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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Início da chamada Carta de Barnabé

10 livros que foram completamente excluídos da bíblia - Fatos ...
Wikipedia
(Cap.1,1-8;2,1-5: Funk 1,3-7)         (Séc. II)

A esperança da vida é o início e o fim de nossa fé
Saúdo-vos na paz, filhos e filhas, em nome do Senhor que nos ama. 
Por serem grandes e preciosas as liberalidades que Deus vos concedeu, mais que tudo e intensamente me alegro por vos saber felizes e esclarecidos. Pois assim acolhestes a graça do dom espiritual, enxertada na alma. Por isto ainda mais me felicito com a esperança de ser salvo, ao ver realmente derramado sobre vós o Espírito vindo da copiosa fonte do Senhor. 
Estou plenamente convencido e consciente de que ao falar convosco vos ensinei muitas coisas, porque o Senhor me acompanhou no caminho da justiça; e sinto-me fortemente impelido a amar-vos mais do que a minha vida, porque são grandes a fé e a caridade que existem em vós pela esperança da vida. Tendo em consideração que, se é de meu interesse por vossa causa partilhar convosco algo do que recebi, será minha paga servir a tais pessoas. Decidi, então, escrever-vos poucas palavras, para que, junto com a fé, tenhais perfeita ciência. 
São três os preceitos do Senhor: a esperança da vida, início e fim de nossa fé; a justiça, início e fim do direito; caridade alegre e jovial, testemunho das obras de justiça. 
Pelos profetas, o Senhor fez-nos conhecer as coisas passadas, as presentes e deu-nos saborear as primícias das futuras. Ao vermos tudo acontecer por ordem, tal como falou, devemos nós, mais ricos e seguros, assimilar o seu temor. 
Quanto a mim, não como mestre, mas como um de vós, mostrarei alguns poucos pontos, pelos quais vos alegrareis nas circunstâncias atuais. 
Nestes dias maus, ele mostra seu poder; empenhemo-nos, pois, de coração em perscrutar os mandamentos do Senhor. Nossos auxiliares são o temor e a paciência; apoiam-nos a generosidade e a continência que, aos olhos do Senhor, permanecem castas, no convívio da sabedoria, inteligência, ciência e conhecimento. 
Todos os profetas nos revelaram não ter ele necessidade de sacrifícios nem de holocaustos nem de oblações, dizendo: Que tenho a ver com a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto de holocaustos, de gorduras dos cordeiros; não quero o sangue de touros e de cabritos, mesmo que venhais à minha presença. Quem exige isto de vossas mãos? Não pisareis mais em meus átrios. Trazeis oblações de farinha? Será em vão. O incenso me é abominável; vossos novilúnios e solenidades, não as suporto (cf. Is 1,11-13).

São Martinho

RAINBOW
Public Domain

Eremita (†580)

Chamava-se Márcio (do nome latino Martius, de onde depois proveio o nome Martinho) e era de família nobre. Seu nascimento deve-se colocar em torno do ano 500. De fato, quando São Bento, por volta do ano 529 foi para Montecassino, encontrou ali Martinho, descrito como um jovem eremita, que havia escolhido aquela paragem como um lugar para se dedicar à oração e à vida de penitência. Vivia na mais completa solidão, tendo por casa uma reentrância na rocha da montanha. São Gregório Magno, Papa, em seus Sermões chegou a elogiar a santidade e a grandeza desse seguidor de São Martinho. Narra-se que por algum tempo ele e São Bento chegaram a jejuar e a rezar juntos, mas logo não se colocaram de acordo com a forma de conduzir a vida ascética: São Bento desejava também se dedicar ao apostolado, visitando as casas das pessoas pobres daquela região. Martinho, por sua vez, desejava apenas a vida de solidão, dedicando-se à oração e ao louvor perene de Deus. Ficou claro que tinham visões diferentes e, por esse motivo, decidiram se separar: dessa forma São Martinho se dirigiu para outra localidade próxima num Monte chamado Mássico. Aí chegando, encontrou uma reentrância na rocha que logo transformou em sua cela. Vivia em orações e jejuns, mas sem perder o contato com São Bento. Para alcançar uma maior penitência, fez com que colocassem uma corrente em sua perna, para que não fosse tentado a sair de sua cela: assim viveu por três anos, até que São Bento suplicou para que ele deixasse de lado essa corrente. São Martinho obedeceu sem, no entanto, abandonar a vida de penitência. Logo sua fama de santidade correu pelas aldeias e povoados da região e, aos poucos, muitos jovens se sentiram impelidos a seguir o exemplo do santo: em torno a si foi se formando uma pequena comunidade de monges. No dia 3 de agosto de 580, após tantos jejuns e mortificações, Martinho exalou seu último suspiro, morrendo docemente. Seus discípulos logo se encarregaram de sepultar o corpo de seu santo abade na igreja do mosteiro.
Aleteia

A falsa história acerca das 95 Teses de Martinho Lutero e a venda de indulgências


Apologética

A figura “heróica” e “imponente” de Martinho Lutero pregando as suas 95 Teses na porta da Igreja de Todos os Santos, rompendo os paradigmas impostos por uma Igreja opressora e carente de toda moralidade, foi crida e sustentada como ato indiscutível por quase todos os protestantes e um bom número de católigos ignorantes, reforlada pela parafernália “made in Hollywood”, uma vez que abundam filmes em torno deste “evento”.
A realidade histórica, silenciada pelos sistemas educacionais e omissão daqueles que a conhecem e que muitas vezes permanecem em silêncio, guardando para si esse conhecimento, é a seguinte:
1º) As 95 Teses não foram difundidas publicamente por Lutero como um documento de protesto contra a doutrina da Igreja;
2º) Lutero enviou suas Teses anexadas a uma carta ao Arcebispo-eleitor da Magúncia, Alberto de Brandeburgo, em 31 de outubro de 1517;
3º) Lutero jamais pregou suas 95 Teses na porta da Igreja de Todos os Santos em Wittenberg;
4º) Lutero em nenhuma de suas Teses critica a doutrina das indulgências; pelo contrário, as defende;
5º) Lutero em nenhuma de suas Teses jamais critica o Papa pela venda de indulgências com vistas a terminar a construção da Basílica de São Pedro;
6º) A grande maioria dos cristãos católicos e protestantes desconhece o conteúdo das Teses de Lutero: se os protestantes as lessem hoje, não as aceitariam; diriam que são heresia.
No livro “Was Luther wirklich sagte”, Gottfried Fitzer assegura o seguinte:
  • “Nunca ocorreu a propalada exposição pública das 95 Teses”.
Este fato também é colocado em dúvida por outros historiadores como Erwin Iserloh e Klemens Houselmann.
Mais ainda: do relato feito por Johannes Schneider, servo de Lutero, de quem se extraiu supostamente a lenda da fixação das Teses na Igreja de Todos os Santos e em outras paróquias de Wittenberg, não encontramos todavia em seu manuscrito qualquer referência a este fato; ele apenas menciona que:
  • “No ano de 1517, Lutero apresentou em Wittenberg, sobre o Elba, conforme a antiga tradição da universidade, certas sentenças para discussão, mas modestamente, sem desejar insultar ou ofender alguém”.
Aí já se vê como a desonestidade [intelectual] protestante transformou um trabalho universitário feito para debate e discussão em um “poderoso documento contra a doutrina e o abuso da Igreja”.
Hoje é bem conhecido pelos estudiosos que essa lenda das Teses pregadas na porta de uma igreja foi inventada, após a morte de Lutero, pelo alemão Melanchthon, em 1546, o qual certamente nem sequer se encontrava em Wittenberg em 1517, mas na cidade de Tünbigen.
Abaixo apresentamos algumas das famosas 95 teses de Lutero, que quase ninguém leu, mas que todos fazem referência a elas, e que ao invés de atacar as doutrinas da Igreja e do Papa, as defende e, além disso, nos mostram que a Igreja não vendia indulgências, mas sim alguns de seus membros:
7ª) Deus não perdoa a culpa de quem quer que seja, sem que se sujeite em completa humildade ao sacerdote como a seu substituto.
9ª) Por isso o Espírito Santo nos beneficia através do Papa, quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade extrema.
38ª) Mesmo assim a remissão e a participação da mesma pelo Papa de forma alguma devem ser desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.
50ª) Deve-se ensinar aos cristãos que, se o Papa soubesse das extorsões feitas pelos apregoadores de indulgências, ele preferiria reduzir a cinzas a basílica de São Pedro a edificá-la com pele, carne e ossos de suas ovelhas.
51ª) Deve-se ensinar aos cristãos que o Papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns apregoadores de indulgências extraem ardilosamente o dinheiro, mesmo se para isto fosse necessário vender a basílica de São Pedro.
53ª) São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que por causa da pregação de indulgências fazem calar por inteiro a Palavra de Deus nas demais igrejas.
70ª) Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos, em lugar do que lhes foi incumbido pelo papa.
71ª) Quem fala contra a verdade das indulgências apostólicas, seja excomungado e maldito.
73ª) Assim como o Papa com razão fulmina aqueles que de alguma forma procuram defraudar o comércio das indulgências.
74ª) Muito mais [o Papa] deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, defraudam a santa caridade e verdade.
77ª) A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças, é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.
78ª) Afirmamos, ao contrário, que também este ou qualquer outro Papa tem graças maiores a dar, quais sejam: o Evangelho, as virtudes espirituais, os dons de curar etc., como está escrito em 1Corintios 12.
81ª) Esta licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil, nem para homens doutos, defender a dignidade do Papa contra calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.
91ª) Se, portanto, as indulgências fossem apregoadas em conformidade com o espírito e a opinião do Papa, estas objeções poderiam ser facilmente dissipadas e nem mesmo teriam surgido.
Bastem estes simples exemplos para destruir a falsa história da venda de indulgência que foi inventada pelos protestantes e que foi apoiada pelos governos maçônicos que transformaram esta mentira em dogma, de modo que hoje é ensinada como um fato histórico em todas as escolas e universidades do mundo. Eu a tenho ouvido dos meus professores desde o ensino básico.
Há um ditado que diz: “uma mentira repetida mil vezes logo vira verdade”… Lutero não atribuía questões de imoralidade à Igreja, como ele mesmo reconhece: “Entre nós” – confessa expressamente – “a vida é má, assim como entre os papistas; porém, não os acusamos de imoralidade”, mas de erros doutrinais. Efetivamente, “bellum est Luthero cum prava doctrina, cum impiis dogmatis” (Melanchton).
CONCLUSÃO
1) A Igreja jamais se dedicou à venda de indulgências.
2) Quem vendiam indulgências eram alguns pregadores, movidos pela ambição pessoal, como um certo monge chamado Tetzel e seus comissários, agindo em rebeldia. Tetzel foi punido e morreu dois anos depois.
3) Em suas Teses, Lutero jamais acusou o Papa de vender indulgências para a construção da Basílica de São Pedro.
4) Lutero jamais pregou suas 95 Teses na porta de nenhuma Igreja: este é um fato anti-histórico e sem provas que o fundamentem.[*]
5) O fato dessas mentiras terem virado “verdade conhecida por todos” é que esses “todos” – tanto católicos quanto protestantes – jamais leram as 95 Teses de Lutero, mas acreditaram nas lendas que orbitam em torno delas, difundidas pela cinematografía hollywoodense e sua própia ignorância.
Veritatis Splendor

Bispos latino-americanos se solidarizam e condenam atentado à catedral da Nicarágua

Interior de uma das capelas da Catedral de Manágua após o
atentado de 31 de julho / Crédito: Arquidiocese de Manágua
MANÁGUA, 03 Ago. 20 / 09:00 am (ACI).- As conferências episcopais do México, Equador, Panamá e Costa Rica expressaram solidariedade, fizeram orações de reparação e condenaram o recente ataque à Catedral de Manágua (Nicarágua) ocorrido em 31 de julho.
Através de um comunicado publicado em 1º de agosto, a Conferência do Episcopado Mexicano (CEM) assegurou que compartilha "o sofrimento e o desconforto" do "povo irmão da Nicarágua" após "o atentado que destruiu o sacrário e a imagem do sangue de Cristo na Catedral de Manágua, uma ação deplorável que se soma a muitas outras realizadas contra templos e sacerdotes nesta nação irmã".
"O Episcopado Mexicano se une fortemente a vocês, se solidariza e se aproxima através da oração e da Eucaristia, implorando ao Senhor Jesus, o Príncipe da Paz, para que a harmonia e a paz retornem à sua comunidade eclesial, ferida dolorosamente em sua piedade e fé”, indicaram os bispos, que também imploraram a intercessão de Nossa Senhora de Guadalupe.
Do mesmo modo, em 1º de agosto, através de um comunicado, a Conferência Episcopal do Equador (CEE) apresentou sua "solidariedade nestes momentos difíceis".
“Unimo-nos profundamente à dor do povo católico pelo vandalismo e sacrilégio na Capela da Catedral dedicada ao Sangue de Cristo, no Santíssimo Sacramento e na imagem de Cristo, símbolo da fé do povo nicaraguense; ainda mais neste momento de crise social, política, de saúde e econômica pela qual está passando”, afirma a mensagem.
Os bispos equatorianos também pediram às autoridades competentes "que investiguem e esclareçam a origem desses atos violentos inaceitáveis, que são uma expressão clara de intolerância e ódio à fé".
A Conferência Episcopal do Panamá (CEP), por sua vez, expressou "profunda dor e indignação ao ver como a sensibilidade religiosa do povo nicaraguense foi ferida".
"Unimo-nos em oração e expressamos diante dessa ação criminosa nossa solidariedade com nosso irmão no episcopado Cardeal Leopoldo Brenes Solorzano, com a Conferência Episcopal da Nicarágua, seus sacerdotes, a vida consagrada e o queridíssimo povo nicaraguense", ressaltaram os bispos, em 31 de julho.
Finalmente, a Conferência Episcopal da Costa Rica, em um comunicado publicado no sábado, 1º de agosto, expressou "solidariedade fraterna" e enviou um "abraço sincero, proximidade e oração" ao Cardeal Leopoldo Brenes, Arcebispo de Manágua e a todo o clero, consagrados e fiéis leigos.
"Rejeitamos e condenamos o ataque covarde (...). Consideramos que esse ato criminoso constitui um ataque frontal à Igreja na Nicarágua e à liberdade religiosa nesta querida nação. Fazemos votos para que as autoridades competentes descubram os responsáveis deste ato repudiável e que o peso da lei caia sobre eles”, comentaram os bispos costarriquenhos.
Em 31 de julho, uma pessoa não identificada entrou em uma das capelas da Catedral de Manágua (Nicarágua) e lançou uma bomba Molotov que provocou um incêndio e destruiu o sacrário e a imagem do Sangue de Cristo, fato que foi descrito como um "ato terrorista" pelo Cardeal Leopoldo Brenes.
Trata-se de "um ato de profanação totalmente condenável, por isso devemos permanecer em constante oração para derrotar as forças malignas", afirmou um comunicado da Arquidiocese de Manágua.
A capela guardava o sacrário com o Santíssimo, e a imagem consagrada e venerada do Sangue de Cristo, com quase 400 anos de antiguidade e diante da qual João Paulo II se ajoelhou em sua segunda visita à cidade em fevereiro de 1996.
Recentemente, ocorreram outros ataques contra capelas na Nicarágua. O mais recente foi o que aconteceu em 29 de julho, quando indivíduos não identificados profanaram com "fúria e ódio" a capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no município de Nindirí, em Masaya.
Da mesma forma, em 27 de julho, pessoas desconhecidas arrastaram pelo chão o Sacrário de Jesus Sacramentado da Capela Nossa Senhora do Carmo, localizada na Paróquia Nosso Senhor de Veracruz, Masaya. O pároco, Pe. Pablo Villafranca, destacou que durante o ataque destruíram parte dos móveis e roubaram bens materiais.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
ACI Digital

Santa Lídia, comerciante de púrpura

Santa Lídia (A12)
27 de março
Santa Lídia, comerciante de púrpura

O que se sabe sobre Santa Lídia está no livro dos Atos dos Apóstolos 16, 14-40. Morava em Filipos, a principal cidade da Macedônia, um porto no Mar Egeu e uma colônia romana. Mas nascera em Tiatira, uma cidade da região chamada Lídia, na parte ocidental da Grécia. Por isso, alguns crêem que Lídia não seria o seu nome, mas um apelido recebido dos filipenses – "a lídia" (como "a samaritana", por exemplo). Era prosélita, ou seja, pagã (não judaica) que tinha se convertido ao judaísmo. Isto indica que já buscava a Verdade, ao deixar as crenças gregas politeístas e abraçando o judaísmo monoteísta. E, ao ouvir a pregação de São Paulo, converteu-se ao Catolicismo.

Tiatira era conhecida pela lucrativa indústria de tingimento e comércio de púrpura, no século I. A existência de fabricantes de corante tanto em Tiatira como em Filipos é comprovada por inscrições de descobertas arqueológicas. É possível que Lídia tivesse mudado para Filipos, onde conheceu Paulo, por causa do seu trabalho com púrpura.

Pela descrição de São Lucas, que a conheceu pessoalmente, Lídia era uma mulher rica por ser comerciante de púrpura, dona do próprio comércio e chefe de família, algo incomum para as mulheres da época (aparentemente, ela dirigia a própria casa, e portanto possivelmente era viúva ou solteira. Sua família incluiria parentes e provavelmente escravos ou servos).

Entende-se que Lídia era rica porque roupas na cor púrpura eram usadas somente por reis, rainhas e pessoas da nobreza. O corante é extraído de várias fontes, a mais cara sendo os moluscos marinhos do gênero Murex e abundantes no Mar Mediterrâneo. Segundo Marcial, poeta romano do século I, um manto da mais fina púrpura de Tiro, outro centro fabricante dessa substância, chegava a custar 10.000 sestércios, ou 2.500 denários, o equivalente ao salário de 2.500 dias de um trabalhador.

Entre os anos 50 e 53, os apóstolos Paulo, Silas, Timóteo e Lucas foram a Filipos como missionários. Esperaram o sábado para irem à procura de judeus que provavelmente se reuniriam para ler a Escritura. Saíram da cidade, na qual provavelmente não havia muitas sinagogas, já que o imperador Cláudio estabelecera a política de expulsar os judeus. Encontraram Lídia com outras mulheres próximo a um rio, onde eles pensaram haver um lugar de oração (cf. At 16,13).

Depois de batizada, junto com os da sua casa, Lídia pediu veementemente aos Apóstolos que se hospedassem com ela, durante a sua estadia na cidade. E, após serem presos, e milagrosamente libertos pela ação de um terremoto, Paulo e Silas voltaram ainda à sua residência. Depois de confortar os que ali estavam, ou seja, os que formariam a comunidade cristã de Filipos, para a qual São Paulo escreveria mais tarde a Carta aos Filipenses, os Apóstolos foram para a Tessalônica.

Santa Lídia ajudou decisivamente São Paulo e seus companheiros na missão em Filipos. Foi a primeira mulher a se fazer cristã na Europa, e é uma das primeiras veneradas como santas desde o início do cristianismo. Parece que sua casa tornou-se a primeira Igreja da Europa, e que depois do contato com os Apóstolos abandonou as riquezas e recolheu-se a um lugar de oração. Seu nome aparece em inscrições nas catacumbas. É a padroeira dos tintureiros e comerciantes.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Santa Lídia priorizou a riqueza da alma sobre a da matéria, ao acolher prontamente e com alegria a Boa Nova e os seus missionários, como também nós devemos fazer em todos os tempos e lugares. Não era obrigatório que abandonasse seus bens, mas sim que sua vida, transformada pelo Batismo, ficasse mais recolhida em oração – assim como também nós devemos fazer em todos os tempos e lugares. Pois só assim poderemos hospedar Cristo na nossa alma, e efetivar nossos lares como as igrejas domésticas que eles devem ser. Como fez Santa Lídia, a seu tempo e no seu lugar.

Oração:

Senhor, que por pura bondade distribuís para nós as Vossas riquezas infinitas, concedei-nos pela intercessão de Santa Lídia jamais comerciar com as graças que recebemos no nosso Batismo e ao longo da vida, mas nos tornemos ricos na humildade de sempre Vos receber na casa da nossa alma, e assim, Convosco, podermos tingir nossas vidas com a cor das boas obras, para recebermos do Vosso amor a púrpura da realeza celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 2 de agosto de 2020

O coronavírus pode ser transmitido pela hóstia consagrada?

EUCHARIST
wideonet | Shutterstock

Com a pandemia veio a pergunta: “O Corpo de Cristo é imune a doenças e infecções”?

As lendas medievais estão cheias de histórias sobre o poder terapêutico da Eucaristia, como a do cavaleiro que perdeu um olho em uma batalha e, como tinha ido à Missa naquela manhã e recebido a Eucaristia, conseguiu colocar o olho de volta no seu rosto e voltou a enxergar.
A partir do século IX houve um intenso debate sobre como o pão consagrado poderia se transformar no verdadeiro corpo de Cristo.
Agora, com a pandemia do novo coronavírus, muitas pessoas pensam que “Se a Eucaristia é Jesus vivo e verdadeiro, seria sinal de pouca fé acreditar que por meio dela possam se propagar doenças e infecções”.
O argumento parece muito devoto e cheio de fervor. Porém, em nível teológico, há duas objeções: uma de ordem cristológica e outra de ordem sacramental. Primeiro, é preciso levar em conta que a união hipostática da segunda pessoa da Trindade com a natureza humana não deixou Jesus imune às doenças, pois ele assumiu nossa natureza humana igual em tudo, menos no pecado. Em segundo lugar, devemos levar em conta que, depois da Ressurreição, a humanidade de Cristo foi glorificada e já não está sujeita à corrupção. Mas também precisamos lembrar que a presença desse corpo glorioso nos sacramentos não acontece de forma física, mas em essência.
Esse é precisamente o significado da palavra “transubstanciação”: sob os sinais sacramentais existe uma essência que já não é a do pão e a do vinho, mas a do Corpo de Cristo. Porém, trata-se de uma essência que não é experimentável fisicamente e, sim, através da fé.
Falando sobre a transubstanciação, o Concílio de Trento superou as concepções “fisicistas” medievais e a ideia dos fiéis sobre o caráter supersticioso da Comunhão, que poderia ser utilizada como remédio para tudo.
O Pe. Thomas Michelet explica:
“O sacramento é a graça em forma sensível de um sinal… Uma hóstia envenenada pode ser, ao mesmo tempo, uma verdadeira hóstia consagrada – a graça que a alma procura – e uma hóstia envenenada, capaz de matar o corpo… A fé não ensina que a matéria do signo escapa das leis físicas, simplesmente que a graça usa essa matéria para se comunicar de maneira sensível”.
Então o coronavírus pode ser transmitido através da hóstia consagrada? Parece que não, pois, segundo a ciência, o vírus não consegue sobreviver em alimentos.
No entanto, o momento da comunhão, sobretudo quando recebida na boca, é um momento propício ao contágio, assim como o momento da saudação da paz.
É por essa razão que os bispos das regiões afetadas pelo vírus decidiram pedir aos fiéis que comunguem na mão. O momento da paz também foi suprimido da Missa.
O bispo tem a missão de guiar com caridade e prudência o seu povo. E esse é o motivo pelo qual ele toma certas medidas.
Aleteia

AOS SACERDOTES

50 anos de ordenação sacerdotal do Papa Francisco - Irmãs ...
Papa Francisco //Irmãs Salvatorianas
Em tempos difíceis, nas noites escuras, nas pandemias e nas tempestades da vida, todos nós precisamos do apoio, do incentivo e da oração dos sacerdotes, pois eles são os pais espirituais que Cristo chamou, escolheu, preparou e consagrou para, em Seu Nome, acolher os caídos, visitar os doentes, perdoar os pecadores e aquecer os corações de quem precisa de acolhimento, de perdão e de ternura.
No cotidiano da fé, nós temos que aprender e professar que “dos sacerdotes de Cristo não se deve falar, senão para louvá-los!”. (São Josemaría Escrivá, “Sulco nº 904”). Existem inúmeras razões para louvar os sacerdotes: entre outras, todo sacerdote deve ser louvado, pois, por sua fidelidade, ele é um dispensador da misericórdia divina, o apóstolo da Palavra, o administrador dos mistérios de Deus e uma testemunha credível da caridade de Cristo. Temos que dar contínuas graças ao Senhor Jesus por nos ter possibilitado, na pessoa dos sacerdotes, uma ponte segura entre Ele e cada um de nós.
Desde os primeiros momentos de nossas vidas até nossa entrada na Igreja triunfante, o sacerdote nos acompanha, proclamando e nos ensinando, com dignidade e sabedoria, a doutrina e a Tradição da fé Católica. Por ser um consagrado de Cristo, “o sacerdote é sinal e penhor das realidades sublimes e novas do Reino de Deus, das quais é distribuidor, possuindo-as em si no grau mais perfeito e alimentando a fé e a esperança de todos os cristãos”. (Papa Paulo VI, “Encíclica Celibato sacerdotal, nº 31”).
Por ser um digno representante de Cristo, existem laços visíveis e estreitos entre o sacerdote e o nosso Redentor. Quando temos que definir o perfil de um sacerdote, percebemos que, em sua vida e em suas atitudes, há sempre um contínuo amor pela Verdade, uma ampla entrega aos que sofrem e um corajoso e intrépido anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Como nos ensina Charles de Foucauld: “O sacerdote é um ostensório, seu dever é mostrar Jesus. Ele tem de desaparecer para deixar que só se veja Jesus!”.
Ser sacerdote é ser “conquistado por Cristo Jesus!” (Fl 3,12). Ser sacerdote é saber viver uma vida plena e fecunda a serviço do outro! Ser sacerdote é aderir, sem reservas, a um mistério sublime que conduz ao serviço do Senhor com zelo, com ardor e alicerçado no amor!
Todo sacerdote é um ungido de Cristo que se predispõe a apascentar o rebanho do Altíssimo, sob a direção do Espírito Santo, celebrando, com devoção e entusiasmo, os sacramentos que Cristo nos legou! Ser sacerdote é saber emprestar a Jesus as suas mãos, a sua voz, os seus gestos e a sua própria vida, na celebração dos mistérios de nossa fé! Diante da pessoa do sacerdote, nós somos chamados a reconhecer, junto com o Cura D’Ars – o padroeiro dos padres: “Que coisa tão grande é ser sacerdote! Se o compreendesse totalmente, morreria!”.
O sacerdote é um homem bom que Deus colocou em nossas vidas para nos ensinar a trilhar o caminho da santidade com zelo, determinação e humildade. O sacerdócio é um tesouro precioso da Igreja e, por isso, “a disponibilidade do sacerdote faz da Igreja a Casa de portas abertas, refúgio para os pecadores, lar para aqueles que moram na rua, hospital para os doentes, acampamento para os jovens, sala de catequese para os pequenos da Primeira Comunhão”. (Papa Francisco, Homilia em 17 de abril de 2014).
Que possamos aprender, com o sacerdote que Cristo colocou em nossa Paróquia, em nossa Pastoral e em nosso meio, a colocar Deus no centro de nossas vidas! Peçamos a nosso Redentor a graça de tratar com esmero e cuidado o sacerdote que Ele colocou junto a nós! Digamos, hoje e sempre, aos nossos amigos sacerdotes: Sacerdotes de Cristo, nobres servidores de uma causa sublime, “continuai a progredir sem desfalecimento, na formação cristã e sacerdotal, apostólica e cultural, que a Igreja espera de vós; amai apaixonadamente o Evangelho e os homens a quem sois enviados, segundo o exemplo e a medida do Coração de Cristo!” (Discurso do Papa João Paulo II em 11 de janeiro de 2003).
Sacerdotes de Cristo, nunca se esqueçam de que o coração do sacerdócio consiste em ser amigo de Jesus Cristo! Amigo sacerdote, nosso muito obrigado por você estar sempre disponível para nos ouvir, acolher e orientar, concedendo-nos, pelo seu exemplo, a suave e doce presença de Cristo. Como membros do Povo de Deus, nós damos testemunho da dignidade do mistério de Cristo e de Seu Reino que se realiza em sua alma e em seu coração!
Amigo sacerdote, “obrigado por sua fidelidade aos compromissos assumidos.
Numa sociedade e numa cultura que transformam o volátil em valor, é verdadeiramente significativa a existência de pessoas que apostem e procurem assumir compromissos que exigem toda a vida”. (Papa Francisco, Homilia em 19 de abril de 2014).
Sacerdote de Cristo, direcione o seu olhar para a Virgem Santa Maria, a Mãe da Igreja, e recorra constantemente à sua mediação, para que ela continue intercedendo em favor de seu sacerdócio! Sacerdote de Cristo, como é bom poder ouvir você dizer: “O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos!” (Is 50,4). Sacerdotes de Cristo, não cessamos de dar graças a Deus por vocês e por todo o bem que vocês realizam. Que nosso Senhor Jesus Cristo os abençoe e a Virgem Santíssima os guarde. Contem sempre com nossas orações!
Aloísio Parreiras

Arquidiocese de Brasília

XVIII Domingo do Tempo Comum: ANO "A".

Dom José Aparecido
Adm. Apost. Arquidiocese de Brasília
DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER

Neste primeiro domingo do mês de agosto, próximo da memória litúrgica do Cura d’Ars, a Igreja nos convida a meditar sobre as vocações ao ministério ordenado e a rezar pelos sacerdotes. A liturgia dominical descortina algumas características marcantes missão de Cristo, que devem impregnar a vida dos bispos e presbíteros.
Os escritos de Isaías (Is. 55,1-3), aludem aos tempos do exílio da Babilônia. Os exilados, torturados pela fome e pela sede, tentavam conseguir com as próprias forças o bem-estar. Deus convida os exilados a procurar nEle os bens fundamentais: “apressai-vos, vinde e comei”. E os convida a confiar na liberalidade com que os ama: “vinde comprar sem dinheiro”. Deus convoca os famintos a crer na Sua Palavra. Neste tempo de graves dificuldades, é bem fácil perguntar a Deus se Ele ainda mantém suas promessas. Ao sentir a tentação de pedir que transforme as pedras em pão, vamos ouvir de Jesus: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”.
A multiplicação dos pães (Mt 14,13-21) alude aos sinais de Jesus que cumprem as promessas messiânicas. Ao sair do barco, Jesus vê uma grande multidão, se compadece deles, curando os que estavam doentes”. O Messias compassivo que cura os enfermos e passa o dia a ensinar. Ao cair da tarde, os discípulos sugerem mande embora as multidões cansadas para comprarem comida nos povoados. A compaixão dos discípulos não se traduz em iniciativas aptas a saciá-los. Jesus ordena aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ficam perplexos: só têm cinco pães e dois peixes. Jesus, com gestos que conhecemos bem, toma os pães e os peixes, olha para o céu e pronuncia a bênção. Depois parte o pão e os peixes. Dá-os aos discípulos para que distribuam às multidões. Envolve os discípulos na sua missão messiânica: tem compaixão, ensina, dá de comer através das mãos daqueles que nada tinham de próprio para dar a não ser os míseros cinco pães e dois peixes. É o banquete messiânico. Deus não se cansa de derramar os seus bens para o povo que ama qual Sua Esposa. Esta cena aponta para a Eucaristia e o ministério daqueles a quem Jesus dirá depois: “Fazei isto em memória de mim”. Deus cumpre as promessas em Jesus e por meio dos que Ele constitui seus ministros.
“Quem nos separará do amor de Cristo?” – pergunta o Apóstolo (Rm 8,35ss). E, em seguida, professa a mais absoluta confiança no amor de Cristo, a quem ele entrega a sua vida.
Os sacerdotes somos chamados a nutrir a Esposa de Cristo com o Pão da Vida: “apascentar é ofício de amor” (Agostinho). Mas resta o problema da fome no mundo. Ao alimentar-nos com o banquete do Reino, Ele continua a nos dizer: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. É pelas mãos dos justos da Cidade de Deus que a fome existente na cidade dos homens pode encontrar solução.
Dediquemos à Virgem Mãe de Deus este dia de oração pelos sacerdotes.
Folheto: "O Povo de Deus"/Arquidiocese de Brasília


Flávio Josefo e os “400 anos de silêncio” de Deus


Apologética

(Extraído parcialmente do áudio “When Did the Old Testament End?”, do “Councel of Trent Podcast”, uma produção de Catholic Answers)
* * *
Allen Parr:
Outra razão pela qual os protestantes rejeitam os apócrifos como inspirados por Deus é porque os próprios judeus rejeitaram os apócrifos e não consideraram esses livros como parte do seu cânon ou Escritura do Antigo Testamento. Uma citação muito útil é a de um homem chamado Josefo…
Trent Horn:
Bom, primeiro, antes de continuarmos com Josefo, vou apenas dizer isto: alguns judeus rejeitaram os livros deuterocanônicos das Escrituras; alguns judeus rejeitaram alguns livros protocanônicos das Escrituras; e alguns judeus aceitaram os livros deuterocanônicos das Escrituras. Alguns! No tempo de Jesus, é mais apropriado falar de judaísmos [no plural] do que de judaísmo [no singular]. Havia diferenças marcantes entre diferentes escolas de pensamento judaicas e até mesmo dentro de escolas de pensamento judaicas específicas, pois entre os fariseus havia disputas entre os seguidores de Shammai e os de Hillel, dois rabinos diferentes. Mas vamos pular isto e ouvir o que ele fala sobre Josefo.
Allen Parr:
Uma citação muito útil é a de um homem chamado Josefo, que era um historiador judeu e escreveu por volta do ano 100 d.C. Ele afirmou claramente que havia certos livros que os judeus aceitavam e acreditavam como parte do cânon das Escrituras do Antigo Testamento. Observe o que ele diz aqui: “Pois não temos uma infinidade de livros entre nós, que discordam e se contradizem, como os gregos”. Então ele está dizendo aqui: “Ei! Não temos um monte de livros que consideramos inspirados por Deus, mas apenas 22 livros”.
Trent Horn:
Tudo bem. Essa passagem que Allen leu é de [Flávio] Josefo, o historiador judeu, que viveu por volta do final do século I d.C.. Ele escreveu uma história dos judeus chamada “Antiguidades”, que traz a história da guerra judaica. Ele também escreveu uma obra chamada “Contra Apion”, que é uma espécie de peça de retórica e propaganda; é uma defesa apologética do Judaísmo contra a ideologia e mitologia pagãs. Ele escreve para Apion, que é um escritor egípcio, com o objetivo de mostrar que o Judaísmo é superior a outras religiões e sistemas de crenças não-judaicos. O que Josefo fez e o que estudiosos modernos reconhecem é que ele embeleza, exagera e pega algumas coisas e tenta torná-las universais para fazer com que o Judaísmo pareça ser a melhor coisa do mundo.
Mas como sabemos que ele faz isso? Bem, primeiramente, tentando dizer que os judeus nunca discordaram sobre nenhum dos livros das Escrituras: que temos apenas 22 livros e todos nós concordamos com isso. Bom, mas esse não era o caso! Havia os samaritanos, que cultuavam no monte Gerizim, e os saduceus: estes acreditavam [apenas] no Pentateuco. [É verdade que] os samaritanos podem ter acreditado em alguns dos Profetas, mas parece que os saduceus, os membros da classe sacerdotal, acreditavam apenas nos cinco primeiros livros, no Pentateuco. Havia os fariseus, cujo cânon era semelhante ao cânon protestante do Antigo Testamento, mas que é possíver ter sido diferente; pode, p.ex., não ter incluído o livro de Ester. Havia os essênios, os hassídicos (João Batista pode ter pertencido a eles); e o cânon deles incluía alguns dos livros deuterocanônicos já que encontramos livros deuterocanônicos entre os Manuscritos do Mar Morto. Falaremos sobre isso um pouco mais abaixo.
Mas quando você lê Josefo neste trecho, onde ele diz que “não temos uma infinidade de livros”, que temos “apenas 22 livros”, o que ele continua dizendo mostra o teor de embelezamento que ele está fazendo. P.ex., ele continua: “Durante tantas épocas que já se passaram, ninguém foi tão ousado para acrescentar algo a eles – os Livros Sagrados judaicos -, tirar algo deles ou fazer qualquer alteração neles”. Mas isto não é verdade. Havia vários manuscritos judeus: havia a Septuaginta (a tradução grega das Escrituras Hebraicas) – uma tradição manuscrita que gerou diversas Septuagintas; havia diferentes tradições, hebraica e aramaica, entre os manuscritos – constatamos isso nos manuscritos do Mar Morto. Portanto, havia sim outras tradições manuscritas em que as pessoas adicionavam ou subtraíam textos. Então, como diz certo estudioso (acho que o nome dele é Campbell) que escreveu um estudo sobre Josefo e o cânon, neste momento a retórica de Josefo ultrapassava a realidade.
Josefo continua: “Mas tornou-se natural para todos os judeus, imediatamente e a partir do nascimento deles, estimar esses livros como doutrinas divinas e a persistir nelas; e, se for o caso, de bom grado morrer por elas”. (…) Obviamente, é um exagero dizer que esses livros eram conhecidos por todos os judeus desde o nascimento e que todos estavam dispostos a morrer por eles. Isto também, certamente, não era o caso.
Continuemos…
Allen Parr:
Agora você pode estar se perguntando: “Espere um segundo! Por que os judeus aceitaram apenas 22 livros e nós temos 39 no nosso Antigo Testamento?” Bom, sem entrar em muitos detalhes, essencialmente, os judeus agruparam os seus livros de uma maneira bem diferente do que temos hoje na Bíblia protestante. Em outras palavras, dou um exemplo: os Doze Profetas Menores, nós consideramos cada um deles como um livro diferente, enquanto que os judeus os agrupam todos em um único livro chamado “Os Doze”. Além disso, temos Samuel dividido em dois livros diferentes: 1Samuel e 2Samuel; mas os judeus os consideram como um único livro, assim como consideram 1Reis e 2Reis como um único livro; Esdras e Neemias como um único livro; Rute e Juízes como um único livro; e ainda 1Crônicas e 2Crônicas como um único livro. Então, quando você conta tudo dessa forma, essencialmente eles acreditam em apenas 22 livros.
Trent Horn:
Isso não é totalmente verdade. Alguns judeus acreditavam em 24 livros, dependendo da forma como os contava. E alguns judeus acreditavam em um cânon bem maior. O livro apócrifo de Esdras documenta que alguns judeus acreditavam que o seu cânon consistia de 94 livros! Você também encontra outros judeus numerando 70, sendo 70 um número simbólico. Muitos números têm valor simbólico para eles: empregar 22 [livros], p.ex., é uma [clara] referência ao seu alfabeto hebraico. Com efeito, tomar o número de letras do alfabeto hebraico e referenciá-las ao número de livros no cânon era o que Josefo provavelmente estava fazendo aqui; e, naquela época, outros judeus o faziam.
Mas o principal argumento aqui é, mais uma vez, que [tal afirmação] não era uniforme. Vimos aqui que os judeus apresentavam números diferentes no cânon: os saduceus, os samaritanos, os essênios, os diferentes grupos de fariseus discordavam quanto o cânon porque este não se encontrava fixado naquele momento. As pessoas não acreditavam que a profecia havia cessado e que o Antigo Testamento estava encerrado. Eles não tinham o que chamamos de “Antigo Testamento”; eles não acreditavam que toda a Bíblia já tinha sido colocada por escrito porque o Messias ainda não havia chegado; [e acreditavam que] ainda havia profetas. Veremos isso no próximo argumento feito por Allen:
Allen Parr:
Josefo diz: “Mas apenas 22 livros, que contêm os registros de todos os tempos passados, que justamente se acredita que sejam…” – o quê? Divino, certo? “E destes, cinco pertencem a Moisés, que contém as suas leis e as tradições da origem da humanidade até a sua morte”. Esse intervalo de tempo foi pequeno, de 3000 anos. Mas quanto ao tempo desde a morte de Moisés – preste atenção agora – até o reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia, que reinou após Xerxes: “os Profetas que vieram depois de Moisés anotaram o que foi feito em seus tempos em 13 livros”. Portanto, observe o prazo que Josefo está dizendo aqui, em que se estende o Antigo Testamento. Dos tempos de Moisés até Artaxerxes – que como protestantes acreditamos – é onde o Antigo Testamento realmente termina. Mas vamos continuar.
Trent Horn:
O problema com esse argumento é que o reinado de Artaxerxes da Pérsia terminou por volta de 424 a.C.; digamos então, cerca de 400 a.C. Por isso, muitos protestantes afirmarão que de 400 a.C. até o nascimento de Cristo não houve revelação divina. Deus teria ficado em silêncio por 400 anos. Mas o problema aqui é que muitos estudiosos protestantes conservadores, evangélicos, afirmarão que havia vários livros do Antigo Testamento que começaram a ser escritos após esse período ou tiveram grandes porções adicionadas a eles, de modo que os editores os finalizaram e chegaram a um ponto final em algum momento após o reinado de Artaxerxes. Logo, se o Antigo Testamento terminou com Artaxerxes da Pérsia, em 424 a.C., quando seu reinado acabou, o que deveríamos fazer com livros como Eclesiastes, Crônicas, Esdras, Neemias e Daniel, já que os próprios estudiosos protestantes conservadores dirão que esses livros foram escritos depois dessa época ou que partes importantes foram adicionadas a eles depois desse tempo? Como veremos, a revelação divina não cessou após esse momento; isso é uma leitura errada do que Josefo está dizendo.
Allen Parr:
“Os quatro livros restantes contêm hinos a Deus e preceitos para a conduta da vida humana”. Pois bem, esta declaração é super importante para entendermos. Assim, se você não tirar mais nada desta seção, preste muita atenção ao que estou me preparando para compartilhar com você: “É verdade que a nossa História foi escrita desde Artaxerxes de uma maneira muito particular, mas não foi estimada com a mesma autoridade que a anterior pelos nossos antepassados”. O que Josefo está tentando dizer? Ele está dizendo, sim, de outros livros históricos; livros históricos, não livros que tenham natureza divina. Ele diz: “Sim, existem outros livros históricos que foram escritos desde a época de Artaxerxes, mas eles não são considerados da mesma autoridade ou natureza divina que esses outros 22 livros”. E por que ele diz isso? Ele mesmo o diz: “porque não houve uma sucessão exata de profetas desde então”. Em outras palavras, Josefo reconhece que Malaquias foi o último profeta inspirado por Deus e não houve outras vozes proféticas entre os 400 anos em que o Antigo Testamento terminou e quando Jesus Cristo nasceu.
Trent Horn:
Na verdade, não é isso o que Josefo diz. Josefo acredita que a profecia ocorreu muito depois, antes e mesmo após o tempo de Jesus; ou seja, mesmo depois de Artaxerxes teria havido profecia. O que ele está falando aqui é que não havia uma linha exata de sucessão dos profetas a ser historicamente registrada; ele não diz que o dom de profecia cessou como um todo entre o povo. Podemos saber disso consultando os seus escritos, bem como os escritos do Novo Testamento. (…)
Então, quando você lê Josefo, constata que ele fala de outros profetas depois da época de Artaxerxes: ele fala de João Hircano; Manamo; de Jesus Ben Ananias (ou Jesus, filho de Ananias), que profetizou a destruição do templo cerca de 30 anos após a crucificação de Jesus de Nazaré. Mesmo antes do nascimento de Cristo, mas depois de Artaxerxes, durante o período intertestamentário, Josefo afirma que João Hircano era um profeta; que Manamo era um profeta.
E temos também evidências de que as pessoas acreditavam que a profecia ainda era possível. Elas não acreditavam que Deus tinha ficado 400 anos em silêncio simplesmente porque ainda estavam aguardando o Messias. Elas esperavam a revelação de Deus. Ninguém lhes havia dito que a profecia tinha se encerrado ou que não haveria mais profetas, porque Lucas 2,36 afirma que Ana era uma profetisa. E Jesus afirma às pessoas que João Batista era um profeta. E o mais importante: vemos várias vezes que as pessoas pensavam que Jesus era um profeta.
Me vem à mente, porém, João 9: o homem que nasceu cego. (…) Eles lhe perguntaram: “Este homem (Jesus) curou a sua cegueira. Quem é ele?” E no vesículo 17, o agora ex-cego diz: “Ele é um profeta”. Por que ele diria isso? Observe que ninguém lhe retruca: “Ei, você não sabe que não há profetas há 400 anos?” Não! O povo acreditava que poderia haver profetas. E se poderia haver profetas, isso significa que poderia haver revelação divina!
E é por causa disso, que os judeus discordavam sobre o cânon. Com efeito, Josefo pode estar articulando um cânon que era popular entre certos rabinos no final do século I d.C., mas que não era uniforme porque havia judeus que discordavam dos rabinos sobre a natureza desse cânon, incluindo aí os livros deuterocanônicos das Escrituras. O rabino Ben Akiva, p.ex., que viveu no final do século I e morreu próximo da Segunda Revolta Judaica (chamada “a revolta de Bar Kokhba”), afirmava que “os evangelhos cristãos e os livros heréticos não mancham as mãos”. “Não manchar as mãos” significa que quando alguém pega/segura no templo a palavra inspirada de Deus, esta lhes “mancha” as mãos. Não é que isso torna tal pessoa impura, mas é um reconhecimento de que qualquer pessoa é impura em relação a esses livros divinos. Por isso tal pessoa tinha que se purificar [antes]. Mas ele diz aqui que os Evangelhos cristãos NÃO são Palavra de Deus, por isso não mancham as mãos. E tal como os Evangelhos cristãos, ele diz o mesmo acerca dos livros de Ben Sira (Sirácida ou Eclesiástico) e todos os outros livros deuterocanônicos: não mancham as mãos.
Eis então o que disseram os rabinos no final do século I d.C., início do segundo século II d.C.: eles rejeitaram os livros deuterocanônicos das Escrituras. E daí? Eles também rejeitaram os Evangelhos e os outros escritos do Novo Testamento. Então, se não devemos seguir o conselho deles quanto aos escritos do Novo Testamento, por que deveríamos seguí-los quanto aos livros deuterocanônicos, já que muitos outros judeus também discordavam deles? E foi exatamente por isso que o rabino Akiva precisou tratar dessa questão em primeiro lugar e tentar colocar ordem.
Quando olhamos para estudiosos protestantes, encontramos um estudioso batista chamado Lee Martin McDonald, que escreveu um grande livro intitulado “The Biblical Canon” (“O Cânon Bíblico”). Ele afirma que a tradição farisaica é na verdade uma tradição babilônica do cânon que os judeus têm em sua Bíblia hoje. Mas este não era o cânon das Escrituras durante o tempo de Jesus. McDonald diz que essa tradição, que não inclui os livros deuterocanônicos, data de meados do século II d.C., mas não há indicação de que tenha sido universalmente reconhecida pelos judeus da época. O Antigo Testamento protestante – e, recorde-se, McDonald é protestante – reflete um “sabor babilônico” que não era atual ou popular na terra de Israel do tempo de Jesus. Com efeito, alguns judeus rejeitaram os livros deuterocanônicos? Sim! Mas alguns judeus também rejeitaram o Novo Testamento! Essa era a crença comum no tempo de Jesus e dos Apóstolos? Não! Jesus e os Apóstolos citaram a Septuaginta, a tradução grega das Escrituras hebraicas, que continha os livros deuterocanônicos das Escrituras.
Allen Parr:
Embora esses livros apócrifos tenham sido escritos em algum lugar antes do nascimento e da vida de Jesus Cristo, os judeus durante esse tempo rejeitaram esses livros como parte do cânon do Antigo Testamento. Agora, por que isso é importante? É importante porque o argumento vai e volta e os católicos dizem que os protestantes removeram certos livros da Bíblia.
Trent Horn:
Bom, eles certamente rejeitaram. E, como eu disse, havia judeus que discordavam sobre o cânon no tempo de Jesus porque este não estava fechado, não estava estabelecido. E houve judeus durante o tempo de Jesus que aceitavam esses livros deuterocanônicos, pelo menos alguns deles. Um exemplo disso seriam [os judeus] do Mar Morto. Eu realmente estive aí; estive em Israel duas vezes e amo essa área que passa pelo Mar Morto (…); adoro ir às cavernas de Qumran, para ver onde os Manuscritos do Mar Morto foram encontrados.
Esses pergaminhos foram escritos entre os anos 400 a.C. e 100 d.C. Eles nos dizem muito sobre o judaísmo da época de Jesus. Eles foram encontrados aqui, nessas cavernas. Pastores jogaram pedras e quebraram um vaso que continha esses pergaminhos. É uma história notável sobre a origem dos Manuscritos do Mar Morto. De fato, havia os livros que faziam parte do cânon protestante do Antigo Testamento; mas também, em estilo de pergaminho especial, reservado para as Escrituras Sagradas, havia livros como Eclesiástico, Tobias e Baruc. Com efeito, havia judeus – os essênios -, aos quais João Batista poderia pertencer, que aceitavam esses livros como Escrituras canônicas, como Palavra inspirada de Deus. Logo, não havia um cânon uniforme como Josefo diz; pelo contrário, judeus semelhantes a João Batista e Jesus aceitavam também esses livros.
Allen Parr:
Os protestantes dirão: “O que você sabe? Você pode argumentar que esses livros nunca deveriam ter sido colocados na Bíblia: em primeiro lugar, porque os judeus nunca receberam ou acreditaram que esses livros tinham o mesmo nível divino e autoritário que esses 39 livros que possuímos no Antigo Testamento (ou, se você é judeu, 22 livros)”.
Trent Horn:
Não, mas alguns judeus. Os judeus rabínicos que subiram ao poder após a Segunda Revolta Judaica rejeitaram esses livros juntamente com os Evangelhos do Novo Testamento; mas nem todos os judeus o fizeram. Ainda hoje há judeus – os judeus etíopes – que se apegam à inspiração desses e de outros livros. Então, mais uma vez: nós cristãos não somos obrigados a seguir as decisões canônicas desse [grupo de] judeus do século II. Eles excluíram o Novo Testamento. Por que deveríamos excluir livros deuterocanônicos que cristãos e [uma boa parte dos] judeus aceitavam no tempo de Jesus e dos Apóstolos, e que também eram extensivamente citados pelos Padres da Igreja nos séculos seguintes?
Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF