Pilatos tornou-se um dos governadores romanos mais
conhecidos da história, principalmente por seu papel na condenação de Jesus
Cristo à morte na cruz.
Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto
Histórico Redentorista
Existem alguns personagens que meio “sem querer, querendo”
acabaram entrando para a história, ficando seus nomes registrados para a
posteridade. Esse é o caso de Pôncio Pilatos, que participou do julgamento de
Jesus, tendo o gesto de “lavar as mãos” eternizado, figurando hoje como atitude
de quem não deseja se comprometer. Tanto assim, que seu nome entra, inclusive,
na oração do Credo, o Símbolo Apostólico do cristianismo.
O que se sabe sobre Pôncio Pilatos
Pilatos tornou-se um dos governadores romanos mais
conhecidos da história, principalmente por seu papel na condenação de Jesus
Cristo à morte na cruz.
Ele governou a Judeia entre os anos 26 e 36 d.C., residindo
na cidade de Cesareia, localizada na costa do Mediterrâneo. Por ser o
representante de Roma na região, tinha autoridade sobre questões
administrativas, financeiras, militares e judiciais, sendo ainda o responsável
por manter a ordem e a paz entre a população local, majoritariamente judaica,
com forte identidade religiosa e nacional.
Sabe-se que foi muito conturbada sua administração, pela
falta de habilidade em lidar com as questões judaicas. Entre outras coisas, ele
foi acusado de usar os recursos do Templo de Jerusalém para construir um
aqueduto que levaria água para Cesareia. Os judeus se revoltaram e o acusaram
de roubar o dinheiro sagrado. Ele ordenou que seus soldados se infiltrassem
entre a multidão para reprimir a manifestação com violência, acarretando a
morte de muitos judeus. Mas, o caso mais famoso e controverso de Pilatos foi o
julgamento de Jesus Cristo que, preso pelos líderes religiosos dos judeus
através do Sinédrio, foi acusado de blasfêmia e de incitar o povo contra Roma.
Jesus foi então levado a Pilatos, que tinha autoridade para condená-lo ou
determinar a sua liberdade.
O julgamento de Jesus
Os quatro evangelhos narram com detalhes o julgamento de
Jesus, cada um acrescentando novos detalhes, mas todos são unânimes ao afirmar
que Pilatos não encontrou nenhum motivo para condenar Jesus, e que tentou
libertá-lo, oferecendo ao povo a escolha entre soltar Jesus ou Barrabás, um
criminoso.
E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e
os magistrados, e o povo, disse-lhes: Haveis-me apresentado este homem
como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma
culpa, das de que o acusais, acho neste homem. Nem mesmo Herodes,
porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de
morte. 16 Castigá-lo-ei, pois e soltá-lo-ei. E era-lhe
necessário soltar-lhes um detento por ocasião da festa. Mas toda a
multidão clamou à uma, dizendo: Fora daqui com este e solta-nos
Barrabás. Barrabás fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita
na cidade e de um homicídio. Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo
soltar a Jesus. Mas eles clamavam em contrário, dizendo:
Crucifica-o! Crucifica-o! Então, ele, pela terceira vez, lhes disse:
Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei, pois
e soltá-lo-ei. Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse
crucificado. E os seus gritos e os dos principais dos sacerdotes
redobravam. Então, Pilatos julgou que devia fazer o que eles
pediam. E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e
homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles. Lucas
23, 13 a 25.
O destino de Pôncio Pilatos
Não há uma comprovação histórica exata sobre o destino de
Pilatos após o julgamento de Jesus. O historiador judeu Flávio Josefo afirma
que Pilatos foi destituído do cargo por causa de outro conflito com os
samaritanos, povo que vivia na região da Samaria.
Fontes antigas dão diferentes versões sobre o fim de
Pilatos, mas uma tradição cristã, afirma que Pilatos foi exilado nas Gálias,
onde encontrou a morte. Segundo a Igreja Etíope, Pilatos se converteu ao
cristianismo e, sendo martirizado, passou a ser venerado como santo.
Pilatos, porém, passou para a história como símbolo de
covardia, de injustiça, de ambiguidade, de pragmatismo, de ironia, de falta de
piedade ou de arrependimento. Numa linguagem moderna pode-se dizer que Pilatos
“ficou em cima do muro” com medo de se comprometer. Por outro lado, ele é um
personagem que revela a complexidade das relações os conflitos entre o poder
político e religioso, entre a cultura romana e a cultura judaica, entre a
história e a tradição.
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