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segunda-feira, 28 de agosto de 2023

O Papa: sinto-me feliz por ir à Mongólia, onde estarei como irmão de todos

Catedral de São Pedro e São Paulo, em Ulan Bator, capital mongol

Ao término do Angelus dominical, Francisco ressaltou que na próxima quinta-feira, 31 de agosto, partirá para a Mongólia, para uma visita muito esperada ao país situado no coração da Ásia, onde abraçará uma Igreja pequena em números, mas vibrante na fé e grande na caridade, e também para conhecer de perto um povo nobre e sábio.

Raimundo de Lima – Vatican News

Após a oração mariana do Angelus, este domingo, 27 de agosto, o Santo Padre destacou aos fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro que na próxima quinta-feira partirá para a Mongólia para mais uma viagem apostólica internacional, pedindo a todos que acompanhem com a oração esta visita ao país:

Na quinta-feira, partirei para uma viagem de alguns dias ao coração da Ásia, à Mongólia. Essa é uma visita muito desejada, que será uma oportunidade para abraçar uma Igreja pequena em números, mas vivaz na fé e grande na caridade; e também para conhecer de perto um povo nobre e sábio, com uma grande tradição religiosa que terei a honra de conhecer, especialmente no contexto de um evento inter-religioso. Gostaria agora de me dirigir a vocês, irmãos e irmãs da Mongólia, dizendo que estou feliz por viajar para estar entre vocês como um irmão de todos.

Agradecimento às autoridades

Francisco aproveitou a oportunidade para, desde já, agradecer às autoridades do país asiático pelo gentil convite e àqueles que, com grande empenho, estão preparando sua vinda. “Peço a todos que acompanhem esta visita com orações”, exortou por fim o Pontífice.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A liturgia é escola de vida – II

Shutterstock

Por Don Emanuele Bargellini

Sendo a liturgia uma experiência integral, para que a participação nesta seja autêntica e integral é necessário que seja ativa e de ordem intelectual (conhecimento – estudo), espiritual (coração puro e atenção interior) e ritual (interação corpórea). Entenda:

Estudar a liturgia: por que e como 

No primeiro artigo (A LITURGIA É ESCOLA DE VIDA I) nos debruçamos sobre o fato que na vida da comunidade monástica, a liturgia é antes de tudo experiência de vida, de graça renovadora e exigente, de energia vital do Espírito, que traduz os gemidos da criação em louvor e sustenta sua esperança. A liturgia é, não só, expressão da nascente e do cume da vida do monge e da monja, como da igreja inteira (Sacrosanctum concilium 10 – SC). 

Para viver a liturgia com autenticidade, cumpre, antes de mais nada, cultivar atitudes interiores apropriadas; mas mesmo isso não basta para gozar de toda sua riqueza, pois é preciso conhecê-la bem. Os livros litúrgicos que seguimos para celebrar o mistério pascal de Cristo são fruto e expressão da fé da igreja e da sua caminhada no tempo através das diferentes culturas. São, também, expressão de uma certa visão da estrutura antropológica da pessoa humana, da ritualidade, etc. A fé da igreja se reflete na sua liturgia e modela suas formas de celebrá-la, assim como a liturgia exprime e alimenta a fé da igreja. A lex orandi (a modalidade de celebrar) e a lex credendi (a maneira de elaborar e expressar a fé), interagem reciprocamente, como afirma a tradição da igreja e confirma a experiência cotidiana. 

A expressão Lex credendi – lex orandi significa que a fé da igreja determina sua modalidade de rezar, enquanto o modo de celebrar modela sua fé. Em outras palavras, a modalidade de rezar manifesta e alimenta a fé da igreja e a fé determina o modo de celebrar. Isso vale não apenas em nível doutrinal, mas, antes de mais nada, enquanto experiência viva da fé. Viver a vida pessoal e da comunidade ao ritmo e no horizonte da liturgia, constitui uma maneira privilegiada de sintonizar o coração e a mente. Para tanto, como acontece em todo processo de iniciação, ou em qualquer atividade profissional, é preciso passar através de um processo de aprendizado que une a experiência gradual e perseverante com a reflexão teórica.

Tudo isso ressalta a necessidade de fazer da liturgia também um objeto de estudo cientifico, teológico, espiritual, pastoral. Só o estudo adequado da liturgia permitirá conhecer seus conteúdos teológicos e espirituais, o sentido e a importância da ritualidade na experiência humana em sua relação com o divino, o processo histórico da formação do corpo litúrgico existente, e acompanhar o processo da encarnação da igreja e da sua liturgia ao longo dos séculos, nas diferentes culturas e contextos humanos. Este processo se dá através do binômio continuidade e criatividade e está acontecendo também em nosso tempo, graças à reforma promovida pelo Concilio Vaticano II, depois de quase cinco séculos de aparente imobilismo (mais do que estabilidade), do rito romano. 

É fundamental, para que a liturgia possa atingir o escopo de ser uma escola de vida, conhecer e saborear o dom da vida que recebemos da igreja nossa mãe através da liturgia. Para tanto, é necessário distinguir os elementos essenciais e imutáveis da fé e da tradição, e os que são frutos colaterais e contingentes e, por isso, suscetíveis de mutação legítima e às vezes necessária. Este foi o objetivo perseguido pelo Concilio Vaticano II, ao promover a grande reforma litúrgica, com o intento de favorecer uma melhor participação do povo de Deus, e especialmente, uma maior interioridade. 

Cinquenta anos se passaram do início desse processo de renovação que, por carregar consigo consequências de grande significado histórico, é ainda jovem. Estudos acadêmicos e seminários promovidos por várias instâncias eclesiais e acadêmicas para o quinquagésimo aniversário da promulgação da SC em 2013 mostraram avanços significativos, mas também, falhas, resistências, assim como a exigência de aprofundar as raízes da reforma conciliar. Um caminho a cumprir com inteligência espiritual, sentido de comunhão eclesial e sábia criatividade, valorizando as indicações presentes nas Introduções aos vários livros litúrgicos, e as ulteriores publicações do magistério da igreja. Quantas pessoas conhecem de verdade e em profundidade esses textos?

A pedagogia da igreja se exprime na liturgia

A pedagogia litúrgica desenvolve, por assim dizer, um método que combina o movimento da água do rio que escorre sem interrupção, e o da gota miúda que, batendo sem interrupção no mesmo ponto, acaba modelando e até perfurando a pedra. Sabemos que a primeira escola de aprendizagem é a experiência viva, acompanhada pela sábia mistagogia (iniciação aos mistérios divinos dos sacramentos) de quem tem experiência consolidada e palavra iluminadora.

O objetivo do estudo da liturgia é, assim, promover a participação interior, enriquecida pelo conhecimento teórico e crítico. É necessário aprender a desenvolver, na fidelidade criativa às indicações dos livros litúrgicos, um próprio estilo celebrativo que anime e exprima a alma profunda de cada comunidade, em comunhão com toda a igreja (inculturação litúrgica). É preciso também, chegar a unificar os caminhos da nossa caminhada espiritual, pessoal e comunitária, fazendo da experiência litúrgica (tão maciça em nível ritual) a nascente da energia do Espírito e o cume onde colocar, junto com a oferta de Cristo, a oferta do nosso culto existencial em espírito e verdade ao Pai (cf SC 10). Esta é a estrada para superar qualquer forma de antagonismo entre piedade pessoal e liturgia, ou a simples justaposição delas, para chegar a uma integração harmoniosa, onde um elemento alimenta e estimula o outro. 

Enquanto fonte de água viva, a liturgia alimenta o desenvolvimento livre da vida e da oração, enquanto cume, acolhe a convergência dos trilhos que acompanham a subida de cada um ao monte do Senhor. Os trilhos objetivos que a liturgia nos propõe cotidianamente e ao longo do ano litúrgico, não impedem a espontaneidade da oração pessoal, mas a alimentam, a orientam, e, quando necessário, a corrigem, para não cair no subjetivismo e na simples emoção. A espontaneidade da oração pessoal, hoje promovida sobretudo nos “grupos de oração”, deveria contribuir a dar respiro pessoal e ânimo à celebração litúrgica. Os formulários das Preces que acompanham o canto dos Salmos nas Laudes e nas Vésperas, assim como a celebração da eucaristia, não são somente “formulas” para serem repetidas. São “modelos” de oração inspirada pela palavra de Deus que as precede, como a escuta na fé precede sempre o diálogo orante com o Pai.  

A linguagem litúrgica é simbólica – sacramental

A liturgia articulada por ações e palavras, está em continuidade com a sacramentalidade de Cristo e da igreja (cf SC 2; LG 1.8), envolve a pessoa na sua globalidade (espírito – psique – corpo), nas suas relações (individuo – comunidade – ambiente), na sua presença operosa e responsável na história, e na abertura ao mistério de Deus. 

Todo método do estudo é determinado pelo objetivo que se procura alcançar. O estudo da liturgia deveria ser análogo ao método da lectio divina, isto é, histórico-crítico e sapiencial ao mesmo tempo. Assumir com seriedade as exigências da littera (letra) para chegar ao espírito. O ponto de partida privilegiado é a própria experiência da celebração, com a riqueza das suas expressões rituais (per ritus et preces – através dos gestos rituais e dos textos litúrgicos– SC 48), iluminados pela reflexão teológica e pelas várias disciplinas históricas, antropológicas e teológicas.

A igreja “é em Cristo, sacramento universal de salvação

A identidade e a atividade da igreja fazem referência a Cristo, único lugar do encontro pleno e definitivo de Deus conosco. A pessoa de Cristo é “sacramento”, na dinâmica da sua encarnação, morte, ressurreição, ascensão e envio do Espírito. A igreja, nascida do lado aberto de Cristo dormente na cruz, como nova Eva do novo Adão participa da sacramentalidade de Cristo. Ela desenvolve de maneira eficaz sua identidade sacramental, sua função de mãe que gera à vida do Espírito, e de mestra da fé, sobretudo, através da liturgia e das atividades sacramentais, memorial único e multíplice do mistério pascal.

A igreja nos gera à fé evangelizando-nos e iniciando-nos no mistério pascal de Cristo, fazendo da pia batismal o novo seio materno no qual o Espírito nos gera à vida nova em Cristo. A função sacramental da igreja está a serviço do autor da vida e da fé: o próprio Cristo Jesus. Ela é conexa à condição peregrinante do povo de Deus na história, acompanhando-o desde o início (nascimento – batismo) até a morte (liturgia dos funerais). “Deste modo a igreja, na sua doutrina, na sua vida e no seu culto, perpetua e transite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê, de forma que, no decurso dos séculos, tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela tenha plena realização a palavra de Deus” (cf LG 8 – DV 8; Ordenamento das leituras da missa, n.8).

Esta tensão entre encarnação na história e abertura ao mistério divino que a transcende, marca as fibras profundas da alma e da estrutura da igreja, como lembra a Lumen Gentium quando diz que já na terra a igreja é assinalada com a verdadeira santidade:

Já chegou, pois, a nós, a plenitude dos tempos (cfr. 1 Cor. 10,11), a restauração do mundo foi já realizada irrevogavelmente e, de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo: com efeito, ainda aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita, santidade. Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (cfr. 2 Ped. 3,13), a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8, 19-22). (LG 48)

A liturgia necessita de participação ativa e integral da pessoa

Sendo a liturgia uma experiência integral, para que a participação nesta seja autêntica e integral é necessário que seja ativa e de ordem intelectual (conhecimento – estudo), espiritual (coração puro e atenção interior) e ritual (interação corpórea). Essa foi a razão inspiradora e o objetivo da reforma litúrgica do Vaticano II. Aqui é preciso lembrar mais uma vez, que o primeiro sujeito ativo na celebração é o próprio Espírito do Senhor, assim como ele é o inspirador da Palavra/ação de Deus na história, testemunhada na escritura. Na celebração, o Espírito “escreve” nos corações dos fiéis com a colaboração ativa deles, mais uma página do livro da vida, que está sempre aberto nas mãos de Deus. Diz o Ordenamento das leituras da missa:

Para que a palavra de Deus realize de fato nos corações aquilo que ressoa aos ouvidos, requer-se a ação do Espírito Santo, por cuja inspiração e auxilio a palavra de Deus se torna o fundamento da ação litúrgica e a norma e o sustento de toda a vida. Por conseguinte, a ação do Espírito Santo não só precede, acompanha e segue toda a ação litúrgica, mas também sugere ao coração de cada um, tudo aquilo que é proferido na proclamação da palavra de Deus para toda a assembleia dos fiéis; e consolidando a unidade entre todos, também reanima os diversos carismas e suscita múltiplas atividades. 

Cumpre aqui lembrar as páginas luminosas da exortação apostólica Verbum Domini, nasquais o Papa Bento XVI, resume com clareza o ensino do Concilio e dos padres sinodais e testemunha mais uma vez sua profunda sensibilidade litúrgica e sua preocupação de pastor, para indicar o caminho de uma autêntica interiorização da renovação litúrgica .

No diálogo/relação vital com o Espírito se realiza a “participação ativa” dos fiéis, que tem todas as características de resposta à ação do Espírito. Diz a esse respeito o Sacrosanctum concilium:

É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, «raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido» (1 Ped. 2,9; cfr. 2, 4-5). (SC 14)

E ainda:

É por isso que a Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, ativa e piedosamente, por meio duma boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do Corpo do Senhor; deem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo mediador, progridam na unidade com Deus e entre si, para que finalmente Deus seja tudo em todos. (SC 48)

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Santo Agostinho: grande Bispo de Hipona

Santo Agostinho (Guadium Press)

28 de agosto

Santo Agostinho

De pecador a modelo de perfeição espiritual, Santo Agostinho abraçou a Fé católica com fervor e zelo invulgares, defendendo-a e a enriquecendo com a extraordinária inteligência que lhe foi concedida por Deus.

Redação (28/08/2022 08:32, Gaudium Press) Pai por excelência de todos os Padres da Igreja, Doutor da graça, monge, pastor, teólogo, autor de uma obra monumental e escritor de gênio, Agostinho permanece o símbolo vivo do convertido, não cessando de influenciar o espírito e o imaginário da Europa.

Esse romano da África, de origem berbere, nascido no ano de 354, em Tagasta, na atual Argélia, alcançou grande renome por seu extraordinário domínio das artes liberais, e foi considerado por seus contemporâneos como o mais ilustre dos retóricos e o mais autorizado dos filósofos. Adepto de Cícero, o jovem Agostinho vai para Cartago, e depois para Roma e Milão, que era então a capital do Império. As suas peregrinações espirituais o levaram a aderir ao maniqueísmo, mas é o encontro com o cristianismo que vai revolucionar a sua existência.

Aos trinta e dois anos, por insistência de sua mãe, Santa Mônica, e de Santo Ambrósio, e após uma revelação sobrenatural nos jardins da sua casa, Agostinho pede que seja batizado.

Diz uma tradição que, terminada a cerimônia do Batismo, Santo Ambrósio exclamou: ‘Te Deum laudamus!’, e que Santo Agostinho acrescentou: ‘Te Dominum confittemur!’; e assim, alternando suas frases um e outro, entre os dois improvisaram naquela ocasião os conceitos e palavras que compõem o cântico litúrgico do ‘Te Deum’.

Incansável adversário da heresia

Santo Agostinho (Guadium Press)

Depois de um breve retiro em Cassiciaco, Agostinho volta à sua terra natal, torna-se monge e consagra três anos à oração e ao estudo.

Em 391, O Bispo Valério de Hipona (atual Annaba) chama-o para junto de si. Agostinho suceder-lhe-á em 395 nessa importante sede episcopal. Começa então para esse pregador e catequista infatigável uma era de grandes controvérsias – contra os donatistas, em primeiro lugar, que negam aos ‘lapsi‘ (apóstatas) o perdão da Igreja; em seguida contra os pelagianos, que atribuem exclusivamente ao homem o mérito da salvação.

O Bispo de Hipona descobre em si uma vocação de lutador contra as heresias, capaz não só de inscrever a sua reflexão nas problemáticas do seu tempo, como também de edificar uma autêntica Teologia perene. No fim da sua vida, já em plena invasão dos Vândalos, enfrentou um último desvio à Fé: o daqueles que negavam o dogma cristológico.

A tristeza, companheira no fim da vida

Por volta do ano 430, os bárbaros devastam totalmente o norte da África. Ao atingirem Hipona, os invasores a cercaram e lhe impuseram um rigoroso assédio. Este acontecimento agravou a já amarga e triste ancianidade de Santo Agostinho, que sofreu mais do que todos, e se alimentou de dia e de noite com a torrente de lágrimas que brotavam de seus olhos ao ver como uns caíam mortos e outros fugiam, e ao considerar que as igrejas ficavam viúvas de seus sacerdotes, e as populações arrasadas se transformavam em desertos.

Como os horrores continuassem, reuniu seus monges e lhes disse: ‘Pedi ao Senhor que nos tire desta angustiosa situação, ou nos dê forças para suportá-la, ou me leve desta vida e me livre de presenciar tantas calamidades’.

O Senhor o ouviu e lhe concedeu a terceira dessas petições. Meses após o início do cerco da cidade, Santo Agostinho caiu enfermo. Compreendendo que o dia de sua morte se aproximava, mandou que escrevessem os Sete Salmos Penitenciais em grandes cartazes e os pregassem a uma das paredes de sua cela, de maneira a poder lê-los e rezá-los a partir do leito em que se achava prostrado. Assim foi feito, e o Santo, sempre com imensa emoção de alma, recitava constantemente ditas orações.

Pouco antes de sua morte, Santo Agostinho teve essas interessantes palavras: ‘Ninguém, por muito virtuosamente que tenha vivido, deve sair deste mundo sem fazer previamente confissão de seus pecados e sem receber a Eucaristia’.

Até o último momento de sua vida conservou perfeito estado de suas faculdades, seus membros e sua vista, de maneira que, com completa lucidez mental, no instante supremo, rodeado de seus monges que o assistiam com suas preces, aos 77 anos de idade e 40 de episcopado entregou seu espírito a Deus.

Apaixonado investigador da verdade

Luminosíssimo farol de sabedoria, baluarte da ortodoxia, fortaleza inexpugnável da Fé, sobressaindo em talento e ciência entre os demais doutores da Igreja, Agostinho foi homem eminente, tanto pelos exemplos de suas virtudes, quanto pela riqueza de sua doutrina.

A obra que deixou é imensa. Cento e treze Tratados, entre os quais se destacam o ‘De Trinitate’ e ‘A Cidade de Deus’ que inaugura a teologia da História; 218 epístolas, mais de 500 ‘Sermões’, ‘Diálogos’ e ‘Comentários’ bíblicos, e, por fim, essa obra singular que são as ‘Confissões’, a primeira autobiografia de todos os tempos.

A sua teologia, feita de experiência e permanentemente existencial, eleva-se até a contemplação pura, sem ignorar a psicologia, a historicidade, a realidade humana. Da iluminação fulgurante da sua juventude ao final da sua velhice, Santo Agostinho nunca deixou de meditar sobre o dom feito por Deus ao homem, e que fez dele um investigador apaixonado da verdade.[1]


[1] Cf. George Daix. Dicionário dos Santos; Jacques de Voragine. A legenda dourada.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

domingo, 27 de agosto de 2023

Os debates sobre a Eucaristia e a nossa mentalidade contemporânea

Santíssima Eucaristia / Francisco Javier Diaz | Shutterstock

Por Francisco Borba Ribeiro Neto

A mentalidade contemporânea nos torna cada vez menos capazes de contemplar a ação de Deus no mundo. Entenda:

Muitos anos atrás, um sacerdote já idoso, homem de grande santidade, foi dar a comunhão a meu filho pequeno, que estava doente. Na hora, minha filha mais nova ficou olhando fixamente para o irmão que comungava. O padre perguntou-lhe se ela queria comungar e se sabia o que era aquele pãozinho. Ela respondeu que queria e que o pãozinho era o Jesus.

O sacerdote, então, me explicou que ele havia sido formado antes do Concílio Vaticano II, estava ciente que hoje em dia se valoriza muito a formação e o conhecimento que a criança tem na hora que faz a primeira comunhão, mas ele, como sacerdote, devia ministrar os sacramentos segundo a vontade de Deus. Se a menina, mesmo pequena, sabia que a hóstia consagrada era Cristo e queria comungar, era porque o próprio Jesus queria se dar a ela. Cabia a ele, como sacerdote, cumprir a vontade do Senhor e ministrar-lhe a comunhão naquele momento. A mim, como pai, cabia providenciar a adequada formação dela, assim que tivesse a idade certa, para que fizesse a primeira comunhão junto com as demais crianças.

Um acontecimento recente, fez com que eu me recordasse desse caso. Aliás, ele me volta à mente sempre que ouço algum debate acalorado ou escandalizado sobre a forma adequada de se comungar, recebendo a hóstia na mão ou na boca, de pé ou de joelhos, em uma (só pão) ou duas espécies (pão e vinho). Não é minha função aqui entrar num debate sobre normas litúrgicas, mas essas discussões podem ser a manifestação de uma mentalidade contemporânea, bem pouco católica, mesmo quando a intenção é a mais pia possível.

Maravilhar-se diante dos sinais de Deus

Volto à lógica do velho sacerdote: não cabia a ele julgar como Deus queria que as coisas acontecessem, devia apenas estar atento aos sinais que Ele enviava, para melhor obedecê-Lo. A ação divina sempre tem algo de surpreendente aos nossos olhos, não podemos querer encerrá-la em nossos esquemas – e podemos reduzir até mesmo os ensinamentos da Igreja segundo nossos esquemas. O respeito devido a Deus não se manifesta, em primeiro lugar, numa subordinação às normas, mas sim na abertura obediente aos Seus sinais no mundo (sinais esses que frequentemente passam pelas normas, mas sempre as transcendem).

A mentalidade contemporânea nos torna cada vez menos capazes de contemplar a ação de Deus no mundo. A própria religião frequentemente torna-se uma construção humana, que parte de princípios, ritos e preceitos criados pelos religiosos. A forma pela qual vivemos o cristianismo passa a ser uma característica identitária nossa e nos escandalizamos quando alguém vive o mesmo cristianismo de um modo diverso. Insisto que, aqui, não estou me detendo na questão de qual é o modo certo (ou mais certo) de praticar a doutrina católica, mas sim na perda da capacidade de se abandonar ao mistério de Deus no mundo, seja qual for a forma com a qual se apresente a nós em determinada situação.

Os sacramentos são sinais sensíveis da ação de Cristo, por meio de sua Igreja (Catecismo da Igreja Católica, CIC 1084). Compreendê-los e vivê-los dignamente implica sem dúvida no respeito às normas e procedimentos que a autoridade eclesial estabelece – mas, antes disso, somos chamados a reconhecer que é Deus agindo em sua misericórdia para conosco. Sem a gratidão maravilhada pela obra do Senhor em toda a criação e em nossa vida, podemos seguir à risca os preceitos, mas ainda não estaremos nos entregando efetivamente ao Seu amor.

Quem vê o mundo com os olhos do velho sacerdote do início desse texto, com certeza procura seguir os preceitos da Igreja da melhor forma que consegue, mas vive essa obediência com absoluta liberdade e amor. Para tal pessoa, a realidade é sempre mais leve e luminosa, pois está verdadeiramente se entregando Àquele que é manso e humilde de coração, que propõe um jugo suave e um fardo leve (Mt 11, 29-30).

A liberdade dos que se submetem ao Senhor

A autoridade religiosa à qual os católicos devem prestar obediência é constituída pelo Papa em comunhão com os bispos (cf. CIC 874ss). Frequentemente, no entanto, encontramos fiéis que preferem seguir essa ou aquela indicação de determinado padre ou líder religioso do que seguir as indicações da autoridade eclesial.

No fundo, trata-se de uma dúvida sobre a própria presença de Deus em sua Igreja. Quando o fiel prefere seguir uma liderança particular, ao invés da autoridade eclesial, está indiretamente duvidando da própria presença de Deus em sua Igreja – e que, portanto, pode agir segundo os seus próprios critérios (frequentemente até mais rígidos do que aqueles da Igreja, que sempre procura abraçar e acolher a todos).

Mas a hierarquia também não pode errar? Sim, pode, mais ainda quando pensamos na conduta pessoal de um sacerdote ou de um bispo, seres humanos falíveis como todos nós. Devemos procurar sempre a verdade e a conduta justa, isso também é verdade. Contudo, existem formas adequadas e formas inadequadas de fazer as coisas.

Se Deus age no mundo e na Sua Igreja, nosso primeiro objetivo é encontrar os sinais da Sua presença e da Sua vontade – e isso diz respeito à nossa santidade e não à santidade dos outros. Quando ficamos mais preocupados em dizer que os outros estão errados do que em saber como nós mesmos podemos fazer certo, alguma coisa está errada em nós…

A seguir, se percebemos claramente um erro na comunidade e/ou na hierarquia, devemos nos comprometer a dar um testemunho cada vez mais luminoso, pois é a luz de nosso testemunho (e não a raiva de nossos juízos) que ajudarão nossos irmãos a serem melhores.

Deus faz maravilhas e não deixa que aquele que deseja segui-Lo sinceramente se perca, por mais voltas e desvios faça. Era com essa tranquila liberdade que aquele sacerdote decidiu dar a comunhão para minha filhinha. Muitos anos depois, só posso atestar que ele estava certo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Cristo não é uma lembrança do passado, mas o Deus do presente, diz papa Francisco

Papa Francisco durante a oração do Ângelus de hoje (27) no Vaticano / Captura Youtube Vatican News

Por Walter Sánchez Silva

Vaticano, 27 Ago. 23 / 10:45 am (ACI).- Na reflexão de hoje (27) antes da oração do Ângelus, o papa Francisco disse aos fiéis que “Cristo não é uma lembrança do passado, mas o Deus do presente”.

Diante de milhares de fiéis presentes na Praça de São Pedro, o papa lembrou a passagem do Evangelho de Mateus em que Cristo pergunta aos discípulos quem dizem que Ele é, e a resposta é insuficiente, pois não é “apenas um personagem do passado” como os grandes profetas.

“Por isso, logo em seguida, o Senhor faz aos discípulos a pergunta decisiva: ‘Mas vós, quem dizeis que eu sou?’. Quem sou eu para vós agora? Jesus não quer ser protagonista da história, mas protagonista do seu presente, do meu presente; não um profeta distante, mas o Deus próximo”, disse o papa Francisco.

“Cristo não é uma lembrança do passado, mas o Deus do presente. Se fosse apenas um personagem histórico, imitá-lo hoje seria impossível: nós nos encontraríamos diante da grande vala do tempo e, sobretudo, diante de seu modelo, que é como uma montanha altíssima e inalcançável, querendo escalá-la, mas sem a capacidade e os meios necessários”, continuou.

Em vez disso, disse o papa, “Jesus está vivo e nos acompanha, está ao nosso lado, oferece-nos a sua Palavra e a sua graça, que nos iluminam e restauram no caminho: Ele, guia experiente e sábio, tem a satisfação em nos acompanhar nos caminhos mais difíceis e nas subidas mais inacessíveis”.

Francisco também destacou que “na estrada da vida não estamos sozinhos, porque Cristo está conosco e nos ajuda em nosso caminho, como fez com Pedro e os outros discípulos” e Jesus “não um herói morto, mas o Filho do Deus vivo, feito homem e que veio compartilhar as alegrias e as fadigas do nosso caminho”.

Após encorajar a não desanimar diante dos desafios, o papa exortou: “Olhemos para Jesus, que caminha ao nosso lado, que acolhe nossas fragilidades, compartilha nossos esforços e apoia seu braço firme e gentil em nossos ombros fracos. Com Ele por perto, também nós estendamos a mão uns aos outros e renovemos nossa confiança: com Jesus, o que sozinhos parece impossível não o é mais”.

O papa encorajou então a se perguntar quem é Jesus para cada um. “Quem é Jesus para mim? Um grande personagem, um ponto de referência, um modelo inatingível? Ou o Filho Deus, que caminha ao meu lado, que pode me levar ao topo da santidade, onde não posso chegar sozinho?”.

“Jesus está realmente vivo em minha vida, Ele é meu Senhor? Eu me confio a Ele em momentos de dificuldade? Cultivo sua presença por meio da Palavra e dos Sacramentos? Deixo-me guiar por Ele, junto com meus irmãos e irmãs, na comunidade?”, questionou Francisco.

“Maria, Mãe do caminho, ajude-nos a sentir seu Filho vivo e presente ao nosso lado”, concluiu.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Jovem nascida na prisão vai estudar em Harvard

Academy for Science & Health, Conroe ISD | Facebook / #image_title

Por Anna Gębalska-Berekets

Ela conseguiu bolsa integral para estudar em uma das melhores universidades do mundo.

Aurora Sky Castner, de 18 anos, mora em Conroe, perto de Houston, Texas. A jovem se formou recentemente no ensino médio e foi aceita em Harvard. No entanto, Sky não teve uma vida fácil. Ela nasceu na prisão do condado de Galveston, onde sua mãe cumpria pena. O pai, que tem transtorno bipolar, tirou-a de trás das grades e criou-a sozinho.

Nas horas vagas, Sky adorava ler livros. Seus professores perceberam sua paixão e decidiram que Castner se beneficiaria do programa local CISD Project Mentor. O projeto une alunos a mentores para “promover relacionamentos significativos que proporcionem o desenvolvimento positivo dos jovens, para que os estudantes possam navegar com sucesso na escola e na vida”. Foi assim que Mona Hamby entrou na vida de Sky.

“Recebi um relatório sobre ela. Sua heroína era Rosa Parks; sua comida favorita eram tacos do Dairy Queen e ela adorava ler. Achei que parecia uma garotinha inteligente”, disse Hamby ao jornal local The Courier. “Ainda tenho essa ideia hoje”, acrescenta a mentora de Sky.

Mona se lembra de quando conheceu Castner. “Ela me disse: ‘Já estive na prisão’. Eu disse: ‘Não, isso não pode estar certo.’ Eu sabia que não podia simplesmente ir almoçar com essa criança uma vez por semana, ela precisava de mais”, explica Hamby. A mentoria há muito provou ser uma forma eficaz de ajudar as crianças e, no caso de Sky Castner, seu relacionamento com Mona Hamby acabou sendo especialmente benéfico.

Figura de autoridade feminina e inspiração

A mulher tornou-se parte integrante da vida de Sky e contribuiu para seu grande sucesso.

Na verdade, Hamby não limitou sua interação a encontros para um almoço semanal. Ela conversou com Castner sobre seus planos e passou a levar a adolescente às compras, ao cabeleireiro e a passeios. Ela também ajudou Sky a escolher seus primeiros óculos. 

“Era um ambiente muito diferente daquele em que cresci e isso não é uma coisa ruim”, disse Castner ao “Houston Chronicle”. “Tudo o que a Mona me ensinou foi muito valioso, da mesma forma que tudo o que passei antes da Mona foi muito valioso”, explica ela.

Foi Hamby e seu marido que levaram Sky Castner para visitar Harvard – uma visita que solidificou a intenção da jovem de estudar lá. 

“Nasci na prisão” foram as palavras de abertura da redação de admissão – uma espécie de exame vestibular – que ela enviou ao comitê da Harvard Law School, relata o MSN.

Recentemente, a estudante de 18 anos se formou no ensino médio summa cum laude. Ela também recebeu uma medalha da Academia de Profissões de Saúde e Ciências da Conroe High School, relata o MSN .

Castner soube pela primeira vez que havia conquistado uma vaga na escola da Ivy League em dezembro. Hamby logo celebrou no Instagram, onde compartilhou a imagem de uma placa que dizia: ‘Harvard aí vai Sky!’ 

Sky Castner recebeu uma bolsa integral para estudar Direito em Harvard. Ela deve seu sucesso ao trabalho árduo, à consistência e ao apoio de seu pai e de sua mentora.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Reflexão para o XXI Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho do domingo (Vatican News)

O hino de louvor colocado por Paulo em sua Carta aos Romanos, nos fala da misericórdia de Deus, que supera nosso conhecimento, nossa justiça, sempre nos servindo, sejamos cristãos ou não.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

Nesta liturgia do XXI domingo do tempo comum, se reflete sobre o tema do poder. De acordo com a leitura do profeta Isaías, aquele que usa do poder em seu próprio benefício e deixa o povo passar necessidades, deve ser destituído, pois não honra a confiança nele depositada por Deus. Isso é o que se entende com a deposição de Sobna, administrador do rei de Jerusalém, que deixa o povo na miséria e constrói para si um túmulo de alto luxo. Em seu lugar é empossado Eliacim, investido de poderes para abrir e fechar a Casa de Davi, ou seja, para que todos tenham vida.

Do mesmo modo, Jesus, estando com seus discípulos, dá a eles o poder de abrir e fechar as portas do Reino dos Céus. Todo e qualquer poder cristão é dado para servir, para dar vida ao Povo. Mas Jesus só entrega esse poder aos apóstolos depois de ser identificado por eles como Messias, como aquele que tem a missão de redimir. Portanto ter poder na Igreja , no mundo cristão, significa identificar-se com a missão de Jesus, daquele que lavou os pés de seus discípulos, daquele que disse ter vindo para servir e não ser servido, daquele que não tinha onde reclinar a cabeça.

O hino de louvor colocado por Paulo em sua Carta aos Romanos, nos fala da misericórdia de Deus, que supera nosso conhecimento, nossa justiça, sempre nos servindo, sejamos cristãos ou não.

Dentro da perspectiva cristã o poder deve acabar com o egocentrismo, com a imaturidade e despertar na pessoa generosidade, esquecimento de si e radical entrega à causa da vida.

Quando, no Brasil, nos prepararmos para as próximas eleições, reflitamos sobre nosso poder de voto. Também ele deve se fazer cumprir como serviço à vida. Vivo em um país democrático e tenho esse poder para desempenhá-lo com dignidade cristã, sendo temente a Deus, reconhecendo que o poder vem Dele para que seja concretizado em favor de seus filhos e não em favor de uma ideologia, de um partido, de um grupo de pessoas. Votar deve ser não apenas um exercício de um poder democrático, mas um ato de religião, um ato de fé na Vida.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho

Santa Mônica (Crédito: Guadium Press)

Fala-se muito de Santo Agostinho, inclusive que este santo foi fruto de muitas lágrimas de sua mãe. Mas quem foi esta mulher capaz de gerar santos?

Redação (27/08/2020 14:00, Gaudium Press) Santa Mônica nasceu de família cristã, da qual recebeu boa educação. Submetera-se inteiramente ao marido, suportando os seus escárnios e transportes de cólera com uma paciência que servia de exemplo às outras mulheres, e conquistou-o, assim, para Deus, no fim da vida.

Tinha o talento particular de reunir as pessoas divididas. Depois que enviuvou, dedicou-se inteiramente às obras de piedade. Dava grandes esmolas, servia aos pobres, não faltava nenhum dia à oblação do santo altar, nem de ir duas vezes à igreja, pela manhã e pela tarde, para ouvir a palavra de Deus e fazer suas preces, em que consistia toda sua vida. Deus comunicava-se com ela por meio de visões e de revelações; ela sabia distingui-las dos sonhos e dos pensamentos naturais. Tal era Santa Mônica, na narração de Santo Agostinho.

Santa Mônica (Crédito: Guadium Press)

Preocupação de Santa Mônica pelo seu filho Santo Agostinho

Quando viu o filho envolvido nas peias da heresia dos maniqueus, afligiu-se mais do que se morto o visse, e não queria mais tomar as refeições com ele: mas foi consolada por um sonho. Viu-se sobre uma prancha de madeira e ao jovem homem resplandecente que lhe vinha ao encontro e lhe perguntava a causa de sua dor, respondeu que chorava a perda de seu filho. “Olhai, disse ele, ele está convosco!” Com efeito, ela o viu ao pé de si, na mesma prancha. Contou o sonho a Agostinho, que lhe respondeu: “É que sereis o que sou agora”. Mas ela replicou sem hesitar: “Não. Porque não me disse? Será o que ele é, mas ele irá para onde tu estás.” Depois disto ela morou e tomou suas refeições com ele, como anteriormente.

É impossível que o filho de tantas lágrimas pereça!

Dirigiu-se a um santo bispo e solicitou-lhe que falasse ao filho. O bispo respondeu: “Ainda é demasiadamente indócil e demasiadamente imbuído desta heresia, que lhe é nova. Deixai-o, e contentai-vos em pedir por ele; ele verá, com leituras, qual é o erro. Eu, que vos falo, em minha infância, fui entregue aos maniqueus por minha mãe, que eles haviam seduzido; não somente li, mas transcrevi quase todos os seus livros, e, por mim mesmo, desenganei-me.”

A mãe não se satisfez com estas palavras, e continuou a instar para que falasse ao seu filho. O bispo respondeu-lhe então com certo humor: “Ide, é impossível que o filho de tantas lágrimas pereça!” Isso ela recebeu como um oráculo do céu. Seu filho, todavia, permaneceu nove anos maniqueu, desde a idade de dezenove anos até os vinte e oito.

Encontro de Santo Agostinho com Santo Ambrósio

No ano 384, Agostinho veio a Milão ensinar retórica, e conheceu Santo Ambrósio, que o desiludiu paulatinamente do maniqueísmo. Resolveu definitivamente abandonar os maniqueus e permanecer na Igreja, na qualidade de catecúmeno, como dizia ele, na Igreja que os pais lhe haviam recomendado, isto é, na católica, até que a verdade se lhe revelasse mais claramente.

Santo Agostinho e Santa Mônica (Crédito: Guadium Press)

Santa Mônica reza pela conversão do seu filho Santo Agostinho

Santa Mônica veio da África encontrá-lo em Milão, com tão viva Fé, que atravessando o mar, consolava os marinheiros, mesmo nos maiores perigos, pela certeza que Deus lhe havia infundido de que chegaria até seu filho.

Quando ele lhe disse que não era mais maniqueu, mas que ainda não era católico, ela não se surpreendeu; respondeu-lhe tranquilamente que estava certa de vê-lo fiel católico antes de deixar esta vida.

Santa Mônica e Santo Agostinho (Crédito: Guadium Press)

Santa Mônica se encontra com Santo Ambrósio

Entrementes, continuava com as preces e atenta às prédicas de Santo Ambrósio, a quem amava como anjo de Deus, sabendo que havia levado seu filho a esse estado de dúvida, que deveria ser a crise de seu mal.

Como tivesse o costume, na África, de levar às igrejas dos mártires pão, vinho e carnes, queria fazer o mesmo em Milão; mas o porteiro da igreja lhe impediu e lhe disse que o bispo o havia proibido. Ela obedeceu imediatamente, sem nenhum apego ao costume.

Santo Ambrósio, de resto, havia abolido esses repastos nas igrejas, porque, em lugar dos antigos ágapes sóbrios e modestos, não ofereciam senão oportunidade para devassidão. Amava, por seu lado, Santa Mônica pela piedade e boas obras, e sempre felicitava Agostinho de ter mãe como aquela; porque toda sua vida fora virtuosa.

Santa Mônica e Santo Agostinho (Crédito: Guadium Press)

Santo Agostinho se converte e volta para a África com sua mãe Santa Mônica

Santo Agostinho, após o batismo, tendo examinado em que lugar poderia servir a Deus mais utilmente, resolveu voltar para a África com a mãe, o filho, o irmão e um jovem chamado Evódio. Ele era também de Tagasta; sendo agente do imperador, converteu-se, recebeu o batismo antes de Santo Agostinho, e deixou o cargo para servir a Deus.

Quando chegaram a Óstia, descansaram do longo caminho que haviam feito desde Milão e se prepararam para o embarque.

O Colóquio de Óstia entre Santa Mônica e Santo Agostinho

Um dia, Santo Agostinho e sua mãe, debruçados ambos sobre uma janela que dava para o jardim da casa, entretinham-se com uma doçura extrema, esquecendo todo o passado e conduzindo o pensamento para o futuro. Buscavam saber qual seria a vida eterna dos santos.

Elevaram-se acima de todos os prazeres dos sentidos; percorreram gradativamente todos os corpos, o próprio céu e os astros. Chegaram até as almas, e, passando por todas as criaturas, mesmo espirituais, alcançaram a sabedoria eterna, pela qual elas são, e que é sempre, sem diferença de tempo.

Santo Agostinho e Santa Mônica (Crédito: Guadium Press)

Santa Mônica e a conversão de Santo Agostinho: já nenhum prazer me prende a esta vida

Ali permaneceram um momento no auge da satisfação espiritual, e suspiraram contrafeitos ao serem obrigados a voltar ao ruído da voz, onde a palavra começa e acaba. Então a mãe lhe disse:

“Meu filho, pelo que me diz respeito, já nenhum prazer me prende a esta vida. Não sei o que faço aqui, nem porque existo. O que me fazia ansiar aqui permanecer era ver-vos cristão católico antes de morrer. Deus concedeu-me mais; vejo-vos consagrado a seu serviço, após haverdes desprezado a felicidade terrena.”

Morte de Santa Mônica

Aproximadamente cinco anos após, caiu doente com febre. Um dia perdeu os sentidos; ao voltar a si, encarou Agostinho e seu irmão Navígio, e lhes disse: “Onde estava eu?” Depois, vendo-os compungidos de dor, ajuntou: “Deixareis vossa mãe aqui.” Navígio manifestou o desejo de que ela morresse de preferência no seu país. Mas ela encarou-o com olhar santo e severo, como a repreendê-lo e disse a Agostinho: “Vê o que ele diz!” Enfim, dirigindo-se a ambos: “Colocai este corpo onde vos aprouver; não vos inquieteis. Peço-vos somente que vos lembreis de mim no altar do Senhor, onde quer que estejais.”

Santo Agostinho e Santa Mônica (Crédito: Guadium Press)

Morreu no nono dia da enfermidade, na idade de cinquenta e seis anos, e no trigésimo-terceiro de Santo Agostinho; isto é, no mesmo ano de seu batismo, 387.

Assim que expirou, Agostinho fechou-lhe os olhos. O jovem Adeodato lançava gritos lancinantes; mas os circunstantes o fizeram calar, não vendo motivo algum para lágrimas nesta morte, e Agostinho conteve as suas, fazendo violência a si próprio.

Santo Agostinho reza por sua falecida mãe, Santa Mônica

Evódio tomou do Saltério e principiou a cantar o salmo centésimo: “Cantarei em tua honra, Senhor, a misericórdia e a justiça.” Toda a casa respondia, e em poucos instantes se congregou grande número de pessoas piedosas de ambos os sexos. Levaram o corpo; ofereceu-se pela defunta o sacrifício de nossa redenção; fizeram-se as preces ao pé do sepulcro, segundo o costume, em presença do corpo, antes de enterrá-lo. Santo Agostinho manteve os olhos enxutos durante toda a cerimônia; mas enfim, à noite, deixou correr livremente as lágrimas para aliviar a dor. Orou por sua mãe, como fazia ainda tempos após, descrevendo todas as circunstâncias que cercaram essa morte no primeiro livro de suas Confissões; pediu aos leitores que se lembrassem no santo altar, de Mônica, sua mãe, e de seu pai, Patrício.

(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VIII, p. 82 à 87)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

sábado, 26 de agosto de 2023

O que mudou nas prelazias pessoais?

Oficina de Informacion de la Prelatura del Opus Dei en Espana CC BY SA 2.0 modified

Por Luís Filipe Navarro

Passados alguns anos, determinadas associações clericais sentiram a necessidade de poder incardinar uns ou todos os seus membros, dependendo dos casos, para assegurar a estabilidade do seu carisma e a eficácia prática de suas estruturas. Entenda:

Em 8 de agosto de 2023, o Papa Francisco promulgou um motu proprio (1) com o qual são modificadas algumas normas do Código de Direito Canônico de 1983 relativas às prelazias pessoais. O que muda nessa forma canônica e o que significa a reforma?

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Seguindo a orientação preconizada pela Constituição Apostólica “Praedicate Evangelium”, artigo 117, com a qual se reformou a Cúria Romana, confirma-se a dependência das prelazias pessoais do Dicastério para o Clero. Cabe recordar que desde a lei que regulava a Cúria Romana em 1967 (Constituição Apostólica “Regimini Ecclesiae Universae”, de São Paulo VI, artigo 49, § 1º) até a recente reforma da Cúria Romana (19 de março de 2022), as prelazias dependiam do Dicastério para os Bispos.

As principais novidades deste motu proprio são duas: dispõe que as prelazias pessoais se assemelham, sem se identificar, às associações clericais de Direito Pontifício dotadas da faculdade de incardinar (2); e recorda que os leigos obtêm o seu pároco próprio e o seu Ordinário próprio por meio do seu domicílio e quase-domicílio. Vejamos, em suas linhas gerais, ambos os aspectos.

Associações clericais com faculdade de incardinar

1. As associações clericais estão regulamentadas no Código de Direito Canônico (CIC) de 1983 apenas pelo cânon 302. Trata-se de um cânon muito breve, o único sobrevivente de um conjunto de cânones projetados durante algumas etapas da elaboração do Código de Direito Canônico de 1983. Esse cânon diz o seguinte: “Chamam-se clericais aquelas associações de fiéis que estão sob a direção de clérigos, fazem sua o exercício da ordem sagrada e são reconhecidas como tais pela autoridade competente” (3).

Esse cânon residual não explica tudo o que são, ou queriam ser, as associações clericais. Nele, se forja um conceito técnico de associação clerical que se distingue das associações de clérigos (cân. 278). No projeto, se pensou que algumas dessas associações teriam a faculdade de incardinar clérigos, [mas] que entre os seus membros haveria fiéis leigos e que teriam, comumente, uma função de evangelização em lugares onde a Igreja ainda não estivesse presente. Eram algumas associações dotadas de um forte caráter missionário que exigia o exercício da Ordem sagrada para levar avante essa missão de evangelização. Por isso, deviam ter um caráter público na Igreja (não cabem associações que façam sua a Ordem Sagrada e sejam de natureza privada). Tendo em conta o papel do ministério ordenado, previu-se que o governo tocasse aos sacerdotes (cf. meu Comentário ao cânon 302, no Instituto Martín de Azpilicueta, Faculdade de Direito Canônico, Universidade de Navarra, Comentário Exegético ao Código de Direito Canônico, Vol. II/1, Pamplona, ​​​​terceira edição, 2002, pp. 443-445).

Passados alguns anos, determinadas associações clericais sentiram a necessidade de poder incardinar uns ou todos os seus membros, dependendo dos casos, para assegurar a estabilidade do seu carisma e a eficácia prática de suas estruturas. Para responder a esta exigência, em 11 de janeiro de 2008, o Papa Bento XVI conferiu à Congregação para o Clero o privilégio de conceder a algumas associações clericais a faculdade de incardinar os membros que o solicitem. Posteriormente, no motu proprio “Competentias quasdam decernere”, de 11 de fevereiro de 2022, estas associações clericais se incluem entre os entes incardinantes (cf. o novo cânon 265).

Atualmente, há várias associações clericais com faculdade de incardinar: algumas são muito autônomas, como a Comunidade de São Martinho (“Communauté Saint Martin”) ou a Sociedade João Maria Vianney (“Société Jean-Marie Vianney”). Ainda que, antes, já fossem associações clericais, só em 2008 receberam a faculdade de incardinar. Também se encontra entre as associações clericais a Irmandade dos Sacerdotes Operários Diocesanos (erigida como associação clerical em 2008, embora antes tivesse outra configuração jurídica).

Há três que nasceram e estão ligadas, com maior ou menor intensidade, a um movimento: a Associação clerical da Comunidade do Emanuel (2017), ligada à [própria] Comunidade do Emanuel; a associação clerical “Obra de Jesus Sumo Sacerdote” (2008), do movimento “Pro Deo et Fratribus – Famiglia di Maria” (“Opera di Gesù Sommo Sacerdote” Pro Deo et Fratribus – Famiglia di Maria, aprovada em 2002), e a Fraternidade Missionária de Santo Egídio, aprovada em 2019 (atualmente o Moderador é um sacerdote: cf. Anuário Pontifício 2023, p. 1692; antes, era um Bispo, Mons. Vincenzo Paglia: cf. Anuário Pontifício 2021, p. 1657) . Nestes casos, ao Moderador ou Responsável são atribuídas as faculdades de Ordinário, como faz este motu proprio (artigos 1º e 2º).

Atenção pastoral aos leigos

2. Outra novidade deste motu proprio é que se confirma que aos fiéis leigos ligados às prelazias, se aplica o cânon 107, § 1: “Tanto por domicílio como pelo quase-domicílio, corresponde a cada pessoa o seu pároco e o Ordinário”, também a quem pertence às prelazias e a outros entes, hierárquicos ou agregativos (em contrapartida, esta disposição tem uma relevância pequena no que diz respeito aos clérigos: o vínculo jurídico fundamental do clérigo é a incardinação).

Neste ponto, o novo cânon torna explícito o que já existia e se aplicava. Os leigos da prelazia eram e são fiéis também das dioceses às quais pertencem por seu domicílio ou quase-domicílio (4). Trata-se de uma disposição de caráter geral cuja finalidade é garantir que cada fiel tenha a quem recorrer para receber os sacramentos e a Palavra de Deus.

Com efeito, em seu modo de atender pastoralmente aos fiéis, a Igreja quer garantir que cada fiel tenha um pároco próprio e um Ordinário.

O primeiro critério empregado é muito simples: o domicílio, quer dizer, o local de residência habitual. Como a organização da Igreja segue fundamentalmente um critério territorial, prevê-se que, pela residência habitual, o fiel tem a quem recorrer: pertence a uma paróquia ou a uma diocese.

É de grande interesse que a Igreja e o seu direito se preocupem em atribuir não apenas um Ordinário, mas que o fiel possa ter vários Ordinários e párocos próprios ao mesmo tempo, conforme o local de residência (entra em jogo uma residência menos estável: o quase-domicílio, que se adquire com três meses de residência: cf. cânon 102, § 2). É ainda possível que uma pessoa tenha um Ordinário ou pároco com base em critérios não territoriais (um militar terá o Ordinário do Ordinariado militar; ou, se o fiel é de uma paróquia pessoal, terá como pároco o padre à frente dessa estrutura pessoal). Todavia, esse Ordinário e pároco pessoais são somados ao Ordinário e ao pároco pelo território.

Neste âmbito, é evidente que o fiel goza de grande liberdade. Ele pode escolher para a celebração de alguns sacramentos o pároco ou o Ordinário entre as distintas possibilidades que o Direito lhe proporciona.

Notas:

  1. Do latim, De própria iniciativa. É – ao lado das encíclicas, bulas, constituições apostólicas etc. – uma das modalidades de documento pontifício.
  2.  Escreve o Pe. Jesús Hortal, SJ, em nota ao cânon 265, o que segue: “Incardinação provém do latim in (em) e cardo (gonzo, dobradiça). Significa, pois, etimologicamente, o ato de girar em torno de um eixo fixo. Canonicamente, é o ato mediante o qual, quer por disposição do direito, quer por determinação do superior legítimo, um clérigo fica absoluta e definitivamente incorporado a uma Igreja particular, a uma Prelazia Pessoal, a um Instituto de vida consagrada ou a uma sociedade com essa faculdade” (Código de Direito Canônico. São Paulo: Loyola, 1983, p. 118-119).
  3.  Na tradução deste e de outros cânones aqui citados, seguimos o original espanhol cotejando-o com a versão publicada no Brasil apenas para confirmar o sentido preciso da tradução.
  4.  Eis o que Margarida Hulshof, escritora católica e autora de uma obra em dois volumes que foi considerada por Dom Estêvão Bettencourt, OSB, como “uma pequena enciclopédia popular sobre a temática da Igreja”, escrevia, em 2009, sobre o Opus Dei: “Juridicamente, trata-se de uma ‘Prelazia pessoal’ da Igreja. As prelazias pessoais são instituições semelhantes às dioceses em sua organização, mas com algumas diferenças, como o fato de não possuir limites geográficos, continuando os seus fiéis a pertencer também às Igrejas locais (dioceses) onde têm o seu domicílio. À frente da Prelazia, encontra-se um Prelado, nomeado pelo Papa, que pode ser um Bispo ou um sacerdote” (A Noiva do Cordeiro: questões sobre a Igreja. Vol. 2. Belo Horizonte: O Lutador, 2009, p. 212).

Luís Filipe Navarro, Reitor da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, Professor de Direito da Pessoa, Consultor do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.

Tradução e notas: Ir. Vanderlei de Lima, eremita de Charles de Foucauld.

Originalmente publicado em Omnes.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF