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domingo, 14 de agosto de 2022

Envelhecer: Fracasso? Sabedoria? (Parte 1)

Editora Cléofas

Envelhecer: Fracasso? Sabedoria? (Parte 1)

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A velhice é tida por muitos como idade ingrata, entregue à solidão e aos achaques. Na verdade, uma velhice vivida com Deus na perspectiva da vida eterna pode ser um período fecundo.

Com efeito; o ancião possui o cabedal da experiência, que ele pode comunicar às gerações posteriores (desde que não se feche em saudosismo lamurioso e na repetição enfadonha de histórias passadas). Além disto, o ancião, tendo ultrapassado as metas que absorvem a atenção dos mais jovens em sua vida profissional, deve poder realizar com nitidez a autêntica escala de valores; os bens definitivos lhe estão muito presentes, exercendo benigna influência sobre o seu coração. O Apóstolo São Paulo, em suas últimas cartas (1/2 Tm, Tt), dá testemunho de quanto o ancião pode ser sereno e voltado para os mais nobres ideais, mesmo sofrendo a inclemência do seu tempo. Importa que o ancião aceite a sua idade. Não se engane a propósito, como quem quer viver anacronicamente décadas passadas.

Todavia, para que a idade provecta possa ser assim serena e fecunda, requer-se que a pessoa se prepare para ela precisamente nos anos em que ela parece distante; é nas fases de lucidez e plena maturidade que o cristão deve armazenar o cabedal espiritual de que ele desfrutará na reta final de sua existência terrestre; querer começar a encarar o fim da vida quando se este se faz sensivelmente presente, com seus achaques físicos ou mentais, é tarefa difícil e de pouco êxito.

Nos tempos atuais, é maior do que outrora o número de pessoas que chegam a idade provecta, dado que os recursos da medicina prolongam a vida humana além dos limites do passado. Para muitos, a velhice se torna um fardo pesado, pois o ancião não raro sofre da solidão que os outros lhe impõe ou que ele impõe a si mesmo. Daí os sentimentos de melancolia e desânimo que podem invadir o coração dos anciãos. Estes se dispõem a dizer com o sábio do Antigo Testamento: “São anos dos quais não gosto” (Ecl 12, 1).

Como se compreende, a experiência da velhice e do termo desta vida terrestre é diferente naqueles que têm fé, e naqueles que não têm fé. Para estes últimos, o fim da caminhada terrestre é simplesmente fim e naufrágio, após o qual nada existe – o que contraria violentamente o instinto natural de auto conservação e a aspiração de todo homem a viver. Para quem tem fé, o caminhar para a dita “morte” é simplesmente caminhar para a plenitude ou a consumação da vida. Nas páginas subsequentes voltar-nos-emos para a velhice tal como a consideram a sã razão e o olhar da fé cristã.

Compreender o sentido da velhice

Eis como o S. Padre João Paulo II apresenta a velhice:

“A velhice é uma fase da vida muito especial. Nela é elevado ao termo e consumado tudo o que uma longa vida tenha realizado. A velhice faz a colheita de tudo que foi aprendido, vivenciado e conseguido…, como também a colheita de tudo o que foi sofrido e superado”.

Um olhar retrospectivo do ancião sobre o seu passado tende a ver neste facetas positivas e valores que nos momentos de tribulação passaram despercebidos. A Providência Divina, que escreve direito por linhas tortas, aparece mais nitidamente como a artesã que sabe tirar dos males maiores bens. Em suma, uma visão global e desapaixonada dos acontecimentos permite conceber otimismo em relação aos anos de velhice: embora o ancião sinta as forças diminuírem e as moléstias a acometê-lo, ele guarda a paz; tem a convicção de que, afinal, tudo o que o acomete vem a ser um caminhar para Deus; somente o pecado é incompatível com esse direcionamento. – Uma paciência cheia de confiança e esperança dá estrutura a tal fase da vida.

A idade ancião, além disto, ajuda o homem a distinguir melhor o essencial e o acidental na vida; o olhar se purifica, os horizontes se clareiam e a pessoa percebe melhor o que merece empenho e o que não vale a pena… Muita coisa que outrora parecia importante e “empolgava”, aparece como secundária. Pode-se dizer que então a pessoa cresce em sabedoria, ou seja, na intuição do mundo como Deus o vê. A eternidade penetra mais desembaraçadamente no presente do homem e projeta luz sobre a existência terrestre.

Em consequência, o ancião que pela idade é impedido de tomar parte na vida da família e na vida pública como outrora, nem por isto se torna uma pessoa inútil. Ele tem seu papel a exercer, comunicando aos mais jovens suas experiências de vida, abrindo-lhes o olhar para possíveis ilusões e percalços que sorrateiramente os ameaçam. Os jovens hão de ter interesse em procurar ouvir os mais velhos. Notemos, porém, que isto só será possível se os mais velhos se abstiverem de contar sempre as mesmas histórias, fechados num saudosismo que não seja capaz de compreender o momento presente. A tendência dos anciãos a reviver o passado, dando por vezes a impressão de que o presente é simplesmente decadência, contribui para isolá-los e impedir-lhes o exercício da importante função de acompanhar os mais jovens. Ora tal função é indispensável, como nota o S. Padre João Paulo II:

“Os mais jovens e os mais velhos…, aqueles que hoje são velhos e os que amanhã serão velhos,… os sadios e os doentes, nós todos realizamos juntos a plenitude do Corpo de Cristo, e amadurecemos juntos em direção dessa plenitude”.

Embora o ancião não possa aprovar tudo o que vê, ele não deve ser um mero arauto de críticas e contradições, mas, antes, procure ser um pacificador e reconciliador; a sua idade, já isenta de certas paixões, deve ajudá-lo a atenuar os ânimos exaltados e amainar os afetos acalorados dos mais jovens, sem detrimento da Verdade e do Bem.

Aceitar a idade

A perspectiva de envelhecer assusta muitas pessoas e suscita nelas a rejeição da sua idade. Querem então passar por indivíduos menos idosos, tomando atitudes artificiais ou anacrônicas no vestir-se, no linguajar, na frequentação de certos ambientes… Isto redunda não raro em cenas ridículas. Além disto, a natureza pode levar o ancião a procurar poupar-se, guardando tanto quanto possível o que lhe vai escapando; pode intensificar-se nele o apego às pequenas coisas e aos objetos do seu uso – coisas que outrora ele olhava com mais indiferença porque sabia como recuperá-las caso as perdesse. Vêm a propósito as ponderações de Emérico da Gama:

“O jovem é um ser livre; está sempre pronto para partir; o velho de espírito envelhecido necessita de um número cada vez maior de pontos de apoio, não só nos seus movimentos físicos, mas de alma. E esses pontos de apoio são outras tantas amarras que o prendem e podem amesquinhar. É curioso como, contrariando as leis da lógica, quanto mais perto para o homem está de ter que deixar as coisas desta vida, mais costuma agarrar-se a elas. Faz lembrar aquele que se queixava, já perto do fim: E as minhas barras de ouro, padre? – Não vale a pena, meu filho, se você não se arrepender. Não vale a pena, porque se derreterão todas” (posfácio do livro de Romano Guardini, As Idades da Vida, p. 105).

Ora aceitar a idade é aceitar as restrições que ela impõe; é aceitar a aposentadoria e certa marginalização; é aceitar ser dependente dos outros, sem, porém, os onerar mesquinhamente… É aceitar isto tudo com realismo e magnanimidade. Quem o aceita, descobre também os valores da idade provecta; esta já não é obnubilada pelo anseio de conseguir títulos, honras e vitórias; isto tudo, que tanto solicita o jovem, impede-o por vezes de olhar para os valores definitivos, que ficam além de todos os títulos e honras da terra. O ancião já não tem o olhar embaçado pela cortina de conquistas de sua carreira terrestre; já não é perturbado pelas paixões que as competições, as rivalidades, as rixas…, freqüentes nos decênios profissionais, suscitam em muitos homens. Assim com o olhar mais perspicaz ou liberto do colorido das metas terrestres ou imediatas, o ancião tem o coração mais livre para considerar os valores definitivos e encaminhar-se para eles sem tantos entraves; a mensagem da fé pode falar-lhe mais eloquente e persuasivamente do que em outras fases da vida. São palavras de Emérico da Gama:

“Os anciãos sabem muito bem que não se aproximam do fim de tudo, mas da definitiva rampa de lançamento, e por isto veem sentido em aumentar o caudal de sua prontidão armazenada. Ou seja, percebem que têm muito a fazer, talvez mais – e, sem dúvida, mais importante – do que tudo o que já fizeram. Por isto se compreende que São Paulo tenha dito: “Esquecendo o que fica para trás, e avançando para o que está adiante, corro em direção à meta…” (Fl 3, 13s). O velho, segundo São Paulo, é alguém para quem o passado não conta, exatamente como o jovem. E, como o jovem, corre, é um ser que tem pressa” (ib., pp. 103s).

Em vez de perder sua generosidade e seus predicados juvenis de coragem e idealismo, o ancião que tem fé conserva em grau ainda mais elevado tais valores. É o que se pode confirmar considerando a figura do Apóstolo São Paulo sobre o fundo de cena da filosofia pré-cristã.

O testemunho do Apóstolo

Em sua Retórica (ll 12s), o grande filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), procurando caracterizar a juventude e a velhice da vida humana, afirmava que os jovens vivem para os valores morais e artísticos; concebem um ideal de virtude, mesmo de heroísmo, cuja beleza os atrai e ao qual se entregam sem medir coeficientes de ordem material; gastam desmedidamente forças físicas e bens materiais na consecução do seu ideal. Numa palavra: “vivem para o belo (pros to kalón), não para o útil (pros to sympherón, o interesse pessoal, egoísta)”. A razão disto, conforme Aristóteles, é que sentem em si uma vitalidade ardorosa, que os leva a procurar o que o homem pode conceber de mais nobre, o belo e o bem (moral) dos gregos; é justamente a consciência de possuir a vida que neles desperta elevadas aspirações. – Consequentemente, para Aristóteles, os anciãos, experimentando em si o definhar lento das forças físicas, vivem não mais para um ideal de bravura e beleza, mas para o interesse particular; visam, antes do mais, baseados em cálculos e especulações, a aquilo que lhes possa trazer proveito físico e conservar a existência; numa palavra: vivem não mais para o belo, mas para o útil, o interesse pessoal.

Esta caracterização do ancião não deixa de impressionar: significa uma retorsão total da anterior, uma desdita às aspirações mais espontâneas e nobres da natureza humana. É lógica, porém: a vida é o fundamento pressuposto a todo e qualquer ideal que o homem possa conceber. Ora Aristóteles e seus contemporâneos, só conhecendo a vida neste corpo, julgavam que as aspirações variam, chegando mesmo a deturpar-se e renegar-se de acordo com o grau de vitalidade que o homem experimenta nas sucessivas idades de sua vida.

O quadro é triste. Pergunta-se, porém: estará, de fato, o homem destinado a renegar seus ideais nobres?

O fato é que, três séculos mais tarde, um outro pensador, que tomara conhecimento profundo do Evangelho e da sua mensagem de ressurreição e vida imortal, São Paulo, manifestava um modo de ver bem diferente. Para o percebermos, basta dizer que o Apóstolo escreveu treze epístolas, sendo as três últimas, ditas “Pastorais” (1/2 Tm, Tt), devidas a Paulo quase septuagenário e, no caso da 2 Tm, encarcerado em Roma, consciente de que estava prestes a ser condenado à morte. Pois bem; ao passo que nas dez epístolas anteriores o Apóstolo empregara vinte vezes o termo kalón (belo e bem moral), nas três Pastorais ele o usou vinte e quatro vezes, e geralmente como adjetivo aposto aos diversos substantivos com que delineava a vida cristã. A mente de São Paulo aparece assim impregnada pelo ideal da beleza, pelas aspirações supremas, na idade decrépita muito mais ainda do que no vigor dos anos. Que contraste com o quadro anterior proposto pelo homem pré-cristão, por muito sensato que fosse! E qual a razão de ser deste contraste? É que justamente São Paulo percebia o sentido que a morte tomou após Cristo, sentido que o homem antes de Cristo não podia perceber: enquanto este a julgava termo da existência humana, Paulo a via qual etapa ou passagem para outra vida, muito mais rica e fecunda do que a terrestre; por isto também, quanto mais próximo se achava da morte, tanto mais afirmava os valores da mente humana, pois sabia que o seu definhar na vida terrestre era, na realidade, um rejuvenescimento para a vida verdadeira, eterna.

Eis como a morte, para o cristão, importa em autêntico desabrochar, em vez de extinção da personalidade. Ela pode e deve ser dita “transfiguração” do discípulo de Cristo. Consequentemente, a idade anciã consciente de tal sentido da morte não pode deixar de se reconfortar, guardando um vigor de alma juvenil dentro dos seus muitos anos de peregrinação terrestre.

Armazenar na juventude e na maturidade

É espontâneo ao ser humano afastar a noção de que será velho e deverá dizer Adeus a este mundo visível. Pensar nisto é, para muitos, um pesadelo. Por isto procuram viver uma idade que não têm, como se a verdadeira vida fosse apenas a da fase juvenil e a da maturidade biológica. Na verdade, porém, é precisamente quando o fim da vida parece distante que se faz mister pensar nele, pois é somente com a inteligência lúcida e a vontade dócil que a pessoa pode armazenar as considerações e os propósitos que lhe permitirão enfrentar o declínio das forças físicas e psíquicas; não é quando estas vão diminuindo (por motivo de moléstias, como a arteriosclerose, a deficiência visual, a auditiva, a paralisia…) que o indivíduo se pode dispor a encarar as exigências da velhice; quem não se preparou nos anos belos e sadios, dificilmente se preparará quando começar a sofrer os ataques da idade.

D. Estevão Bettencourt, osb
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

Nº 339 – Ano 1990 – p. 352

Fonte: https://cleofas.com.br/

Vocação: identidade e missão

Cristãos leigos e leigas | arquidiocesedepassofundo

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Vocação é chamar alguém pelo nome que, biblicamente, designa eleição para uma missão. Ao chamado, corresponde uma resposta livre e decidida. Somente há resposta quando se escuta o chamado. O homem bíblico se descobre na relação com o Deus que chama. Assim ocorreu com Moisés, diante da sarça ardente, ao receber a missão, confiada por Deus, de libertar o povo da escravidão no Egito. Diante da chamada, Moisés responde: “Quem sou eu para ir ao Faraó e fazer sair do Egito os israelitas?” (Ex 3,11). Moisés se questiona sobre sua identidade e condição. O vocacionado sente seu limite e suas impossibilidades concretas que lhe são inerentes. Sente-se fraco e incapaz para a grande missão solicitada.  

O chamado exige que o vocacionado, consciente de seus limites, torne-se uma nova pessoa, e isso o atinge de forma tão profunda que exige que revise toda sua existência. A nova condição do ser humano, que se encontra com o Deus único e verdadeiro, é possível pela ação direta daquele que chama. Assim, à questão de Moisés titubeando em aceitar a missão, Deus responde: “Eu estarei contigo!” (Ex 3,12). No original hebraico, o “eu estarei” pode ser compreendido também como “eu serei”, uma alusão direta ao nome de Iahweh que significa: “Eu sou aquele que sou” (v. 14). Isso possibilita compreender que, diante da pergunta: “Quem sou eu?”, não há uma resposta. O ser humano só se autocompreende no contexto de sua relação com o seu Criador. A criatura foi vocacionada à vida, mas precisa, livremente, responder ao convite de levar à plenitude essa existência.  

Na visão bíblica, o ser humano não é concebido a partir de sua estrutura biológica ou de um sentido filosófico. A essência do ser humano é abordada a partir de sua relação com Deus. Seu objetivo é descrever as relações fundamentais do ser humano no seu ser e no seu existir-no-mundo, tendo como centro sua relação criacional e dialógica com Deus. O ser humano se relaciona com a Terra, as plantas e os animais numa postura de senhorio e de autonomia, mas seu relacionamento mais importante é com Deus. Ao garantir sua presença nos caminhos da vida, Deus não diz quem é o ser humano, nem o que deve (ou não) fazer. O Deus do Evangelho é Emanuel, é Deus-conosco no mundo, que trabalhou com mãos humanas na carpintaria de José e chorou a morte de seu amigo Lázaro.

Uma vocação cristã é sempre uma resposta a Jesus Cristo que convida, ainda hoje, homens e mulheres, a segui-lo no serviço à humanidade, para que todos tenham vida e vida em abundância (Jo 10,10). O ser humano é vocacionado a viver gestos de fraternidade no cotidiano, onde o amor se faz concreto e é personalizado. Especialmente o cristão não pode sustentar a ideia de que devemos amar a todos sem amar ninguém, pois somente a cultura da proximidade é capaz de anunciar o Cristo.

XX Domingo do Tempo Comum - Ano C

Lectionautas Brasil

Dom Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

Eu vim trazer fogo sobre a terra

Neste vigésimo domingo comum, temos diante de nós Jesus Cristo e seu Evangelho que não nos deixam na indiferença (Lc 12, 49 – 53), pois ele veio para lançar fogo sobre a terra. Talvez a imagem do fogo nos assuste, mas Jesus quer dizer que diante dele e da sua Palavra não se pode ficar indiferente. Papa Francisco, comentando este Evangelho, diz: “Jesus adverte os seus discípulos de que chegou o momento de tomar uma decisão. A sua vinda ao mundo coincide com o tempo das escolhas decisivas: a opção pelo Evangelho não pode ser adiada. E para que esta chamada seja compreendida melhor, ele serve-se da imagem do fogo que ele mesmo veio trazer a terra. Ele diz: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!» (v. 49). Estas palavras pretendem ajudar os discípulos a abandonar toda atitude de preguiça, apatia, indiferença e fechamento para acolher o fogo do amor de Deus, aquele amor que, como recorda São Paulo, «foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5, 5). Porque é o Espírito Santo que nos faz amar a Deus e amar o próximo; é o Espírito Santo que todos nós temos dentro de nós” (Papa Francisco, Angelus, 18 de agosto de 2019).

Jesus deve receber um batismo e está ansioso até que se cumpra (Lc 12, 50). O batismo é a sua morte que deve acontecer em Jerusalém. A ânsia de Jesus é a realização da vontade do Pai, para isso ele veio. Ele deve dar a vida pela nossa salvação.

Com ele chegou o juízo de Deus. Juízo com misericórdia e amor, mas que nos tira da indiferença. Nele se realiza este juízo, por isso, diante dele é impossível ter uma atitude neutra, uma atitude de indiferença. Jesus censurou esta atitude nos seus contemporâneos. O Israel do tempo de Jesus foi chamado a perceber que estava alguém no meio dos homens, Jesus Cristo, o Filho de Deus, diante do qual não era possível a indiferença. O seu seguimento exige radicalidade e coerência, pois o encontro com Jesus trás sentido e realização à existência. Quem O encontrou verdadeiramente não fica na indiferença. Nas origens da Igreja, no cristianismo primitivo, tanta gente sofreu por causa do nome de Jesus, tanta gente viu esta realidade da divisão tocar a sua porta, a sua vida, a vida de sua família. Ainda hoje, há tanta gente que vive o sofrimento e a divisão por causa da sua adesão e da sua fidelidade a Jesus Cristo e à sua Palavra.

Não devemos ter medo da divisão por causa da fidelidade a Jesus e ao seu Evangelho. Devemos ter medo de posturas de indiferença que manifestam um coração frio e tíbio. Na corrida da fé é preciso perseverança, como nos exorta a epístola aos Hebreus: “Empenhemo-nos com perseverança, com os olhos fixos em Jesus Cristo, que em nós começa e completa a obra da fé” (Hb 12, 1-2). Ele suportou a cruz, a infâmia e assentou-se à direita do Pai. Cristo sofreu na sua fidelidade ao Pai. O caminho de Cristo é, também, do cristão. O cristão é aquele que, ancorado em Cristo, olhando para Cristo, vai trilhando o caminho da fé e suporta até sofrimentos, incompreensões por causa de Jesus Cristo, em fidelidade a Ele.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Nicarágua: governo proíbe procissão de Nossa Senhora de Fátima

Nossa Senhora de Fátima | Guadium Press
Continua a perseguição aos católicos na Nicarágua.

Redação (13/08/2022 11:41Gaudium Press) O regime de Daniel Ortega proibiu uma procissão com uma réplica da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, trazida de Portugal, marcada para este sábado, dia 13 de agosto, na capital, o mais recente sinal de tensões entre o governo e a Igreja Católica.

A Arquidiocese de Manágua exortou os fiéis a irem direta e pacificamente à catedral no sábado “para rezar pela igreja e pela Nicarágua”.

Em um comunicado a arquidiocese declarou: “A Polícia Nacional informou-nos que, por motivos de segurança interna, a procissão marcada para as 7h do dia 13 de agosto, atividade prevista por ocasião do Congresso Mariano e a conclusão da Romaria da imagem de Nossa Senhora de Fátima em território nacional, não foi permitida”.

“Nos dias 14 e 15 de agosto, ofereçamos todas as Eucaristias na Solenidade da Assunção de Maria, pedindo que os nicaraguenses cresçam na fé e na esperança”, continuou o comunicado.

A polícia não permite grandes aglomerações públicas, exceto aquelas patrocinadas pelo governo ou pelo partido no poder, a Frente Sandinista de Libertação Nacional, desde setembro de 2018.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) emitiu uma declaração, ressaltando que “o ambiente de opressão tem se agravado, com um número crescente de prisões e detenções arbitrárias, o fechamento forçado de organizações não governamentais, a tomada autocrática das prefeituras de cinco municípios cujos chefes eram de um partido político da oposição, a intensificação da repressão contra os jornalistas, a liberdade de imprensa e ataques aos sacerdotes e religiosas da fé católica”.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Como envelhecer bem: 10 dicas de um sexagenário feliz

Shutterstock
Por Robert Mc Teique, SJ - Marzena Devoud

É possível viver melhor a segunda metade da sua vida do que a primeira? Não tenha dúvidas. Veja estas 10 dicas valiosas de um feliz sexagenário sobre como envelhecer bem (serve para qualquer que seja a sua idade...).

“Houve um tempo em que uma pessoa de 60 anos era considerada “velha”, mas, pelo menos no meu círculo, não é assim. Afinal de contas, a idade não está na mente? Quem conversa conosco é o padre jesuíta americano Robert McTeigue, professor de filosofia e teologia. O religioso recorda que, aos 10 anos de idade, decidiu que já não era uma criança. Para provar, doou toda a sua colecção de carrinhos para seu primo mais novo. “Essa foi a minha primeira experiência de estoicismo”, ele brinca.

Depois, no seu vigésimo aniversário, sentiu-se “enganado”: “Eu tinha acabado de compreender o que era a adolescência, mas aí ela já tinha acabado… Enquanto isso, o meu entusiasmo pelo mundo adulto e a minha confiança na minha capacidade de viver como adulto estavam incompletos”.

Só nos seus trinta anos é que o Padre Robert McTeigue aceitou estar no mundo dos adultos como um fato inegável. As responsabilidades eram óbvias, e as possibilidades pareciam não ter fim. Para ele, o ritmo acelerou significativamente nos seus quarenta anos, quando a vida passou a parecer muito séria.

“Eu já andava pelo mundo há tempo suficiente para ter arrependimentos profundos e fracassos dolorosos. No entanto, ainda tinha tempo – pensei – para fazer uma vida melhor para mim. Mas de repente os meus cinquenta anos chegaram “com um estrondo: comecei a lamentar cada vez mais todas as oportunidades perdidas. O tempo parecia estar atrás de mim e não à minha frente… Agora estou definitivamente além da metade do caminho. E pergunto-me: posso esperar viver esta segunda metade da minha vida melhor do que a primeira?”

De fato, e se fosse possível viver melhor a segunda metade da vida do que a primeira? Para isso, aqui estão os conselhos do Padre Robert McTeigue, que se aplica a todos, qualquer que seja a sua idade:

1LISTAR DIARIAMENTE AS GRAÇAS RECEBIDAS

Aqueles que espontaneamente têm o hábito de cultivar a gratidão todos os dias, cultivam a alegria dentro de si próprios. Pois, na gratidão, há sempre uma mão estendida em direção a outra. Ela afasta o foco do seu próprio ego e para aqueles que o rodeiam. E esta é a chave da felicidade. À noite, num caderno ou diário, tente escrever as graças recebidas durante o dia: uma conversa inspiradora com um amigo(a), o canto dos pássaros que o acordou de manhã, os parabéns do seu patrão… À medida que se vai avançando, o exercício vai-se tornando cada vez mais natural. E você perceberá que a felicidade é uma série de pequenas alegrias diárias. Quando disser “obrigado”, tente fazê-lo sinceramente, concentrando toda a sua atenção na gratidão que sente quando o diz.

2LIVRAR-SE DA ILUSÃO DE QUE SE PODE PECAR SEM RISCO

O pecado é um animal selvagem, astuto e nunca satisfeito! Para viver melhor, é essencial livrar-se da ilusão de que se pode pecar sem risco ou sem consequências. De acordo com São Luís de Granada, o primeiro remédio é ter um desejo absoluto de escapar do pecado e de resolver fazer o que for preciso para acabar com ele. É uma questão de continuidade: “Aprenda esta lição com o carpinteiro, que, quando deseja pregar um grande prego, não se contenta com alguns golpes, mas continua a bater até que esteja bem concluído. Você deve imitá-lo se quiser ancorar firmemente esta resolução na sua alma”, aconselha ele.

3REZAR TODOS OS DIAS

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d.ee_angelo | Shutterstock

Rezar todos os dias é aprender a ouvir a voz de Deus e a sentir a sua presença. Uma boa maneira de estar ligado a Ele é ler a Sua Palavra. É como correr para Ele, deixar-se levar nos Seus braços. “Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu. Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá”. (Isaías 43, 1-3). Isso diz tudo.

4IR CONFESSAR-SE FREQUENTEMENTE

Por que ir à confissão? Se a confissão permanece um grande mistério, o do encontro com Deus na parte mais íntima de cada pessoa, para o santo Cura d’Ars, ela permite-nos sentir alegria e redescobrir “a alma de um filho”: “a misericórdia de Deus é uma torrente que varre tudo no seu caminho. Ir frequentemente a confessar-se é deixar-se levar por este imenso amor de Deus.

5ESTAR SEMPRE PERTO DE MARIA

Quando relemos as inúmeras meditações, homilias e discursos do Papa João Paulo II, vemos que ele concluiu quase todos os seus discursos com uma saudação à Mãe de Jesus. Aquele homem, que tinha uma devoção especial a Maria, sempre salientou que existe apenas um mediador entre Deus e o homem, Cristo, e que a Virgem Maria é a melhor maneira de alcançá-Lo.

6PRATICAR O DISCERNIMENTO COMO SANTO INÁCIO NOS ENSINA

Quer seja crente ou não, os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola permitem-nos olhar para os nossos erros e corrigir o nosso comportamento. Por exemplo, o seu “exame particular e diário”, destinado a sondar a própria alma. A sua repetição diária pretende afastar a alma do pecado e elevá-la ao amor de Deus. Os exercícios incluem dois exames de consciência a serem feitos todos os dias. A ser praticado o mais frequentemente possível!

7ESTAR PREPARADO PARA PERDOAR

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Africa Studio | Shutterstock

Para não mencionar a sua dimensão moral, os estudos psicológicos e fisiológicos demonstram os efeitos benéficos do perdão. Embora seja um processo que não pode ser forçado (especialmente nos primeiros momentos após a ferida), para viver melhor, tente predispor-se ao perdão lembrando-se dos benefícios diretos para a saúde mental de quem perdoa. O perdão é simplesmente um caminho para a cura.

8NUNCA GUARDAR RANCORES CONTRA OS OUTROS

Os ressentimentos são uma toxina mortal para a alma. Mesmo que seja muito difícil dar o primeiro passo no restabelecimento de uma relação com a pessoa que lhe está a causar dor, pense que o processo de se libertar dela é para a sua própria serenidade. Para viver melhor, é essencial não guardar rancores contra ninguém.

9VIVER EM HARMONIA COM TODOS

Para São Josemaria, a chave para uma vida melhor é viver “em harmonia com todos”, mostrando compreensão para com todos: “Tens de ser irmão dos teus semelhantes, tens de pôr amor – como diz São João da Cruz – onde não há amor, para colher o amor”, repetiu ele.

10PROCURAR O EQUILÍBRIO CERTO

A vida muitas vezes parece estar demasiado cheia de urgências e, ao mesmo tempo, de coisas supérfluas e de superficialidade. O perigo é perder de vista o que é essencial: a nossa “falta de ser”. São Bento deu este conselho surpreendentemente simples para ir sempre ao essencial: “O ser humano precisa de medidas. Ele deve encontrar constantemente um equilíbrio entre excesso e falta”. Para esse grande santo, há uma tentação de ir todos numa direção, enquanto que a vida exige um equilíbrio constante nos esforços e nas atividades. Paradoxalmente, o excesso também pode envolver rezar demasiado, jejuar demasiado, corrigir demasiado ou gastar demasiada energia… Enfim, equilíbrio.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Francisco: os pais que enfrentam todos os desafios pelos filhos são heróis

"Quando tivermos que exercer a paternidade, levaremos conosco antes de tudo
a experiência que tivemos em nível pessoal" - Papa Francisco  (Nick Lachance)

Entrevista do Papa Francisco à mídia vaticana sobre ser genitores em tempo de Covid e o testemunho de São José, exemplo de força e ternura para os pais de hoje.

Andrea Monda – Alessandro Gisotti

O Ano especial sobre São José se concluiu em 8 de dezembro passado, mas a atenção e o amor do Papa Francisco por este Santo não se esgotaram; pelo contrário, se desenvolveram ulteriormente com as catequeses que, desde 17 de novembro passado, está dedicando à figura do Padroeiro universal da Igreja. Da nossa parte, L’Osservatore Romano publicou uma coluna mensal no decorrer de todo o ano de 2021, que foi proposta também no site do Vatican News, sobre a Patris Corde, dedicando cada artigo a um capítulo da Carta Apostólica sobre São José. Esta coluna que falou de pais, mas também de filhos e de mães em diálogo ideal com o Esposo de Maria, suscitou em nós o desejo de poder nos confrontar com o Papa precisamente sobre o tema da paternidade em suas mais diversas facetas, desafios e complexidades. Assim nasceu esta entrevista, em que Francisco responde às nossas perguntas mostrando todo o seu amor pela família, a sua proximidade por quem experimenta o sofrimento e o abraço da Igreja aos pais e mães que hoje devem enfrentar inúmeras dificuldades para dar um futuro aos próprios filhos.

Santo Padre, o senhor convocou um Ano especial dedicado a São José, escreveu uma carta, a Patris Corde, e está realizando um ciclo de catequeses dedicado à sua figura. Que representa São José para o senhor?

Nunca escondi a sintonia que sinto em relação à figura de São José. Creio que isto provenha da minha infância, da minha formação. Desde sempre cultivei uma devoção especial a São José porque creio que a sua figura represente, de maneira bela e especial, o que deveria ser a fé cristã para cada um de nós. Com efeito, José é um homem normal e a sua santidade consiste precisamente em ter-se feito santo através das circunstâncias boas e ruins que teve que viver e enfrentar. Porém, não podemos nem mesmo esconder o fato de que encontramos São José no Evangelho, sobretudo nas narrações de Mateus e Lucas, como um protagonista importante do início da história da salvação. De fato, os eventos que viram o nascimento de Jesus foram eventos difíceis, repletos de obstáculos, de problemas, de perseguições, de escuridão, e Deus, para ir ao encontro do Seu Filho que nascia no mundo, colocou ao seu lado Maria e José. Se Maria é aquela que deu ao mundo o Verbo feito carne, José é quem o defendeu, quem o protegeu, quem o nutriu, quem o fez crescer. Nele, poderíamos dizer que existe o homem dos tempos difíceis, o homem concreto, o homem que sabe assumir sua responsabilidade. Neste sentido, em São José se unem duas características. De um lado, a sua acentuada espiritualidade, que é traduzida no Evangelho através das histórias dos sonhos; essas narrações testemunham a capacidade de José de saber escutar Deus que fala ao seu coração. Somente uma pessoa que reza, que tem uma intensa vida espiritual, pode ter também a capacidade de saber distinguir a voz de Deus em meio às muitas vozes que nos habitam. Ao lado desta característica, há depois outra: José é o homem concreto, isto é, o homem que enfrenta os problemas com extrema praticidade, e diante das dificuldades e dos obstáculos, ele jamais assume uma postura de vitimismo. Coloca-se, ao invés, sempre na perspectiva de reagir, de corresponder, de entregar-se a Deus e de encontrar uma solução de maneira criativa.

Esta renovada atenção a São José neste momento de tão grande provação assume um significado particular?

O tempo que estamos vivendo é um tempo difícil, marcado pela pandemia do coronavírus. Muitas pessoas sofrem, muitas famílias estão em dificuldade, tantas pessoas são assediadas pela angústia da morte, de um futuro incerto. Pensei que em um momento tão difícil tínhamos necessidade de alguém que pudesse nos encorajar, nos ajudar, nos inspirar, para entender qual é o modo correto para saber enfrentar esses momentos de escuridão. José é uma testemunha luminosa em tempos sombrios. Eis porque era correto dar-lhe espaço neste momento, para poder encontrar o caminho.

Seu ministério petrino começou precisamente em 19 de março, dia da festa de São José...

Sempre considerei uma delicadeza do céu poder iniciar meu ministério petrino em 19 de março. Creio que de alguma forma São José quis me dizer que continuaria a me ajudar, a estar ao meu lado, e eu poderia continuar a considerá-lo um amigo a quem posso recorrer, em quem posso confiar, a quem pedir para interceder e rezar por mim. Mas certamente essa relação que se dá na comunhão dos Santos não é reservada somente a mim, penso que poderá ser de ajuda para muitos. Eis porque espero que o ano dedicado a São José tenha despertado no coração de muitos cristãos o valor profundo da comunhão dos Santos, que não é uma comunhão abstrata, mas uma comunhão concreta que se expressa em uma relação concreta e tem consequências concretas.

Na coluna sobre a Patris Corde, apresentada pelo nosso jornal durante o ano especial dedicado a São José, entrelaçamos a vida do Santo com a dos pais, mas também com a dos filhos de hoje. O que os filhos de hoje, ou seja, os pais de amanhã, podem receber do diálogo com São José?

Não nascemos pais, mas certamente todos nascemos filhos. Esta é a primeira coisa que devemos considerar, isto é, cada um de nós, para além do que a vida lhe reservou, é antes de tudo um filho, foi confiado a alguém, vem de uma relação importante que o fez crescer e que o condicionou no bem e no mal. Ter essa relação, e reconhecer a sua importância na própria vida, significa entender que um dia, quando tivermos a responsabilidade pela vida de alguém, ou seja, quando tivermos que exercer uma paternidade, levaremos conosco antes de tudo a experiência que tivemos em nível pessoal. E, portanto, é importante poder refletir sobre essa experiência pessoal para não repetir os mesmos erros e valorizar as coisas belas que vivemos. Estou convencido de que a relação de paternidade que José tinha com Jesus influenciou de tal modo sua vida, a ponto de a futura pregação de Jesus estar repleta de imagens e referências retiradas precisamente do imaginário paterno. Jesus, por exemplo, diz que Deus é Pai, e esta afirmação não nos pode deixar indiferentes, sobretudo pensando no que foi a sua experiência humana pessoal de paternidade. Isso significa que José foi um pai tão bom, que Jesus encontrou no amor e na paternidade deste homem a mais bela referência a dar a Deus. Poderíamos dizer que os filhos de hoje que se tornarão os pais de amanhã, deveriam perguntar-se que pais tiveram e que pais querem ser. Não devem deixar que o papel paterno seja fruto do acaso ou simplesmente da consequência de uma experiência feita no passado, mas que conscientemente possam decidir como querer bem alguém, como assumir a responsabilidade por alguém.

O último capítulo da Patris Corde fala de José como um pai na sombra. Um pai que sabe como estar presente, mas deixa seu filho livre para crescer. Isso é possível em uma sociedade que parece recompensar apenas aqueles que ocupam espaço e visibilidade?

Uma das mais belas características do amor, e não apenas da paternidade, é precisamente a liberdade. O amor sempre gera liberdade, o amor nunca deve se tornar uma prisão, uma posse. José nos mostra a capacidade de cuidar de Jesus sem nunca tomar posse dele, sem nunca querer manipulá-lo, sem nunca querer distrai-lo da sua missão. Creio que isto seja muito importante como um teste à nossa capacidade de amar e também à nossa capacidade de saber dar um passo atrás. Um bom pai é assim quando sabe se retirar no momento certo para que seu filho possa emergir com a sua beleza, com a sua singularidade, com as suas escolhas, com a sua vocação. Neste sentido, em todo bom relacionamento, é necessário renunciar ao desejo de impor do alto uma imagem, uma expectativa, uma visibilidade, para preencher a cena completamente e sempre com um protagonismo excessivo. A característica de José de saber se colocar de lado, sua humildade, que é também a capacidade de ocupar um lugar secundário, talvez seja o aspecto mais decisivo do amor que José demonstra por Jesus. Neste sentido, ele é um personagem importante, ousaria dizer essencial na biografia de Jesus, justamente porque em determinado momento ele sabe como se retirar de cena para que Jesus possa brilhar em toda sua vocação, em toda sua missão. Na imagem de José, devemos nos perguntar se somos capazes de saber dar um passo atrás, de permitir que outros, e sobretudo aqueles que nos são confiados, encontrem em nós um ponto de referência, e nunca um obstáculo.

O senhor já denunciou várias vezes que a paternidade hoje está em crise. O que pode ser feito, o que a Igreja pode fazer para restaurar a força da relação pai-filho, que é fundamental para a sociedade?

Quando pensamos na Igreja, sempre pensamos nela como Mãe, e isto certamente não está errado. Ao longo dos anos, eu também tenho tentado insistir muito nesta perspectiva porque a maneira de exercer a maternidade da Igreja é através da misericórdia, ou seja, é aquele amor que gera e regenera a vida. Não é o perdão, a reconciliação, um modo através do qual somos recolocados em pé? Não é uma maneira através da qual recebemos novamente a vida porque recebemos outra chance? Não pode existir uma Igreja de Jesus Cristo a não ser através da misericórdia! Mas creio que devemos ter a coragem de dizer que a Igreja não deve ser apenas materna, mas também paterna. Ou seja, ela é chamada a exercer um ministério paterno, não paternalista. E quando digo que a Igreja deve recuperar este aspecto paterno, estou me referindo precisamente à capacidade inteiramente paterna de colocar os filhos em condições de assumir suas próprias responsabilidades, de exercer a própria liberdade, de fazer suas escolhas. Se por um lado a misericórdia nos cura, nos consola e nos encoraja, por outro o amor de Deus não se limita simplesmente a perdoar e curar, mas o amor de Deus nos leva a tomar decisões, a tomarmos o nosso caminho.

Às vezes, o medo, ainda mais neste momento de pandemia, parece paralisar este impulso...

Sim, este período da história é marcado por uma incapacidade de tomar grandes decisões na própria vida. Nossos jovens muitas vezes têm medo de decidir, de escolher, de se envolver. Uma Igreja é Igreja não só quando diz sim ou não, mas sobretudo quando encoraja e possibilita grandes escolhas. E toda escolha tem sempre consequências e riscos, mas às vezes por medo das consequências e riscos, ficamos paralisados e somos incapazes de fazer algo ou escolher algo. Um verdadeiro pai não diz a você que tudo vai sempre correr bem, mas que mesmo se você se encontrar em uma situação em que as coisas não vão bem, você será capaz de enfrentar e viver com dignidade esses momentos, também os fracassos. Uma pessoa madura se reconhece não por suas vitórias, mas pela forma como sabe viver um fracasso. É precisamente na experiência da queda e da fraqueza que se reconhece o caráter de uma pessoa.

Para o senhor, a paternidade espiritual é muito importante. Como os sacerdotes podem ser pais?

Dizia antes que a paternidade não é algo óbvio, não se nasce pai, no máximo torna-se pai. Do mesmo modo, um sacerdote não nasce já padre, mas deve aprender um pouco de cada vez, começando, antes de tudo, por se reconhecer como filho de Deus, mas depois também como filho da Igreja. E a Igreja não é um conceito abstrato, é sempre o rosto de alguém, uma situação concreta, algo a quem podemos dar um nome preciso. Recebemos sempre a nossa fé através de uma relação com alguém. A fé cristã não é algo que se possa aprender nos livros ou através de simples raciocínios, mas é sempre uma passagem existencial que passa através de relações. Assim, a nossa experiência de fé nasce sempre do testemunho de alguém. Devemos, portanto, perguntar-nos como vivemos a nossa gratidão para com estas pessoas e, sobretudo, se conservamos a capacidade crítica para sermos capazes de discernir o que não é bom daquilo que elas nos transmitiram. A vida espiritual não é diferente da vida humana. Se um bom pai, humanamente falando, é pai porque ajuda o seu filho a tornar-se si mesmo, tornando possível a sua liberdade e encorajando-o a tomar grandes decisões, igualmente um bom pai espiritual é pai não quando se substitui à consciência das pessoas que confiam nele, não quando responde às perguntas que essas pessoas carregam em seus corações, não quando domina a vida daqueles que lhe são confiados, mas quando de forma discreta e ao mesmo tempo firme é capaz de mostrar o caminho, fornecer diferentes chaves de interpretação e ajudar no discernimento.

O que é hoje mais urgente para dar força a esta dimensão espiritual da paternidade?

A paternidade espiritual é muitas vezes um dom que nasce sobretudo da experiência. Um pai espiritual pode partilhar não tanto os seus conhecimentos teóricos, mas sobretudo a sua experiência pessoal. Só desta forma pode ser útil a um filho. Há uma grande urgência neste momento histórico de relações significativas que poderíamos definir como paternidade espiritual, mas - permitam-me dizer - também maternidade espiritual, porque este papel de acompanhamento não é uma prerrogativa masculina ou apenas dos sacerdotes. Há muitas boas religiosas, muitas consagradas, mas também muitos leigos e leigas que têm uma bagagem de experiência que podem partilhar com outras pessoas. Neste sentido, a relação espiritual é uma daquelas relações que precisamos redescobrir com mais força neste momento histórico, sem nunca a confundir com outros caminhos de natureza psicológica ou terapêutica.

Entre as dramáticas consequências da Covid está também a perda do emprego de muitos pais. O que gostaria de dizer a estes pais em dificuldade?

Sinto-me muito próximo ao drama daquelas famílias, daqueles pais e mães que estão vivendo uma dificuldade particular, agravada sobretudo pela pandemia. Acredito que não seja um sofrimento fácil de ser enfrentado, o de não conseguir dar pão aos filhos e de se sentir responsável pela vida dos outros. Neste sentido, a minha oração, a minha proximidade, mas também todo o apoio da Igreja é para estas pessoas, para estes últimos. Mas também penso em tantos pais, tantas mães, tantas famílias que fogem das guerras, que são rejeitadas nas fronteiras da Europa e não somente, e que vivem em situações de dor, de injustiça e que ninguém leva a sério ou ignora deliberadamente. Gostaria de dizer a estes pais, a estas mães, que para mim eles são heróis, porque encontro neles a coragem daqueles que arriscam as suas vidas por amor aos seus filhos, por amor às suas famílias. Também Maria e José experimentaram este exílio, esta provação, tendo de fugir para um país estrangeiro por causa da violência e do poder de Herodes. Esse sofrimento deles os torna próximos destes irmãos e irmãs que hoje sofrem as mesmas provações. Estes pais se dirigem com confiança a São José, sabendo que, como pai, ele viveu a mesma experiência, a mesma injustiça. E a todos eles e às suas famílias, gostaria de dizer que não se sintam sós! O Papa sempre se lembra deles e, na medida do possível, continuará a dar-lhes voz e a não se esquecer deles.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 13 de agosto de 2022

Sete perigos para os católicos devido à falta de formação

Imagem ilustrativa / Unsplash

Cidade do México, 11 ago. 22 / 04:24 pm (ACI).- O padre Eduardo Hayen Cuarón, diretor do jornal Presencia da diocese mexicana de Ciudad Juárez, falou sobre sete perigos que os católicos correm por falta de formação.

Em sua conta no Twitter, o padre mexicano alertou que “a falta de formação católica traz:

1) falta de fé na eucaristia.

2) esquecimento da confissão.

3) ignorância do fim da vida.

4) Não viver a fé em público.

5) aumento do aborto, eutanásia, união livre e união entre pessoas do mesmo sexo.

6) queda da fertilidade da população

7) materialismo.

Para evitar esses perigos, o padre exorta os católicos a se formarem, principalmente através da catequese, que segundo explica o Catecismo da Igreja Católica, tem como principal missão a transmissão da fé.

O número 5 do documento explica que "a catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, que compreende especialmente o ensino da doutrina cristã, ministrado em geral dum modo orgânico e sistemático, em ordem à iniciação na plenitude da vida cristã”.

O próprio Catecismo da Igreja Católica "tem por finalidade apresentar uma exposição orgânica e sintética dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé como sobre a moral, à luz do Concílio Vaticano II e de toda a da Tradição da Igreja”.

Por isso, "suas principais fontes são a Sagrada Escritura, os santos Padres, a Liturgia e o Magistério da Igreja".

Para ler o Catecismo da Igreja Católica, clique AQUI.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF