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sábado, 7 de junho de 2025

Jubileu: em diálogo com a cidade

Caminho Neocatecumenal Jubileu das Famílias Praça de Espanha em Roma (Itália) 31.05.2025 (neocatechumenaleiter)

04/06/2025

 CnCMadrid

Jubileu da Família: Missão na Praça de Espanha em Roma

https://neocatechumenaleiter.org/wp-content/uploads/2025/06/camino-neocatecumenal-mision-plaza-espana-roma-mayo-2025.mp4

No sábado, 31 de maio, festa da Visitação da Bem-Aventurada Virgem Maria a Santa Isabel, a cidade de Roma foi cenário de um acontecimento que, ainda que não tenha tido repercussão nos meios de comunicação, encheu a Praça de Espanha, repleta como nunca de pessoas, de cantos e de testemunhos realmente excepcionais.

No contexto dos acontecimentos das celebrações jubilares de 2025, por ocasião do Jubileu das Famílias, o Caminho Neocatecumenal convocou milhares delas, procedentes da cidade de Roma e do Lácio, em uma única praça para dar testemunho da beleza e do dom da família cristã para o mundo de hoje.

As comunidades do Caminho, durante o tempo pascal, costumam anunciar, durante vários domingos nas praças de suas paróquias, a alegria da ressurreição do Senhor: o tempo pascal é um tempo de anúncio desta boa notícia. Chamamos isso de “as 100 praças”, que representam as aproximadamente 100 paróquias onde o Caminho está presente em Roma.

No dia 31 de maio, essas “100 praças” se concentraram em uma das praças mais representativas de Roma, a Praça de Espanha, destino de turistas do mundo inteiro, para transformá-la em um cenário alegre, cheio de famílias e de crianças, de jovens e de anciãos, para um anúncio de esperança: Cristo ressuscitou, venceu a morte e todos os medos. Cristo ainda hoje preenche a vida de muitos matrimônios que generosamente se abrem à vida porque se sentem amados e salvos pela Páscoa do Senhor.

E eram realmente milhares: creio que é difícil ver esta praça, tão querida por Roma e pelo mundo, tão cheia de gente, de cantos, de danças, de alegria, de esperança.

Caminho Neocatecumenal Jubileu das Famílias Praça de Espanha em Roma (Itália) 31.05.2025 (neocatechumenaleiter)
Caminho Neocatecumenal Jubileu das Famílias Praça de Espanha em Roma (Itália) 31.05.2025 (neocatechumenaleiter)
Caminho Neocatecumenal Jubileu das Famílias Praça de Espanha em Roma (Itália) 31.05.2025 (neocatechumenaleiter)

Foi preparado um pequeno palco, voltado para a praça e para a coluna da Imaculada, erguida por Fernando II das Duas Sicílias, em frente à Embaixada da Espanha, o país que mais trabalhou para definir o dogma da Imaculada Conceição em 1854.

E foi a Virgem Maria quem presidiu o encontro, a mesma que inspirou a Kiko Argüello o Caminho Neocatecumenal para responder aos desafios do mundo moderno com uma modalidade de iniciação cristã, hoje difundida em 137 nações, com milhares de comunidades.

O encontro foi aberto com a alegria do canto, tomado do profeta Isaías: «Eu venho reunir todas as nações», e presidido por presbíteros revestidos de branco, começou com a celebração das Laudes, com o canto dos salmos próprio da liturgia do dia, intercalados com três testemunhos de jovens famílias que contaram brevemente a obra do Senhor em suas vidas: o anúncio devastador de esperar uma filha sem crânio, com o pedido dos médicos para abortá-la, e o bálsamo do amor do Senhor e dos irmãos da comunidade que permitiram não ter medo, acolhê-la e tê-la nos braços, mesmo que por apenas vinte minutos, minutos que reconciliam com o sofrimento da espera.

E depois de todas as provas necessárias do caso para estar humanamente segura de que a causa não é genética, e após voltar a se abrir à vida e, apesar de todas as garantias médicas, encontrar-se diante de outra gravidez com os mesmos sintomas. E Deus que provê também desta vez diante do desespero que se apodera de ti e parece sufocar-te, destruir-te, para depois encontrar-te com a certeza de ter dado dois filhos a Deus, porque levas dentro a garantia da vida eterna.

Caminho Neocatecumenal Jubileu das Famílias Praça de Espanha em Roma (Itália) 31.05.2025 (neocatechumenaleiter)

Depois, a experiência de uma jovem, quase sem relação com seu pai, que aos 14 anos se perde nas drogas e em diversos vícios, longe de casa, e que depois se sente encontrada por Cristo, perdoada, que reconstrói sua história com uma verdadeira relação com um homem, o pai de seus filhos.

Por fim, uma terceira família: ele, nascido na Alemanha, com uma excelente posição profissional, mas sem um verdadeiro sentido na vida, que deixa tudo para voltar a buscar a Deus, até desafiá-lo, e quando tudo parece perdido, eis que o Senhor se faz presente, o salva, o perdoa e enche sua vida de esperança, com a alegria de poder testemunhá-lo hoje como um Deus que ama verdadeiramente o homem, que caminha com ele a cada dia.

Depois dos salmos, dos cantos e dos testemunhos, é o momento da leitura dos Atos dos Apóstolos, com a cura do paralítico na porta do templo, pela força do nome de Jesus, esse nome que agora é anunciado por um irmão a todos os que na praça se encontram na mesma situação: também eles paralíticos, incapazes de caminhar ao encontro dos outros, de amar: «Em nome de Jesus de Nazaré, levanta-te e anda», é uma palavra que tem poder sobre cada um de nós hoje, se a acolhermos.

Caminho Neocatecumenal Jubileu das Famílias Praça de Espanha em Roma (Itália) 31.05.2025 (neocatechumenaleiter)

A proclamação do Evangelho do dia, a passagem de Lucas sobre a Visitação de Maria a Santa Isabel, dá ao presbítero a ocasião de que todos levantem os olhos para a estátua da Imaculada, anunciando a cada um dos presentes que também eles são como Maria, diante das palavras do anjo: «Alegra-te, o Senhor está contigo. De ti pode nascer uma vida nova. Acolhe esta boa notícia hoje. Tu também podes, como a Virgem Maria, dizer: “Que se cumpra em mim o que me foi anunciado”».

Durante todo o encontro, enquanto se realiza a oração, os milhares de irmãos presentes na praça são convidados a entrar em diálogo com a cidade, para levar a todos os presentes, a todos aqueles que até mesmo casualmente se encontrem de passagem por ali, a possibilidade de que este dia se transforme em um acontecimento: encontrar-se com o anúncio do amor de Deus, do perdão dos pecados, da saída da solidão, da condenação, como foi dito antes, de estar condenados a viver somente para si mesmos, incapazes de amar. O amor se faz presente a ti, vem ao teu encontro hoje. Aqueles que demonstraram interesse em receber este amor foram convidados a ir a qualquer paróquia onde esteja presente o Caminho Neocatecumenal.

Eis que o Jubileu, o Jubileu da esperança, anunciado pelo Papa Francisco no início do ano 2025 e que agora continua em nome do Papa Leão XIV, ressoa pelas ruas da cidade de Roma, de modo simples, concreto e verdadeiro.

Caminho Neocatecumenal Jubileu das Famílias Praça de Espanha em Roma (Itália) 31.05.2025 (neocatechumenaleiter)
Caminho Neocatecumenal Jubileu das Famílias Praça de Espanha em Roma (Itália) 31.05.2025 (neocatechumenaleiter)

Ezechiele Pasotti

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br

RESENHA: A grande concepção pelagiana: o cristianismo é uma educação (Parte III)

Pelágio (Wikiédia)

Arquivo 30Dias,  número 05 - 2010

A grande concepção pelagiana: o cristianismo é uma educação

“É evidente que Jonas simpatiza com a concepção de Pelágio, pois sente-o mais próximo do estoicismo e de um certo tipo de judaísmo. De fato, depois de ter dito que para Pelágio a graça de Cristo consiste em ‘estímulos para a vontade, não em auxílio ativo’ e que ‘não são uma transformação do homem, mas uma educação do homem’, exclama admirado: ‘Essa é a grande concepção pelagiana’. Esse é o ponto crucial do livro e do pensamento de Jonas”. Resenha do texto inédito de Hans Jonas, Problemas de liberdade, escrita por Nello Cipriani.

de Nello Cipriani

“Pelágio não apenas negligenciava um aspecto essencial do cristianismo, mas não reconhecia também certos elementos essenciais da experiência religiosa do antigo Israel, pois, já nos livros do Antigo Testamento, Deus é visto não apenas como o educador de seu povo, mas também como aquele que ajuda, renova e transforma os corações dos homens”

Esse é ponto crucial do livro e do pensamento de Jonas. Ele não tem dificuldade alguma em admitir que Deus possa ajudar ao homem mediante um ensinamento moral e o perdão dos pecados, mas, ao lado dos pelagianos, opõe-se fortemente à ideia de que Deus possa agir sobre a vontade para transformá-la (cf. p. 176). “Para Agostinho”, escreve, “o amor divino se torna uma espécie de poder mágico no próprio homem [...]. O amor divino é um poder transfigurador ou transformador sem o qual o homem estaria ainda perdido, apesar da revelação dos Evangelhos e do chamado à fé” (pp. 195-196). O que Jonas mostra não ter entendido, como Pelágio e seus seguidores, é que a experiência cristã não consiste na observância, radical o quanto quisermos, de uma moral imposta de fora e observada sempre sob a ameaça de um castigo ou pela promessa de um prêmio. A experiência cristã consiste num encontro pessoal com Deus, numa relação filial com Ele, pela qual a pessoa que crê faz tudo em Seu louvor. Pelágio, além dos dons concedidos por Deus à natureza humana ( gratia creationis) e do dom da lei mosaica, admitia uma graça de Cristo, que consistia no ensinamento e no exemplo da perfeita justiça, ou seja, no amor aos inimigos. Santo Agostinho também reconhece esses tipos de graça. Mas não os considera suficientes. Jesus Cristo, para ele, não é apenas o maior mestre e o mais perfeito modelo de justiça: é o amigo e o irmão que deu a vida por nós e nos chama a viver com Ele, por Ele e n’Ele, para a glória do Pai. Crer em Cristo, dizia, é amá-Lo, unir-se a Ele e fazer-se membro de Seu corpo, que é a Igreja (cf. Sermones 144, 2, 2). Para viver uma experiência tão elevada e envolvente, não bastam a obediência e a imitação, é necessária a comunhão pessoal, que nasce e é alimentada pelo amor, dom do próprio Cristo. Em outras palavras, em Cristo se revela o desígnio do Pai de n’Ele reunir os homens mediante o dom de seu Espírito, que derrama Seu amor nos corações (cf. De Spiritu et littera 29, 50). Não podemos compreender a doutrina agostiniana da graça sem a considerar à luz dessa revelação, completamente negligenciada por Pelágio.

Jonas admite que “Agostinho não errava ao sentir que [na posição de Pelágio] há alguma coisa não [...] totalmente cristã” (p. 181). A meu ver, porém, poderia e deveria ter dito mais. Pelágio não apenas negligenciava um aspecto essencial do cristianismo, mas não reconhecia também certos elementos essenciais da experiência religiosa do antigo Israel, pois, já nos livros do Antigo Testamento, Deus é visto não apenas como o educador de seu povo, mas também como aquele que ajuda, renova e transforma os corações dos homens. Basta lembrar a oração do salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, renova em mim um espírito resoluto” ( Sl 51, 12), ou a outra: “Firma meus passos segundo tua promessa e não deixes que me domine maldade alguma” (Sl 118, 133). Aqui e em outros textos semelhantes o salmista não roga ser instruído no caminho que deve percorrer, mas pede a Deus que renove seu coração, para que não ceda ao mal. Não é só Agostinho quem recorre frequentemente à oração dos salmos para afirmar a necessidade da graça, mas a esta apela também o papa Inocêncio, para denunciar o erro dos pelagianos. Escreve Inocêncio numa carta aos bispos africanos: “Ora, os heréticos que afirmam a inutilidade da graça devem necessariamente condenar as orações do salmista. Afinal, Davi deveria ser acusado de não saber como se deve rezar e até de não conhecer a própria natureza, pois, admitindo que soubesse que a natureza conserva em si mesma a capacidade de fazer o bem, por que se prostra diante de Deus em oração e lhe roga não só que o ajude, mas também que o ajude constantemente? Por que lhe pede que não volte seu olhar para longe dele, e em todo o saltério exalta e invoca a ajuda de Deus?” ( Epistolae 181, 6, no epistolário agostiniano).

Às orações do saltério acrescentam-se as profecias dos antigos profetas. No livro de Jeremias, ressoa o anúncio de uma nova aliança, graças à qual Deus porá suas leis nos corações e as escreverá na mente dos homens (cf. Jr 36, 32). O profeta Ezequiel é ainda mais preciso: nos tempos messiânicos, Deus dará aos israelitas um coração novo, tirará deles o coração de pedra e lhes dará um coração de carne, pois porá Seu espírito dentro deles, de modo que vivam segundo Seus estatutos e observem e ponham em prática Suas leis (cf. Ez 36, 26-27). Ora, são justamente esses textos proféticos que confirmam Agostinho em sua doutrina. Escreve no De Spiritu et littera: “O que são, portanto, as leis de Deus, escritas pelo próprio Deus no coração, senão a presença do Espírito Santo, que é o dedo de Deus, por cuja presença é derramado em nosso coração o amor que é a plenitude da lei e o cumprimento do preceito?” (De Spiritu et littera 21, 36). Evidenciando as diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento, ele diz: “A lei ali é escrita nas tábuas, aqui nos corações, para que o que ali os atemorizava, de fora, produza aqui prazer por dentro; 1280764153956">Ainda menos feliz é a tentativa de opor o ensinamento da Igreja ao de Cristo, ou de ver no cristianismo uma corrente paulina e agostiniana contraposta aos Evangelhos ou a outros escritos do Novo Testamento. Jonas deposita na influência maniqueísta a razão pela qual Agostinho apresenta Cristo como médico, e a graça, como remédio que cura (cf. pp. 142-143). Mas, no Evangelho de Mateus, é o próprio Jesus quem diz: “Não são as pessoas com saúde que precisam de médico, mas as doentes. Não é a justos que vim chamar, mas a pecadores” ( Mt 9, 12-13). Na sua reflexão sobre a graça, o bispo de Hipona dá um grande destaque às petições contidas na oração do Senhor, que encontramos nos Evangelhos sinóticos: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.

Pelágio, observa Agostinho, “deposita a misericórdia e o socorro medicinal do Salvador unicamente no fato de Deus nos perdoar os pecados que cometemos no passado, e não no fato de nos ajudar a evitá-los no futuro. É aqui que ele erra gravemente: embora não perceba, ele nos afasta da vigília e da oração para que não caiamos em tentação, afirmando que está absolutamente em nosso poder impedir que isso aconteça” ( De natura et gratia contra Pelagium 34, 39). Afirmações ainda mais fortes sobre a ação de Deus no homem são lidas no Evangelho de João. Ali, Jesus diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair” (Jo 6, 44), palavras que fazem Santo Agostinho exclamar: “Admirável exaltação da graça!” (In Evangelium Ioannis XXVI, 2). Ainda no mesmo Evangelho, Jesus diz: “Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).

São apenas alguns exemplos que mostram suficientemente, me parece, como não é possível, a respeito da doutrina da graça, opor, no interior do cristianismo, uma corrente paulino-agostiniana ao ensinamento de Jesus no Evangelho.

Para terminar, deixando de lado outras observações críticas que podem ser feitas, creio que é preciso reconhecer a Jonas o mérito de ter enfrentado o difícil tema da liberdade com coragem e paixão, chegando a algumas conclusões com as quais podemos concordar plenamente, como quando escreve que “o problema cristão da liberdade é na verdade o problema da subjetividade, que em sua pureza foi concebida apenas na filosofia do homem judaico-cristã, de um modo que não foi concebido na filosofia do homem greco-romana [...]. Segundo essa nova visão, o problema não se apresenta na relação do homem com a natureza ou com a sociedade exterior, mas na relação do homem consigo mesmo e com o absoluto. O problema, portanto, passa a ser o da vontade do homem, muito mais que o de suas ações. A problemática da vontade como lugar da liberdade do homem nasceu, portanto, com a guinada do paganismo para o cristianismo, e, na luta antipelagiana de Agostinho, alcança sua primeira grande forma determinante, que foi também, por alguns séculos, sua forma decisiva” (pp. 215-216).

Fonte: https://www.30giorni.it/

Entre o céu e a terra

Entre o céu e a terra (Letícia Thompson)

ENTRE O CÉU E A TERRA

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Jesus levou os discípulos para fora da cidade, e, próximo à Betânia, levantou a mão, abençoou-os e se despediu. Lucas transmite a melancolia desse derradeiro adeus. Depois de tê-los amado tanto, depois de ter vencido a falta de fé que assolara o grupo, Jesus se elevou ao céu, bem diante de seus olhos (Lc 24,50). 

Ele foi visto subindo para o céu de onde tinha vindo. Depois daquele dia nunca mais o vimos de novo, pois ele voltou para o mistério da Santíssima Trindade, para o seio do Pai, onde esperamos encontrá-lo quando da nossa própria ressurreição. 

Demorou, mas finalmente aconteceu. A fé foi testada numa concretude que nunca se tinha visto. Corações foram curados. Como um aerólito ele chegou em nosso meio. Como imigrante e refugiado ele acolheu os eliminados da sorte, aqueles que a duras penas eram tolerados. 

Os homens e mulheres que se enraizavam como podiam encontraram nele segurança e afeto. Sua passagem neste mundo mudou tudo: a sociedade, a ideia de bem e de fidelidade. No centro o valor dos indivíduos. Mas como ninguém duvidava desse valor ele apresentou os sem valor e lhes deu a marca do reconhecimento. 

Até aquele grupo heterogêneo do início se modificou. Já não é mais um agregado de mulheres e homens, mas atendemos, ainda hoje, por um nome comum: os discípulos do Senhor. 

Os primeiros de nós testemunharam a sua despedida. Ficaram maravilhados e o adoraram. A sua natureza divina foi revelada na plenitude, pois só a Deus se adora. Um discipulado de adoradores, que realinha, até os dias de hoje, os caminhos das lembranças de tudo que ele havia ensinado.  

Ele voltou para céu, nós ficamos na terra, mas nós nunca mais ficamos sem ele. As palavras de sua despedida ecoam na existência e continuam provocando o mundo. E porque alguns ainda insistissem em perguntar: “Senhor, é agora que vais restaurar o Reino em Israel?” (At. 1,6), Jesus recomenda olhar em outra direção. Não a curiosidades vãs ou perda de tempo, não temos tempo para disputas tolas (2Tm 2,22). Essencial é continuar no mundo o que Jesus começou. 

Até a contemplação dos discípulos é interrompida. Depois de eles terem testemunhado a subida de Jesus: “Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu’?” (At 1,11). 

O aprendizado foi suficiente para pôr em marcha as engrenagens do Reino. Afinal, foi Jesus mesmo que disse: “recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra” (At 1,8). 

Ninguém nunca tinha ida até os confins da terra. Este é o desafio. Um anúncio que servisse a todos os povos. Uma palavra capaz de varar a soleira do tempo para escrever no abismo da posteridade palavras de esperança. Isso ninguém jamais havia feito, mas ninguém também jamais havia vindo da eternidade e para lá voltou, quebrando de vez o limiar entre o céu e a terra. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

EDITORIAL: Chamados a ser humanos

O Bom Samaritano (Vatican News)

As palavras de Leão XIV, a profecia de Ratzinger

Andrea Tornielli

"Antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos." Essa é uma das passagens da catequese proposta pelo Papa Leão XIV na quarta-feira, 28 de maio. Refletindo sobre a parábola do Bom Samaritano, o Papa explicou que nos encontros que tecem nossas vidas "revelamo-nos pelo que somos" e, diante da fragilidade e fraqueza do outro, podemos "cuidar dele ou fingir que nada aconteceu".

Assim como aconteceu na narração de Jesus: os dois ministros religiosos, que tinham o privilégio de entrar no espaço sagrado do Templo de Jerusalém, não pararam diante do homem ferido por ladrões, jogado à beira da estrada. Quem demonstrou compaixão foi um samaritano, alguém considerado impuro pelos judeus. É ele quem cuida do homem que a tradição religiosa considerava um "inimigo". O Papa Leão XIV observou em sua catequese: “a prática do culto não leva automaticamente a ser compassivo. Com efeito, antes de ser uma questão religiosa, a compaixão é uma questão de humanidade!”.

Ser crentes e praticantes, ser ministros de Deus, não assegura a compaixão, nem garante que nos deixemos "ferir" pela realidade, pelos encontros, pelas situações de necessidade com as quais nos deparamos: antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos. É precisamente esse ser humano, ou seja, compassivo, que se torna uma oportunidade para testemunhar o Evangelho.

Já notava isso em 1959, com lucidez profética, o padre Joseph Ratzinger, jovem professor de teologia fundamental na Universidade de Bonn. Em seu ensaio "Os Novos Pagãos e a Igreja", ao refletir sobre as condições mutáveis das sociedades secularizadas, ele falava sobre o testemunho missionário da seguinte forma: "O cristão deve ser, antes, um homem alegre no meio dos outros, um próximo onde não pode ser um irmão cristão”. Portanto, alguém que se faz "próximo", como o bom samaritano. "Penso também", acrescentava o futuro Papa, "que deveria ser, nas relações com o seu próximo não crente, precisamente e sobretudo humano, ou seja, não irritar com contínuas tentativas de conversão e pregações... não deve ser um pregador, mas, justamente, com bela abertura e simplicidade, um homem".

Para Ratzinger, era claro como a Igreja nasce e como pode sempre renascer: do testemunho de homens e mulheres atraídos por Cristo e capazes de testemunhá-lo com a vida, na compaixão, no ser companheiros de viagem de quem quer que seja. Por outro lado, o futuro Bento XVI já estava bem ciente de quão ilusório fosse pensar em deter o declínio do cristianismo ocidental fechando-se em uma fortaleza, reduzindo a fé ao tradicionalismo, a um aglutinante identitário de grupo, ou a uma ideologia para sustentar algum projeto político. No fundo, essa é a chave da missão, a força do anúncio, na mudança de época que atravessamos: pessoas chamadas a ser, antes de tudo, humanas, abertas e compassivas. Homens e mulheres cristãos que não se sentem superiores aos outros, pois estão cientes de que, muitas vezes, quem nos dá testemunho de compaixão são os "distantes", aqueles que consideramos "impuros", como o Bom Samaritano do Evangelho.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Pesquisa mostra que trabalhos manuais ativam áreas do cérebro responsáveis pela motivação

Jovem fazendo tricô | Aleteia

Cibele Battistini - publicado em 03/06/25

Pesquisas da Dra. Kelly Lambert da Universidade Johns Hopkins mostram que essas atividades impactam positivamente na saúde mental.

Lambert chamou esse mecanismo de “circuito de recompensa guiado pelo esforço”. Em termos simples: nossos cérebros são projetados para sentir satisfação quando um esforço físico resulta em um resultado tangível e positivo. Quando criamos algo — seja cozinhando uma sopa, tricotando um chapéu ou cuidando de um canteiro — nos sentimos capazes e úteis. E essa é uma das maneiras mais eficazes de prevenir a depressão.

Por que o trabalho manual ajuda a combater a depressão?

Vamos olhar para os fatos. A depressão não surge apenas de uma “falta de serotonina”. É uma condição complexa que envolve fatores biológicos, psicológicos, espirituais e sociais. E são justamente esses últimos — como a inatividade, a solidão e a falta de atividades construtivas — que alimentam o ciclo de tristeza e apatia.

Se pensarmos no tempo que passamos em frente a uma tela — essa é a realidade de muitos de nós —, o corpo entra em um estado de letargia. Um trabalho que não produz resultados visíveis não proporciona a mesma satisfação (também física) que atividades como bordar um guardanapo ou esculpir na madeira. A Dra. Lambert demonstra que pequenas ações manuais ajudam a restaurar o sentido de controle sobre a própria vida, um fator-chave na proteção contra a depressão.

O que você pode fazer já hoje?

Claro, você pode tentar fazer pão de fermentação natural ou bordar um ornamento religioso. Mas você também pode começar com algo mais simples. Encontre uma atividade que envolva suas mãos e sua mente. Pode ser crochê, tricô, fazer biscoitos do zero (sim, com farinha, não com mistura pronta), jardinagem — mesmo que seja apenas na varanda — desenhar, fazer caligrafia ou origami. O importante é que seja uma atividade onde você possa ver progresso — “antes não havia nada, agora há algo” — e que seja realizada com intenção, concentração e um pouco de esforço.

E as crianças e os jovens?

Essa é uma pergunta muito importante. As crianças de hoje, criadas em meio a tablets e smartphones, muitas vezes não têm a oportunidade de exercitar movimentos manuais precisos. No entanto, é precisamente na idade escolar que se desenvolvem as áreas do cérebro relacionadas ao planejamento, à autorregulação e à resiliência emocional. Se quisermos que nossos filhos sejam mais emocionalmente estáveis e menos vulneráveis à depressão, devemos garantir que interajam com o mundo real: costurando, colando, desenhando, montando quebra-cabeças, cozinhando — e fazendo isso junto a nós.

Se isso não for suficiente para convencê-lo a começar…

…você pode se aprofundar. Encontre alguma leitura sobre “Depressão na Adolescência”, quem mostrem rituais atividades diárias podem se tornar um suporte concreto para os jovens em crise.

Por fim, uma pergunta para reflexão:
O que você fez hoje com suas mãos?
E o que poderia fazer amanhã?

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/06/03/pesquisa-mostra-que-trabalhos-manuais-ativam-areas-do-cerebro-responsaveis-pela-motivacao/

RESENHA: A grande concepção pelagiana: o cristianismo é uma educação (Parte II)

O rei Davi e a Apresentação de Jesus no Templo, portal maior da Catedral de Fidenza (Parma) [© Foto Scala, Firenze] | 30Giorni

Arquivo 30Dias,  número 05 - 2010

A grande concepção pelagiana: o cristianismo é uma educação

“É evidente que Jonas simpatiza com a concepção de Pelágio, pois sente-o mais próximo do estoicismo e de um certo tipo de judaísmo. De fato, depois de ter dito que para Pelágio a graça de Cristo consiste em ‘estímulos para a vontade, não em auxílio ativo’ e que ‘não são uma transformação do homem, mas uma educação do homem’, exclama admirado: ‘Essa é a grande concepção pelagiana’. Esse é o ponto crucial do livro e do pensamento de Jonas”. Resenha do texto inédito de Hans Jonas, Problemas de liberdade, escrita por Nello Cipriani.

de Nello Cipriani

Que dizer de tudo isso? A primeira coisa que devemos observar é que a leitura que Jonas fez de Agostinho é inexata em muitos pontos. Ele considera que Agostinho, num primeiro momento, no período antimaniqueísta, teria reconhecido no homem sob a lei, no judeu, uma vontade boa, entendida como amor à justiça, mas que depois, sob pressão dos pelagianos, teria negado tal vontade ao homem, depositando-a na graça; assim, ficaria explicado por que, nas palavras de São Paulo: “A lei é espiritual; eu, porém, sou carnal” (Rm 7, 14), Agostinho já não vê apenas o homem sob a lei, o judeu, mas também o homem sob a graça, o cristão e o próprio apóstolo. Contudo, como eu dizia, há muitas inexatidões nessas afirmações.

Em primeiro lugar, é preciso deixar bem claro que o homem sob a lei, tomado em consideração por Agostinho, não é propriamente o judeu, em contraposição ao cristão, que seria o homem sob a graça. Para Agostinho, todo homem carnal está sob a lei, e o cristão, ainda que tenha sido tornado um ser espiritual no batismo, pelo dom do Espírito, permanece “sob a lei quando se abstém da obra do pecado por temor ao castigo com que a lei o ameaça, e não por amor à justiça, não estando ainda livre e desapegado da vontade de pecar” (De natura et gratia contra Pelagium 57, 67). Agostinho dá uma confirmação desse seu modo de pensar na exortação feita aos monges de seu mosteiro a que observem a regra “não como servos sob a lei, mas como homens livres, sob a graça” (Regula ad servos Dei 8, 48). Portanto, os cristãos também podem estar sob a lei, mesmo tendo sido chamados a passar para o regime da graça, a crescer no amor e na liberdade interior, com a ajuda da graça de Deus e o esforço pessoal. Além do mais, Agostinho sempre reconheceu a existência de homens espirituais no antigo Israel, como “os patriarcas, os profetas e todos aqueles israelitas por obra dos quais o Espírito Santo nos concedeu o auxílio e o conforto das Escrituras” ( De doctrina christiana III, 9, 13). Sendo assim, no pensamento de Agostinho, não é possível identificar o homem sob a lei com o judeu e o homem sob a graça com o cristão.

Em segundo lugar, a vontade boa, que no período do presbiterato Agostinho reconhecia como faculdade do homem sob a lei, do homem carnal, não consiste no amor a Deus e à justiça, como Jonas procura mostrar várias vezes, forçando o pensamento do autor cristão (cf. pp. 171-173 e p. 182); consiste, isto sim, em querer evitar o pecado ou observar a lei por temor ao castigo, atitude que não suprime a vontade de pecar. Isso fica claro, ainda, quando constatamos que já no período antimaniqueísta, antes de se tornar bispo, Agostinho atribuía à graça o amor a Deus e à justiça. De fato, escrevia ele no comentário a Rm 5,3: o Apóstolo “diz que essa caridade [o amor a Deus], nós a temos por dádiva do Espírito, e demonstra que todos os bens que poderíamos atribuir a nós mesmos, nós os devemos atribuir a Deus, que mediante o Espírito Santo dignou-se conceder-nos a graça” ( Expositio quarumdam propositionum ex Epistola ad Romanos 20). Na revisão de suas obras, Agostinho observa que mesmo “nos livros Sobre o livre-arbítrio, que não foram escritos contra os pelagianos, que ainda nem existiam, mas contra os maniqueístas, não me calei totalmente a respeito da graça de Deus, que os pelagianos procuram eliminar com execrável impiedade” (Retractationes I, 9, 4).

Em terceiro lugar, a mudança no pensamento agostiniano acerca da origem da vontade boa movida pelo temor aos castigos, contrariamente ao que Jonas afirma, não ocorre em meio à polêmica com Pelágio e sob pressão dela, mas muitos anos antes. Já no início do episcopado (396-397), respondendo a certas questões que lhe foram dirigidas por Simpliciano, mestre de Ambrósio e sucessor dele na cátedra de Milão, Agostinho, após retomar as palavras de São Paulo: “Realizai a vossa salvação, com temor e tremor. Na verdade, é Deus que produz em vós tanto o querer como o fazer, conforme o seu agrado” ( Fl 2, 12-13), comenta: “Paulo, aqui, mostra claramente que a própria boa vontade também é suscitada em nós por Deus”, e pouco depois acrescenta: “Se perguntarmos se a boa vontade é dom de Deus, acharemos estranho que alguém ouse negá-lo” (De diversis quaestionibus ad Simplicianum, I, 2, 12). Na realidade, bem antes do advento de Pelágio, Agostinho já se convencera de que a boa vontade é ao mesmo tempo obra de Deus e obra do homem, pois “de um modo Deus concede o querer, de outro aquilo que pedimos. Quis Deus que o querer fosse obra sua e nossa: sua, chamando; nossa, seguindo o chamado” (ibid. I, 2, 10).

Enfim, é verdade que só durante a polêmica com os pelagianos Agostinho admitiu que no ‘eu’ de Rm 7, 14 é possível entender também o homem sob a graça, portanto o próprio São Paulo, mas, como ele mesmo afirma, deu esse passo não porque obrigado pelos argumentos pelagianos, mas porque achou que outros respeitados comentaristas da Escritura, em particular Cipriano e Ambrósio, já tinham feito essa exegese (Retractationes, I, 23, 1). Por outro lado, repito, a mudança em seu pensamento não consistiu em tirar a boa vontade do homem sob a lei, boa vontade que, já havia tempo, reivindicara à graça de Deus. Agostinho simplesmente se deu conta de que todos os homens, até os mais espirituais, como certamente era São Paulo, enquanto ainda vivem no corpo mortal não chegaram à paz perfeita, e necessariamente estão sujeitos à tentação. O próprio Apóstolo dá testemunho disso quando escreve que ainda não chegou à perfeição e que avança para o que está adiante ( Fl 3, 12-13), mas sobretudo quanto confessa que “para que a grandeza das revelações não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me torne orgulhoso. A esse respeito, roguei três vezes ao Senhor que ficasse longe de mim. Mas o Senhor disse-me: ‘Basta-te a minha graça; pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente’” (2Cor 12, 7-9).

“Agostinho sempre reconheceu a existência de homens espirituais no antigo Israel, como ‘os patriarcas, os profetas e todos aqueles israelitas por obra dos quais o Espírito Santo nos concedeu o auxílio e o conforto das Escrituras’ (De doctrina christiana III, 9, 13). Sendo assim, no pensamento de Agostinho, não é possível identificar o homem sob a lei com o judeu e o homem sob a graça com o cristão”

Como podemos constatar, a reconstrução do pensamento agostiniano feita por Jonas deixa muito a desejar. Há diversas imprecisões, sobre pontos que não são de pouca importância. Seja como for, suas conferências suscitam algumas questões, às quais vale a pena dar uma resposta. Em primeiro lugar: por que Santo Agostinho chegou a defender a tese de que os primeiros passos na fé (o initium fidei) e a boa vontade são também obra da misericórdia de Deus, além de esforço do homem, se, anteriormente, acompanhando outros autores eclesiásticos, assinalara esses fatores como dependentes apenas da vontade do homem? Jonas, como eu já disse, repete mais de uma vez que a mudança no pensamento do bispo de Hipona se deve à pressão pelagiana (p. 180), chegando a falar mesmo de “uma armadilha pelagiana”, em que Agostinho teria caído (p. 182). Ao contrário, vimos que a mudança ocorrera muito tempo antes que Pelágio aparecesse em cena. Na realidade, a razão da mudança é indicada pelo próprio Agostinho na resposta a Simpliciano. Na exegese da Carta aos Romanos, escreve: “O que mantém a intenção do Apóstolo e de todos os justificados, por intermédio dos quais nos foi mostrado o significado da graça, é o fato de que ‘quem se gloria, glorie-se no Senhor’ ( 1Cor 1, 31)” (De diversis quaestionibus ad Simplicianum I, 2, 21). Comentando essas palavras do Apóstolo, explica Agostinho numa de suas últimas obras, São Cipriano, bispo de Cartago e mártir, entendeu-as no sentido de que “não nos devemos gloriar de nada, pois nada é nosso” (De dono perseverantiae 14, 36). Foi sobretudo essa exegese de Cipriano das palavras de São Paulo, portanto, que iluminou e levou Agostinho a negar a autonomia da vontade humana em relação ao bem. Ele compreendeu que todos os bens que o homem possui e todo o bem que o homem realiza vêm de Deus, ainda que de maneiras diferentes. Enquanto Pelágio exortava a jovem e nobre Demetríade a sentir-se orgulhosa de suas virtudes, pois estas são bens que pertencem apenas ao homem, Agostinho repetia com São Paulo: “Quem se gloria, glorie-se no Senhor” ( 1Cor 1, 31). O homem não se pode gloriar de nada, não pode alegar nenhum mérito diante de Deus; deve ser sempre grato a Deus, “doador de todo bem” (Regula ad servos Dei 8, 49). Isso não significa que o homem nada faça: sem sua vontade, não pode crer, não pode amar nem muito menos realizar nenhuma boa obra. Mas a vontade humana não se dirige ao bem, se não “é preparada pelo Senhor” (Pr 8, 35, segundo a Setenta).

Jonas reconhece que a questão de que trata Agostinho pertence à fé e não à filosofia. Aliás, avança demais nessa linha, quando afirma categoricamente que “a atitude do filósofo deve ser a de não crer” (p. 198). Ora, não compreendemos por que o filósofo não deveria crer, como se a fé não tivesse suas razões. O filósofo também pode razoavelmente crer e buscar compreender, com a razão, o conteúdo da fé. Era justamente esse o princípio da reflexão agostiniana: crê para compreenderes ( crede ut intellegas). Todavia, concordo com Jonas quando ele acrescenta que “não é possível dar [...] um significado fenomenológico à afirmação: ‘Meu estado presente é caracterizado pelo amor de Deus derramado em meu coração pelo Espírito Santo’” (ibid.). Todavia, justamente porque nos encontramos diante de problemas de fé, a meu ver ele deveria ter investigado mais a fundo o pensamento de Agostinho, tomando por base o ensinamento bíblico e a tradição cristã. É evidente, porém, que Jonas simpatiza com a concepção de Pelágio, pois sente-o mais próximo do estoicismo e de um certo tipo de judaísmo. De fato, depois de ter dito que para Pelágio a graça de Cristo consiste em “estímulos para a vontade, não em auxílio ativo” e que “não são uma transformação do homem, mas uma educação do homem” (p. 204), exclama admirado: “Essa é a grande concepção pelagiana” (ibid.).

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pentecostes: o Espírito Santo e o nascimento da Igreja

Pentecostes (Arquidiocese de São Luís)

PENTECOSTES: O ESPÍRITO SANTO E O NASCIMENTO DA IGREJA 

04/06/2025

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

O Domingo de Pentecostes encerra o Tempo Pascal com um dos momentos mais marcantes da história da salvação: a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos e Maria no Cenáculo. Esse acontecimento, narrado em Atos 2, é muito mais que um episódio isolado — é o ponto de partida da missão da Igreja no mundo. 

Antes de subir ao céu, Jesus prometeu que enviaria o Espírito Santo, o Defensor, que haveria de conduzir seus discípulos à verdade plena (cf. Jo 14,16-17). No dia de Pentecostes — palavra que significa “quinquagésimo”, pois ocorre cinquenta dias após a Páscoa — essa promessa se cumpre: o Espírito é derramado como fogo e vento, símbolo de força, renovação e purificação. 

Os discípulos, antes medrosos e fechados, são transformados em anunciadores corajosos do Evangelho. Pedro, que negara Jesus, agora o proclama com ousadia diante de uma multidão. Um novo tempo se inaugura: o tempo da Igreja conduzida pelo Espírito. 

Com o Espírito Santo, nasce a Igreja missionária. O dom das línguas manifesta que a mensagem de Jesus é universal e destinada a todos os povos. Já não há mais fronteiras: a Boa Nova é para todos. 

Pentecostes revela o rosto verdadeiro da Igreja: uma comunidade animada pelo Espírito, que vive em comunhão, partilha os bens, persevera na oração, no ensinamento dos apóstolos e na fração do pão (cf. At 2,42-47). Esse é o modelo para nossas comunidades hoje: fraternas, abertas, animadas, evangelizadoras. 

O Espírito Santo não é uma lembrança do passado. Ele continua vivo e operante na Igreja e no coração de cada batizado. É Ele quem inspira, consola, dá discernimento, fortalece na tribulação, move à oração, anima os carismas e santifica a vida. 

São Paulo nos lembra que somos templos do Espírito Santo (1Cor 6,19) e que os dons recebidos devem ser colocados a serviço da comunidade (cf. 1Cor 12). Sem o Espírito, a fé se torna estéril; com Ele, a fé se transforma em testemunho. 

Pentecostes nos convida a renovar nossa abertura à ação do Espírito Santo. Em um mundo marcado por egoísmo, violência e indiferença, o Espírito nos forma como instrumentos de paz, unidade e esperança. Seus frutos — amor, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (cf. Gl 5,22-23) — são sinais da sua presença em nós. 

Mais do que uma festa litúrgica, Pentecostes deve ser um apelo permanente à conversão e à missão. Cada cristão, cheio do Espírito, é chamado a ser testemunha de Cristo no mundo. 

Pentecostes é o sopro novo de Deus sobre a humanidade. É o fogo que purifica, a luz que orienta, a força que anima, o amor que unifica. Celebrar Pentecostes é redescobrir a beleza da vida cristã vivida no Espírito, é deixar-se conduzir por Ele nas escolhas, nos relacionamentos, na oração e na missão. 

Que neste Pentecostes, possamos dizer com confiança e fé: 

“Vinde, Espírito Santo! Renovai a face da terra… e do meu coração!” 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Curiosidades da Bíblia: A Babilônia

Bíblia (Vatican News)

Babilônia, de potência mundial a sinal de desobediência a Deus. Uma das páginas mais tristes da história do Povo de Israel que aparece em diversas narrativas bíblicas é, sem dúvida alguma, o chamado “Cativeiro da Babilônia”.

Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

Enquanto os seus oficiais a cercavam, o próprio Nabucodonosor veio à cidade. Então Joaquim, rei de Judá, sua mãe, seus conselheiros, seus nobres e seus oficiais se entregaram; todos se renderam a ele. Conforme o Senhor tinha declarado, ele retirou todos os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, quebrando todos os utensílios de ouro que Salomão, rei de Israel, fizera para o templo do Senhor. Levou para o exílio toda Jerusalém: todos os líderes e os homens de combate, todos os artesãos e artífices. Era um total de dez mil pessoas; só ficaram os mais pobres.  Nabucodonosor levou prisioneiro Joaquim para a Babilônia. Também levou de Jerusalém para a Babilônia a mãe do rei, suas mulheres, seus oficiais e os líderes do país. O rei da Babilônia também deportou para a Babilônia toda a força de sete mil homens de combate, homens fortes e preparados para a guerra, e mil artífices e artesãos. Segundo Livro dos Reis, Capítulo 24, versículos de 11 a 16

Uma das páginas mais tristes da história do Povo de Israel que aparece em diversas narrativas bíblicas é, sem dúvida alguma, o chamado “Cativeiro da Babilônia”. Essa tragédia será para sempre lembrada como resultado da desobediência do povo para com a aliança de Deus.

A Babilônia aos poucos passa a ser vista não apenas como uma potência de importância histórica, mas desempenha um papel central na narrativa bíblica como símbolo da rebelião humana contra Deus. No Novo Testamento, a Babilônia assume um significado ainda mais profundo, representando um sistema mundial que se opõe ao Reino de Deus e que persegue aos cristãos. A queda de Babilônia passa a ser vista então como a queda do mal diante de Deus.

Em outras citações bíblicas, como no capítulo 10 do livro do profeta Isaías, aparece uma profecia sobre a Assíria, país que conquistou o reino de Israel aproximadamente entre 725 e 721 a.C. Nos capítulos 13 e 14, Isaías fala sobre a Babilônia, o país que conquistou Judá aproximadamente entre 600 e 588 a.C.

Potência política e mundanismo

A antiga Babilônia é hoje considerada um dos impérios mais ricos e mais mundanos da história. Originários dos povos amoritas que habitavam a região sul do deserto árabe, os babilônios criaram uma das civilizações que ocuparam a Mesopotâmia, região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, onde hoje se encontra o moderno Iraque e parte da Turquia.

Promovendo a dominação dos acadianos que já ocupavam a região, o povo amorreu realizou um processo de expansão territorial que anexou várias cidades da Mesopotâmia, até que em meados do século XVIII a.C., o rei Hamurábi consolidou o Primeiro Império Babilônico.

Durante o seu governo centralizador e autoritário, Hamurábi ergueu a cidade de Babilônia, que se transformou em um dos mais importantes centros urbanos e comerciais da Antiguidade. Além disso, ele também foi responsável pela compilação de um importante conjunto de leis talhadas em um monumento de pedra conhecido como o Código de Hamurábi de onde se originou a tristemente célebre Lei de Talião, instrumento jurídico que de forma geral determinava a execução de penas que se igualassem aos prejuízos causados por algum delito, falha ou acidente.

Umas das maravilhas dos tempos antigos

Apesar de promover o crescimento e a prosperidade do Império Babilônico, uma série de revoltas internas somada com a invasão dos cassitas e dos hititas provocaram a queda e o desparecimento do Primeiro Império Babilônico que foi retalhado em diferentes reinos menores.  O tempo passou e no ano de 1300 a.C., os assírios, potência militar de então, subjugaram todos os reinos que outrora formaram o Primeiro Império Babilônico.

Mais tarde, no século VII a.C., ocorreu, por sua vez, a queda dos assírios devido às invasões dos caldeus e dos medos, vindos da região onde hoje se situa o moderno Irã.

As invasões possibilitaram a criação do Segundo Império Babilônico que atingiu o seu apogeu no governo do rei Nabucodonosor. Durante o seu reinado a civilização babilônica viveu um tempo de grandes conquistas militares e de execução de diversas obras públicas. Data dessa época os famosos Jardins Suspensos da Babilônia que causavam inveja e espanto em todos os que os conheciam e que hoje figuram entre as principais construções arquitetônicas do Mundo Antigo, sendo considerados umas das sete maravilhas do tempo antigo.

No governo do rei Nabucodonosor os hebreus foram escravizados e levados ao cativeiro. Esse episódio, lembrado como o período do Cativeiro da Babilônia seria cantado nos salmos e em outras citações bíblicas e nunca mais esquecido.  Segundo as narrativas bíblicas, depois de 50 anos, os hebreus ganharam autorização para retornarem para suas terras vindo um período de reconstrução com os sacerdotes Esdras e Neemias.

Após a morte de Nabucodonosor, os persas invadiram, saquearam e dominaram a Babilônia que nunca mais se reergueu.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 5 de junho de 2025

RESENHA: A grande concepção pelagiana: o cristianismo é uma educação (Parte I)

Pelagianismo (Paleo-Ortdoxo)

Arquivo 30Dias,  número 05 - 2010

A grande concepção pelagiana: o cristianismo é uma educação

“É evidente que Jonas simpatiza com a concepção de Pelágio, pois sente-o mais próximo do estoicismo e de um certo tipo de judaísmo. De fato, depois de ter dito que para Pelágio a graça de Cristo consiste em ‘estímulos para a vontade, não em auxílio ativo’ e que ‘não são uma transformação do homem, mas uma educação do homem’, exclama admirado: ‘Essa é a grande concepção pelagiana’. Esse é o ponto crucial do livro e do pensamento de Jonas”. Resenha do texto inédito de Hans Jonas, Problemas de liberdade, escrita por Nello Cipriani.

de Nello Cipriani

No início do ano, a editora italiana Aragno publicou uma obra até então inédita do filósofo de origem judaica Hans Jonas (1903-1993), em edição organizada por Emidio Spinelli, com texto original em inglês no apêndice e tradução para o italiano de Angela Michelis. O livro, intitulado Problemi di libertà (Problemas de liberdade), reúne uma série de conferências proferidas por Jonas na “New School for Social Research”, de Nova York, no primeiro trimestre de 1970. Nessas conferências, o filósofo faz uma análise aguda do modo como a ideia de liberdade se desenvolveu, primeiramente na filosofia grega, sobretudo aristotélica e estoica, e em seguida no cristianismo, passando pelo judaísmo. As seis primeiras conferências são dedicadas a aprofundar e explicar o conceito de liberdade dos filósofos gregos; a sétima salienta as novidades introduzidas pelo judaísmo; as sete conferências seguintes analisam o pensamento de São Paulo contido no capítulo 7 da Carta aos Romanos e, sobretudo, o pensamento de Santo Agostinho.

São particularmente interessantes as páginas em que Jonas, partindo da doutrina da criação, aprofunda a diferença entre “a concepção judaico-cristã do homem e a concepção grega clássica, que tinha os estoicos como representantes”. Na filosofia estoica, que vê o mundo dominado pelo fatalismo, “o problema da liberdade se traduz em alcançar o máximo possível de independência interior, com uma espécie de recusa da relevância do engajamento exterior do homem” (p. 92). O mundo é visto como um ser vivo absolutamente autossuficiente, capaz, pela ação do logos imanente, de reconduzir à ordem todos os conflitos que nele acontecem em consequência do devir ininterrupto das coisas. O homem é algo como uma síntese do mundo em que vive: pelo uso da razão, ele também pode dominar todas as tensões exteriores que ameaçam sua tranquilidade interior. Logo, para os estoicos “a verdadeira liberdade do homem consiste no que eles chamam seu completo poder de assentir ou dissentir ante tudo o que se apresenta” (ibid.). Depende unicamente de mim “dizer sim ou não, aceitar ou recusar”, e esse poder “é alcançado mediante um processo de autoeducação interior e autodisciplina” (ibid.). Enfim, a moralidade dos estoicos, segundo Jonas, é “muito corajosa, e afirma a liberdade humana diante do Fado, ao mesmo tempo em que insere a dimensão da relevância no ego racional do homem” (p. 93).
Com a crença na criação, ensinada pela Bíblia judaica, o mundo e o homem perdem a autonomia e a autossuficiência: todas as criaturas devem sua existência ao Deus criador. Todavia, o homem, segundo o Gênesis, foi criado à imagem de Deus e, dessa forma, tornou-se capaz de governar as outras criaturas e de discernir entre o bem e o mal. O fato de ser feito à imagem, observa Jonas, “significa que o homem pode ‘vir a ser’ um certo tipo de homem, pode ‘transformar-se’, desde que faça uso apropriado desse poder, já que a faculdade de discernir entre o bem e o mal não é simplesmente o poder intelectual de reconhecer o bem e o mal, mas um poder de escolha, uma capacidade de escolha” (p. 113). “Assim, a liberdade da vontade moral do homem representa o pressuposto fundamental da possibilidade de conformação do homem ao seu original divino” (p. 114). No judaísmo, portanto, “o homem é um ser extremamente problemático” (ibid.): tem a capacidade de ser filho de Deus, mas, também, de ser o oposto disso. O fato de ter sido criado à imagem de Deus implica ter de ser santo como Deus é santo. Foi com essa finalidade que a lei foi dada ao povo judeu, lei esta que foi “imposta ao homem como uma obrigação e um fardo, e ao mesmo tempo como uma grande concessão à sua estatura limitada” (p. 116). Com a lei, porém, surge um outro grande problema para quem crê: “Como posso enfrentar o exame de Deus, a cujos olhos nada está oculto? Essa é a origem de uma concepção que terá tremendas consequências na história da autocompreensão humana: a concepção da existência de um Ente diante do qual nada é oculto, de forma que o que me pode agradar quando penso em mim mesmo ou aquilo que me pode fazer satisfeito comigo mesmo pode não ser verdadeiro aos olhos desse Ente que a tudo vê e por nada é corrompido ou enganado [...]. Os profetas judaicos foram os primeiros a descobrir que não existe apenas o lado objetivo da lei, podendo ser acompanhado de uma indiferença para com Deus ou de um espírito afastado da verdadeira vontade de Deus [...]. É a partir desse ponto que o problema cristão do ‘si mesmo’ do homem e da liberdade humana vieram a ser formulados, primeiramente por Paulo e mais tarde por Agostinho” (pp. 117-118).

Segundo Jonas, o apóstolo Paulo teria diminuído o valor salvífico da lei, para exaltar a cruz de Cristo. Para tanto, ele teria acentuado o orgulho inerente ao homem, que leva até mesmo aquele que busca ser justo diante de Deus a arrogar-se o mérito de sua justiça, numa forma de autocomplacência. E esse orgulho inato se originaria da corrupção de nossa natureza, produzida pelo pecado de Adão, o primeiro homem. “Assim”, observa Jonas, “o problema cristão da liberdade repousa nesta doutrina de base não empírica, não filosófica, inverificável, em certo sentido atroz, mas ao mesmo tempo grandiosa, da impossibilidade de que a natureza humana seja ajudada diante do Mandamento moral” (p. 120). Se fôssemos capazes de cumprir a lei, não somente na letra, mas no espírito, poderíamos obter sozinhos a nossa salvação, mas Cristo, assim, teria morrido em vão. “No credo judaico”, continua, “a lei, com todas as ciladas que pode ter, oferece todavia os meios para satisfazer o que Deus exige do homem, que não está além das capacidades do próprio homem. O cristianismo é que abre aí um abismo. Cada ser humano carrega de certa forma um abismo em si mesmo, o abismo do pecado original, que sempre envenena tudo o que procuramos fazer, se contarmos apenas com nossas forças [...]. Só a graça dá a possibilidade de uma anistia” (pp. 120-121). Jonas reconhece que alguns rabinos também especularam sobre a “queda” de Adão. E admite que “com certeza já não estamos no paraíso, e a humanidade labuta e sofre, e tudo isso é consequência da ‘queda’”. Todavia, “essa consequência nunca foi entendida no sentido extremo de que com a ‘queda’ de Adão todos tenhamos perdido nossa capacidade moral. O modo de ser humano continua essencialmente o mesmo, e, por mais que já não seja inocente, o homem conservou o poder da livre escolha” (p. 121).

Com Paulo, acaba essa certeza, e o desenvolvimento da questão a que ele dá início conclui-se com Agostinho. Estaria aqui, para Jonas, o ponto de ruptura do cristianismo paulino e agostiniano com o estoicismo e o judaísmo: a negação do poder da livre escolha. Em mais de um momento, Jonas reprova a atitude do bispo de Hipona de forçar o pensamento de Paulo, levando-o a dizer algo que não diz. Na polêmica antipelagiana, levado por sua experiência maniqueísta anterior, Agostinho teria acentuado o pessimismo paulino, levando-o às últimas consequências. Mas a tese que Jonas propõe em diversos momentos do texto é que esse tipo de cristianismo encontrou resistências mesmo dentro da Igreja, sendo, aliás, desconhecido até mesmo de Cristo: “Os sermões e as célebres palavras do Senhor não formam, em si, a doutrina da Igreja. A doutrina da Igreja diz respeito ao papel desse Jesus, concebido como o Cristo que veio para a salvação do homem” (pp. 130-131).

Fonte: https://www.30giorni.it/

A parábola dos vinhateiros explicada pelo Papa Leão XIV

O Papa Leão XIV Presidiu A Audiência Geral De Quarta-Feira. Foto: Mídia Do Vaticano

Audiência Geral do Papa, 4 de junho de 2025, sobre a Parábola dos Trabalhadores da Vinha.

4 DE JUNHO DE 2025

(ZENIT News / Cidade do Vaticano, 04/06/2025) - Na manhã de quarta-feira, 4 de junho, o Papa Leão XIV presidiu a audiência geral de quarta-feira, durante a qual proferiu uma catequese explicativa sobre a parábola dos vinhateiros. Em parte da catequese, ele ofereceu uma exortação vocacional muito clara aos jovens. Oferecemos a seguinte tradução para o espanhol das palavras do Papa.

COPYRIGHT  @VATICAN MEDIA

*** Queridos irmãos e irmãs,

Gostaria de me deter mais uma vez numa parábola de Jesus. Também aqui, é uma história que alimenta a nossa esperança. Às vezes, de fato, temos a impressão de não encontrar sentido em nossas vidas: nos sentimos inúteis, inadequados , como os trabalhadores que esperam no mercado que alguém os contrate. Mas às vezes o tempo passa, a vida passa e não nos sentimos reconhecidos ou valorizados . Talvez não tenhamos chegado na hora, outros tenham chegado antes de nós ou as preocupações nos tenham mantido em outro lugar.

A metáfora do mercado também é muito apropriada para os nossos tempos, porque o mercado é o local de negócios, onde, infelizmente, afeto e dignidade também são comprados e vendidos na tentativa de ganhar algo. E quando não nos sentimos apreciados ou reconhecidos, corremos o risco de nos vendermos a quem pagar mais. O Senhor, por outro lado, nos lembra que nossas vidas têm valor, e seu desejo é nos ajudar a descobri-lo .

COPYRIGHT  @VATICAN MEDIA

Na parábola que estamos discutindo hoje, alguns trabalhadores diaristas aguardam que alguém os contrate para o dia. Estamos no capítulo 20 do Evangelho de Mateus, e aqui também encontramos um personagem que se comporta de maneira incomum, que tanto surpreende quanto desafia. Ele é o dono de uma vinha, que sai pessoalmente para encontrar seus trabalhadores. Ele claramente deseja estabelecer um relacionamento pessoal com eles.

Como eu disse, esta é uma parábola que dá esperança, pois nos conta que este senhor sai várias vezes em busca daqueles que esperam dar sentido às suas vidas. O senhor sai de madrugada e, a cada três horas, retorna para procurar trabalhadores para enviar à sua vinha. Seguindo esse ritmo, depois de sair às três da tarde, não haveria motivo para sair novamente, pois o dia de trabalho terminava às seis.

COPYRIGHT  @VATICAN MEDIA

Mas este mestre incansável, que deseja a todo custo dar valor à vida de cada um de nós, também parte às cinco. Os diaristas que permaneceram na praça do mercado provavelmente perderam toda a esperança. Aquele dia foi em vão. Mas alguém continuou a acreditar neles. Qual o sentido de contratar trabalhadores apenas para a última hora da jornada de trabalho? Qual o sentido de ir trabalhar apenas por uma hora? No entanto, mesmo quando parece que pouco podemos fazer na vida, sempre vale a pena. Sempre há a possibilidade de encontrar sentido, porque Deus ama as nossas vidas.  

E é aqui que se revela a originalidade deste mestre, no final do dia, quando chega a hora de pagar. Com os primeiros trabalhadores, aqueles que entram na vinha ao amanhecer, o mestre havia concordado em pagar-lhes um denário, que era o custo habitual de um dia de trabalho. Aos outros, ele lhes diz que lhes dará o que for justo. E é aqui que a parábola nos desafia novamente: o que é justo? Para o dono da vinha, isto é, para Deus, é justo que cada um tenha o necessário para viver. Ele chamou pessoalmente os trabalhadores, conhece a sua dignidade e, com base nisso, quer pagá-los. E dá a cada um denário.

COPYRIGHT  @VATICAN MEDIA

A história nos conta que os trabalhadores da primeira hora estão decepcionados: não conseguem enxergar a beleza do gesto do mestre, que não foi injusto, mas simplesmente generoso; que não considerou apenas o mérito, mas também a necessidade. Deus quer dar a todos o seu Reino, isto é, uma vida plena, eterna e feliz. E assim Jesus faz conosco: ele não estabelece uma hierarquia, mas se entrega inteiramente àqueles que lhe abrem o coração.

À luz desta parábola, os cristãos de hoje podem ser tentados a pensar: "Por que começar a trabalhar imediatamente? Se a recompensa é a mesma, por que trabalhar mais?" A essas dúvidas, Santo Agostinho respondeu assim: "Por que demoras em seguir aquele que te chama, quando estás certo da recompensa, mas incerto quanto ao dia? Cuida para que, com a tua demora, não te prives daquilo que Ele te dará segundo a Sua promessa" [ Discurso  87, 6, 8].

COPYRIGHT  @VATICAN MEDIA

Gostaria de dizer, especialmente aos jovens, que não esperem, mas que respondam com entusiasmo ao Senhor que nos chama a trabalhar na sua vinha. Não adiem, arregacem as mangas, porque o Senhor é generoso e não vos decepcionará! Trabalhando na sua vinha, encontrarão a resposta para aquela profunda pergunta que carregam dentro de si: qual é o sentido da minha vida?

Queridos irmãos e irmãs, não desanimemos! Mesmo nos momentos sombrios da vida, quando o tempo passa sem nos dar as respostas que buscamos, peçamos ao Senhor que volte e nos alcance onde o esperamos. O Senhor é generoso e virá em breve!

Fonte: https://es.zenit.org/2025/06/04/la-parabola-de-los-vinadores-explicada-por-el-papa-leon-xiv/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF