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domingo, 5 de outubro de 2025

SAÚDE: Do morango do amor ao pudim: por que brasileiros gostam tanto de açúcar (Parte 2/2)

A receita do pudim brasileiro tem mais açúcar do que a do francês (Crédito: Getty Images)

Do morango do amor ao pudim: por que brasileiros gostam tanto de açúcar?

Autor: André Biernath

Da BBC News Brasil em Londres

14 agosto 2025

Os doces brasileiros são mais doces?

Fazer uma comparação como essa é difícil, mas algumas receitas indicam que o brasileiro, em geral, usa mais açúcar que o resto do mundo. Geralmente, as receitas brasileiras levam cerca de 50% a mais de açúcar do que as versões parecidas disponíveis em outros países.

Um exemplo clássico é o tradicional bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Enquanto a versão inglesa do carrot cake leva cerca de 200 gramas de açúcar, a brasileira pode chegar a 400 gramas, ou seja, o dobro.

Situação semelhante acontece quando comparamos a receita do pudim de leite brasileiro com o francês, ou o nosso doce de leite e o dulce de leche argentino.

"Se você for pensar no pão de mel alemão, ele é um pão, um pão com especiarias, tem açúcar mascavo, uma doçura menor, ele é mais seco. Aqui [no Brasil], quando você fala pão de mel, você pensa em um bolinho, recheado com doce de leite, se possível banhado com chocolate", exemplifica a historiadora Débora Oliveira.

Até mesmo nossas próprias "criações" são bem açucaradas. O brigadeiro, por exemplo, marca registrada do Brasil, é preparado com uma lata inteira de leite condensado. Esse ingrediente já carrega, em média, 55 gramas de açúcar a cada 100 gramas.

Quanto açúcar o brasileiro consome?

O Ministério da Saúde calcula que o brasileiro consome, em média, 80 gramas de açúcar por dia — o equivalente a 18 colheres de chá de açúcar. Isso representa 50% a mais do limite máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 50 gramas diárias, ou 12 colheres de chá.

Esse alto consumo coloca o Brasil no topo do ranking mundial de ingestão de açúcar, ao lado dos Estados Unidos, Rússia e México. Para comparação, os brasileiros chegam a consumir o triplo de açúcar que chineses ou japoneses.

Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária ainda revelam que esse hábito cresceu nas últimas décadas. Nos anos 1930, o consumo individual era de cerca de 15 quilos de açúcar por ano. Em 1990, esse número passou para 50 quilos, e hoje gira em torno de 65 quilos, segundo a OMS.

O consumo médio de açúcar também cresceu em outras partes do mundo. Estima-se que o consumo aumentou 100 vezes de 1850 até os dias de hoje, com algumas variações regionais.

Estudos apontam que cerca de 60% dessa ingestão vêm de açúcares adicionados a alimentos e bebidas. O restante está presente em produtos processados e ultraprocessados.

"É muito comum no Brasil, no setor público, por exemplo, você ter café e ele já estar adoçado na garrafa. A pessoa nem adoça o próprio café, porque essa é a prática. Temos também pessoas que adicionam açúcar no leite com achocolatado, que já tem o açúcar", destaca a professora do Instituto de Nutrição da UERJ Daniela Canella.

Adição de açúcar de mesa em bebidas, como café e sucos, é um hábito dos brasileiros (Crédito: Getty Images)

Excesso de açúcar e saúde

Se por um lado o açúcar está enraizado na cultura brasileira, por outro, o consumo excessivo se tornou um grave problema de saúde pública.

Segundo o Ministério da Saúde, o alto consumo de açúcar está relacionado a uma série de doenças crônicas que cresceram no Brasil nas últimas décadas, como o diabetes tipo 2 e a obesidade.

"Um ponto bem importante é o ganho de peso, e se a gente pensa que a obesidade cresce no Brasil e no mundo, o ganho de peso é bastante sensível. Não é a obesidade, o peso mais elevado como uma questão estética. A obesidade é um problema e está relacionada ao desenvolvimento de infinitas doenças: diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer", explica Daniela Canella.

Isso não quer dizer que você deva cortar todo o açúcar da sua alimentação ou que não possa experimentar o tão famoso morango do amor. Segundo a nutricionista, o segredo é consumir com moderação.

Reduzir gradualmente o açúcar nas receitas, resgatar o sabor real dos ingredientes — que muitas vezes acabam escondidos pela doçura — e repensar hábitos alimentares são estratégias que ajudam a equilibrar saúde e prazer à mesa.

"Talvez a redução drástica seja muito difícil porque as pessoas estão acostumadas com aquele paladar, mas talvez fazer uma transição sem substituir por edulcorante [aditivos alimentares popularmente conhecidos como adoçantes]. Se você vai reduzindo aos poucos, o paladar vai se acostumando até parar de consumir ou consumir menos. E evitar consumir ultraprocessados com alerta de açúcar e, no dia a dia, tentar reduzir esse açúcar adicionado [em bebidas, cafés] também ajuda muito", aconselha Canella.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cp3eqv91x1vo

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF