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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Reações a Fiducia supplicans, comunicado do Dicastério para a Doutrina da Fé

Dicastério para a Doutrina da Fé (Vatican News)

 Nota de imprensa assinada pelo cardeal prefeito Fernández e pelo secretário monsenhor Matteo: a doutrina sobre o matrimônio não muda, os bispos podem discernir sua aplicação de acordo com o contexto, as bênçãos pastorais não são comparáveis às bênçãos litúrgicas e ritualizadas.

Escrevemos este Comunicado à imprensa para ajudar a esclarecer a recepção de Fiducia supplicans, recomendando ao mesmo tempo uma leitura completa e atenta da citada Declaração para compreender melhor o significado de sua proposta.

1.    Doutrina

Os compreensíveis pronunciamentos de algumas Conferências Episcopais sobre o documento Fiducia supplicans têm o valor de evidenciar a necessidade de um período mais longo de reflexão pastoral. Quanto foi expresso por essas Conferências Episcopais não pode ser interpretado como uma oposição doutrinal, porque o documento é claro e clássico a respeito do matrimônio e da sexualidade. Existem diversas frases fortes na Declaração que não deixam dúvidas:

«A presente Declaração permanece firme quanto à doutrina tradicional da Igreja sobre o matrimônio, não admitindo nenhum tipo de rito litúrgico ou de bênçãos semelhantes a um rito litúrgico que possam criar confusão». Age-se diante de casais em situação irregular «sem convalidar oficialmente o seu status ou modificar de algum modo o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimônio» (Apresentação).

«São inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão entre aquilo que é constitutivo do matrimônio, como “união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos” e aquilo que o contradiz. Esta convicção é fundada sobre a perene doutrina católica do matrimônio. Somente neste contexto as relações sexuais encontram o seu sentido natural, adequado e plenamente humano. A doutrina da Igreja sobre este ponto permanece firme» (4).

«Tal é também o sentido do Responsum da então Congregação para a Doutrina da Fé, onde se afirma que a Igreja não tem o poder de conceder a bênção a uniões entre pessoas do mesmo sexo» (5).

«Dado que a Igreja desde sempre considerou moralmente lícitas somente aquelas relações sexuais  que são vividas ao interno do matrimônio, ela não tem o poder de conferir a sua bênção litúrgica quando esta, de qualquer modo, possa oferecer uma forma de legitimação moral a uma união que presuma ser um matrimônio ou a uma prática sexual extra-matrimonial» (11).

Evidentemente, não há espaço para se tomar distância doutrinal desta Declaração ou para considerá-la herética, contrária à Tradição da Igreja ou blasfema.

2.    Recepção prática

Alguns Bispos, todavia, exprimem-se em modo particular a respeito de um aspecto prático: as possíveis bênçãos de casais em situação irregular. A Declaração contém a proposta de breves e simples bênçãos pastorais (não litúrgicas, nem ritualizadas) de casais irregulares (não das uniões), sublinhando que se trata de bênçãos sem forma litúrgica, que não aprovam nem justificam a situação em que se encontram essas pessoas.

Os documentos do Dicastério para a Doutrina da Fé, como Fiducia supplicans, podem requerer, nos seus aspectos práticos, mais ou menos tempo para a sua aplicação, segundo os contextos locais e o discernimento de cada Bispo diocesano com a sua Diocese. Em alguns lugares não existem dificuldades para uma aplicação imediata, em outros há a necessidade de não inovar nada enquanto se toma todo o tempo necessário para a leitura e a interpretação.

Alguns Bispos, por exemplo, estabeleceram que cada sacerdote deve realizar o discernimento, mas poderá dar essas bênçãos apenas de modo privado. Nada disso é problemático, se é expresso com o devido respeito por um texto assinado e aprovado pelo próprio Sumo Pontífice, buscando de algum modo acolher a reflexão nele contida.

Cada Bispo local, em virtude do próprio ministério, tem sempre o poder do discernimento in loco, isto é, naquele lugar concreto que ele melhor que outros conhece, porque é o seu rebanho. A prudência e a atenção ao contexto eclesial e à cultura local poderiam admitir diversas modalidades de aplicação, mas não uma negação total ou definitiva deste caminho que é proposto aos sacerdotes.

3.    A situação delicada de alguns países

O caso de algumas Conferências Episcopais deve ser compreendido no próprio contexto. Em diversos países existem fortes questões culturais e até mesmo legais que requerem tempo e estratégias pastorais a longo prazo.

Se existem legislações que condenam à prisão e, em alguns lugares, à tortura e até à morte o simples fato de declarar-se homossexual, entende-se que seria imprudente uma bênção. É evidente que os Bispos não queiram expor as pessoas homossexuais à violência. Permanece importante, porém, que estas Conferências Episcopais não sustentem uma doutrina diferente daquela da Declaração aprovada pelo Papa, enquanto é a doutrina de sempre, mas sobretudo que proponham a necessidade do estudo e do discernimento para agir com prudência pastoral em um tal contexto.

Na verdade, não são poucos os países que em diversa medida condenam, proíbem e criminalizam a homossexualidade. Nestes casos, além da questão das bênçãos, existe uma tarefa pastoral de grande amplitude, que inclui formação, defesa da dignidade humana, ensinamento da Doutrina Social da Igreja e diversas estratégias que não admitem pressa.

4.    A verdadeira novidade do documento

A verdadeira novidade desta Declaração, que requer um generoso esforço de recepção, do qual ninguém deveria declarar-se excluído, não é a possibilidade de abençoar casais irregulares. É o convite a distinguir duas formas diferentes de bênção: “litúrgicas ou ritualizadas” e “espontâneas ou pastorais”. Na Apresentação é explicado claramente que «o valor deste documento é […] aquele de oferecer uma contribuição específica e inovativa ao significado pastoral das bênçãos, que permite ampliar e enriquecer sua compreensão clássica, estreitamente ligada a uma perspectiva litúrgica». Esta «reflexão teológica, baseada sobre a visão pastoral de Papa Francisco, implica um verdadeiro desenvolvimento a respeito de quanto foi dito sobre as bênçãos no Magistério e nos textos oficiais da Igreja».

Como pano de fundo, encontra-se a avaliação positiva da “pastoral popular” que aparece em muitos textos do Santo Padre. Neste contexto, o Santo Padre nos convida a valorizar a fé do Povo de Deus, que mesmo em meio aos seus pecados sai da imanência e abre o seu coração para pedir a ajuda de Deus.

Por esta razão, mais que pela bênção a casais irregulares, o texto do Dicastério adotou a elevada forma de uma “Declaração”, que representa muito mais que um responsum ou que uma carta. O tema central, que convida particularmente a um aprofundamento que enriqueça a prática pastoral, é a compreensão mais ampla das bênçãos e a proposta de aumentar as bênçãos pastorais, que não exigem as mesmas condições daquelas realizadas num contexto litúrgico ou ritual. Em consequência, para além da polêmica, o texto requer um esforço de reflexão serena, feita com coração de pastor, livre de toda ideologia.

Mesmo que algum Bispo considere prudente para o momento não dar estas bênçãos, permanece verdadeiro que todos necessitamos crescer na convicção de que as bênçãos não ritualizadas não são uma consagração da pessoa ou do casal que as recebe, não justificam todas as suas ações, não ratificam a vida que leva. Quando o Papa nos pediu para crescer na compreensão mais ampla das bênçãos pastorais, ele nos propôs pensar um modo de abençoar que não implique tantas condições para realizar este gesto simples de proximidade pastoral, que é um meio para promover a abertura a Deus em meio às mais diversas circunstâncias.

5.    Como se apresentam concretamente estas “bênçãos pastorais”?

Para distinguir-se claramente das bênçãos litúrgicas ou ritualizadas, as “bênçãos pastorais” devem ser sobretudo muito breves (cfr. n. 28). Trata-se de bênçãos de poucos segundos, sem uso do Ritual de Bênçãos. Se se aproximam juntas duas pessoas para pedi-la, simplesmente implora-se ao Senhor paz, saúde e outros bens para estas duas pessoas que as pedem. Ao mesmo tempo, implora-se que possam viver o Evangelho de Cristo em plena fidelidade e que o Espírito Santo as livre de tudo que não corresponde à vontade divina e de tudo que requer purificação.

Esta forma de bênção não ritualizada, com a simplicidade e a brevidade de sua forma, não pretende justificar algo que não seja moralmente aceitável. Obviamente, não é um matrimônio, nem mesmo uma “aprovação”, nem a ratificação de coisa alguma. É unicamente a resposta de um pastor a duas pessoas que pedem a ajuda de Deus. Por isso, neste caso, o pastor não põe condições e não quer conhecer a vida íntima dessas pessoas.

Dado que alguns manifestaram dúvidas sobre como poderiam ser estas bênçãos, vejamos um exemplo concreto: imaginemos que em meio a uma grande peregrinação um casal de divorciados  em nova união diga ao sacerdote: “Por favor, nos dê uma bênção, não conseguimos encontrar trabalho, ele está muito doente, não temos uma casa, a vida está se tornando muito pesada: que Deus nos ajude!”.

Neste caso, o sacerdote pode recitar uma simples oração como esta: «Senhor, olha estes teus filhos, concede-lhes saúde, trabalho, paz e ajuda recíproca. Livra-os de tudo aquilo que contradiz o teu Evangelho e concede-lhes viver segundo a tua vontade. Amém». E conclui com o sinal da cruz sobre cada um deles.

Trata-se de 10 ou 15 segundos. Faz sentido negar este tipo de bênção a essas duas pessoas que a imploram? Não é o caso de sustentar a sua fé, pouca ou muita que seja; de ajudar a sua fraqueza com a bênção divina e de dar um canal a esta abertura à transcendência, que poderia conduzi-las a ser mais fiéis ao Evangelho?

Para afastar equívocos, a Declaração acrescenta que, quando a bênção é pedida por um casal em situação irregular, «ainda que expressa fora dos ritos previstos pelos livros litúrgicos […] esta bênção jamais será realizada conjuntamente a ritos civis de união e nem mesmo em relação a estes. Nem sequer com as roupas, gestos ou palavras próprios de um matrimônio. O mesmo vale quando a bênção é pedida por um casal do mesmo sexo» (39). É claro, portanto, que ela não deve acontecer num lugar importante do edifício sacro ou diante do altar, porque isto causaria confusão.

Por esta razão, cada Bispo na sua Diocese é autorizado pela Declaração Fiducia supplicans a ativar este tipo de bênçãos simples, com todas as recomendações de prudência e de atenção, mas em nenhum modo é autorizado a propor ou a ativar bênçãos que possam assemelhar-se a um rito litúrgico.

6.    Catequese

Em alguns lugares, talvez será necessária uma catequese que ajude a todos a entender que este tipo de bênção não é uma ratificação da vida que levam aqueles que a imploram. Menos ainda é uma absolvição, enquanto estes gestos estão longe de ser um sacramento ou um rito. São simples expressão de proximidade pastoral que não propõem as mesmas exigências de um sacramento nem de um rito formal. Deveremos habituar-nos todos a aceitar o fato que, se um sacerdote dá este tipo de bênçãos simples, não é um herético, não ratifica nada, não está negando a doutrina católica.

Podemos ajudar o Povo de Deus a descobrir que este tipo de bênção é um simples canal pastoral que ajuda as pessoas a manifestar a própria fé, ainda que sejam grandes pecadores. Por isso, ao dar esta bênção a duas pessoas que juntas se aproximam para implorá-la espontaneamente, não as estamos consagrando, nem nos estamos congratulando com elas, nem estamos aprovando o seu modo de união. Na verdade, o mesmo acontece quando abençoamos as pessoas individualmente, no sentido de que o indivíduo que pede uma bênção – não a absolvição – poderia ser um grande pecador, mas não por isso negamos este gesto paterno em meio à sua luta para sobreviver.

Se isto é esclarecido graças a uma boa catequese, podemos livrar-nos do medo de que nossas bênçãos exprimam algo de inadequado. Podemos ser ministros mais livres e talvez mais próximos e fecundos, com um ministério pleno de gestos de paternidade e de proximidade, sem medo de ser mal-interpretados.

Peçamos ao Senhor recém-nascido que derrame sobre todos uma generosa e graciosa bênção, para podermos viver um santo e feliz 2024.

Víctor Manuel Card. FERNÁNDEZ

Prefeito

Mons. Armando MATTEO

Secretário para a Seção Doutrinal

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

6 dicas da Regra de São Bento para santificar a família

Videira Ponikvar | ESPORTIVO
Por Aline Iashine publicada em 03/01/24
Escrita há 1.500 anos, a Regra de São Bento ainda é meditada em inúmeros mosteiros. Sua grande sabedoria também pode iluminar os lares de hoje. Aqui estão os seis princípios que elevam toda a vida familiar.

A Regra de São Bento está repleta de conselhos sábios. Embora o grande santo italiano o tenha escrito no século VI para a sua família monástica de Mont Cassin, não perdeu nada da sua relevância.

Quinze séculos depois, ele continua a guiar milhares de freiras e monges beneditinos em todo o mundo. No entanto, os seus 73 capítulos também podem ser aplicados à vida familiar, para ajudar todos a crescer no amor de Deus e no amor fraternal. Aqui estão seis regras simples, inspiradas na tradição beneditina, que você também pode aplicar em casa.

1
COMER JUNTOS

Drazen Zigic – Shutterstock

São Bento escreveu que, na hora das refeições, “todos os irmãos juntos recitam o versículo e rezam. Depois sentam-se todos à mesa ao mesmo tempo” (n. 43). Numa família, porém, os membros podem jantar em horários diferentes, ou mesmo em salas diferentes.
Numa época em que a atividade e o relaxamento acontecem frequentemente fora de casa, é uma boa ideia que todos se reúnam para jantar.

É uma boa forma de fortalecer os laços familiares, recarregar baterias com os entes queridos, partilhar dificuldades e encontrar apoio, mas também trocar ideias e transmitir valores. Você tem que encontrar tempo para se interessar por seus entes queridos e ouvir uns aos outros.

2
FAÇA FAVORES MÚTUOS

Supavadee butradee | Obturador

Entre os monges, a Regra estabelece que todos devem estar ao serviço dos outros e que ninguém deve estar “isento do serviço de cozinha”, porque este serviço “aumenta a recompensa e faz crescer o amor” (n. 35).

Também é importante que todos na família se tornem úteis à sua maneira. Mesmo quando os pais cuidam da casa, todos podem ajudar a torná-la mais bonita, arrumada e acolhedora. Isto não só aliviará o fardo do trabalho doméstico, mas também aumentará o nosso amor um pelo outro.

3
COMPARTILHE SUAS LEITURAS

Obturador

Depois do jantar, os monges sentam-se juntos e leem livros que podem “ouvir com benefício” (nº 42). A tradição monástica permite momentos de relaxamento após o dia de trabalho.

Da mesma forma, em família, com filhos, mas também com o cônjuge, é uma boa ideia adquirir o hábito de ler juntos, sejam belas histórias edificantes ou passagens bíblicas. Isto incentivará o diálogo e a comunhão e criará momentos alegres e inesquecíveis.

4
PLANEJE MOMENTOS DE ORAÇÃO

Doidam 10-Shutterstock

Nos mosteiros, cada dia é marcado pela oração. Ao som dos sinos, os monges interrompem as atividades manuais e rezam juntos. Como nos lembra São Bento, “o profeta disse: ‘Sete vezes por dia te louvei’” (n. 16). Embora este princípio seja difícil de aplicar à vida familiar, é sempre possível planear momentos de oração em conjunto e cumpri-los, como de manhã, ao levantar-se, ou à noite, quando toda a família está reunida.

5
TRABALHE COM AS MÃOS

PeopleImages.com – Yuri A | Obturador

Em certos momentos, os irmãos devem estar ocupados trabalhando com as mãos porque “a preguiça é inimiga da alma” (n. 48). Para um monge beneditino, o trabalho manual é essencial e ocupa grande parte do seu dia. Na oficina ou no jardim, costurando ou cozinhando, suas mãos estão sempre ocupadas.

Como muitas famílias na Dinamarca, vocês podem se reunir aos domingos e se dedicar a atividades criativas: desenho, pintura, bordado, cerâmica, olaria, ícones... Uma ótima maneira de escapar da ociosidade e criar unidade familiar.

6
EM BUSCA DA PAZ

António Guillem | Obturador

“Quando você brigar com um irmão, faça as pazes com ele antes do pôr do sol” (n. 4). A Regra de São Bento ensina-nos a deixar de lado os ressentimentos. Não importa quem está certo, o que realmente conta é restaurar a paz e a unidade.

Com o seu cônjuge ou com os seus filhos, se quiser ter uma vida familiar feliz, é preciso cuidar para eliminar todas as tensões e discórdias, aprender a amar e saber perdoar... e fazê-lo antes que o dia acabe!

Fonte: https://es.aleteia.org/

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

O Papa: não devemos ter medo da diversidade de carismas na Igreja

A diversidade de carisma na Igreja (Canção Nova)

Francisco recorda na mensagem de vídeo que "já nas primeiras comunidades cristãs, diversidade e unidade estavam muito presentes e numa tensão que deve ser resolvida a um nível superior. Mais ainda. Para avançar no caminho da fé necessitamos também do diálogo ecumênico com os irmãos e irmãs de outras confissões e comunidades cristãs".

https://youtu.be/z1xCsbgZijM

Vatican News

"Pelo dom da diversidade na Igreja" é a intenção de oração do Papa Francisco, para o mês de janeiro, divulgada na mensagem de vídeo, nesta terça-feira (02/01).

Como os primeiros cristãos

"Não devemos ter medo da diversidade de carismas na Igreja", ressalta Francisco. A diversidade de carismas, de tradições teológicas e de rituais é algo positivo. Nunca deve ser causa de divisão. "Pelo contrário, devemos alegrar-nos por vivenciar esta diversidade", diz o Papa na mensagem de vídeo. A seguir, Francisco recorda:

Já nas primeiras comunidades cristãs, diversidade e unidade estavam muito presentes e numa tensão que deve ser resolvida a um nível superior. Mais ainda. Para avançar no caminho da fé necessitamos também do diálogo ecumênico com os irmãos e irmãs de outras confissões e comunidades cristãs. Não como algo que confunde ou incomoda, mas como um dom que Deus dá à comunidade cristã para que cresça como um só corpo, o corpo de Cristo.

A riqueza das Igrejas orientais

A seguir, Francisco convida a pensar, por exemplo, nas Igrejas Orientais: "Têm as suas tradições próprias, ritos litúrgicos característicos, mas mantêm a unidade da fé. Reforçam-na, não a dividem".

Em comunhão com Roma, há numerosas Igrejas orientais, como são os católicos bizantinos, a Igreja Greco-católica ucraniana ou a Igreja Greco-melquita. Outros exemplos da diversidade de ritos no seio do catolicismo são a Igreja Siro-malabar e a Igreja Católica Siro-malancar, surgidas ambas na Índia; a Igreja Maronita, de origem libanesa; a Igreja Católica Copta, de origem egípcia; a Igreja Católica Armênia; a Igreja Caldeia, predominante no Iraque; assim como a Igreja Católica Etíope-Eritreia, entre outras.

Segundo o Papa, "se formos guiados pelo Espírito Santo, a riqueza, a variedade, a diversidade nunca provocam conflito. O Espírito recorda-nos que, acima de tudo, somos filhos amados de Deus. Todos iguais no amor de Deus e todos diferentes".

Rezemos ao Espírito para que nos ajude a reconhecer o dom dos diferentes carismas nas comunidades cristãs e a descobrir a riqueza das diferentes tradições rituais dentro da Igreja Católica.

Unidos diante da cruz

O fio condutor do Vídeo do Papa deste mês é a cruz, símbolo de unidade e diversidade: uma cruz que aparece nas portas, nas montanhas, nas igrejas, para mostrar a riqueza das diferentes comunidades cristãs, precisamente nas suas diferenças. “A cruz não é uma estaca dos romanos, mas o madeiro no qual Deus escreveu o seu Evangelho”, escreveu a poetisa Alda Merini; é muito mais que um objeto de devoção, em suma, o mistério de amor diante do qual se encontram todos os cristãos, para além da sua confissão, tradição e rito.

A videomensagem do Papa termina com a imagem de uma enorme cruz formada por milhares de cristãos de diversas origens, retomando metaforicamente o apelo do Santo Padre.

O mês de janeiro é marcado, no hemisfério norte, pela Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que neste ano se celebra com o lema “Amarás o Senhor teu Deus... e ao teu próximo como a ti mesmo” extraído do capítulo 10 versículo 27 do Evangelho de Lucas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

É preciso ir mais longe

A Encarnação do Filho de Deus (Canção Nova)

É PRECISO IR MAIS LONGE

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Mateus começou explicando a genealogia de Jesus, que o ligava à multidão que perpassava a história da salvação, mas ainda era pouco. Era preciso aprofundar a compreensão, pois Ele não cabia na história da terra. 

João tem uma revelação feliz, e ao exclamar em poucos versículos, dizendo: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito” (Jo 1,1-3), ele empurra essa história ao infinito. 

Empurrados para o infinito a razão e a emoção humanas tentam voltar para onde conhece. Tenta novamente estabelecer limites e traçar uma linha que se proíbe de passar. 

É verdade que o infinito é abissal. A maioria dos joelhos tremem só de chegar perto do precipício, e o infinito de onde o Verbo de Deus vem e fala é ainda mais abissal. É descomunal e nem temos uma palavra adequada para exprimi-lo. De qualquer modo, a opção real é ser mais, e não menos, na tentativa dessa compreensão. 

Paulo lutou sua vida toda para não deixar regredir à finitude da lei aquilo que o amor havia alargado. 

Ao dar várias respostas sobre o que era o amor e nenhuma resposta sobre a verdade, Jesus a condiciona ao próprio amor, pois a verdade que não diz respeito ao amparo e ao cuidado do outro é verdade maldita. A verdade, portanto, não é necessariamente boa, pois sua proclamação não torna um ato iniquo bom nem justificado. Assim como a lei não basta, a verdade muitas vezes não basta, principalmente se mantemos a ultrapassada versão filosófica de verdade construída e menos a de verdade como descoberta. 

Verdade construída é aquele forjada nos limites da razão que se materializa como uma afirmação exata, enquanto a verdade como descoberta não decide de antemão, mas deixa vir à tona aquilo que é em sua essência, mas que pode ainda estar velado. 

Ao aproximar-se dessa verdade, Jesus ver em Mateus um Mateus escondido. A verdade construída é que ele era um pecador odioso; a verdade construída sobre Saulo é que ele era um assassino, mas em ambos os casos Jesus viu neles o que eles poderiam ser. 

Essa verdade, portanto, é um ato de coragem de deixar ser aquilo que em realidade é. Sem decidir sobre sua bondade. É por isso também que João dirá mais tarde: “a verdade vos fará livres”.  Mas como pode a verdade nos libertar? Eis uma questão urgente. 

O desprendimento diante daquilo que em verdade é, liberta da tentação de decidir a respeito de tudo e a respeito de tudo impor o peso do condicionamento. Deixar vir à luz a face oculta do mundo é uma espera paciente de observadores que testemunham o desvelar de Deus na história, sem se escandalizar. 

A paciência de Gamaliel em At 5,34ss, ao aconselhar os demais fariseus a não aprisionarem Deus a sua verdade é exemplar, pois como disse mais tarde, se for de Deus permanecerá, se não for passará. Gamaliel confecciona a fórmula para se livrar da verdade enferma, que ao ser decidida antes, não deixa sobressair a própria verdade. Essa é a contradição entre a verdade de Pilatos e a de Jesus. 

A verdade de Jesus liberta porque vai além de tudo que estava posto e abre um mundo novo. A verdade de Pilatos limitava-se àquela construída pelo império, a dos fariseus às verdades forjadas em sua tradição duvidosa, portanto insuficientes. 

A verdade, em Jesus, completa-se com muitas outras coisas, e nem é a mais importante quando comparada ao amor. De fato, Paulo disse que mais importante são o amor, a fé e a esperança. Pois, no fim de tudo Jesus mesmo é a verdade. Então já não falamos mais de verdade como um conceito, mas como uma pessoa que se revelou desde a eternidade. É por isso que precisamos ir ainda mais longe!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Como rezar o terço? Um guia ilustrado

Sasapin Kanka | Shutterstock
Por No colo de Maria - publicado em 18/06/18
Para recordar e compartilhar

A oração do Terço (ou Rosário) é uma oração milenar da igreja. Somente um coração puro, humilde e de fé compreende o valor desta oração. Ela é destinada aos que buscam ter um coração puro como de uma criança. Mas como rezar o terço corretamente?

Muitos têm dúvidas sobre algumas orações das orações recitadas no terço ou mesmo não descobriram ainda a riqueza que é esta oração. Por isso, preparamos este artigo explicando de forma bem didática como rezar o terço e o texto das orações.

Imagem ilustrativa

A partir da cruz, siga as orações na sequência indicada:

  • Inicia-se segurando pela cruz, com a oração do Creio
  • Reza-se um Pai-Nosso, seguido de três Ave-Maria (Cada Ave-Maria é precedida de uma oração. Vide orações abaixo)
  • Recita-se: Glória ao Pai, ao Filho…
  • O terço possui 5 dezenas. A cada dezena contempla-se o mistério, seguido de 1 Pai-Nosso e 10 Ave-Maria
  • Ao final de cada dezena reza-se Glória ao Pai seguido da jaculatória Oh! meu bom Jesus… (vide orações abaixo)
  • Ao concluir as 5 dezenas, reza-se os agradecimentos

Orações do Santo Terço

Orações do Santo Terço na sequência da oração.

Oferecimento do Terço

Divino Jesus, eu vos ofereço este terço (Rosário) que vou rezar, contemplando os mistérios de nossa Redenção. Concedei-me, pela intercessão de Maria, vossa Mãe Santíssima, a quem me dirijo, as graças necessárias para bem rezá-lo para ganhar as indulgências desta santa devoção.

Creio em Deus Pai

Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.

Pai Nosso

Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossa ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

Ave Maria

Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

  • A primeira Ave-Maria em honra a Deus Pai que nos criou
  • A segunda Ave Maria a Deus Filho que nos remiu: [Ave-Maria…]
  • A terceira Ave Maria ao Espírito Santo que nos santifica: [Ave-Maria…]
  • Amém.

Glória ao Pai

Glória ao Pai, ao Filho e o Espírito Santo. Como era no princípio, agora é sempre. Amém.

Oh! Meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem. Amém.

Na oração do Rosário contemplam-se todos os mistérios. No caso da oração do Terço, contempla-se um dos mistérios, conforme dias e mistérios a seguir:

Mistérios Gozosos (segundas e sábados, e nos domingos do Advento)

  1. Anunciação do Arcanjo São Gabriel à nossa Senhora. No primeiro mistério contemplemos a Anunciação do Arcanjo São Gabriel à Nossa Senhora.
  2. A visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel. No segundo mistério contemplemos a Visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel.
  3. O nascimento de Jesus em Belém. No terceiro mistério contemplemos o Nascimento do Menino Jesus em Belém.
  4. A apresentação do Menino Jesus no Tempo. No quarto mistério contemplemos a Apresentação do Menino Jesus no templo e a Purificação de Nossa Senhora.
  5. Encontro de Jesus no Templo entre os Doutores da Lei. No quinto mistério contemplemos a Perda e o Encontro do Menino Jesus no templo.

Mistérios Dolorosos (terças e sextas-feiras, e domingos da Quaresma até a Páscoa)

  1. A agonia de Jesus no Horto das Oliveiras. No primeiro mistério contemplemos a Agonia de Cristo Nosso Senhor, quando suou sangue no Horto.
  2. A flagelação de Jesus atado à coluna. No segundo mistério contemplemos a Flagelação de Jesus Cristo atado à coluna.
  3. A coroação de espinhos de Jesus. No terceiro mistério contemplemos a Coroação de espinho de Nosso Senhor.
  4. A subida dolorosa do Calvário. No quarto mistério contemplemos Jesus Cristo carregando a Cruz para o Calvário.
  5. A morte de Jesus. No quinto mistério contemplemos a Crucificação e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mistérios Gloriosos (quartas-feiras e domingos da Páscoa até o Advento)

  1. A ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. No primeiro mistério contemplemos a Ressurreição de Cristo Nosso Senhor.
  2. A ascensão admirável de Jesus Cristo ao céu. No segundo mistério contemplemos a Ascensão de Nosso Senhor ao Céu.
  3. A vinda do Espírito Santo. No terceiro mistério contemplemos a Vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos reunidos com Maria Santíssima no Cenáculo em Jerusalém.
  4. A assunção de Nossa Senhora no Céu. No quarto mistério contemplemos a Assunção de Nossa Senhora ao Céu.
  5. A coroação de Nossa Senhora no Céu. No quinto mistério contemplemos a Coroação de Nossa Senhora no Céu como Rainha de todos os anjos e santos.

Mistérios Luminosos (quinta-feira)

  1. Batismo de Jesus no rio Jordão. No primeiro mistério contemplemos o Batismo de Jesus no rio Jordão.
  2. Autorrevelação de Jesus nas Bodas de Caná. No segundo mistério contemplemos a Autorrevelação de Jesus nas Bodas de Caná.
  3. Anúncio do Reino de Deus. No terceiro mistério contemplemos o Anúncio do Reino de Deus.
  4. Transfiguração de Jesus. No quarto mistério contemplemos a Transfiguração de Jesus.
  5. Instituição da Eucaristia. No quinto mistério contemplemos a Instituição da Eucaristia.

Agradecimentos

Infinitas graças vos damos, Soberana Rainha, pelos benefícios que todos os dias recebemos de vossa mão liberais. Dignai-vos, agora e para sempre, tomar-nos debaixo do vosso poderoso amparo e para mais vos obrigar vos saudamos com uma Salve Rainha:

Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro nos mostrai a Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó Clemente, ó Piedosa, ó Doce, sempre virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,

R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.

(via No colo de Maria)

Fonte: https://pt.aleteia.org/

CATEQUESE - O Papa: a vida espiritual do cristão exige um combate contínuo

Audiência Geral do dia 03/01/2024 (Vatican News)

Na catequeses da Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco falou sobre "O combate espiritual". "Todos somos tentados e temos de lutar para não cair nessas tentações", disse o Papa, acrescentando que "Jesus nos acompanha. Jesus nunca nos deixa sozinhos".

https://youtu.be/TIVlyD7IMPQ

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"O combate espiritual" foi o tema da segunda catequese do Papa Francisco, na Audiência Geral, desta quarta-feira (03/01), no âmbito do ciclo de catequeses sobre "Vícios e virtudes".

No encontro semanal do Pontífice com os fiéis realizado, na Sala Paulo VI, no Vaticano, Francisco disse que esse tema "recorda a luta espiritual do cristão".

A vida espiritual do cristão não é pacífica

“Com efeito, a vida espiritual do cristão não é pacífica, linear e isenta de desafios, mas, pelo contrário, exige um combate contínuo. O combate cristão para conservar a fé e para enriquecer o dom da fé em nós.”

Não é por acaso que a primeira unção que todo cristão recebe no Sacramento do Batismo – a unção catecumenal – não tem perfume e anuncia simbolicamente que a vida é uma luta.

Segundo o Papa, "nos tempos antigos, os lutadores eram completamente ungidos antes da luta, tanto para tonificar os músculos quanto para fazer com que o corpo escapasse das garras do oponente. A unção dos catecúmenos deixa imediatamente claro que o cristão não é poupado da luta, que um cristão deve lutar".

Todos temos de lutar para não cair nas tentações

A seguir, Francisco recordou "um famoso ditado atribuído a Santo Antão, primeiro grande pai do monaquismo, que diz o seguinte": "Suprime as tentações, e ninguém será salvo". "Os santos não são homens que foram poupados à tentação, mas sim pessoas bem conscientes de que as seduções do mal aparecem repetidamente na vida, para serem desmascaradas e rejeitadas", disse o Papa, acrescentando:

Todos nós temos experiência disso, todos nós. Vem um pensamento ruim, um desejo de falar mal do outro. Todos somos tentados e temos de lutar para não cair nessas tentações. Se alguém de vocês não tem tentações que o diga porque seria algo extraordinário. Todos nós somos tentados e todos nós temos de aprender como prosseguir na vida nessas situações.

Ninguém está "em ordem"

Segundo o Papa, existem pessoas que, no entanto, se absolvem, que se consideram "em ordem": "Sou uma pessoa boa, não tenho problema". "Mas, nenhum de nós está em ordem e se alguém estiver em ordem, está sonhando. Cada um de nós há muitas coisas para consertar e vigiar também. Todos somos pecadores e um pouco de exame de consciência, de introversão nos fará bem", disse Francisco.

O Pontífice disse que "todos devemos pedir a Deus a graça de nos reconhecermos como pobres pecadores, necessitados de conversão, mantendo no coração a confiança de que nenhum pecado é demasiado grande para a infinita misericórdia de Deus Pai. Essa é a lição inaugural que Jesus nos dá".

Jesus acompanha todos nós pecadores

De acordo com o Papa, Jesus é um Messias muito diferente de como João Batista "o apresentou e como as pessoas o imaginavam: Ele não encarna o Deus irado e não convoca para julgamento, mas, pelo contrário, faz fila com os pecadores. Jesus acompanha todos nós pecadores. Ele não é pecador, mas está entre nós. Jesus nunca nos deixa sozinhos. Jesus entende o nosso pecado, nos perdoa e nos acompanha. Nos momentos mais difíceis, no momento em que escorregamos no pecado, Jesus está junto de nós para nos levantar e isso nos consola".

Não devemos perder essa ideia, essa realidade. Jesus está junto de nós para nos ajudar e proteger e para nos ajudar a nos levantar depois do pecado. Jesus perdoa tudo. Ele veio para perdoar, para salvar. Jesus quer apenas o nosso coração aberto. Ele nunca se esquece de perdoar. Somos nós que muitas vezes perdemos a capacidade de pedir perdão.  Retomemos a capacidade de pedir perdão. Cada um de nós tem muitas coisas para pedir perdão. Cada um pense e fale com Jesus sobre isso: Senhor, preciso que você não se afaste de mim, preciso que você me perdoe. Senhor, sou um pecador, uma pecadora, mas, por favor, não se afaste. Esta seria hoje uma bonita oração a Jesus: Senhor, não se afaste de mim.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

TEOLOGIA: Jesus Cristo age através das pessoas

Cristo Crucificado (Aleteia)
Arquivo 30Dias - 01/1998

Jesus Cristo age através das pessoas

«O antigo princípio romano, o direito, foi substituído no mundo católico pela sociologia: a liberdade é efetivamente substituída pela organização. A lei supõe os indivíduos como sujeitos livres, a organização vê os indivíduos como partes”. Um trecho do livro de Gianni Baget Bozzo, O futuro do catolicismo. A Igreja depois do Papa Wojtyla.

Um trecho do livro de Gianni Baget Bozzo, O futuro do catolicismo

«Mas o ponto em que a ideologia conciliar e a secularização da teologia têm maior impacto é na figura do sacerdote. A espiritualidade do sacerdote “outro Cristo”, aquele que o representa como causa instrumental pessoal e, portanto, uma pessoa sagrada, desapareceu completamente. O padre católico recebeu todo o impacto da secularização. Perdeu sua sacralidade. Quem é o padre hoje? Ele é o organizador do social eclesiástico: o líder da comunidade. O padre secularizado é comunitarizado, torna-se funcional para a comunidade, torna-se seu senhor e servo ao mesmo tempo, não o padre. No sacerdote a figura sacerdotal é posta de lado, já não é a verdadeira dimensão do sacerdote. Cria uma divisão entre a memória da tradição e a difusão da secularização.

O cristão sagrado é o corpo ressuscitado de Cristo, que provoca a nossa redenção, nos incorpora nele e nos dá o Espírito. É um corpo físico, assim como a sacralidade é física. O corpo glorioso de Cristo está crucificado, porque com o seu sangue ele nos redimiu do poder do Maligno. É a sacralidade da dor física e espiritual de toda a humanidade que nele se reúne. O sacerdote continua a ação redentora e divinizadora de Cristo. Como pessoa, é a continuidade da ação salvadora, no seu duplo aspecto; libertação do poder de Satanás e o dom da vida trinitária. A secularização do sacerdote é até agora uma ferida aberta dentro da Igreja. E a palavra que mais tem contribuído para impactar a figura do sacerdote como pessoa sagrada, como George, David, John como pessoa e pessoa sagrada, continuador de Cristo salvador e deificador, é a tão bela de pastoral. O sacerdote tornou-se um sujeito sem autonomia, organizado pela diocese, pelas associações, pela programação pastoral.

A graça do Espírito Santo atua na dimensão das pessoas. É sempre uma escolha do indivíduo. O papado e o episcopado monárquico são o sinal do princípio da pessoa na instituição. Jesus Cristo é uma Pessoa e age através das pessoas. Por que esta dimensão da pessoa sagrada é destruída no sacerdócio, que, no contexto da lei, tem a capacidade de fazer o que o Senhor lhe inspira? No mundo católico, o antigo princípio romano do direito foi substituído pela sociologia: a liberdade que o direito canônico confere é efetivamente substituída pela organização. O direito pressupõe os indivíduos como sujeitos livres, vinculados apenas pela norma aos limites da norma: a organização vê os indivíduos como partes. O direito é a forma da política, a organização da empresa. A organização substitui a lei, a lei exprime sempre um espaço da pessoa, a sociologia e a organização transformam o sacerdote em funcionário. A diocese deixa de ser uma comunhão e passa a ser uma organização. A “caridade pastoral” é a sociologização da caridade.

O princípio Jesus Cristo sobre o qual a Igreja está fundada é uma Pessoa e os seus instrumentos são as pessoas como pessoas. Como Cristo trabalha sempre e, como o Filho, trabalha desde a eternidade, surgem sempre verdadeiras vocações sacerdotais. Mas eles, devido à deformação eclesiástica causada pela ideologia conciliar e, portanto, pela secularização, já não operam segundo a sua essência pessoal, que vem de Cristo, mas devem sobrepor-lhe uma figura imprópria que vem da pastoral organizada. Isto acontece enquanto a questão do significado pessoal é o fenômeno social mais relevante do nosso tempo. É evidente que, se cai a sacralidade do sacerdote como pessoa que é instrumento conjunto da ação do Único Sacerdote, Cristo, também cai o celibato, que é uma figura fundamental do catolicismo como instituição. A programação pastoral só pode motivar o celibato como compromisso profissional a tempo inteiro, mas não pode dar-lhe uma figura espiritual, ligada à relação com Cristo. A pastoral desconhece a palavra essencial “vocação”, que é a ação de Cristo na alma de quem chama a ser sacerdote. A Igreja pode cultivar vocações na medida em que conduz à oração, à comunhão interior com Cristo que imprime no corpo, na alma e no espírito o dom do seu sacerdócio. E por esta razão, o seu sacerdócio deve ser restituído ao sacerdote, o seu carácter de pessoa sagrada, de alter Christus num sentido próprio e específico. Esta é precisamente a autoridade do sacerdote.

A secularização na Igreja mudou profundamente a realidade da Igreja. E a secularização é fruto da ideologia conciliar. A ideologia conciliar introduziu uma fratura com a linguagem misteriosa e mística que o próprio Concílio se propôs introduzir. O princípio do primado do social sobre o pessoal, do “grande animal político” sobre a fragilidade da pessoa, impôs-se insensivelmente como uma grande mancha em toda a Igreja.

O pontificado de Paulo VI encontrou-se no centro deste conflito entre os documentos do Concílio Vaticano II e a ideologia conciliar. O esforço do Papa visava manter o Concílio em continuidade com a renovação iniciada por Pio XII. Manter o impulso nascido do Vaticano II com a continuidade da Tradição, da qual Pio XII foi a última atualização eficaz, foi o esforço de Paulo VI. Mas a ideologia conciliar operou na Igreja de uma forma mais poderosa do que a autoridade do Papa. O drama do pontificado de Paulo VI foi o de temer uma ruptura com as alas extremas. Queria manter tudo na Igreja, desde o tradicionalismo que negava o Concílio até aos impulsos mais extremos de secularização, valorizando aquelas posições que poderiam parecer intermédias, como as da Companhia de Jesus, com as quais Paulo VI abriu, no entanto, um conflito inicial ". Gianni Baget Bozzo, O futuro do catolicismo. A Igreja depois do Papa Wojtyla , Casale Monferrato (Al), Piemme, 1997, pp.113-115.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF