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segunda-feira, 19 de junho de 2023

A grandeza e a miséria do homem: o paradoxo do pensamento de Blaise Pascal

Blaise Pascal (Clermont-Ferrand, 19 de junho de 1623 - Paris, 19 de agosto de 1662) Matemático, físico, filósofo e teólogo francês, a quem o Papa Francisco dedicou a carta apostólica "Sublimitas et miseria hominis" (Vatican News)

O Papa Francisco dedicou sua Carta Apostólica 'Sublimitas et miseria hominis' à obra do filósofo e teólogo francês, no quarto centenário de seu nascimento. O Santo Padre o define "um companheiro de estrada que acompanha nossa busca pela verdadeira felicidade" e "nosso humilde e alegre reconhecimento do Senhor que morreu e ressuscitou". Um pensador brilhante, mas atento às necessidades dos pobres.

Silvonei José – Vatican News

“Grandeza e miséria do homem é o paradoxo que está no centro da reflexão e mensagem de Blaise Pascal, nascido há quatro séculos, em 19 de junho de 1623, em Clermont, no centro da França”. Assim tem início a Carta Apostólica 'Sublimitas et miseria hominis' que o Papa Francisco dedicou à obra do filósofo e teólogo francês, Blaise Pascal, no quarto centenário de seu nascimento.

Francisco recorda que Pascal desde criança e por toda a vida, procurou a verdade. Com a razão, esquadrinhou os sinais dela, especialmente nos campos da matemática, geometria, física e filosofia. Em idade ainda muito precoce, fez descobertas extraordinárias, alcançando fama considerável. Mas não ficou por aí. Num século de grandes progressos em muitos campos da ciência, acompanhados, porém dum crescente espírito de ceticismo filosófico e religioso, Blaise Pascal mostrou-se um incansável investigador do verdadeiro: como tal, permanece sempre «inquieto», atraído por novos e mais amplos horizontes.

Francisco escreve que nunca silenciava nele a questão, antiga e sempre nova, que ressoa no ânimo humano: «Que é o homem para Te lembrares dele, o filho do homem para com ele Te preocupares?». Esta pergunta – escreve o Papa - está gravada no coração de cada ser humano, em todo o tempo e lugar, de qualquer civilização e língua, independentemente da sua religião. Assim vemos Pascal interrogar-se: «Que é um homem na natureza? Um nada comparado com o infinito, um tudo comparado com o nada».

Pascal estava atento aos problemas então mais sentidos, bem como às necessidades materiais de todos os componentes da sociedade em que vivia. Para ele, a abertura à realidade significava não se fechar aos outros, nem mesmo na hora da sua última doença.

Deste período (tinha ele trinta e nove anos), chegam-nos palavras que exprimem o passo conclusivo de tal caminho evangélico: «Se os médicos falam verdade (e Deus permita que eu recupere desta doença), estou decidido para o resto da minha vida a não ter outro emprego nem outra ocupação além do serviço aos pobres».

Um enamorado de Cristo, que fala a todos

O Papa Francisco na sua carta afirma que “se Blaise Pascal consegue tocar a todos, é sobretudo porque falou admiravelmente da condição humana. Mas seria errado ver nele apenas um especialista, embora genial, dos costumes humanos”. O monumento formado pelos seus Pensamentos, de que alguns ditos isolados ficaram célebres, não se pode compreender realmente se se ignora que Jesus Cristo e a Sagrada Escritura constituem simultaneamente o centro e a chave do mesmo.

Com efeito, se Pascal começou a falar do homem e de Deus, foi por ter chegado à certeza de que «não só conhecemos a Deus unicamente por Jesus Cristo, mas também nos conhecemos a nós mesmos apenas por Jesus Cristo. Só conhecemos a vida, a morte por meio de Jesus Cristo. Fora de Jesus Cristo, não sabemos o que é a nossa vida, a nossa morte, nem quem é Deus nem mesmo o que somos nós.

Fé, amor e liberdade

Como cristãos, devemos precaver-nos da tentação de brandir a nossa fé como uma certeza incontestável que se imporia a todos. Pascal tinha, sem dúvida, a preocupação de dar a conhecer a todos que «Deus e o verdadeiro são inseparáveis», mas sabia que o ato de crer é possível pela graça de Deus, recebida num coração livre.

Pascal nos adverte contra as falsas doutrinas, as superstições ou a libertinagem que mantêm, a tantos de nós, longe da paz e alegria duradouras d’Aquele que deseja que escolhamos a vida e a felicidade, não a morte e a desventura. O drama, porém, da nossa vida é que às vezes vemos mal e, consequentemente, escolhemos mal.

Os filósofos

Sobressai um discurso filosófico em muitos escritos de Pascal, em particular nos seus Pensamentos: esse conjunto de fragmentos, publicados postumamente, que são as notas ou os rascunhos dum filósofo animado por um projeto teológico, cujos pesquisadores se empenham em reconstituir, não sem variações, a coerência e a ordem original.

O amor apaixonado por Cristo e o serviço dos pobres, não foram tanto o sinal duma fratura no espírito deste discípulo corajoso, como sobretudo um aprofundamento rumo à radicalidade evangélica, o avançar para a verdade viva do Senhor com a ajuda da graça. Ele que tinha a certeza sobrenatural da fé, vendo-a claramente conforme à razão embora a ultrapasse infinitamente, quis levar o mais longe possível o debate com quantos não partilhavam a sua fé, porque, «àqueles que a não têm, só a podemos dar pelo raciocínio, esperando que Deus lha conceda pelo sentimento do coração».

Meditando os Pensamentos de Pascal, encontramos de certa forma este princípio fundamental: «A realidade é superior à ideia», porque Pascal ensina a desviar-nos das «várias formas de ocultar a realidade», desde os «purismos angélicos» aos «intelectualismos sem sabedoria». Nada é mais perigoso do que um pensamento desencarnado: «Quem quer fazer o anjo, faz a besta».

A condição humana

A filosofia de Pascal, toda ela em paradoxos, deriva dum olhar simultaneamente humilde e lúcido, que procura alcançar a «realidade iluminada pelo raciocínio». Parte da constatação de que o homem é como um estranho para si mesmo, grande e miserável; grande pela sua razão, a sua capacidade de dominar as paixões, grande até «na medida em que se reconhece miserável». De modo particular aspira a algo mais do que satisfazer os próprios instintos ou resistir-lhes, «porque, aquilo que é natureza nos animais, chamamos-lhe miséria no homem».

Pascal sublinha que, se existe um Deus e se o homem recebeu uma revelação divina – como afirmam diversas religiões – e se esta revelação é verdadeira, deve encontrar-se nela a resposta que o homem espera para resolver as contradições que o atormentam: «As grandezas e as misérias do homem são tão visíveis que é preciso necessariamente que a verdadeira religião nos ensine se existe qualquer grande princípio de grandeza no homem e se existe um grande princípio de miséria. E é preciso ainda que ela nos dê a razão de ser destes contrastes assombrosos».

Conversão: a visita do Senhor

No dia 23 de novembro de 1654, Pascal viveu uma experiência muito forte, de que se fala até agora como a sua «Noite de Fogo». Esta experiência mística, que o fez derramar lágrimas de alegria, foi tão intensa e decisiva para ele que a escreveu num pedaço de papel datado com precisão, o «Memorial», que guardara no forro do casaco sendo descoberto só depois da sua morte. É impossível saber a natureza exata do que se passou na alma de Pascal naquela noite, mas parece tratar-se dum encontro de que ele próprio reconheceu a analogia com aqueloutro, fundamental em toda a história da revelação e da salvação, vivido por Moisés diante da sarça ardente (cf. Ex 3).

Como recordava São João Paulo II na sua Encíclica sobre as relações entre fé e razão, «filósofos, como Blaise Pascal», distinguiram-se pela recusa de qualquer «presunção», bem como pela sua opção por uma postura feita de «humildade» e simultaneamente de «coragem». Experimentaram que a fé «liberta a razão da presunção».

Nem a inteligência geométrica nem o raciocínio filosófico permitem ao homem chegar, sozinho, a uma «visão perfeitamente nítida» do mundo e de si mesmo. A pessoa que se debruça sobre os detalhes dos seus cálculos, não beneficia da visão de conjunto que permite «entrever todos os princípios».

Pascal nunca se resignou com o facto de alguns dos seus semelhantes não só não conhecerem Jesus Cristo, mas, por preguiça ou por causa das suas paixões, desdenharem levar o Evangelho a sério. Com efeito, é em Jesus Cristo que se joga a vida deles.

A verdadeira luz que ilumina o mistério da morte provém da ressurreição de Cristo». Só a graça de Deus permite ao coração do homem ter acesso à ordem do conhecimento divino, à caridade. Isto levou um importante comentarista, contemporâneo de Pascal, a escrever que «o pensamento só consegue pensar cristãmente, se tiver acesso àquilo que Jesus Cristo implementa: a caridade».

Na sua posição de fiel leigo, Pascal saboreou a alegria do Evangelho, com que o Espírito quer fecundar e curar «todas as dimensões do homem» e reunir «todos os homens à volta da mesa do Reino». Em 1659, quando compôs a magnífica Oração para pedir a Deus o bom uso das doenças, Pascal é um homem pacificado, que já não se situa na controvérsia, nem mesmo na apologética. Estando muito doente e à beira da morte, pede para comungar, mas não o pôde fazer imediatamente. Então dirige estas palavras à sua irmã: «Não podendo comungar a cabeça [Jesus Cristo], queria comungar os membros». E «tinha um grande desejo de morrer na companhia dos pobres». «Morre com a simplicidade duma criança»: diz-se dele pouco antes de exalar o último respiro em 19 de agosto de 1662.


Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 18 de junho de 2023

Quem tem medo do urso russo

Vladimir Putin durante a cúpula informal com o presidente dos Estados Unidos George W. Bush em Maine junto à residência de Bush senior, em 2 de julho de 2007 | 30Giorni

Arquivo 30Dias - 06/07 -2007

Quem tem medo do urso russo

Entrevista com Maurizio Blondet, autor de Stare con Putin? “O processo de integração entre Europa e Rússia está nos fatos. Trata-se apenas de acompanhá-lo evitando que outros, pelos seus interesses, destruam-no”.

Entrevista com Maurizio Blondet de Davide Malacaria

“Rússia e Europa podem apenas integrar-se cada vez mais, é uma espécie de destino fatal”. São palavras de Maurizio Blondet, por muito tempo jornalista de primeira fila do Avvenire, o jornal dos bispos italianos, no qual escreveu muitos editoriais. Há muito tempo Blondet abandonou os desafios diários do jornal católico, para dedicar-se a um jornal on-line, Effedieffe.com, com traços mais fortes, mas sempre muito interessante e bem documentado. Publicou há pouco tempo o livro Stare con Putin?, ou seja, o tema da nossa entrevista. Nosso encontro foi antes da cúpula informal entre o presidente dos Estados Unidos George W. Bush, e o presidente da Rússia Vladimir Putin, realizada nos primeiros dias de julho em Maine, a residência de Bush sênior. Um encontro que suscitou esperanças. A serem verificadas.

Maurizio Blondet | 30Giorni

Por que Stare con Putin?
MAURIZIO BLONDET: Creio que o presidente russo depois do 11 de setembro e início da chamada guerra ao terrorismo, tenha representado um ponto de estabilidade, de equilíbrio no mundo. E a Europa só tem a ganhar integrando-se com a Rússia. Porém, infelizmente os burocratas de Bruxelas, os vários Barroso, os Solana, remam contra; são pessoas que guiam a Europa sem qualquer aval popular e que apenas complicam esta integração. Talvez devam obedecer a outros, a alguém que não tenha nenhum interesse a este processo.

Ou seja?
BLONDET: Os Estados Unidos principalmente. Há os que querem marginalizar a Rússia e torná-la uma pequena potência asiática.

Uma tese levemente complotista…
BLONDET: Nada disso. Li uma passagem de um ensaio de 1997 de Zbigniew Brzezinski, ex-Secretário de Estado de Carter: “A Ucrânia, novo e importante espaço no cenário eurásico, é uma coluna geopolítica porque a sua própria existência como país independente consente a transformação da Rússia. Sem a Ucrânia a Rússia deixa de ser um império eurásio. A Rússia sem a Ucrânia pode ainda lutar pela sua situação imperial, mas será apenas um império substancialmente asiático, provavelmente enredado em conflitos deteriorantes com as nações da Ásia Central, que seriam sustentadas pelos Estados Islâmicos, seus amigos do Sul. […] Os Estados que merecem o maior apoio geopolítico americano são o Azerbaijão, o Uzbequistão e (fora desta área) a Ucrânia, pois todos os três são pilastras geopolíticas. Pode-se dizer que a Ucrânia é o Estado essencial, pois influenciará a evolução futura da Rússia. Uma leitura útil para entender o que aconteceu nestes últimos anos. Foi escrito muitos anos antes que estourassem as “revoluções coloridas”.

Revoluções coloridas…
BLONDET: A revolução laranja na Ucrânia, a mais importante do ponto de vista geopolítico, a revolução rosa na Geórgia, e depois as dos países Bálticos e dos países asiáticos como o Uzbequistão, o Quirguistão. Todas financiadas pelos Estados Unidos através de inúmeras organizações não governamentais que pulularam nestes países de uma hora para outra, e isso apesar de existir nos Estados Unidos leis que proíbem manipular as sociedades civis de outros países. No meu livro contei também do homem mais importante da revolução quirguiz, o americano Mike Stone, que durante as desordens, criou um jornal no qual se ensina como se faz uma greve de fome, como se organiza uma manifestação, como se atua a resistência passiva… e quando as autoridades cortaram-lhe a corrente elétrica conseguiu do mesmo modo imprimir graças a geradores gentilmente colocados à sua disposição pela embaixada americana do Quirguistão. Também é singular a figura de Kateryna Chumachenko, esposa de Victor Yushchenko, líder da revolução laranja e atual presidente da Ucrânia, nascida em Chicago, funcionária da Casa Branca sob a presidência de Ronald Reagan e depois do Departamento do Tesouro. Na Casa Branca era membro da Public Liaison Office e a sua especialidade era procurar consenso às políticas reaganianas junto aos grupos anticomunistas do Leste europeu, em particular os dissidentes ucranianos. São apenas alguns exemplos.

O senhor falava das revoluções que aconteceram nos países da Rússia asiática…
BLONDET: Trata-se dos países caucásicos e os do Sul que se estendendo do Mar Cáspio à China, separam a Rússia do Irã, do Afeganistão e do Paquistão. Estados fundamentais de um ponto de vista geopolítico, pois colocam em comunicação a Rússia com o Cáspio, que além de tudo é riquíssimo de petróleo e gases naturais, mas principalmente porque é passagem dos oleodutos russos. Atualmente os Estados Unidos recruta marines na Geórgia: não têm mais voluntários americanos, porque estes se oferecem a empresas privadas que pagam mais, por isso são obrigados a preencher as filas de seus exércitos em países como estes… Mas nem tudo correu como esperavam os estrategistas neoconservadores: depois de um período de submissão aos novos patrões ocidentais, em alguns destes Estados os políticos locais reiniciaram a estabelecer relações com Moscou. Por outro lado, a Rússia é muito mais próxima e eles do que os Estados Unidos e é impossível não levar isso em consideração.

Mesmo assim, depois do 11 de setembro os Estados Unidos e a Rússia apareciam como aliados contra a ameaça terrorista.
BLONDET: Na época os Estados Unidos acreditavam que podiam administrar a Rússia. Tudo se complicou quando, ao invés, Putin começou a fazer uma política que levou pouco a pouco a Rússia fora do caos organizado no qual tinha precipitado sob a presidência de Yéltsin. A guerra do Iraque, que nas idéias dos estrategistas americanos representava um passo na direção da hegemonia mundial, causando o aumento do preço do petróleo obteve, ao invés, o efeito, para eles indesejado, de ajudar a recuperação da Rússia… E Putin usou o petróleo para sanear a nação, não para enriquecer os bolsos de poucos oligarcas como acontecia sob a presidência de Yéltsin, quando alguns magnatas sem escrúpulos garantiram para si, por míseros centavos, graças aos contatos com o então presidente russo, as enormes riquezas russas.

Os oligarcas… há uma guerra subterrânea entre estes e Putin.
BLONDET: E é o motivo pelo qual o presidente russo foi alvo de tantos ataques por parte ocidental. Até a prisão do magnata Mikhail Khodorkovski, em outubro de 2003, as relações com o Ocidente eram boas. Depois disso precipitaram: desde então Putin foi acusado de atentar à democracia e muitas outras coisas… Com efeito a prisão de Khodorkovski foi o sinal de inversão de tendência, o sinal de que para os oligarcas tinha acabado o tempo das vacas gordas, que o novo inquilino do Kremlin não iria tolerar as roubalheiras destes senhores que gozavam do apoio da finança internacional. Khodorkovski tornara-se o proprietário da maior empresa petrolífera russa, a Yukos, desembolsando 309 milhões de dólares para adquirir 78% das ações… Um dia depois na Bolsa de Valores russa a empresa demonstrava o seu verdadeiro valor: 6 bilhões de dólares.
Obviamente o dinheiro não era seu, mas lhe foram emprestados por conhecidos financistas ocidentais aos quais, antes de ser preso, tentava revender a empresa.

No seu livro o senhor alude a relações entre os oligarcas e os terroristas chechenos.
BLONDET: Não é um mistério que Shamil Basayev, o terrorista que reivindicou a tragédia de Beslan, na qual morreram 394 pessoas, das quais 156 crianças, era o chefe dos guarda-costas de Boris Abramovich Berezovzky, o mais poderoso destes oligarcas, atualmente “exilado” em Londres. Assim como Aslan Maskhadov, outro chefe da guerrilha Chechênia, também implicado, entre outras coisas, na tragédia de Beslan, era um dos guarda-costas de Berezovzky… mas a guerrilha da Chechênia é toda uma história a ser contada. Quando, em um tiroteio, as tropas russas mataram Rizvan Chitigov, então número três da guerrilha, encontraram em seu corpo a clássica plaquinha metálica dos marines, com seus dados gravados e no bolso, a greencard americana, ou seja, o visto de residência permanente nos Estados Unidos. Isso é apenas para dizer que os Estados Unidos têm interesse em manter aberta a chaga da guerra Chechênia, um espinho cravado nas costas da Rússia…

Porém quase todos os oligarcas já se repararam no exterior…
BLONDET: Mas ainda têm contatos dentro da Rússia. Não podemos esquecer que não é gente que nasce de um dia para outro. São homens provenientes da nomenklatura soviética com sólidos contatos na polícia e nos serviços secretos. Tanto que as relações de Putin com esses homens é um alternar-se de contrastes e de pactos necessários. Putin colocou seus homens nos lugares-chave, mas não pode controlar tudo o que acontece na Rússia.

Em outubro do ano passado foi assassinada Anna Politkovskaja, uma jornalista que não poupava críticas a Putin. Este homicídio lançou uma sombra sobre o presidente russo.
BLONDET: Creio que este era justamente o objetivo dos assassinos. É evidente que o único a não ter interesse neste delito era o próprio Putin. Pessoalmente tenho certeza que a jornalista tenha sido uma vítima sacrifical imolada sobre o altar do anti-imperialismo russo. Alguns ambientes consideraram que seria mais útil morta do que viva. Devo sublinhar que o clamor da mídia sobre este homicídio foi excessivo. Enquanto um outro delito notável teve uma repercussão bem diferente: pouco antes da jornalista, foi morto Andrei Kozlov, vice-presidente do Banco Central da Rússia, homem de primeiro escalão da Federação Russa. Kozlov estava conduzindo um inquérito sobre a lavagem de dinheiro e estava para retirar algumas licenças bancárias. Um gesto devastador para certos ambientes financeiros. Certamente Kozlov não agia contra Putin, por isso este delito passou inobservado no Ocidente.

Outro delito notável, o de Aleksandr Litvinenko, morto em novembro de 2006. Outras acusações a Putin…
BLONDET: Muito se disse sobre o polônio, a substância radioativa com a qual foi envenenado… mas pode-se realmente acreditar que Putin tenha dado ordem de matar alguém usando uma substância que deixa vestígios por tudo, de modo que para encontrar o culpado basta seguir o vestígio radioativo? Na minha opinião, assim como para Anna Politkovskaja, também Litvinenko foi uma vítima sacrifical para desacreditar o presidente russo. Mesmo que neste caso alguma coisa tenha sido diferente. O pobre Litvinenko não morreu logo, mas, na sua longa agonia, falou muito, deixando uma quantidade prodigiosa de entrevistas, nas quais lançou acusações contra as autoridades russas (e aqui também deve-se sorrir pensando em um mandante que deixa à vítima um tempo tão longo para poder falar… há métodos bem mais rápidos para matar). O fato singular é que, dada a situação, ninguém podia estar à sua cabeceira. Todas as suas palavras foram ouvidas por uma só pessoa autorizada a encontrar o moribundo, um certo Alex Goldfarb, que age como uma espécie de porta-voz do doente. É ele que apresenta as palavras de Litvinenko ao exterior, que explica, que acusa… No meu livro chamo a atenção para o fato de que também foram encontrados vestígios de polônio no escritório de Berezovsky. Creio que seja um particular que deveria ser aprofundado.

Recentemente a Casa Branca anunciou que instalará na Polônia um sistema de mísseis de nova geração, para contrastar, dizem, a possível ameaça iraniana. Ato que suscitou reações negativas em Moscou.
BLONDET: Óbvio, porque na Rússia, justamente, percebe-se esta iniciativa como uma ameaça contra eles. A abertura sucessiva de Putin, que propôs criar uma colaboração entre EUA-Rússia para implementar este escudo espacial em algum estado soviético desestabilizou os neoconservadores. Não podem dizer não porque a proposta é mais do que racional, por outro lado não se entende o que a Polônia tem a ver com o Irã, mas tentarão de todos os modos fazer com que naufrague. Veremos os acontecimentos.

Putin com Bento XVI em 13 de março de 2007 | 30Giorni

O senhor também considera o Irã uma grave ameaça internacional?
BLONDET: Quando, recentemente, Bush foi à Índia, ofereceu àquela nação colaboração para desenvolver tecnologia nuclear. Exatamente o que quer impedir que o Irã possua. Na realidade para os neoconservadores o ataque ao Irã tornou-se uma verdadeira obsessão. Alguns meses atrás, falando ao Congresso americano, Brzezinski disse que a atual administração americana seria capaz de fazer um atentado em território americano e atribuir aos islâmicos, para conseguir um pretexto para atacar o Irã…

Paradoxal… mas não tinha dito que Brzezinski era fautor de uma política agressiva por parte dos Estados Unidos?
BLONDET: Brzezinski, como Kissinger, é um estrategista político que, justamente, preocupa-se com o destino da própria nação, busca a sua prosperidade, mesmo que às vezes com métodos discutíveis. Mas de trata de pessoas que conhecem os caminhos da política e da diplomacia. Nada a ver com a insensatez dos neoconservadores (neocon), fomentadores da guerra preventiva, da exportação da democracia a base de canhões, da reorganização do Oriente Médio em base aos direcionamentos da direita israelense… Uma loucura que se fixou no centro da velha política americana, revirando-a. Há diferença entre estes e aqueles, uma diferença que desembocou em um conflito aberto.

Voltemos a Putin. Dizia que a integração entre Rússia e Europa…
BLONDET: … traria apenas benefícios. Na realidade esta integração já está sendo construída dia após dia. Atualmente está para iniciar a construção de uma linha ferroviária a alta velocidade entre a Alemanha e a Rússia, da qual se fará uma conexão entre Rússia e China. Deste modo as mercadorias chinesas, as de um certo valor, entende-se, poderão chegar à Europa por terra, evitando rotas mais longas e dispendiosas. Nesta perspectiva situa-se também a construção de um gasoduto sob o Mar Báltico que, passando pela Polônia, abastecerá a Europa evitando que este precioso recurso passe através dos territórios das democracias do Leste, facciosas com os Estados Unidos. Enfim a integração está acontecendo. Trata-se apenas de acompanhar este processo, evitando que outros, pelos seus interesses, o destruam.

Nestes últimos anos muitos analistas notaram uma aproximação entre a Rússia e a China.
BLONDET: Entre os dois gigantes asiáticos sempre houve uma desconfiança. A política agressiva dos Estados Unidos teve como efeito aproximar o que sempre ficou separado. Entre a China e a Rússia nasceram sinergias militares, econômicas e comerciais, mas não é dito que este processo seja anúncio de ulteriores progressos. A China tem um destino asiático, a Rússia europeu. É importante sublinhar isso.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Sobre pets e pessoas amadas

Ivanko80 / Shutterstock

Por Francisco Borba Ribeiro Neto

O Papa Francisco causou um certo escândalo ao dizer que muitos casais em nossos dias preferem ter animais de estimação a ter filhos. Entenda:

Em duas ocasiões, numa meditação matutina e numa audiência, Papa Francisco causou um certo escândalo ao dizer que muitos casais em nossos dias preferem ter animais de estimação a ter filhos. Enquanto alguns se regozijavam com as afirmações do Pontífice, outros se sentiram indignados pelo que seria a censura a uma afetividade sincera que sentiam para com seus bichinhos. Antes de continuar, é importante esclarecermos alguns pontos:

1. O Papa não condenou ter animais de estimação. O Catecismo inclusive diz que “pode-se amar os animais” desde que “não se dê a eles um afeto que só é devido às pessoas” (CIC 2418).

2. Nessas ocasiões, Francisco estava desejando, isso sim, incentivar a paternidade e a maternidade, bem como a adoção de crianças órfãs. Em suas palavras: “Penso, em particular, em todos aqueles que se abrem a acolher a vida através da adoção, que é uma atitude tão generosa e positiva […] Este tipo de escolha está entre as formas mais elevadas de amor e de paternidade e maternidade. Quantas crianças no mundo estão à espera de alguém que cuide delas! E quantos cônjuges desejam ser pais e mães, mas não o conseguem por razões biológicas; ou, embora já tenham filhos, querem partilhar o afeto familiar com quantos não o têm. Não devemos ter medo de escolher o caminho da adoção, de assumir o ‘risco’ do acolhimento” (Catequese sobre São José 6).

3. As críticas do Pontífice estavam direcionadas àqueles que optam por animais de estimação porque têm medo de que, com os filhos, percam conforto, bem-estar e autonomia. Além disso, advertia que “este matrimônio acaba por chegar à velhice na solidão, com a amargura da solidão” (Meditação sobre os três amores para um matrimônio).

Quando os pets valem mais que as pessoas

Recentemente, uma pesquisa nos Estados Unidos mostrou que os jovens que tinham animais de estimação se alegravam mais com a “felicidade” de seus animais de estimação (36% dos entrevistados) do que com a felicidade de seus companheiros (21%). Estamos, portanto, numa situação ainda mais extremada do que aquela em que se trocam filhos por animais: esses jovens preferem os animais a seus namorados, namoradas, esposos e esposas.

A cada geração, estamos ganhando mais “liberdade” para vivermos nossos afetos. Mas, com isso, as relações afetivas parecem estar se tornando cada vez menos satisfatórias, ao invés de  mais prazerosas. Nos aproximamos cada vez mais do realismo desesperançado exposto por Jean-Paul Sartre, em seu clássico Entre quatro paredes (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira): “o inferno são os outros”. A companhia dos outros pode nos trazer afeto e satisfação, mas também pode ser uma fonte de angústia e conflito, vigilância e pressão.

Ter um animal de estimação, cuidar dele, pode ser uma grande ajuda para o desenvolvimento afetivo de uma pessoa. Crianças, jovens e adultos, na relação com seus pets, aprendem a se responsabilizar pelo bem de outros, fazem experiências positivas de carinho e afeto, descobrem a alegria de ser importantes para um outro. Por outro lado, os animais não nos oferecem os riscos que enfrentamos na relação com outra pessoa: eles não nos criticam diretamente, não verbalizam racionalmente suas insatisfações, não nos trocam por outro dono “mais legal”, não nos decepcionam e frustram quando chegam à idade adulta nem correspondem a nossas expectativas. Parecem dar tanto quanto outra pessoa poderia dar, mas cobram muito menos por isso e parecem ser muito mais confiáveis.

Animais de estimação não são tão “livres” quanto os seres humanos – e constatamos, todos os dias, o quanto a liberdade, nossa e dos outros, pode ser causa de desgostos e frustrações. Mas, existe um algo mais que só podemos receber de um outro que seja tão livre quanto nós. Infelizmente, nas relações afetivas, muitas pessoas aprenderam a fazer com os outros o que bem entendem, mas não aprenderam a dar esse “algo mais”. Daí que os pets se apresentem como menos arriscados e até mais satisfatórios que os humanos.

Viver um verdadeiro grande amor

Escandalizar-se com a situação atual não adianta muito. Temos, inclusive, que reconhecer que, se os jovens sentem cada vez mais que é melhor a companhia de um animal de estimação do que a de uma outra pessoa, a culpa é dos adultos que não pensavam assim, mas não souberam apresentar uma experiência de vida que “valesse a pena”, que fosse realmente gratificante.

Nos acostumamos com a ideia de que a vida “é assim mesmo”, feita de “altos e baixos”. Reduzimos o fascínio à banalidade; trocamos o desejo, que nos apaixona, mas também nos fere, pelo conformismo, que pouco dá, mas em compensação não machuca; preferimos não “rir todos os nossos risos” em troca de não “chorar todos nossos choros”. Nossos prazeres se tornaram individualistas, pois estando sozinhos fazemos o que bem entendemos – e isso parece ser a liberdade e a felicidade. Para viver assim, um jovem talvez possa mesmo preferir ser fiel a um pet que a um outro ser humano, cuidar de cães e gatos a cuidar de crianças.

A questão não é, portanto, criticar quem prefere pets a pessoas; mas sim mostrar todo o fascínio das relações interpessoais. A liberdade não é só fazer aquilo que se quer. Liberdade é poder escolher e fazer aquilo que mais nos realiza. A satisfação de receber afeto não é suficiente para nos deixar felizes: precisamos dar afeto – e dar afeto para alguém que seja tão livre como nós, que até mesmo nos incomode e nos obrigue a fazer algo aparentemente contra a nossa vontade.

Um cristianismo bem vivido é uma abertura natural para a verdadeira liberdade e a verdadeira felicidade. Nele, os afetos se integram de modo equilibrado, existe espaço para o outro e para os filhos, para o casal e para os amigos, para as crianças e para os pets, pois em tudo se expressa aquele amor primeiro que recebemos de Deus, que se comunica ao mundo por nosso intermédio e que nos mostra a verdadeira realização e a verdadeira liberdade que se expressam na doação ao outro.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Jesus vê as pessoas

Jesus vê as pessoas | Crédito: ucdb

JESUS VÊ AS PESSOAS

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Ter olhos, mas não ver; ter ouvidos, mas não ouvir, é um mal que pode nos assolar a todos. Olhar não é a mesma coisa que ver, e escutar não é o mesmo que ouvir. 

Olhar e escutar são reflexos sensitivos e involuntários. Podemos ouvir e olhar, inclusive coisas desagradáveis, que pouco depois fazemos questão de esquecer. 

Ver, requer olhar com atenção e interesse. Voltar-se para o objeto com admiração e afeto. Por isso, é tão agradável ver e ouvir pessoas que gostamos. 

Jesus caminha com atenção no meio das pessoas. Ele as vê enquanto passa e lhes chama a uma nova condição. 

Enquanto caminhava entre todo tipo de gente, Jesus viu doentes, pecadores, proscritos, ofegantes, pobres e desesperados, e a todos os enxergou com o olhar que via a partir de dentro. 

Certa vez, “Jesus estava sentado em frente ao cofre das ofertas e observava como a multidão punha dinheiro no cofre. Muitos ricos depositavam muito. Então, uma viúva pobre deu duas moedinhas. Chamando os seus discípulos, Jesus declarou: Digo-lhes a verdade: esta viúva pobre colocou mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver” (Mc 12,41-44). 

A santidade da viúva não lhe passou despercebida. Jesus faz um elogio àquela pobre que retribuía mais do que podia e dava mais do que possuía, pavimentando com sua fidelidade, um caminho que serviria de exemplo pelos tempos vidouros. Essa experiência, esse modo de ver, Jesus partilha com os discípulos. Ele quer corrigir e endireitar o modo como eles viam as coisas. 

Um dos apóstolos conta, em primeira pessoa, como foi visto por Jesus, apesar de seu descrédito enquanto pecador público. Uma história dramática que poderia nunca ter alcançado um desfecho promissor.  Entretanto, “Jesus viu Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” (Mt 9,9). Um ver arrebatador que o tirou de sua condição de indiferença. E, para nos instruir, ainda mais, sobre a misericórdia de Deus, deu-lhe a permissão para escrever um dos Evangelho sobre a sua própria vida e feitos memoráreis.  

Essa lembrança Mateus carregará consigo. Tempos mais tarde, ele nos relatará que: “Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). 

A própria inclusão dos apóstolos na ação efetiva dos milagres de Jesus, são resultantes dessa compaixão que Ele sentiu ao ver o sofrimento do povo. O ver de Jesus, portanto, o leva à compaixão. Produz uma mudança significativa e afeta o coração de quem o faz com sinceridade. Em outra ocasião, Mateus relatou que: “Quando Jesus desembarcou e viu uma grande multidão, teve compaixão deles e curou os seus doentes” (Mt 14,14). 

Jesus vê as pessoas. Vê com aquele olhar fraterno de quem sempre insistiu que queria misericórdia e não sacrifício. A sua missão é caminhar no meio de nós, olhar e aprofundar este gesto, até que se aclare a visão a respeito de quem somos e do que necessitamos; até nos encontrar no cerne profundo de nossa própria vida, e, dando-nos tudo o que precisamos, ensinar-nos a repartir e a ver.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

As histórias por trás das orações

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Por Loo Burnett

Além de nos aproximar de Deus e conceder benefícios imensuráveis à nossa alma, as orações carregam histórias incríveis sobre fatos que marcaram a história da salvação.

O fiel é motivado pela oração, pois acredita que através desta prática religiosa poderá se comunicar com o divino e solicitar uma cura, render ação de graças, interceder por alguém, entregar suas intenções, pedir proteção, adorar a Deus, expressar pensamentos e sentimentos.

A oração é o meio eficaz da comunicação e do estreitamento da relação entre o homem e Deus. Oramos quando estamos tristes e oramos quando está tudo bem. É assim que deve ser. A oração sempre esteve presente na vida do fiel, e esta afirmação nos é salientada nas Sagradas Escrituras – do livro de Gênesis ao livro do  Apocalipse. Ademais, a neurociência vem pesquisando sobre os efeitos benéficos da prática da oração no corpo humano, como: bem-estar emocional, a modulação da atividade cerebral, respostas neurofisiológicas – que podem estar relacionadas a um estado de relaxamento profundo impulsionado pela oração – e a melhora na atenção e na concentração.

Os profetas oravam, a Virgem Maria rezou diante do Arcanjo Gabriel, Jesus pregou sobre a oração e nos ensinou a rezar, os santos e místicos viveram sua espiritualidade sob o teto da contemplação e da oração. O mundo cristão foi e continua sendo concebido por um dos pilares mais fundamentais da religiosidade: o nosso diálogo com Deus através da oração pessoal, das orações estabelecidas pela Igreja e das práticas de piedade.

Cada oração conta uma história

As orações católicas estão além de uma fórmula para lembrar o fiel como ele deve rezar determinada prece, visto que muitas orações nos contam histórias. Vejamos a oração da Ave Maria. Parte desta prece foi extraída do Evangelho de São Lucas quando o Arcanjo Gabriel saudou a virgem ao anunciar a encarnação do Verbo “Alegra-te cheia de Graça, o Senhor está contigo (Lc, 1,28), sendo que parte desta mesma oração encontramos na saudação da sua prima Isabel “Bendita é tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre (Lc, 1, 42)”;

O Pequeno Exorcismo de São Miguel Arcanjo nasce de uma experiência mística com o Papa Leão XIII após uma visão estarrecedora de espíritos malignos sobre a cidade de Roma: “São Miguel Arcanjo defendei-nos no combate…”.

O Pai Nosso surgiu quando Jesus atendeu ao pedido de um dos discípulos  “Senhor, ensina-nos a orar, como João Batista também ensinou os seus discípulos” (Lc 11, 1). O Pai Nosso é uma oração importantíssima e única porque nos foi ensinada diretamente da fonte de todo o Bem: o Senhor.

oração dos pastorinhos de Fátima, e que hoje é conhecida pelos fiéis, manifestou-se por um anjo antes da primeira aparição de Maria. Conta-se que ao se apresentar às crianças, o Anjo de Portugal segurava um cálice com uma hóstia que gotejava sangue: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra…”.

A oração de libertação Eis a Cruz de Cristo +, que se encontra no Exorcismo do Papa Leão XIII contra Satanás e os Anjos Apóstatas (esta é uma segunda oração de exorcismo, porém mais extensa que o Pequeno Exorcismo de São Miguel), de acordo com a tradição popular teria sido entregue por Santo Antônio a uma pobre mulher que procurava uma prece infalível para afastá-la da tentação do inimigo: “Eis a cruz do Cristo! +Fugi forças inimigas! +Venceu o Leão de Judá, +A raiz de David! Aleluia!”.

Terço da Divina Misericórdia desponta quando Santa Faustina aprende a oração ministrada por Jesus Misericordioso, tendo se dirigido a ela pela voz interior: “Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro“.

Enfim, são inúmeras as preces católicas que, em suas sentenças, expressam importantes acontecimentos e nos iluminam às coisas do alto.

A oração, além de nos aproximar de Deus e conceder benefícios imensuráveis à nossa alma, pode nos contar histórias incríveis. Por isso, devemos orar em todas as situações e em todos os  lugares como nos ensina São Paulo em Tessalonicenses 5:17: “Orai sem cessar”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Francisco: Deus não está distante, mas é Pai. O agradecimento do Papa

Papa Francisco - Angelus  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Antes da oração do Angelus deste 11º Domingo do Tempo Comum, o Papa agradeceu as orações e os testemunhos de afeto durante sua permanência no Hospital Gemelli. Comentando o Evangelho dominical, destacou que o coração do anúncio é "o testemunho gratuito, o serviço" e que, estando perto de Deus, "superamos o medo e sentimos a necessidade de anunciar" o seu amor.

Silvonei José – Vatican News

"Desejo expressar minha gratidão por todos aqueles que demonstraram afeto, cuidado e amizade" durante minha hospitalização, "e garantiram o apoio da oração". Foi o que disse o Papa Francisco, que voltou neste 11º Domingo do Tempo Comum a recitar o Angelus na Praça São Pedro, depois de ter sido submetido a uma cirurgia em 7 de junho no Hospital Geral Agostino Gemelli, em Roma. "Essa proximidade para mim tem sido de grande ajuda e conforto", acrescentou olhando pela janela de seu escritório no Palácio Apostólico do Vaticano, "Obrigado de coração".

Deus está perto de nós, ele é Pai, não estamos sozinhos!

Na meditação que precedeu a oração mariana, o Papa recordou a passagem do Evangelho deste Domingo, na qual o evangelista Mateus descreve o mandato de Jesus aos discípulos: ""pro­clamai: ‘O Reino dos Céus está próximo’". E ele enfatiza que o coração da proclamação é "testemunho livre, serviço". Como no início de sua pregação, Jesus proclama que o senhorio do amor de Deus "vem entre nós". E isso, comenta, "não é uma notícia entre as outras, mas a realidade fundamental da vida". De fato, "se o Deus do céu está próximo, não estamos sozinhos na terra e, mesmo nas dificuldades, não perdemos a confiança". Essa é a primeira coisa a ser dita às pessoas":

Deus não está distante, mas é Pai, Ele o conhece e o ama; quer segurar a sua mão, mesmo quando você passa por caminhos íngremes e irregulares, mesmo quando você cai e tem dificuldade para se levantar e retomar o caminho.

Angelus Praça São Pedro | Vatican News

Perto Dele, superamos o medo e anunciamos

E muitas vezes, continua Francisco, " nos momentos em que você está mais fraco, pode sentir mais forte a sua presença. Ele conhece o caminho, Ele está com você, Ele é seu Pai!".  Assim, o mundo, grande e misterioso, "torna-se familiar e seguro, porque a criança sabe que está protegida. Ela não tem medo e aprende a se abrir: conhece outras pessoas, encontra novos amigos, aprende com alegria coisas que não sabia". Enquanto "cresce nela o desejo de se tornar grande e de fazer as coisas que viu o papai fazer". É por isso que Jesus começa aqui...

é por isso que a proximidade de Deus é o primeiro anúncio: estando perto de Deus, superamos o medo, nos abrimos para o amor, crescemos no bem e sentimos a necessidade e a alegria de anunciar.

Papa Francisco - Angelus | Vatican News

Anunciar sua proximidade com gestos de amor e esperança

Se quisermos ser bons apóstolos, prossegue o Pontífice esclarecendo, "devemos ser como crianças: sentar "no colo de Deus" e, de lá, olhar para o mundo com confiança e amor, para testemunhar que Deus é Pai, que somente Ele transforma nossos corações e nos dá aquela alegria e paz que não podemos proporcionar por nós mesmos.

Anunciar que Deus está próximo. Mas como fazer isso? No Evangelho, Jesus recomenda não dizer muitas palavras, mas fazer muitos gestos de amor e esperança em nome do Senhor. Esse é o coração do anúncio: testemunho gratuito, serviço.

Vou lhes dizer uma coisa, acrescentou o Papa: "fico perplexo e muito perplexo, sempre, com os 'faladores' que falam muito e não fazem nada".

Vamos nos fazer algumas perguntas 

O Papa Francisco então convida a nos perguntarmos: “nós, que acreditamos no Deus próximo, confiamos Nele? Sabemos olhar para frente com confiança, como uma criança que sabe que está sendo carregada pelo pai? Sabemos como nos sentar no colo do Pai com a oração, com a escuta da Palavra, aproximando-nos dos Sacramentos?”

Enfim, perto d’Ele, sabemos como incutir coragem nos outros, nos aproximar daqueles que sofrem e estão sozinhos, daqueles que estão longe e até mesmo daqueles que são hostis a nós?

Angelus de 18 de junho de 2023:

https://youtu.be/XnZGpWRHBvU

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Brasília celebra dia de Oração pela Santificação do Clero

Missa pelo Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes no Vicariato Norte de Brasília. Foto: Instagram/Arquidiocese de Brasília

BRASILIA, 16 Jun. 23 / 03:35 pm (ACI).- A arquidiocese de Brasília realizou no dia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes um encontro de oração para todo o clero da arquidiocese. A reunião aconteceu simultaneamente às 9h, em cada vicariato de Brasília com a presença dos seus bispos auxiliares referenciais, com momentos de oração, adoração e confissões e foram concluídos com uma missa solene ao Sagrado Coração de Jesus às 12h15.

A arquidiocese também convidou os fiéis por meio das redes sociais que se unissem em “oração pela santificação do clero, rogando ao Senhor que os presbíteros caminhem sempre na fidelidade e na imitação de Jesus Cristo”.

Em carta aos padres da arquidiocese de Brasília, o cardeal dom Paulo Cezar Costa escreveu que queria “que neste dia de santificação do clero”, todos os sacerdotes se colocassem “diante daquilo” que são: “homens consagrados, ungidos”. E convidou os sacerdotes a meditarem no Evangelho de Lucas 4, 14 – 22, que é proclamado na liturgia da missa de renovação das promessas sacerdotais, na Quinta-feira Santa. “A santidade do presbítero toma forma concreta através do amoris officium, ou caridade pastoral”, disse o arcebispo. “Ela é o princípio interior, a virtude que anima a vida do presbítero enquanto configurado a Cristo Bom Pastor”.

O Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes foi instituído pelo papa são João Paulo II, no 25 de março de 1995. Na carta “Aos sacerdotes, por ocasião da Quinta-feira Santa” ele diz aceitar a proposta “sugerida pela Congregação para o Clero, de se celebrar, em cada diocese, um “Dia pela Santificação dos Sacerdotes”, por ocasião da festa do Sagrado Coração de Jesus”. João Paulo II almejava “que tal iniciativa” ajudasse “os sacerdotes a conformarem-se cada vez mais plenamente com o coração do Bom Pastor”.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Reflexão para o 11º Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho do domingo | Vatican News

Mateus explica que a missão à qual Deus chama os discípulos é expressão da solicitude de Deus, que quer oferecer ao seu Povo a salvação.

Vatican News

Neste domingo, a Palavra que vamos refletir recorda-nos a presença constante de Deus no mundo e a vontade que Ele tem de oferecer aos homens, a cada passo, a sua vida e a sua salvação. No entanto, a intervenção de Deus na história humana concretiza-se através daqueles que Ele chama e envia, para serem sinais vivos do seu amor e testemunhas da sua bondade.
A primeira leitura apresenta-nos o Deus da “aliança”, que elege um Povo para com ele estabelecer laços de comunhão e de familiaridade; a esse Povo, Jahwéh confia uma missão sacerdotal: Israel deve ser o Povo reservado para o serviço de Jahwéh, isto é, para ser um sinal de Deus no meio das outras nações.

A segunda leitura sugere que a comunidade dos discípulos é fundamentalmente uma comunidade de pessoas a quem Deus ama. A sua missão no mundo é dar testemunho do amor de Deus pelos homens – um amor eterno, inquebrável, gratuito e absolutamente único.

O Evangelho traz-nos o “discurso da missão”. Nele, Mateus apresenta uma catequese sobre a escolha, o chamamento e o envio de “doze” discípulos (que representam a totalidade do Povo de Deus) a anunciar o “Reino”. Esses “doze” serão os continuadores da missão de Jesus e deverão levar a proposta de salvação e de libertação que Deus fez aos homens em Jesus, a toda a terra.
Na introdução (cf. Mt 9,36-38), Mateus explica que essa missão à qual Deus chama os discípulos é expressão da solicitude de Deus, que quer oferecer ao seu Povo a salvação. Mateus – que escreve para uma comunidade onde existia um número significativo de crentes de origem judaica – vai usar, para transmitir esta mensagem, imagens retiradas do Antigo Testamento e muito familiares para os judeus.

Nas palavras de Jesus, Israel é uma comunidade abatida e desnorteada, cujos pastores (os líderes religiosos judeus) se demitiram das suas responsabilidades. Eles são esses maus
pastores de que falavam os profetas. O coração de Deus está, no entanto, cheio de compaixão por este rebanho abatido e desanimado; Deus vai, então, assumir as suas responsabilidades, no sentido de conduzir o seu Povo para as pastagens onde há vida.

A referência à “messe” indica que essa missão é urgente e que já não há muito tempo para a levar a cabo. A “messe” aparece ligada à imagem do juízo iminente de Deus a referência ao “pedido” que deve ser feito ao Senhor da “messe”, um apelo a que a comunidade contemple a missão como uma obra de Deus, que deve ser levada a cabo com os critérios de Deus, por isso, a comunidade deve rezar – a fim de se aperceber dos projetos, das perspectivas e dos critérios de Deus – antes de empreender a tarefa de anunciar o Evangelho.
Vem depois o chamamento dos discípulos. Mateus começa por deixar claro que a iniciativa é de Jesus: “chamou-os”. Não há qualquer explicação sobre os critérios que levaram a essa escolha: falar de vocação e de eleição é falar de um mistério insondável, que depende de Deus e que o homem nem sempre consegue compreender e explicar.

Depois, Mateus aponta o número dos discípulos (“doze”). Por quê exatamente “doze”? Trata-se de um número simbólico, que lembra as doze tribos que formavam o antigo Povo de Deus. Estes “doze” discípulos representam simbolicamente a totalidade do Povo de Deus, do novo Povo de Deus.
Em seguida, Mateus define a missão que Jesus lhes confiou (“deu-lhes poder de expulsar os espíritos impuros e de curar todas as doenças e enfermidades”). Os espíritos impuros, as doenças e as enfermidades representam tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de chegar à vida em plenitude.

Repare-se como em todo o discurso a missão dos discípulos aparece como um prolongamento da missão de Jesus. O anúncio, que é confiado aos discípulos, é o anúncio que Jesus fazia (o “Reino”); os gestos que os discípulos são convidados a fazer para anunciar o “Reino” são os mesmos que Jesus fez; os destinatários da mensagem que Jesus apresentou são os mesmos da mensagem que os discípulos apresentam…

Ao apresentar a missão dos discípulos em paralelo e em absoluta continuidade com a missão de Jesus, Jesus convida a Igreja (os discípulos) a continuar na história a obra libertadora que Ele começou em favor do homem.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 17 de junho de 2023

Que os migrantes não encontrem a morte ao buscar futuro de esperança, tuíta o Papa

Kassem Abo Zeed, 34, da Síria, segura uma foto em seu celular de sua esposa desaparecida Israa que estava no navio com refugiados e migrantes que afundou em Pylos. EPA/YANNIS KOLESIDIS  (ANSA)

A guarda costeira da Grécia lançou seu terceiro e último dia de buscas na área onde um grande barco de pesca lotado de migrantes afundou na quarta-feira, tendo a bordo centenas de migrantes. Até agora foram recuperados 78 corpos e resgatadas 104 pessoas com vida. O número de desaparecidos é incerto, pois não existem dados precisos sobre o número de pessoas a bordo.

Vatican News

"Sinto profunda dor pela morte dos migrantes, entre os quais muitas crianças, no naufrágio ocorrido no Mar Egeu. Devemos fazer todo o possível para que os migrantes que fogem da guerra e da pobreza não encontrem a morte enquanto buscam um futuro de esperança", foi a mensagem do Papa no Twitter na conta @Pontifex.

Já enquanto deixava o Hospital Gemelli na manhã desta sexta-feira, 16, onde estava internado desde 7 de junho, o Papa Francisco pode expressar um pensamento sobre o recente e dramático naufrágio na Grécia, e que provocou dezenas de mortes: "Muita, muita dor", sussurrou com voz fraca. Até o momento foram recuperados 78 corpos e resgatadas 104 pessoas com vida. Segundo a Organização Internacional para Migração (a agência de migração da ONU), é possível que a bordo do barco estavam até 750 pessoas.

Já ontem, quinta-feira, o Santo Padre havia expresso seu pesar pelo ocorrido no telegrama enviado ao núncio apostólico no país, Dom Jan Romeo Pawlowski, onde disse estar "profundamente consternado ao saber do naufrágio na costa da Grécia, com sua chocante perda de vidas”, oferecendo “fervorosas orações pelos muitos migrantes que morreram, suas famílias e todas as pessoas traumatizadas por esta tragédia".

Neste meio tempo, a guarda costeira da Grécia lançou nesta sexta-feira seu último dia de buscas na área do Mar Mediterrâneo onde ocorreu o naufrágio, em águas profundas a cerca de 80 quilômetros da cidade costeira de Pylo.

A operação 24 horas de busca e resgate na costa sul da Grécia entrou em seu terceiro dia com poucas esperanças de encontrar sobreviventes ou corpos, já que nenhum foi localizado desde quarta-feira, quando 78 corpos foram recuperados e 104 pessoas foram resgatadas. Fontes do governo disseram que as chances de recuperar o navio afundado são remotas devido à profundidade da água.

O barco de pesca que transportava os migrantes viajava da Líbia para a Itália. As autoridades gregas e a agência de proteção de fronteiras da União Europeia, Frontex, rastrearam o barco antes que ele virasse e afundasse na quarta-feira.

A maioria dos sobreviventes foi transferida na sexta-feira de um hangar no porto de Kalamata, no sul, onde parentes também se reuniram para procurar seus entes queridos, para abrigos de migrantes perto de Atenas. Nove pessoas - todos homens provenientes do Egito, com idades entre 20 e 40 anos - foram presos e detidos sob alegações de tráfico de seres humanos e participação em empreendimentos criminosos.

Vinte e sete dos sobreviventes permanecem hospitalizados, informaram autoridades de saúde gregas. O porta-voz da guarda costeira Nikos Alexiou, citando relatos de sobreviventes, disse que os passageiros no porão do barco de pesca incluíam mulheres e crianças, mas que o número de desaparecidos, que se acredita estar na casa das centenas, ainda não está claro. Funcionários de um necrotério estatal nos arredores de Atenas fotografaram os rostos das vítimas e coletaram amostras de DNA para iniciar o processo de identificação.

A Grécia é uma das principais rotas de entrada na União Europeia para refugiados e migrantes do Oriente Médio, Ásia e África. Imagens aéreas divulgadas pelas autoridades gregas do barco horas antes de afundar mostraram dezenas de pessoas nos conveses superior e inferior do barco olhando para cima, algumas com os braços estendidos. Mas as autoridades gregas disseram que as pessoas nos conveses lotados repetidamente recusaram a ajuda de um barco da guarda costeira grega que o seguia, dizendo que queriam chegar à Itália.

*Última atualização às 12h18

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF