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terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Papa: que o exemplo de Carlo Acutis inspire os crismandos!

Reunião do Papa Francisco com 7.000 jovens do sul da Itália, na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Aos mais de sete mil crismandos, Francisco propôs o exemplo de um jovem, Carlo Acutis, que usou a internet para evangelizar. E indicou três características do beato: oração, testemunho e caridade.

Vatican News

Grande festa na Sala Paulo VI para o encontro do Papa Francisco com os crismandos da arquidiocese de Bari-Bitonto, no sul da Itália.

Acolhido com cantos e muita animação, o Pontífice recordou que o Sacramento da Crisma também é chamado “Confirmação”, porque confirma o dom e o compromisso do Batismo. Francisco reforçou a importância de conhecer a data do batizado, não só as crianças, mas também pais e catequistas. E festejá-la como um segundo aniversário, com bolo e velas. “Um bolo a mais não é mal!”

Trata-se de uma “data importantíssima”, afirmou, porque nascemos para vida cristã, para a vida em Jesus, que dura para sempre, é eterna! Depois, se entra na grande família da Igreja e se recebe a maior herança que existe: o paraíso! Com a Crisma, tudo isto é confirmado, ou seja, se torna mais forte, graças ao Espírito Santo e à própria Igreja, que nos confia a tarefa de anunciar Jesus e o seu Evangelho. A quem recebe o sacramento, cabe a tarefa de vivê-lo como uma missão, como protagonistas e não expectadores.

Carlo Acutis, exemplo de oração, testemunho e caridade

Francisco propôs então o exemplo de um jovem como eles, Carlo Acutis, que usou a internet para evangelizar. E indicou três características do beato: oração, testemunho e caridade.

Carlo passava muito tempo com Jesus, especialmente na Missa, da qual participava diariamente. Rezava diante do Tabernáculo para depois anunciar a todos, com as palavras e os gestos de amor, que Deus nos ama e nos espera sempre.

“Então, jovens, enquanto se aproxima o dia da Crisma, proponho que também vocês façam assim. Vão até Jesus, encontrem-No, para depois dizer a todos que é belo estar com Ele, porque nos ama e nos espera sempre! Ou melhor, vamos dizê-lo juntos agora: Jesus nos ama e nos espera sempre!”

O Papa os incentivou a gritar esta mensagem não só com as palavras, mas sobretudo com os gestos de amor, ajudando os outros, especialmente os mais necessitados.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Jacinta de Marescotti

Santa Jacinta de Marescotti (A12)
30 de janeiro
Santa Jacinta de Marescotti

Clarisse era a segunda de três irmãs da família Marescotti, pertencente à nobreza italiana. Nasceu em 1585 em Vignanello, província de Viterbo próximo a Roma. Recebeu requintada educação e boa formação cristã, que a princípio valorizou. Mas, crescendo, agradou-se das vaidades do mundo. E, embora posta para ser educada no mesmo convento de religiosas onde sua irmã mais velha (que levou uma vida santa) já estava, não demonstrava desejo de ser religiosa, entretendo-se apenas com futilidades.

Voltou para casa e, bonita, culta, independente, levava uma vida cheia de luxo e vaidades, frequentando as diversões e festas da alta sociedade. Desejava se casar, e interessou-se pelo jovem marquês de Capizucchi. Este, porém, veio a desposar sua irmã mais nova, o que lhe causou grande decepção, despeito e inveja. E também revolta contra o pai (na época, os casamentos muitas vezes eram decididos pelas famílias), numa atitude altiva e insolente, aborrecendo-o com intratáveis caprichos.

O pai a intimou a fazer-se religiosa, ao que ela afinal acedeu, tornando-se Terciária franciscana (para não ficar enclausurada), no Mosteiro de São Bernardino em Viterbo, onde recebeu o nome de Jacinta. Mas os seus gostos e caráter não mudaram com o seu estado, mesmo dentro do convento vivia em vaidade. Manteve o voto de castidade, porém desprezou os de obediência e pobreza: mandou construir um quarto particular, que mobiliou com luxo e decorou com suntuosidade, onde muitos amigos iam visitá-la; usava roupas de seda e era servida por duas noviças. Quanto aos deveres que a regra lhe impunha, somente os cumpria com negligência e por simples obrigação.

Os defeitos, contudo, não haviam obscurecido totalmente algumas qualidades. Tinha um amor particular à pureza, um profundo respeito aos mistérios da religião e uma grande submissão à vontade dos pais, o que aliás a levou ao convento. Manifestações, certamente, da boa educação espiritual recebida na infância e abafadas, mas não mortas, na alma.

Jacinta viveu assim, escandalosamente, por muitos anos. Mas Deus dispôs as condições que a poderiam levar de volta ao bom caminho. O assassinato do pai, que a fez questionar a segurança proporcionada pela nobreza e pela riqueza, e depois uma grave doença, levaram Jacinta a mudar de vida.

perigo da morte a fez querer confessar-se, mas o sacerdote, chocado com o luxo absurdo e inoportuno do seu quarto, recusou-se a nele entrar para atendê-la, e a repreendeu severamente. Assustada, impressionada e sinceramente arrependida, ela então fez entre lágrimas uma confissão geral da sua vida. Pediu humilde e heroicamente perdão às irmãs de comunidade, recebendo delas a promessa de orações e ajuda para perseverar na conversão. O que foi realmente necessário, pois não tão rapidamente a conseguiu. Ficou curada quase milagrosamente, e afinal, pela graça e pelos remorsos da consciência, tornou-se exemplo heroico de mortificação, pobreza e doação ao próximo, até a morte.

No convento, esteve atenta ao bem que também podia fazer fora. Durante uma epidemia que devastou Viterbo, fundou e dirigiu duas associações, os “Oblatos de Maria”, com a ajuda financeira de velhos amigos: uma recolhia esmolas para os convalescentes, os mendigos e os presos; e na outra os “Sacconi” (assim eram chamados por usarem sacos de estopa durante o serviço), enfermeiros, ajudavam os doentes num hospital especialmente construído. As duas associações ainda existem em Viterbo. Tudo o que Jacinta recebia, oferecia aos pobres. Seu exemplo levou muitos a retornarem à fé, da qual tinham se distanciado.

 Faleceu em 30 de janeiro de 1640 em Viterbo, com 55 anos, de um mal agudo e violento que em algumas horas a levou para o Céu.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O que mais chama a atenção na vida de Santa Jacinta Marescotti é, naturalmente, a sua radical mudança de vida, da futilidade vazia à heroica caridade. Caminho difícil, sempre, mas deve-se lembrar que não é preciso esperar por situações trágicas que nos motivem a sermos santos, ainda que muitas vezes as tragédias sejam, talvez, um misericordioso último recurso de Deus para salvar uma alma, como aconteceu com ela. É preciso atenção para que a juventude, a beleza, as posses, a nobreza, enfim, boas coisas, não acabem se tornando ruins por nos afastarem de Deus, se as buscamos antes do que a Ele. Porém há um aspecto mais sutil da vida de Santa Jacinta, que deve também nos chamar a atenção. É o valor da fervorosa educação religiosa das crianças, que planta insuspeitas sementes, propícias a florescer mesmo muito depois e em circunstâncias adversas. Não fosse por estas boas raízes, talvez Jacinta nem entrasse no convento, correndo ainda maior risco na vida leviana do mundo, até e também na sua castidade. Mas foi com este pouco, esta “recordação espiritual”, que Deus trabalhou a sua alma, até a salvação. Não negligenciem os pais católicos de educar bem os filhos na Fé, pelo exemplo e pela palavra, pois não só esta vida depende deste cuidado, que é também obrigação.

Oração:

Senhor Deus e nosso Pai, que sempre nos quer educar na Verdade, concedei-nos por intercessão de Santa Jacinta Marescotti a permanente coragem do arrependimento e conversão sinceras, a graça de resistir aos apelos do mundo, e a humildade de cumprirmos fielmente todas as nossas tarefas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Maria, Vossa Mãe, que em tudo foram obedientes a Vós. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

A Vida sem Deus

A vida sem Deus (Opus Dei)

A Vida sem Deus

Deus é um Pai amoroso que criou o homem para alcançar a felicidade. Mas o homem desobedeceu e colocou a si mesmo antes do Amor de Deus.

12/06/2018

O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica começa com esta pergunta: “Qual é o plano de Deus para o homem?” E responde: “Deus, infinitamente bem-aventurado e perfeito em si mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada”[1]. Isto é, Deus criou o ser humano para ser feliz, e o caminho para consegui-lo é estar com Ele (cfr. Mc 3,13), para participar de sua vida feliz. Todos os ensinamentos de Jesus são dirigidos a esta felicidade: "Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa" (Jo 15,11). Deus Pai, como todos os pais do mundo, quer que os seus filhos sejam felizes.

ESTE DESÍGNIO DE DEUS INSCREVE-SE NA PARTE MAIS ÍNTIMA DO NOSSO SER: O SER HUMANO PROCURA, DESEJA E PERSEGUE A FELICIDADE EM TODO O SEU AGIR

Este desígnio de Deus, anseio de um amor pleno, inscreve-se na parte mais íntima do nosso ser: o ser humano procura, deseja e persegue a felicidade em todo o seu agir e, especialmente, em todos os seus desejos e amores. Já passaram vinte e três séculos desde que Aristóteles percebeu isso e escreveu no primeiro capítulo de sua Ética a Nicômaco, que todos os seres humanos concordam que a felicidade é o bem supremo, em vista do qual escolhemos todos os outros bens (saúde, sucesso, honra, dinheiro, prazeres etc.)[2].

A realidade

Em teoria, qualquer pessoa sabe disso e poderia dizer: “O que eu quero é ser feliz”. Mas ainda assim algo falha, porque muitas vezes o homem não consegue alcançar a felicidade. Talvez tenhamos tido a experiência de olhar os rostos das pessoas ao nosso redor durante uma viagem de metrô ou ônibus e descobrir rostos marcados por tristeza, angústia e dor. “As pessoas morrem e não são felizes”, sentenciou um escritor ateu do século XX com certo pessimismo. E pode ser que nos perguntemos interiormente: “Senhor, o que acontece?”

O plano da Criação incluía a nossa felicidade, mas algo deu errado. Nem sempre conseguimos ser felizes e, muitas vezes, talvez por isso mesmo, não conseguimos tornar os outros felizes. Além disso, não raramente causamos sofrimento uns aos outros, agindo de maneira cruel e perversa. Muitas vezes, temos que dizer: “Senhor, tenha misericórdia do seu povo! Senhor, perdão por tamanha crueldade!” [3], como rezava o Papa Francisco durante sua visita a Auschwitz-Birkenau, na Jornada Mundial da Juventude de 2016. Mais tarde naquela noite, dirigindo-se à multidão da janela da sede da arquidiocese, acrescentou: “Eu estive em Auschwitz, em Birkeanu. Quanta dor, quanta crueldade! É possível que nós, seres humanos, criados à semelhança de Deus, sejamos capazes de fazer essas coisas?”.

O que acontece? Por que tantas pessoas não são felizes? Por que realidades que prometem tanta felicidade – amizade, laços familiares, relações sociais, as coisas criadas – às vezes são fonte de tanta insatisfação, amargura e tristeza? Como é possível que nós, os seres humanos, sejamos capazes de produzir tanto mal? As respostas a essas perguntas dolorosas e pungentes concentram-se em uma palavra: o pecado.

Inimigo da felicidade

Etimologicamente, a palavra “pecado” vem do latim peccatum, que significa: “crime, falta ou ação culpável”. Em grego, o idioma do Novo Testamento, “pecado” é chamado hamartia, que significa: “falha do objetivo, errar o alvo”, e se aplicava especialmente ao guerreiro que falhasse no alvo com a sua lança. Finalmente, em hebraico, a palavra comum para “pecado” é jattá'th, que também significa errar no sentido de não atingir um objetivo, caminho, meta ou alvo exato.

O PLANO DA CRIAÇÃO INCLUÍA A NOSSA FELICIDADE, MAS 'ALGO' DEU ERRADO

Assim sendo, um primeiro significado do pecado é errar o alvo. Lançamos uma flecha direcionada para a felicidade, mas perdemos o tiro. Neste sentido o pecado é um erro, um trágico engano e, simultaneamente, uma farsa: procuramos a felicidade onde ela não está (como na fama ou no poder), tropeçamos em nosso caminho até ela (por exemplo, acumulando bens supérfluos que cegam o nosso coração às necessidades dos outros) ou, pior, confundimos nosso desejo de felicidade com outro amor (como no caso de um amor infiel). Mas sempre, por trás do pecado, está a busca de um bem – real ou aparente – que pensamos que nos fará felizes. Não entenderemos o pecado enquanto não soubermos detectar o anseio frustrado de felicidade que o gera. Como Jesus disse: “Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e insensatez” (Mc 7,21-22). Às vezes, um desejo insistente por algo que é pecado procede de uma carência no desejo fundamental de amor. Sentimos angústia e tristeza, e pensamos – erroneamente – resolvê-la dessa forma. Por exemplo, quem se sente pouco amado e carece de fortes laços afetivos, seja com Deus, com a própria família ou amigos, prontamente reagirá com desconfiança e agressividade, inclusive com injustiça, às pretensões alheias, para proteger-se e sentir-se seguro; ou procurará um substituto para esse amor nos relacionamentos descartáveis, no prazer ou nas coisas materiais.

Somente o amor de Deus sacia[4]. Bento XVI o expressa desta forma: “A felicidade é algo que todos querem, mas uma das maiores tragédias deste mundo é que muitas pessoas nunca a encontram, porque a procuram nos lugares errados. A chave para isso é muito simples: a verdadeira felicidade se encontra apenas em Deus. Precisamos ter a coragem de depositar nossas mais profundas esperanças somente em Deus, não no dinheiro, na carreira, no sucesso ou em nossos relacionamentos pessoais, mas em Deus. Só ele pode satisfazer as necessidades mais profundas do nosso coração”[5]. Por outro lado, quando nos esquecemos d’Ele, é fácil ver a frustração, a tristeza e o desespero, consequências de um coração insatisfeito. Por esta razão, o conselho de São Josemaria é cheio de significado: “Não te esqueças, filho, que para ti na terra há apenas um mal, que deves temer e evitar com a graça divina: o pecado”[6].

Ofensa a Deus, Pai amoroso

O Compêndio do Catecismo define o pecado como “uma ofensa a Deus, na desobediência a seu amor”[7]. Muitas pessoas, no entanto, se perguntam: “É realmente importante para Deus ou O afeta aquilo que eu faço ou inclusive o que eu penso? Como posso ferir a Deus? Deus pode sofrer, padecer? Como posso ofender a Deus, que é absolutamente transcendente?”

“É REALMENTE IMPORTANTE PARA DEUS OU O AFETA AQUILO QUE EU FAÇO OU INCLUSIVE O QUE EU PENSO? COMO POSSO OFENDER A DEUS?”

Se por ofensa entendemos causar um dano, evidentemente nada do que fazemos pode ofender a Deus. Nada que eu possa fazer lesa a Deus. Mas Deus é Amor, é um Pai cheio de amor por seus filhos e pode se compadecer de nós. Além disso, Deus se tornou um de nós, para tomar sobre si os nossos pecados e nos redimir. Bento XVI explicava isso em sua segunda encíclica: “Bernardo de Claraval cunhou a maravilhosa expressão: Impassibilis est Deus, sed non incompassibilis. Deus não pode padecer, mas pode compadecer. O homem tem um valor tão grande para Deus que se tornou homem para poder compadecer Ele próprio com o homem, de uma maneira muito real, em carne e osso, como nos conta a história da Paixão de Jesus. Por esta razão, em cada dor humana entrou aquele que compartilha o sofrer e o padecer. Daí que, em cada sofrimento, se difunde a con-solatio, o consolo do amor participado de Deus”[8]. São Paulo usará uma frase forte para se referir ao mistério de Cristo: “Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós” (2 Cor 5,21).

De certo modo, Deus sofre porque o nosso pecado nos fere. Deus não é um ser caprichoso que transforma em pecado as ações que são por si só indiferentes, e as proíbe para que Lhe demonstremos nossa obediência evitando-as. Ele é um Pai amoroso que nos diz o que pode nos prejudicar e impedir a felicidade a que somos chamados. Seus mandamentos poderiam ser comparados a um manual de instruções do homem – deve-se considerar que o conteúdo deste manual foi inscrito de alguma forma na natureza criada do homem, e se dirige espontaneamente à sua consciência, sem a necessidade de abrir as páginas do manual – para alcançar a própria felicidade e não impedir a alheia.

O pecado lesa o amor que Deus tem por nós, esse amor que quer nos fazer felizes. De alguma forma, quando pecamos, é como se Deus se lamentasse em lágrimas: “Mas o que você está fazendo, meu filho? Você não percebe que isso machuca você e meus outros filhos? Não o faça! Não se engane! Veja que no pecado você não encontra o que anseia, a felicidade, mas pelo contrário! Acredite em mim!”. É neste sentido que se diz que o pecado é “ uma ofensa a Deus, na desobediência a seu amor”[9]. Com nossas obras pecaminosas, nós ofendemos o seu amor, duvidamos dele.

É bom acrescentar que Deus nunca fica bravo conosco. Ele nunca revida, mesmo quando pecamos. Nesses momentos, é como se Ele estivesse sofrendo conosco e por nós em Cristo. Clemente de Alexandria dizia que “no seu grande amor pela humanidade, Deus vai atrás do homem como a mãe voa sobre o passarinho pequeno quando este cai do ninho; e se a serpente ameaça devorá-lo, esvoaça gemendo sobre os seus filhotes (cfr. Dt 32, 11). Assim Deus busca paternalmente a criatura, cura-a da sua queda, persegue a besta selvagem e recolhe o filho, animando-o a voltar, a voar para o ninho”[10]. Deus é assim!

O PECADO NOS AFASTA DE DEUS. MAS ISSO NÃO É VERDADE DO PONTO DE VISTA DE DEUS, MAS DO NOSSO. DEUS NÃO DEIXA DE NOS AMAR.

Deus é como o pai da parábola do filho pródigo, vigiando o horizonte para o caso de que seu filho pecador retorne (cfr. Lc 15,11-19). O pecado nos afasta de Deus. Mas isso não é verdade do ponto de vista de Deus, mas do nosso. Há abundantes passagens do Evangelho em que Jesus Cristo procura lidar com os pecadores e os defende contra os ataques dos escribas e fariseus. Deus não se afasta de nós, não deixa de nos amar. A distância é criada em nosso coração, da pele para dentro. Mas Deus ainda está ligado a nós. Somos nós que nos fechamos ao seu amor. E um passo de nossa parte é o suficiente para que a sua misericórdia entre em nossas almas. “Levantou-se e veio ao encontro do seu pai. Quando ele ainda estava longe, seu pai o viu e comoveu-se em seu interior e, correndo, lançou-se ao pescoço e cobriu-o de beijos”(Lc 15,20). O pecado é o inimigo número um da felicidade, mas tem pouco poder diante da misericórdia de Deus: “Somos todos pecadores. Mas Ele nos ama, nos ama”[11]. Essa é a nossa esperança.

Atentado à solidariedade humana

Depois de discutir a ofensa contra Deus, o Compêndio acrescenta que o pecado, todo pecado, “fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana”[12]. Na verdade, os dois elementos estão unidos, porque o homem é social por natureza. Mas reparemos na segunda parte: atenta contra a solidariedade humana. Diante dessa afirmação, algumas pessoas questionam: “Por que o pecado pessoal é mau, se não interessa a outras pessoas, se eu não faço mal a ninguém?” Na verdade, já vimos que, com o pecado, eu sempre magoo alguém: eu mesmo. E, precisamente por causa disso, ofendo a Deus. Mas agora se trata de ver que todo pecado, mesmo o mais oculto, fere a unidade dos seres humanos.

O Gênesis descreve como o primeiro pecado rompe o fio da amizade que unia a família humana. Depois da queda, o homem e a mulher são mostrados como se estivessem apontando um para o outro com o dedo acusador: “A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi” (Gn 3,12), diz Adão. A relação entre eles, antes marcada pelo encanto amoroso, vem sob o signo do desejo e da dominação: “Teus desejos te arrastarão para teu marido, e ele te dominará” (Gn 3,16), diz Deus a Eva[13].

O PECADO SEMEIA DIVISÃO NOS CORAÇÕES DOS SERES HUMANOS E SE INTERPÕE NA SUA CAMINHADA CONJUNTA PARA A FELICIDADE.

São João Paulo II o explicava da seguinte maneira: “Visto que com o pecado o ser humano se recusa a submeter-se a Deus, seu equilíbrio interno também é quebrado e as contradições e conflitos são desencadeados dentro dele. Dilacerado dessa maneira, o ser humano quase inevitavelmente provoca uma ruptura em suas relações com outros seres humanos e com o mundo criado”[14]. De fato, aqueles que se deixam levar por pecados internos de ressentimento ou crítica já estão tratando os outros injustamente, e é impossível que eles não se manifestem externamente na omissão do amor devido ao próximo, ou mesmo em faltas externas de caridade com ele. Quem comete pecados de impureza, mesmo que sejam interiores, corrompe sua capacidade de olhar e, portanto, de amar, e já está tratando os outros, pelo menos alguns, como objetos, e não como pessoas. Quem só pensa egoisticamente em seu benefício, dificilmente pode parar de cometer injustiças e maltratar o ambiente que compartilha com os outros. Em resumo, o pecado introduz uma divisão interna na pessoa, uma perda de liberdade tal que “não é incomum que a pessoa faça o que não quer e deixe de fazer o que gostaria. Por essa razão, sente em si mesma a divisão que provoca na sociedade tantas e tão sérias discórdias”[15].

O pecado semeia divisão nos corações dos seres humanos e se interpõe na sua caminhada conjunta para a felicidade. Dada a sua dureza, poderia se insinuar a tentação do pessimismo e da tristeza, especialmente se deixarmos de olhar para Cristo. Contemplar a passagem de Jesus carregando a cruz, com dor mas sereno, frágil mas majestoso, enche-nos de esperança e otimismo, porque por mais grandiosas que sejam as nossas misérias e pecados, aí está Ele, que com “a sua queda nos levanta [com] a sua morte nos ressuscita. À nossa reincidência no mal, responde Jesus com a sua insistência em redimir-nos, com abundância de perdão. E, para que ninguém desespere, torna a erguer-se, fatigosamente abraçado à Cruz”[16].

por: José Brage

tradução: Mônica Diez


[1]Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n.1.

[2]Cfr. Aristóteles, Ética a Nicómaco.

[3]Francisco, Visita a Auschwitz, 29-VIII-2016.

[4]Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 361

[5]Bento XVI, Discurso aos alunos do Colégio Universitário Santa Maria de Twickenham, Londres, 17-X-2010

[6]São Josemaria, Caminho, n. 386.

[7]Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n.392

[8]Bento XVI, Enc. Spe Salvi (30-XI-2007), n. 39.

[9]Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n.392.

[10]Clemente de Alexandria, Protréptico, 10.

[11]Francisco, Palavras da janela da Cúria de Cracóvia durante a Jornada Mundial da Juventude, 29-VIII-2016.

[12]Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n.392.

[13]Cfr. Catecismo da Igreja Católica, n.400.

[14]São João Paulo II, Exortação apostólica Reconciliatio et Paenitentia (2.XII.1984), n.15.

[15]Concilio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes (7.XII.1965), n.9.

[16]São Josemaria, Via Sacra, 7ª Estação.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

NAZARENO: "Como ovelhas entre lobos" (instruções para a missão) - Cap. 27

Nazareno (Vatican News)

Cap. 27 - "Como ovelhas entre lobos" (instruções para a missão)

Ao redor de Jesus há mendigos, doentes, os "descartados", "impuros"... mas também pessoas bem integradas na sociedade, notáveis, homens da lei.  "A colheita é grande, mas", diz o Mestre, "os trabalhadores são poucos! Rogai, pois, ao Senhor da messe, que mande trabalhadores para a sua messe!" Chamando seus doze discípulos para junto de si, Ele lhes deu poder sobre os espíritos impuros para expulsá-los e curar todas as doenças e enfermidades. "Eis que eu vos envio como ovelhas ao meio de lobos; sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Guardai-vos dos homens, porque eles vos entregarão aos sinédrios e vos flagelarão.... Mas... não se preocupem com... o que haveis de dizer, pois naquela hora vos será dado o que haveis de dizer; porque não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós. Ele acrescenta que eles seriam odiados por causa de seu nome, mas os exorta a não terem medo. Os apóstolos entendem que receberam uma grande missão, mas se sentem inadequados. "Quem vos acolher", acrescenta Jesus para tranquilizá-los, "acolhe a mim, e quem acolher a mim acolhe aquele que me enviou...". Então eles partem e fazem o que Ele lhes pediu. Eles não têm força própria, só podem contar com Sua palavra e a lembrança de Seu olhar.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/01/26/12/137651916_F137651916.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Maledicência

Maledicência (paroquiadesaojudastadeu)

MALEDICÊNCIA

Dom Fernando Arêas Rifan
Administração Apostólica Pessoal
 São João Maria Vianney (RJ) 

Nesse tempo de internet, em que se pode anonimamente falar mal à vontade de todo o mundo, em que se compartilham notícias sem preocupação com a verdade delas, em que se pode postar boatos que denigrem o bom nome das pessoas, em que se pode dizer meias verdades que impressionam e destroem a fama alheia, vale a pena recordar o que dizem os santos a respeito desse vício, que leva o nome de maledicência. O exagero, a caricatura, a meia-verdade, a reticência, a suspeita lançada ao ar, são tipos de maledicência que se assemelham à mentira, e até piores do que ela, por serem mais sedutoras.  

​ O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Toda pessoa goza de um direito natural à honra do próprio nome, à sua reputação e ao seu respeito. Dessa forma, a maledicência e a calúnia ferem as virtudes da justiça e da caridade” (C.I.C. 2479). 

​“Não procures fazer figura pondo-te a criticar os outros e aprende a tornar mais perfeita a tua vida antes que denegrir a dos outros. São verdadeiramente poucos os que sabem afastar-se deste defeito, e é bem raro encontrar alguém que queira mostrar-se tão irrepreensível, na sua vida, que não critique com satisfação a vida alheia. Não há outra coisa, de fato, que ponha a alma em tanto barulho e que torne o espírito tão volúvel e leviano quanto o prestar fé com facilidade a tudo, e dar ouvido temerariamente às palavras dos críticos. E daí que surgem discórdias sobre discórdias e sentimentos de ódio que não têm motivo de ser. É justamente este defeito que frequentemente torna inimigas pessoas que, antes, eram amigas do peito. Se este mal está universalmente difuso, se este vício está vivo e forte em muitos, é justamente porque encontra, quase em todos, ouvidos complacentes” (São Jerônimo, Carta IV, 148, 16). 

“Quem tira injustamente a boa fama ao seu próximo, além do pecado que comete, está obrigado à restituição inteira e proporcionada à natureza, qualidade e circunstância da maledicência, porque ninguém pode entrar no céu com os bens alheios, e entre os bens exteriores a fama e a honra são os mais preciosos e os mais caros… A maledicência, afinal, proferida a modo de gracejo, é a mais cruel de todas… Nunca digas: fulano é um bêbado ou ladrão, mesmo que o vejas uma vez embriagar-se ou roubar; seria uma inverdade, porque uma só ação não dá nome às coisas… Noé e Ló embriagaram-se uma vez e nem por isso foi bêbado nenhum dos dois. Nem tão pouco foi São Pedro um blasfemador e sanguinário, porque blasfemou um dia e feriu um homem uma vez. O nome de vicioso ou virtuoso supõe um hábito contraído por muitos atos repetidos do vício ou duma virtude… Todas as coisas aparecem amarelas aos olhos dos achacados de icterícia… A malícia do juízo temerário, dum modo semelhante a esta doença, faz aparecer tudo mau aos olhos dos que a apanharam… Eis aí como devemos julgar do próximo: o melhor possível; e, se uma ação tivesse cem aspectos diferentes, deveríamos encara-la unicamente pelo lado mais belo” (São Francisco de Sales, Filoteia).

“Se alguém não peca pela língua, esse é perfeito” (Tg 3, 2).


Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O legado de Santo Tomás de Aquino: "Fé, razão e imaginação"

Santo Tomás de Aquino (Biblioteca Apostólica Vaticana)

Fala o teólogo dominicano Giuseppe Barzaghi. A memória litúrgica do Doutor Angélico e o 750º aniversário de sua morte, uma ocasião para aprofundar aspectos ainda menos conhecidos de sua obra.

Vatican News

A memória litúrgica de Santo Tomás de Aquino, celebrada em 28 de janeiro, é sempre um convite para redescobrir um aspecto do extraordinário legado deixado pelo Doutor Angélico. Ainda mais este ano, no 750º aniversário da morte do santo, em 7 de março, e na preparação para o grande aniversário de 2025, os 800 anos de seu nascimento. O padre Giuseppe Barzaghi, dominicano, professor de Teologia fundamental e Teologia dogmática na Faculdade Teológica da Emilia Romagna – norte da Itália - e docente no Estúdio Filosófico Dominicano de Bolonha, em seu estudo La maestria contagiosa (Esd), sublinhou um desses aspectos, não suficientemente considerado: o poder imaginativo de Aquino.

Padre Barzaghi, Santo Tomás, na percepção comum, evoca a Escolástica, a união da fé e da razão, não tanto ao uso da imaginação...

Santo Tomás é um grande dialético, onde dialética significa "dizer através de". Há uma dialética rígida, que pertence mais propriamente à lógica, e há também uma dialética suave, que é sempre um dizer através de, mas não é mais simplesmente uma questão formal de conceitos, mas de imagens. A imagem é realmente um ver através. Basta pensar na etimologia: imago, que é uma contração de imitago, imitação. Quando alguém imita, vê o outro em si mesmo. Santo Tomás é um mestre na cultura de imagens, também porque é um discípulo de Aristóteles, que disse em De Anima, na tradução latina feita por Guilherme de Moerbeke, nihil intelligit anima sine phantasmate. O que isso significa? Nossa alma não entende nada sem imaginação. Quando tentamos entender algo, é por meio de uma conversio ad phantasmata. Devemos nos converter à fantasia. E isso significa dar exemplos. É por isso que Santo Tomás é fascinante. Ele nunca deixa uma visão, digamos, teoricamente rígida, descoberta, a não ser reconduzindo-a às imagens, que são os exemplos.

As imagens também eram fundamentais na arte da memória, que era de grande importância na época.

Certamente. Santo Tomás, entre seus contemporâneos eruditos, foi o grande comentarista de Aristóteles, das Escrituras, o grande teólogo, mas entre as pessoas comuns ele era um homem com uma memória prodigiosa. Quando, no De Prudentia, ele explica como se pode memorizar bem, o primeiro critério é: associar ideias muito abstratas a imagens vívidas.

Quando nos deparamos com a Summa Theologica, talvez intimidados por seu volume, ficamos impressionados e como que aliviados pela própria beleza das imagens, dos exemplos, em quase todos os artigos.

Na primeira Questão da primeira parte da Summa Theologica, onde Santo Tomás expõe a teoria da teologia como ciência, há um artigo que diz assim: utrum Sacra Scriptura debeat uti metaphoris, se a Sagrada Escritura deve fazer uso de metáforas, ou seja, imagens. E a resposta é sim. Primeiro, porque não entendemos as coisas espirituais a não ser a partir das coisas que pertencem à sensorialidade. Não há nada no intelecto que não tenha estado primeiro no sentido, este é outro de seus axiomas. Em segundo lugar, a Sagrada Escritura, a revelação divina, usa metáforas porque as imagens devem ser objeto da inteligência, de intus legere, entrar em. As imagens também podem ter quatro ou cinco significados, portanto, por um lado, elas permitem que o estudioso "entre em" - o que significa o fogo? Ele ilumina, destrói, aquece, assusta, acolhe... cinco ideias diferentes dentro da imagem do fogo - por outro lado, contra aqueles que desejam zombar ou obscurecer o conteúdo revelado, as imagens representam um obstáculo. Contra irrisiones infidelium, diz Santo Tomás.

Vejamos uma imagem exemplar usada por Santo Tomás.

Santo Tomás também se inspirou muito na escola dos Vitorinos (escola da Abadia de São Victor em Paris, ndr), que eram os grandes especialistas na interpretação das imagens da Sagrada Escritura. Quando quer representar a atividade de nossa razão no conhecimento, toma a imagem do voo dos pássaros e diz: há o pássaro que voa de forma circular e rotativa, ou o voo que vai para frente e para trás, ou o voo que vai de cima para baixo, de baixo para cima. O movimento circular é o movimento contemplativo, o movimento que vai para frente é da causa para o efeito, para trás é do efeito para a causa, de cima para baixo é a dedução, de baixo para cima é a indução. Lembrando do voo dos pássaros se traz à mente todas as formalidades da atividade cognitiva.

Fonte: Avvenire, diário da Conferência Episcopal Italiana (CEI)

https://www.vaticannews.va/pt

São Pedro Nolasco

São Pedro Nolasco (A12)
29 de janeiro
São Pedro Nolasco

São Pedro Nolasco nasceu no ano de 1189 em Mas-Saintes-Puelles, França, numa família rica. Mas desde pequeno teve muito amor aos pobres, ajudando-os como podia. Trabalhou com o pai, mercador, quando este se estabeleceu em Barcelona, na Espanha. Ali pôde ver o sofrimento físico, moral e espiritual dos que haviam sido feito escravos dos invasores durante as guerras de conquista: muitos cristãos eram obrigados a abraçar o islamismo, ou não podiam praticar a fé cristã; maus tratos e trabalhos pesados; as mulheres eram abusadas sexualmente; muitos eram vendidos como mercadoria.

Aos 20 anos, Pedro começou a comprar os cativos e libertá-los, 300 da primeira vez. Falecido o seu pai, utilizou toda a herança em contínuos resgates. Mas somente os seus esforços, ainda que com a ajuda de alguns outros, eram insuficientes. Além disso, grassava na Espanha uma peste que dizimava a população. Pedro ajudava os doentes no Hospital de Santa Eulália (que mais tarde acolheria a quarentena dos libertos pela obra de Pedro). Em 1223, após orações e uma visão de Nossa Senhora, de Quem ele era muito devoto, Pedro resolveu fundar uma Ordem voltada para a redenção dos cativos. Aconselhou-se com São Raimundo de Peñafort, seu confessor, que tivera a mesma inspiração, e obtiveram a aprovação do rei, Jaime I de Aragão, e de Dom Berenguer de Palau, bispo de Barcelona.

A Ordem da Virgem Santíssima das Mercês para Redenção dos Escravos, conhecida como Ordem dos Mercedários, teve suas constituições redigidas por São Raimundo e aprovadas pelo Papa. Além dos votos de obediência, pobreza e castidade, comuns a muitas outras ordens religiosas, foi acrescentado o voto de sacrificar os bens e se necessário a vida para o resgate dos escravos. E, de fato, milhares de mercedários morreram para cumpri-lo. Durante 31 anos Pedro foi o superior, e neste período milhares de cristãos foram libertados. Faleceu em 6 de maio 1256, em Valência, Espanha, e atualmente a sua Ordem atua junto aos encarcerados e nas missões.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Impossível não relacionar diretamente a obra de São Pedro Nolasco ao sacrifício de Cristo na Cruz: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13). Também não é simples coincidência a atuação de Nossa Senhora, que gerou Jesus e também gerou a decisão de Pedro de fundar a sua ordem. Maria e Jesus agem sempre juntos. A ação dos mercedários é, literalmente, a vontade encarnada de Deus no amor concreto aos irmãos – dar a própria vida pela do próximo. E infelizmente ainda hoje podemos ver a mesma situação conhecida por São Pedro Nolasco, em várias partes do mundo, por exemplo em função de guerras. Talvez seja hora de atualizar o carisma mercedário; certamente na escala menor dos pequenos sacrifícios que devemos fazer pelos irmãos no dia a dia.

Oração:

Senhor de infinito amor, bondade e doçura, concedei-nos pela intercessão de São Pedro Nolasco a graça de viver seriamente a caridade, e sermos livres do pior dos cativeiros, a escravidão do pecado. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos salvou com o preço do Seu sangue, e Nossa Senhora que em tudo Se Vos entregou por nós. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 28 de janeiro de 2024

Constituição Pastoral "Guadium et spes" sobre a Igreja no mundo atual

O Reino de Deus (A12)

A CONDIÇÃO DO HOMEM NO MUNDO ATUAL

Esperanças e temores

4. Para levar a cabo esta missão, é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático. Algumas das principais características do mundo atual podem delinear-se do seguinte modo.

A humanidade vive hoje uma fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se estendem progressivamente a toda a terra. Provocadas pela inteligência e atividade criadora do homem, elas reincidem sobre o mesmo homem, sobre os seus juízos e desejos individuais e coletivos, sobre os seus modos de pensar e agir, tanto em relação às coisas como às pessoas. De tal modo que podemos já falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflete também na vida religiosa.

Como acontece em qualquer crise de crescimento, esta transformação traz consigo não pequenas dificuldades. Assim, o homem, que tão imensamente alarga o próprio poder, nem sempre é capaz de o pôr ao seu serviço. Ao procurar penetrar mais fundo no interior de si mesmo, aparece frequentemente mais incerto a seu próprio respeito. E, descobrindo gradualmente com maior clareza as leis da vida social, hesita quanto à direcção que a esta deve imprimir.

Nunca o gênero humano teve ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio econômico; e, no entanto, uma imensa parte dos habitantes da terra é atormentada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda os analfabetos. Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da liberdade como hoje, em que surgem novas formas de servidão social e psicológica. Ao mesmo tempo que o mundo experimenta intensamente a própria unidade e a interdependência mútua dos seus membros na solidariedade necessária, ei-lo gravemente dilacerado por forças antagónicas; persistem ainda, com efeito, agudos conflitos políticos, sociais, econômicos, «raciais» e ideológicos, nem está eliminado o perigo duma guerra que tudo subverta. Aumenta o intercâmbio das ideias; mas as próprias palavras com que se exprimem conceitos da maior importância assumem sentidos muito diferentes segundo as diversas ideologias. Finalmente, procura-se com todo o empenho uma ordem temporal mais perfeita, mas sem que a acompanhe um progresso espiritual proporcionado.

Marcados por circunstâncias tão complexas, muitos dos nossos contemporâneos são incapazes de discernir os valores verdadeiramente permanentes e de os harmonizar com os novamente descobertos. Daí que, agitados entre a esperança e a angústia, sentem-se oprimidos pela inquietação, quando se interrogam acerca da evolução atual dos acontecimentos. Mas esta desafia o homem, força-o até a uma resposta.

Fonte: https://www.vatican.va/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF