Conferência Interbacional Raising Hope For Climate Justice (vatican Media)
Leão XIV presidiu nesta quarta-feira (1/10), em Castel
Gandolfo, a abertura da Conferência Espalhando Esperança, que celebra os dez
anos da encíclica Laudato si’. No encontro, o Pontífice ressaltou que a
ecologia integral só pode ser alcançada por meio de uma conversão do coração e
destacou a urgência de ações diante da crise climática global.
https://youtu.be/h48K3B9eaoE
Thulio Fonseca - Vatican News
Na tarde desta quarta-feira, 1º de outubro, em Castel
Gandolfo, o Papa Leão XIV presidiu a “Celebração da Esperança pela Nossa Casa
Comum” durante a Conferência Espalhando Esperança (Raising Hope), que marca o
décimo aniversário da Encíclica Laudato si’. Em seu discurso, o Pontífice
recordou a herança espiritual e pastoral deixada por Francisco e convidou todos
a redescobrir a ecologia integral como caminho de unidade, paz e esperança.
No encontro, realizado no Centro Mariápolis, o Santo Padre
agradeceu aos organizadores, conferencistas e participantes, assim como ao
Movimento Laudato si’, que desde os primeiros anos promoveu a difusão e a
implementação da Encíclica. O Papa destacou que o documento do Papa Francisco
impulsionou iniciativas em todos os continentes, envolvendo comunidades
religiosas, dioceses, escolas, universidades e até instâncias internacionais.
“As preocupações e recomendações do Papa Francisco foram
apreciadas e acolhidas não apenas pelos católicos. Muitos, inclusive fora da
Igreja, sentiram-se compreendidos, representados e apoiados neste momento
histórico”, afirmou Leão XIV. O Pontífice frisou que o apelo de Francisco ao
diálogo, à ecologia integral e à união da família humana na busca de um
desenvolvimento sustentável permanece atual e urgente: “Trata-se de desafios
ainda mais prementes hoje do que há dez anos. Eles exigem uma verdadeira conversão”.
Papa Leão XIV durante o encontro em Castel Gandolfo (@Vatican Media)
O coração como lugar da conversão ecológica
Ao refletir sobre o futuro, o Papa Leão XIV advertiu para
que o cuidado da casa comum não se torne “uma moda passageira ou um tema
divisivo”. Retomando a Laudate Deum, exortou a enfrentar o risco de minimizar
os sinais das mudanças climáticas ou de ridicularizar quem defende o meio
ambiente:
“Nas Escrituras, o coração não
é apenas o centro dos sentimentos e emoções: é a sede da liberdade. [...] É
somente por meio de um retorno ao coração que pode acontecer também uma
verdadeira conversão ecológica. É preciso passar da coleta de dados ao cuidado;
de discursos ambientalistas a uma conversão ecológica que transforme o estilo
de vida pessoal e comunitário. Para quem crê, trata-se de uma conversão que não
difere daquela que nos orienta ao Deus vivo, porque não se pode amar o Deus que
não se vê desprezando suas criaturas, e não se pode dizer discípulo de Jesus
Cristo sem compartilhar de seu olhar sobre a criação e de seu cuidado pelo que
é frágil e ferido.”
Unidade pela casa comum
Em sua fala, o Papa reforçou que a ecologia integral não
pode ser vista separada da justiça social e do cuidado com os mais pobres: “Não
se pode amar o Deus que não se vê desprezando suas criaturas”. E acrescentou:
“Somos uma única família, com um Pai comum; habitamos um mesmo planeta, do qual
devemos cuidar juntos”.
Ao encorajar os participantes, o Pontífice apontou ainda
para a importância de que os próximos encontros internacionais – como a COP30,
a sessão da FAO sobre segurança alimentar e a Cúpula da Água da ONU em 2026 –
escutem “o grito da Terra e o grito dos pobres”.
Prestar contas a Deus
Na conclusão, ao recordar que "não podemos dar espaço
para a indiferença nem para a resignação", o Papa deixou uma pergunta
aberta aos fiéis e a todos os homens e mulheres de boa vontade:
“Deus nos perguntará se
cultivamos e cuidamos do mundo que Ele criou, para o bem de todos e das
gerações futuras, e se cuidamos de nossos irmãos e irmãs. Qual será a nossa
resposta?”
O evento
A Conferência Internacional é organizada pelo Movimento
Laudato si’, em colaboração com o Dicastério para o Desenvolvimento Humano
Integral, Caritas Internationalis, CIDSE, UISG, Movimento dos Focolares e a
Ecclesial Networks Alliance. O evento, que reúne mais de mil participantes de
todo o mundo, realiza-se de 2 a 3 de outubro.
Na cerimônia de abertura, o Pontífice também abençoou um
fragmento de gelo de 20 mil anos, proveniente da Groenlândia, trazido a Roma
pelo artista Olafur Eliasson e pelo geólogo Minik Rosing. O gesto simbolizou a
urgência da crise climática e se inseriu no projeto artístico Ice Watch, que já
levou blocos de gelo em processo de derretimento para praças públicas em
Copenhague, Paris e Londres.
Ministra Marina Silva durante seu discurso (@Vatican Media)
O convite ao Papa para participar da COP30
No início do evento, foram apresentados alguns testemunhos
do compromisso ambiental. A ministra brasileira do Meio Ambiente e Mudança
Climática, Marina Silva, tomou a palavra, ligando o décimo aniversário da
Laudato si’ ao do Acordo de Paris. A representante do Brasil alertou para a
distância entre promessas e ações, denunciando os trilhões ainda investidos em
combustíveis fósseis, e pediu “uma transição justa, ordenada e equitativa” para
energias limpas. A ministra também convidou o Papa a participar da COP30, que
será realizada em Belém em 2026:
“Desejo aqui reafirmar o grande interesse e o convite da
presidência brasileira da COP30 para que Sua Santidade o Papa Leão XIV nos
honre com sua presença em Belém. Estou convencida de que, dessa forma, Sua
Santidade dará uma indispensável contribuição para que a COP30 entre para a
história como a COP decisiva da implementação. Ela se converterá assim, como
todos ardentemente desejamos, na COP da esperança de preservar e cultivar todas
as formas de vida que enriquecem o jardim da Criação, em benefício das presentes
e das futuras gerações. É uma missão para todos nós, mas que adquire uma
dimensão e envergadura universais graças ao alto poder de convocação da Igreja
Católica e da autoridade moral de Sua Santidade Leão XIV”.
Por fim, a ministra Marina Silva afirmou que "já temos
as respostas técnicas, o que falta é o compromisso ético de usar a técnica, o
conhecimento, em benefício do enfrentamento da mudança do clima, do combate à
desigualdade, para que tenhamos um mundo próspero, justo e sustentável. É
incoerente dizermos que amamos o Criador e destruirmos a criação. A encíclica
Laudato si’ nos convoca a fazer essa integração."
Ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger (@Vatican Media)
Já o ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger,
recordou os avanços obtidos em seu estado – como a redução de 25% das emissões
de gases de efeito estufa e a instalação de um milhão de telhados solares – e
destacou que “a energia limpa não é inimiga da prosperidade, mas motor do
crescimento”. Dirigindo-se aos líderes religiosos presentes, afirmou: “Vocês
estão mais próximos do povo do que qualquer governo. Lembrem às pessoas que a
poluição é uma questão de saúde e de justiça”.
O encontro contou ainda com a intervenção de Yeb Saño,
presidente do Conselho do Movimento Laudato si’, que reforçou o apelo à
responsabilidade ética e à unidade diante da crise climática global.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt