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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Embrião do cristianismo

Cristianismo primitivo (Appai)

EMBRIÃO DO CRISTIANISMO 

26/05/2025

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

O Antigo Testamento foi uma experiência demorada para a construção das bases fundamentais de toda a História da Salvação. Realmente tudo foi uma gestação bastante longa, que começou com os antepassados, Abrão e Sarai (cf. Gn 11,29), originários de UR, na Caldeia, passando por Abraão e Sara (Gn 17,15), Moisés, os profetas, chegando ao grande acontecimento, a vinda e a vida de Jesus Cristo. 

Aquilo que chamamos de embrião em todo o passado, tem uma continuidade no surgimento dos passos do cristianismo. Os fundamentos continuam no Novo Testamento, porque podemos dizer que o grande embrião mesmo foi a vinda do Espírito Santo, no acontecimento de Pentecostes. Ele toma forma ao entregar à Igreja a tarefa de ser sinal de sua presença no mundo. 

A Igreja, como expressão viva e concreta do cristianismo no mundo e fruto maduro de uma antiga promessa, se torna realidade visível no testemunho de fidelidade de cada pessoa que procura viver sua fé em Deus. É Jesus mesmo quem disse aos seus apóstolos: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Este fato é relatado como sendo cinquenta dias depois da Festa da Páscoa, daí, Pentecostes. 

Entre os judeus havia a chamada festa das Tendas (cf. Lv 23,34). Por influência dos gregos, esta festa passou a receber o nome de Pentecostes (cf. Tb 2,1). Era a festa das colheitas, quando os agricultores iam a Jerusalém, levando os melhores frutos em sinal de agradecimento a Deus. Passou a ser também gesto de gratidão pelo dom da Lei dada por Deus a Moisés, no monte Sinai. 

No Novo Testamento, o entendimento é que a Lei do Decálogo era a presença do Espírito Santo para guiar o povo. Por isto, Pentecoste é o embrião da Igreja, como dom do Ressuscitado na nova História de atuação de Deus na humanidade. Jesus sopra sobre os apóstolos e o Espírito vem em forma de fogo, revitalizando o acontecido nos arredores do monte Sinai (cf. Ex 19,18). 

Por causa da solidez da gestação e de seus fundamentos, a Igreja está presente no mundo e continua a missão de Jesus, mesmo enfrentando maus testemunhos, mudanças ligadas à caminhada da cultura, mas está de pé firme. Ainda é uma voz forte voltada para a dignidade e o respeito pelas pessoas mais fragilizadas, porque o Espírito de Pentecostes continua com todo seu vigor em nossos dias. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Relíquia de São Leão Magno inserida na cruz peitoral de prata do Papa

As relíquias de São Leão Magno, Santo Agostinho, São Tomás de Vilanova e do Beato Anselmo Polanco (Vatican News)

Foram inseridos os fragmentos de ossos de quatro bispos na cruz peitoral de prata doada pelo Círculo de São Pedro a Leão XIV no dia de sua eleição. Os bispos são: São Leão Magno, Santo Agostinho, São Tomás de Vilanova e o Beato Anselmo Polanco. A ideia foi do guardião do sacrário apostólico, padre Silvestrini, que compreendeu o desejo do Papa de se confiar à proteção de seu homônimo predecessor.

Tiziana Campisi – Vatican News

Guiando os passos de Leão XIV está agora também São Leão Magno, o quadragésimo quinto sucessor de Pedro, que viveu entre os séculos IV e V, contemporâneo de Santo Agostinho. Ele promoveu a unidade da Igreja, combateu heresias, definiu a primazia do bispo de Roma e compôs as mais belas coletas do Missal Romano. Na cruz peitoral de prata doada ao Papa Prevost no dia de sua eleição, 8 de maio, pelo Círculo de São Pedro, estão guardadas as relíquias de ossos de quatro bispos: a de São Leão Magno, bispo de Roma, a de Santo Agostinho, bispo de Hipona, a de São Tomás de Vilanova, arcebispo de Valência, e a do Beato Anselmo Polanco, bispo de Teruel, mártir.

As relíquias de São Leão Magno, Santo Agostinho, São Tomás de Vilanova e do Beato Anselmo Polanco (Vatican News)

A ideia do guardião do Sacrário Apostólico

A ideia de mandar fazer um novo "relicário" para Leão XIV, para ser inserido na cruz peitoral dada de presente ao Papa, partiu do guardião do sacrário apostólico, padre Bruno Silvestrini, da comunidade agostiniana da Sacristia Pontifícia. Aproveitando o desejo de seu confrade Pontífice de se confiar à proteção e orientação de Leão Magno, o religioso decidiu recorrer ao especialista em relicários Antonino Cottone, que já tinha feito cinco relíquias, com técnicas medievais tradicionais, para a cruz peitoral doada a Prevost pela Cúria Geral dos Agostinianos no dia em que foi criado cardeal, 30 de setembro de 2023.

A confecção da "cruz relicária" (Vatican News)

Um trabalho meticuloso

Dito e feito, na última segunda-feira, o especialista levou apenas duas horas para dar vida, com meticulosa precisão e apaixonada dedicação, a uma nova pequena cruz com filigranas de papel dourado (paperoles) sobre moiré vermelho (um tecido tafetá cuja aparência simula os veios da madeira ou do mármore, produzindo um efeito variável), onde 4 pequenas flores de papel acolheram as relíquias dos 4 ilustres pastores da Igreja. Com suas mãos experientes, Cottone enrolou, modelou e colou pequenas tiras de papel, criando uma série de elementos decorativos entre os quais inseriu os preciosos fragmentos de "ossos sagrados".

Antonino Cottone enquanto prepara as relíquias para serem inseridas na cruz peitoral do Papa (Vatican News)

A entrega a Leão XIV

Concluída a obra, o artesão colocou a "cruz-relicário" dentro da cruz peitoral papal e, muito emocionado, entregou-a a Leão XIV, colocando-a em seu pescoço. O Papa acolheu com alegria a cruz peitoral, enriquecida com as relíquias dos quatro bispos que lhe são particularmente queridos.

Antonino Cottone entrega a cruz peitoral na qual inseriu as relíquias dos quatro bispos queridos ao Papa Leão XIV (Vatican News)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 27 de maio de 2025

São Tomás de Aquino e o momento da Infusão da Alma no Corpo

A Suma Teológica de São Tomás de Aquino (apologistascatolicos)

São Tomás de Aquino e o momento da Infusão da Alma no Corpo

By Rafael Rodrigues

Abril 4, 2025

Para a doutrina católica a infusão da alma da pessoa ocorre no momento exato da concepção, ou seja, no momento exato em que o espermatozoide fecunda o óvulo no ventre da mulher. Porém no passado, para os escolásticos e outros pensadores que se baseavam em ideia da filosofia grega, isto não era assim. São Tomás de Aquino, um dos mais influentes teólogos e filósofos da Idade Média, desenvolveu uma visão detalhada sobre a infusão da alma no corpo humano, baseada na síntese de filosofia aristotélica e teologia cristã. A compreensão de São Tomás sobre este tema está amplamente documentada em sua obra principal, a “Suma Teológica”.

A NATUREZA DA ALMA

Para entender a visão de São Tomás sobre a infusão da alma, é essencial primeiro compreender sua definição de alma. Tomás de Aquino segue Aristóteles ao definir a alma como a “forma do corpo” (forma corporis). Em sua “Suma Teológica”, ele afirma:

A alma é o primeiro princípio da vida em coisas vivas, e não só a razão do movimento, mas também da sensação e do alimento e do crescimento” (ST I, q. 75, a. 1).

A alma, portanto, é o princípio vital que anima o corpo, conferindo-lhe vida e capacidade de movimento, percepção e crescimento.

O PROCESSO DE INFUSÃO DA ALMA

Tomás de Aquino distingue entre três tipos de alma: vegetativa, sensitiva e racional. Cada uma dessas almas corresponde a diferentes formas de vida: plantas, animais e seres humanos, respectivamente. Ele argumenta que a alma racional, própria dos humanos, é infundida diretamente por Deus.

Aquino aborda o momento da infusão da alma racional na “Suma Teológica”:

Diz-se que a alma racional é criada por Deus quando é infundida no corpo, e que o corpo é gerado pelos pais; de modo que aquilo que se gera pelo processo natural é o corpo, ao qual, no término da geração, é unida a alma racional, criada por Deus” (ST I, q. 118, a. 2).

Aqui, Aquino sugere que a alma racional é infundida no corpo humano após o término da geração do corpo, implicando um momento específico no desenvolvimento fetal, e não diretamente na concepção ou fecundação do óvulo.

A INFUSÃO DA ALMA NA FORMAÇÃO DO CORPO

São Tomás de Aquino também discute a formação do corpo e a subsequente infusão da alma racional. Ele adota uma perspectiva que pode ser descrita como “animacionismo mediado”, onde as almas vegetativa e sensitiva são infundidas antes da alma racional. Isso ocorre em etapas durante o desenvolvimento fetal.

Em sua obra “Questões Disputadas sobre a Alma”, Aquino explica:

O corpo humano é primeiro vivificado pela alma vegetativa, depois pela sensitiva, e finalmente pela racional” (De Anima, q. 11, a. 3).

São Tomás de Aquino se baseia na filosofia aristotélica, e muitos estudiosos medievais, incluindo alguns tomistas, interpretaram as ideias de Aristóteles para concluir que a alma racional seria infundida em um ponto específico do desenvolvimento fetal, embora Tomás em si não tenha fornecido esses números exatos.

Para ser mais preciso, aqui está uma citação direta de São Tomás sobre a infusão da alma racional sem especificar um tempo exato:

A alma intelectual é criada por Deus, infundida no corpo perfeito, não transmitida pelos pais, e ao corpo é dada a forma na geração pela alma sensitiva, que é retirada na chegada da alma intelectual” (Suma Teológica, I, q. 118, a. 2).

Portanto, São Tomás de Aquino discute a criação e infusão da alma racional por Deus quando o corpo está suficientemente formado e apto para receber a alma.

A ideia de que a alma racional é infundida no corpo humano em um determinado número de dias após a concepção remonta a interpretações da obra “A Geração dos Animais” de Aristóteles, sugere que a formação do embrião humano ocorre em etapas, com a alma racional sendo infundida após um certo tempo de desenvolvimento. Os tempos mencionados variam entre 40 dias para machos e 80 dias para fêmeas, uma ideia que foi amplamente aceita e discutida por filósofos e teólogos medievais.

Embora São Tomás de Aquino não mencione especificamente esses dias, ele está fortemente influenciado pelas ideias aristotélicas sobre a animação retardada. Vamos olhar diretamente para Aristóteles e alguns comentários medievais para ver como essas ideias se desenvolveram.

Aristóteles

Aristóteles discute o desenvolvimento do embrião humano em “A Geração dos Animais” (Livro II, Capítulo 3):

“Quanto aos seres humanos, o embrião tem uma alma vegetativa desde o começo, depois uma alma sensitiva e, finalmente, a alma racional é infundida.” (Generation of Animals, II, 3).

Aristóteles não especifica o número de dias na obra citada, mas sua obra “História dos Animais” (Livro VII, Capítulo 3) sugere o desenvolvimento progressivo do feto.

Comentadores Medievais

Santo Alberto Magno

Santo Alberto Magno, o mentor de São Tomás de Aquino, em sua obra “De Animalibus”, interpreta Aristóteles e menciona especificamente os 40 e 80 dias:

“Diz-se que para os machos, a alma racional é infundida no quadragésimo dia após a concepção, e para as fêmeas, no octogésimo dia.” (De Animalibus, Livro II).

Comentários Escolásticos

Os comentários escolásticos sobre Aristóteles frequentemente mencionam esses tempos. Por exemplo, o comentário de Pedro Lombardo nas “Sentenças” também ecoa essa visão, embora de maneira mais geral:

Há um entendimento que a alma racional é infundida após a formação inicial do corpo, aproximadamente 40 dias após a concepção para os machos e mais tempo para as fêmeas.” (Sentenças, Livro II, Distinção 18).

CONCLUSÃO

Para entender o processo de infusão da alma combina a filosofia aristotélica com a teologia cristã, resultando em uma compreensão detalhada do processo de infusão da alma. A alma racional, criada diretamente por Deus, é infundida no corpo humano após aproximadamente 40 dias para os machos e 80 dias para as fêmeas, marcando o início da plena vida. Hoje já não se cogita essa ideia de animação tardia, porém o estudo desse pensamento do Aquinate serve-nos para entender sua ideia de concepção humana inclusive no que tange suas opiniões a respeito da imaculada conceição de Maria.

Fonte: https://apologistascatolicos.com.br/sao-tomas-de-aquino-e-o-momento-da-infusao-da-alma-no-corpo/

Uma muralha intransponível: O dia de guarda

Uma muralha intransponível (Crédito: Opus Dei)

Uma muralha intransponível: O dia de guarda

O dia de guarda é um costume no Opus Dei que consiste em dedicar um dia da semana para viver com especial intensidade a fraternidade cristã, lembrando-nos dos outros na oração, na mortificação e nos pequenos detalhes de caridade.

24/03/2025

Não é raro que, ao viajar por algum país e visitar seus monumentos mais emblemáticos, nos deparemos com alguma grande construção de pedra. Ficamos atônitos, impressionados com os séculos - ou milênios - que essas edificações viram passar. Talvez tenham precisado de alguma restauração, mas não muitas, em comparação com o tempo em que estão de pé. Alguns deles, além disso, não têm nenhuma argamassa ou cimento para unir seus blocos de pedra: tudo o que é necessário é a compressão de umas pedras sobre as outras.

Filhos de um mesmo Pai

Ao olharmos para esses monumentos, lembramo-nos da citação do Livro dos Provérbios: “um irmão ajudado pelo irmão é como uma cidade fortificada; é forte como os ferrolhos dum castelo” (Prov. 18,19). É como um desses muros de pedra que resistiram ao ataque dos exércitos inimigos, à inclemência do tempo e ao passar dos anos. Mas ele permanece lá: firme, forte e compacto.

Somos como essas pedras e, se nos apoiarmos uns aos outros, a Obra será como uma cidade firme: “Hoje faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e muros de bronze” (Jer 1,18). “Dessa forma -dizia o Prelado do Opus Dei - o amor que nos une é o mesmo amor que mantém a Obra unida”[1]. Portanto, poderíamos dizer que, de certa forma, a unidade no Opus Dei — aspecto essencial e paixão dominante — depende da nossa vida. Isto é algo que a Bem-aventurada Guadalupe experimentou na própria pele e contava a São Josemaria: “A Obra sou eu mesma e não poderia ser de outra forma. Que alegria me dá sentir isso tão claramente e sempre, desde o primeiro dia e cada vez mais!”[2].

Cuidamos dos outros membros da Obra porque eles são nossos irmãos e irmãs. Unidos por laços sobrenaturais, mais fortes que os de sangue, estamos construindo o Opus Dei. Ou seja, vamos nos ajudando a ser santos e a ser apóstolos. Mas a fraternidade não é apenas uma tarefa a mais por realizar, como o trabalho ou as normas de piedade, mas sim uma realidade que anima nossa vida cotidiana. Vivemos, rezamos, alegramo-nos e sofremos sabendo que somos filhos do mesmo Pai e, portanto, irmãos entre nós: “A filiação divina é uma atitude profunda da alma, que acaba por informar a existência inteira: está presente em todos os pensamentos, em todos os desejos, em todos os afetos.E expande-se necessariamente em fraternidade”[3].

Vigilância amorosa

O dia de guarda nos ajuda a querer reforçar essa cidade amuralhada. Dom José Luis Múzquiz lembra o momento em que ouviu falar pela primeira vez sobre esse costume. Foi durante uma meditação no centro da Rua Diego de León, por volta de 1942, quando São Josemaria, aludindo à vigilância fraterna que deveríamos viver na Obra, “repetia as palavras da Escritura: Custos, quid de nocte? - Sentinela, alerta! (Is 21,11). E então essa prática começou a ser vivida, levando cada um a estar 'de guarda' um dia por semana, procurando viver com mais delicadeza o espírito de fraternidade”.

Essa frase da Escritura serviu de inspiração para São Josemaria ao escrever aquele ponto em Sulco: “- Sentinela, alerta! Tomara que tu também te acostumes a ter, durante a semana, o teu dia de guarda: para te entregares mais, para viveres com mais amorosa vigilância cada detalhe, para fazeres um pouco mais de oração e de mortificação[4]. Se voltarmos ao exemplo das cidades fortificadas, é fácil imaginarmos soldados de guarda patrulhando suas muralhas, subindo e descendo. O trabalho deles é importante. Se eles vigiam, seus irmãos dentro da cidade, protegidos, podem viver tranquilamente: sabem que o inimigo não poderá entrar. A cidade estará bem protegida.

É próprio de qualquer família que todos se ocupem em levar o lar para frente. Cada um contribui à sua maneira. O pai e a mãe dividem certas tarefas, ao mesmo tempo que sabem confiar outras tarefas aos filhos, especialmente aos mais velhos. E, em épocas em que um membro da família está especialmente necessitado, não hesitam em combinar entre todos para garantir que ele se sinta cuidado e bem acompanhado o tempo todo.

Esse lar que constitui cada família não é algo que já vem pronto: é um trabalho artesanal e cotidiano. O dia de guarda nos convida a considerar a maneira como “criamos um lar”, porque “cada um traz um valor necessário e insubstituível”[5]. Todos nós temos capacidades únicas que podem contribuir para a felicidade dos outros. Com nossos talentos e nosso modo de ser, podemos ajudar nossos irmãos a trilhar o caminho da santidade. Mais do que realizar algo específico nesse dia, trata-se de vivê-lo com um coração transformado pelos sentimentos e afetos do Senhor: “Não tenham medo de amar nobremente, santamente. Amem-se muito: não tenham vergonha de ter coração. Não basta apenas tolerar-nos. Isso é pouco. Não basta a caridade oficial, fria. Carinho!, humano e sobrenatural. Devemos colocar o carinho de Cristo inflamado de amor pelos homens, por sua Mãe, pelos apóstolos, por Lázaro. Quando alguém sofre, todos sofrem com ele. E, se alguém tem uma alegria, alegramo-nos com ele também”[6].

Manancial de água fresca

Todos os homens são chamados a tecer relacionamentos. Nossa felicidade não depende tanto dos sucessos que possamos colher ou dos bens que consigamos alcançar, mas da forma como – a exemplo de Jesus Cristo – soubemos amar e nos entregar aos outros. O cristão é chamado a sair de si mesmo e estabelecer vínculos profundos e estáveis com seus irmãos. A verdadeira fraternidade é aquela que “sabe olhar a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar os incômodos da convivência apegando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para buscar a felicidade dos outros como a busca seu bom Pai”[7].

Quando vivemos essa lógica cristã de nos aproximarmos dos outros e buscarmos o seu bem, estamos ampliando nosso mundo interior para compartilhar e receber os dons de Deus: isso nos permite ser esse manancial que dá água fresca aos nossos irmãos. Por isso, o que vivermos no dia de guarda estará dirigido a cultivar essas relações, a ir ao encontro do outro e descobrir nele o rosto de Jesus.

Nesse dia, cada um tratará de pedir a Deus pelos seus irmãos: cuidará a prática das “normas e costumes; procurará intensificar seu relacionamento habitual com Deus, dedicará mais tempo à oração, acrescentará alguma mortificação especial”[8]. Esse empenho muitas vezes poderá se expressar a partir das realidades que o dia nos propõe: desde as práticas de piedade que já realizamos – e que, alguma, podemos prolongar um pouco – ou realizando outras que naquele dia nos convenham, oferecendo as lutas da vida familiar ou do trabalho, mortificações que nos facilitem o exercício da caridade etc. Em suma, as maneiras concretas de viver esse costume – que não é uma questão de quantidade – são formas de nos despertar, de nos lembrar de algo que já estamos procurando viver habitualmente: ter nossos irmãos no coração e na mente. E, neste âmbito, podemos aplicar a criatividade e engenhosidade dos filhos de Deus.

Isso pode nos levar a participar das alegrias e sofrimentos de nossos irmãos. Nos encontros ou momentos de convivência, muitas vezes teremos ouvido falar de anseios e sonhos: projetos apostólicos e de formação, notícias do trabalho ou da família de cada um... Se estivermos atentos e com o coração voltado para as coisas dos outros, saberemos encontrar em tudo um motivo a mais para nossa resposta à graça. O dia de guarda nos traz à memória tudo isso e o transforma em impulso para a vida interior: “Não cessamos de dar graças a Deus por todos vós, e de lembrar-vos em nossas orações. Com efeito, diante de Deus, nosso Pai, pensamos continuamente nas obras da vossa fé, nos sacrifícios da vossa caridade e na firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, sob o olhar­ de Deus, nosso Pai.” (1 Tess 1,2-3). A fé, a esperança e a caridade de nossos irmãos estão, de algum modo, em nossas mãos.

* * *

“Perceba que a Santa Igreja é como um grande exército em ordem de batalha. E você, dentro desse exército, defende uma ‘frente’, onde há ataques, lutas e contra-ataques. Compreende? Essa disposição, ao aproximar-se mais de Deus, impulsionará a que você transforme as suas jornadas, uma após outra, em dias de guarda”[9]. De fato, o espírito com que vivemos essa prática não é algo acessório e restrito a apenas aquele dia, mas busca informar progressivamente nossa existência, para que esteja cada vez mais enraizada no amor do Senhor. Somos chamados a ser aquela lâmpada que ilumina todos os cantos, o sal que sabe desaparecer para dar sabor à vida em família. E assim, viveremos “para tornar mais fácil o serviço das almas que se entregam a Deus” [10].


[1] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 1-XI-2019, n. 14.

[2] Bem-aventurada Guadalupe Ortiz de Landázuri, Cartas a um santo, carta 28-V-1959.

[3] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 28-X-202, n. 03.

[4] São Josemaria, Sulco, n. 960.

[5] Mons. Fernando Ocáriz, Mensagem, 19-III-2021.

[6] São Josemaria, Anotações de uma tertúlia, 1-XI-1964.

[7] Francisco, Evangelii Gaudium, n. 92.

[8] De spiritu, n. 124.

[9] São Josemaria, Sulco, n. 960.

[10] São Josemaria, Anotações de uma tertúlia, V-1955.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/uma-muralha-intransponivel-o-dia-de-guarda/

Breve dicionário comunicacional do Papa Francisco

Breve dicionário comunicacional do Papa Francisco (CNBB)

Subsídio gratuito elaborado pelo Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB resgata palavras essenciais da comunicação do Papa Francisco.

Vatican News

O Grupo de Reflexão sobre Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Grecom/CNBB) apresenta o Breve dicionário comunicacional do Papa Francisco, um e-book gratuito que celebra o legado de Francisco na arte de comunicar. O subsídio é publicado como homenagem póstuma ao primeiro pontífice latino-americano, por ocasião dos 30 dias de sua Páscoa definitiva, ocorrida no Domingo de Páscoa de 2025, no dia 21 de abril passado.

Composto por 12 verbetes que evocam os 12 anos de pontificado de Francisco, o dicionário apresenta palavras-chave que marcaram seu magistério comunicacional: alegriacoraçãodiálogoencontroescutaesperançafraternidademisericórdiapazproximidadeternura e verdade. A obra é um convite à contemplação do estilo comunicativo do papa que falou ao coração da humanidade com seus gestos, silêncios e palavras, desde sua primeira aparição na sacada da Basílica de São Pedro, naquele saudoso e memorável 13 de março de 2013.

Na apresentação do subsídio, Dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, afirma que Francisco foi um guia espiritual que testemunhou “a alegria de evangelizar, de uma forma verdadeira, suave e terna, decidida e profética”. Ao refletir sobre o legado do pontífice, Dom Valdir ressalta que sua comunicação foi geradora de uma cultura do encontro, marcada pela proximidade e pela interação humana, e não apenas por técnicas ou estratégias.

Na introdução do e-book, o coordenador do Grecom, Moisés Sbardelotto, professor da PUC Minas, sublinha que a obra nasce do desejo de rememorar, “com ternura e esperança”, um pontificado que moveu e comoveu a Igreja e o mundo com seu jeito de comunicar. Para Sbardelotto, mais do que meros conceitos, as palavras reunidas no dicionário são “sementes que o papa lançou nos sulcos da Igreja, da sociedade e da história”, convidando a cultivar uma comunicação que seja “presença e profecia”.

Fruto da reflexão dos membros do Grecom, cada verbete foi escrito a partir de uma escuta atenta e sensível ao pensamento e ao testemunho do papa, revelando como suas ideias e ações desafiam e inspiram todas as pessoas, especialmente aquelas que atuam no campo da comunicação. Não se trata de um compêndio técnico ou teórico, mas sim de um tributo vivo ao “coração comunicador” de Francisco, um papa que acreditava que comunicar é, antes de tudo, promover a proximidade e construir pontes em vez de muros.

Destinado a todas as pessoas que desejam comunicar com proximidade, compaixão e ternura, seguindo o “estilo de Deus”, como dizia o pontífice, o Breve dicionário busca manter vivo o sonho de Francisco: promover, na vida e na missão da Igreja, uma comunicação “em saída”, pastoral e sinodal, dialógica e missionária. O novo tempo eclesial, com o pontificado de Leão XIV, também pede uma comunicação “desarmada e desarmante”, a serviço da verdade, da justiça e da paz, a fim de reacender a esperança nos dias de hoje. Com este subsídio, o desejo do Grecom é de que o legado comunicacional do Papa Francisco permaneça vivo e fecundo na vida da Igreja, que segue a caminho, sempre adelante.

O Grecom é um grupo de reflexão sobre comunicação de natureza consultiva ligado à Comissão Episcopal para a Comunicação Social da CNBB. O grupo articula especialistas de várias partes do Brasil, a fim de oferecer um aprofundamento sobre comunicação a serviço da evangelização e da sociedade, em um permanente “mutirão”. Atualmente, o grupo é formado por Aline Amaro da Silva (PUC Minas, vice-coordenadora), Ir. Joana T. Puntel, fsp (Sepac/Itesp), Claudenir Modolo Alves (Faculdade São Bento), Magali do Nascimento Cunha (Iser e Coletivo Bereia), Marcus Tullius (Cáritas América Latina e Caribe), Moisés Sbardelotto (PUC Minas, coordenador) e Ricardo Alvarenga (UFMA).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 26 de maio de 2025

HISTÓRIA: 1789-1799. Dez anos que mudaram a relação entre o papado e o poder

A capa do livro de Gérard Pelletier | 30Giorni

Arquivo 30Dias,  número 05 - 2004

Apresentação no Centro Cultural São Luís dos Franceses

1789-1799. Dez anos que mudaram a relação entre o papado e o poder

de Pierluca Azzaro

Em 21 de abril deste ano, o livro Rome et la Révolution française. La théologie et la politique du Saint-Siège devant la Révolution française (1789-1799), de Gérard Pelletier (École Française de Roma, 2004), foi apresentado no Centro Cultural São Luís dos Franceses, em Roma, na presença do embaixador da França junto à Santa Sé, Pierre Morel. Eminentes representantes da comunidade científica italiana e internacional participaram da apresentação, como Pierre Blet s.j., professor emérito da Universidade Gregoriana e famoso por suas pesquisas sobre Pio XII e a Segunda Guerra Mundial à luz dos Arquivos Vaticanos; Agosti­nho Borromeu, professor ordinário de História da Igreja Moderna e Contemporânea da Universidade La Sapienza de Roma; e Andrea Riccardi, professor ordinário de História do Cristianismo na Universidade de Roma Três.

Como foi que a Santa Sé reagiu à Revolução Francesa? Qual foi a atitude de Pio VI e de seus colaboradores diante dos eventos que se seguiram à Revolução, em primeiro lugar a Constituição Civil do Clero de 1790? Essas as perguntas são o pano de fundo do amplo trabalho de Gérard Pelletier, jovem pároco de Saint-Louis en l’Ile, em Paris. Para responder a elas, o autor não parte “de considerações de natureza psicológica” - como sublinhou Pierre Blet -, mas da consulta minuciosa de ampla documentação histórica, até hoje “totalmente negligenciada ou ao menos só parcialmente utilizada”, como quis lembrar Agostino Borromeo.

A imponente quantidade de fontes históricas em que se baseia a pesquisa de Pelletier abarca não apenas a documentação de natureza mais diretamente político-diplomática - a correspondência da Secretaria de Estado com os vários núncios apostólicos - mas também os documentos conservados nos arquivos das várias congregações romanas, em particular os da antiga Congregação do Santo Ofício, até pouco tempo i­nacessíveis aos historiadores, mas que hoje podem ser consultados no Arquivo Histórico da Congregação para a Doutrina da Fé.

Os eventos da década de 1789 a 1799 suscitaram um debate não apenas político-diplomático, mas também doutrinal-teológico, que o autor reconstrói com grande precisão.

E esse duplo resultado do sig­nificativo trabalho de Pelletier que serve como ponto de partida para a conferência de Andrea Riccardi, que encontra, nesse debate, os grandes temas e as grandes questões que marcariam a história da Igreja nos séculos XIX e XX.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Em dois dias, Paróquia Santa Maria dos Pobres tem 200 crismados

Paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá/DF (arqbrasilia)

20/05/2025

Nos dias 17 e 18, a Paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá, 200 pessoas receberam o sacramento da Crisma. As celebrações foram presididas por Dom Ronaldo Ribeiro e Dom Protógenes Jose Luft, e concelebrada pelo pároco, padre Miguel Porres Prieto.

“Ser ungido, receber o Espírito Santo, para serem outros cristos aí na Terra. Nós temos a atitude de Cristo, de Filho de Deus que nos fizemos pelo batismo, mas não só nos tornamos pela celebração de um sacramento, mas pela conversão, pela escuta da palavra de Deus, pela mudança de vida que vai nos tornando a cada dia filhos de Deus. E pela imposição das mãos e pela unção do Espírito Santo, vocês são chamados a serem outros Cristos, serão ungidos. E Jesus disse, eu fui ungido para evangelizar, para anunciar a boa nova, proclamar a liberdade aos prisioneiros, a recuperação da vista aos cegos e assim por diante. Tudo o que acontece na vida de quem acolhe o Evangelho, a mudança, a transformação, a conversão, saímos da cegueira, saímos da paralisia e vamos ao encontro do outro”, destacou Dom Ronaldo.

O sacramento
De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, a unção com o santo crisma — óleo perfumado consagrado pelo Bispo — significa o dom do Espírito Santo ao novo batizado. Ele torna-se cristão, ou seja, “ungido” pelo Espírito Santo, incorporado em Cristo, que foi ungido sacerdote, profeta e rei.

O Sacramento da Confirmação, ou Crisma, junto com o batismo e a Eucaristia, pertence aos três sacramentos da iniciação cristã da Igreja Católica. Assim como ocorreu no Pentecostes, quando o Paráclito desceu sobre a comunidade dos discípulos reunidos, é o que acontece neste Sacramento. Especialmente assistidos pelo Espírito Santo, os crismados estão mais incentivados a difundir e a defender a fé, tanto por palavras quanto por obras.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

A Doutrina Social da Igreja a partir da Rerum Novarum

Rerum Novarum  (© Archivio Apostolico Vaticano)

"A Rerum Novarum, escrita há mais de 100 anos atrás, não apenas apontou a desigualdade social e as condições precárias dos trabalhadores, mas também expressava uma forte esperança na possibilidade de construir uma ordem social mais justa e solidária, baseada na caridade e na colaboração entre classes. A esperança reside na crença que, com a atuação conjunta de governos, patrões, trabalhadores e da Igreja, é possível superar os problemas e alcançar um bem-estar comum."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, lançou as bases da Doutrina Social da Igreja, cujo compêndio foi publicado por São João Paulo II em 29 de junho de 2004. O Papa Leão XIV, desde o início de seu ministério petrino, vem fazendo inúmeras referências quer ao "Papa da primeira grande encíclica social" - que inspirou a escolha de seu nome -, bem como à referida encíclica e à própria doutrina social.

No discurso ao Corpo Diplomático em 16 de maio, por exemplo, o novo Pontífice recordou que "a busca da paz exige a prática da justiça", reiterando que "na mudança de época que estamos vivendo, a Santa Sé não pode deixar de fazer ouvir a sua voz perante os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas. É necessário também esforçar-se para remediar as desigualdades globais, que veem a opulência e a indigência traçar sulcos profundos entre continentes, países e mesmo no interior de cada sociedade."

Inspirando-se nos pronunciamentos de Leão XIV,  Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "A Doutrina Social da Igreja a partir da Rerum Novarum":

"A esperança é um tema presente no Concílio Vaticano II, principalmente na Constituição pastoral Gaudium et Spes, que significa em latim "Alegria e Esperança". As alegrias e as esperanças, as dores e sofrimentos do mundo fazem parte das preocupações da Igreja, diz a Constituição Pastoral, nas suas primeiras linhas. É louvável que o Papa Leão XIV continue a caminhada do Concilio Vaticano II e traga à luz do dia essa maravilhosa dádiva dos padres conciliares, naquilo que foi considerado o maior acontecimento cultural e eclesial do século XX. Sim, assumindo-se seguidor de Leão XIII, o Papa Leão XIV sinaliza uma referência simbólica que, sem necessidade de explicitar, remete diretamente para o Concílio Vaticano II e, por conseguinte, para o desejo de retomar a sua aplicação concreta e social na vida quotidiana da Igreja.

São 134 anos desde a publicação da Encíclica Rerum Novarum. O Papa Leão XIV afirmou que a Igreja, hoje, é chamada a responder a uma nova revolução industrial, marcada pelos avanços da inteligência artificial e pelas transformações do mundo do trabalho. O novo Papa eleito disse que o Papa Leão XIII, com a Encíclica Rerum Novarum, abordou "a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial. Hoje, a Igreja oferece a todos o seu patrimônio de doutrina social para responder a uma outra revolução industrial que é o desenvolvimento da inteligência artificial, que traz novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho". Ao encontrar os cardeais em 10 de maio, o Papa Prevost explicou com estas palavras a escolha de "assumir o nome de Leão XIV". O caminho indicado é, portanto, o da doutrina social, a ser percorrido nesse tempo dominado por desequilíbrios econômicos e novos desafios.

Rerum Novarum, escrita há mais de 100 anos atrás, não apenas apontou a desigualdade social e as condições precárias dos trabalhadores, mas também expressava uma forte esperança na possibilidade de construir uma ordem social mais justa e solidária, baseada na caridade e na colaboração entre classes. A esperança reside na crença que, com a atuação conjunta de governos, patrões, trabalhadores e da Igreja, é possível superar os problemas e alcançar um bem-estar comum.

O texto do Papa Ratti – Leão XIII - denunciava um “imperialismo internacional do dinheiro” e descreve os danos de um sistema em que as finanças dominam a economia. Uma situação muito semelhante à que vivemos hoje. Tamanha a preocupação com o mundo do trabalho, que os outros papas seguiram atualizando a Rerum Novarum. Um pilar da doutrina social da Igreja, intimamente ligada à Rerum Novarum, é a Encíclica Quadragesimo Anno, do Papa Pio XI. Pio XII, por sua vez, também retratou o tema social: “A encíclica Rerum Novarum, aproximando-se do povo, a quem abraçou com estima e amor – acrescenta Pio XII –, penetrou nos corações e mentes da classe operária e incutiu nela o sentimento cristão e a dignidade cívica”. Em sua mensagem radiofônica de 1942, na véspera do Natal, Pio XII enfatiza que a Igreja não hesita em deduzir as consequências práticas derivadas da nobreza moral do trabalho.

No 70º aniversário da Rerum Novarum, outro documento, promulgado em 15 de maio de 1961, retoma temas e questões abordados por Leão XIII. Trata-se da Encíclica Mater et Magistra, de São João XXIII. O Papa Roncalli, conhecido como o Papa bom, indica duas palavras-chaves: comunidade e socialização. "Um dos aspectos típicos que marcam a nossa época - escreve o Pontífice - é a socialização, entendida como multiplicação progressiva das relações em convivência com diversas formas de vida e atividades associadas, e a institucionalização jurídica". A Igreja é então chamada a colaborar para construir uma comunhão autêntica.

No 80º aniversário da Rerum Novarum, foi promulgada a Carta Apostólica de São Paulo VI, Octogesima Adveniens. O mundo mudou profundamente. “O crescimento excessivo das cidades”, escreveu Paulo VI, que também em 1967 promulgou a encíclica Populorum Progressio sobre o desenvolvimento dos povos, “acompanha a expansão industrial, sem se identificar com ela”. “Baseada na pesquisa tecnológica e na transformação da natureza”, escreveu o Papa Montini, “a industrialização continua seu caminho sem parar, demonstrando uma criatividade inexaurível.

No 90º aniversário da Rerum Novarum, foi promulgada a Encíclica Laborem Exercens de São João Paulo II, que trata sobre a dignidade do Trabalho. Celebramos este aniversário – escreve o Pontífice – na véspera de novos progressos nas condições tecnológicas, econômicas e políticas que, segundo muitos especialistas, influenciarão o mundo do trabalho e da produção não menos do que a revolução industrial do século passado. No centenário da Rerum Novarum, foi promulgada, em 1º de maio de 1991, a Encíclica Centesimus Annus do mesmo Pontífice. Essa encíclica do Papa Wojtyła é uma “releitura” da encíclica leonina. O Pontífice polonês exorta a “olhar para trás”, a redescobrir a riqueza dos princípios fundamentais formulados na Rerum Novarum. Todos esses documentos papais demonstram o que o Concilio Vaticano II quis que a Igreja fosse luz para a realidade dos desafios no mundo."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O olhar cristão de Sebastião Salgado

A mão do homem (Foto: Sebastião Salgado)

Cibele Battistini - publicado em 26/05/25

Neste artigo, o olhar de Sebastião Salgado, um dos mais renomados fotógrafos contemporâneos, conhecido por suas imagens que transcendem a mera estética e nos fazem refletir sobre a condição humana e as injustiças do mundo.

Seu olhar, impregnado de um profundo compromisso ético e social, revela um aspecto essencial da fé cristã, especialmente em relação à dignidade da criação e à defesa dos mais vulneráveis.

A Amazônia e os Indígenas: retratos de uma crise anunciada

As impressionantes fotografias da Amazônia e dos povos indígenas que habitam essa rica e ameaçada biodiversidade são um testemunho poderoso do que está em jogo em nossa era. A obra de Salgado, ao capturar a beleza e a fragilidade desse ecossistema, vai ao encontro do chamado do Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si'. Nesta carta, o Papa enfatiza a necessidade urgentíssima de cuidar da nossa casa comum, alertando sobre os perigos que a degradação ambiental representa, especialmente para os habitantes mais pobres do planeta.

Salgado, com seu olhar sensível e perspicaz, nos convida a ver além da superfície das dificuldades enfrentadas pelos povos da Amazônia, revelando suas histórias, sua conexão intrínseca com a terra e a urgência de proteger seus direitos. Através de suas lentes, podemos testemunhar a riqueza cultural dos indígenas e a ameaça que representam as atividades predatórias, como o desmatamento e a exploração econômica desenfreada.

Citações de Papa Francisco: um chamado à reflexão

Durante seu pontificado, o Papa Francisco frequentemente destaca a importância de ouvir a voz dos pobres e dos excluídos. Em um de seus discursos durante o Sínodo para a Amazônia, ele mencionou: “A Amazônia é uma região que, sem dúvida, enriquece a humanidade. Ela possui uma beleza que nos toca profundamente e que deve ser protegida”. Essas palavras ecoam perfeitamente o que está retratado no trabalho de Salgado. As imagens da Amazônia que ele captura não são apenas fotografias; são apelos visuais que fazem brotar um desejo de mudança e um chamado à ação.

O Papa também reforça que a proteção do meio ambiente está intrinsicamente ligada à defesa dos direitos humanos, especialmente dos povos indígenas. Salgado, ao documentar as lutas e a resistência desses povos, alinha-se a esse chamado, defendendo um mundo onde a dignidade humana e o cuidado pela criação são valorizados em igual medida.

Laudato Si': Uma mensagem de esperança e responsabilidade

Laudato Si', publicada em 2015, se torna uma referência constante ao analisarmos o trabalho de Salgado. A encíclica abrange a interconexão de todas as criaturas e o imperativo moral de cuidar do planeta. Salgado, através de seu olhar único, oferece uma interpretação visual para esta mensagem, desafiando cada um de nós a reconsiderar nossa relação com a natureza e com os outros.

Em suas fotografias, a expressão da luta pela preservação ambiental e pelo respeito às culturas nativas ressoa com a visão do Papa Francisco de que todos somos responsáveis pelo futuro do nosso planeta. A arte fotográfica de Salgado não apenas documenta a realidade, mas também ilumina uma verdade espiritual que urge ser reconhecida: a criação é um dom que deve ser honrado.

O olhar cristão de Sebastião Salgado, manifestado nas suas poderosas imagens da Amazônia e dos indígenas, é um convite à ação e à contemplação. Ele nos desafia a enxergar a beleza e a dignidade que existem mesmo nas situações mais sombrias e a reafirmar nosso compromisso com a justiça social e ambiental. Ao alinhar sua obra com a mensagem do Papa Francisco e com os ensinamentos de Laudato Si', Salgado se torna não só um testemunha da realidade, mas um porta-voz da esperança e da responsabilidade que temos para com o mundo e suas criaturas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/05/26/o-olhar-cristao-de-sebastiao-salgado

Leão XIV recorda os 10 anos da Laudato Si'

2024.06.27 mostra fotografica "Changes", curata da Lia e Marianna Beltrami, con il Dicastero per la Comunicazione e in collaborazione con il Dicastero per il Servizio dello Sviluppo umano integrale e il Centro di Alta Formazione Laudato Si’  (Lia e Marianna Beltrami, Dicastero per la Comunicazione,Dicastero per il Servizio dello Sviluppo umano integrale, Centro di Alta Formazione Laudato Si’)

Com uma mensagem nas redes sociais, o Papa Leão XIV recordou os 10 anos de um dos documentos mais importantes do pontificado do seu predecessor.

Vatican News com CNBB

“Dez anos da #LaudatoSi'. A Encíclica do Papa Francisco nos chama a renovar o diálogo sobre como estamos construindo o futuro do planeta, unindo-nos na busca por um desenvolvimento sustentável e integral, e comprometendo-nos a proteger a casa comum que Deus nos confiou.”

Com esta mensagem nas redes sociais, o Papa Leão XIV recordou os 10 anos de um dos documentos mais importantes do pontificado do seu predecessor. Não é a primeira vez que o Pontífice cita esta Encíclica. Esta semana, no dia 20 de maio, este texto esteve no centro da mensagem enviada aos participantes do II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum, reunidos em evento na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) que se encerra este 24 de maio.

Há uma década o Papa Francisco presenteava o mundo com a Carta Encíclica Laudato Si’, um documento que se tornou referência moral, espiritual e ambiental para líderes, instituições e cidadãos preocupados com o futuro do planeta. Promulgada em 24 de maio de 2015, a Encíclica permanece atual e necessária, como afirma o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, em recente artigo que reforça a urgência dos apelos lançados pelo pontífice.

Intitulada “sobre o cuidado da casa comum”Laudato Si’ é uma exortação ao compromisso ético e coletivo com a ecologia integral – um conceito que transcende a visão ambientalista tradicional ao conectar questões ambientais, sociais, econômicas e espirituais. “Apesar de promessas e acordos, ainda prevalece o interesse por lucros egoístas”, alerta dom Walmor, destacando a resistência de governos e setores econômicos em adotar mudanças profundas nos modelos de produção e consumo.

Segundo o arcebispo, a Encíclica se manteve viva nesses dez anos por insistir na conversão ecológica e na responsabilidade cidadã.

“O cuidado com a criação deve ser uma atuação de cada pessoa e todas as instituições. É também uma interpelação à prática da fé”, reforça.

Para ele, a negação da crise ecológica por parte de grupos poderosos é acompanhada por uma confiança cega nas soluções meramente técnicas, desconsiderando as dimensões éticas e espirituais do problema.

Entre os desafios apontados está a necessidade de um longo e contínuo processo educativo, ainda travado por interesses corporativos e visões limitadas. Dom Walmor cita, como exemplo, o projeto Junho Verde, iniciativa de motivação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que enfrenta dificuldades para ganhar força apesar de seu potencial transformador. O objetivo da campanha é mobilizar a sociedade para repensar estilos de vida e práticas econômicas em consonância com os valores da Laudato Si’.

O arcebispo também critica a incoerência de muitos cristãos que, embora celebrem a beleza da criação divina, não repudiam práticas destrutivas como o extrativismo predatório.

“A omissão diante da urgência ambiental ameaça o bem comum e nos afasta do desenvolvimento humano sustentável”, afirma.

Para ele, a ecologia integral propõe uma nova lógica de vida e de organização social que corrige desigualdades, discriminações e exclusões.

A mensagem da Encíclica, segundo dom Walmor, não se limita a uma convocação ambiental, mas representa um chamado à fraternidade universal.

“O meio ambiente é um bem coletivo, responsabilidade de todos, e a propriedade privada deve cumprir sua função social”, relembra, ecoando os princípios sociais da Igreja.

Ao celebrar os dez anos da Laudato Si’, o arcebispo propõe um novo ciclo de reflexão e ação, com foco na educação ambiental e na formação de consciências críticas. “Só assim poderemos trilhar um caminho mais sustentável, justo e solidário”, conclui.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF