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domingo, 30 de julho de 2023

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (12/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

CARD. Alfons M. Stickler

V. FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS DA DISCIPLINA DO CELIBATO: 

 No atual debate sobre celibato, se dá maior ênfase na necessidade de aprofundar teologicamente no sacerdócio, a fim de deduzir a verdade e apreciar a verdade única e completa da teologia do celibato da Igreja Católica Latina. 

Temos, portanto, por este motivo, a tarefa atual e importante de analisar os elementos teológicos tanto do sacerdócio do Novo Testamento como, a partir destes, o celibato dos ministros sagrados. Ambos têm suas raízes nas Escrituras – a principal fonte de Teologia católica – e na Tradição da Igreja, que revela e interpreta o testemunho escriturístico. 

O sacerdócio de Jesus Cristo é um profundo mistério da nossa fé. Para compreender isto, o homem deve se abrir para uma visão sobrenatural e submeter a sua razão a um modo transcendente de pensar. Em tempos de fé viva, que incentiva e orienta não só a cada fiel como pessoa única, mas também permeia a vida e dá forma à vida de toda a comunidade crente, Cristo Sacerdote constitui na consciência de todos o centro da vida de fé pessoal e comunitária. Em tempos de declínio do sentido da fé, pelo contrário, a figura de Cristo Sacerdote desbota e desaparece cada vez mais da consciência dos homens e da sociedade, e não está mais no centro da vida cristã. 

Esta mesma imagem é também aplicável no caso de um sacerdote de Cristo. Em tempos de fé viva, na verdade, não é difícil ao sacerdote reconhecer-se em Cristo, identificar-se com Ele, contemplar e viver a essência do próprio sacerdócio em íntima união com Cristo Sacerdote, ver nele “a única fonte” e o “modelo insubstituível” da própria condição sacerdotal. 

Mas, em meio a uma atmosfera racionalista que desvia cada vez mais a mente humana do sobrenatural, em uma época de materialismo que obscurece cada vem mais a realidade espiritual, torna-se cada vez mais difícil para o sacerdote resistir à pressão da mentalidade secularizante. A identidade espiritual e transcendente de seu sacerdócio tende a desvanecer se ele não se esforça, conscientemente, em aprofundar nela e em mantê-la viva, por meio de uma íntima união pessoal com Cristo. 

Esta crítica situação torna ainda mais indispensável a ajuda para os sacerdotes de uma ascética e de uma mística, adequadas ao estado das coisas. É preciso que lhes revelem a tempo os perigos que ameaçam ao seu sacerdócio, mostrando-lhes as necessidades e que se ponham à disposição os meios que a sua vida sacerdotal requerem. A atual crise de identidade do sacerdócio católico se manifesta toda sua crueza através da renúncia de milhares de sacerdotes ao seu ministério, através também da profunda secularização de muitos outros que continuam em um serviço puramente formal, e enfim, através da escassez de vocações causadas pela rejeição a seguir ao chamado de Cristo. Numa situação deste tipo é uma necessidade fundamental para desenvolver uma pastoral sacerdotal nova, que seja consciente das circunstâncias e das exigências atuais e que responda, em uma palavra, ao “contexto presente”.

  1. A relação sacerdotal com Cristo

Temos de fazer brilhar com nova luz, sobre o fundamento da tradição, a essência do sacerdócio católico. O Concílio de Trento, em um momento de crise semelhante ao nosso, estabeleceu com os seus ensinamentos e definições sobre os sacramentos da Eucaristia e da Ordem, as bases de uma espiritualidade sacerdotal fortemente referida a Cristo. Um teólogo como M. J. Scheeben soube explicar, frente ao racionalismo do século passado, que a Ordenação eleva a quem a recebe a uma orgânica unidade sobrenatural com Cristo, e que o caráter indelével impresso pelo sacramento da Ordem habilita ao ordenado para participar nas funções sacerdotais de Cristo. 

 Nos últimos tempos, especialmente desde o Vaticano II em diante, esta relação do sacerdote com Cristo tem sido cada vez mais posta no centro da essência do sacerdócio, e se pôde aprofundar e alargar desde essa perspectiva os ensinamentos bíblicos e as doutrinas teológicas e canônicas sobre o assunto. Tem, assim, adquirido uma nova iluminação teológica, a doutrina tradicional do sacerdos alter Christus

Se São Paulo escreve aos coríntios: “Temos de ser considerado pelos homens como ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus” (1 Cor 4, 1); ou então: “Agimos como embaixadores de Cristo, como se Deus mesmo vos exortasse através de nós. Suplicamos-vos pois, em nome de Cristo, deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 20), essas expressões podem ser consideradas como autênticas ilustrações bíblicas da identificação do sacerdote com Cristo. 

No Concílio Vaticano II é continuamente expressa a mesma idéia: “Os bispos, de modo eminente e visível, façam as vezes de Cristo Mestre, Pastor e Pontífice, e atuem em sua pessoa” (Lumen Gentium n º 21, com a nota 22, onde se documenta sobre a Igreja antiga). “Os sacerdotes a eles unidos são partícipes do ofício de Cristo, único Mediador, e exercitam o seu sagrado ministério agindo in persona Christi (Lumen Gentium n. 28 com a nota 67; Christus Dominus n. 28). Através do sacramento da Ordem e do caráter por ele impresso, são configurados a Cristo e atuam em seu nome (Presbyterorum Ordinis nn. 2, 6, 12; Optatam totius n. 8; Sacrosanctum Concilium, n. º 7). 

Após o Concílio aumentou essas formas de expressão, também por parte da Cúria Romana. A Congregação para a Educação Católica, nas normas fundamentais para a formação dos sacerdotes de 1970, acentuou em uma afirmação de princípio que o sacerdote se faz, através da Ordem Sagrada, um “alter Christus“. E o novo Código de Direito Canônico de 1983 diz no cânon 1008: “Com o sacramento da Ordem e com o caráter indelével com o que ficam marcados aqueles que o recebem, os ministros da Igreja são consagrados e destinados a reunir-se, cada um no seu próprio nível, os cargos de ensinar, santificar e governar in persona Christi e de pastorear o povo de Deus.” 

De uma forma ainda mais intensa, tem se ocupado do sacerdócio e do ministério dos sacerdotes, desde o início do seu pontificado, o atual pontífice, João Paulo II. Desde 1979, nas Quintas-Feiras Santas de cada ano, dirige uma mensagem aos sacerdotes. Em repetidas vezes utiliza ocasiões especialmente adequadas – audiências, discursos e, especialmente, as freqüentes ordenações sacerdotais – para posicionar na sua justa luz teológica e pastoral atual, a natureza e a essência do sacerdócio católico, bem como a aprofundar o seu significado. 

O mais importante ato oficial do Papa, com referência ao sacerdócio foi, sem dúvida, a convocação e a realização do oitavo Sínodo dos Bispos, que teve por objetivo a formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais. Um dos pontos centrais das discussões dos Padres sinodais foi a noção justa da identidade sacerdotal, vistas as coisas no mundo de hoje e em meio a grave crise em que se encontra o sacerdócio católico. Síntese e coroação dos trabalhos sinodais foi a Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, publicado em 25 de março de 1992, dedicada, precisamente, à formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais. 

No segundo capítulo da Exortação Apostólica o Papa aborda a “natureza e a missão do sacerdócio ministerial”, e informa expressamente que as intervenções dos Padres na aula sinodal “mostrou a consciência do vínculo ontológico específico que liga o sacerdote a Cristo, Sumo Sacerdote e Bom Pastor” (n. 11). O Papa conclui essa exposição com uma afirmação verdadeiramente clássica: “O presbítero encontra a plena verdade da sua identidade no ser uma derivação, uma participação específica e uma continuação do mesmo Cristo, sumo e eterno Sumo Sacerdote da eterna aliança; Ele é uma imagem viva e transparente de Cristo sacerdote. O sacerdócio de Cristo, expressão da sua absoluta “novidade” na história da salvação, é a única fonte e o paradigma insubstituível do sacerdócio do cristão, e especialmente, do presbítero. A referência a Cristo, então, é a chave essencial para a compreensão das realidades sacerdotais” (n. 12, ao final). 

Sobre a base desta afinidade natural entre Cristo e os seus sacerdotes não será difícil anunciar a teologia do sacerdócio ministerial. O mesmo João Paulo II oferece-nos novamente a chave: “É particularmente importante que o sacerdote compreenda a motivação teológica da lei eclesiástica sobre o celibato. Enquanto lei, ela expressa a vontade da Igreja, antes mesmo da vontade que o sujeito manifesta com a sua disponibilidade. Mas essa vontade da Igreja encontra sua motivação última na relação que o celibato tem com a ordenação sagrada, que configura ao sacerdote com Jesus Cristo, Cabeça e Esposo da Igreja. A Igreja, como esposa de Jesus Cristo, quer ser amada pelo sacerdote de modo total e exclusivo como Jesus Cristo Cabeça e esposo a tem amado. Assim o celibato sacerdotal é um dom de si em e com Cristo à sua Igreja, e manifesta o serviço do sacerdote à Igreja em e com o Senhor “(n. 29, até o final). 

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

A presença de Jesus no mundo (1/2)

Alain Elkann (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 11/2005mero 11 - 2005

A presença de Jesus no mundo

A conferência do jornalista e escritor judeu Alain Elkann no congresso sobre o “Rosto dos rostos. Cristo”, realizado em outubro, em Roma, cujas atas acabam de ser publicadas.

de Alain Elkann

Sua eminência o cardeal Angelini me pede que reflita e escreva sobre Jesus Cristo, e devo dizer que é a primeira vez que tenho de fazê-lo em primeira pessoa.

Nunca havia escrito sobre o assunto porque tenho respeito demais pela religião de vocês, sendo eu judeu, para me dar a liberdade de julgar ou simplesmente dar minha opinião sobre um tema tão delicado.

Delicado no sentido de que, enquanto os judeus ainda esperam por seu Messias, para os cristãos Jesus de Nazaré representa Deus que se faz homem e, portanto, o cristão já está vivendo a sua era messiânica.
Jesus morre crucificado e logo depois nascem os apóstolos, os Evangelhos, a Igreja, o culto religioso e, assim, a aplicação da vida cristã, que pouco a pouco se difunde pelo mundo como uma mancha de óleo, graças precisamente ao trabalho da Igreja e de suas missões, até se tornar um grandíssimo exemplo de globalização religioso-cultural.

O Cristo está presente hoje em todos os continentes do mundo. Às vezes a religião cristã é hegemônica, às vezes é minoria. Em certos casos, é quase a religião oficial de um país, em outros sofre e vive quase na marginalidade; e, em sua longa história bimilenar, foi também muitas vezes objeto de duras discriminações e perseguições.

Não posso certamente entrar no mérito de uma longa reflexão sobre as diversas denominações religiosas cristãs, sobre os cismas, os particularismos, as divisões que ainda existem, entre mundo católico, mundo ortodoxo e mundo, por assim dizer, protestante.

Todas essas religiões, porém, são cristãs e assumem que o Cristo é o filho de Deus.

O que foi Jesus Cristo quando em vida, por que morreu na cruz, por que ressuscitou são também questões nas quais creio que não seja o caso de entrar hoje. Já o que posso dizer é que no mundo ocidental, na Europa e nas Américas, sobretudo, a presença do Cristo é parte natural da vida de qualquer um.

Nas cidades, nos campos, nos pequenos vilarejos ainda soam os sinos que chamam para a missa; em muitos hospitais, escolas, lugares públicos, o Cristo na cruz está fixado nas paredes, e milhões de pessoas carregam no pescoço uma corrente com um crucifixo ou imagem de Cristo.

Além disso, sempre houve muitíssimos livros, e, no mundo moderno, discos, filmes, espetáculos que têm como protagonista Jesus de Nazaré.

Jesus se manifesta por meio dos homens e das mulheres, religiosos e às vezes leigos, que são a Igreja e suas ordens religiosas. Sendo assim, por meio deles e de suas tarefas, vive certamente um Cristo que se transforma em gestos de culto, de caridade, de auxílio na área da saúde, iniciativas de escola, de pesquisa, de assistência social, de voluntariado.

Certamente, é em nome de Jesus e do Evangelho que muitíssimos homens e mulheres de fé traba­lham para ajudar os outros, para aplicar a caridade cristã, para confessar quem precisa, para socorrer quem está mal, para estar perto de quem tem medo porque está doente ou à beira da morte, para penetrar nos cárceres e falar com quem quer ou procura se arrepender.

Depois de Jesus surgiu a Igreja, que, acredito, tenha a tarefa de fazer encontrar a presença de Deus e de seu filho em cada ponto da vida cotidiana.

É claro que na história de uma organização tão antiga como a Igreja existem, no meu modo de ver, momentos obscuros, como o período da Inquisição, períodos históricos mais turvos do que outros, mas eu prefiro pensar na Igreja de hoje e não na de ontem. Nos papas que vi trabalharem durante a minha vida: João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI. Era muito pequeno quando Pio XII ainda vivia, e dele só lembro imagens televisivas ou fotografias em preto e branco.

Mas acredito que sob esses papas se fez um grande caminho, e eu não tive medo de perder minha identidade judaica ao buscar encontrar muitas vezes ao longo de mi­nha vida o mundo católico. O Cristo, assim, de certa forma é parte da minha vida desde a infância.

Irmã Paolina vinha me dar injeções quando eu era um menino pequeno, mais tarde foi irmã Giuliana que me fez conhecer por meio de sua alma profunda e serena as realidades do Cottolengo de Turim.

Irmã Germana me ajudou, por sua vez, a trabalhar com sua eminência o cardeal Carlo Maria Martini na redação do nosso livro, Cambiar il cuore (Mudar o coração, ndt.).

Fonte: http://www.30giorni.it/

O Papa: reconhecer as joias preciosas da vida e distingui-las das quinquilharias

O Papa Francisco no Angelus deste domingo  (Vatican Media)

No Angelus deste domingo, Francisco convidou a "não perder tempo e liberdade com coisas triviais, passatempos que nos deixam vazios por dentro, enquanto a vida nos oferece todos os dias a pérola preciosa de um encontro com Deus e com os outros! É necessário saber reconhecê-la: discernir para encontrá-la". Jesus "é a pérola preciosa da vida".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Fiéis de várias partes do mundo se reuniram, na Praça São Pedro, neste domingo (30/07), para a oração mariana do Angelus conduzida pelo Papa Francisco.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice falou sobre o Evangelho, deste domingo, que "conta a parábola de um negociante que procurava pedras preciosas". Segundo Jesus, o negociante «ao encontrar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra». Então, o Papa se deteve "nos gestos deste negociante, que primeiro procura, depois encontra e, por fim, compra".

"Primeiro passo: procurar. Trata-se de um negociante empreendedor que não fica parado, mas sai de casa e começa a procurar pérolas preciosas. Ele não diz: "Estou satisfeito com as que tenho", mas procura outras mais bonitas", disse o Papa, acrescentando:

Este é um convite a não nos fecharmos na rotina, na mediocridade de quem se contenta, mas a reavivar o desejo, para que o desejo de procurar, ir adiante não se apague, cultivar sonhos de bem, buscar a novidade do Senhor, porque o Senhor não é repetitivo, ele sempre traz novidade, a novidade do Espírito sempre faz novas as realidades da vida. Nós devemos ter sempre a atitude de buscar.

"O segundo gesto do negociante é encontrar. Ele é uma pessoa arguta que "tem olho" e sabe reconhecer uma pérola de grande valor. Isso não é fácil", disse o Papa. Francisco convidou a pensar, "nos fascinantes bazares orientais, onde as barracas, cheias de mercadorias, se amontoam ao longo dos muros das ruas cheias de pessoas; ou em algumas barracas que se veem em muitas cidades, cheias de livros e vários objetos. Às vezes, nesses mercados, se pararmos para olhar bem, podemos descobrir tesouros: coisas preciosas, volumes raros que, misturados com todo o resto, passam despercebidos à primeira vista. Mas o negociante da parábola tem um olho aguçado e sabe encontrar, sabe "discernir" para encontrar a pérola".

Isso é um ensinamento para nós: todos os dias, em casa, na rua, no trabalho, nas férias, temos a oportunidade de ver o bem. É importante ser capaz de encontrar o que importa: treinar-nos para reconhecer as joias preciosas da vida e distingui-las das quinquilharias. Não percamos tempo e liberdade com coisas triviais, passatempos que nos deixam vazios por dentro, enquanto a vida nos oferece todos os dias a pérola preciosa de um encontro com Deus e com os outros! É necessário saber reconhecê-la: discernir para encontrá-la

O último gesto do negociante: compra a pérola. "Percebendo seu imenso valor, ele vende tudo, sacrifica todos os bens para tê-la. Muda radicalmente o inventário do seu depósito; não há mais nada além daquela pérola: é a sua única riqueza, o sentido do seu presente e do seu futuro", disse o Papa, acrescentando:

Isso também é um convite para nós. Mas o que é esta pérola pela qual tudo se pode renunciar, aquela de que nos fala o Senhor? Essa pérola é Ele mesmo. É o Senhor! Procurar o Senhor e achar o Senhor, encontrar o Senhor, viver com o Senhor. A pérola é Jesus: Ele é a pérola preciosa da vida, a ser procurada, encontrada e adquirida. Vale a pena investir tudo Nele porque, quando se encontra Cristo, a vida muda. Quando você encontra Crista a sua vida muda.

A seguir, o Papa retomou "os três gestos do negociante - procurar, encontrar e comprar", e convidou cada um a se fazer as seguintes perguntas:

Procurar: estou, em minha vida, buscando? Sinto-me no lugar, tranquilo, satisfeito ou treino meu desejo de bem? Estou aposentado espiritualmente? Quantos jovens estão aposentados! Segundo gesto, encontrar: pratico o discernimento do que é bom e vem de Deus, sabendo renunciar ao que, ao contrário, me deixa com pouco ou nada? Por fim, comprar: sei como me gastar por Jesus? Ele está em primeiro lugar para mim? Ele é o maior bem da vida? Seria bom dizer a Ele hoje: "Jesus, você é meu maior bem". Que cada um diga em seu coração:  "Jesus, você é meu maior bem".

"Que Maria nos ajude a procurar, encontrar e abraçar Jesus com toda a nossa força", concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Legalizar aborto e maconha é prioridade para o Ministério da Saúde

Ministra da saúde hoje (27), na apresentação do relatório da OMS, em Brasília. Foto: Walterson Rosa/MS

Por Monasa Narjara

BRASILIA, 28 Jul. 23 / 03:16 pm (ACI).- “Legalização do aborto e a legalização da maconha no Brasil”, garantir os direitos sexuais e os direitos reprodutivos das mulheres e meninas; caderneta de gestante, pré-natal com foco não binário; início do uso de hormônios em jovens LGBTIA+ de 14 anos e enfrentar o patriarcado são as prioridades para as ações e serviços públicos do país para os próximos quatro anos, aprovadas pelo Ministério da Saúde, chefiado pela socióloga Nísia Trindade, na 17ª Conferência Nacional de Saúde.

Essas políticas foram definidas nos dias 19 e 20 de julho, no plenário do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Ao todo são relatadas 59 prioridades na Resolução nº 715/2023.

A orientação para os anos 2024 a 2027 é “enfrentar o racismo, a intolerância religiosa, o patriarcado, a LGBTIA+fobia, o capacitismo, a aporofobia, a violência aos povos indígenas e todas as formas de violência e aniquilação do/a outro/a”.

A pasta estabelece a necessidade de “atualizar a Política Nacional de Saúde Integral LGBT para LGBTIA+ e definir as linhas de cuidado, em todos os ciclos de vida, contemplando os diversos corpos, práticas, existências, as questões de raça, etnia, classe, identidade de gênero, orientação sexual, deficiência, pessoas intersexo, assexuais, pansexuais e não binárias, população em restrição de liberdade, em situação de rua, de forma transversal, e integração da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais; revisão da cartilha de pessoas trans, caderneta de gestante, pré-natal, com foco não binário; com a garantia de acesso e acompanhamento da hormonioterapia em populações de pessoas travestis e transgêneras, pesquisas, atualização dos protocolos e redução da idade de início de hormonização para 14 anos”.

Quanto as mulheres e meninas, o governo também quer “garantir” seus “direitos sexuais” e “reprodutivos” baseados na “justiça reprodutiva e atenção à saúde segundo os princípios do SUS, considerando os direitos das pessoas que menstruam e daquelas que estão na menopausa e em transição de gênero, tendo em conta, no sistema de saúde, a equidade, igualdade com interseccionalidade de gênero, raça/etnia, deficiência, lugar social e outras”.

Além disso, o governo Lula que garantir que sejam implementadas “ações de saúde para o combate às desigualdades estruturais e históricas, com a ampliação de políticas sociais e de transferência de renda, com a legalização do aborto e a legalização da maconha no Brasil”.

A deputada federal Chris Tonietto (PL-RJ), afirmou à ACI Digital que “esses planos são um flagrante retrocesso e, principalmente, um desserviço à população brasileira”.

Sobre a legalização do aborto e da maconha previstos na Resolução nº 715/2023, Tonietto disse que “a norma em questão se presta a fomentar ideologias, em vez de promover políticas públicas relacionadas à saúde da população, que vem a ser a função do Conselho Nacional de Saúde”.

“Por esse motivo, elaborei, junto a outros parlamentares, um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que visa a sustação dessa Resolução em seu inteiro teor. A medida teve excelente adesão e até o momento conta com o apoio de mais de quarenta parlamentares”, contou.

Aos planos do governo Lula, a deputada ressaltou que fará “uma oposição justa e madura, que vai sempre buscar agir com estratégia em prol dos interesses reais da população”.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Reflexão para o XVII Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho do domingo (Vatican Media)

A parábola de Mateus apresentada hoje pela liturgia, termina com o relato do discernimento feito pelos pescadores que “recolhem os peixes bons nos cestos e jogam fora os que não prestam.”

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

Na primeira leitura extraída do Primeiro Livro dos Reis, fica muito claro a sabedoria de Salomão não apenas pelo conteúdo de sua oração, mas pelo modo como se dirige a Deus. No seu modo de falar com o Senhor, fica explícita sua humildade e a consciência de seu lugar: apesar de rei, diante de Deus ele é servo.

Ele também demonstra sabedoria ao não se sentir proprietário do povo, mas condutor do rebanho que pertence a Deus.

Finalmente ele pede sabedoria para praticar a justiça. Deus não só aceita a oração de Salomão, mas o abençoa com o dom do discernimento em um coração sábio e inteligente.

A parábola de Mateus apresentada hoje pela liturgia, termina com o relato do discernimento feito pelos pescadores que “recolhem os peixes bons nos cestos e jogam fora os que não prestam.”

Jesus, ao falar do Reino dos Céus o comparou a “uma rede lançada ao mar e que apanha todo tipo de peixe”.  Nossa atitude em relação ao Reino, aos seus valores, nos identificará como bons ou não. Até onde somos capazes de renúncias, mudanças de vida, despojamento por causa do Reino, por causa de justiça?

A segunda leitura nos fala de nossa predestinação à felicidade plena.

Deus nos criou para sermos salvos, para agirmos neste mundo em favor da justiça e da paz, como cidadãos do Reino que virá, ou melhor, que já está instaurado neste mundo através da ação dos homens de boa vontade, daqueles que são imagem de Cristo.

Concluindo, podemos tirar para nossa vida que a sabedoria, o discernimento estão presentes no coração daqueles que se sentem servos diante de Deus e dos irmãos, daqueles que possuem e lutam pelos valores do Reino, daqueles que lutam pela justiça e pela paz. Esses confirmam a predestinação para o Céu, pois são no mundo imagem e semelhança de Cristo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Pedro Crisólogo

São Pedro Crisólogo (Guadium Press)

30 de julho, a Igreja lembra a memória de São Pedro Crisólogo, que tinha este nome por ter se destacado principalmente pelo dom da pregação.

Redação (30/07/2022 10:01, Gaudium Press) São Pedro Crisólogo, que significa “palavra de ouro”, como São João Crisóstomo, “boca de ouro”, são cognomes com que a Igreja, até hoje, aclama a oratória desses grandes homens. Eram eles herdeiros ainda da antiga oratória grega e romana, mas, com a incisão ardentíssima do espírito católico, produziram obras de um voo de conteúdo e de linguagem que os tornaram imortais.

São Pedro Crisólogo nasceu em Ímola, não muito distante de Roma, no ano 380. Tornou-se o primeiro bispo ocidental a ocupar a diocese de Ravena, em 424, sendo consagrado pessoalmente pelo Papa Xisto III.

Pedro Crisólogo mostrou-se logo bom pastor, prudente e sem ambiguidades doutrinais. Humildes e poderosos escutava-os ele com igual condescendência e caridade. A imperatriz Gala Placídia o teve como conselheiro e amigo.

Foi considerado um dos maiores pregadores da história da Igreja, e escreveu, no total, cento e setenta e seis homilias de cunho popular, proporcionando incontáveis conversões. Também defendeu a autoridade do Papa, então Leão I, o Grande, sobre a questão monofisita, que pregava Cristo em uma só natureza.

São Pedro Crisólogo tinha este nome por ter se destacado principalmente pelo dom da pregação – Crisólogo significa ‘O homem da palavra de ouro’ (este cognome lhe foi dado a partir do séc. IX).

Pedro Crisólogo morreu numa data incerta, mas ele é venerado pela Igreja no dia 30 de julho de 450, data mais provável do seu falecimento.

Frases de São Pedro Crisólogo

Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos.

Cristo é o Reino que, como grão de mostarda plantado no jardim de um corpo virginal propagou-Se por todo o orbe na árvore da Cruz, e foi tão grande o sabor de Seu fruto que se consumiu com a Paixão, para que todo vivente o deguste e com ele se alimente.

Sem a graça de Deus e sua intervenção direta, ninguém teria forças para resistir à sanha do demônio, pois, como diz São Pedro Crisólogo, sua insaciável crueldade “não se conforma com que os homens se tornem indignos, mas faz com que sejam também promotores de vícios e mestres da delinquência”.

Oração

Ó São Pedro Crisólogo, que dominastes vossas paixões e vos agarrastes à fé em Jesus Cristo para conseguirdes perseverar nas virtudes que vos levaram à santidade, intercedei por nós para que também sejamos perseverantes e entusiasmados tal como o fostes, na exortação aos nossos irmãos que distantes se encontram da Verdade.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

sábado, 29 de julho de 2023

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

Santa Marta (liturgiadashoras)

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 
(Sermo 103, 1-2. 6: PL 38, 613.615) (Séc.V)

Felizes os que mereceram receber a Cristo em sua casa

As palavras de nosso Senhor Jesus Cristo nos advertem que, em meio à multiplicidade das ocupações deste mundo, devemos aspirar a um único fim. Aspiramos porque estamos a caminho e não em morada permanente; ainda em viagem e não na pátria definitiva; ainda no tempo do desejo e não na posse plena. Mas devemos aspirar, sem preguiça e sem desânimo, a fim de podermos um dia chegar ao fim.

Marta e Maria eram irmãs, não apenas irmãs de sangue, mas também pelos sentimentos religiosos. Ambas estavam unidas ao Senhor; ambas, em perfeita harmonia, serviam ao Senhor corporalmente presente. Marta o recebeu como costumam ser recebidos os peregrinos. No entanto, era a serva que recebia o seu Senhor; uma doente que acolhia o Salvador; uma criatura que hospedava o Criador. Recebeu o Senhor para lhe dar o alimento corporal, ela que precisava do alimento espiritual. O Senhor quis tomar a forma de servo e, nesta condição, ser alimentado pelos servos, por condescendência, não por necessidade. Também foi por condescendência que se apresentou para ser alimentado. Pois tinha assumido um corpo que lhe fazia sentir fome e sede.

Portanto, o Senhor foi recebido como hóspede, ele que veio para o que era seu, e os seus não o acolheram. Mas, a todos que o receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,11-12). Adotou os servos e os fez irmãos; remiu os cativos e os fez co-herdeiros. Que ninguém dentre vós ouse dizer: Felizes os que mereceram receber a Cristo em sua casa! Não te entristeças, não te lamentes por teres nascido num tempo em que já não podes ver o Senhor corporalmente. Ele não te privou desta honra, pois afirmou: Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes (Mt 25,40).

Aliás, Marta, permite-me dizer-te: Bendita sejas pelo teu bom serviço! Buscas o descanso como recompensa pelo teu trabalho. Agora estás ocupada com muitos serviços, queres alimentar os corpos que são mortais, embora sejam de pessoas santas. Mas, quando chegares à outra pátria, acaso encontrarás peregrinos para hospedar? encontrarás um faminto para repartires com ele o pão? um sedento para dares de beber? um doente para visitar? um desunido para reconciliar? um morto para sepultar? Lá não haverá nada disso. Então o que haverá? O que Maria escolheu: lá seremos alimentados, não alimentaremos. Lá se cumprirá com perfeição e em plenitude o que Maria escolheu aqui: daquela mesa farta, ela recolhia as migalhas da palavra do Senhor. Queres realmente saber o que há de acontecer lá? É o próprio Senhor quem diz a respeito de seus servos: Em verdade eu vos digo: ele mesmo vai fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá (Lc 12,37).

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

O verdadeiro e autêntico significado do matrimônio

lotsostock I Shutterstock

Por Hozana

O matrimônio é a realidade central de toda a revelação divina, e encerra em si tudo o que Deus deseja transmitir para a pessoa humana.

A modernidade tem produzido, há séculos, ideologias nefastas e perniciosas para a alma e para o ser do homem. A suposta “liberdade” insuflada pelo discurso moderno, aliada ao relativismo, ao utilitarismo, ao niilismo e ao materialismo, tem produzido um homem que se auto-degenera e se consome, desde quando escolheu afastar-se dos universais, e da busca pela verdade.

Uma das consequências desse estado de atual putrefação da consciência do homem é a depreciação e o menosprezo pelo real sentido da instituição familiar.

Seduzido por toda a sorte de convicções e filosofias que esvaziam, por séculos, a real dimensão e importância da família, o homem se vê cada vez mais estimulado e encorajado a viver sem laços familiares verdadeiros, o que vem produzindo, por décadas, famílias cada vez menos numerosas e a escalada absurda do número de divórcios.

A modernidade e o seu feitiço, que se apresenta como a Thémis libertadora do homem, aquela que o conduzirá para felicidade e para o mundo livre, na verdade, não passa de uma carcereira que o tornou cativo, e um cativo que não sabe mais o que é ser livre, e vive acreditando ser livre, quando na verdade está preso em sua própria miséria e solidão.

Encontramos na Teologia do Corpo de São João Paulo II, ela que foi construída pelos princípios da antropologia teológica adâmica, as raízes do fracasso humano na tentativa de ser livre, libertando-se daquilo que, verdadeiramente, o faz completo e livre.

O matrimônio, indissolúvel, que representa o retorno da mulher para dentro do homem, e faz com que ele não se sinta mais só, tem sido cada vez mais achincalhado e trucidado, o que tem carregado o homem, a largos passos, para o abismo da solidão, e para o precipício da morte.

Na criação do homem e de seu corpo humano existe um casamento, na redenção do homem através do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo existe um casamento, e na ressurreição do corpo humano para a vida eterna, também, existe um casamento.

O matrimônio está presente no início, no meio, e no fim do homem. E é por isso que o matrimônio é a coroa de todos os temas das Sagradas Escrituras. Ele é a realidade central de toda a revelação divina, e encerra em si tudo o que Deus deseja acima de tudo transmitir para a pessoa humana, através de Cristo. Ou seja, que Ele nos ama de uma maneira tão intensa e absoluta que deseja ser “um” conosco, na carne, e por meio de seu Filho, Jesus Cristo.

Deus, ao nos criar à sua imagem e semelhança, gravou em nossos corpos o dom de amar como Ele nos ama. E, como iremos compreender no retiro, Deus fez isso através de um Casamento.

Toda a revelação cristã por ser resumida em uma só assertiva: “Deus quer se casar conosco”. E é exatamente isso que nos ensina São Paulo quando escreve aos Efésios. Qual é o verdadeiro significado do matrimônio, então? O matrimônio terreno é a estrada que nos conduz até esse matrimônio último e celeste, onde nos casaremos com o próprio Criador.

No retiro online “São João Paulo II, pelos casamentos e pelas famílias”, faremos um convite à compreensão do mais profundo significado desse sacramento primordial. Vamos refletir, a partir de toda a beleza da Teologia do Corpo de São João Paulo II, sobre qual é o verdadeiro sentido do matrimônio, da sexualidade, do amor e da própria existência da pessoa humana.

Venha redescobrir o amor e viver a plenitude do matrimônio cristão! Clique aqui para se inscrever no retiro.

A graça e a paz! Salve Maria! E que Deus esteja conosco.

Maycon A. Penizolo, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (11/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

CARD. Alfons M. Stickler

        6. Motivos da nova disciplina adotada: a mudança dos textos:

Os Padres do Concílio II Trullano não podiam encontrar nos seus documentos motivos para a distinção entre as duas posições. Provavelmente não queriam fazer referência ao Antigo Testamento porque, como já vimos, nos argumentos ocidentais e, sobretudo nas disposições dos Romanos Pontífices a favor da completa continência se rejeitava explicitamente e com razoes convincentes este paralelismo, como inadequado em relação ao sacerdócio do Novo Testamento. Mas tinham menos motivos ainda para apelar à legislação imperial, que havia antecipado às decisões eclesiásticas ante uma situação possivelmente já generalizada. 

Posto que em Constantinopla tivesse consciência da falsidade do relato de Pafnucio, não restava mais possibilidade para recorrer a testemunhos da antiguidade cristã, que não procedesse da Igreja de Constantinopla, mas de uma Igreja vizinha à deles, cujos cânones disciplinares tinham sido já incluídos no próprio Código geral. Assim havia sucedido com os cânones do Código africano que tratavam expressamente da continência clerical e também faziam referência aos Apóstolos e à tradição antiga da Igreja. 

Uma vez que tais cânones afirmavam a mesma disciplina, isto é, da completa continência, para bispos, sacerdotes e diáconos, devia ser modificado o texto autêntico dos cânones africanos. Não era algo perigoso, pois no Oriente realmente muito poucos podiam verificar o latim genuíno do texto original. 

Deste modo as palavra do cânon 3 de Cartago: “gradus isti tres (…) episcopos, presbyteros et diaconos (…) continentes in omnibus”, foram substituídos no cânon 13 do Concílio Trullano por estas outras: “subdiaconi (…) diaconi et presbyteri secundum easdem rationes a consortibus se abstineant”, sendo que as palavras “easdem rationes”, opostas às palavras do texto original de Cartago, representavam as mudanças introduzidas pelos Padres trullanos.

Mas em todos estes textos, documentalmente manipulados, se conserva, ou melhor, se busca a referência aos Apóstolos e à Igreja antiga para dar ao celibato bizantino e oriental, através destes testemunhos autorizados, o mesmo fundamento que tinha a tradição ocidental, explicitamente indicado por ela em Cartago e noutros lugares. 

Que podemos dizer diante deste procedimento trullano? Os Padres orientais se sentiam, não há dúvidas, autorizados para decretar disposições particulares para a Igreja bizantina, posto que desde muito tempo antes haviam insistido em sua autonomia jurídica no âmbito da administração e da disciplina. Somente se sentiam obrigados pelas decisões doutrinais da Igreja universal, estabelecidas em Concílios Ecumênicos nos quais também eles tinham participado. Pode-se, desde já, reconhecer naqueles Padres – que estabeleciam as normas de validade geral na sua Igreja – o direito de levar em conta só a situação de fato na questão do celibato dos ministros sagrados, para a que viam possibilidade de reforma frutuosa. Que isto fosse possível em um campo no que, como o caso do celibato, está implicada a Igreja universal é outra questão. Mas o que sem dúvida podemos negar é o direito a fazê-lo com este método: ou seja, mediante uma manipulação dos textos que transforma a verdade na sua contrária. 

Para a Igreja Católica ocidental esta atitude dos Padres trullanos pode ser considerada com uma prova a mais, e não sem importância, a favor da própria tradição celibatária, que se considera apostólica e se fundamenta realmente sobre uma consciência comum à Igreja universal antiga; por isso a tradição celibatária ocidental deve ser considerada verdadeira e justa. 

Devemos ainda nos perguntar o que diz a história sobre essa mudança dirigida a obter uma base de apoio para as novas e até agora definitivas obrigações do celibato na Igreja oriental. Os comentários dos canonistas da Igreja bizantina a essa leitura dos cânones africanos permitem compreender que conheciam o texto original autêntico, e que desde o século XVI em adiante – como, por exemplo o comentário de Mateo Blastares – recolhiam dúvidas sobre a exatidão das referências dos Padres do Concílio Trullano II aos textos africanos. Os intérpretes modernos das disposições trullanas sobre o celibato admitem a inexatidão das referências, mas ao mesmo tempo afirmam que o Concílio tinha autoridade para mudar qualquer lei disciplinar para a Igreja bizantina, e para adaptá-la às condições dos tempos. Fazendo uso desta autoridade podiam também mudar o sentido original dos textos para fazê-los concordar com o parecer e a vontade do próprio Concílio. Mas com toda certeza não era objetivamente lícito alterar o original atribuindo a esse uma autenticidade falsa. 

A historiografia do Ocidente reconheceu há muito tempo e se manifestou também por escrito desde o século XVI a manipulação feita pelo Concílio Trullano II, sobre os textos africanos referidos à continência dos ministros sagrados. Cito, por exemplo, a Barônio e, sobretudo, aos editores das diversas coleções de textos conciliares, entre os quais se destaca J. D. Mansi. 

Falta-nos ainda fazer uma referência às marcas da disciplina genuína disciplina celibatária antiga que permaneceu até nossos dias na nova disciplina trullana, quer dizer, à constante preocupação da Igreja pelo perigo grave e contínuo para os ministros sagrados e sua continência, que é a coabitação com mulheres que estejam acima de qualquer suspeita. Seguindo ao já referido cânone 3 do Concílio de Nicéia, de 325, os mesmos cânones trullanos, examinados anteriormente, tratam dele repetidamente. Semelhante preocupação se deve somente pela solicitude geral para salvaguardar a castidade e a continência dos ministros sagrados em ambas as Igrejas. 

O fato de haver conservado para os bispos da Igreja oriental a mesma severa disciplina sobre a continência que se praticou sempre em toda a Igreja, pode ser considerada como um resíduo na legislação trullana de uma tradição que sempre considerou unidos a todos os graus da Ordem Sagrada numa mesma obrigação de completa continência.  

Também não se compreende por que se conservou, com todo rigor, na Igreja oriental a condição de admitir um único matrimônio entre os candidatos ao sacerdócio casados. Como já vimos (e veremos mais detalhadamente) essa condição tem só um significado razoável em função de um empenho definitivo na continência completa. 

É ainda pouco compreensível a proibição absoluta de se contrair matrimônio depois da sagrada Ordenação, que se mantém ainda quando aos ministros sagrados, desde o sacerdote até abaixo, lhes está permitido o uso do matrimônio. 

Ao que se refere às inovações oficialmente introduzidas pelo Concílio Trullano na questão da continência dos clérigos, que reconduzem o conceito neo-testamentário do ministro sagrado ao conceito levítico do Antigo Testamento, devemos nos perguntar como se podia continuar fazendo isso quando o serviço efetivo do altar se estendeu, também na Igreja oriental, a todos os dias da semana. Se fossem consideradas as razões adotadas para o uso do matrimônio por parte dos sacerdotes vétero-testamentário, deveria ter voltado à completa continência completa dos sacerdotes, diáconos e sub-diáconos tal como se praticava no Ocidente, em atenção às disposições do mesmo Concílio Trullano. Mas isto não se fez em nenhuma parte e desse modo o serviço do altar e o ministério do Santo Sacrifício foram desligados da continência, apesar de que sempre haviam estado unidos a ela, pois eram considerados seu motivo último. 

Nas Igrejas particulares unidas à bizantina, que aceitaram a disciplina trullana, não se verificou nos séculos seguintes nenhuma mudança na práxis do celibato dos ministros sagrados. Às comunidades orientais que se uniram a Roma foi concedido poder continuar na sua tradição celibatária diferente. Mas o retorno dos “uniatas” à práxis latina de continência completa não só não encontrou oposição, mas também foi positiva e favoravelmente aceita. O reconhecimento da diversidade de disciplina concedido pelas autoridades centrais de Roma pode ser considerado como um nobre respeito, mas dificilmente como aprovação oficial da mudança da antiga disciplina da continência. Esta opinião parece estar sustentada pela reação oficial que teve a Santa Sé frente ao Concílio Trullano II, como já assinalamos anteriormente. 

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

JMJ - Encontro de Jovens e de cultura, pela fé

JMJ Lisboa 2023 (Canção Nova)

JMJ – ENCONTRO DE JOVENS E DE CULTURAS, PELA FÉ

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Tendo como lema, “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39), terá início no dia primeiro de agosto a XXXVII Jornada Mundial da Juventude (JMJ), na cidade de Lisboa, em Portugal. A citação bíblica escolhida pelo Papa Francisco faz referência à atitude da Virgem de Nazaré, que depois da “Anunciação” do Anjo Gabriel, sabendo que sua prima, já em idade avançada, esperava o nascimento de um filho, pôs-se a caminho para servir a Isabel.  

Essa Jornada Mundial da Juventude, em Portugal, mais precisamente na cidade de Lisboa, tem um caráter particular e familiar para os brasileiros, por questões linguísticas, históricas e religiosas. É a terra de um povo com uma forte identidade religiosa cristã, o berço de Santo Antônio, de Santa Isabel de Portugal e das aparições de Nossa Senhora de Fátima. Um povo hospitaleiro, que traz na sua história uma identidade marcada por guerras, descobrimentos de novas terras, pobreza e imigração, mas também por um forte orgulho de uma identidade nacional, que não se perdeu ao longo dos séculos, e o ajudou a ser protagonista da história, no cenário mundial, através das navegações. Hoje, Portugal é o destino procurado por milhares de brasileiros e pessoas de outros países, que para lá vão em busca de trabalho e melhores condições de vida. 

É nesse contexto multicultural e étnico que será realizada a XXXVII Jornada Mundial da Juventude, contando com a presença do nosso Papa Francisco. Sei que muitos jovens fizeram grandes sacrifícios para poderem participar desta Jornada. Alguns vão caminhar durante vários dias para chegar a Lisboa, das várias regiões da Europa, outros passaram os últimos anos economizando e fazendo promoções, para poderem pagar as despesas da viagem. Tudo por um objetivo: estar na Jornada Mundial da Juventude, encontrar milhares de outros jovens, de mais de cem países, que falam dezenas de línguas diversas, com centenas de culturas diferentes, dispersos nos cinco continentes. Todos irão a Lisboa porque têm algo em comum que os reúne: a fé em Jesus Cristo, o nosso Salvador. 

A fé é algo que ajuda as pessoas a superarem as barreiras da distância, da língua, das raças e das culturas, porque diante de Deus somos aquilo que somos, não contam essas particularidades, que muitas vezes nos impedem, de ver o mundo com os olhos de Deus, de acolher e respeitar o outro, com a sua cultura, a sua dignidade e o seu jeito de ser. A força da mobilização dos jovens e a vontade deles, de poderem encontrar outros jovens de realidades diferentes, é algo contagiante, além da oportunidade de poderem encontrar o Papa Francisco e juntos celebrarem a fé em Jesus Cristo, caminho, verdade e vida que nos conduz ao Pai.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF