui na terra para contemplá-lo de maneira definitiva no céu.  

Durante o Tempo Comum, somos enviados por Jesus a ser missionários e anunciar o Reino de Deus para as pessoas. Conduzir ao batismo aqueles que ainda não foram batizados, e iluminar a vida daqueles que andam nas trevas. Essa é a nossa missão como cristãos: ser construtores da paz e ser luz para aqueles que andam nas trevas. Temos que apontar o cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo.  

Algumas solenidades e festas importantes ocorrem durante o Tempo Comum, dentre algumas destacamos: Santíssima Trindade, que ocorre no domingo após Pentecostes; Solenidade de São Pedro e São Paulo, no fim do mês de junho ou início de julho; Assunção de Nossa Senhora, no dia 15 de agosto; e a Solenidade de Cristo Rei, na última semana do Tempo Comum.  

O ano litúrgico como um todo, dentre os seus tempos litúrgicos, gira em torno de uma única pessoa: Jesus Cristo. O centro do ano litúrgico é a Páscoa e todo o ano litúrgico gira em torno do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus. 

Algumas celebrações importantes acontecem ao longo do ano e marcam a vida da Igreja. No mês de agosto, celebramos o mês vocacional e recordamos que cada batizado é chamado por Deus a construir o Reino de Deus aqui na terra e chamado para uma vocação específica e ajudar a sua comunidade a crescer no discipulado de Jesus.  

O Tempo Comum nos ajuda a ter um senso de comunidade, ou seja, ninguém constrói o Reino de Deus sozinho, mas com a ajuda do próximo. Jesus não enviou um discípulo sozinho para edificar o reino, mas enviou 12. O próprio Jesus não evangelizava sozinho, mas o grupo dos discípulos ia junto com ele. Da mesma forma hoje, Jesus não nos envia sozinhos para a missão, mas junto com a comunidade. Aproveitemos esse Tempo Comum para nutrir em nosso coração o desejo de ser discípulos e missionários do Senhor.  

O “Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Esse verbo encarnado é Jesus, a palavra eterna do Pai que veio habitar entre nós, é isso que vivemos e celebramos durante o Tempo Comum. Agradeçamos a Deus por ter enviado o seu Filho Jesus para nos salvar. E é nossa missão levar adiante essa Palavra no mundo de hoje.  

Podemos entender como Tempo Comum um longo período de 34 semanas, em que somos convidados a pôr em pratica o Reino de Deus e anunciar Jesus Cristo às pessoas. A pausa que o Tempo Comum faz, durante a Quaresma, é uma pausa restauradora e tem uma total ligação com o mistério que está sendo celebrado. Quando o Tempo Comum retoma, após a Solenidade de Pentecostes, somos enviados por Jesus da mesma forma que os discípulos foram para sair anunciar o Reino de Deus.  

Temos que ir ao encontro do outro, como o Papa Francisco nos incita e sentir o cheiro das ovelhas. Temos que ir ao encontro daqueles que foram batizados, mas não vivem a fé no momento, se encontram afastados da Igreja. Temos que resgatar essas pessoas para Deus, novamente. O Espírito Santo recebido em Pentecostes nos guiará para essa missão.  

O Tempo Comum, ainda, apresenta a vida pública de Jesus propriamente dita. Acompanhamos os milagres, curas, ensinamentos e pregações. A cada semana do Tempo Comum aprofundamos um aspecto da vida de Jesus. O Tempo Comum nos aproxima da vida de Jesus.  

Durante esse período, rezemos pelas necessidades da Igreja, pelo Papa Francisco, por nosso bispo diocesano, padres, diáconos e seminaristas. Rezemos para que nunca faltem pessoas dispostas para levar adiante a mensagem do Evangelho. Que a Igreja conduzida pelo Papa Francisco continue sendo sinal de salvação para todos.  

Celebremos o mistério da Palavra de Deus encarnada ao longo desse Tempo Comum e peçamos que Deus nos guie na missão de discípulos e missionários de Jesus. Amém.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

domingo, 28 de maio de 2023

TEOLOGIA: O Espírito Santo na Revelação e na Igreja

Dumitru Staniloae | ECCLESIA

O Espírito Santo na Revelação e na Igreja

Dumitru Staniloae

O Espírito Santo, introduzindo a energia divina nas profundezas da criatura, suscita, ao mesmo tempo, na medida em que esta energia vem inteiramente de Cristo, uma sensibilidade para Deus, pela presença e ação divinas na vida humana e no mundo. “Sem o Espírito Santo, escreve santo Atanásio, somos estranhos a Deus e estamos longe d’Ele. Pelo Espírito participamos de Deus. Pois estar em Deus não depende de nós, mas do Espírito que está em nós e habita em nós, enquanto o conservamos em nós pela confissão (da fé)” (Or. III contra Arianos, PG 26, 373). No Espírito Santo e, por conseguinte, em Cristo, Deus deifica a criatura, porque o Espírito a faz transparente a Deus. “N’Ele (no Espírito), nota de novo santo Atanásio, o Verbo glorifica a criatura e, deificando-a, apresenta-a ao Pai. Mas, Aquele que unifica a criatura com o Verbo não podia ser ele mesmo uma criatura” (Ep. Ad Serapionem, PG 26, 589).

Esta sensibilidade é, em primeiro lugar, a capacidade que a alma recebe de perceber Deus para lá de tudo. Mas aquele que se torna sensível a Deus, torna-se igualmente sensível aos seus semelhantes: vê Deus neles, e vê-os em Deus. Tal sensibilidade por Deus torna, pois, o homem plenamente humano.

O primeiro grau dessa sensibilidade é a fé. À medida que ela se desenvolve, a intuição da realidade transcendente, mas simultaneamente omnipresente de Deus não cessa de aumentar no homem. Aquele que tem tal sensibilidade vê Deus em toda a parte, em todas as coisas. Implantada na alma pelo Espírito, esta sensibilidade é, alternadamente, ora pelo Espírito Santo, ora pelo homem. Este sentimento de estar sempre e em todo o momento na presença de Deus impele a uma oração incessante.

Tal sensibilidade é, ao mesmo tempo, um profundo afeto e um sentimento agudo de responsabilidade para com Deus. Os Padres gregos chamaram-na aisthêsis toû noos, “sensibilidade do Espírito” (Diodoco de Fotice, Sermão ascético, 34, 36, 37, 39).

A responsabilidade pode tomar a forma de temor, de obediência a uma missão, de obrigação de evitar o pecado, de levar uma vida pura. Toda esta gama de sentimentos é produzida pelo Espírito Santo. No ser humano, criatura ínfima, a responsabilidade para com Deus, suscitada pelo Espírito, toma a forma de adoração, se é um afeto puro, ou de temor e tremor, se está associada à consciência de pecado, ou ainda de uma missão interior, se descobre a obrigação absoluta de cumprir a vontade de Deus. Só o Espírito pode despertar em nós a resposta ao amor e ao apelo do Pai, que o próprio Espírito nos traz. Só o Espírito pode dar a essa resposta o seu carácter de fervor e gozo. Só o Espírito pode fazer-nos participar da sensibilidade e responsabilidade do Filho para com o seu Pai.

Todas estas atitudes aparecem naqueles que recebem a Revelação. Se, nas primeiras etapas da Revelação, o Espírito de Deus impressionou os homens através, sobretudo, de manifestações de poder, através de atos exteriores extraordinários, a partir dos profetas a sua ação exprimiu-se antes pela força espiritual e moral que lhes concedeu, assim como a outros homens de Deus. Tal dom implica a colaboração do homem, o seu esforço por aprofundar a sua relação com Deus, por cumprir a missão que lhe foi confiada, por levar uma vida conforme à vontade divina.

A inabitação e a ação na alma caracterizam o Espírito Santo, porque a alma, por natureza, está preparada para essa ação do Espírito nela. Como expressão da hipostásis [i.e., realidade pessoal] humana, a alma é uma imagem do Logos divino e, pela atração que sente naturalmente para com o Deus pessoal e as pessoas humanas, tem em si mesma, desde o princípio, o Espírito de Deus.

Debilitando essa tendência na relação com a Pessoa suprema e com as demais pessoas humanas, o pecado trouxe à alma um estado contrário à sua natureza. A inabitação do Espírito restabelece e fortalece a alma na sua capacidade de relação com Deus e o próximo; desse modo, restaura-lhe o estado conforme à sua natureza – pros to ek phuseôs kallos [à beleza da sua natureza] – como disse são Basílio, o Grande (De Spiritu Sancto, PG, 109).

O Espírito Santo, justamente porque representa a perfeição da relação entre a pessoa do Filho e a do Pai, tem a capacidade de fortalecer a relação do sujeito humano, como imagem do Filho divino, com Deus e com cada sujeito pessoal.

É assim que a alma se torna transparente a Deus e Deus se torna transparente à alma. A santidade é o estado de transparência do Espírito que se torna como a interioridade da alma, ao mesmo tempo que a transparência da alma que se torna como a interioridade de Deus. É, unicamente, unificando a sua subjetividade com a subjectividade do Espírito, santo por essência, que o homem pode santificar-se. Unificada com o Espírito, a alma fica transparente, vê o Filho e o Pai, faz resplandecer Deus à sua volta. É o Espírito, enquanto Terceiro, que abre o homem para Deus e o homem para o homem, porque Ele mesmo é a capacidade suprema de abertura.

Antes da encarnação, o Espírito Santo irradiava o Verbo. Porém, é em Cristo que se realiza o retorno do Espírito Santo ao ser humano. Cristo, sendo a hipóstasis [i.e., realidade pessoal] que fez sua a natureza humana, leva na sua própria humanidade o Espírito em plenitude. Na encarnação do Filho, o Espírito encontra-se hipostaticamente unido [ou seja, unido até às raízes da nossa identidade pessoal] a Ele como estava já desde toda a eternidade. Cristo, como homem, recebe assim, para sempre, o Espírito, como receberam os grandes líderes e profetas de Israel. Mas, ao mesmo tempo, Ele [Cristo] recebe o Espírito por inteiro, enquanto aqueles não receberam. Este Espírito, enquanto hipostásis, repousa permanentemente sobre o Filho durante a sua encarnação. É isto que é revelado no Batismo quando o Espírito aparece entre o Pai e o Filho encarnado, unindo-os, de certo modo, e circulando de um para o outro. O Pai apresenta todos ao Filho encarnado, sobre o qual plana o Espírito sob a forma de uma pomba: “Este é o meu filho amado, no qual pus todo o meu afeto” (Mt 3,17).

A encarnação do Filho permite esta manifestação. Enquanto homem, o Filho responde em nosso nome ao amor do Pai com um amor obediente até ao sacrifício da cruz; dá essa resposta permanente no Espírito que reside entre Ele e o Pai. Cristo, enquanto homem, eleva ao mais alto grau a sensibilidade humana para com o Pai e a responsabilidade humana para com todos os homens. É por isto que eleva também ao mais alto grau a oração que dirige ao Pai em favor de todos os irmãos em humanidade, e por toda a criação. Por isso recebe, como homem, o poder mais alto da parte do Pai: o poder sobrenatural do amor, poder capaz de transformar as almas e ultrapassar os limites da natureza.

Porém, este poder pleno sobre as almas pelo qual as torna sensíveis a Deus e provoca, sem destruir as leis da natureza, efeitos que não provêm desta, Cristo manifesta-o somente no momento da sua ressurreição e, sobretudo, na ascensão do seu corpo, quando a sua natureza humana, completamente deificada, se torna plenamente transparente para o Pai e para os homens, quando realiza, como homem, também, e de uma maneira total, a sua capacidade de comunhão com o Pai e com os homens.

O Senhor promete aos apóstolos que o Espírito Santo também os preencherá da sua força. “Quando o Espírito Santo vier sobre vós, recebereis a minha força” (At 1, 8). Sem a força do Espírito, quer dizer, sem o Pentecostes, a Igreja não teria chegado à sua existência concreta e não teria durado. A Revelação não seria imposta como uma evidência. “A minha palavra e a minha pregação, escreve Paulo aos Coríntios, nada tinham da linguagem persuasiva da sabedoria, mas era o Espírito que manifestava o seu poder, para que a vossa fé fosse fundada não sobre a sabedoria dos homens, mas sobre o poder de Deus” (1 Cor 2,4-5; cf. 1 Ts 1,5).

Pode-se considerar que o Espírito está implicado em todos os momentos onde a Escritura evoca o poder com o qual o Evangelho se propagou, uma vez que a Boa Nova é poder de Deus para aquele que crê (1 Cor 1,16). A Igreja, como Reino de Deus em marcha, começa com a penetração daquele Evangelho de poder nas almas, e desenvolve-se e perdura através dele: porque o Reino de Deus não consiste na palavra, mas no poder (1 Cor 4, 20). O Espírito Santo, descido no Pentecostes, não funda somente a Igreja, mas permanece nela com a torrente das suas energias incriadas, invisíveis, mas operantes. A Escritura, assinalando que o Reino de Deus consiste no poder, indicou através dele que o Espírito e a sua força se manifestam na Igreja. A Igreja é a revelação de Deus em Cristo, cuja eficácia prossegue através do Espírito e no seu poder. Ela continua a Revelação em Cristo, não como um incremento do seu conteúdo, mas como atualização, no Espírito, da presença ativa de Cristo que se revelou plenamente nos seus atos e palavras e pelos dos apóstolos. Pelo Espírito, tomamos consciência da nossa unidade com Cristo e entre nós, enquanto corpo de Cristo. Pela experiência do poder do Espírito, Cristo torna-se-nos transparente.

É também pelo Espírito que Deus mantém o mundo, atua nele e, através do mistério da Igreja, o conduz para o seu telos [i.e., a sua finalidade], para a sua realização. É pelo Espírito Santo que os homens acolhem a Revelação de Deus e que Deus, neles, pode atuar. É nas águas vivas que manam do Espírito Santo que a Igreja irriga as suas raízes, e nas quais os seus membros extraem a sua força, pela fé, no progresso na santidade. É pelo Espírito Santo que se atualiza e irrompe a comunhão daqueles que depositam em Cristo toda a sua fé.

Assim, do mesmo modo que na Trindade o Espírito Santo mostra que o Pai e o Filho são distintos, mas uno em essência, unidos por amor; o Espírito Santo, do mesmo modo, consagra-nos como pessoas inteiramente distintas, edificando-nos na Igreja, unindo-nos pela alegria de uma inteira comunhão. Pelo Espírito Santo entramos no amor do Pai e do Filho, sentimos, até na distinção, todo o fogo do amor do Pai para com o seu Filho e para conosco, na medida em que estamos unidos ao Filho; o Espírito Santo é o fogo – fogo distinto, hipostático – que irradia do Filho, feito nosso Irmão, que arde em nós tornando-se no nosso próprio amor filial pelo Pai. Pelo Espírito Santo sentimo-nos unidos em Cristo e orientados para o Pai, e assim formamos a Igreja. Ubi Spiritus Sanctus, ibi ecclesia (onde está o Espírito Santo está a Igreja), dizia santo Ireneu, e este adágio pode inverter-se: Ubi ecclesia, ibi Spiritus Sanctus (onde está a Igreja está o Espírito Santo). Mas santo Ireneu precisa: “Onde está o Espírito Santo está a Igreja, e onde está a Igreja, está a verdade”. Direi que a verdade é a plenitude da realidade. E a plenitude da realidade é Deus feito homem, é a comunhão com Ele. Assim é a Igreja. A experiência da plena comunhão pessoal tornou-se possível para nós através da Encarnação. Não há comunhão senão com uma pessoa, e a pessoa perfeita, que se torna plenamente acessível – e conservando inteiramente o seu mistério -, é Deus encarnado: é Cristo. Não há verdadeira vida, verdadeiro gozo, senão na nossa comunhão com Cristo e em Cristo, quer dizer, na Igreja.

Mas Cristo só pode fazer brilhar em nós essa comunhão porque Ele mesmo vive na comunhão infinita, perfeita, das Pessoas da Trindade. Dando-nos o Espírito Santo, Cristo dá-nos o Espírito dessa perfeita comunhão trinitária.

O homem agoniza quando é privada de toda a comunhão com outro homem. Mas a comunhão entre pessoas humanas agoniza quando não encontra a sua fonte e seu fundamento em Deus, Pessoa infinita ou, melhor dito, Unidade Infinita de Pessoas divinas.

A relação entre pessoa e pessoa é a única via da realidade e do mistério. É o aprofundamento pleno do amor de uma pessoa na outra, e somente isto procura a vida e a alegria. Mas não se pode obter a revelação do outro como profundidade que brota, como fonte de uma vida sem limites, sem o Espírito Santo, que nos mostra o outro em Deus, no mistério do Deus pessoal que se revela. A única pessoa da qual brotam inesgotavelmente a vida e a luz é Cristo.

As experiências místicas que os jovens procuram, hoje, no ioga ou na metafísica hindu estão condenadas ao fracasso se não desembocam na comunhão pessoal com Cristo, na inesgotável profundidade e calor da sua pessoa divino-humana. É somente na pessoa divino-humana de Cristo, conhecida graças ao fogo do Espírito, que a pessoa humana se salva do inferno da solidão. Porque em nenhum lugar, senão na comunhão plena e inesgotável com a pessoa de Cristo, e unicamente em Jesus Cristo, que encontramos o Espírito de uma incansável comunhão entre os homens, encontramos a Igreja. Por todas estas razões, o Espírito Santo é a Pessoa que faz do homem uma sarça ardente, que nos enche da luz de Cristo, se tentamos, sem cessar, viver em Cristo, tendo sempre no nosso pensamento o nome de Jesus. Mas só a Igreja pode sustentar em nós a oração incessante a Jesus. Como disse Olivier Clément, a Igreja é, no mundo, a grande sarça ardente, cujo fogo infinito nada é senão o Espírito Santo.

Contacts, vol XXVI, nº 87 (1974).

Traduzido por Rui Fernandes sj da versão em castelhano, disponível em ECCLESIA


Fonte: https://www.ecclesia.org.br/

O Espírito Santo: intercessor em favor de todos

O Espírito Santo | Guadium Press
“A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7)

Redação (28/05/2023 12:36Gaudium Press) Após a Igreja ter reservado cinquenta dias para comemorar as festas Pascais, ela encerra este ciclo litúrgico celebrando a solenidade de Pentecostes.

Que ensinamentos podemos extrair de tal liturgia?

A presença do Espírito Santo

Quando São Paulo passou por Corinto e chegou à cidade de Éfeso, chamou alguns discípulos que haviam abraçado a fé cristã, e lhes perguntou: “Vós recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?” Ao que eles responderam: “Nós nem sequer ouvimos dizer que há Espírito Santo” (At 19,1-2). Após batizá-los, receberam o Espírito Santo ao impor-lhes as mãos; então, começaram a falar em línguas e a profetizar (cf. At 19,6).

De fato, grandes são os benefícios e assistências que o Espírito Santo concede às almas – segundo afirmam os teólogos –,[1] mas infelizmente, poucos são aqueles que O invocam e O conhecem. Sem embargo, todos os dons, que as criaturas do Céu e da Terra possuem na ordem da natureza e da graça, são provenientes da Terceira Pessoa da Trindade, da maneira mais íntima e espiritual.[2] Além da escassez de doutrina acerca do Espírito Santo, e da falta de devidas devoções a Ele, há um motivo que leva a maioria dos cristãos a desconhecê-Lo: as suas manifestações muito pouco sensíveis e perceptíveis aos olhos humanos.

Segundo as Escrituras, Ele apenas apareceu três vezes de maneira sensível a nós: no Batismo de Jesus, ao descer em forma de pomba; quando Jesus se transfigurou no monte Tabor, aparecendo como uma nuvem resplandecente; e ao pousar em forma de línguas de fogo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, reunidos no Cenáculo, a qual a liturgia de hoje recorda.

São Lucas, no Atos dos Apóstolos, descreve que os discípulos de Jesus estavam reunidos todos no mesmo lugar:

“De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam” (At 2,1-2).

Neste instante, apareceram línguas de fogo que se repartiram e desceram sobre cada um deles, e “todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2,3-4).

Sem dúvida alguma, esta foi uma manifestação patente do Espírito Santo. Entretanto, é preciso ressaltar que esta não é a forma ordinária de Sua ação nas almas. Na maioria das vezes, Ele age de maneira discreta em nosso interior. Isto, porém, não significa que os auxílios d’Ele, Sua presença e os efeitos de Sua ação em nossas almas sejam menos eficazes.

A ação do Paráclito nas almas

Vemos, na segunda leitura, São Paulo afirmar que há diversidade de dons e de ministérios, mas um mesmo é o Espírito que intercede em favor de todos, para o bem comum (cf. 1Cor 12,4-7).

Há na Santa Igreja diversidade de membros, de carismas, como também há diversos graus de santidade. Uns possuem — segundo o Pe. Royo Marín[3] — a graça santificante[4] em suas manifestações mais excelsas; outros são, todavia, menos santos; e há aquelas almas que possuem apenas o imprescindível para se salvarem. Com efeito, em união com o Pai e o Filho, o Espírito Santo é o hóspede destas almas em estado de graça,[5] onde mora como em um verdadeiro templo, e por esta razão, Ele não habita de uma maneira inoperante, mas orienta e conduz à perfeição — se a alma não põe obstáculos à sua ação —, levando-a à plena união com Deus.

Como se dá esta ação do Espírito Santo?

Quase sempre julgamos que os atos bons que tenhamos praticado são iniciativa de nosso próprio engenho. Não percebemos que, por detrás de nós, está o Espírito Santo nos inspirando, aconselhando e impulsionando-nos à prática da virtude e dos mandamentos. Muitas vezes não damos ouvido à “suave voz” do Divino Espírito Santo que diz em nosso interior o caminho a ser seguido, pois as preocupações da vida nos perturbam e preenchem nossa atenção.

Contudo, ainda que por desleixo nosso, ou até pelo lastimoso estado de inimizade com Deus no qual um pecador pode se achar, o Espírito Santo não deixa de auxiliar-nos.

Desta maneira, cabe a nós pedirmos a Maria Santíssima, a Esposa do Espírito Santo, que nos obtenha a graça de estarmos sempre atentos e abertos à ação do Paráclito, para que se operem em nossos corações maravilhas da graça cada vez mais eficazes.

Por Guilherme Motta


[1] Cf. MARÍN, Antônio Royo. El gran desconocido: El Espíritu Santo y sus dones. Madrid: BAC, 2004, p. 3-12.

[2] Cf. BASILE DE CÉSARÉE. L’Esprit-Saint, 24, 55. In: Michel Corbin. Paris: Cerf, 2010, p. 313.

[3] Cf. MARÍN, Antônio Royo. Op. cit., p. 55-57; 90

[4] A graça santificante é um dom sobrenatural infundido por Deus em nossa alma — no dia do nosso Batismo —, a fim de dar-nos uma participação verdadeira e real de sua própria natureza divina, fazendo-nos filhos seus e herdeiros da glória. Cf. MARÍN, Antônio Royo. Op. cit., p. 61.

[5] Por estado de graça, entende-se aquela alma batizada que não está em pecado mortal.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Papa em Pentecostes: diante das divisões do mundo, acolher e invocar o Espírito todos os dias

Papa Francoico na missa de Pentecostes (28), no Vaticano | Vatican News

Na Basílica de São Pedro, Francisco presidiu a missa de Pentecostes na manhã deste domingo (28) e refletiu sobre a ação do Espírito Santo em três momentos: na criação do mundo, na Igreja e nos nossos corações.

Andressa Collet – Vatican News

Neste domingo (28) de Pentecostes, o Papa presidiu a missa na Basílica de São Pedro enaltecendo a ação do Espírito Santo, “fonte inesgotável de harmonia”, em três diferentes momentos: no mundo que criou, na Igreja e nos nossos corações. O celebrante foi o cardeal brasileiro João Braz de Aviz, prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

O Espírito Santo se opõe ao espírito divisor

Em primeiro lugar, na criação do mundo, Francisco coloca o questionamento que muitos podem se fazer: “se tudo tem a sua origem no Pai, se tudo é criado por meio do Filho, qual é o papel específico do Espírito?”. Partindo de São Basílio, o Papa explica em uma palavra: dar harmonia ao mundo, dando ordem à desordem e coesão à dispersão, mas não “mudando a realidade, harmonizando-a”. Sobretudo no mundo de hoje, de tanta discórdia e divisão, anestesiados pela indiferença apesar de tanta conexão. De tantas guerras e conflitos, tudo alimentado pelo “espírito da divisão, o diabo”, descreve o Pontífice ao desafogar: “parece incrível o mal que o homem pode fazer…”.

“E sabendo o Senhor que, perante o mal da discórdia, os nossos esforços para construir a harmonia não são suficientes, Ele, no momento mais alto da sua Páscoa, no ponto culminante da salvação, derrama sobre o mundo criado o seu Espírito bom, o Espírito Santo, que Se opõe ao espírito divisor, porque é harmonia, Espírito de unidade que traz a paz. Invoquemo-Lo todos os dias sobre o nosso mundo, sobre a nossa vida e diante de todo tipo de divisão!”

O Espírito Santo é o coração da sinodalidade

Em seguida, o Papa reflete sobre a ação do Espírito Santo na Igreja, a partir de Pentecostes, quando desce sobre cada um dos Apóstolos. Num contexto plural de “graças particulares e carismas diversos”, em vez da confusão, o Espírito cria harmonia, “sem homogeneizar nem uniformizar”. Como disse São Paulo, «há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo» (1 Cor 12, 4.13).

E o Sínodo em curso, destaca o Papa, “é – e deve ser – um caminho segundo o Espírito: não um parlamento para reclamar direitos e exigências à maneira das agendas de trabalho no mundo, nem ocasião de se deixar levar ao sabor de qualquer vento. Mas o Sínodo é uma oportunidade para ser dóceis ao sopro do Espírito”. O “coração da sinodalidade” é o próprio Espírito Santo, afirma Francisco, ao reforçar:

“Sem Ele, a Igreja fica inerte; a fé não passa duma doutrina, a moral dum dever, a pastoral dum trabalho. Com Ele, pelo contrário, a fé é vida, o amor do Senhor conquista-nos e a esperança renasce. Coloquemos de novo o Espírito Santo no centro da Igreja; caso contrário, o nosso coração não arderá de amor por Jesus, mas por nós mesmos. Ponhamos o Espírito no início e no coração dos trabalhos sinodais.”

Acolher e invocar o Espírito nos corações

Por fim, o Pontífice analisa a ação do Espírito nos nossos corações, que procura perdoar os pecados com harmonia. Assim, o Papa finaliza a homilia na missa de Pentecostes, convidando a invocar diariamente o Espírito Santo: “comecemos o dia rezando-Lhe, tornemo-nos dóceis ao Espírito Santo!”, encoraja Francisco, ao semear em todos, também, esse acolhimento à força criadora do Espírito:

“E hoje, na sua festa, questionemo-nos: Sou dócil à harmonia do Espírito? Ou corro atrás dos meus projetos, das minhas ideias sem me deixar moldar, sem me fazer mudar por Ele? O meu modo de viver a fé é dócil ao Espírito ou é teimoso? Teimoso com as letras, teimoso com as chamadas doutrinas que são apenas expressões frias de uma vida? Sou precipitado em julgar, acuso e bato a porta na cara aos outros, considerando-me vítima de tudo e de todos? Ou acolho a harmoniosa força criadora do Espírito, acolho a «graça de estar juntos» que Ele inspira, o seu perdão que dá paz? E, por minha vez, perdoo? O perdão é dar espaço para que venha o Espírito... Promovo a reconciliação e crio comunhão ou sempre estou procurando, metendo o nariz onde existem as dificuldades, para fofocar, para dividir, para destruir? Perdoo, promovo reconciliação, crio comunhão? Se o mundo está dividido, se a Igreja se polariza, se o coração se fragmenta, não percamos tempo a criticar os outros e a zangar-nos com nós mesmos, mas invoquemos o Espírito: Ele é capaz de resolver essa coisas.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A boca fala do que o coração está cheio

Heorhii Savka | Shutterstock | #image_title

Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Quando deixamos de contemplar a beleza, que é fruto e manifestação do amor de Deus, a feiura e o mal fermentam e crescem em nosso coração, ocupando-o e transbordando em nossas palavras.

Algum tempo atrás, eu percorria com alguns alunos uma trilha por um local onde a natureza era particularmente bela. De repente, uma criança, próxima a nós, exclamou: “que coisa feia!”. Evidentemente, chamou a atenção de todos e continuou dizendo: “vejam quanto lixo deixaram na trilha”. A observação suscitou uma série de elogios à educação do menino, à sua atenção para com o meio ambiente e o descarte adequado do lixo. Contudo, havia ali também um problema: diante da beleza da Criação, o que chamou a atenção foi a feiura dos erros humanos.

O episódio me veio à memória recentemente, num concerto de música sacra. Terminada a apresentação, foi dada a palavra a um sacerdote, homem de erudição e sabedoria comprovadas. Após um rápido elogio aos músicos, ele continuou falando sobre o “lixo cultural” que é frequentemente considerado arte nos dias de hoje. Tanto o menino quanto o sacerdote estavam focados na feiura e não na beleza. Suas observações, tanto sobre o lixo material na trilha quanto sobre o lixo imaterial em nosso meio artístico eram justas, mas funcionavam como um anteparo, que se colocava acima da beleza que Deus lhes oferecia, por meio da natureza ou por meio da criatividade humana.

O que está crescendo em nosso coração?

“Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isso é que contamina o homem. […] Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos” (Mc 7, 15-21) e “a boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12, 34), constata Jesus em sua pregação. Segundo C.S. Lewis, o diabo ensina a seu aprendiz que não precisa fazer com que as pessoas o sigam, basta que elas olhem mais para a sua maldade que para a bondade de Deus, para que acabem se tornando maus e se afastando do Pai (Cartas de Um Diabo a Seu Aprendiz. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017).

Quando deixamos de contemplar a beleza, que é fruto e manifestação do amor de Deus, a feiura e o mal fermentam e crescem em nosso coração, ocupando-o e transbordando em nossas palavras. Muitos influenciadores e mídias sociais padecem desse problema. Estão tão focados em denunciar as mazelas do mundo que deixam de anunciar a beleza que nos foi dada por Deus. Mesmo que com boa intenção, nos afastam da Graça, em seu afã de nos proteger da desgraça.

A meta justa é sempre necessária

Alguns dirão que, num mundo como o nosso, não se pode ficar ingenuamente focados na beleza e no bem. É necessário estar atento aos males que nos espreitam na realidade, nas ideologias, nas más intenções dos poderosos, na exploração e na opressão que vitimam fracos e desamparados. Essa atenção para com os males do mundo é realmente necessária, mas como superar esses problemas sem ter uma justa visão do bem? Sem o olhar fixo nessa meta, acabamos por nos perder nos vários descaminhos que sutilmente urdidos pelo mal.

Não se trata de uma crença irracional na força do pensamento positivo, de uma fuga ilusória da realidade. Quantos casamentos que poderiam ser felizes não se tornaram infelizes porque o casal desaprendeu a ver o fascínio que originalmente encontraram um no outro e passaram a ver só seus defeitos? Quantas ditadura não floresceram porque os revolucionários, em seu afã em derrubar um governo iniquo, não perceberam que estavam patrocinando outro semelhante? No micro e no macro, necessitamos da contemplação da beleza e do amor, que preenche o coração e se torna discernimento intelectual.

A verdadeira beleza consola e ilumina o coração

Alguns dirão, ainda, que a contemplação da beleza não é possível para aqueles que mais sofrem, que este seria um exercício estético vedado aos pobres, aos excluídos, aos doentes e aos sofredores de todos os tipos. Em primeiro lugar, a contemplação da verdadeira beleza não é mera questão de aparências e formas. Descobrimos a verdadeira beleza quando encontramos aquilo que corresponde a nosso coração, àquele desejo mais profundo que não conseguimos nem mesmo entender antes do encontro – como cada um de nós só sabe realmente como é a pessoa amada depois de conviver com ela.

Essa beleza muitas vezes transparece nas piores situações, rebrilha nos locais mais improváveis. Por isso, o sofrimento não é uma objeção para encontrá-la – ainda que sua descoberta possa ser mais difícil em situações-limite. Nesse sentido, um frequente paradoxo: as pessoas que vivem com mais conforto e recursos, que teriam mais acesso ao conhecimento da verdadeira beleza, são muitas vezes aquelas que têm o coração mais cheio de lixo, que têm mais dificuldade de compreender o amor.

Se nosso irmão sofre, nosso dever solidário de ajudá-lo a encontrar o amor e a beleza é ainda maior. Isso não quer dizer negar as dificuldades ou as muitas transformações radicais que nossa sociedade precisa para eliminar tantos sofrimentos nascidos das mazelas humanas. Contudo, aquele que sofre não pode esperar um amanhã ideal para encontrar a beleza. Ela tem que se apresentar ainda hoje, para dar ao coração dolorido a força de lutar por uma amanhã melhor.

“A boca fala do que o coração está cheio” … Que as nossas bocas não deixem de condenar, indignadas, os malfeitos do mundo; mas também sejam, antes de tudo, anunciadoras da verdadeira beleza que vem do Amor.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Reflexão para a Solenidade de Pentecostes (A)

Jesus Cristo | Vatican News

Que nossas ações, seja na família, no trabalho ou no meio dos amigos, colaborem com a alegria e felicidade daqueles que nos cercam.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

“Jesus sopra o Espírito sobre seus seguidores, gerando uma nova criação”

O autor do Evangelho deste domingo, João Evangelista, nos diz que a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos se deu no dia de Páscoa.

Ele deseja fazer-nos compreender que o Espírito que conduziu Jesus para sua missão de salvar a Humanidade é o mesmo que agora conduz a Igreja, comunidade dos seguidores de Jesus, na continuidade da mesma missão. A Igreja torna presente, na História, o Cristo Redentor.

Quando os discípulos, à tarde do primeiro dia da semana, estão reunidos o Senhor aparece no meio deles e lhes comunica a paz. Mostra-lhes os sinais de seus sofrimentos para lhes dizer que, apesar de seu aspecto glorioso, a memória da paixão não poderá ser deixada de lado, que a glória veio através da cruz.

Estamos no primeiro dia da semana, não nos esqueçamos. Exatamente com esse sentido do novo, do novo pós pascal, isto é, do novo eterno, que não caduca, que não envelhece, Jesus faz a nova criação soprando o Espírito sobre seus seguidores. É uma referência à criação do homem, relatada no cap. 2º, vers. 7 do Gênesis, quando diz que Deus insuflou em suas narinas o hálito de vida e o homem passou a viver. No relato desse fato na tarde pascal, temos a criação da Comunidade Cristã.

A missão é dada logo em seguida: perdoar os pecados e até retê-los, se for o caso. Pecado é aquilo que impede a realização do projeto do Pai, que é a felicidade do ser humano. Ora, perdoar os pecados significa lutar para que os planos de Deus cheguem à sua concretização e, evidentemente, devolvendo àquele que está arrependido de suas ações contrárias a esse plano, a reconciliação.

Pelo batismo e pela crisma fazemos parte dessa comunidade que deve continuar a missão redentora de Jesus. Que honra!

Que nossas ações, seja na família, no trabalho ou no meio dos amigos, colaborem com a alegria e felicidade daqueles que nos cercam. Assim estaremos dando glória a Deus, pois a glória de Deus é a felicidade do homem.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 27 de maio de 2023

Dos Sermões de um Autor africano anônimo, do século VI

Pentecostes | nistocremos

Dos Sermões de um Autor africano anônimo, do século VI

(Sermo 8,1-3: PL 65,743-744)

A unidade da Igreja fala todas as línguas

    Os apóstolos começaram a falar em todas as línguas. Aprouve a Deus, naquele momento, significar a presença do Espírito Santo, fazendo com que todo aquele que o tivesse recebido, falasse em todas as línguas. Devemos compreender, irmãos caríssimos, que se trata do mesmo Espírito Santo pelo qual o amor de Deus foi derramado em nossos corações.

    O amor haveria de reunir na Igreja de Deus todos os povos da terra. E como naquela ocasião um só homem, recebendo o Espírito Santo, podia falar em todas as línguas, também agora, uma só Igreja, reunida pelo Espírito Santo, se exprime em todas as línguas. Se por acaso alguém nos disser: "Recebeste o Espírito Santo; por que não falas em todas as línguas?" devemos responder: "Eu falo em todas as línguas. Porque sou membro do Corpo de Cristo, isto é, da sua Igreja, que se exprime em todas as línguas. Que outra coisa quis Deus significar pela presença do Espírito Santo, a não ser que sua Igreja haveria de falar em todas as lín­guas?"

    Deste modo, cumpriu-se o que o Senhor tinha prometi­do: Ninguém coloca vinho novo em odres velhos. Vinho novo deve ser colocado em odres novos. E assim ambos são preservados (cf. Lc 5,37-38).

    Por isso, quando ouviram os apóstolos falar em todas as línguas, diziam alguns com certa razão: Estão cheios de vinho (At 2,13). Na verdade, já se haviam transformado em odres novos, renovados pela graça da santidade, a fim de que, repletos do vinho novo, isto é, do Espírito Santo, parecessem ferver ao falar em todas as línguas. E com este milagre tão evidente prefiguravam a universalidade da futura Igreja, que haveria de abranger as línguas de todos os povos.

    Celebrai, pois, este dia como membros do único Corpo de Cristo. E não o celebrareis em vão, se realmente sois aquilo que celebrais, isto é, se estais perfeitamente incorpo­rados naquela Igreja que o Senhor enche do Espírito Santo e faz crescer progressivamente através do mundo inteiro. Esta Igreja ele reconhece como sua e é por ela reconhecida como seu Senhor. O esposo não abandonou sua esposa; por isso ninguém pode substituí-la por outra.

    É a vós, homens de todas as nações, que sois a Igreja de Cristo, os membros de Cristo, o corpo de Cristo, a esposa de Cristo, é a vós que o Apóstolo dirige estas palavras: Suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos em guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz (Ef 4,2-3). Reparai como, ao lembrar o preceito de nos supor­tarmos uns aos outros, falou-nos do amor, e quando se referiu à esperança da unidade, pôs em evidência o vínculo da paz.

    Esta é a casa de Deus, edificada com pedras vivas. Nela o Eterno Pai gosta de morar; nela seus olhos jamais devem ser ofendidos pelo triste espetáculo da divisão entre seus filhos.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

O Espírito Santo continua a obra da evangelização de Jesus Cristo

Protagonista do anúncio: o Espírito Santa | CNBB

O ESPÍRITO SANTO CONTINUA A OBRA DA EVANGELIZAÇÃO DE JESUS CRISTO

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)  

Na última ceia, Jesus pediu ao Pai para que Ele enviasse o Espírito da Verdade, o Outro de modo que continuasse a obra da salvação e da evangelização do Senhor Jesus. Ele não iniciaria uma nova obra de salvação, porque Ele tomará do próprio Senhor para assim transmiti-lo aos outros (Jo 16, 14-15). Ele veio em Pentecostes para confirmar a obra da redenção de Jesus dada agora aos seus discípulos e discípulas. Ele impulsiona as pessoas para a vivência do Evangelho de Jesus Cristo, à unidade na Igreja, à superação de práticas tradicionais em vista da verdadeira tradição que vem de Jesus Cristo e dos apóstolos, à missão junto a todos os povos, ao martírio, à prática do mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Uma visão será dada a partir dos padres da Igreja a respeito da obra da evangelização começada pelo Filho em comunhão com o Pai e continuada pelo Espírito Santo na Igreja e no mundo. 

O Espírito Santo esteve em Jesus. 

Santo Ireneu de Lião, bispo no século II disse que o Espírito Santo desceu sobre Jesus como uma pomba (Mt 3,16; Lc 3,22; Jo 1,32). É o mesmo Espírito no qual Isaias disse que repousava sobre ele o Espírito de Deus (Is 11,2), porque Ele o consagrou (Is 61,1; Lc 4,18). Será o Espírito do Pai dos discípulos que falaria neles (Mt 10,20. O Espírito desceu sobre o Filho de Deus, tornando-se Filho do Homem para habitar em meio ao gênero humano e a repousar (Is 11,2; 1 Pd 4,14) ao modelo formado por Deus; Jesus Cristo. Ele impulsionou à realização da Vontade de Deus e fez o ser humano passar da antiguidade à novidade de Cristo1. O Espírito impulsionou a obra da evangelização iniciada por Jesus, continuada pelos apóstolos e todas as pessoas comprometidas com a denúncia e o anúncio do Reino de Deus no mundo de hoje. 

É dito Santo. 

São Basílio de Cesareia, bispo do século IV disse que o Espírito é dito Santo como o Pai é santo e como Filho é santo. A santidade é integrante de sua natureza, de modo que ele não é santificado, mas santificador. É reto (Sl 91,16) como o Senhor Deus é reto, sendo imutável por natureza. Recebe as denominações de Espírito que governa, e Espírito de verdade, Espírito de sabedoria. Ele atua em vista da evangelização das pessoas e daqueles que são pobres2, necessitados.  

O milagre da única língua, o amor. 

Santo Agostinho de Hipona, Bispo nos séculos IV e V, afirmou que com a vinda do Espírito Santo todos ficaram cheios do Espírito de Deus, nas quais eles começaram a falar em outras línguas de todas as gentes que não conheciam e nem tinham aprendido, mas que era a linguagem do amor. As pessoas foram batizadas pelo Espírito Santo, falando nas línguas de todos os povos. O fato foi que aquela pequena Igreja falava nas línguas de todos os povos, significando que a grande Igreja desde o nascer do sol até o seu ocaso, fala nas línguas de todas as gentes, cumprindo-se o mandamento do amor do Senhor3. 

A trombeta do evangelho.  

São Leão Magno, Papa no século V afirmou que no dia de Pentecostes ressoou a trombeta da pregação evangélica, tendo a chuva de carismas, rios de bênçãos a irrigarem no deserto e a terra árida porque o Espírito de Deus veio para renovar a face da terra, assim como Ele pairou sobre as águas no início da criação (Gn 1,2). Ele veio para dissipar as trevas das coisas e conceder uma nova luz, pois pelo esplendor das línguas brilhantes, foi concebido o verbo luminoso do Senhor para iluminar e superar o pecado4, dando forças à evangelização do Senhor na Igreja e no mundo.  

A Invocação do Pai e do Filho. 

São Leão Magno disse também que do Espírito Santo provém à invocação do Pai. Ele falou também da presença do Filho. As lágrimas das pessoas penitentes têm presentes que ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão no Espírito Santo (1 Cor 12,3). São Paulo pregava que a onipotência do Espírito Santo é igual à do Pai e à do Filho, pois uma só é a divindade ao afirmar que há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo: há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera em tudo em todos (1 Cor 12, 4-6)5.  

O Espírito santifica a Igreja em vista da evangelização. 

O Papa ainda disse que é preciso celebrar Pentecostes na alegria e no amor, porque ele santifica toda a Igreja católica em vista de tornar viva a evangelização, também porque ele instruiu todos os espíritos racionais, as pessoas na missão. Ele é inspirador da fé, doutor da ciência, fonte do amor, causa de todas as virtudes. Os corações das pessoas alegram-se porque no mundo inteiro é louvado e confessado por todas as línguas o Deus único, Pai e Filho e Espírito Santo. O significado da figura do fogo persiste por sua operação e por seu fogo6.  

O Espírito Santo dá a remissão dos pecados. 

O Espírito Santo concede às pessoas fieis a remissão dos pecados. Além disso, ele concede a graça da oração para estar em comunhão com o Senhor Jesus em vista do anúncio do evangelho, pois o fiel não sabe o que deve pedir como convém; mas com o Espírito que implora pela vida do fiel vem em seu socorro com gemidos inexprimíveis (Rm 8,26). Se a pessoa privar-se do Espírito Santo, ela não merecerá o perdão, segundo o Papa Leão, pois ela abandonaria a prece do intercessor divino, o Espírito de Deus. No entanto, os apóstolos receberam o poder de perdoar os pecados, quando após sua ressurreição, o Senhor soprou sobre eles ao dizer que eles receberiam o Espírito Santo de modo que aqueles que perdoarem os pecados receberiam o perdão; mas aqueles a quem os retiverem, eles seriam retidos (Jo 20,23)7.  

A missão dada aos apóstolos. 

Com a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, estando repletos da nova abundância de dons do Espírito, começaram a querem com mais ardor e poder com eficácia, a missão dada pelo Senhor, progredindo na ciência de mestres até a tolerância nos sofrimentos, pois já sem medo diante de qualquer tempestade, pela fé calcavam as ondas do século e a soberba do mundo, e desprezando a morte, levavam a todas as nações a verdade do Evangelho de Jesus Cristo e da Igreja8.  

A festa de Pentecostes eleva a natureza humana. 

São Leão Magno afirmou que a festa de Pentecostes elevou, regenerou a natureza humana, porque pelo Espírito Santo é possível alcançar uma eternidade feliz de alma e de corpo, confessando com o apóstolo São Paulo que o Senhor Jesus Cristo, subindo as alturas, levou cativos consigo, distribuiu dons aos seres humanos (Sl 67,19). O Papa desejou que o Evangelho de Deus, pregado por todas as vozes humanas e “toda a língua proclame que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fl 2,11)9.  

O Espírito Santo é o continuador da obra da evangelização para que todas as pessoas vivam o mandamento do amor do Senhor Jesus em vista da glória do Pai no mundo de hoje, na família, na comunidade e na sociedade. Sob a sua luz o mundo torna-se melhor, viva em paz e no amor.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF