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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Ícones bizantinos e a missão de Maria

Ícone Madonna Odigitria doado em 2001 ao Papa João Paulo II em Lviv, Ucrânia  (Vatican Media)

As Igrejas do Oriente frequentemente representam Nossa Senhora como a Odigitria, aquela que “indica o caminho”, ou seja, o Filho Jesus Cristo”. O Papa Francisco se lembrou de uma “pintura antiga da Odigitria na Catedral de Bari, numa de suas audiências gerais. “Nossa Senhora que mostra Jesus nu. Depois, colocaram nele uma roupa para cobrir a nudez, mas a verdade é que Jesus, nu, ele mesmo homem que nasceu de Maria, é o mediador e ela mostra o mediador. É a Odigitria“.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Nossa Senhora Peregrina tem nos acompanhado nas últimas reflexões do Pe. Gerson Schmidt*. O sacerdote gaúcho enriquece esse percurso mariano fazendo hoje particular referência ao ícone da Madonna Odigitria (OdighítriaOdegétria), ou seja, a “Condutora”, Nossa Senhora Guia.

Essa iconografia cristã foi particularmente difundida na arte bizantina e russa do período medieval. O ícone da Odigitria, em particular, consiste em Nossa Senhora segurando o Menino Jesus nos braços, sentado em ato de bênção, segurando na mão um pergaminho enrolado e que a Virgem indica com a mão direita (daí a origem do epíteto).

Este tema figurativo tem origem no ícone com o mesmo nome que representou, a partir do século V, um dos principais objetos de culto de Constantinopla. Segundo a hagiografia, de fato, esta relíquia teria sido um dos ícones marianos pintados pelo evangelista Lucas que Elia Eudocia (Aelia Eudocia, cerca de 401-460), esposa do imperador Teodósio II, teria encontrado na Terra Santa e levado para Bizâncio.

O ícone original, que era conservado na basílica do mesmo nome e levado em procissões solenes e durante triunfos, foi perdido quando Constantinopla caiu nas mãos dos otomanos em 1453. Diversas igrejas e locais de culto levam o seu nome, especialmente na Grécia, sul da Itália, Sicília e Sardenha:

"Completemos ainda nosso foco de Nossa Senhora peregrina, em base a LG nos números 52 a 69. O Papa Francisco deu destaque à dinâmica de Maria como peregrina e evangelizadora, confrontando com a missão atual da Igreja. No número 288 da Evangelii Gaudium afirma que “há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. N’Ela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes. Fixando-A, descobrimos que aquela que louvava a Deus porque «derrubou os poderosos de seus tronos» e «aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 52.53) é mesma que assegura o aconchego dum lar à nossa busca de justiça. E é a mesma também que conserva cuidadosamente «todas estas coisas ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Maria sabe reconhecer os vestígios do Espírito de Deus tanto nos grandes acontecimentos como naqueles que parecem imperceptíveis. É contemplativa do mistério de Deus no mundo, na história e na vida diária de cada um e de todos. É a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também nossa Senhora da prontidão, a que sai «à pressa» (Lc 1, 39) da sua povoação para ir ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização. Pedimos-Lhe que nos ajude, com a sua oração materna, para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos, e torne possível o nascimento dum mundo novo”.

A iconografia, sobretudo ortodoxa, sempre representou Maria apontando para Cristo e como guia para àquele que é o Verdadeiro Caminho, Verdade por excelência e vida em abundância. A devoção a Nossa Senhora Guia nasceu na Igreja Ortodoxa, que é reconhecida pela Igreja Católica. Na Igreja Ortodoxa ela é conhecida como Odigitria, que quer dizer 'Condutora', aquela que dirige, ou 'Guia'. Como seu significado é realmente importante e expressa uma das grandes missões de Nossa Senhora, esta devoção foi incorporada também na Igreja Católica. A imagem de Nossa Senhora da Guia é cheia de símbolos que expressam esta sua missão de Condutora da humanidade até Jesus. As figuras hieráticas dos ícones maravilham os visitantes, com tons quentes de dourado e outras belas cores que desvanecem do marrom, ao vermelho, e ao azul lazulite. Observamos a Mãe de Deus, com a mão direita e a cabeça inclinada, em direção ao Menino Jesus sentado na sua mão esquerda. As imagens são austeras, o rosto de Cristo e da Virgem Maria não se tocam. Jesus é representado em um ato de benção tendo em sua mão um pergaminho enrolado.

Nestes ícones, a Virgem parece indicar para toda a humanidade, que o verdadeiro caminho é aquele em direção a Cristo. A magnificência da figura de Maria representa que Ela é a porta segura por onde se passa para viver bem a nossa relação com Deus. Através de Maria podemos escutar a voz autêntica do único verdadeiro e bom pastor que é Jesus, reconhecendo-O e seguindo-O.

As Igrejas do Oriente representaram-na frequentemente como a Odigitria, aquela que “indica o caminho”, ou seja, o Filho Jesus Cristo”. O Papa Francisco se lembrou de uma “pintura antiga da Odigitria na Catedral de Bari, numa de suas audiências gerais[1].  “Nossa Senhora que mostra Jesus nu. Depois, colocaram nele uma roupa para cobrir a nudez, mas a verdade é que Jesus, nu, ele mesmo homem que nasceu de Maria, é o mediador e ela mostra o mediador. É a Odigitria“. “Na iconografia cristã a sua presença está em toda parte, às vezes até com grande destaque, mas sempre em relação ao Filho e em função d’Ele. As suas mãos, o seu olhar, a sua atitude são um “catecismo” vivo e indicam sempre o âmago, o centro: Jesus. Maria está totalmente voltada para Ele a ponto de que podemos dizer que é ela mais discípula do que mãe. A indicação nas Bodas de Caná. Ela sempre mostra Cristo. É a primeira discípula”, sublinhou o Papa Francisco."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Fonte: Vatican News, Audiência Geral, Vaticano 24 de março de 2021.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O Papa alerta contra o sucesso das novas drogas psicoativas

Epiximages | Shutterstock
Por I. Media

Em extensa carta, Francisco exorta a "nos abaixarmos para levantar de volta à vida aqueles que caem na escravidão das drogas".

O Papa Francisco reforçou o seu alerta contra o sucesso das “novas drogas psicoativas”, especialmente entre adolescentes e jovens, numa mensagem aos participantes do 60º Congresso Internacional de Toxicologistas Forenses, que acontece em Roma de 27 a 31 de agosto de 2023.

Numa extensa carta, o pontífice destacou que, por trás de cada dependência, “há experiências concretas, histórias de solidão, desigualdade e exclusão”, diante das quais não devemos ser “indiferentes”. Francisco nos exorta a “nos abaixarmos para levantar de volta à vida aqueles que caem na escravidão das drogas”.

Denunciando a venda destas substâncias “nos mercados digitais da dark web”, o papa pede atenção à instabilidade dos jovens que “procuram compulsivamente novas experiências pela necessidade de se confrontarem com o inédito, pela vontade de explorar o desconhecido”, ou que tentam “acalmar o medo de se sentirem excluídos”, ou que veem nas drogas uma forma enganosa de “socializar com os seus pares”.

Novas substâncias em ascensão

O papa está especialmente preocupado com o aparecimento de “novas substâncias psicoativas”, drogas sintéticas feitas a partir de drogas “clássicas”, muito difíceis de detectar e que agora estão “em ascensão”. Ele também deplorou o uso generalizado de substâncias dopantes no esporte, sinal de uma “cultura de eficiência e produtividade que não permite hesitações ou fracassos”.

Para o pontífice, a “necessidade de parecer sempre à altura das expectativas, de mostrar ao mundo exterior uma imagem poderosa e bem sucedida de si mesmo” é “um obstáculo intransponível à busca do desenvolvimento humano integral”. Diante das angústias deste mundo, as drogas oferecem a “vã esperança de um estupor que alivia o cansaço do ser”.

Vale recordar o convite de Francisco: “nos abaixarmos para levantar de volta à vida aqueles que caem na escravidão das drogas”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Mongólia: a Igreja nascente à espera do Papa Francisco

Mongólia: a Igreja nascente à espera do Papa Francisco (Vatican Media)

Neste sétimo vídeo, o prefeito apostólico de Ulaanbaatar reconecta a próxima visita do Papa Francisco à surpreendente história de contatos entre a Mongólia e a Igreja de Roma, iniciados há quase 800 anos, quando em 1246 o Papa Inocêncio IV enviou o franciscano Giovanni di Pian del Carpine com uma carta a ser entregue ao imperador mongol que naquela época também dominava a China. O purpurado também acena para o convite das autoridades civis mongóis ao Papa, em julho de 2022, para visitar o país.

https://youtu.be/uWkSyPYcWMo

por Gianni Valente

Por que o Papa vai à Mongólia? A poucos dias da partida do Papa Francisco para Ulaanbaatar, muitos perguntam-se o que leva o Pontífice de 86 anos a uma longa viagem para visitar uma nação onde vivem menos de dois mil católicos.

Começam a circular análises que fazem referência à importância estratégica da viagem papal ao país situado entre a Rússia e a China, com pontos muitas vezes interessantes, e que se tornam ainda mais interessante se se reconhece e não se elimina a dinâmica apostólica que caracteriza propriamente cada viagem papal.

A sétima e última vídeo-reportagem produzida para a Agência Fides por Teresa Tseng Kuang yi em vista da viagem do Papa Francisco à Mongólia (31 de agosto a 4 de setembro), narra a expectativa do Pontífice no grande país da Ásia Central e na sua pequena igreja. E por meio de imagens, histórias e testemunhos recolhidos na Mongólia, permite vislumbrar os motivos da viagem seguindo pistas pouco percorridas.

O Sucessor de Pedro viaja pelo mundo – como aconteceu também ao primeiro Bispo de Roma – para “confirmar os seus irmãos na fé”. No encontro com os irmãos e irmãs, também ele é confirmado por sua vez na fé dos Apóstolos, como testemunham suas viagens. É possível ler isso já nas Cartas de São Pedro e São Paulo. “A visita do Papa à Mongólia”, repete o padre Pietron Tserenkhand Sanjaajav, sacerdote mongol na vídeo-reportagem “é um dom que Deus oferece para fazer crescer na fé os fiéis”.

A fé dos Apóstolos é aquela que descreve com palavras específicas no vídeo o cardeal Giorgio Marengo, prefeito de Ulanbaatar, numa passagem em que menciona as características distintivas da pequena Igreja Católica da Mongólia. O prefeito apostólico de Ulaanbaatar fala de uma fé “que não tem grandes forças ou sinais externos com os quais contar, mas que se apoia na presença viva do Senhor ressuscitado, no diálogo e no cuidado dos pequenos”.

Uma fé também ligada à experiência “de ser católicos numa condição de minoria, por vezes marginalizada”. A pequena comunidade eclesial da Mongólia – continua o cardeal Marengo – possa talvez oferecer também ao resto da Igreja o dom “do frescor de uma fé que se interroga, se deixa interrogar pela realidade”. Dom gratuito que o cardeal Marengo relaciona à dimensão da “periferia” sempre referida pelo Papa Francisco, experimentável também por quem vive em contextos em que “se confronta com uma maioria que tem outros pontos de referência”.

Palavras e imagens da reportagem em vídeo sugerem que a visita do Papa Francisco à Mongólia deve ser vista e compreendida como um sinal dos tempos. A pequena Igreja da Mongólia, com o seu traço “periférico”, “tem algo a dizer ao resto da Igreja universal” (Marengo).

O Sucessor de Pedro vai à Mongólia sobretudo para abraçar e ser abraçado por aquela pequena Igreja, e talvez para indicar e lembrar a todos que a Igreja é sempre e em toda parte uma Igreja nascente. Mendicante, em cada passo, do dom eficaz da graça, isto é, daquilo que realiza “a presença viva do Senhor”.

A Igreja pode tornar a reconhecer-se Igreja nascente também nos países onde poderosas estruturas eclesiais podem abrir a porta à tentação de perseguir uma relevância autossuficiente. Mesmo nas cidades onde existem estupendas catedrais milenares, quem hoje pouco frequentadas, de forma que também nesses locais essas catedrais não se tornem grandiosas relíquias do passado.

Reconhecer-se como Igreja nascente, mendicante da presença viva de Cristo, não esquece nada do passado. É abraçada com memória agradecida todo o mistério da Igreja no seu caminho ao longo da história. Na reportagem em vídeo, o prefeito apostólico de Ulaanbaatar reconecta a próxima visita do Papa Francisco à surpreendente história de contatos entre a Mongólia e a Igreja de Roma, iniciados há quase 800 anos, quando em 1246 o Papa Inocêncio IV enviou o franciscano Giovanni di Pian del Carpine com uma carta a ser entregue ao imperador mongol que naquela época também dominava a China.

O cardeal Marengo também acena para a presteza com que as atuais autoridades civis mongóis, em julho de 2022, enviaram uma delegação oficial a Roma para entregar ao Papa Francisco o convite para visitar o seu país. Assim, a novidade de uma Igreja nascente se entrelaça com a história que a precede. O novo rebento mostra que todo o tronco milenar que o sustenta está vivo. E o Sucessor de Pedro desempenha o ministério ao qual foi chamado por Cristo, ao serviço de uma unidade que une passado e presente, e hoje reúne povos diferentes e distantes.

O Bispo de Roma, indo à Mongólia, indica a todos que a verdadeira fonte da unidade entre os cristãos é precisamente a fé que conta apenas «com a presença viva do Senhor». E a sua visita aos irmãos e irmãs da Mongólia torna-se sinal e reflexo do amor de Cristo por todos, segundo o mistério da sua predileção, que prefere os pequenos e os pobres. Graças à visita do Papa de 86 anos – observa Dom Marengo – a Mongólia, que para muitos parece distante, torna-se próxima, próxima de cada coração cristão. Porque «o Sucessor de São Pedro que se interessa por este pequeno rebanho diz-nos o quanto todos são queridos por Nosso Senhor, mesmo as pessoas que vivem, geograficamente, em áreas talvez menos conhecidas no mundo».

Assim, o prefeito de Ulaanbaatar e todos os católicos da Prefeitura Apostólica podem confiar a visita papal à oração para que a viagem traga "este dom de graça, de amizade entre os mais diversos povos, e também de testemunho, solidariedade e esperança para este povo da Mongólia". Uma expectativa e uma súplica que se expressam também na pergunta feita pelo missionário salesiano Leung Kon-Chiu no início da vídeo-reportagem: “quem sabe que tipo de árvore crescerá desta sementinha”.

*Agência Fides

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O que Santo Inácio de Loyola nos ensina sobre dirigir

Wikimedia Commons | Altered by Aleteia

Por Dariusz Dudek

Podemos aprender a dirigir com mais segurança e atenção graças aos ensinamentos de um homem que viveu 400 anos antes da invenção do carro.

Há algum tempo fiz um curso on-line sobre o que Santo Inácio chama de discernimento dos espíritos. No decorrer de três semanas, aprendi sobre o exame de consciência inaciano. É uma oração diária segundo a qual você passa 15 minutos examinando seu coração, sentimentos, desejos e – o mais importante neste contexto – os “movimentos de nossa alma”.

Esses movimentos são os pensamentos que surgem dentro de nós antes de empreendermos uma ação. O exame inaciano de consciência concentra a nossa atenção não tanto no ato em si, mas no pensamento, no impulso, na agitação que levou a ele e no espírito por trás dele. 

O próprio Jesus diz: “Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos” (Marcos 7,21). 

O coração, no sentido bíblico da palavra, significa o centro da tomada de decisões humanas, onde os pensamentos são formulados.

Como isso se relaciona com o gesto de dirigir um carro?

Nos noticiários, dificilmente há um dia sem que algum acidente de carro possa ser destaque. Agressão, velocidade excessiva e embriaguez ao volante são apenas alguns dos fatores que causam acidentes tristes e evitáveis.

Quem dirige carro também sabe que é comum encontrar outros perigos e obstáculos na estrada. Alguém nos interrompe, um carro faz uma conversão proibida num cruzamento, um motociclista que não respeita as regras cria uma situação perigosa etc.

Como os motoristas reagem? Com raiva crescente, palavrões ou gestos obscenos, além de buzinas insistentes. Em casos extremos, a reação vem através de atos de agressão violenta. Essas reações podem gerar um ciclo vicioso entre os motoristas, pois agressividade gera agressividade.

Tal comportamento começa, no entanto, quando rotulamos as pessoas em nossos pensamentos, segundo Julita Maleszewska, psicóloga de transportes do Centro Regional de Medicina Ocupacional de Podlaskie, em Bialystok. Ela disse à TOKfm: “Esses podem ser os chamados rótulos de pensamento, como ‘motorista estúpido’, ‘que idiota’ ou ‘como ele pode dirigir?’”

Maleszewska também observa que os homens parecem mais propensos a comportamentos agressivos do que as mulheres. Isto é especialmente verdadeiro para homens mais jovens, que podem ser excessivamente confiantes. Mas esses impulsos podem afetar pessoas em qualquer nível da sociedade. “Algumas pessoas acreditam que a sua posição (socioeconômica) é um passe para se sentirem ‘importantes’ na estrada e exigem que os outros se ajustem a elas”, disse Maleszewska.

Segurança no trânsito

Se a agressão no trânsito começa com um pensamento, um movimento da alma, como posso lidar com isso?

O primeiro passo útil, que o próprio Santo Inácio nos ensina, é aprender a reconhecer esses movimentos, os pensamentos que nos acompanham ao volante. Maleszewska também menciona isso. “No momento em que nos sentamos ao volante, temos o potencial de ficarmos agitados por causa dos engarrafamentos ou de outros condutores e, se estivermos conscientes disso, já é um passo positivo. Esse é o primeiro passo para lidar com o problema.” 

É importante reconhecer as possíveis consequências do comportamento agressivo. Ao explicar o discernimento e como fazer boas escolhas, Santo Inácio incentiva as pessoas a imaginarem as consequências de suas próprias ações. Quando estou ao volante, pode ser difícil imaginar o que pode acontecer se eu agir agressivamente com outro condutor, mas pode ser muito útil refletir sobre este tipo de ações antes ou depois de conduzir.

Em última análise, é importante compreender os outros. Os outros motoristas que encontro na estrada não são fantoches, mas pessoas. Eles têm suas próprias histórias e problemas. Talvez eles estejam com pressa para chegar a algum lugar. Talvez eles estejam cansados ​​ou tendo um dia muito ruim. Em geral, os comportamentos que muitas vezes nos incomodam no trânsito não são fruto de maldade, mas de simples erro humano.

Enfim, na próxima vez que alguém interromper você enquanto você dirige, em vez de amaldiçoá-lo mentalmente, preste atenção à raiva e à fúria que rapidamente se acumulam dentro de você. Se você respirar algumas vezes e se acalmar, poderá encontrar em seu coração a oportunidade de abençoá-los. Esta seria certamente uma escolha inaciana do que é mais profundo, melhor e mais agradável a Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

MARTÍRIO DE SÃO JOÃO BATISTA

Martírio de São João Batista (Vatican Media)

29 de agosto

Martírio de São João Batista - Festa

A memória do martírio de São João Baptista associa-se à solenidade da sua Natividade, que se celebra em 24 de junho. João era primo de Jesus, concebido, de modo tardio, por Zacarias e Isabel, ambos descendentes de famílias sacerdotais: seu nascimento é colocado cerca de seis meses antes daquele de Cristo, segundo o episódio evangélico da Visita de Maria a Isabel. Por outro lado, a data da sua morte, ocorrida entre os anos 31 e 32, remonta à dedicação de uma pequena basílica, do século V, no lugar do seu sepulcro, em Sebaste da Samaria: de fato, parece que, naquele dia, tenha sido encontrada a sua cabeça, que o Papa Inocêncio II transladou para Roma, na igreja de São Silvestre “in Capite”. A celebração do martírio de São João Batista tem origens antigas: seu culto já existia na França, no século V, e em Roma, no século seguinte.

«Imediatamente o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, foi à prisão e cortou a cabeça de João. Depois levou a cabeça num prato, deu à moça, e esta a entregou à sua mãe. Ao saber disso, os discípulos de João foram, levaram o cadáver e o sepultaram» (Mc 6,27-29).

Motivo do martírio de João Batista

A causa principal do martírio foi uma mulher: Herodíades, atual esposa de Herodes Antipas, ex-esposa do seu irmão de criação. João foi preso por ter denunciado este casamento ilegal. Durante a festa de aniversário de Herodes, a filha de Herodíades, Salomé, dançou em homenagem ao rei, que era fascinado por ela: se ela dançasse, ele lhe permitiria pedir o que quisesse, até mesmo a metade do seu reino. Depois de consultar a mãe, ela pediu a cabeça de João Batista. Herodes não queria aceitar, mas não pôde recusar, porque lhe havia prometido.

Comentário do Papa Francisco

Quatro personagens: o Rei Herodes "corrupto e indeciso", Herodíades, esposa do irmão de criação do rei, que "só sabia odiar", Salomé, "a dançarina vaidosa" e o "profeta decapitado na solidão da sua cela".

O rei

O rei Herodes, que "acreditava que João era um profeta", "gostava de ouvi-lo" e até o "protegia", apesar de mantê-lo na prisão. Estava indeciso porque João "o repreendeu pelo seu pecado" de adultério. Por meio do profeta, Herodes “ouvia a voz de Deus, que lhe dizia para “mudar de vida”, mas não conseguia. O rei era corrupto e, onde há corrupção, é muito difícil mudar". Era um homem corrupto porque "procurava manter equilíbrio diplomático" entre a sua vida de adúltero, também repleta "de tantas injustiças, que praticava", e a consciência da "santidade do profeta, que estava diante de si". Ele não conseguia desatar este nó!

Herodíades

Herodíades era a esposa do irmão de criação do rei, que Herodes matou para se casar com ela. O Evangelho diz, apenas, que ela "odiava" João, porque ele falava claro. “Sabemos que o ódio é capaz de tudo - comenta Francisco – e tem uma grande força. O ódio é o respiro de Satanás. Sabemos que ele não sabe amar, não pode amar. Seu ‘amor’ é o ‘ódio’. Aquela mulher era possuída pelo espírito satânico do ódio", que tudo destrói. O rei disse a Salomé: "darei tudo o que você quiser", como Satanás.

Salomé

O terceiro personagem, para o Papa Francisco, é a filha de Herodíades: Salomé, a bailarina vaidosa, que dançava muito bem, “agradava aos convidados, e, sobretudo, ao rei”. Herodes, tão entusiasmado, prometeu à jovem que "lhe daria tudo o que quisesse”, usando as mesmas palavras que Satanás utilizou para tentar Jesus: “Tudo isso lhe darei, todo o meu reino, se me adorar". Mas, Herodes não sabia disso!

João Batista, o Santo

Atrás destes personagens, agia Satanás: semeador de ódio na mulher, semeador de vaidade na moça, semeador de corrupção no rei.
E o "maior homem nascido de mulher" acabou sozinho, em uma cela escura da prisão, por capricho de uma bailarina vaidosa, do ódio de uma mulher diabólica e da corrupção de um rei indeciso.
Batista morreu como mártir, não um mártir da fé - porque não lhe pediram para renegá-la - mas um mártir da verdade. Ele era um homem "justo e santo" (At 3,14), condenado à morte por sua liberdade de expressão e fidelidade ao seu mandato.
João foi um mártir, que sempre deixou espaço na sua vida, cada vez mais, para dar lugar ao Messias. “O maior homem, nascido de mulher, acabou assim”! Porém, João já sabia que acabaria assim e se aniquilou: “Ele deve crescer e eu diminuir”. E o Papa acrescentou: "Diminuiu-se, a ponto de morrer"! João mostrou Jesus aos primeiros discípulos, indicando-O como a Luz do mundo! No entanto, ele morreu, lentamente, na obscuridade daquela cela, na prisão.
“A vida só terá valor na entrega de si: doá-la com amor e na verdade; doá-la aos outros, todos os dias, na família; doá-la sempre! Se alguém tomar posse da vida e guardá-la só para si, - como o rei, em sua corrupção; a mulher, possuída pelo ódio; a moça vaidosa, adolescente inconsciente - a vida morre, acaba murchando e não serve para nada” (Homilia do Papa Francisco na Casa Santa Marta, no Vaticano, 8 de fevereiro de 2019).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O Papa: ainda há resistências na Igreja, mas a porta está sempre aberta a todos

O Papa no encontro com os jesuítas em Lisboa (Vatican Media)

Foi publicada pela La Civiltà Cattolica a conversação completa de Francisco com os jesuítas de Lisboa, durante sua viagem a Portugal para a JMJ. Uma conversa espontânea, intercalada com perguntas, na qual o Pontífice expressa preocupação com as guerras, reitera o apelo para dar a "todos" um lugar na Igreja, incluindo homossexuais e pessoas trans, e reitera que o Sínodo não é uma "invenção" sua nem uma "busca de votos".

Salvatore Cernuzio – Vatican News

"Todos, todos, todos". O apelo lançado e relançado ao longo da JMJ de Lisboa por uma Igreja acolhedora, onde haja espaço para "todos, todos, todos", incluindo pessoas homossexuais e transexuais, o Papa Francisco reiterou e aprofundou em sua conversa com os jesuítas de Portugal. O Papa se reuniu com seus confrades em 5 de agosto no Colégio de São João de Brito, uma escola dirigida pela Companhia de Jesus, durante sua viagem à capital lusitana para a Jornada Mundial da Juventude.

Preocupação com as guerras

A conversa - publicada na íntegra pela prestigiosa revista jesuíta La Civiltà Cattolica - foi direta e espontânea, incitada pelo próprio Papa, que disse: "Perguntem o que quiserem. Não tenham medo de ser imprudentes ao perguntar". Vários tópicos foram abordados: dos desafios geracionais ao testemunho dos religiosos, das questões sobre a sexualidade humana ao desenvolvimento da doutrina, às preocupações com as guerras: "Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as guerras têm sido incessantes em todo o mundo. E hoje vemos o que está acontecendo no mundo".

Resistências e atitudes reacionárias

As tensões intra-eclesiais foram outro tema principal da conversa. Portanto, o "indietrismo" (voltar-se para o passado, ndr), a "atitude reacionária" em algumas realidades eclesiais e a resistência ao Concílio Vaticano II. "Muitos colocam em discussão o Vaticano II sem nomeá-lo. Questionam os ensinamentos do Vaticano II", diz o Papa. Em seguida, ele responde a um religioso que conta ter estado nos Estados Unidos por um ano e ter ficado impressionado por ter visto "tantos, até mesmo bispos, criticando sua maneira de conduzir a Igreja". "O senhor verificou que nos Estados Unidos a situação não é fácil: há uma atitude reacionária muito forte, organizada, que estrutura uma adesão até mesmo afetiva", diz o Pontífice. E "a essas pessoas" ele lembra "que o indietrismo é inútil" e que há "uma justa evolução" na compreensão das questões de fé e moral: "Também a doutrina progride, se consolida com o tempo, se expande e se torna mais firme, mas sempre progredindo". Os exemplos da história são concretos: "Hoje é pecado possuir bombas atômicas; a pena de morte é um pecado, não pode ser praticada, e antes não era assim; quanto à escravidão, alguns Pontífices antes de mim a toleravam, mas hoje as coisas são diferentes. Então se muda, se muda, mas com esses critérios".

Uma doutrina em evolução

"Para cima", é a imagem que o Papa usa em seguida. "A mudança é necessária", repete ele; depois acrescenta: "A visão da doutrina da Igreja como um monólito está errada. Mas alguns saem fora, voltam para trás, são o que eu chamo de 'indietristas'. Quando se retrocede, forma-se algo fechado, desconectado das raízes da Igreja e perde-se a seiva da revelação".

A advertência do Papa é clara: "Se você não muda para cima, você retrocede, e então assume critérios de mudança diferentes daqueles que a própria fé lhe dá para crescer e mudar. E os efeitos sobre a moral são devastadores". Os problemas que os "moralistas" devem examinar hoje são, para o Pontífice, "muito sérios"; o risco é ver a ideologia suplantar a fé: "Pertencer a um setor da Igreja substitui a pertença à Igreja... E quando na vida você abandona a doutrina para substituí-la por uma ideologia, você perdeu, perdeu como na guerra".

O mundanismo, o pior mal

Na conversação, o Papa amplia seu olhar para a sociedade atual, que ele vê como excessivamente "mundanizada", algo que o preocupa muito, sobretudo "quando a mundanidade entra na vida consagrada". Jorge Mario Bergoglio se refere à sua recente carta aos sacerdotes de Roma, na qual adverte contra o clericalismo e o mundanismo espiritual como armadilhas nas quais se deve evitar cair. "Uma coisa é se preparar para dialogar com o mundo... outra coisa é se comprometer com as coisas do mundo, com a mundanidade", enfatiza, exortando mais uma vez para ler as quatro páginas finais da Meditação sobre a Igreja, na qual de Lubac afirma que a mundanidade espiritual "é o pior mal que pode penetrar na Igreja, pior até do que a época dos Papas 'libertinos'".

Sociedade erotizada

Não ceder ao mundanismo, entretanto, não significa não dialogar com o mundo: "Não se pode viver em conserva", recomenda o Papa. "Vocês não devem ser religiosos introvertidos, sorrindo para dentro, falando para dentro, protegendo seu ambiente sem convocar ninguém". Pelo contrário, é preciso "sair para este mundo", com os valores e desvalores que ele tem. Entre eles, o de uma vida demasiadamente "erotizada". A esse respeito, Francisco reitera o problema da pornografia e seu fácil acesso por meio de celulares, convidando os sacerdotes a pedir ajuda e a falar sobre esses problemas, porque, ao contrário do passado, quando essas questões não eram tão agudas e eram até mesmo escondidas, "hoje a porta está escancarada, e não há razão para que os problemas permaneçam escondidos". "Se você esconde seus problemas, é porque escolhe fazer assim, mas não é culpa da sociedade, e nem mesmo de sua comunidade religiosa", afirma.

Acolhimento a "todos"

Ainda sobre a questão da sexualidade, o Papa reitera o apelo para acolher as pessoas homossexuais na Igreja. "É evidente que hoje a questão da homossexualidade é muito forte, e a sensibilidade a esse respeito muda de acordo com as circunstâncias históricas", esclarece. "Mas o que não me agrada nem um pouco, em geral, é que olhemos para o chamado 'pecado da carne' com uma lupa, assim como se fez por tanto tempo com relação ao sexto mandamento. Se se explorava os trabalhadores, se mentia ou trapaceava, isso não importava e, em vez disso, os pecados abaixo da cintura eram relevantes."

"Todos são convidados" na Igreja, repete Francisco, "a atitude pastoral mais apropriada deve ser aplicada a cada um. Não se deve ser superficial e ingênuo, forçando as pessoas a fazer coisas e adotar comportamentos para os quais elas ainda não estão maduras ou não são capazes. Acompanhar as pessoas espiritualmente e pastoralmente requer muita sensibilidade e criatividade. Mas todos, todos, são chamados a viver na Igreja: nunca se esqueçam disso".

O encontro com um grupo de pessoas transgênero

Em uma entrevista recente a uma revista espanhola, o Papa Francisco também relembra seu encontro com um grupo de pessoas transgênero, trazido pela primeira vez e depois várias outras vezes à audiência geral de quarta-feira pela irmã Geneviève, de 80 anos, "capelã" do Circo de Roma com outras duas irmãs. "A primeira vez que vieram, estavam chorando. Eu lhes perguntei o motivo. Uma das mulheres me disse: 'Eu achava que o Papa não poderia me receber! Então, depois da primeira surpresa, adquiriram o hábito de vir. Algumas me escrevem, e eu as respondo por e-mail. Todos são convidados! Percebi que essas pessoas se sentem rejeitadas, e isso é muito difícil".

A "alegria" pelo Sínodo

Não faltam perguntas mais pessoais na conversação, como: "Santo Padre... o que está pesando em seu coração e que alegrias o senhor está experimentando neste período?" Francisco responde de imediato: "A alegria que mais tenho em mente é a preparação para o Sínodo, mesmo que às vezes eu veja, em algumas partes, que há falhas na maneira como está sendo conduzida. A alegria de ver como, a partir dos pequenos grupos paroquiais, dos pequenos grupos de igrejas, surgem reflexões muito bonitas e há um grande fermento. É uma alegria".

"O Sínodo não é uma invenção minha", o Papa Francisco faz questão de dizer, lembrando que foi Paulo VI, no final do Concílio, "que percebeu que a Igreja católica havia perdido a sinodalidade". Desde então, houve um "progresso lento" e, às vezes, "de maneira muito imperfeita". Hoje, portanto, há uma tentativa de dar novo vigor à sinodalidade, que, esclarece o Pontífice, "não está indo em busca de votos, como faria um partido político, não é uma questão de preferências, de pertencer a este ou àquele partido". Em um Sínodo – insiste - o protagonista é o Espírito Santo. Ele é o protagonista. Portanto, devemos nos assegurar de que é o Espírito que guia as coisas".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Hoje é celebrada santa Sabina de Roma, mártir do século II

Santa Sabina (Crédito: ACI Diugital)

29 de agosto

Santa Sabina

Roma, 29 Ago. 23 / 07:00 am (ACI).- Hoje (29), a Igreja celebra santa Sabina, mártir. Pouco se sabe com certeza sobre sua vida, porém, por meio da tradição, é possível conhecer alguns fatos muito importantes sobre sua vida para a edificação dos cristãos.

Sabina viveu no início do século II. Ela nasceu em uma família nobre e foi casada com o senador romano Valentino. Sua conversão ao cristianismo é atribuída à influência de sua escrava síria, uma mulher chamada Serápia.

Segundo as Atas do Martírio, foi através de Serápia que Sabina começou a frequentar a comunidade cristã de Roma no tempo do imperador Adriano. Ela era obrigada a se esconder nas catacumbas, pois a prática do cristianismo estava proibida e os cristãos eram perseguidos.

Por volta do ano 126, Serapia foi presa e condenada à morte por sua fé. Acredita-se que Sabina tenha tido o mesmo destino algumas semanas depois.

Sabina foi levada perante o prefeito de Roma, Helpidius, que lhe deu a oportunidade de se salvar se ela abjurasse Cristo. Uma tradição conservou suas palavras: “Cristo é meu Deus, só a ele sirvo e adoro”. Por essa reação, tomada como afronta, Sabina foi decapitada e seus bens confiscados.

Mulheres mártires

No ano 430, as relíquias de santa Sabina foram colocadas na basílica que leva seu nome, que fica no Monte Aventino, onde Serapia e Sabina teriam sido martirizadas. Os restos mortais de ambas repousam sob o altar-mor.

No século XIII, o papa Honório III entregou a igreja de santa Sabina à Ordem de Santo Domingo, dominicanos.

Fonte: https://www.acidigital.com/

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

O Papa continua fiel a si mesmo: deem seu testemunho de fé

Bento XVI durante a visita ao Bundestag, em Berlim, dia 22 de setembro de 2011 [© Osservatore Romano]

Arquivo 30Dias - 10/2011

Viagem apostólica à Alemanha

O Papa continua fiel a si mesmo: deem seu testemunho de fé

As palavras do Papa Bento XVI na sua terra natal podem ser lidas como um caloroso apelo para voltar ao essencial e viver as suas consequências. Palavras de Hans-Gert Pöttering, ex-presidente do Parlamento Europeu.

por Hans-Gert Pöttering

A visita de Bento XVI foi um evento comovedor. Um papa alemão veio à sua terra natal. Trouxe uma mensagem profundamente teológica: a renovação da Igreja pode acontecer somente com a disponibilidade à conversão e por uma fé renovada. Ele falou de modo tão apaixonado e convincente de Deus, a ponto de ser surpreendente para um teólogo sucessor de Pedro como Bento XVI.

O seu discurso no Bundestag alemão no início da sua viagem a Berlim foi particularmente significativo. Na ocasião questionou-se sobre a essência da atividade política, sobre o fundamento do direito e sobre a distinção entre o bem e o mal. Colocou as suas reflexões dentro do grande contexto das tradições do pensamento europeu: a filosofia grega, o direito romano e a fé em Deus judaico-bíblica, que formam a “identidade profunda da Europa”. Na busca de um fundamento comum para a construção do próprio direito a Europa não deveria limitar-se a uma pura visão positivista. Isso é redutivo ante a realidade total do homem. Ele comparou uma tal limitação a um edifício de cimento sem janelas. Excluído de tudo o que acontece fora, o homem se atrofia. Ao invés, com uma visão global, poderia colher todos os influxos. Aqui entra em jogo “a ecologia do homem” como na encíclica Caritas in veritate. O aparecimento do movimento ecologista foi uma “invocação de ar fresco” que não se podia deixar de ouvir. O homem deveria ouvir a linguagem da natureza. Se ele presta atenção nela e acolhe-a como algo que não é produzido por ele mesmo, a liberdade do homem encontra cumprimento. Porém, dado que as normas podem derivar somente da vontade, essas pressupõem o reconhecimento da “razão criadora” de Deus. E, questionou Bento XVI de modo quase provocatório: “É verdadeiramente desprovido de sentido refletir se a razão objetiva, que se manifesta na natureza, não pressuponha uma razão criadora, um Creator Spiritus?”.

O Papa insistiu particularmente com os políticos no exemplo do rei Salomão, que tinha desejado um “coração dócil” para buscar o verdadeiro direito, para servir a justiça e a paz. Considerando que o discurso do Papa no Bundestag foi principalmente teológico e de princípio, na ocasião ele não falou sobre as concretas exigências da Igreja alemã embora isso fosse previsto e esperado por muitos. Bem diferente foi o discurso no Konzerthaus de Freiburg, que chegou a irritar alguns. Ali, dirigiu-se principalmente à Igreja alemã. Convidou a concentrar-se no essencial, prescindindo de qualquer raciocínio de caráter institucional. O conceito de “mundanização” poderia ser mal-entendido, mas para Bento XVI estes pensamentos não são novos. Ele já os havia manifestado no final da década de 1960. Exprimem uma visão de fundo, autocrítica sobre toda a Igreja. Ele julga-a em perspectiva histórica e chamou a atenção sobre o fato de que o testemunho da Igreja seria muito mais límpido se fosse livre “dos fardos materiais e políticos”. Neste caso, ela poderia dedicar-se melhor aos verdadeiros valores cristãos no mundo inteiro, ser verdadeiramente aberta ao mundo. A Igreja seria tão mais crível quanto mais se concentrasse no próprio âmbito, na sua mensagem central.

O Papa concebeu tudo isso, como disse ele mesmo, não como uma nova tática para obter maior consideração pela Igreja, mas como a vontade de procurar “a plena sinceridade, que não reprime nada da verdade do nosso hoje, mas realiza plenamente a fé no hoje”.

Bento XVI no final da missa celebrada na Praça da Catedral de Erfurt, dia 24 de setembro [© Osservatore Romano]

Justamente os alemães, como revelou o arcebispo de Freiburg im Breisgau, Robert Zollitsch, não deveriam se deixar dissuadir, por meio de seu zelante organizar, estruturar e reformar, desta busca de Deus. Todavia, como o Papa não deu outras indicações práticas sobre o que ele entenda por “fardos mundanos”, precisa-se de mais debates e discussões sobre quais sejam as consequências a serem extraídas para promover a fé como o Papa indicou. Poderá ser visto nos próximos meses se se deve compreender como uma rejeição do sistema alemão aos impostos para o culto e à comprovada relação Estado-Igreja, como alguns interpretaram ousando muito, ou se o seu discurso não tenha sido principalmente um caloroso apelo para voltar ao essencial e viver as suas consequências.

Este seu convite a concentrar-se no essencial da mensagem bíblica não foi dirigido somente aos católicos na Alemanha, o seu olhar dirigiu-se também à Europa. Nesse âmbito as condições da convivência de Igreja e Estado desenvolveram-se de modo muito diferente no decorrer dos séculos. A este propósito deve-se recordar que o artigo 17 do Tratado de Lisboa garante a cada país europeu a manutenção da sua tradicional relação entre Estado e Igreja. É decisivo manter ativo o diálogo com as Igrejas e levar à nossa política as solicitações que o Papa deu-nos justamente na Alemanha. Trata-se da realização dos valores cristãos na prática política.

Com efeito, Bento XVI promoveu justamente isso nas suas homilias: a fé em Deus não deveria permanecer como algo privado, mas deveria se manifestar na sociedade. Encorajou os cristãos a comprometerem-se com frutos na sociedade e serem fermentos. Trata-se de imprimir os valores cristãos no discurso social, mas também acolher as preocupações do homem e sustentá-las. Isso foi dito pelo Papa na sua homilia em Freiburg, a cidade da Cáritas. Na homilia agradeceu explicitamente a todos os que se dedicam ao próximo nas creches e nas escolas, mas também os que se dedicam aos carentes e aos deficientes nas muitas instituições sociais e caritativas na Alemanha e no mundo. Este é um estímulo muito importante principalmente para os políticos. A fé tem consequências para a nossa vida social e para o nosso agir público. Por isso é necessário de agora em diante que os católicos se empenhem na política, na economia, na sociedade e também nos serviços sociais com ajuda concreta.

Neste sentido, em Erfurt louvou o empenho dos cristãos que na base da fé se opuseram ao regime totalitário da RDA. Apesar das circunstâncias adversas, eles permaneceram fiéis a Cristo. Ainda hoje na Alemanha Oriental procuram-se novas vias para a promover a fé cristã em um ambiente muito distante da fé e para falar exatamente aos que buscam orientação e respostas às questões cruciais.

Também a ponte que Bento XVI lançou aos muçulmanos no encontro em Berlim demonstra que o Pontífice coloca-se justamente como “construtor de pontes” para a prática pública da religião. Ele disse muito claramente que gostaria que os muçulmanos também contribuíssem ao bem comum a partir da sua religião, e que portanto a partir da sua fé defendessem a causa de uma convivência pacífica na sociedade. Aqui também se reflete o reconhecimento do nosso tipo de relação entre Estado e religião, que deve ser aberta também aos muçulmanos.

Como esta viagem, para o Papa, tratou-se principalmente de um aprofundamento da fé, o desejo de rápidas mudanças concretas inevitavelmente não era esperado. E isso vale também para a questão do ecumenismo com a Igreja evangélica na Alemanha. Um sinal importante, sem dúvida, um acontecimento de nível histórico, foi o Papa ter encontrado no convento dos agostinianos de Erfurt os representantes da Igreja evangélica. É um lugar de grande importância simbólica para os protestantes alemães. Ali viveu e atuou Martinho Lutero. Por isso tal gesto já é um sinal de abertura. Com insistência e com o olhar dirigido para o futuro, o Papa citou Lutero na sua busca de um Deus misericordioso. Aqui pôde perceber grandes afinidades entre as confissões com relação ao mundo secularizado: as grandes Igrejas devem cuidar juntas da questão de Deus e devem manter esta questão de Deus no mundo secularizado. Para Bento interessavam os fundamentos da fé cristã em resposta às questões existenciais “de onde viemos” e “para onde vamos”.

Bento XVI com Nikolaus Schneider, presidente do Conselho da Igreja evangélica na Alemanha, no convento dos Agostinianos, em Erfurt, dia 23 de setembro [© Afp/Getty Images]

No entanto muitos esperavam do Papa um “passo inequivocável para a superação da divisão entre as Igrejas”, como disse Norbert Lammert, presidente do Bundestag. Na realidade – segundo as palavras do arcebispo Robert Zollitsch – é preciso referir-se à Conferência Episcopal alemã para traduzir as reflexões fundamentais do Papa e, junto com os representantes da Igreja evangélica na Alemanha, encontrar vias para um aprofundamento do ecumenismo. Nikolaus Schneider, presidente do “Conselho para a Igreja evangélica na Alemanha”, falou de um “ecumenismo de dons” e propôs assim uma via para prosseguir um caminho comum.

Espera-se que os problemas dos matrimônios e das famílias formadas por membros de diferentes confissões cristãs com relação à comum vida de fé, mas também as limitações para os divorciados casados novamente, possam ser repensados depois da visita do Papa e que possam ser feitos realísticos passos de reconciliação.

São muitas as questões abertas: certamente é muito cedo para fazer um balanço. Os resultados dos múltiplos e intensos encontros com o Papa, os estímulos e as solicitações que ele ofereceu serão elaborados nas discussões e nos debates das próximas semanas e dos próximos meses. Assim se poderá ver como poderá subsistir a Igreja na Alemanha no tempo presente e como os fiéis individualmente poderão ser testemunhas da fé em seu ambiente.

Para mim, como político e como católico, permanece o convite para refletir sobre os princípios da minha política à luz das solicitações que o Papa fez na sua visita. Bento XVI com a sua mensagem nem sempre fácil, nem sempre cômoda, levou nós alemães a refletir. Devemos-lhe uma profunda gratidão pelas suas palavras, pelo seu encorajamento a viver a fé, pela visita na sua terra natal.

Fonte: http://www.30giorni.it/

São Miguel Arcanjo, um Papa e uma visão reveladora

Buturlimov Pavlo | Shutterstock

Por Loo Burnett

O Papa Gregório Magno tinha relação as criaturas celestes e vivenciou um fato admirável envolvendo o primeiro dos anjos: o Arcanjo Miguel.

Durante a Quaresma de São Miguel, irei propor um exercício de leitura para que você conheça os principais devotos do Arcanjo e as histórias extraordinárias que foram vivenciadas por essas almas.

Mas, afinal, o que vem a ser um devoto? Um devoto é uma pessoa que demonstra fervor religioso em relação a um santo, divindade ou figura espiritual de maneira piedosa, buscando através de determinadas práticas uma aproximação com aquele a quem se devota.

Apontamos aqui as práticas religiosas, as orações, rituais ou cultos, adoração e demais atividades que salientam sua devoção e ligação espiritual com aquilo que veneram ou adoram. A devoção pode ser expressa de várias formas, a depender da crença, religião ou tradição específica.

A devoção de um papa a São Miguel Arcanjo

Nesta primeira semana da Quaresma de São Miguel, conheceremos de perto a relação do papa Gregório Magno com as criaturas celestes, sobretudo um fato admirável envolvendo o primeiro dos anjos: o Arcanjo Miguel.

Papa Gregório Magno (540 a 604), durante o período em que era um religioso, passou por diversas situações cotidianas que envolviam as criaturas celestiais. Tais experiências o levaram a ser mais tarde condecorado com o título de Doutor Angelorum.

Conta-se que, ao final do século VI, uma tempestade ocasionou a inundação de Roma, desencadeando uma das mais perigosas pestes: a peste inguinal. Este flagelo dizimava famílias inteiras de maneira avassaladora, deixando nenhuma parte da Cidade Eterna segura. Foi nesse contexto que o infortúnio se abateu sobre a cátedra de Pedro, resultando na fatalidade que atingiu o Papa Pelágio II.

Gregório Anicius, que nesta época aconselhava o pontífice, havia conquistado o favor do povo
devido à sua justiça e caridade como prefeito – pois antes de se tornar um beneditino ele havia administrado a cidade de Roma. Aos olhos de todos, desde leigos até religiosos, Gregório seria a melhor escolha para ser conclamado papa naquele momento, mesmo que fosse contra a sua vontade.

Visão reveladora

Roma estava debaixo de uma grande calamidade quando Gregório assumiu o pontificado, e nesta ocasião, instituiu uma procissão para que todos suplicassem a Deus o fim da epidemia. Com duração de três dias, Papa Gregório Magno conduzia os fiéis pela Cidade Eterna junto ao quadro da Virgem Maria, ícone pintado pelo evangelista São Lucas, quando algo extraordinário aconteceu. Ao passar com a multidão pelo mausoléu de Adriano, São Gregório foi impactado por uma visão reveladora: o Arcanjo Miguel surgia sobre a tumba imperial, limpando uma espada ensanguentada e guardando-a corajosamente em sua bainha.

A atitude do anjo conferiu ao coração do pontífice a certeza de que suas orações haviam sido atendidas e, portanto, a peste estava chegando ao fim. De fato, não demorou para Roma sorrir, e o local que outrora relembrava o imperador Adriano, tornara-se mais tarde o Castelo
do Santo Anjo (Castelo de Sant´Angelo).

O castelo de Sant’Angelo

Este local, que fica a 800 metros em linha reta da Basílica de São Pedro, no Vaticano, é um importante ponto turístico. É possível ser avistado de longe, visto que em seu topo adorna uma impressionante imagem de São Miguel com 4.7m de altura, constituída em bronze.

Castelo do Santo Anjo, Roma
São Miguel sobre o castelo.

O Castelo de Sant’Angelo, ao longo dos séculos, apresentou diversas funções, servindo de mausoléu, forte militar, prisão, refúgio papal, residência e museu. E embora seja um monumento super valorizado do ponto de vista turístico, há quem o contemple pelos os olhos da fé, como os peregrinos e devotos de São Miguel que o reconhecem, por excelência, como um espaço sacralizado.

Castelo do Santo Anjo, Roma
Visão frontal do Castelo de Sant’Angelo.

Às atividades de São Miguel em nosso mundo temporal, temos a seguinte frase
do Papa São Gregório Magno:

“Todas as vezes que se trata de fazer coisas maravilhosas, o enviado é Miguel, para dar a entender por suas ações e por seu nome que ninguém pode fazer aquilo em que só Deus é eficiente”.

Homilia 34

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF