Translate

segunda-feira, 17 de março de 2025

Esperança não é apenas informativa, mas performativa

"O Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida".  (ANSA)

"A esperança nos sustenta nas dificuldades, nos dá força para perseverar e nos mantém firmes na certeza de que Deus está conosco. O Concílio Vaticano II abordou a esperança cristã como uma virtude que define o caráter escatológico dos fiéis da Igreja, nossa caminhada para a eternidade, sem prescindir das obrigatoriedades das ações do cotidiano."

Jackson Erpen* - Cidade do Vaticano

Na Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário de 2025, somos convidados não só a “beber a esperança na graça de Deus”, mas também a “descobri-la nos sinais dos tempos, que o Senhor oferece”. Como afirma o Concílio Vaticano II, «é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas». 

Por isso, para não cair na tentação de nos considerarmos subjugados pelo mal e pela violência, é necessário prestar atenção a tanto bem que existe no mundo. Porém, os sinais dos tempos, que contêm o anélito do coração humano, carecido da presença salvífica de Deus, pedem para ser transformados em sinais de esperança.

“Esperança não é apenas informativa, mas performativa”, é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:

O Jubileu da Esperança não é apenas um evento litúrgico, mas um chamado à conversão profunda. É uma peregrinação, uma caminhada, uma dinâmica de conversão e salvação proposta para todo o cristão nesse Ano Jubilar. Inspirado no tema “A esperança não confunde” (cf. Rm 5,5), este Ano Santo nos convida a refletir sobre a essência da esperança cristã: uma confiança inabalável no amor de Deus, que nunca falha. A esperança é uma virtude teologal que nos conecta ao futuro, mas que também transforma o presente. A verdadeira esperança cristã não aguarda o futuro escatológico de braços cruzados, mas o prepara com atitudes concretas no hoje da história.

A esperança nos sustenta nas dificuldades, nos dá força para perseverar e nos mantém firmes na certeza de que Deus está conosco. O Concílio Vaticano II abordou a esperança cristã como uma virtude que define o caráter escatológico dos fiéis da Igreja, nossa caminhada para a eternidade, sem prescindir das obrigatoriedades das ações do cotidiano. O Concílio também apresentou a Igreja como uma comunidade aberta, que partilha a condição humana. A esperança cristã é a virtude que nasce da fé nas promessas divinas. Ela fortalece a confiança na graça de Deus, mesmo em momentos de adversidade. Nas intempéries da vida, a esperança não desanima.

Papa Francisco tem refletido sempre em seu Pontificado a virtude da esperança. Não cansa de falar em suas mensagens que “não deixem que lhes roubem a esperança”. Ele mesmo proclama o ano Jubilar que tem como tema a esperança cristã. O Papa Bento XVI dedicou, no seu pontificado, a reflexão das três virtudes teologais em três pequenos documentos: A Carta Apostólica Porta Fidei – falando da fé; as Cartas Encíclicas Spe Salvi – falando da virtude da Esperança e Deus caritas est – apontando a virtude da caridade. Como estamos refletindo a Esperança, nesse Ano Santo Jubilar, importa aqui recuperar alguns pensamentos da Encíclica Spe Salvirefletindo sobre a esperança.

O Papa Bento XVI inicia sua encíclica, dizendo assim: “SPE SALVI facti sumus» – é na esperança que fomos salvos - diz São Paulo aos Romanos e a nós também (Rm 8,24). A «redenção», a salvação, segundo a fé cristã, não é um simples dado de fato. A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho”( Spe S,1). Bento XVI, na sequência, afirma que a fé e a esperança caminham juntas, e diz que a fé é a esperança. Assim, a Carta aos Hebreus liga estreitamente a «plenitude da fé» (10,22) com a « imutável profissão da esperança » (10,23). Paulo lembra aos Efésios que, antes do seu encontro com Cristo, estavam « sem esperança e sem Deus no mundo » (Ef 2,12). Naturalmente, recorda Bento XVI, que Paulo sabe que eles tinham seguido deuses, que tiveram uma religião, mas os seus deuses revelaram-se discutíveis e, dos seus mitos contraditórios, não emanava qualquer esperança. Apesar de terem deuses, estavam « sem Deus » e, consequentemente, achavam-se num mundo tenebroso, perante um futuro obscuro.

Recorda a Encíclica Spe Salvi que São Paulo também diz aos Tessalonicenses assim: não deveis « entristecer-vos como os outros que não têm esperança » (1Ts 4,13). Aparece aqui também como elemento distintivo dos cristãos o fato de estes terem um futuro: não é que conheçam em detalhe o que os espera. Mas cada um de nós sabe em termos gerais que a sua vida não acaba no vazio, no caos geral, no vácuo sem sentido. Somente quando o futuro é certo como realidade positiva, é que se torna vivível também o presente. Sendo assim, podemos agora dizer: o cristianismo não era apenas uma « boa nova », ou seja, uma comunicação de conteúdos até então ignorados. Em linguagem atual, dizemos assim: a mensagem cristã não era só « informativa », mas « performativa ». Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova. Vamos repetir o disse Bento XVI: A mensagem da esperança cristã da salvação não é apenas informativa, mas performativa. Ou seja, transforma a pessoa, sabendo a realidade futura."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São José de Arimatéia

São José de Arimateia (A12)
17 de março
São José de Arimateia

José foi contemporâneo de Jesus no século I, e sua origem é Arimatéia (Armathahim, em Hebreu), um povoado no alto do Monte Efraim, na Judéia (região sul do atual Israel, então Reino de Judá). É mencionado nos quatro Evangelhos, na ocasião do recolhimento e sepultamento do corpo de Jesus (Mt 27,57-60, Mc 15,42-46, Lc 23,50-54, Jo 19,38-42).

Destas breves menções, podemos saber que José era rico, membro importante do Sinédrio, o Tribunal Superior dos judeus. Sendo reto e justo, discípulo de Jesus (mas em segredo, por medo dos judeus), esperava o Reino de Deus, e opôs-se à decisão do Sinédrio de condenar o Cristo. Depois da morte do Senhor, teve a coragem de, ao cair da tarde, apresentar-se a Pilatos e lhe pedir o corpo do Crucificado. Pilatos, surpreso de que a morte já tivesse ocorrido, primeiro informou-se do fato com um oficial romano, mas depois concedeu a José a autorização.

José retirou o corpo de Jesus da Cruz, tenho antes providenciado um lençol de linho para envolvê-lo, como era o costume judaico. Presente estava também Nicodemos, igualmente judeu e discípulo escondido de Jesus, que levou grande quantidade de mirra com aloés, substâncias utilizadas para ungir o cadáver. Em seguida, o depositaram num túmulo novo, isto é, ainda não utilizado por ninguém, que José mandara cavar na rocha para si mesmo; este sepulcro estava num jardim próximo ao local da crucifixão. Por fim, José rolou uma grande pedra para fechar a entrada do sepulcro e se retirou.

Todos estes passos do tradicional sepultamento judaico – manto, mirra e aloés, túmulo escavado na rocha com uma pedra para fechá-lo – foram feitos com carinho, mas às pressas, pois também era do costume judaico não executar qualquer tarefa ao cair do sábado, o seu dia sagrado, particularmente naquele, que era a véspera da festa da Páscoa, que devia ser preparada. De fato, a ordem de Pilatos para quebrar as pernas dos outros dois condenados com Jesus, para lhes apressar a morte, foi pedida pelos judeus, de modo a poderem retirar os corpos das cruzes antes do sábado (Jo 19,31-32). À hora do sepultamento, “já cintilavam as luzes do início do sábado” (Lc ,23,54) indicando talvez a luz das primeiras estrelas no céu e / ou as luzes acesas pelos judeus para a noite.

Outras dados sobre José de Arimatéia são fornecidos por escritos apócrifos. Assim, o “Evangelho de Pedro”, do século II, diz que o pedido a Pilatos para a retirada do corpo de Jesus foi feito antes da Crucifixão, e o “Evangelho de Nicodemus” indica que José teria participado da fundação da comunidade cristã da Lídia. Estas informações não são confiáveis, mas também têm pouca importância. O que pode ser muito provável é que José se tenha unido aos discípulos de Jesus de forma mais clara posteriormente à Sua Ressurreição. E certamente faleceu no primeiro século. Também é certo que o manto que levou para envolver Jesus é hoje conhecido como Santo Sudário, uma das evidências mais marcantes da Ressurreição, estudado cada vez mais profundamente pela Ciência, que cada vez mais corrobora os relatos bíblicos a respeito.

O que é completamente fantasioso e sem nenhum fundamento histórico é o conjunto de lendas que surgiram sobre sobre José de Arimatéia a partir do século IV. Elas apenas refletem a importância que os fiéis davam aos primeiros discípulos de Cristo. Entre estas histórias, José teria ficado com o cálice da última Ceia, o famoso Santo Graal das lendas do Rei Arthur e Cavaleiros da Távola Redonda na Inglaterra; neste país, o seu cajado teria sido fincado na terra, em Gastonbury, e ali se transformado numa árvore de espinhos de onde nasciam uvas no Natal; ou teria sido parente distante de Jesus, sendo dono de minas de zinco em Cornwall, aonde teria levado o Cristo (argumento de base do poema “Jerusalém”, de Willian Blake); e muitas outras.

São José de Arimatéia é padroeiro dos mineiros, dos coveiros e diretores de funerais.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Imensas foram a caridade e a coragem de José de Arimatéia ao, expondo-se publicamente, num momento de extremo ódio religioso, revelar-se como seguidor de Cristo e atrever-se a pedir o Seu corpo a Pilatos. Não apenas a sua situação e reputação diante dos judeus, mas também a sua própria vida ficou em risco. Se por justificada prudência mantinha-se antes discreto na sua Fé, neste momento de necessidade não pensou mais em si mesmo mas no dever que tinha como cristão, colocando o amor a Deus acima de qualquer outra consideração. O seu cuidado, o melhor possível nas circunstâncias, com o Santíssimo Corpo do Senhor, é um gesto de profundo amor do qual a Igreja será sempre devedora: o que teria acontecido ao corpo de Jesus, e como ocorreria a Sua Ressurreição? Talvez em condições indignas? Certamente Deus, na Sua Providência, levou José a agir, mas ele infinitamente terá o mérito de ter acedido. Esta mesma coragem e caridade devemos nós, os católicos de todos os séculos, ter e praticar. O cuidado com o que é sagrado deve nos mover a ser intrépidos na defesa da nossa Fé, seja nas atenções com os aspectos materiais, Igrejas, objetos de culto como cálices, sacrários; seja, ainda mais, nos aspectos imateriais e espirituais, como ritos litúrgicos, comportamento respeitoso nas cerimônias, vestes ideais (não apenas nas Igrejas), e vivência dos Mandamentos. Será que temos coragem, ao menos, de ajoelhar no momento da Comunhão, e receber a Eucaristia na boca, já que nossas mãos não são ungidas como as dos sacerdotes para tocar em Jesus? Ou, mesmo então, diante do próprio Cristo, vivo e não morto, temos vergonha ou preguiça, mais preocupados com o que os outros pensam do que com o devido respeito a Jesus e à Doutrina da Igreja? Teremos coragem de não ver algo de conteúdo pornográfico, por temer a reação debochada dos mundanos? A Paixão de Jesus deu a São José de Arimatéia a força para enfrentar o ridículo, a incompreensão, a exposição, possíveis retaliações na sociedade e no trabalho, e o possível risco de morte. É para viver tal caridade que participamos da Igreja e dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia.

Oração:

Senhor Deus, que desejais mais do que nós mesmos, no Vosso infinito amor, a nossa ressurreição para o Céu, concedei-nos por intercessão e exemplo de São José de Arimatéia a graça de nos envolver no Seu manto de misericórdia e ungir-nos com o bom odor das Vossas bênçãos, para que tenhamos a coragem de viver corretamente o Evangelho, auxiliando a despregar da cruz dos pecados os membros da Vossa Igreja, a começar por nós mesmos, e merecer assim o santo e infinito repouso do Paraíso. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 16 de março de 2025

Exercícios Espirituais no Vaticano, 6ª Meditação: "Renascer" (VI)

Padre Roberto Pasolini prega os Exercícios Espirituais para a Cúria Romana (Vatican News)

Exercícios Espirituais no Vaticano, 6ª Meditação: "Renascer"

O pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini, fez na manhã desta quarta-feira, 12 de março, a sexta meditação no âmbito dos Exercícios Espirituais da Quaresma à Cúria Romana sobre o tema "A esperança da vida eterna: Renascer". Publicamos a síntese da reflexão.

Vatican News

O caminho da salvação se manifesta como um renascimento espiritual, ilustrado no Evangelho de João através do diálogo entre Jesus e Nicodemos. Jesus afirma que, para ver o Reino de Deus, é necessário “renascer do alto”, um conceito que desconcerta Nicodemos e que remete à necessidade de uma mudança profunda e radical. Essa transformação não é simples e, muitas vezes, desperta temor, pois exige abandonar certezas e esquemas consolidados.

Jesus explica que o renascimento acontece através da água e do Espírito, não como um retorno biológico à infância, mas como uma nova abertura à ação do Espírito. Muitos temem a mudança e tentam se agarrar a experiências passadas, mas o verdadeiro renascimento implica confiar em Deus e deixar-se conduzir a horizontes inexplorados. Essa passagem lembra o Êxodo de Israel no deserto, onde o povo temia a morte, mas encontrava salvação ao voltar o olhar para um sinal oferecido por Deus. Hoje, o sinal da salvação é Cristo elevado na cruz.

O batismo representa o símbolo dessa nova vida: não uma mudança imediata e visível, mas o início de um caminho de transformação. No entanto, ao longo da história, a eficácia do batismo enfraqueceu, tornando-se muitas vezes um rito cultural mais do que uma escolha consciente de fé. Isso levou a uma crise na Igreja, em que a vida cristã parece distante e abstrata para muitos.

Jesus convida a uma escolha radical: colocar a relação com Ele acima de qualquer outro vínculo, não como negação dos afetos, mas como reconhecimento de que somente em Deus se encontra a verdadeira vida. Isso exige a coragem de “perder a própria vida” no sentido biológico e psíquico, para reencontrá-la na dimensão eterna.

Por fim, Jesus usa a metáfora do parto para explicar que o renascimento espiritual é uma passagem dolorosa, mas necessária. Cada pessoa é chamada a sair dos próprios “ventres” de origem para acolher a plenitude da vida eterna. São Francisco é um exemplo de quem abandonou toda segurança para abraçar plenamente a vida nova em Cristo.

Em suma, o verdadeiro renascimento não é uma ilusão, mas uma realidade acessível àqueles que se deixam transformar pelo Espírito, vivendo desde já a promessa da eternidade.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Outras formas de jejuar na Quaresma

Imagem de Dom Bosco | Salesianos, FMA, Todos os Sangues.

Outras formas de jejuar na Quaresma segundo são João Bosco

Por Abel Camasca*

16 de mar de 2025

A Quaresma é tempo de jejum e abstinência, mas essas renúncias relacionadas à alimentação não são as únicas formas de penitência. São João Bosco ensinou que é possível jejuar com as várias partes do corpo.

Aqueles que conheceram dom Bosco diziam que ele era rigoroso nas exigências prescritas pela Igreja para o tempo litúrgico da Quaresma. No entanto, o fundador dos salesianos também incentivou a prática de outros tipos de jejum.

Nas "Memórias Biográficas de Dom Bosco" (Volume 12) conta-se que um dia o santo recomendou que seus rapazes jejuassem, dominando as diversas partes do corpo.

“Nunca permitam, meus queridos amigos, que o corpo mande; mortifiquem-no nesta metade da Quaresma, que ainda nos resta”, disse o pai e mestre da juventude.

Para isso os exortou a jejuar dos olhos, ou seja, a não olhar para imagens, pinturas ou fotografias contrárias à virtude da modéstia, evitando também a leitura de livros imorais ou contrários à fé.

Quanto aos ouvidos, ordenou-lhes fugir de conversas que pudessem ofender a pureza e de participar de fofocas.

Para jejuar da língua, dom Bosco os exortou a banir todas as palavras que pudessem escandalizar os outros, as brincadeiras e o falar mal de alguém.

Ele também recomendou não andar reclamando do calor nem do frio, suportando com paciência as contrariedades e tolerando com amor os defeitos dos outros. Em suma, não fazer algo que vá contra o bom exemplo.

“Mais uma coisa que quero recomendar a vocês. Comunguem com frequência e com fervor. Se receberem Jesus com frequência em seus corações, sua alma ficará tão fortalecida pela graça que o corpo se sentirá obrigado a obedecer ao espírito”, concluiu o santo.

*Abel Camasca é comunicador social. Foi produtor do telejornal EWTN Noticias por muitos anos e do programa “Más que Notícias” na Radio Católica Mundial.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/54608/outras-formas-de-jejuar-na-quaresma-segundo-sao-joao-bosco

Reflexão para o II Domingo da Quaresma (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Todo encontro com Deus deixa sinais visíveis nas pessoas. Podemos experienciar isso quando rezamos de verdade, quando nos abrimos ao Senhor e não colocamos resistências.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A aliança, o pacto, são gestos humanos que traduzem confiança, promessa, fidelidade, obrigação. A primeira leitura nos fala da aliança de Deus com Abraão.  O Senhor gratuitamente propôs aliança com Abraão e ele confiou plenamente em Deus, embora muitas vezes as circunstâncias lhe pudessem levar ao contrário.

Deus é fiel e mesmo que rompamos nosso pacto, o Senhor se mantém fiel.

No Evangelho, Jesus, como de costume, vai rezar. Nessa oração, fica mais claro qual é sua missão. São Lucas diz que durante a oração seu rosto mudou de aspecto. Isso sinaliza que o Senhor estava muito unido ao Pai e nos recorda Moisés quando se encontrava com Deus.

Todo encontro com Deus deixa sinais visíveis nas pessoas. Podemos experienciar isso quando rezamos de verdade, quando nos abrimos ao Senhor e não colocamos resistências. Sentimo-nos mais integrados, mais felizes, mais esperançosos e generosos. Sabemos perdoar e desejamos o bem para todos.

Nessa oração, especialmente, Jesus teve consciência de sua missão.  Quando São Lucas escreve que Moisés e Elias conversam sobre a paixão de Jesus, está nos dizendo que é nesse momento que Jesus se conscientiza de sua missão, de que deveria passar pelo sofrimento para cumprir sua vocação redentora.

Também o sono dos discípulos é muito simbólico. Eles terão sono também no horto, quando Jesus está se preparando para sofrer. Sono aí significa desconhecimento do que está acontecendo e reação ao sofrimento.

Poderemos fazer, neste momento, uma reflexão: se Jesus aceitou a cruz, aceitou sofrer por todos nós, haverá outro caminho para os homens resolverem seus problemas que não seja através desta, através do sacrifício pelo outro?

Será que nossos problemas familiares, nossos problemas de relacionamento, nossos problemas econômicos e sociais não deverão ser solucionados através da cruz, isto é, através da renúncia, da entrega generosa de nossa vida? Só através do caminho da cruz conquistaremos a vida! Verdadeiramente a cruz é a árvore da Vida, de onde pendeu Jesus!

A segunda leitura nos ajuda a entendermos que é na cruz que está a vida. Viver egoisticamente não leva à felicidade. Esta consiste em fazer morrer dentro de nós o egoísmo,  em não nos apoiarmos apenas no cumprimento da Lei, em sacrificarmos o mundo e a nós mesmos pelo amor de Cristo e dos irmãos.

Deveremos ver na cruz o grande sinal da aliança de Deus com os homens. É nela que está nossa salvação, nosso futuro, nossa felicidade eterna. A cruz de Jesus deverá iluminar nossa vida e ser o crivo por onde passam todas as nossas decisões, seja qual for nosso estado de vida, se religioso, sacerdotal ou leigo.

Será através da cruz que cumpriremos nossa missão e nos encontraremos com Deus. De fato, pende da cruz a redenção da criação, a salvação do mundo e de cada um de nós.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

5 filmes sobre amizade para você assistir com as crianças

© Disney/Pixar

Reportagem local - publicado em 11/10/21

Como pais, precisamos incentivar nossos filhos a edificarem grandes e duradouras amizades.

A amizade é uma das grandes riquezas que temos na vida, ao lado da família. E construção deste tesouro começa quando ainda somos crianças.

Como pais, precisamos incentivar nossos filhos a edificarem grandes e duradouras amizades. Mas como trabalhar o valor dos amigos junto às crianças menores? Os filmes, certamente são uma boa alternativa.

Assistir a um bom filme em família é uma maneira de estreitar os laços entre pais e filhos. Além disso, depois da sessão, é possível discutir os valores destacados pelas histórias e aprender com eles.

Por isso, separamos cinco filmes que destacam a importância da amizade para você assistir com as crianças. Eles estão disponíveis nos principais serviços de streaming.

1

O filme narra a história de amadurecimento do jovem Luca Paguro. Ele tem um verão inesquecível repleto de sorvetes, massas e aventuras inesquecíveis com seu melhor amigo. Mas as férias são ameaçadas por um segredo: eles são monstros marinhos de outro mundo. Uma crítica destacou: "Luca apresenta uma emocionante história sobre amadurecimento e liberdade".

1https://youtu.be/Y7UK_pHSzbc

2

A Turma da Mônica, por si só, já é um exemplo de amizade. E em cada história que essa turminha se mete, seja nos quadrinhos ou na telona, o público aprende ainda mais sobre inúmeros valores, como o companheirismo. Neste filme, o cachorrinho do Cebolinha desaparece. O menino desenvolve, então, um plano para resgatar o animal. Para isso, precisa da ajuda de seus fiéis amigos: Mônica, Magali e Cascão. Juntos, eles irão enfrentar grandes desafios e viver boas aventuras para levar o cão de volta para casa.

2https://youtu.be/6LBKMJviLaY

3

Toda a sequência de Toy Story é, de fato, uma lição emocionante sobre amizade para as crianças (e, por que não, para os adultos). Os brinquedos do garotinho, Andy, de seis anos, ganham vida quando estão sozinhos. A cada aniversário, eles temem ser substituídos por novos. Juntos enfrentam aventuras para continuar sendo úteis e queridos por seu dono. A cada nova aventura, os brinquedos fortalecem a amizade. No quarto filme da sequência, você pode encontrar a linda e famosa música "Amigo estou aqui", que também é uma tradução amor entre amigos.

3https://youtu.be/MUAaQJA5YkE

4

Um viúvo de 78 anos de idade decide colar milhares de balões em sua casa para viajar à América do Sul. Isso, de fato, era uma promessa que ele fez à sua mulher. O que ele não contava é que não viajava sozinho. Dentro da casa, o idoso descobre a presença de um menino explorador de 8 anos. Uma incrível história de aventura que os personagens enfrentam com amizade, amor e fidelidade.

4https://youtu.be/S8GVQ0Sihxw

5

Após um acidente de carro na floresta, um menininho fica órfão. Ele logo é encontrado por um dragão, que começa a protegê-lo. Seis anos se passam e a dupla está na mais perfeita sintonia, vivendo na floresta sem que alguém os tenha notado. Mas algo vai colocar esta amizade à prova.

5https://youtu.be/JWVOxoPUTaw

Fonte: https://pt.aleteia.org/2021/10/11/5-filmes-sobre-amizade-para-voce-assistir-com-as-criancas

Papa: o físico está fraco, mas nada impede de amar e rezar

O Papa fez um agradecimento especial às crianças que foram ao Gemelli rezar por ele. (Vatican News)

Mesmo internado, Francisco enviou uma mensagem aos fiéis para agradecer pelas orações e pedir que continuem rezando pelos países afligidos por guerras. O Papa mencionou uma carta divulgada no sábado, em que estabelece um caminho de acompanhamento para a implementação nas Igrejas locais das diretrizes do Sínodo sobre a sinodalidade.

Vatican News

Como nos domingos precedentes, a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou uma mensagem do Papa Francisco para o Angelus dominical. Internado há um mês no Hospital Gemelli de Roma para tratar uma pneumonia, o Pontífice se inspirou no Evangelho deste segundo domingo da Quaresma para falar de sua própria condição de enfermo.

O trecho de Lucas (Lc 9, 28-36) narra a Transfiguração de Jesus. Ao subir no alto de uma montanha com Pedro, Tiago e João, Jesus se recolhe em oração e se torna radiante de luz. Dessa forma, Ele mostra aos discípulos o que está por trás dos gestos que realiza no meio deles: a luz do seu amor infinito.

"Compartilho com vocês esses pensamentos, pois estou passando por um período de provação e me uno a tantos irmãos e irmãs doentes: frágeis, neste momento, como eu. O nosso físico está fraco, mas, mesmo assim, nada nos impede de amar, de rezar, de nos doarmos, de sermos uns para os outros, na fé, sinais luminosos de esperança. Quanta luz brilha, nesse sentido, nos hospitais e locais de cura! Quanto cuidado amoroso ilumina os quartos, os corredores, as clínicas, os locais onde se realizam os serviços mais humildes! É por isso que gostaria de convidá-los, hoje, a se unirem a mim para louvar o Senhor, que nunca nos abandona e que, nos momentos de dor, coloca ao nosso lado pessoas que refletem um raio do seu amor."

O amor do Papa pelas crianças

Francisco agradeceu a todos pelas orações e a quem o assiste com tanta dedicação. De modo especial, se dirigiu às crianças, entre as quais as que foram ao Hospital Gemelli como sinal de proximidade: "Obrigado, queridas crianças! O Papa ama vocês e espera sempre encontrá-las".

O Pontífice não deixou de pedir aos fiéis que continuem a rezar pela paz, especialmente nos países feridos pela guerra: a martirizada Ucrânia, Palestina, Israel, Líbano, Mianmar, Sudão e República Democrática do Congo.

E fez uma referência à carta publicada ontem pelo secretário-geral do Sínodo dos Bispos, card. Mario Grech, com a qual estabelece um caminho de acompanhamento para a implementação, nas Igrejas locais, do Documento final do Sínodo sobre a sinodalidade. Esse caminho se concluirá com uma Assembleia Eclesial marcada para 2028 no Vaticano.

"Rezemos pela Igreja, chamada a traduzir em escolhas concretas o discernimento feito na recente Assembleia Sinodal. Agradeço à Secretaria Geral do Sínodo, que nos próximos três anos acompanhará as Igrejas locais nessa tarefa", escreve o Papa no Angelus dominical, que se conclui com as seguintes palavras:

"Que a Virgem Maria nos proteja e nos ajude a ser, como Ela, portadores da luz e da paz de Cristo".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 15 de março de 2025

AVALIAÇÕES: Internet e Evangelho

Daniel Arasa – Lorenzo Cantoni – Lucio A. Ruiz, Comunicação Religiosa pela Internet. Factos, Tendências e Experiências na Igreja Católica, Edusc, Roma 2010, 250 pp., euro 20,00 | 30Giorni

Arquivo 30Dias n. 04 - 2010

Internet e Evangelho

O livro Comunicação Religiosa na Internet. Fatos, tendências e experiências na Igreja Católica é um mapa útil, informado e atualizado do que está acontecendo no “continente digital” católico. Análise.

por Tommaso Ricci

O tom comedido, sóbrio e simples com que suas páginas são preenchidas é definitivamente um ponto a favor deste livro; de fato, com muita frequência nos deparamos com panegíricos verdadeiramente encomiásticos, se não idólatras, sobre o tema "comunicação e Internet" no campo eclesiástico. Comunicação religiosa pela Internet. Fatos, tendências e experiências na Igreja Católica [Comunicação religiosa através da Internet. [Fatos, tendências e experiências na Igreja Católica] nada mais é do que um mapa sociológico útil, informado e atualizado do que é católico no “continente digital”.

Longe de querer minimizar a importância desta nova dimensão da vida contemporânea que está influenciando radicalmente os hábitos e as oportunidades do consórcio humano, é bom manter a consciência do fosso que existe entre o "virtual" e o "real" para não ser induzido a uma embriaguez ingênua. De fato, os dados que emergem desta pesquisa, realizada pelos autores Daniel Arasa, Lorenzo Cantoni e Monsenhor Lucio A. Ruiz, são lisonjeiros para o catolicismo, um dos grupos sociais que mais tomou conhecimento e utiliza as novas ferramentas de comunicação. Também é natural que uma rede global como a web seja agradável à Catholica , justamente pela natureza potencialmente inclusiva e universalista de ambos os assuntos.

Mas não se pode – e os autores, com razão, não o fazem – tirar conclusões indevidas desta congenialidade de princípios. Também porque a Internet é apenas “virtualmente” uma oportunidade para todos, a chamada “ divisão digital ” separa não só as gerações mais velhas, que não têm conhecimentos de informática, das mais jovens, que estão mais bem equipadas, mas também o mundo rico do mundo pobre.

Naturalmente, como todas as áreas da vida, a web – onde muitos homens e mulheres passam horas e horas de sua existência – também constitui uma oportunidade para o testemunho cristão. Por exemplo, de gentileza, de correção, de gentileza, de otimismo, de criatividade, de partilha, de abertura aos outros, em suma, de sinalização prática em direção ao Bem. Um pouco como o momento dos anúncios no final da Santa Missa; no altar o mistério do Sacrifício redentor de Cristo é renovado para os fiéis, do púlpito à comunidade dos fiéis são oferecidas oportunidades úteis para verificar e praticar a caridade, intra e extra Ecclesiam . A Internet é um púlpito virtual capaz de transmitir orientações e sugestões muito além dos limites do público. Essa é sua força e sua fraqueza.

A Internet não é um “acelerador da graça”, assim como não são as rodovias que tornam um carro mais rápido, mas seu motor. Na verdade, as autoestradas da informação criadas pela A rede exige dos cristãos uma maior mobilidade do coração, um maior dinamismo da fé, uma crescente disponibilidade para orientar para o Destino Comum toda ocasião de encontro, ou mesmo de simples contato, com outros homens.

Esta longa introdução pretende fazer justiça ao livro em questão, uma vez que seu tom puramente informativo fundamenta uma abordagem solidamente instrumental, concreta, livre de qualquer milenarismo digital.

Falamos daquela concretude que induziu Bento XVI a repreender benevolentemente os seus colaboradores na Cúria quando observou que se algum deles tivesse “navegado” com mais cuidado na Internet, o doloroso caso do bispo lefebvriano negador do Holocausto Williamson não teria existido; falemos da concretude que levou a Santa Sé a dotar-se de um sítio Internet onde pudesse publicar documentos oficiais em várias línguas, para que quem os quisesse conhecer o pudesse fazer mais facilmente do que no passado (pp. 139-144); vamos falar sobre a concretude da maneira como o jornalismo católico online pode divulgar suas informações de forma mais ampla e com menor custo (pp. 201-239).

“O teu rosto, Senhor, eu busco; não escondas de mim o teu rosto”, reza o Salmo, uma antiga oração nascida na era pré-internet e paradoxalmente tornada mais atual pela web , onde muitas vezes circulam palavras sem rostos identificáveis. Não é por acaso que o Papa Bento XVI falou aos participantes do congresso romano “Testemunhas Digitais” sobre a necessidade de reconhecer o rosto do outro, de não nos achatarmos na superfície (nem mesmo na do monitor do computador, pode-se acrescentar), de não nos tornarmos e não tratarmos os outros como corpos sem alma, objetos de troca e consumo (mesmo que comunicativo, pode-se acrescentar). Naveguemos no mar digital, lancemos as redes na Web, mas sem esquecer que Ele quer que sejamos pescadores de homens e não de avatares .

Fonte: https://www.30giorni.it/

O cristianismo burguês (II)

O cristianismo burguês (II)

O cristianismo burguês

Ao comparar o reino de Deus com um tesouro pelo qual se vende tudo, Jesus desvincula o cristianismo de valores como a segurança ou a estabilidade, para centrá-lo no risco, na missão, na aventura de melhorar o mundo.

12/09/2023

O risco do cristianismo burguês ou a perda do sentido de missão

“Não te aburgueses”[23], costumava dizer São Josemaria para alertar para um risco que existe na vida espiritual: o de acabar evitando tudo o que exige esforço, ignorando a exigência que atravessa todo o Evangelho. Estas linhas de Sulco retratam, com um toque de ironia, esse cristianismo aburguesado: “Ideologicamente, és muito católico. Agrada-te o ambiente dessa Residência universitária... Pena que a Missa não seja ao meio-dia, e as aulas à tarde, para estudares depois de jantar, saboreando um ou dois cálices de conhaque! - Esse teu ‘catolicismo’ não corresponde à verdade, fica em simples aburguesamento[24].

É importante ter em conta que também se pode falar de cristianismo burguês em outro sentido, complementar a este primeiro. É uma concepção da vida religiosa em que o forte sentido de missão da mensagem evangélica foi obscurecido ou esquecido. Nesta abordagem, a vida espiritual tende a ser reduzida ao cumprimento pessoal das normas morais e a uma série de práticas piedosas. Parece que nos esquecemos daquela petição do Pai Nosso - “venha a nós o vosso reino” - que leva os cristãos a transformar o mundo com o seu trabalho e com a sua oração. Usando as palavras de São Josemaria, o apelo a “santificar os outros através do trabalho” ficaria reduzido, no melhor dos casos, a um apostolado individual, sem horizonte de transformação do mundo; ou estaria escondido atrás das anteriores - “santificar o trabalho e santificar-se com o trabalho”-, que por sua vez perderiam quase toda a sua razão de ser.

O cristianismo burguês, neste segundo sentido, seria uma das manifestações da concepção individualista da religião para a qual alertou Bento XVI. Mais uma vez, não estaríamos perante o resultado de uma escolha individual, mas sim diante do resultado de uma concepção de vida que vem moldando a mentalidade das pessoas de forma quase imperceptível, através da cultura e da educação. Na verdade, embora a noção de burguês se refira a um estatus social (pessoas de uma classe rica, que não sofreram grandes privações em suas vidas ou não tiveram que fazer esforços especiais para conseguir o que desejavam), o termo "cristianismo burguês" não significa que ele seja específico desse grupo social. Trata-se, de fato, de uma mentalidade que pode ser encontrada em pessoas que pertencem a diferentes classes sociais, segundo a qual o valor supremo que deve ser perseguido na vida é a estabilidade. Nos seus escritos, São Josemaria exorta-nos a enfrentar esta concepção: “Tens obrigação de aproximar-te dos que estão à tua volta, de sacudi-los da sua modorra, de rasgar horizontes diferentes e amplos à sua existência aburguesada e egoísta, de lhes complicar santamente a vida, de fazer que se esqueçam de si mesmos e compreendam os problemas dos outros”[25].

Do ponto de vista religioso, a mentalidade burguesa é problemática, porque tende a extinguir o sentido de missão. O cristão burguês procura acima de tudo moderação e segurança. Por outro lado, quem descobre que tem uma missão, algo importante para fazer na vida, está disposto a correr riscos e embarcar em aventuras com final incerto. O Evangelho é muito ilustrativo a este respeito. Por exemplo, mostrando-nos como Pedro, Tiago e João, “deixando tudo, o seguiram” (Lc 5,11); ao comparar o reino de Deus a um tesouro escondido, pelo qual se está disposto a vender tudo (Mt 13,44); ou retomando as palavras de Jesus ao escriba que diz estar disposto a segui-Lo aonde quer que vá: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde descansar a cabeça” (Mt 8,20).

Certamente, as pessoas sempre precisam de um mínimo de segurança, especialmente em tempos tão incertos como os atuais. O problema está em fazer da segurança ou da estabilidade os valores dominantes, a meta a que aspiramos na vida. Quem adota essa mentalidade dificilmente sente necessidade de melhorar as coisas e tende a se contentar com o que está ali, pois não quer complicar a vida. Pelo contrário, o sentido de missão que faz parte do DNA do cristianismo leva a viver a vida como uma aventura, pensando na melhor forma de servir a Deus e aos outros com a própria profissão.

O encontro de Jesus com o jovem rico não é menos eloquente nesse aspecto. Este jovem seria o protótipo do cristão burguês: uma pessoa que obedece aos mandamentos, tem boa vontade e até desejos nobres, mas que não é capaz de correr o risco de seguir o chamado de Jesus. O obstáculo são as riquezas, que podem ser entendidas tanto no sentido literal de bens materiais como no sentido de posição social ou segurança alcançada. Quando Jesus lhe diz: “Falta-te uma coisa. Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres; depois vem e segue-me” (Mc 10,21), convida-o a abandonar a sua segurança e a confiar plenamente Nele.

O cristão é “essencialmente social”

A cena do jovem rico mostra que um dos principais problemas do cristianismo burguês é que ele reduz o cristianismo à moralidade. Embora o Evangelho seja expresso de forma moral e tenha consequências práticas, esse não é o núcleo da vida cristã. A essência do cristianismo não consiste em ser “boa pessoa”, mas em encontrar e identificar-se com uma pessoa, Jesus Cristo: o único verdadeiramente bom (cf. Mc 10,18). O que moveu Pedro, Tiago e João a abandonar tudo não foi um ideal ético, mas o fascínio que a descoberta do Messias lhes causou.

Poderíamos dizer que no cristianismo burguês a vida religiosa é algo enfadonho e previsível: algumas práticas de piedade, sacramentos, a necessidade de lutar e a confissão como uma “lavanderia” para tirar as manchas[26]. Por outro lado, a religiosidade genuína é sempre acompanhada de surpresa, das sucessivas conversões e da descoberta de novos Mediterrâneos, que normalmente não são fruto de experiências extraordinárias, mas de perseverança na relação com Deus[27].

O cristianismo burguês também pode levar a uma distorção do Evangelho que Bento XVI alerta na Spe Salvi: pensar que a única coisa importante é que eu me salve[28]. Certamente, o Julgamento de Deus será pessoal e não podemos ser responsabilizados pelas decisões que outra pessoa tomou livremente. Contudo, a vida cristã não conduz a uma perfeição “egoísta”, que nos feche em nós mesmos, mas coloca o centro da vida fora de nós mesmos: na dedicação, no serviço, na renúncia, no seguimento. Uma pessoa não se salva sozinha, no sentido de que é independente dos outros. Por isso, no Juízo pessoal seremos questionados sobre como contribuímos para conduzir o mundo para Deus, envolvendo-nos na vida de quem caminha ao nosso lado (cf. Mt 25, 31-46). Precisamos então perguntar-nos como nos preocupamos com o bem do próximo: como os acompanhamos, os consolamos, os encorajamos.

Na Carta citada no início, São Josemaria afirma que “um cristão não pode ser individualista, não pode ignorar os outros, não pode viver egoisticamente, de costas para o mundo: é essencialmente social, membro responsável do Corpo Místico de Cristo (…). Nosso trabalho apostólico contribuirá para a paz, para a colaboração dos homens entre si, para a justiça, para evitar a guerra, evitar o isolamento, evitar o egoísmo nacional e os egoísmos pessoais: porque todos perceberão que formam parte de toda a grande família humana, que está dirigida por vontade de Deus à perfeição. Assim contribuiremos para tirar esta angústia, este temor por um futuro de rancores fratricidas, e para confirmar nas almas e na sociedade a paz e a concórdia: a tolerância, a compreensão, o trato, o amor”[29].

Nessas mesmas páginas, São Josemaria compartilha um dos seus grandes desejos: “gostaria que, no catecismo da doutrina cristã para as crianças, se ensinasse claramente quais são estes pontos firmes, nos que não se pode ceder, ao atuar de um modo ou de outro na vida pública; e que se afirmasse, ao mesmo tempo, o dever de atuar, de não se abster, de prestar a própria colaboração para servir com lealdade, e com liberdade pessoal, ao bem comum”[30].

São estes, de fato, os canais pelos quais discorre a doutrina social da Igreja, evitando uma concepção de vida cristã que se concentra nos deveres religiosos e familiares, mas negligencia os deveres cívicos[31]. A vida espiritual não é algo “íntimo”, e o chamado a realizar o Reino de Deus não pode ser identificado apenas com o empenho apostólico pessoal. É preciso também ter vontade de melhorar o mundo através do próprio trabalho, seja na esfera pública ou em casa. E isso exige conceber a própria profissão como um serviço, isto é, como um meio de servir a Deus e aos outros. “Necessitamos que o Senhor dilate o nosso coração, que nos dê um coração à sua medida, para que nele entrem todas as necessidades, as dores, os sofrimentos dos homens e das mulheres do nosso tempo, especialmente dos mais fracos”[32].

O fato de algumas leis e modos de vida terem se afastado da mensagem evangélica deveria levar-nos a pensar no que mais podemos fazer. E, também, o que poderíamos ter feito melhor: porque talvez em algumas ocasiões deixamos de ser fermento, sal, luz. Na medida em que, como indica São Josemaria, isso não se deva ao egoísmo ou à má vontade, é simplesmente falta de formação[33], cabe perguntar-se: o que poderia faltar na transmissão da fé? Onde quer que o cristianismo burguês tenha se difundido, será conveniente despertar o sentido de missão, para colocar-se ao serviço desse reino de Deus que já está entre nós[34].

_______________________

Notas:

[23] São Josemaria, Forja, n. 936.

[24] São Josemaria, Sulco, n. 716.

[25] Forja, n. 900.

[26] Cfr. Francisco, Homilia, 21/03/2017.

[27] Cfr. Forja, n. 570.

[28] Spe Salvi, nn. 13-14.

[29] São Josemaria, Carta 3, nn. 37-38.

[30] Ibidem, n. 45.

[31] Ibidem, n. 46.

[32] Mons. F. Ocáriz, À luz do Evangelho

[33] São Josemaria, Carta 3, n. 46.

[34] Cfr. Lc 17,20.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-cristianismo-burgues/

Exercícios Espirituais no Vaticano, 5ª Meditação: "Moribundos ou vivos?" (V)

Padre Roberto Pasolini prega os Exercícios Espirituais para a Cúria Romana  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Exercícios Espirituais no Vaticano, 5ª Meditação: "Moribundos ou vivos?"

O pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini, fez na tarde desta terça-feira, 11 de março, a sua quinta meditação no âmbito dos Exercícios Espirituais da Quaresma à Cúria Romana, sobre o tema "A esperança da vida eterna: Moribundos ou vivos?" Os Exercícios Espirituais estão em andamento sem a presença do Papa Francisco que está internado no Hospital Gemelli. Publicamos a síntese da quinta Meditação.

Vatican News

O verdadeiro desafio do nosso caminho não é apenas atravessar a morte, mas reconhecer que a vida eterna começa aqui. Muitas vezes nos iludimos achando que existem apenas duas categorias de pessoas: os vivos e os mortos. O Evangelho de João, com a ressurreição de Lázaro, desafia essa visão: os verdadeiros mortos não são apenas aqueles que param de respirar, mas também quem está bloqueado pelo medo, pela vergonha e pelo controle. Lázaro, envolto em faixas que limitam todos os movimentos, representa todos nós quando nos deixamos sufocar por expectativas e esquemas rígidos, perdendo o contato com nossa liberdade interior.

Marta e Maria, diante da morte do irmão, expressam uma fé condicional: "Se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido" (Jo 11, 21). Essa mentalidade reflete a ideia de um Deus que deve sempre intervir para nos poupar da dor. Mas Jesus não veio para eliminar o sofrimento, mas para transformá-lo: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25). A verdadeira questão, então, não é se morreremos, mas se já estamos vivendo realmente, confiando em Cristo e em sua palavra.

Este desafio também emerge no episódio da mulher que sofria de hemorragia que estava doente há doze anos e que, apesar de tudo, ousa tocar no manto de Jesus para buscar a cura (Mc 5, 25-34). Sua condição representa toda a humanidade: buscamos remédios, buscamos vida, mas muitas vezes confiamos em falsos ídolos que nos deixam vazios. Somente o contato com Cristo pode trazer a verdadeira cura, que não é apenas física, mas interior: a capacidade de se confiar e se sentir acolhido.

Jesus lhe diz: “Minha filha, a tua fé te salvou” (Mc 5, 34), mostrando que a salvação não é uma intervenção externa de Deus, mas se expressa na capacidade de nos abrirmos à sua presença. O mesmo vale para a confissão e para toda experiência de reconciliação: um ato formal não é suficiente, é preciso que o nosso coração redescubra a confiança num Deus que realmente nos quer vivos.

O sinal de Lázaro e a cura da mulher com hemorragia nos colocam uma pergunta radical: somos moribundos que aguardam o fim ou vivos que já começaram a experimentar a ressurreição? A vida eterna não é apenas uma recompensa futura, mas uma realidade que podemos escolher agora, vivendo com liberdade, esperança e confiança no Deus que nos chama à plenitude.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF