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domingo, 2 de fevereiro de 2025

HISTÓRIA: "A fé nasce da vontade, não da coerção" (II)

Fé prática na providência divina (Schoenstatt)

Arquivo 30Giorni n. 01 – 2001

"A fé nasce da vontade, não da coerção"

Com estas palavras de De civitate Dei , Alcuíno, o conselheiro mais ouvido de Carlos Magno, dirige-se ao rei franco que tentou forçar o batismo dos saxões. Na história da Igreja, a autoridade de Santo Agostinho, desde que reconhecida, representou um elemento de crítica à imposição da prática cristã pela força. E a toda idealização doentia das realidades mundanas. Entrevista com Alessandro Barbero.

por Paolo Mattei

Um espírito missionário mais genuíno do que em outras épocas?
BARBERO: Devo fazer uma premissa metodológica por lealdade à minha profissão: hesitaria em dizer que há certas épocas em que somos sinceros e genuínos e outras em que não o somos mais. Em cada momento histórico há uma coexistência de pontos de vista, de atitudes. Eu não chegaria à distinção um tanto maniqueísta entre períodos históricos genuínos e bons e outros em que tudo é negativo e ruim: essa é uma atitude anti-histórica. A era da qual estamos falando não foi caracterizada apenas pela necessidade de expansão imperialista. Deve ter havido também este aspecto, porque é fácil imaginar que para certos guerreiros francos que lutaram na Saxónia sob Carlos Magno (uma guerra, repito, que durou trinta anos e nunca terminou realmente, caracterizada pelas contínuas rebeliões daquele povo visceralmente ligada aos (seus próprios ritos religiosos) a conversão dos pagãos representava uma questão secundária em relação à ampliação das posses fundiárias, à subjugação de novos escravos, à divisão de cargos e prebendas. Em suma, a dimensão imperialista certamente estava presente e trouxe consigo um pesado fardo de violência. Ao mesmo tempo, porém, existia um clero, monges e intelectuais que refletiam sobre a natureza moral e política da questão. E assim acontece que Alcuíno, o mais ouvido por Carlos entre os seus conselheiros, ao saber da pesada violência que o rei franco havia perpetrado contra os rebeldes saxões querendo batizá-los à força, lhe escreve, citando o De civitate Dei , de Santo Agostinho, que "a fé nasce da vontade, não da coerção. Você pode persuadir um homem a acreditar, mas não pode forçá-lo." E acrescenta: "A Saxônia precisa de pregadores, não de predadores". Carlos Magno escuta esses seus amigos. E quando se tratou de "planejar" outra missão, desta vez contra os ávaros, nos acampamentos do exército, em 796, reuniu-se uma espécie de conferência episcopal, de cujo trabalho emergiu, em documento oficial, uma condenação por demais forte. livre dos métodos seguidos na Saxônia. Não devemos repetir os mesmos erros, devemos basear nossa pregação no amor e não na imposição. Alcuíno e outros, como Paulino, patriarca de Aquileia, que presidiu aquela conferência, deixaram claro que ninguém pode ser forçado a acreditar. Além disso, por parte dessas pessoas, há toda uma consideração política realista: é um clero, aquele que cerca Carlos Magno, que conhece o mundo. Na Saxônia, eles ressaltam, introduzimos o sistema eclesiástico e, em todos os lugares, forçamos as pessoas, antes de tudo, a pagar o dízimo para a manutenção do pároco. E essas pessoas, é claro, não estavam felizes. Não podemos trazer o cristianismo e primeiro dizer: você tem que pagar um imposto!

Em suma, há uma capacidade de gerir o problema tanto do ponto de vista político como moral que, naquele momento, é notável.

O que levou a Igreja de Roma a estabelecer uma aliança com os distantes francos, que eram, em última análise, bárbaros como os lombardos, o que culminou na coroação imperial de Carlos Magno?
BARBERO: Vários motivos. Os lombardos estavam na Itália desde 568. Para eles, um acordo com o papado só seria concebível se o papa concordasse em ser bispo do reino lombardo. Roma teve que concordar em se tornar parte do reino e, como todos os outros bispos, como os de Milão e Pavia, o bispo de Roma também teve que reconhecer a autoridade de seu rei. Os lombardos queriam essa submissão completa, essa era a linha deles, eles não podiam recuar mais. Por outro lado, com os francos, que estavam distantes, era possível, de alguma forma, lidar em termos de igualdade, como uma potência para outra.

Depois há outra razão, talvez ainda mais importante. Os francos, do ponto de vista do Papa, eram na verdade "menos bárbaros" que os lombardos porque estes últimos eram arianos há muito tempo e, portanto, hereges. Eles então se converteram ao catolicismo, mas durante a longa fase ariana tiveram relações muito ruins com toda a estrutura da Igreja. Este fato teve um forte impacto na decisão de Roma. Enquanto os francos tiveram, digamos, um "golpe de sorte" com o rei Clóvis, que, no século V, se converteu ao cristianismo na forma católica, provavelmente no Natal de 496. Foi uma coincidência, uma questão de encontros fortuitos, porque as tribos francas, durante suas viagens, não encontraram nenhum ariano. Em vez disso, eles conheceram católicos. Enquanto os lombardos, que vieram mais a leste, da Panônia, estavam em contato com um clero ariano. São apenas coincidências. Assim, os francos, estabelecidos na Gália, convertidos ao catolicismo, imediatamente iniciaram uma colaboração muito próxima com o episcopado local. Portanto, o reino franco, entre todos os reinos romano-bárbaros, mesmo antes de Carlos Magno, era de longe o mais robusto, o que melhor funcionava, mesmo a nível administrativo e cultural, porque tinha o apoio leal do episcopado e do Clero católico. Obviamente esta boa notícia chega aos ouvidos de Roma que, a certa altura, tira as suas conclusões...

Carlos Magno também teve que lidar, durante os anos em que reinou, com os muçulmanos. Alguns estavam próximos, além dos Pireneus…
BARBERO: Os muçulmanos eram uma realidade relativamente nova naquela época. Muito pouco se fala sobre eles nos círculos intelectuais. Na época de Carlos, ainda não havia o esforço, que seria implementado depois do ano 1000, de ler suas obras, de traduzir o Alcorão, de entender o que eles pensavam; Ainda não é hora de descobrir que eles realizaram as poderosas traduções que permitirão ao Ocidente recuperar toda a cultura grega. Este trabalho será então feito na época de Dante. Na época de Carlos Magno, a sensação era de que o mundo era grande e cheio de coisas, até mesmo misteriosas, cheio de cristãos, mas também de bárbaros e pagãos. E até o fenômeno muçulmano é abordado com pragmatismo e realismo político. Em outras palavras, para simplificar: se não podemos derrotar essas pessoas, vamos tentar conviver com elas. Carlos teve que lidar concretamente com os muçulmanos apenas na frente espanhola. Em 778, ele organizou uma expedição além dos Pireneus para ajudar o governador de Barcelona, ​​Sulaimân ben Yaqzân ibn al-Arabi e outros “principes Sarracenorum” que se rebelaram contra o emir de Córdoba e pediram ajuda a Carlos Magno. Ao retornar desta expedição, a retaguarda do exército franco foi destruída em uma emboscada nos Pireneus: deste episódio nasceu a lenda do herói Rolando, do traidor Ganelon e da emboscada que os muçulmanos armaram perto de Roncesvalles. Na realidade, os autores da armadilha fatal foram os bascos, os cristãos, e não os muçulmanos.

Mas os muçulmanos não estavam apenas na Espanha…
BARBERO: Havia outros, mais distantes, como Harûn al-Rashid, em Bagdá, califa de 786 a 809, com quem Carlos sempre manteve excelentes relações, enviando e recebendo embaixadas e presentes. Famoso é o elefante Abul Abbas, um presente do Califa, que Carlos sempre levará consigo em todas as suas viagens.

Em suma, professor, podemos falar de tolerância religiosa nas relações entre cristãos e muçulmanos do século IX?
BARBERO: Eu não chegaria a falar de tolerância programática, mas de pragmatismo, sim, de realismo político. Por outro lado, Harun al-Rashid provavelmente também fez as mesmas considerações para manter relações cordiais com Carlos em nome de uma prudência política muito realista: ele não sabia muito sobre esses bárbaros do Norte que estavam em Roma ou Aachen. . Eles, portanto, mantinham excelentes relações, sem espírito de guerra santa. A questão é esta. Há uma concepção missionária nos cristãos da época de Carlos Magno que, no entanto, é gerida com realismo político. A ideia não é: “nós e eles”, “nós contra eles”. Acima de tudo, o problema de Jerusalém não surge porque os árabes em Jerusalém naquela época são muito tolerantes: o patriarca cristão continua a viver lá, mesmo sob o domínio árabe, e os peregrinos vão a Jerusalém sem problemas. Ainda não existe essa ideia, eu diria doentia, de que Jerusalém deve estar toda de um lado ou de outro. Uma ideia que está então na origem de muitos problemas que estão aí para todos verem.

Fonte: https://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF