Translate

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Santo Agostinho de Cantuária

S. Agostinho de Cantuária | Canção Nova
27 de maio

Santo Agostinho de Cantuária

Um século após são Patrício ter convertido os irlandeses ao catolicismo, a atuação de Agostinho foi tão importante para a Inglaterra que modificou as estruturas da região da mesma forma que seu antecessor o fizera. No final do século VI, o cristianismo já tinha chegado à poderosa ilha havia dois séculos, mas a invasão dos bárbaros saxões da Alemanha atrasou sua propagação e quase destruiu totalmente o que fora implantado.

Pouco se sabe a respeito da vida de Agostinho antes de ser enviado à Grã-Bretanha. Ele nasceu em Roma, Itália. Era um monge beneditino do mosteiro de Santo André, fundado pelo papa Gregório Magno naquela cidade. E foi justamente esse célebre papa que ordenou o envio de missionários às ilhas britânicas.

Em 597, para lá partiram quarenta monges, todos beneditinos, sob a direção do monge Agostinho. Mas antes ele quis viajar à França, onde se inteirou das dificuldades que a missão poderia encontrar, pedindo informações aos vários bispos que evangelizaram nas ilhas e agora se encontravam naquela região da Europa. Todos desaconselharam a continuidade da missão. Mas, tendo recebido do papa Gregório Magno a informação de que a época era propícia apesar dos perigos, pois o rei de Kent, Etelberto, havia desposado a princesa católica Berta, filha do rei de Paris, ele resolveu, corajosamente, enfrentar os riscos.

A chegada foi triunfante. Assim que desembarcaram, os monges seguiram em procissão ao castelo do rei, tendo a cruz à sua frente e entoando pausadamente cânticos sagrados. Agostinho, com a ajuda de um intérprete, colocou ao rei as verdades cristãs e pediu permissão para pregá-las em seus domínios. Impressionado com a coragem e a sinceridade do religioso, o rei, apesar de todas as expectativas em contrário, deu a permissão imediatamente.

No Natal de 597, mais de dez mil pessoas já tinham recebido o batismo. Entre elas, toda a nobreza da corte, precedida pelo próprio rei Etelberto. Com esse resultado surpreendente, Agostinho foi nomeado arcebispo da Cantuária, primeira diocese fundada por ele.

A notícia chegou ao papa Gregório Magno, que, com alegria, enviou mais missionários à Inglaterra. Assim, Agostinho prosseguiu e ampliou o trabalho de evangelização, fundando as dioceses de Londres e de Rochester. Não conseguiu a conversão de toda a ilha porque a Inglaterra era dividida entre vários reinos rivais, mas as sementes que plantou se desenvolveram no decorrer dos séculos.

Agostinho morreu no dia 25 de maio de 604. O corpo de Agostinho foi originalmente sepultado no pórtico do que hoje é a Abadia de Santo Agostinho, em Cantuária, mas foi posteriormente exumado e recolocado num túmulo dentro da igreja da abadia, que se tornou um local de peregrinação e veneração. Após a conquista normanda, o culto de Agostinho passou a ser ativamente promovido e o seu santuário passou a ter uma posição central entre as capelas laterais, ladeado por santuários de seus sucessores, Lourenço e Melito. O rei Henrique I da Inglaterra concedeu à abadia uma feira de seis dias a ser celebrada na época em que as relíquias foram transladadas para o seu novo santuário, de 8 a 13 de setembro, anualmente.

O Martirológio Romano indica a festa litúrgica de santo Agostinho da Cantuária no dia 27 de maio.

https://franciscanos.org.br/

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Vaticano: crise climática tem um rosto humano, são necessárias respostas coletivas

"Cuidar da Casa Comum" | Vatican News

“Não se trata de questões meramente políticas ou econômicas, mas de uma questão de justiça que não pode mais ser ignorada ou adiada, é uma obrigação moral para com as gerações futuras". Palavras do Observador Permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas em Genebra.

Vatican News

O Arcebispo Ivan Jurkovič, Observador Permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas em Genebra, participou do Colóquio Internacional sobre Migrações, realizado pela Organização Internacional para as Migrações. Durante a sessão de terça-feira (25) afirmou: “A mudança climática e suas consequências sobre as migrações têm 'um rosto humano' e colocam questões às quais toda a comunidade internacional deve responder de forma "coletiva e coordenada". O tema do encontro, "muito caro ao Papa Francisco", sublinhou o prelado foi: "Rumo à Cop26: Acelerar as ações para enfrentar a migração e o deslocamento no contexto das mudanças climáticas e ambientais".

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2021/05/26/15/136062682_F136062682.mp3

Pandemia e Clima

O Arcebispo então fez uma comparação entre a pandemia da Covid-19 e a crise climática: enquanto a primeira "chegou inesperadamente", disse, a segunda "vem se desenvolvendo há anos; no entanto, não foi abordada até recentemente", de modo que agora "suas consequências paralisantes já são uma realidade para milhões de pessoas em todo o mundo". Mas é essencial lembrar uma coisa, reiterou o prelado: "A mudança climática ocorre em toda parte, mas a capacidade de responder e se adaptar a ela varia muito". Os mais afetados "de modo desproporcional" são "os mais pobres e os mais vulneráveis". Neste sentido, portanto, "é fundamental reconhecer que a crise climática tem um rosto humano", o de "pessoas forçadas a fugir de seu ambiente natural por ter se tornado inabitável".

Desacordo com a Casa Comum

Entre outras coisas, Dom Jurkovič acrescentou, este "pode parecer um processo inevitável da natureza", mas na realidade "a deterioração do clima é muitas vezes o resultado de escolhas erradas, atividades destrutivas, egoísmo e negligência que colocam a humanidade em desacordo com a Criação, nossa casa comum". Por sua "própria natureza e magnitude", disse o Observador Permanente, "a realidade humana da migração" e "a questão da mudança climática" exigem "uma resposta coletiva e coordenada da comunidade internacional". Nenhum Estado, de fato, "pode administrar as consequências sozinho", e todos os países "estão de algum modo afetados".

Portanto, tendo em vista a 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática, programada para Glasgow, Reino Unido, em novembro próximo, o Arcebispo observou que "é imperativo abordar a dimensão humana da mudança climática sem mais delongas", porque - como o Papa Francisco lembrou recentemente - "há uma dívida ecológica que devemos à própria natureza, bem como aos povos e países afetados pela degradação ambiental causada pelo homem e pela perda da biodiversidade".

Não se trata, portanto, de "questões meramente políticas ou econômicas", destacou ainda o Observador Permanente, "mas de questões de justiça, uma justiça que não pode mais ser ignorada ou adiada", pois envolve "uma obrigação moral para com as gerações futuras". A seriedade com que respondemos a estas perguntas", concluiu o prelado, "moldará o mundo que deixaremos para nossos filhos".

Vatican News

Deus ama o pecador, mas detesta o pecado

Canção Nova
Por Márcio Mendes
O MEDO

Um grande aliado do Tentador é o medo. Quantas pessoas se tornaram infelizes, desviaram-se de Deus, entregaram-se a toda espécie de vícios por causa do medo! Medo de Deus, medo do diabo, medo de não ser feliz, medo de não se casar, medo de perder o marido, medo de morrer pobre, de fracassar, de ir para o inferno e, por fim, um dos piores medos: medo da morte!

Numa busca desesperada de segurança, de garantias e “felicidade instantânea”, um número incontável de pessoas se entregou aos arrastos da carne, aos prazeres pecaminosos e a toda sorte de pecados, procurando vida onde só há morte. Muita gente buscou e ainda busca libertações no espiritismo, no ocultismo e em outros tantos espiritualismos, a fim de manipular o sobrenatural, como se com o barro pudesse do barro se limpar. Até parece que ouvimos o desespero gritar: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos”.

Deus ama o pecador, mas detesta o pecado, pois, no Seu amor de Pai, Ele jamais consentirá algo que nos destrua e nos faça infelizes. Não há nenhum pecado que faça bem. Eu nunca vi. Sei que jamais verei o pecado, por si só, gerar verdadeiros benefícios.

O pecado tem a força de destruir o homem

Deus se ofende com o pecado, principalmente, porque este mata o homem, destrói aquele que Deus mais ama.

O Apocalipse narra: “alegrai-vos, ó céus, e todos os que aí habitais. Mas ó terra e mar, cuidado! Porque o demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12,12). Não podendo nada contra Deus, o diabo O ofende em Suas criaturas. Quer atingi-Lo pelo Seu amor.

O que será mais doloroso: machucarem-nos ou machucarem nosso filho ou a nossa mãe, por exemplo? Eu penso que a dor assume proporções gigantescas quando o mal se abate sobre aqueles que amamos. Que sofrimento Deus padece pelo amor que tem por nós! Diz a Sagrada Escritura que o coração de Deus se revolve, que o Senhor se comove, estremece de dó e compaixão pelos Seus filhos que O abandonam seduzidos pelo diabo (cf. Os 11,8c).

Quais são as artimanhas do inimigo?

Há mais um medo pelo qual o inimigo nos seduz: o medo de perder a nossa liberdade. Tentamos garanti-la defendendo-a de Deus, defendendo-a d’Aquele que nos deu toda a liberdade. Como se Ele no-la quisesse tirar.

No íntimo do nosso coração, sopra uma vozinha dizendo: “Deus não vai me deixar fazer isso ou aquilo!”; “Olha que Deus está te vendo!”. Pergunto-me se será mesmo só a voz da consciência.

Deus ama, e quem ama liberta. Porque nos ama, Ele nos respeita. Precisamos defender a nossa liberdade sempre, mas não de Deus, e sim do violador, do príncipe deste mundo que mantém as pessoas prisioneiras pelos seus vícios: álcool, fumo, drogas, jogos, promiscuidade, mentira e uma infinidade de outros que só trazem como salário a morte – primeiro da alma e depois do corpo. Mas, pela oração, podemos desarmar todas as ciladas do demônio.

Trecho extraído do livro “Quando só Deus é a resposta” do Márcio Mendes

https://formacao.cancaonova.com/

A Igreja e a escravidão no Brasil (Parte 2/3)

Presbíteros

Em síntese: O Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil ocasionou a publicação de várias obras atinentes ao assunto, portadoras de notícias e documentos poucos divulgados referentes à ação humanizadora da Igreja em favor dos escravos. Três dessas obras são utilizadas nas páginas seguintes, pondo-se em relevo traços da atitude da Igreja frente à escravatura.

A ocorrência do Centenário da Abolição no Brasil oferece-nos ocasião de voltar ao assunto, valendo-se de obras recém-editadas sobre o mesmo e portadoras de novos dados, extraídos de Arquivos, que põem em mais claro relevo a ação humanizante da Igreja perante o fato escravagista. De modo especial referimo-nos a três publicações:

Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, A Escravidão. Convergências e Divergências. Ed. Folha de Viçosa 1988.

Idem, A Igreja e a Escravidão. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Rio de Janeiro 1988.

Jaime Balmes, A Igreja Católica em face da Escravidão, com Adendo do Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho: A Igreja e a Escravidão no Brasil, São Paulo 1988.

Estas três obras apresentam informações e documentos pouco divulgados, que passamos a resumir ou ocasionalmente transcrever nas páginas subseqüentes.

2.    Alforrias e “Mão Posta”

1. A alforria é ato de libertar um escravo. Tal prática foi notável no Brasil colonial não só em favor dos inválidos (como erroneamente já se disse).

Havia ocasiões propícias à concessão de alforria por parte dos senhores: festas familiares, confecção de testamento, visitas episcopais… A alforria  podia ser concedida também como recompensa à lealdade no serviço.

Além disto, registram-se os vários casos de escravos que compravam a sua liberdade ou a conseguiam através de padrinhos e madrinhas benfeitores.

Os libertos ajudavam os ex-companheiros de serviço a conseguirem a sua libertação. As próprias Irmandades emprestavam dinheiro para que o escravo se tornasse forro.

Podia outrossim ocorrer a chamada “coartação”: o escravo e o patrão estipulavam o preço do resgate, que o servo ia pagando aos poucos; entrementes, o cativo já gozava de vários direitos do homem livre.

Mais: os escravos que denunciassem um contrabando, eram libertados pelo Estado. Aqueles que encontrassem diamantes acima de vinte quilates, eram alforriados.

Na Bahia os negros organizaram “fundos de empréstimos” para facilitar a compra da alforria; essas organizações foram-se convertendo em sociedades emancipacionistas. A eficácia de tais instituições pode-se avaliar pelo seguinte depoimento de Herbert S. Klein, doutor pela Universidade de Chicago e autor do livro African Slavery in Latin America and the Caribbean, onde assevera:

“Na época do primeiro censo nacional brasileiro, em 1872, havia 4,2 milhões de pessoas de cor livres e 1,5 milhão de escravos. As pessoas de cor livres não apenas ultrapassavam em número os 3,8 milhões de brancos, mas também representavam 43% da população brasileira, de 10 milhões de habitantes. Tudo isto mais de uma década antes da abolição da escravatura” (pp. 241-3).

A Igreja incentivou as formas de libertação dos cativos, como bem dizia D. Pedro Maria de Lacerda, bispo do Rio de Janeiro:

“provemos que os aplausos tantas vezes dados a quem dava alforria, eram aplausos sinceros, nascidos de um coração ansioso de ver a liberdade refulgir mais e mais entre os homens à sombra da Cruz”  (Carta Pastoral anunciando a Lei nº 2040 de 27/09/1871).

2. A Manu posita (Mão posta) era a prática de angariar recursos para redimir cativos por parte de pessoas caridosas; estas eram chamadas “manuposteiros”. Constituiam associações com o Seu Regimento; os membros dessas entidades tinham cada qual a sua função: ora a de esmolér, que pedia donativos por ocasião das festas ou nas fazendas, nas igrejas, nas ermidas…, ora a de escriturar as receitas (escrivães), ora a de guardá-las e distribui-las na qualidade de tesoureiro…

Aliás, existiam na Igreja a Ordem da SS. Trindade, desde 1198, e a dos Mercedários ou Nolascos desde 1222, destinadas a redimir os cativos detidos pelos Sarracenos. A existência dessas ordens era, por si mesma, uma réplica à prática da escravatura: como explicar a arrecadação de elevadas somas para pôr em liberdade cativos, se de outro lado, os próprios portugueses aprisionavam africanos e os reduziam à escravidão? Os Trinitários e os Mercedários suscitaram, por seu trabalho, uma mentalidade anticativeiro, que se exprimiu no Brasil através dos manuposteiros. Assim descreve o historiador Vítor Ribeiro a solenidade do resgate realizada pelas Ordens Religiosas:

“Era revestida de pompas estranhas a expedição de resgates. Os redentores, depois de terem recolhido as esmolas em cofre especial, despediam-se de El-Rey e do seu convento, deixavam crescer  longas barbas, embarcavam com o cofre, e iam à Mauritânia expor-se a mil perigos, vexames e emboscadas com a cautela que a experiência lhes ia aconselhando; negociavam os resgates por intermédio do governo de Bey ou das autoridades e, por fim, conseguindo libertar os cativos, reconduziam-nos ao reino, onde faziam e publicavam longas listas de resgates, com os nomes, idades, naturalidades, condições de cativeiro e libertação e custo dos resgates… Depois, em dia aprazado, fazia-se em Lisboa solene procissão em que entravam várias  Ordens e Confrarias, especialmente a da Misericórdia e a Nossa Senhora do Resgate, a qual dava volta à Igreja velha da Misericórdia e regressava ao convento” (cf. História de Portugal, vol. IV , Damião Peres (Dir.) Barcellos, Portucalense Editora 1932, p. 565).

O Bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de Lacerda, em 1871 escrevia na sua Carta Pastoral referente à Lei do Ventre Livre:

“A Igreja Católica alegra-se imensamente à vista do que acaba de realizar-se entre nós. E como não? Por ventura não é a Igreja Católica que deu ao mundo São João da Mata e que aprovou a Ordem dos seus Religiosos da Santíssima Trindade, cujo fim principal foi resgatar os que gemiam cativos em poder dos Sarracenos? Não foi a Igreja Católica que aprovou a Ordem dos Religiosos das Mercês, instituída por São Pedro Nolasco com o fim de resgatar os cativos que viviam sob o poder dos infiéis, obrigando-os a um heroísmo assombroso de caridade, ligando-os com um solene voto a se deixarem eles mesmos em ferros como penhora e reféns, se tanto fosse preciso para o resgate dos Cristãos? E a Igreja Católica não celebra há tantos séculos a 24 de setembro de cada ano a instituição dessa heróica Ordem Religiosa, criada por inspiração de Maria Santíssima, a quem a Igreja reconhece tanti operis Institutricem? E graças a Deus, no quinto dia dentro do oitavário desta festa é que a nova lei brasileira foi sancionada pela Augusta princesa Imperial Regente”.

Os frutos da mentalidade humanitária despertada pelo Cristianismo são atestados por vários relatos de viajantes e cronistas que passaram pelo Brasil. Entre outros, merece atenção Henry Koster. Filho de ingleses, nascido em Portugal, chegou ao Brasil em 1809. No seu livro Travels in Brazil relata viagens ao Nordeste e refere-se à condição dos escravos:

“Atesta Koster: “Os escravos no Brasil gozam de maiores vantagens que seus irmãos nas colônias britânicas. Os numerosos dias santos para os quais a Religião Católica exige observância, dão ao escravo muitos dias de repouso ou tempo para trabalhar em seu proveito próprio. Em trinta e cinco desses dias e mais nos domingos é-lhes permitido empregar seu tempo como lhes agradar”. Atribui à opinião pública força suficiente para obstar que os senhores diminuíssem o número destes dias, o que revela uma mentalidade altamente humanitária da sociedade de então.

Desce Koster a detalhes sobre as alforrias, porta aberta para a libertação dos cativos…

Destaca o papel não relevante das associações religiosas: “Os escravos possuem sua Irmandade como as pessoas livres, e a ambição que empolga geralmente o escravo é ser admitido numa dessas confrarias, e ser um dos oficiais ou diretores do conselho da sociedade”…

Focaliza a terna devoção dos cativos a Nossa Senhora do Rosário, “algumas vezes, pintada com a face e as mãos negras”. Ressalta que “os reis do Congo brasileiro invocam a Nossa Senhora do Rosário e são vestidos como vestem os brancos. Conservam, é verdade, a dança do seu país, mas nessas festas são admitidos pretos africanos de outras nações”. É que tribos de diversas regiões africanas, muitas até rivais na África, aqui se irmanavam sob o signo da Mãe comum, a Virgem Maria, que tanto amavam e veneravam.

Que os escravos eram respeitados se deduz deste assento: “Os escravos no Brasil são regularmente casados de acordo com as fórmulas da Igreja Católica. Os proclamas são publicados como se fossem para pessoas livres. Tenho visto vários casais felizes (tão felizes quanto podem ser os escravos), com grande número de filhos crescendo ao redor deles”. Nota ainda Koster que era permitido que os escravos se casassem com pessoas livres. Se a mulher era escrava, o filho permanecia cativo; mas se o homem era escravo e a mulher forra, o filho era também livre.

“Aos escravos pertencem os sábados de cada semana para providenciar sua própria subsistência, além dos domingos e dias santificados. Os que são diligentes raramente deixam de comprar sua liberdade. Os monges não guardam interferência alguma quanto às roçarias dadas aos escravos, e quando um desses morre ou obtém sua alforria, permitem que leguem seu pedaço de terra a qualquer companheiro de sua escolha. Os escravos alquebrados são carinhosamente providos de alimento e roupa”. (Grifo nosso).

Testemunha ainda que muitos agricultores tratavam sua escravaria com carinho. Aliás, alega textualmente: “Embora os negros sejam sustentados por seus amos, existindo terras com abundância, permitem aos escravos plantar o que quiserem e vender as colheitas a quem lhes aprouver. Muitos criam galinhas e porcos e, ocasionalmente, um cavalo para alugar e possuir o dinheiro assim obtido” (Transcrito do livro de J. Balmes: A Igreja Católica em face da Escravidão, pp. 108-110).

São estes alguns aspectos da história da escravidão no Brasil que devem ser postos em relevo para que se tenha uma visão tão objetiva e fiel quanto possível do período analisado.

A propósito:

TERRA, JOÃO EVANGELISTA MARTINS, A Igreja e o Negro no Brasil. Ed. Loyola 1983.
PR 274/1984, pp. 240-247 (síntese do livro acima).
Bíblia, Igreja e Escravidão. Coordenador João Evangelista Martins Terra S. J. Ed. Loyola 1983.
PR 267/1983, pp. 106-132.


https://www.presbiteros.org.br/

Fé, Esperança e Caridade: a bela história das 3 filhas de Santa Sofia

Aleteia
Por Aliénor Goudet

A santa, cujo nome significa "sabedoria", não enfrentou o martírio sozinha. Suas três filhas também deram suas vidas pelo Reino de Cristo.

Não houve adversários mais cruéis para os cristãos do que aqueles dos primeiros séculos. Naquela época, as terras do Império Romano eram mais regadas com sangue do que com água. Quem se dedicava a Cristo corria o risco de sofrer e morrer. Mas nesta escuridão, o brilho da fé de Santa Sofia e de suas filhas (Fé, Esperança e Caridade) se destacou.

No ano de 137, quando os cristãos de Roma fugiam dos soldados do imperador, um boato se espalhou pela cidade. Uma viúva de Milão passava seus dias nas áreas pobres da cidade cuidando mais necessitados.

Com a ajuda de suas três filhas, a viúva chamada Sofia alimentava, cuidava dos pobres e os confortava. Sua gentileza a tornou apreciada por todos. O mesmo vale para suas filhas, tão generosas e prestativas quanto a mãe.

Mas dizem que, ao cair da noite, Sofia fugia para as prisões da cidade. Ela comprava os guardas e visitava os prisioneiros cristãos. Ela orava com eles e os abençoava, lembrando-os da promessa do reino vindouro.

Muitos cristãos passavam por sua provação com os corações iluminados pelas palavras de Sofia. Tão virtuosas quanto ela, Pistis (Fé), Elipis (Esperança) e Agape (Caridade) sempre a seguiam. Mas Sofia e suas filhas sabiam que não poderiam ser fiéis a Cristo fugindo para sempre.

A lenda do martírio

Elas serviam incessantemente a seus irmãos. A chama da fé cristã era reacesa a cada uma de suas orações. Roma não podia ignorar este fogo brilhante que aquecia o coração dos cristãos. Mas Sofia e suas filhas foram presas e levadas à justiça perante o próprio Imperador Adriano. Entretanto diante da beleza e da simplicidade das rés, os juízes ficaram transtornados. Elas seriam, então, soltas sem punição se renunciassem a Cristo. Sem medo, Sofia respondeu que não iria trair o filho de Deus.

O martírio de Fé, Esperança e Caridade

As três meninas foram questionadas separadamente, a fim de usar sua juventude. À Fé, a mais velha, de 12 anos, ofereceram-se belos presentes. Mas ela os rejeitou com desdém. Um carrasco a chicoteou e depois cortou seus seios, antes de mergulhá-la em óleo fervente. Mas a pureza de sua alma não deixou que nenhuma dor a afetasse.

Os torturadores fizeram as mesmas promessas à Esperança, de 10 anos, e a ameaçaram com o destino de sua irmã. Sem hesitar, ela escolheu seguir a irmã mais velha. Ela também não sentiu as chamas queimando-a ou os ganchos rasgando sua carne. 

Caridade, a mais nova, de 9 anos, foi decapitada.

O coração de Sofia, que assistiu a tudo, se dividiu entre a dor de uma mãe que perdeu suas filhas e a alegria de saber que elas estavam perto de Cristo. Porque elas não desistiram de sua pureza. Por crueldade, ela foi autorizada a enterrar os restos mortais de suas filhas, mas foi morta no mesmo local do enterro.

Uma devoção tenaz ao longo dos séculos

A história confirma a existência e o martírio das quatro santas, mas os detalhes deste último são difíceis de verificar. A lenda da tortura testemunha da mesma forma o impacto que essas santas tiveram sobre a população cristã da época. Essa devoção era particularmente notável em Bizâncio e no mundo eslavo.

Os nomes das quatro santas também fornecem uma boa metáfora. A sabedoria gera e guia a fé, a esperança e a caridade, as três virtudes teologais que todo cristão deve seguir e aplicar.

Aleteia

Em Mianmar, duas igrejas atingidas por fogo de artilharia do governo

Guadium Press
Mianmar está em um conflito interno desde um golpe de Estado dos militares em 1 de Fevereiro, seguido de protestos civis.

Redação (25/05/2021 09:24Gaudium Press) Uma igreja católica, localizada a 7 quilômetros de Loikaw, capital do estado de Kayah, em Mianmar, foi atingida por morteiros das tropas do governo que buscavam atacar grupos rebeldes. Kayah é um estado localizado no leste do país. Duas mulheres foram mortas e muitas outras pessoas ficaram feridas dentro da igreja uma vez que lá entraram em busca de refúgio enquanto ocorria o bombardeio.

A Catedral do Sagrado Coração de Pekhon, a 15 quilômetros de Loikaw, também foi danificada pelo fogo de artilharia. Diversas autoridades religiosas pedem que se respeitem as igrejas.

Mianmar está em um conflito interno desde um golpe de Estado dos militares ocorrido em 1 de Fevereiro, seguido de protestos civis. Os militares desconhecem o resultado da eleição de novembro passado, por suspeita de fraude.

Mas recentemente – em 17 de maio – os militares usaram artilharia contra a base aérea de Taungoo e sua unidade militar em Bago, que fica ao norte de Yangon, até há um tempo atrás a capital do país.

30 cidades estão sob toque de recolher das 2oh às 4h; e, em Yangon e Mandalay, cidades importantes e consideradas um dos focos dos protestos, o toque de recolher começa às 18h.

Diversos analistas temem uma guerra civil.

Com informações Fides

https://gaudiumpress.org/

9 dados incríveis da vida de São Felipe Neri

S. Felipe Neri | ACI Digital

REDAÇÃO CENTRAL, 26 mai. 21 / 06:00 am (ACI).- Hoje é celebrada a festa de São Felipe Neri, padroeiro dos educadores e comediantes. A seguir, apresentamos alguns dados sobre a incrível vida do “Apóstolo de Roma”.

1. Uma experiência mística provocou a sua conversão

Felipe Neri recebeu seus primeiros ensinamentos religiosos dos frades dominicanos do Mosteiro de São Marcos de Florença, na Itália. Entretanto, aos 16 anos, foi enviado a Piedimonte San Germano para ajudar no negócio do primo do seu pai.

Realizou tão bem o seu trabalho que o seu primo decidiu torná-lo herdeiro da sua fortuna. Entretanto, Felipe teve uma experiência mística em uma capela que pertencia aos beneditinos de Monte Cassino e descobriu a sua vocação ao sacerdócio. Imediatamente decidiu se afastar da opulência e dos bens materiais para se mudar em 1533 à cidade de Roma e servir a Deus.

2. É conhecido como o “Apóstolo de Roma”

Depois de abandonar seus estudos de filosofia e teologia – por volta de 1540 –, decidiu fazer apostolado e ensinar o catecismo aos pobres. Naquele tempo, o Colégio Cardinalício era governado pela família Médici e, por isso, muitos cardeais se comportavam como príncipes seculares. Roma estava em um estado de ignorância religiosa, os sacerdotes abandonavam os paroquianos e as igrejas, os costumes desta época não era os melhores.

Durante 40 anos, Felipe foi o melhor catequista de Roma e conseguiu transformar a cidade. Seu apostolado ativo começou com as visitas aos hospitais, depois passou a frequentar as lojas, armazéns, bancos e lugares públicos, exortando as pessoas a servir a Deus.

3. É padroeiro dos comediantes

Definitivamente Felipe recebeu de Deus o dom da alegria e da amabilidade. Como era tão simpático no seu modo de tratar as pessoas, tornava-se facilmente amigo dos trabalhadores, funcionários, vendedores e crianças de rua.

Uma das suas perguntas mais frequentes era: “E quando começaremos a nos tornar melhores?”. Se lhe mostravam boa vontade, costumava explicar as maneiras mais simples para chegar a ser mais piedosos e começar a fazer a vontade de Deus.

Também foi amigo de vários cardeais e príncipes que gostavam dele pelo seu grande senso de humor e humildade.

4. Dedicou-se à oração e às obras de misericórdia

Além do apostolado, Felipe Neri costumava passar a noite na porta de alguma igreja ou nas catacumbas de São Sebastião, perto da Via Appia, para entrar em profunda oração.

Além disso, praticava as obras corporais de misericórdia.

Em 1548, junto com o seu confessor e 15 leigos, fundou a Irmandade da Santíssima Trindade, que se reunia para organizar exercícios espirituais e ajudar os peregrinos necessitados. Assim, fundou o hospital de Santa Trinita dei Pellegrini, onde foram atendidos e cuidados 145 mil peregrinos no ano jubilar de 1575.

5. Podia ler os pensamentos dos seus penitentes e levitar

Em 23 de maio de 1551, aos 36 anos, foi ordenado sacerdote. Pouco tempo depois, começou a viver na igreja de São Jerônimo da Caridade (Itália), onde se dedicou especialmente à confissão. Costumava atender confissões desde a madrugada até o meio-dia, algumas vezes permanecia até a tarde, para atender a uma multidão de penitentes de todas as idades e condições sociais.

Tinha o grande dom de saber confessar muito bem, como também o dom de ler o pensamento dos seus penitentes e os guiava com grande compaixão no caminho da santidade.

Além disso, celebrava com grande devoção a Missa diária que muitos sacerdotes haviam abandonado. Muitas vezes, entrava em êxtase durante a Eucaristia e foi visto levitando em algumas ocasiões. Para não chamar a atenção, tentava celebrar a última Missa do dia, na qual havia menos pessoas.

6. Curava os doentes e previa o futuro

Felipe tinha o dom da cura e restabeleceu a saúde de muitos doentes. Em várias ocasiões também previu o futuro. Vivia em contato com o sobrenatural e frequentemente entrava em êxtase. As pessoas que o viram entrar em êxtase diziam que o seu rosto resplandecia com uma luz celestial.

7. Conheceu Santo Inácio de Loyola

Em 1544, Felipe se tornou amigo de Santo Ignácio de Loyola e quis ser missionário na Ásia, mas depois desistiu, pois desejava continuar o seu trabalho em Roma. Foi assim que formou o núcleo do que mais tarde se tornou a Irmandade do Pequeno Oratório.

Em 1575, essa Irmandade foi chamada de Congregação do Oratório de São Felipe Neri e foi aprovada na bula “Copiosus in misericordia Deus” pelo Papa Gregório XIII.

8. A Virgem Maria apareceu para ele e foi curado

Seu estado de saúde sempre foi delicado. Em certa ocasião, a Virgem apareceu para ele e o curou de uma doença na vesícula. Foi assim: o santo quase havia perdido a consciência, quando de repente se levantou, abriu os braços e exclamou: “Minha bela Senhora! Minha Santa Senhora!”. O médico que o atendeu segurou no seu braço, mas Felipe disse: “Deixe-me abraçar a minha mãe que veio me visitar”.

Depois, percebeu que havia várias testemunhas e escondeu o seu rosto, como uma criança, porque não gostava que o chamassem de santo.

9. Morreu na Solenidade de Corpus Christi

Em 25 de maio de 1595, dia de Corpus Christi, o seu médico o viu transbordando de alegria e disse: “Padre, nunca o vi tão alegre” e ele respondeu: “Alegrei-me quando me disseram: vamos a casa do Senhor”.

Por volta de meia-noite, sofreu um ataque agudo e levantou as mãos para abençoar os sacerdotes que estavam com ele e expirou docemente. Tinha 80 anos.

Foi declarado santo em 1622 e, em Roma, foi considerado o melhor catequista e diretor espiritual.

ACI Digital

S. FILIPE NÉRI, PRESBÍTERO, FUNDADOR DA CONGREGAÇÃO DOS PADRES DO ORATÓRIO

S. Filipe Néri, Carlo Dolci  (© MET)
26 de maio

Nas periferias do centro

Quando Filipe chega a Roma, em 1534, era como uma luz acesa no escuro da miséria, que surgia entre as glórias da Ara Pacis e os lustres travertinos dos palácios reais. O centro da Cidade representa a degradação das periferias: ali, em São Jerônimo, na Via Giulia, Filipe alugou um quartinho. De dia, com rosto simpático e coração orgulhoso, levava, a quem encontrava, o calor de Deus, mesmo sem ser padre e, quando podia, dava um pedaço de pão; dispensava carinho e conforto a quem sofria na repartição do Hospital dos Incuráveis. À noite, a alma de Filipe se aquecia e se envolvia em um diálogo tão íntimo com Deus, a ponto que a sua cama podia ser, sem nenhum problema, no átrio de uma igreja ou na pedra de uma catacumba.

Sempre sorridente

Seu sorriso, - lembra o Papa Francisco, - o transformou em um “apaixonado anunciador da Palavra de Deus”. Este foi o seu segredo, que fez dele um “trabalhador entre as almas”. A sua paternidade espiritual, - observa Francisco, - “reflete-se em suas ações, acompanhada de confiança nas pessoas; enfrentava gestos pessimistas e carrancudos com espírito festivo e alegre, convicto de que a graça não alterava o seu caráter, pelo contrário, conformava, fortalecia e aperfeiçoava”.

“Filipe aproximava-se aos poucos das pessoas, com uma desculpa qualquer, e logo se tornavam seus amigos”, narra seu biógrafo. E o Papa comenta: “Amava a espontaneidade e evitava meios artificiais; escolhia as maneiras mais divertidas para educar às virtudes cristãs; no entanto, mantinha uma disciplina pessoal saudável, que implicava o exercício da vontade para acolher Cristo na concretude da sua vida”.

A Congregação do Oratório

Tudo isso encantava quem, conhecendo Filipe, queria fazer como ele. O “Oratório” nasceu assim, entre as barracas da periferia romana, que, apesar do mau cheiro, de dia eram perfumadas por uma caridade concreta, não como um desenho no papel ou por uma esmola fria caída do céu. “Graças também ao apostolado de São Filipe”, - reconhece o Papa Francisco, - “sua obra pela salvação das almas se tornava uma prioridade para a ação da Igreja; ele compreendeu que os Pastores deviam estar no meio do povo, guiando-o e encorajando-o na fé”. Filipe transformou-se em um verdadeiro pastor, em 1551, tornando-se sacerdote, o que não mudou o seu estilo de vida. Com o tempo, por seu intermédio, nasceu a primeira comunidade, gérmen da futura Congregação, que, em 1575, recebeu o beneplácito do Papa Gregório XIII.

“Sejam obedientes”

“Filhos, sejam humildes e obedientes; sejam humildes e obedientes”, repetia Filipe, lembrando que, para ser filho de Deus, “não era suficiente honrar só os superiores, mas honrar também os semelhantes e inferiores, procurando ser o primeiro a honrar”. Ele exortava a seguir o exemplo de uma alma contemplativa, como Maria aos pés de Jesus, e o pensamento que reinava no coração de Marta, afirmando: “É melhor obedecer ao sacristão e ao porteiro, quando chamam, do que ficar no quarto rezando”.

São Filipe Néri, o terceiro “Apóstolo de Roma”, entregou seu espírito a Deus na madrugada de 26 de maio de 1595. O dinamismo do seu amor nunca diminuiu! A cidade de Roma parece repetir: “Não é hora de dormir, porque o Paraíso não é para ociosos”!

Vatican News

terça-feira, 25 de maio de 2021

A Igreja e a escravidão no Brasil (Parte 1/3)

Presbíteros

A Igreja e a escravidão no Brasil

Em síntese: O Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil ocasionou a publicação de várias obras atinentes ao assunto, portadoras de notícias e documentos poucos divulgados referentes à ação humanizadora da Igreja em favor dos escravos. Três dessas obras são utilizadas nas páginas seguintes, pondo-se em relevo traços da atitude da Igreja frente à escravatura.

A ocorrência do Centenário da Abolição no Brasil oferece-nos ocasião de voltar ao assunto, valendo-se de obras recém-editadas sobre o mesmo e portadoras de novos dados, extraídos de Arquivos, que põem em mais claro relevo a ação humanizante da Igreja perante o fato escravagista. De modo especial referimo-nos a três publicações:

Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, A Escravidão. Convergências e Divergências. Ed. Folha de Viçosa 1988.

Idem, A Igreja e a Escravidão. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Rio de Janeiro 1988.

Jaime Balmes, A Igreja Católica em face da Escravidão, com Adendo do Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho: A Igreja e a Escravidão no Brasil, São Paulo 1988.

Estas três obras apresentam informações e documentos pouco divulgados, que passamos a resumir ou ocasionalmente transcrever nas páginas subseqüentes.

1.   O Tráfico Negro no Brasil e a Igreja

1. As tribos da África Ocidental praticavam a venda de homens negros como escravos. Procuravam assim os vencedores na guerra retirar algum lucro da vitória: trocavam por dinheiro ou mercadorias os adversários prisioneiros; para estes, era preferível ser vendidos como escravos a permanecer sob o domínio de africanos vencedores; estes tratavam ignominiosamente os vencidos.

No Brasil, a exploração das minas e demais riquezas naturais sugeriu aos portuguesas a procura de escravos na África – coisa, aliás que já outros povos (como, por exemplo, os árabes da península ibérica) praticavam, para atender aos serviços da agricultura e da indústria. Principalmente após D. Afonso, que reinou até 1453, os reis de Portugal perderam o controle sobre a importação de escravos, de modo que os colonos portugueses, levaram multidões de africanos para a Europa. Conseqüentemente também os trouxeram para o Brasil, fazendo negócios altamente lucrativos tanto para quem vendia como para quem comprava os negros.

2. A Igreja não se calou diante de tais costumes. Entre os documentos que o atestam, além dos que já foram citados em PR, existe uma carta do Papa João VIII, datada de setembro de 873 e dirigida aos Príncipes da Sardenha, que diz:

“Há uma coisa a respeito da qual desejamos admoestar-vos em tom paterno; se não vos emendardes, cometereis grande pecado, e, em vez do lucro que esperais, vereis multiplicadas as vossas desgraças. Com efeito; por instituição dos gregos, muitos homens feitos cativos pelos pagãos são vendidos nas vossas terras e comprados por vossos cidadãos, que os mantêm em servidão. Ora consta ser piedoso e santo, como convém a cristãos, que, uma vez comprados, esses escravos sejam postos em liberdade por amor a Cristo; a quem assim proceda, a recompensa será dada não pelos homens, mas pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isto exortamo-vos e com paterno amor vos mandamos que compreis dos pagãos alguns cativos e os deixeis partir para o bem de vossas almas” (Denzinger-Schönmetzer,  Enquirídio dos Símbolos e Definições nº 668).

O Papa Pio II, em 7 de outubro de 1462, condenou o comércio de escravos como magnum scelus (grande crime)¹.

Em 1571 Tomás de Mercado, teólogo de Sevilha, declarava desumana e ilícita a traficância de escravos, tanto mais que instaurava uma luta fratricida entre os próprios africanos. Em sua Summa de Tratos y Contratos, este autor afirmava não haver justificativa para negócio tão infame.

3. Houve mesmo sacerdotes que se sacrificaram, tanto no Brasil como fora, em favor dos escravos. Sejam citados, entre outros, os Padres Afonso Sandoval S. J. e Pedro Claver. O primeiro foi o pioneiro do trabalho em prol dos negros em Cartagena das Índias, porto de tráfico no Mar das Antilhas; com grande  coragem denunciou os maus tratos de muitos traficantes; através de seus escritos, tentou suscitar uma mentalidade antiescravagista; para melhor trabalhar, procurou conhecer a cultura africana a fim de entender mais perspicazmente aqueles pobres seres humanos que ele defendia.

Quanto a Pedro Claver, em 1610 chegou de Sevilha a Cartagena das Índias, onde o Pe. Sandoval lhe ensinou o amor aos negros. Na Colômbia foi ordenado sacerdote e passou a trabalhar com o Pe. Sandoval junto aos negros. No ano seguinte, foi para o Peru; retornou depois a Cartagena e assumiu também as missões entre os escravos das fazendas do interior. Durante toda a sua vida, cuidou de cerca de trezentos mil escravos. Em 1639, quando o Papa Urbano VIII publicou um documento em favor dos escravos, viveu dias felizes. Todavia esse servidor dos escravos morreu paralítico, de doença contraída nas missões da região pantanosa de Tolu e Finu, aos 8 de setembro de 1654

4. As Constituiçoens primeyras do Arcebispado da Bahia (1707) mais de uma vez se voltaram para a sorte dos escravos, procurando fazer que os senhores lhe propiciassem ou facilitassem os bens espirituais. Assim, por exemplo, no tocante ao sacramento do matrimônio, rezavam as Constituições:

“Conforme o direito divino e humano, os escravos e escravas podem casar com outras cativas ou livres e seus senhores lhe não podem impedir o matrimônio nem o uso dele em tempo e lugar conveniente, nem por esse respeito os podem tratar pior, nem vender para outros lugares remotos, para onde o outro, por ser cativo ou por Ter outro justo impedimento, o não possa seguir, e, fazendo o contrário, pecam mortalmente e tomam sobre suas consciências culpas de seus escravos, que por este temor se deixam muitas vezes estar e permanecer em estado de condenação” (D. Sebastião Monteiro de Vide, Constituiçoens, título 71).

Os sacramentos da Eucaristia e da Penitência eram de fácil acesso aos escravos, principalmente na Quaresma, em vista do cumprimento do preceito pascal.

No concernente ao sacramento da Ordem, o impedimento para os escravos não era racial, mas provinha da própria condição de escravos. Regozijavam-se, porém, quando entravam em contatos com sacerdotes negros, que vinham da Costa de Angola ou da ilha de São Tomé, onde havia um cabido de cônegos todos negros.

5. Deve-se notar também o papel benéfico desempenhado pelas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, cujas igrejas eram pontos de encontro de escravos e livres; aí cultuavam a Deus e faziam suas devoções como também exprimiam suas aspirações e deixavam via à tona seus íntimos sentimentos.

Dentre os Estatutos dessas Confrarias merecem destaque alguns tópicos como os seguintes:

“Toda pessoa, preta ou branca, de um ou outro sexo, forro ou cativo, de qualquer nação que seja, que quiser ser Irmão desta irmandade, irá à mesa ou à casa do Escrivão da Irmandade pedir-lhe faça assento de Irmandade” (cap. I do Compromisso da Irmandade da Paróquia do Pilar de Ouro Preto).

O capítulo II do mesmo Compromisso reza:

“Haverá nesta Irmandade um Rei e uma Rainha, ambos pretos, de qualquer nação que sejam, os quais serão eleitos todos os anos em mesa a mais votos e serão obrigados assistir com o seu estado as festividades de Nossa Senhora e mais Santos, acompanhando no último dia atrás do pálio”.

Vê-se que nestes textos desaparecem as diferenças raciais; além do que, escravos e livres são equiparados entre si.

6. Descendo através dos tempos, temos uma Carta do Papa Pio VII enviada ao Imperador Napoleão Bonaparte da França, em protesto contra os maus tratos infligidos a homens vendidos como animais; ao que acrescentava: “Proibimos a todo eclesiástico ou leigo apoiar como legítimo, sob qualquer pretexto, este comércio de negros ou pregar ou ensinar em público ou em particular, de qualquer forma, algo contrário a esta Carta Apostólica” (citado por L. Conti, A Igreja Católica e o Tráfico Negreiro, em O Tráfico dos Escravos Negros nos séculos XV-XIX. Lisboa 1979, p. 337).

O mesmo Sumo Pontífice se dirigiu a D. João VI de Portugal nos seguintes termos:

“Dirigimos este ofício paterno à Vossa Majestade, cuja boa vontade nos é planamente conhecida, e de coração a exortamos e solicitamos no Senhor, para que, conforme o conselho de sua prudência, não poupe esforços para que… o vergonhoso comércio de negros seja extirpado para o bem  da religião e do gênero humano”.

Pio VII também muito se empenhou para que no Congresso Internacional de Viena (1814-15) a instituição da escravatura fosse condenada e abolida

7. Quanto à travessia do Oceano Atlântico por parte dos escravos trazidos em navios negreiros, verifica-se hoje que descrições de Castro Alves e outros autores são hiperbólicas e poéticas, fugindo à realidade histórica. Os brancos tinham interesse em prover à conservação da vida de seus escravos em condições tão boas quanto possível, visto que os negros deviam ser oferecidos aos colonos do Brasil, que os examinariam de perto antes de os comprar. Julga-se até que os traficantes contratavam médicos que acompanhavam a população dos navios negreiros.

A propósito:

TERRA, JOÃO EVANGELISTA MARTINS, A Igreja e o Negro no Brasil. Ed. Loyola 1983.
PR 274/1984, pp. 240-247 (síntese do livro acima).
Bíblia, Igreja e Escravidão. Coordenador João Evangelista Martins Terra S. J. Ed. Loyola 1983.
PR 267/1983, pp. 106-132.


https://www.presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF