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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Humildade e cuidado com a casa comum

Casa comum
Casa comum
Em comunhão com o Papa Francisco celebramos, neste 1º de setembro, o Dia Mundial de Oração e Cuidado com a Criação.


Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
        
Com o tema central da humildade e da generosidade, neste primeiro dia de setembro e também o 22º domingo do tempo comum, iniciando o Mês da Bíblia, em comunhão com toda a Igreja no Brasil somos convidados a estudar e aprofundar de forma especial a Palavra de Deus e o que Deus nos ilumina na oração e no cuidado para com o planeta terra, a nossa “casa comum”. Em comunhão com o Papa Francisco celebramos, também, neste 1º de setembro, o Dia Mundial de Oração e Cuidado com a Criação. Relembro três trechos da Laudato Si: no primeiro (n.8-9) o Papa recorda que “o Patriarca Bartolomeu tem se referido particularmente à necessidade de cada um se arrepender do próprio modo de maltratar o planeta, porque «todos, na medida em que causamos pequenos danos ecológicos», somos chamados a reconhecer «a nossa contribuição – pequena ou grande – para a desfiguração e destruição do ambiente». No segundo – n. 236 – o Pontífice sublinha como na Eucaristia “a criação encontra a sua maior elevação”. No terceiro (n. 241-242), o Papa refere-se a Maria e José, colocando em evidência, em particular, como a Virgem ” Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora Se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano”.

Nas intenções de intercessão, se reza para que os cristãos busquem em primeiro lugar o Reino de Deus, cresçam no espírito, produzam frutos abundantes, trabalhem pelo bem da Igreja e não falte nunca às novas gerações a partilha dos bens da criação.

Na liturgia dominical contemplamos que a humildade atrai sobre si o amor de Deus e o apreço dos outros, ao passo que a soberba os repele. Por isso, a primeira leitura (Cf. Eclo 3,19-21. 30-31) aconselha-nos: “Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor” (Cf. Eclo 3,19-20). O homem humilde compreende melhor a vontade divina e sabe o que Deus lhe vai pedindo em cada circunstância. O humilde respeita os outros, as suas opiniões e as suas coisas; possui uma especial fortaleza, pois apoia-se constantemente na bondade e onipotência de Deus: “Quando sou fraco, então sou forte”, proclama São Paulo.
O que é ser humilde? Humildade deriva de humus, pó, lama, barro... Ser humilde é reconhecer-se dependente diante de Deus, é saber-se pobre, limitado diante do Senhor. Quem é assim, sabe avaliar-se na justa medida porque sabe ver-se à luz do Senhor! O humilde tem diante de si a sua própria verdade: é pobre, é indigente, mas infinitamente agraciado e amado por Deus. Por isso, o humilde é livre e, porque livre, manso. Tinha razão Santa Teresa de Jesus quando afirmava que a humildade é a verdade. O humilde vê-se na sua verdade porque vê-se como Deus o vê, vê-se com os olhos de Deus! Então, o humilde é aberto para o Senhor, dele reconhece que é dependente, e a ele se confia. Podemos, assim, compreender as palavras do Eclesiástico: “Filho, realiza teus trabalhos com mansidão; na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. O Senhor é glorificado nos humildes”. É assim, porque somente o humilde, que reconhece que depende de Deus, pode ser aberto, e acolher como uma criança o Reino que Jesus veio trazer.

No Evangelho (Cf. Lc 14, 1. 7-14) no banquete na casa do fariseu, o Senhor diz: “Quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo vem mais para cima. Então serás honrado na presença de todos os convivas. Porque todo aquele que se exalta será humilhado; e aquele que se humilha será exaltado”. A virtude da humildade não tem nada a ver com a timidez ou a mediocridade. A humildade leva-nos a ter plena consciência dos talentos que Deus nos deu, mas para fazê-los render com o coração reto. A humildade faz que tenhamos consciência clara de que os nossos talentos e virtudes, tanto naturais como na ordem da graça, pertencem a Deus, porque da sua plenitude, todos recebemos. Tudo o que é bom vem de Deus; a deficiência e o pecado, esses, sim, são nossos. Humildade é reconhecer que valemos pouco – nada -, e ao mesmo tempo sabermo-nos “portadores de essências divinas de um valor inestimável”.

A atitude que o Cristo hoje nos ensina é a gratuidade: “Quando deres uma festa (Tu dás: a festa da vida que o Senhor te concedeu e, mais ainda da vida nova em Cristo, recebida no Batismo e celebrada na Eucaristia), convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. A gratuidade é a virtude que dar sem esperar nada em troca, dar e sentir-se feliz, sentir-se realizada no próprio dar. Se prestarmos bem atenção, a gratuidade é filha da humildade. Só quem sabe de coração que em tudo depende de Deus e de Deus tudo recebeu gratuitamente (humilde), também sente-se impelido a imitar a atitude de Deus: dar gratuitamente! “De graça recebestes, de graça dai!” (Mt 10,8) ou, como dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: “Viver de amor é dar sem medida, sem nesta terra salário reclamar; sem fazer conta eu dou, pois convencida de que quem ama já não sabe calcular!” Pois bem, quem faz crescer em si a humildade e cultiva a gratuidade, experimenta a Deus e seu Reino, pois aprende a sentir o coração do próprio Deus, que tudo nos deu gratuitamente. Quem cultiva a humildade e a gratuidade, deixa o Reino ir entrando em si e entrará, um dia, no Reino de Deus.

A humildade elimina os complexos de inferioridade – que com frequência resultam da soberba ferida -, torna-nos alegres e serviçais, sequiosos de amor de Deus: Nosso Senhor porá em nós tudo o que nos faltar. Só o humilde procura a sua felicidade e a sua fortaleza no Senhor. Um dos motivos pelos quais os soberbos andam à cata de louvores e se sentem feridos por qualquer coisa que possa rebaixá-los na sua própria estima ou na dos outros, é a falta de firmeza interior; o seu único ponto de apoio e de esperança são eles próprios.
Pratiquemos a humildade e a generosidade, prenhe de compaixão, cuidando e protegendo a nossa “casa comum”! Que a Palavra de Deus, que é lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos, nos anime em comunidade a ler, refletir e rezar a Palavra de Deus, Amém!

Rádio Vaticano

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF