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sexta-feira, 5 de junho de 2020

Adoração ou veneração aos Santos?

Centro Dom Bosco
  • Autor: Alessandro Lima
Os protestantes sempre acusam os católicos de idólatras, pois acreditam que estes adoram as imagens dos santos.
O princípio desta acusação está no desconhecimento da diferença entre “dulia” e “latria”. A palavra “dulia” vem do grego “douleuo” que significa “servidor”. “Dulia” em português quer dizer “reverência, veneração”. “Latria” é “adoração”; vem do grego “latreou” que significa “serviço ou culto prestado a um soberano senhor”. Em outras palavras, significa “adoração”.
Amar, honrar, admirar, obedecer são ações da vontade que exigem graus diferentes conforme o seu objeto. O Amor que devemos a Deus é diferente do amor que devemos ao próximo. Se esses dois amores tiverem o mesmo grau ou gradação, não necessitaria de N. S. Jesus Cristo distinguir-los quando nos ensinou:
  • Jesus respondeu-lhe: “O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor; amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe (Marcos 12,29-31).
O QUE É LATRIA?
Latria é o culto que se presta à alguma divindade. E a marca característica da Latria é o sacrifício oferecido à divindade objeto do culto. O Antigo Testamento é repleto de exemplos onde os povos pagãos adoravam seus falsos deuses oferecendo-lhes sacrifícios, vejam:
  • O Senhor disse: “Vou fazer uma aliança contigo. Diante de todo o teu povo farei prodígios como nunca se viu em nenhum outro país, em nenhuma outra nação, a fim de que todo o povo que te cerca veja quão terríveis são as obras do Senhor, que faço por meio de ti. Sê atento ao que te vou ordenar hoje. Vou expulsar diante de ti os amorreus, os cananeus, os hiteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Guarda-te de fazer algum pacto com os habitantes da terra em que vais entrar, para que sua presença no meio de vós não se vos torne um laço. Derrubareis os seus altares, quebrareis suas estelas e cortareis suas asserás.* Não adorarás nenhum outro deus, porque o Senhor, que se chama o Zeloso, é um Deus zeloso. Guarda-te de fazer algum pacto com os habitantes do país, pois, quando se prostituírem a seus deuses e lhes oferecerem sacrifícios, poderiam convidar-te e tu comerias de seus sacrifícios; poderia acontecer também que tomasses entre suas filhas esposas para teus filhos, e essas mulheres que se prostituem a seus deuses, poderiam arras­tar a isso também os teus filhos. Não farás deuses de metal fundido (Êxodo 34,10-17).
  • Vendo que Moisés tardava a descer da montanha, o povo agru­pou-se em volta de Aarão e disse-lhe: “Vamos: faze-nos um deus que marche à nossa frente, porque esse Moisés, que nos tirou do Egito, não sabemos o que é feito dele”. Aarão respondeu-lhes: “Tirai os brincos de ouro que estão nas orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas e trazei-me”. Tiraram todos os brincos de ouro que tinham nas orelhas e os trouxeram a Aarão, o qual, tomando-os em suas mãos, pôs o ouro em um molde e fez dele um bezerro de metal fundido. Então exclamaram: “Eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito”.* Aarão, vendo isso, cons­truiu um altar diante dele e exclamou: “Amanhã haverá uma festa em honra do Senhor”. No dia seguinte, pela manhã, ofereceram holocaustos e sacrifícios pacíficos. O povo assentou-se para comer e beber, e depois levantaram-se para se divertir (Êxodo 32,1-6).
  • Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios, com os quais se prostituem. Essa será para eles uma lei perpétua de geração em geração” (Levítico 17,7).
  • Quando o Senhor, teu Deus, tiver exterminado diante de ti as nações, cujos territórios invadirás para despojá-los, quando ocupares a sua terra, guarda-te de cair no laço, imitando-as, depois de sua destruição. Guarda-te de seguir os seus deuses, dizendo: ‘Como adoravam essas nações os seus deuses, para que também eu faça o mesmo?’. Não farás as­sim com o Senhor, teu Deus, porque tudo o que o Senhor odeia, tudo o que ele detesta, elas fizeram-no pelos seus deuses, chegando mesmo a queimar em sua honra os seus filhos e filhas (Deuteronômio 12,29-31).
Vejam a Escritura mostra que os pagãos adoravam seus falsos deuses oferecendo-lhes um culto sacrificial. É daí que vem a palavra Idolatria (ídolos = falso deus + latria = adoração), que significa adorar falsos deuses. Os pagãos realmente adoravam seus falsos deuses pois lhes ofereciam sacrifícios.
Na Escritura há também exemplos de latria, isto é, a adoração ao Deus verdadeiro:
  • Tu me levantarás um altar de terra, sobre o qual oferecerás teus holocaustos e teus sacrifícios pacíficos, tuas ovelhas e teus bois. Em todo lugar onde eu fizer recordar o meu nome, virei a ti para te abençoar” (Êxodo 20, 24).
  • Enviou jovens dentre os israe­litas, os quais ofereceram holocaustos e sacrifícios ao Senhor e imolaram touros em sacrifícios pacíficos (Êxodo 24, 5).
  • No dia seguinte, pela manhã, ofereceram holocaustos e sacrifícios pacíficos. O povo assentou-se para comer e beber, e depois levantaram-se para se divertir (Êxodo 32, 6).
  • Mas irás ao lugar que o Senhor, vosso Deus, escolher entre todas as vossas tribos para aí estabelecer o seu nome e unicamente ali irás procurá-lo. É nesse lugar que apresentareis vossos holocaustos e vossos sacrifícios, vossos dízimos, vossas primícias, vossos votos, vossas ofertas espontâneas, os primogênitos de vossos rebanhos graúdo e miúdo (Deuteronômio 12,5-6).
  • Guarda-te de oferecer os teus holocaustos em qualquer lugar; 14.oferecerás unicamente no lugar que o Senhor escolher em uma de suas tribos, e é ali que oferecerás teus holocaustos e farás tudo o que te ordeno” (Deuteronômio 12,13-14).
  • Por isso os israelitas, em lugar de oferecerem os seus sacrifícios no campo, apresentarão as vítimas ao sacerdote, diante do Senhor, à entrada da tenda de reunião, e as oferecerão ao Senhor em sacrifício pacífico. O sacer­dote derramará o seu sangue sobre o altar do Senhor, à entrada da tenda de reunião, e queimará a gordura em odor agradável ao Senhor” (Levítico 17,5-6).
Pelos exemplos já mencionados não existe adoração (latria) sem oferecimento de sacrifício. Os Egípcios, os Maias, Astecas, os Gregos e Romanos, os Viking, todos esses povos adoravam seus falsos deuses através de ritos sacrificiais que muitas vezes envolviam até mesmo sacrifícios humanos.
O QUE É DULIA?
Dulia do grego “douleuo” que significa venerar. Na Cidade veneramos os símbolos nacionais, os heróis, as instituições, os representantes públicos que prestaram serviços significativos para a sociedade. Veneramos ainda os mestres, professores, nossos pais, avós, tios e tias etc. Fazemos tudo isso instituindo datas e festas comemorativas e lhes construímos imagens para lhe perpetuar a memória. Se podemos venerar os símbolos das coisas que passaram, por que não podemos venerar os símbolos das coisas eternas?
A Sagrada Escritura é repleta de exemplos do culto de dulia:
  • Honra teu Pai e tua mãe (Êxodo 20,12).
Neste mandamento de Deus devemos honrar nossos pais, isto é, prestar-lhe culto, porém este nada tem haver com culto de adoração que só devemos a Deus. Só Deus pode ser e deve ser adorado!
O Anjo Gabriel presta culto à Virgem Maria quando lhe anuncia a encarnação do Verbo Divino em seu ventre:
  • Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lucas 1,28).
Cheia de Graça” significa que a Graça Original concedida por Deus a Adão e Eva, em Maria se encontrava reestabelecida, porém pelos Méritos de Cristo, pois Ela foi predestinada a ser a Nova Arca da Aliança, isto é, carregar dentro de si o Verbo de Deus (cf. Lucas 1,30-31). Não é sem razão que as iconografias e pinturas que retratam a Anunciação da Encarnação do Verbo Divina a Maria, representam o Anjo Gabriel de joelhos perante a Mãe de Nosso Salvador, prestando-lhe o culto que lhe é devido, pois a Mãe do Rei é a Rainha Mãe.
O próprio Rei Salomão reverenciou a sua Mãe:
  • Betsabeia foi, pois, ter com o rei para falar-lhe em favor de Adonias. O rei levantou-se para ir-lhe ao encontro, fez-lhe uma profunda reverência e sentou-se no trono. Mandou colocar um trono para a sua mãe e ela sentou-se à sua direita (1Reis 2,19).
Salomão segundo o mandando de Êxodo 20,12, honrou sua mãe reconhecendo-lhe sua realeza, colocando um trono para ela à sua direita.
O Profeta Natã quando foi ter com o Rei Davi este já em seu leito de morte, prestou-lhe culto:
  • Falava ela [Betsabeia] ainda ao rei, quando se apresentou o profeta Natã. Disseram ao rei: ‘Está aí o profeta Natã’. Ele entrou e prostrou-se com o rosto por terra diante do rei (1Reis 1,22-23).
Segundo a miopia protestante seria esse profeta de Deus um idólatra. O mesmo culto de dulia é prestado por Betsabeia:
  • Betsabeia inclinou-se diante do rei, prostrando-se com a face por terra e disse: ‘Viva o rei Davi, meu senhor, para sempre!’” (1Reis 1, 31).
Adonias, irmão de Salomão, também prostrou-se diante deste (cf. 1Reis 1,53). Ver também 1Samuel 25,23.
Moisés também cultuou seu sogro:
  • Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutualmente sobre a sua saúde e entraram na tenda” (Êxodo 18,7).
Seria Moisés idólatra?
A Sagrada Escritura dá exemplos do culto de dulia (veneração) prestado ao Anjos:
  • Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prestou-se por terra (Gênesis 18,2).
Também Josué prostrou-se diante o Arcanjo Miguel, chefe do Exército de Deus:
  • Josué encontrava-se nas proximidades de Jericó. Levantando os olhos, viu diante de si um homem de pé, com uma espada desembainhada na mão. Josué foi contra ele: ‘És dos nossos – disse ele – ou dos nossos inimigos?’. Ele respondeu: ‘Não! Venho como chefe do exército do Senhor’. Josué prostrou-se com o rosto por terra e disse-lhe: ‘Que ordena o meu Senhor a seu servo?’. E o chefe do exército do Senhor respondeu: ‘Tira o calçado de teus pés, porque o lugar em que te encontras é santo’. Assim fez Josué” (Josué 5,13-16).
Segundo os protestantes, Josué era idólatra!
Alguém poderia objetar: os exemplos aqui são de vivos cultuando vivos e não de vivos cultuando mortos! Primeiro, os justos que morreram na amizade de Deus estão vivos e não mortos. É o próprio Cristo que o afirma:
  • Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque todos vivem para ele” (Lucas 20,38).
Com efeito, Moisés e Elias aparecem junto a Jesus em sua transfiguração (cf. Mateus 17,1-3).
No entanto o Rei Saul cultua o profeta Samuel quando este já estava morto. Quando vai visitar a Necromante de Endor, pede que invoque Samuel. Quando ela diz que está vendo algo, Saul lhe diz:
  • “‘Qual é o seu aspecto?’ [Lhe responde a mulher:] ‘É um ancião, envolto num manto.’ Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra (1Samuel 28,14).
CONCLUSÃO
Por fim, os católicos dos primeiros séculos também se depararam com esta incompreensão sobre os cultos de latria e dulia, desta vez da parte dos judeus.
Talvez o primeiro texto que dê testemunho da veneração dos Santos como ainda nós católicos praticamos hoje, com honra, homenagem, celebração dos heróis e modelos da fé, seja a Carta que a Igreja de Esmirna enviou à Igreja de Filomélio, narrando o Martírio de São Policarpo (Bispo de Esmirna e discípulo do Apóstolo São João). Este documento de meados do 2º século é o texto hagiográfico mais antigo que se tem notícia.
A Carta nos dá testemunho que após o martírio de São Policarpo, os cristãos de Esmirna tentaram conseguir a posse de seu corpo, para dar ao mártir um sepultamento adequado, mas foram impedidos pelas autoridades públicas, que eram influenciadas pelos judeus rabínicos, os quais diziam que os cristãos queriam o corpo de São Policarpo para adorá-lo como faziam com Cristo.
Na carta é interessante o comentário que os cristãos de Esmirna fazem por causa da ignorância que os judeus tinham sobre a diferença da adoração que os cristãos prestavam somente a Nosso Senhor Jesus Cristo e a veneração prestada aos Santos. Semelhantes a nós católicos dos últimos séculos, os católicos do passado escreveram:
  • Ignoravam eles que não poderíamos jamais abandonar Cristo, que sofreu pela salvação de todos aqueles que são salvos no mundo, como inocente em favor dos pecadores, nem prestamos culto a outro. Nós o adoramos porque é o Filho de Deus. Quanto aos mártires, nós os amamos justamente como discípulos e imitadores do Senhor, por causa da incomparável devoção que tinham para com seu rei e mestre. Pudéssemos nós também ser seus companheiros e condiscípulos! (Martírio de Policarpo 17,2; ~160 d.C.).
E mais adiante esta importantíssima prova da fé primitiva dá testemunho do costume que a Igreja tinha em guardar uma data para celebrar a memória dos Santos, como Ela faz até hoje:
  • Vendo a rixa suscitada pelos judeus, o centurião colocou o corpo no meio e o fez queimar, como era costume. Desse modo, pudemos mais tarde recolher seus ossos [de Policarpo], mais preciosos do que pedras preciosas e mais valiosos do que o ouro, para colocá-lo em lugar conveniente. Quando possível, é aí que o Senhor nos permitirá reunir-nos, na alegria e contentamento, para celebrar o aniversário de seu martírio, em memória daqueles que combateram antes de nós, e para exercitar e preparar aqueles que deverão combater no futuro (Martírio de Policarpo 18; ~160 d.C.).
Se é lícito cultuar devocionalmente um rei, um mestre, um pai e até mesmo um Anjo, logo podemos também ter apreço por seus retratos ou imagens que os representam.
O Culto católico aos Santos possui amplo fundamento na Sagrada Escritura e é um costume já presente na Igreja nascente.
Veritatis Splendor

Da Providência Divina (10/10)

Canção Nova
DA  PROVIDÊNCIA DIVINA
São Tomás de Aquino
(cf. Suma Teológica)
ARTIGO 10º –  SE OS ATOS HUMANOS SÃO GOVERNADOS PELA DIVINA PROVIDÊNCIA MEDIANTE OS CORPOS CELESTES
Respondo dizendo que para chegarmos à verdade desta questão importa saber primeiro o que é dito serem atos humanos. São ditos propriamente atos humanos aqueles dos quais o próprio homem é senhor. Ora, o homem é senhor dos seus atos pela vontade ou pelo livre arbítrio. Esta questão versa, portanto, acerca dos atos da vontade e do livre arbítrio. De fato, há alguns atos no homem que não estão submetidos ao império da vontade, como os atos da potência nutritiva e generativa. Estes atos estão submetidos às virtudes dos corpos celestes do mesmo modo como os outros atos corporais.
Quanto aos atos humanos, porém, houve muitos erros.
1. Alguns, de fato, colocaram os atos humanos não pertencerem à divina providência nem serem reduzidos a nenhuma causa que não seja a divina providência. E esta parece ter sido a posição de Túlio, como diz S. Agostinho no V da Cidade de Deus. Isto, porém, não pode ser, pois a vontade humana é um movente movido, como se demonstra no III De Anima, sendo, portanto, necessário reduzir o seu ato a algum primeiro princípio que seja movente não movido.
2. Outros, por este motivo, reduziram todos os atos da vontade aos corpos celestes, colocando ser a mesma coisa em nós o sentido e o intelecto e, por conseguinte, serem corporais todas as virtudes da alma, estando as mesmas, deste modo, submetidas às ações dos corpos celestes. Esta posição, no entanto, foi destruída pelo Filósofo no III De Anima, mostrando que o intelecto é uma virtude imaterial e que a sua ação não é corporal mas, conforme -se escrito no XVI De Animalibus, “os princípios dos quais as ações são sem o corpo, os próprios princípios são sem o corpo”, de onde que não é possível que as ações do intelecto e da vontade, consideradas em si mesmas, sejam reduzidas a princípios materiais.
3. Por isso Avicenna colocou em sua Metafísica que assim como o homem é composto de alma e corpo, assim também o são os corpos celestes, e assim como as ações e os movimentos do corpo humano são reduzidos aos corpos celestes, assim também as ações da alma são reduzidas às almas celestes como aos seus princípios, de tal modo que toda a vontade que há em nós é causada pela vontade da alma celeste. Esta colocação pode ser conveniente com a opinião que ele tinha sobre o fim do homem, que Avicenna dizia estar na união da alma à alma ou a inteligência celeste. Como a perfeição da vontade é o fim e o bem, que é o seu objeto assim como o visível é o objeto da vista, é necessário que aquilo que age na vontade tenha também razão de fim, porque não age segundo a causalidade eficiente senão na medida em que imprime a sua forma no susceptível.
4. Segundo, porém, a sentença da fé, o próprio Deus é, e de modo imediato, o fim da vida humana. Somos, de fato, beatificados pela fruição de sua visão, e por isso somente Ele pode imprimir na nossa vontade.
É necessário, porém, que a ordem dos móveis corresponda à ordem dos moventes. Ora, na ordem ao fim, ao qual diz respeito a providência, o que em nós se primeiro é a vontade, à qual pertence por primeiro a razão de bem e de fim, e que usa de todas as coisas que estão em nós como instrumentos para a consecução do fim embora, em relação a algo, a inteligência tenha precedência sobre a vontade. Mais próximo à vontade está o intelecto, e mais remotas estão as forças corporais.
Por isso o próprio Deus, que é simplesmente considerado o primeiro providente, e somente Ele, pode imprimir em nossa vontade. O anjo, porém, que a Ele se segue na ordem das causas, imprime no nosso intelecto na medida em que pelos anjos somos iluminados, purgados e aperfeiçoados. Os corpos celestes, que são agentes inferiores, somente podem imprimir nas forças sensórias e em outras unidas aos órgãos.
Na medida, porém, em que o movimento de uma potência da alma redunda em outra, ocorre que a impressão dos corpos celestes redunda no intelecto como que por acidente e, posteriormente, na vontade. Semelhantemente, a impressão do anjo redunda na vontade por acidente.
Todavia, quanto a isto, diversa é a disposição do intelecto e da vontade para com as potências sensitivas. O intelecto, de fato, é movido naturalmente pela potência sensitiva apreensiva, pelo modo pelo qual o objeto move a potência, porque a fantasia está para o intelecto assim como a cor está para a vista, conforme está dito no III De Anima. Por isto, perturbada a potência sensitiva interior, necessariamente é perturbado o intelecto, assim como vemos que, lesado o órgão da fantasia, necessariamente impede-se a ação do intelecto. Segundo este modo a ação ou impressão do corpo celeste pode redundar no intelecto como que por via de necessidade; por acidente, todavia, na medida em que esta ação, considerada em si mesma, é sobre os corpos. E digo como que por via de necessidade, a não ser que haja uma disposição contrária por parte do móvel, como o apetite sensitivo, que não é naturalmente motivo da vontade, mas inversamente, pois o apetite superior move o apetite inferior assim como a esfera move a esfera, conforme é explicado no III De Anima. Assim, embora o apetite inferior seja perturbado por alguma paixão da ira ou da concupiscência, não é necessário que a vontade seja perturbada; ao contrário, ela possui a potência de repelir tal perturbação, conforme se diz no Gênesis: “Sob ti estará o teu apetite, e tu o dominarás” (Gênesis 4,7).
Nenhuma necessidade, portanto, é induzida por parte dos corpos celestes nos atos humanos, nem por parte do recipiente, nem por parte do agente, mas apenas a inclinação, a qual também a vontade pode repelir pela virtude adquirida ou infusa.
Veritatis Splendor

quinta-feira, 4 de junho de 2020

S. FILIPPO SMALDONE

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Filippo Smaldone nasceu no dia 27 de julho de 1848, na cidade de Napoli (Itália).Sua família era muito religiosa e de sua mãe recebeu os primeiros ensinamentos cristãos. Desde muito jovem sonhava em tornar-se Sacerdote, para isso, estudava muito, ajudava os pobres, visitava doentes em hospitais, ajudava às crianças a conhecerem Jesus.Tornou-se Sacerdote no dia 23 de setembro de 1871. Em toda sua vida ele praticou a caridade e o amor ao próximo. Padre Filippo rezava muito para entender o que Deus queria dele. Então, em uma tarde, na Igreja de Santa Catarina, em Napoli, ele ensinava o catecismo às crianças quando ouviu-se gritar uma criança e a mãe que chorava, padre Filippo aproximou-se para acalmar a criança mas, a mãe gritou: "meu filho é surdo!" e saiu.
Padre Filippo entendeu que o Senhor lhe pedia para dedicar-se às crianças surdas, e então, começou a ajudar os surdos de sua cidade e cidades vizinhas. Por amar muito os surdos, pensou em dar-lhes mães e mestras: as irmãs. E em 25 de março de 1885, em Lecce, três jovens irmãs começaram a ajudar padre Filippo na educação dos surdos. Assim foi fundada a Congregação das Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações, para que, mulheres consagradas a serviço de Deus e dos Irmãos pudessem no mundo inteiro tornar atual no tempo o grande milagre do:"EFETA", abrindo para os surdos a porta da comunicação através do amor, da linguagem e da instrução.
A Igreja reconheceu o elevado carisma de Filippo Smaldone, suas virtudes, seu milagre e, no dia 12 de maio de 1997, o proclamou "Bem-aventurado" na praça de São Pedro, em Roma.
Por quase quarenta anos o Pe. Filippo Smaldone prodigalizou-se, sem nunca esmorecer, para apoiar materialmente e educar moralmente os seus queridos surdos, os quais amava com afecto e cuidado de pai; e para conformar à vida religiosa perfeita as suas Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações. Faleceu santamente no dia 4 de Junho de 1923, em Lecce, suportando com admirável serenidade uma complicada doença, rodeado pelo afecto das suas Irmãs e dos surdos. Foi beatificado por João Paulo II em 12 de Maio de 1996. No dia 15 de outubro de 2006, na Praça São Pedro, o Papa Bento XVI proclamou Santo o sacerdote Filippo Smaldone, fundador da Congregação das Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações, pai e mestre dos surdos.
Hoje o carisma de São Filippo Smaldone está vivo na Itália, no Brasil, na África e no Paraguai através da congregação, que com amor, competência, dedicação e técnicas didático-pedagógicas modernas, promovendo o pleno desenvolvimento de centenas de crianças surdas.
http://institutofilipposmaldone.com.br/

SENHOR, TENDE PIEDADE DE MIM!

A vergonha, os escrúpulos e a falta de sinceridade são eminentes perigos que devemos evitar quando recorremos ao sacramento da Reconciliação. Neste sentido, a Sagrada Escritura nos orienta: “Não te envergonhes de confessar os teus pecados!” (Eclo 4,26) E noutra passagem: “Quem esconde suas faltas jamais tem sucesso, mas quem as confessa e abandona obtém compaixão” (Pr 28,13).
Temos que vencer a vergonha com a contrição que nos possibilita passar do vício à virtude. Momento feliz em nossas vidas é quando, com o coração contrito, sabemos demonstrar nosso arrependimento, cantando com o cancioneiro popular: “Minha alma chorou tanto, que de pranto está vazia; desde o dia em que eu fiquei sem a tua companhia. Não há pranto sem saudade, nem amor sem alegria, é por isso que eu reclamo dessa tua companhia”. Benditas lágrimas proporcionadas pelo real arrependimento. Benditas lágrimas que nos fazem crer que o pecado é sempre algo ruim, mas a contrição e o arrependimento são, seguramente, fecundos.
A contrição é o ato pelo qual o ser humano se reconcilia com Deus, fazendo brotar o propósito de emenda, de mudança de vida. Confissão e contrição são as práticas pelas quais vencemos as inclinações pecaminosas da carne, e consistem em sentir, na alma, uma aversão ao pecado, por amor a Deus. Contritos e humilhados, percebemos que pecar é trocar o Absoluto pelo relativo, é aderir às pequenas partes, abrindo mão do inteiro e é, acima de tudo, fechar-se em si mesmo, negando-se à abertura com Deus e o próximo.
Por meio da contrição, alimentamos a beleza espiritual da graça em nossa alma e aprendemos a afirmar, com Santo Agostinho, que “a nossa alma é feia por culpa do pecado; ela se torna bela amando a Deus, que é a própria beleza. O quanto cresce em ti o amor, tanto cresce a beleza”. (Comentário à primeira Carta de João). É o amor que nos faz distinguir a doce voz de Cristo, dizendo: “Mesmo que os vossos pecados fossem como escarlate, tornar-se-iam brancos como a neve”. (Is 1,18). É o amor que nos incentiva na prática do bem, solicitando-nos: “que o justo continue a praticar a justiça e que o santo se santifique ainda mais” (Ap 22,11).
A contrição é um contínuo exercício que nos faz ficar atentos contra as investidas das tentações e do mal. A contrição é, também, um fantástico antídoto contra a acomodação nos desejos carnais. Quando achamos que tudo está bem, pois o mundo de nada nos acusa, a nossa consciência nos repreende: “Tenho contra ti que abandonaste o teu primitivo fervor. Lembra-te, pois, de onde caíste: arrepende-te e faze as obras de outrora” (Ap 2,4-5).
A consciência é essencial na obtenção da contrição, pois é ela que nos faz redespertar o zelo na vivência da graça. Se podemos afirmar que há algo de bom em ceder ao pecado, esse algo é unicamente sentir, em nosso ser, a plena convicção de que não conseguimos viver sem a presença de Deus em nossos corações. Esta certeza nos leva ao encontro dos irmãos ausentes e, por termos vivido a alegria do reencontro com o Pai misericordioso, a eles nós pedimos: “purificai as mãos, ó pecadores, e santificai os corações, homens dúbios. Humilhai-vos diante do Senhor, e Ele vos exaltará”. (Tg 4,9-10).
Somos exaltados pelo Senhor quando, arrependidos, apresentamos um coração quebrantado, humilhado e, com lágrimas nos olhos, confidenciamos: “Enquanto eu me calava, meus ossos se consumiam, eu gemia o dia inteiro. Pois dia e noite, sobre mim, pesava a tua mão, como pelo calor do verão ia secando o meu vigor. Revelei-te o meu pecado, o meu erro não escondi. Eu disse: Confessarei ao Senhor as minhas culpas, e Tu perdoaste a malícia do meu pecado.” (Sl 32). Após a confissão e a entrega dos nossos pecados, pela graça, sentimos que fomos reincorporados à Igreja e restituídos à amizade com Cristo. De posse desta amizade, podemos, de maneira nova, ouvir as declarações de nosso Redentor: “Eu te amo com um amor de eternidade!” (Jr 31,3).
A humilde contrição dos pecados nos liberta da iniquidade e faz brotar, em nosso ser, as obras, os frutos da contrição. Um precioso fruto da contrição é a penitência. “A penitência significa a íntima mudança do coração sob o influxo da Palavra de Deus e na perspectiva do Reino. Mas penitência quer dizer também mudar de vida, em coerência com a mudança do coração. (…) A penitência, portanto, é a conversão que passa do coração às obras e, por conseguinte, à vida toda do cristão”. (São João Paulo II, “Reconcilitio et Paenitentia, 4”). Pela penitência, obteremos outro valioso fruto da contrição, que é a prática da confissão frequente, que nutre a docilidade de alma e repudia qualquer manifestação de pecado; repudia, até mesmo, os pecados ditos leves ou veniais. Podemos, ainda, afirmar que a humilde contrição produz a perseverança na vida da graça santificante. É pela graça que reconhecemos que “devemos levar uma vida digna do Senhor, para lhe sermos agradáveis em tudo” (Cl 1,10).
A cada novo dia, não nos cansemos de clamar: “Tende piedade de mim, ó Deus, por vosso amor! ” (Sl 51,3). Ajudai-nos, Senhor, a sermos zelosos na natural manifestação dos frutos da luz que a contrição produz em nosso ser e, com coerência, a professar que a contrição é um agradável perfume, uma suave essência, um exercício singular e uma preciosa prática de espiritualidade. Senhor, ensinai-nos a perseverar no exercício da contrição!  Tornai puros, Senhor, os nossos lábios e os nossos corações, para que possamos recorrer a vós, rezando contritos: “Meu Jesus, purificai-me de todas as faltas que hoje cometi e das quais me arrependo, porque vos desagradaram; e, com um ardente desejo de vos amar muito, dai-nos também a força de não recair mais”. (Santo Afonso de Ligório, “Visitas a Jesus Sacramentado e a Nossa Senhora”). Acolhei, Senhor, o nosso coração contrito e realizai, com a Vossa graça, uma generosa reviravolta em nossas almas, a fim de que possamos permanecer firmes no caminho da verdade, da justiça e do bem!
Aloísio Parreiras
Arquidiocese de Brasília

São Francisco Caracciolo

S. Francisco Caracciolo | Canção Nova
04 de junho
São Francisco Caracciolo

“Sangue precioso do meu Jesus, vós sois meu! Convosco e por meio de vós espero salvar-me. Meus sacerdotes, esforcem-se de celebrar a Missa, todos os dias, e inebriar-se com este Sangue!".
Não foi por acaso que Francisco Caracciolo era chamado o "Santo da Eucaristia": seu amor por Jesus, Pão da vida, brotou muito cedo, como também sua vocação, quando ainda vivia com sua família nobre e rica em Vila Santa Maria, perto de Chieti. O amor que ele sentia por Nossa Senhora não era menos importante, tanto que, em sua honra, costumava usar o hábito do Carmo, quando criança, além de rezar o terço e jejuar todos os sábados.

Uma doença "iluminadora"

Aos 22 anos, Ascânio foi acometido por uma forma maligna de elefantíase, que desfigurou todo o seu corpo. Por isso, prometeu renunciar, para sempre, às riquezas terrenas em troca da sua cura. E foi atendido.
Dois anos depois, foi ordenado sacerdote. Ficou conhecido por algumas supostas curas, entre os doentes dos hospitais, onde exercia seu ministério, bem como nas prisões. Vivia sempre entre os últimos, a ponto de pedir para fazer parte da Companhia dos Brancos, que, em Nápoles, prestava serviço aos condenados à morte e prisioneiros junto ao hospital dos Incuráveis. Transcorria o ano de 1588.

Fundador ... por engano

Certo dia, Ascânio recebeu uma missiva de um nobre genovês, Agostino Adorno, e do abade de Santa Maria Maior, em Nápoles, Fabrício Caracciolo. Na verdade, a missiva era endereçada a um religioso, da sua Congregação, que tinha seu mesmo nome. Por engano, a carta foi entregue a ele, que a recebeu como sinal da Providência.
Graças a este descuido, Ascânio se reuniu, com os dois personagens acima mencionados, no mosteiro dos Camáldulos, onde elaborou as Constituições de um novo Instituto, do qual foi cofundador. Ele foi o autor da proposta de acrescentar aos três votos de pobreza, castidade e obediência, um quarto voto, com o qual se comprometia a rejeitar todo e qualquer cargo eclesiástico. Quando o novo Instituto foi aprovado, Ascânio recebeu o nome de Francesco.

A difícil relação com a Espanha

Em 1589, Francisco Caracciolo partiu para a Espanha, junto com Adorno, para expandir seu novo Instituto. Mas, sua viagem foi uma falência. Após um ano, voltaram para casa: Francisco ficou doente e Adorno faleceu.
Em 1591, Francisco foi eleito Prepósito geral perpétuo, cargo que teve que aceitar para cumprir o voto de obediência. Porém, não mudou seu modo de viver a penitência, o jejum e nem seu costume de fazer os trabalhos mais humildes.
Três anos depois, Francisco voltou à Espanha, mas, em Madri, o rei Filipe II ameaçou de fechar o hospital italiano, onde prestava assistência aos enfermos.
Somente em 1601, sendo eleito Mestre de noviços, conseguiu abrir uma Casa, em Valladolid. Ali, demonstrou uma grande capacidade de discernimento entre os jovens, prevendo, para alguns, a vocação para a vida religiosa e, para outros, até a apostasia.
Em 1607, finalmente, foi dispensado de todos os cargos, dedicando-se apenas à oração.

"Caçador de almas", "pai dos pobres", mas também "homem de bronze"

Estes eram os três apelidos com os quais Francisco era conhecido, que refletem, perfeitamente, os três votos do seu ministério. No entanto, jamais deixou de visitar os enfermos e assistir aos moribundos. No hospital, dedicou-se, com muito zelo, aos trabalhos mais humildes, como arrumar as camas, limpar os quartos, remendar as roupas dos pacientes. Além do mais, estava sempre disposto a fazer coleta de esmolas, para providenciar a educação das meninas; levava tudo o que tinha aos pobres, até mesmo tirando o pão da sua boca para dar aos necessitados; jejuava sempre e dava as roupas usadas dos confrades aos que precisavam. Enfim, foi um incansável confessor, ensinava o catecismo às crianças, organizava as obras de caridade e pregava as verdades eternas aos fiéis.

Amor a Jesus Eucarístico

Francisco queria o melhor para os outros, mas nada para si: escolhia sempre os quartos apertados, dormia e comia muito pouco; além disso, fazia obras de penitência, a ponto de se cingir com o cilício nas festas e em suas longas viagens a pé. Mas, sobretudo, promovia o culto da Eucaristia, estabelecendo que os estudantes da Ordem se revezassem para a Adoração ao Santíssimo Sacramento. A propósito, nunca se cansava de exortar os sacerdotes à prática de expor o Santíssimo Sacramento, todo primeiro domingo do mês.
Durante a sua peregrinação à Santa Casa de Loreto, foi para o céu, em 4 de junho de 1608, depois de invocar os Santos Miguel, José e Francisco de Assis.
São Francisco Caracciolo foi canonizado por Pio VII, em 1807.


Da Providência Divina (9/10)

DA  PROVIDÊNCIA DIVINA
São Tomás de Aquino
(cf. Suma Teológica)
ARTIGO 9º – SE A DIVINA PROVIDÊNCIA DISPÕE OS CORPOS INFERIORES PELOS CORPOS CELESTES
Respondo dizendo que a intenção geral de todos foi a de, na medida do possível, reduzir a multidão à unidade, e a variedade à uniformidade.
1. Os antigos, por isso, considerando a diversidade das ações nos corpos inferiores, pensaram em reduzí-los a alguns poucos e simples princípios, isto é, aos elementos, muitos ou mesmo um só, e às qualidades elementares. Esta posição, porém, não é razoável.
As qualidades elementares, de fato, são encontradas nas ações das coisas materiais como princípios instrumentais. Sinal disto é que não possuem o mesmo modo de ação em todas as coisas, não podendo as ações destas mesmas coisas chegar a um mesmo término. As qualidades elementares possuem um efeito no ouro, outro na madeira, outro na carne do animal, o que não aconteceria senão por agirem na medida em que são regulados por outro. A ação do agente principal, porém, não se reduz à ação do instrumento como ao seu princípio, mas inversamente, assim como o efeito da arte não deve ser atribuído à serra do artífice. De onde que os efeitos naturais não podem ser reduzidos às qualidades elementares como a primeiros princípios.
2. De onde que outros, isto é, os platônicos, reduziram a diversidade das ações nos corpos inferiores às formas simples e separadas como a primeiros princípios, a partir das quais, conforme diziam, proviria o ser e a geração nas coisas inferiores, assim como toda a propriedade natural. Mas isto também não pode ser, pois de uma causa que se de um mesmo modo segue-se um efeito que se também do mesmo modo; estas formas, porém, eram colocadas como sendo imóveis, de onde que seria necessário que a geração a partir delas fosse sempre uniforme nos corpos inferiores. É o contrário, porém, o que vemos pelos sentidos.
3. De onde que importa colocar que os princípios da geração e da corrupção e dos outros movimentos que se seguem nos corpos inferiores são algo que não se sempre do mesmo modo. É necessário, todavia, que os primeiros princípios da geração e da corrupção sempre permaneçam, de tal maneira que a geração possa ser contínua. É necessário, por isso, que eles sejam invariáveis segundo a substância, e que se movam segundo o lugar para que, pela aproximação e pelo afastamento e pelos movimentos vários e contrários produzam efeitos contrários e diversos nos corpos inferiores. Estes são os corpos celestes, e por isso é necessário reduzir todos os efeitos a estes assim como a causas.
4. Mas nesta redução houve dois erros.
Alguns, de fato, reduziram os corpos inferiores aos celestes como a causas primeiras simplesmente consideradas, pelo fato de julgarem não existir nenhuma substância incorpórea. Diziam, por isso, que os primeiros nos corpos seriam também os primeiros nos entes.
Isto, porém, é manifestamente falso. É necessário, de fato, que tudo o que é movido seja reduzido a um princípio imóvel, já que nada se move a si mesmo e não se pode prosseguir de causa em causa até o infinito. O corpo celeste porém, embora não varie segundo a geração e a corrupção ou segundo algum movimento que varie algo que esteja em sua substância, é movido segundo o lugar. É necessário, portanto, fazer-se a redução a algum primeiro princípio de maneira que assim como as coisas que são alteradas podem ser reduzidas, por uma certa ordem, a um alterante não alterado movido, todavia, segundo o lugar, este também, ulteriormente, possa ser reduzido ao que de nenhum modo é movido.
5. Alguns, porém, colocaram os corpos celestes serem causas dos corpos inferiores não somente quanto ao movimento, mas também quanto à sua primeira instituição. É assim que Avicenna diz na sua Metafísica que a partir daquilo que é comum a todos os corpos celestes, isto é, a natureza do movimento circular, é causado nos corpos inferiores aquilo que lhes é comum, isto é, a matéria primeira, e a partir daquilo em que os corpos celestes diferem entre si é causada a diversidade das formas nos corpos inferiores, de modo que os corpos celestes são intermediários entre Deus e os corpos inferiores inclusive, de certa maneira, na criação.
Isto, porém, é alheio à fé, a qual coloca a natureza de todas as coisas segundo a sua primeira instituição ter sido feita imediatamente por Deus.
Que uma natureza, porém, seja movida por outra, pressupostas as virtudes naturais de ambas as criaturas conferidas por obra divina, não é contra a fé. Colocamos, por isto, os corpos celestes serem causas dos corpos inferiores somente por via de movimento, sendo assim intermediários na obra do governo, não, porém, na obra da criação.
Veritatis Splendor

Papa Francisco pede à Virgem de Guadalupe fim dos atos de violência nos Estados Unidos

Imagem referencial. Papa Francisco em oração.
Foto: Marina Testino / ACI Prensa
Vaticano, 03 Jun. 20 / 09:30 am (ACI).- O Papa Francisco rezou, em 3 de junho, pelos Estados Unidos devido recentes distúrbios sociais após a trágica morte de George Floyd e confiou à intercessão de Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe da América, aqueles que trabalham pela paz e pela Justiça.
Depois de pronunciar sua catequese em italiano, centrada na oração de Abraão, o Santo Padre dirigiu uma mensagem particular aos fiéis de língua inglesa, que puderam acompanhar a Audiência Geral desta quarta-feira através dos meios de comunicação.
Em concreto, o Pontífice disse aos "queridos irmãos e irmãs dos Estados Unidos" que acompanha "com grande preocupação as dolorosas desordens sociais que estão ocorrendo em sua nação nos dias de hoje, após a trágica morte de George Floyd".
O Santo Padre afirmou que não podemos “tolerar nem fechar os olhos para qualquer tipo de racismo ou de exclusão e pretender defender a sacralidade de cada vida humana".
Nada se ganha com a violência
Por essa razão, o Papa Francisco exortou a reconhecer que “a violência das últimas noites é autodestrutiva e autolesionista. Nada se ganha com a violência e muito se perde", alertou.
Nesse sentido, o Santo Padre pediu para rezar "pelo conforto das famílias e dos amigos” e pediu a oração de todos “pela reconciliação nacional e pela paz que ansiamos".
“Que Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe da América, interceda por todos os que trabalham pela paz e a justiça em suas terras e no mundo. Deus abençoe todos vocês e suas famílias", rezou o Papa, que também disse que hoje se une "à Igreja de São Paulo em Minneapolis, e a todos os Estados Unidos, ao rezar pelo repouso da alma de George Floyd e de todos os outros que perderam a vida por causa do pecado do racismo”.
Por sua vez, os presidentes dos vários comitês da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) se manifestaram com o "coração partido, enojados e indignados" com a morte de George Floyd depois de ser detido e agredido por um grupo de policiais em Minneapolis, estado de Minnesota.
Vários vídeos mostram que, em 25 de maio, um grupo de policiais de Minneapolis prendeu e agrediu Floyd, um afro-americano de 46 anos, acusando-o de ter usado uma nota falsa de 20 dólares em uma loja local e de resistir à autoridade.
Em um comunicado divulgado em 29 de maio, os bispos dos EUA disseram: "Estamos com o coração partido, enojados e indignados ao ver outro vídeo de um homem afro-americano sendo assassinado diante de nossos olhos".
"O mais surpreendente é que isso esteja acontecendo dentro de algumas semanas de outros eventos semelhantes. Este é o alerta mais recente que precisa ser atendida por cada um de nós com um determinado espírito de conversão ", pediram os bispos norte-americanos.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
ACI Digital

quarta-feira, 3 de junho de 2020

HAGIOGRAFIA: SÃO JOÃO, O DISCÍPULO AMADO.

SÃO JOÃO, O DISCÍPULO AMADO

«Quem jamais poderá narrar as tuas virtudes, ó virgem?
De ti jorram maravilhas, tu és a fonte de curas
e tu, ó teólogo e amigo de Jesus, intercede por nossas almas».

Kondakion (4º tom)

São João, o Apóstolo Virgem, é sem dúvida um dos maiores santos da Igreja, merecendo o título de “o discípulo a quem Jesus amava”. Junto à Cruz, recebeu do Redentor Nossa Senhora como Mãe, e com Ela - como Fonte da Sabedoria - a segurança doutrinária que lhe mereceu dos Padres da Igreja o título de "o Teólogo" por excelência.

Sabemos pelos Evangelhos que São João era filho de Zebedeu e de Maria Salomé. Com seu irmão Tiago, auxiliava o pai na pesca no lago de Genezaré. Pelos Evangelhos sabemos também que seu pai possuía alguns barcos e empregados que trabalhavam para ele. Maria Salomé é apontada como uma das santas mulheres que acompanhavam o Divino Mestre para O servir.

Como seus outros dois irmãos Simão e André, também pescadores, era discípulo de São João Batista, o Precursor. Deste haviam recebido o batismo, zelosos que eram, preparando-se para a vinda do Messias prometido.

Certa vez, estavam João e André com o Precursor, quando passou Jesus a alguma distância. O Batista exclama: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo". No dia seguinte repetiu-se a mesma cena, e desta vez os dois discípulos seguiram Jesus e permaneceram com Ele aquele dia (Jo, 1, 35 a 39).

Algumas semanas depois estavam Simão e André lançando as redes às águas, quando passou Jesus e lhes disse: "Vinde após mim. Eu vos farei pescadores de homens". Mais adiante estavam Tiago e João numa barca, consertando as redes. "E chamou-os logo. E eles deixaram na barca seu pai Zebedeu, com os empregados, e O seguiram" (Mc 1, 16 a 20).

A partir de então passaram a acompanhar o Messias em sua missão pública. Logo se lhes juntaram outros, que perfariam o número de doze, completando assim o Colégio Apostólico.

Preeminência de três apóstolos sobre os demais

Desde logo, Pedro, Tiago e João tomaram preeminência sobre os outros Apóstolos, tornando-se os "escolhidos dentre os escolhidos". E, como tais, participaram de alguns dos mais notáveis episódios na vida do Salvador, como a ressurreição da filha de Jairo, a Transfiguração no Tabor e a Agonia no Horto das Oliveiras.

São João foi também um dos quatro que estavam presentes quando Jesus revelou os sinais da ruína de Jerusalém e do fim do mundo. Mais tarde, com São Pedro, a quem o unia respeitosa e profunda amizade, foi encarregado de preparar a Última Ceia. São Pedro amava ternamente São João, e essa amizade é visível tanto no Evangelho quanto nos Atos dos Apóstolos.

Por sua pureza de vida, inocência e virgindade, João tornou-se logo o discípulo amado, e isso de um modo tão notório, que ele sempre se identificará em seu Evangelho como "o discípulo que Jesus amava". Apesar de os Apóstolos não estarem ainda confirmados em graça, isso não provocava neles inveja nem emulação. Quando queriam obter algo de Nosso Senhor, faziam-no por meio de São João, pois seu bom gênio e bondade de espírito tornavam-no querido de todos.

"Mas esta serenidade, esta doçura, este caráter recolhido e amoroso [de João] são algo diferente da inércia e da passividade. Os pintores nos acostumaram a ver nele um não sei quê de feminino e sentimental, que está em contraste com a energia varonil e o zelo fulgurante que se descobre em algumas passagens evangélicas" 1.

Se Nosso Senhor amava particularmente São João, também era por ele amado de maneira especialíssima. Com seu irmão Tiago, recebeu de Cristo o cognome de "Boanerges", ou "filhos do trovão", por seu zelo. Indignaram-se contra os samaritanos, que não quiseram receber o Mestre, e pediram-Lhe para fazer descer sobre aqueles indóceis o fogo do céu.

Foi por esse amor, e não por ambição, que ele e o irmão secundaram a mãe, Salomé, solicitando que um e outro ficassem à direita e à esquerda do Redentor, em seu Reino (um tanto equivocadamente, pois imaginavam ainda um reino terreno). Quando Nosso Senhor perguntou-lhes se estavam dispostos a beber com Ele o mesmo cálice do sofrimento e da amargura, com determinação responderam afirmativamente.

Entretanto, uma das maiores provas de afeição de Nosso Senhor a São João deu-se na Última Ceia. Quis o Divino Mestre ter à sua direita o Apóstolo Virgem, permitindo-lhe a familiaridade de recostar-se em seu coração. Diz Santo Agostinho que nesse momento, estando tão próximo da fonte de luz, ele absorveu dela os mais altos segredos e mistérios que depois derramaria sobre a Igreja.

A pedido de Pedro, perguntou a Jesus quem seria o traidor, e obteve a resposta. São João teve, porém um momento de fraqueza — e das mais censuráveis — quando os inimigos prenderam Jesus, tendo então fugido como os outros Apóstolos. Era o momento em que Nosso Senhor mais precisava de apoio! Logo depois o vemos acompanhando, de longe, o Mestre ao palácio do Sumo Sacerdote. Como era ali conhecido, fez entrar também Simão Pedro. Pode-se supor que ele tenha permanecido sempre nas proximidades de Nosso Senhor durante toda aquela trágica noite, e que não saiu senão para ir comunicar a Maria Santíssima o que se passava com seu Filho. Acompanhou-A então no caminho do Calvário e com Ela permaneceu ao pé da cruz. Era o sinal evidente de seu arrependimento.

Custódia da Mãe de Deus ao apóstolo virgem

Foi então que, recebendo-A como Mãe, obteve o maior legado que criatura humana jamais podia receber. Diz São Jerônimo: "João, que era virgem, ao crer em Cristo permaneceu sempre virgem. Por isso foi o discípulo amado e reclinou sua cabeça sobre o coração de Jesus. Em breves palavras, para mostrar qual é o privilégio de João, ou melhor, o privilégio da virgindade nele, basta dizer que o Senhor virgem pôs sua Mãe virgem nas mãos do discípulo virgem" 2. Ensinam os Padres da Igreja que esse grande Apóstolo representava naquele momento todos os fiéis. E que, por meio de São João, Maria nos foi dada por Mãe, e nós a Ela como filhos. Mas João foi o primeiro em tal adoção.

Foi ele também o único dos Apóstolos a presenciar e a sofrer o drama do Gólgota, servindo de apoio à Mãe das Dores, que com seu Filho compartilhava a terrível Paixão.

Quando, no Domingo da Ressurreição, Maria Madalena veio dizer aos Apóstolos que o túmulo estava vazio, foi ele o primeiro a correr, seguido de Pedro, para o local. E depois, estando no Mar de Tiberíades, aparecendo Nosso Senhor na margem, foi o primeiro a reconhecê-Lo.

Uma das três colunas da Igreja nascente

Nos Atos dos Apóstolos, ele aparece sempre com São Pedro. Juntos estavam quando, indo rezar no Templo junto à porta Formosa, um coxo pediu-lhes esmola. Pedro curou-o, e depois pregou ao povo que se reuniu por causa de tal maravilha. Juntos foram presos até o dia seguinte, quando corajosamente defenderam sua fé em Cristo diante dos fariseus. Mais adiante, quando o diácono Felipe havia convertido e batizado muitos na Samaria, era necessário que para lá fosse um dos Apóstolos a fim de os crismar. Foram escolhidos Pedro e João para a missão.

São Paulo, em sua terceira ida a Jerusalém, narra em sua Epístola aos Gálatas (2, 9) que lá encontrou "Tiago, Cleofas e João, que são considerados as colunas", e que eles, "reconhecendo a graça que me foi dada [para pregar o Evangelho], deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo".

Depois disso os Evangelhos se calam a respeito de São João. Mas resta a Tradição. Segundo esta, ele permaneceu com Maria Santíssima durante o que restou de sua vida mortal, dedicando-se também à pregação. Depois da intimidade com o Filho, o Apóstolo virgem é chamado a uma estreita intimidade de alma com a Mãe [...]. Que grande virtude deveria ter alguém para ser o custódio da Rainha do Céu e da Terra!

Assim, teria ele permanecido com Ela em Jerusalém e depois em Éfeso. "Dois motivos principais deveriam ter ocasionado essa mudança de residência: de um lado, a vitalidade do cristianismo nessa nobre cidade; de outro, as perniciosas heresias que começavam a germinar. João queria assim empenhar sua autoridade apostólica, quer para preservar quer para coroar o glorioso edifício construído por São Paulo; e sua poderosa influência não contribuiu pouco para dar às igrejas da Ásia a surpreendente vitalidade que elas conservaram durante o século II" 3.

Após a dormição de Nossa Senhora — que é como a Igreja chama o fim de sua vida terrena — e a Assunção d'Ela aos Céus, fundou ele muitas comunidades cristãs na Ásia menor.

Vivo após o martírio

Ocorre então o martírio de São João [...]. O Imperador Domiciano o fez prender e levar a Roma. Na Cidade Eterna, ele foi flagelado e colocado num caldeirão de azeite fervendo. Mas o Apóstolo virgem saiu dele rejuvenescido e sem sofrer dano algum. Domiciano, espantado com o grande milagre, não ousou atentar uma segunda vez contra ele, mas o desterrou para a ilha de Patmos, que era pouco mais do que um rochedo. Foi ali, segundo a Tradição, que São João escreveu o mais profético dos livros das Sagradas Escrituras, o Apocalipse.

Após a morte de Domiciano, o Apóstolo voltou a Éfeso. É lá que, segundo vários Padres e Doutores da Igreja, para combater as doutrinas nascentes de Cerinto e de Ebion — que negavam a natureza divina de Cristo — escreveu ele seu Evangelho 4. Ordenou antes a todos os fiéis um jejum que ele mesmo observou rigorosamente, para em seguida ditar a seu discípulo Prócoro, no alto de uma montanha, o monumento que é seu Evangelho. Transportado em Deus, com um vôo de águia, ele o começa de uma altura sublime: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus". Este Evangelho, dos mais sublimes textos jamais escritos, é tido em tanta veneração pela Igreja, que figura [como o Evangelho da celebração das Festas das Festas, a Páscoa], pela fundamental doutrina que contém.

Segundo São João Crisóstomo, os próprios Anjos aí aprenderam coisas que não sabiam. São João escreveu também três Epístolas, sempre visando estabelecer a verdadeira doutrina contra erros incipientes que se infiltravam na Igreja.

Segundo uma tradição, o discípulo que Jesus amava teria morrido em Éfeso, provavelmente [...] no ano 101 ou 102. [...]
José Maria dos Santos.


NOTAS:
  1. Frei Justo Pérez de Urbel, OSB, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo IV, p. 614.
  2. Apud Frei Justo Pérez de Urbel, OSB, op. cit., p. 612.
  3. Abbé L.Cl. Fillion, La Sainte Bible avec commentaires, Évangile selon S. Jean, P. Lethielleux, Libraire-Éditeur, Paris, 1897, Prefácio.
  4. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints d'après le Père Giry, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo XIV, p 489.
OUTRAS OBRAS CONSULTADAS:
  1. Pe. M.-J. Lagrange, Évangile selon Saint Jean, Librairie Lecoffre, Paris, 1936, 6a. edição, Introduction, pp. VI a XII.
  2. Pe. Jean Croisset, SJ, Año Cristiano, Saturnino Calleja, Madrid, 1901, tomo IV, pp. 963 a 969.
  3. Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoza, 1949, tomo VI, pp. 573 a 581.
  4. Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A. O., Braga, 1987, pp. 490 a 495.
Ecclesia

Os 4 elementos do deserto como símbolo espiritual

Patrick Schneider/Unsplash | CC0

Por Reportagem Local

Silêncio, renúncia, essencialidade e solitude (que não é o mesmo que solidão).

Autores de espiritualidade em todas as épocas da história do cristianismo abordaram o simbolismo espiritual do deserto, tanto para recordar que a dimensão material está sempre sujeita à escassez quanto para recordar, também, que mesmo a abundância material pode ser desértica espiritualmente.

Em artigo publicado em março deste ano pelo site da agência católica portuguesa Ecclesia, o professor universitário Miguel Oliveira Panão também apresentou suas reflexões sobre este clássico simbolismo:

4 características simbólicas do deserto

1 – Silêncio

Não há no deserto os ruídos do mundo, comenta o professor: “apenas o som do vento e do nosso respirar”. O ambiente externo de silêncio evoca também o silêncio interno, capaz de nos esvaziar dos tantos afãs do dia-a-dia e, portanto, de nos ajudar a acolher melhor a Palavra, o Verbo – que, aliás, tem rosto e tem nome.

2 – Renúncia

Entre os muitos apegos modernos não há somente os materiais, mas também os mentais: apegos a gratificações instantâneas que servem de validação para a própria existência e sem as quais os momentos de tédio se tornam um verdadeiro tormento. Renunciar é desapegar-se das validações dos outros e um convite a encontrar essa validação numa saudável ecologia do coração, como diria o Papa Francisco. A ecologia do coração procura a boa prática das palavras bondosas e edificantes: palavras de gratidão, por exemplo.

3 – Essencialidade

O essencial se conecta com o próprio desenvolvimento da capacidade de renúncia, pois, ao renunciar ao supérfluo, compreendemos mais claramente o que é de fato é essencial em nossa vida. Quais são os valores que orientam as nossas escolhas?

4 – Solitude

Não, não é o mesmo que solidão. O teólogo Paul Tillich dizia que a linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estarmos sós, enquanto a palavra solitude foi criada para expressar a glória de estarmos a sós. Parecem sinônimos, mas não são: a solitude é, de certo modo, um antídoto para a solidão, pois quem sabe se encontrar com os seus pensamentos também saberá encontrar-se melhor com os pensamentos dos outros.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF