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segunda-feira, 14 de junho de 2021

Sobre a necessidade da Religião

docplayer | Presbíteros

Sobre a necessidade da Religião

Essência da religião

Uma possível origem etimológica da palavra religião seria: “relegere” (voltar, colher, recolher, ler), ou seja, refletir frequentemente sobre um objeto importante. Por isso, quem refletia com insistência sobre o culto era chamado de religioso.

Outra seria: “religare”, que significa atar de novo, admitir livremente o vínculo que ata o homem a Deus. Na antiguidade, isso era simbolizado pelas faixas com que os sacerdotes pagãos eram cingidos.

Finalmente, uma última opção, aceita por Santo Agostinho, é: “reeligere”, que é voltar a aderir-se a Deus de quem nos separamos pelo pecado.

Santo Tomás aceita as três possibilidades, porque todas fazem menção a uma relação do homem com Deus, que seria a noção básica de religião.

Necessidade da religião

Determinada essa natureza ou essência da religião, surge as seguintes questões. Tem o homem a obrigação de ser religioso? Se sim, em que forma deve praticar?

Este artigo tem como escopo demostrar que o ser humano possui a necessidade imperiosa de atuar religiosamente como uma tendência que procede da sua própria intimidade natural. Ou seja, faz parte da sua natureza, da sua essência humana relacionar-se com Deus. Por isso, desde o começo da humanidade e em todas as eras, o ser humano reconhece a existência de um poder (ou poderes) independente e superior a ele, – possuidor de uma realidade objetiva, suprema e pessoal.  -, e com o qual, num sentimento de profunda dependência, sente a necessidade de submeter-se e relacionar-se. Nisso se diferencia radicalmente a religião da magia, porque esta tenta dominar, submeter as forças divinas a fim de conseguir certos efeitos.

Esse reconhecimento gerou o cogente de organizar associações humanas, de realizar atos concretos, e de regulamentar a vida, a fim de facilitar e efetivar esse relacionamento. Daí surgiram as religiões antigas e modernas, como associações de homens que praticam crenças referentes a uma realidade objetiva, única ou coletiva, suprema e pessoal, da qual o homem se reconhece, de alguma forma, dependente e com a qual quer permanecer em comunicação.

Os que negam essa necessidade

Porém, houve na história aqueles que, sem negarem propriamente a necessidade do homem ser religioso, não a consideraram como uma obrigação humana, por terem concebido uma noção errada de Deus. Mais propriamente esse modo de pensar foi convergindo cada vez mais para um ataque direto ao cristianismo. E Isso conduziria, inevitavelmente, à negação absoluta dessa necessidade por aqueles que rejeitaram, absolutamente a existência de Deus.

Sempre houve, na história da humanidade, o ateísmo, mas é difícil encontrar, nos escritos conhecidos de pensadores antigos, a afirmação de que Deus não existe e, portanto, a negação de uma necessidade da religião. Tal postura surgiu, mais sistematicamente, na Idade Moderna até desembocar no ateísmo propagandista dos filósofos e pensadores do século XIX.

Podemos apontar, como princípio de tudo isso, ao surgimento do conceito de imanência de René Descartes (1596-1650), que, sem negar a existência de Deus, foi dando brechas a filósofos posteriores a excluir qualquer realidade que esteja fora do âmbito da razão humana.

deísmo, nas suas várias correntes, afirma, em termos gerais, que o mundo foi criado por Deus, mas Ele não cuida mais dele, apenas terá revelado alguns princípios de religião natural como a sua existência, a obrigação de dar-lhe culto, exercitar a piedade e a virtude, expiar os pecados e a certeza da justiça divina, o resto são fábulas inventadas pelos sacerdotes. Edward Herbert (1583-1648) é considerado o pai do deísmo.

panteísmo de Baruch de Espinoza (1632-1677), para o qual Deus é a natureza, também influenciaria na inadequação de uma comunicação interpessoal entre Deus e os homens.

Com o iluminismo começou a se alegar que o cristianismo não era uma religião revelada, mas sinônimo de superstição e fanatismo. A mente humana tem naturalmente um conhecimento completo de tudo o que se refere à essência de Deus infinito e eterno, por isso, entendem a religião, especialmente a cristã, como uma criação da mente humana. Nomes que se destacam dessa corrente são: John Locke (1632-1704), também considerado deísta e um dos iniciadores do liberalismo clássico; François Marie Voltaire (1694-1778), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e David Hume (17111776).

Hermann Samuel Reimarus, (1694-1768), criou a teoria da fraude: os apóstolos roubaram o corpo de Jesus e inventaram a ressurreição.

enciclopedismo do século XVIII foi um movimento filosófico-cultural originado do iluminismo, desenvolvido na França por Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond d’Alembert (1717-1783), e que buscava catalogar todo o conhecimento humano a partir dos novos princípios da razão numa obra monumental, que constava de 35 volumes, com artigos de VoltaireMontesquieuRousseau e outros. Eles admitiam a necessidade da religião, mas só como atos internos (os externos não são obrigatórios).

Para o criticismo, o homem deve atuar religiosamente, mas com leis que procederiam da sua própria consciência. Entre estes incluímos Immanuel Kant (1724-1804), para quem a religiosidade deve estar subordinada ao que dita a razão humana, que foi capaz de elaborar conceitos tão perfeitos sobre a moralidade. E isso teria agradado a Deus.

Os idealistas não negam o influxo de Deus no mundo, promovem a vida de piedade no povo com uma ideia racionalista (pela simples razão), que deve servir de norma para qualquer doutrina religiosa. Considerado um dos criadores do idealismo alemão, Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) desenvolveu as suas teorias a partir dos escritos teóricos e éticos de Kant. Sua obra é frequentemente considerada como uma ponte entre as ideias de Kant e as de Hegel.

Foi seguindo nessa senda que Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) afirmou ser a revelação a manifestação consciente da essência de Deus no espirito humano. Para ele, o verdadeiro homem-Deus não é Jesus Cristo, mas a humanidade; quem crê na divindade de Jesus é um homem intelectualmente inferior. De certa forma, suas ideias se encachariam perfeitamente na doutrina panteísta.

Também devemos mencionar os ateus evolucionistas: Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829) e Thomas Huxley (1825-1895). Para eles a religião é uma ficção que propõe doutrinas para responder às inquietações do coração, assim como a ciência satisfaz as inquietações da inteligência; e com o tempo só haverá de sobrar o culto à verdade cientifica, ao belo artista e o bem comum social.

Quanto aos empiristas e positivistas Auguste Comte (1798-1857) e Herbert Spencer (1820-1903) poderíamos dizer, sucintamente, que para eles a religião seria fruto de representações produzidas pelos sentidos, afetos, subconsciente e sociedade.

Podemos afirmar que Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872) foi o primeiro pensador moderno a negar a necessidade da religião. Ou melhor, para ele a religião é nociva e inútil para o homem, porque na tentativa de ser perfeito e feliz, ele projeta em um ser não humano (Deus) qualidades e sentimentos humanos que ele almeja ter, levando-o assim a desinteressar-se da realidade. Essa visão de Feuerbach fundamenta-se na sua negação da existência de um Deus pessoal distinto do homem e da natureza.

Karl Marx (1818-1883) também afirma a alienação causada pela religiosidade, que é um fenômeno gerado pela opressão econômica. Desaparecida esta, a tendência religiosa haverá de desaparecer no homem. Portanto, a religião nasceria da injustiça social e ela que a justifica e perpetua.

Para Friedrich Nietzsche (1844-1900) a religião, mais especificamente o cristianismo, é uma moral de escravos, um crime contra a vida e inimiga da razão.

Para o psicanalista Sigmund Freud (1856-1939) religião é uma forma de neurose coletiva que nasce da frustração provocada pelas angustias e impotência perante os problemas da vida, e da avidez de felicidade eterna e absoluta. A religião, assim, seria a maneira de unir-se a um pai perfeito. Essa teoria da origem da religião é totalmente gratuita como reconheceram os especialistas. Freud não conseguiu perceber que a autêntica vivência religiosa é um reconhecimento de que há um Ser superior pessoal.

Jean-Paul Sartre (1905-1980), nome destacado do existencialismo, acusa os homens religiosos de “má fé” por pretenderem fugir da angustia recorrendo a ideias, a sinais e a Deus.

Os neopositivistas afirmavam que a religião é uma mera manifestação de sentimentos, absolutamente desnecessários.

Os agnósticos creem que a inteligência humana não é capaz de saber a verdade sobre Deus, por isso, seria impossível para ele ser religioso.

Os pragmáticos só admitem atos de culto a Deus por mera utilidade pública e econômica. Nesse grupo se inclui, especialmente, os maçons.

Os indiferentes absolutos não negam a existência de Deus, mas sim a necessidade do culto, porque depois de ter criado o mundo não se interessa mais por ele.

Os socialistas e protestantes liberais aceitam uma certa obrigatoriedade de dar culto a Deus interna e externamente, mas não socialmente, pois o Estado deve ser ateu nas suas funções ou evitar qualquer profissão externa religiosa.

Provas da necessidade da religião

Contra esses, outros acreditam que Deus exige a prática da religião natural por parte do homem, mediante atos de culto internos, externos e sociais, porque imprimiu na sua natureza humana, por Ele criada, essa necessidade como condição para alcançar o seu último fim.

Os atos internos de culto são atos da inteligência e da vontade humanas, que levam o homem a se submeter obedientemente a Deus, a reverencia-lo e a amá-lo. Os atos externos são atos concretos de adoração, oração, sacrifício, etc. E os atos sociais são aqueles realizados pela sociedade como tal ou por uma pessoa pública que tem autoridade ou a representa.

Considerando a natureza humana com relação a Deus digamos que a prática da religião surge necessariamente no homem pela dependência que ele tem a Deus, seu Criador e Governador supremo; pelo dever de dar-Lhe glória, já que Ele não pode criar nada senão para a sua glória extrínseca; por depender a sua felicidade disso; e por gratidão a Deus, seu benfeitor máximo: Criador, Conservador, Providente, etc.

Considerando a natureza humana em si mesma, essa necessidade se explica porque o homem tem a experiência de que lhe falta algo para chegar à sua plenitude, daí surge o seu desejo de Deus; porque a religião oferece-lhe condições para o seu aperfeiçoamento, já que quanto mais se relacionar com o Ser Perfeito, mais tenderá à perfeição; porque acha na religião reposta para suas dúvidas mais angustiantes: qual sua origem, destino e caminho; porque consolida a sua ordem moral, já que a religião lhe concede os fundamentos da moralidade humana e o seu cumprimento promete um prêmio justo; porque preenche as suas exigências psicológicas, já que, ao considerar a sua miséria frente a grandeza de Deus, representada na grandiosidade do universo, sente-se impelido a adorar o seu Criador; porque, ao assombrar-se pela beleza desse mesmo universo, sente o desejo de louvar a Quem o fez assim tão maravilhosos; porque ao ver-se necessitado, acode a Deus implorando o seu auxílio; porque, ao ver que não há justiça no mundo, tende a recorrer ao Juiz Supremo; porque a vontade humana se sente dirigida e confortada para fazer grandes coisas para o bem comum, para suportar alegremente os trabalhos da vida cotidiana, e levar com gosto as dificuldades da vida social, dando assim um sentido ao mistério da dor.

Considerando a natureza humana como intimamente social a necessidade de praticar socialmente a religião se faz notória porque garante a harmonia familiar; garante a obediência justa às autoridades e o relacionamento amistoso entre os povos.

Avaliação final

O Concílio Vaticano II afirma que a Igreja sabe que o homem, solicitado pelo Espírito de Deus, nunca será totalmente indiferente ao problema religioso. O homem sempre desejará saber, ao menos confusamente, qual é o significado da sua vida, da sua atividade e da sua morte.

Além disso, Deus, que criou o homem à sua imagem e o remiu, sempre lhe envia os meios necessários para poder encontra-se com Ele. E isso o faz, especialmente, por Cristo, seu Filho feito homem (Cfr. Gaudium et spes n. 41).

Se há homens que adotam uma postura de indiferença ou até de contraposição à religião é por causa da cultura materialista em que estão inseridos, à qual lhes leva a ter uma ideia deformada de Deus e da realidade. Porém, as causas últimas disso seria a falta de esforço intelectual e de retidão da vontade, potencialidades humanas que devem estar abertas à verdade e a beleza de Deus, estampadas na criação.

“O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos, nem o seu primeiro princípio, nem o seu fim último, mas que participam do Ser-em-si, sem princípio nem fim. Assim, por estes diversos «caminhos», o homem pode ter acesso ao conhecimento da existência duma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, e a que todos chamam Deus (Catecismo da Igreja Católica n. 34)

Pe. Ricardo Leão

https://www.presbiteros.org.br/

Mortes por eutanásia disparam no Canadá

Imagem referencial. Crédito: Unsplash

QUEBEC, 11 jun. 21 / 05:01 pm (ACI).- O Ministério da Saúde do Canadá anunciou que, no ano passado, o número de canadenses que deram fim às suas vidas através da eutanásia e do suicídio assistido aumentou 17%.

Na segunda-feira, 7 de junho, a comissão parlamentar mista que fiscaliza as práticas de eutanásia se reuniu com a vice-ministra da saúde canadense, Abby Hoffman. Ela informou que 7.595 pessoas tiveram as suas “mortes medicamente assistidas” em 2020, o equivalente a 2,5% das mortes registradas no país.

Os números demonstram um significativo aumento em relação ao ano de 2019. Naquele período, 5.631 pessoas morreram por suicídio assistido e eutanásia, representando 2% de todas as mortes no país.

No Canadá, as pessoas que solicitam drogas letais não precisam automedicar-se. Embora essa seja uma opção para as pessoas que desejam suicidar-se, o número de casos desse tipo é estatisticamente insignificante.

As mortes assistidas vêm aumentando desde antes da recente aprovação do projeto de lei C-7, que poderá incrementar, ainda mais, o número de pessoas que solicitam a eutanásia. A lei foi aprovada no mês de março deste ano, e permite a prescrição de drogas letais a pessoas que não estejam, necessariamente, em um estado de morte “razoavelmente previsível”. Ou seja, qualquer paciente que esteja sofrendo, em estado terminal ou não, pode pedir e receber de um médico a morte assistida. De acordo com a normativa, depressão e outras doenças mentais são motivos suficientes para solicitar a eutanásia ou o suicídio assistido.

No encontro, Hoffman afirmou que, nos últimos anos, o câncer vem sendo a doença mais mencionada entre as pessoas que solicitaram drogas letais. Os motivos mais frequentes para dar fim à própria vida estão relacionados à “incapacidade de participar de atividades significativas ou de realizar atividades da vida diária”.

Desde que a eutanásia foi legalizada no Canadá em 2016, o número de pessoas solicitantes do procedimento mortal vem aumentando anualmente. Na reunião, Hoffman opinou que esse aumento guarda relação com uma maior conscientização pública. “O aumento da conscientização e aceitação pelos canadenses do MAID [ajuda médica para morrer] como uma opção para o final da vida teve como resultado o crescimento constante do MAID desde 2016”, disse ela.

A vice-ministra também observou que o número de pessoas que solicitam o suicídio assistido por um médico não tem variações significativas em termos de sexo ou contextos sociais. O número de homens e mulheres é quase igual e existe uma diferença desproporcional de pedidos entre pessoas de áreas rurais e urbanas.

Outros dados também foram oferecidos pela vice-ministra. Ela informou que 9.300 pedidos de eutanásia foram solicitados por escrito, dos quais 79% foram atendidos. Em muitos casos os pacientes morreram antes que as drogas letais pudessem ser administradas. 50 pessoas retiraram o pedido de morte assistida após mudarem de ideia. A maioria das pessoas que morreram por suicídio assistido ou eutanásia tiveram acesso a cuidados paliativos ou escolheram dar fim às suas vidas apesar de estar recebendo cuidados paliativos.

O projeto de lei C-7 foi elaborado em resposta à decisão da corte suprema de Quebec sobre o caso de Jean Truchon e Nicole Gladu. Ela sofre de síndrome pós-poliomielite e ele sofria de paralisia cerebral. Ambos iniciaram um processo judicial depois que o pedido de morte lhes foi negado pelo fato dele não estarem em estado terminal.

O tribunal supremo entendeu, em setembro de 2019, que os demandantes tinham o direito de solicitar o fim de suas vidas através de um médico, embora não estivessem em estado terminal. Truchon foi morto em abril de 2020. Gladu ainda vive.

Na decisão, o juiz deixou claro que os procedimentos letais devem estar disponíveis para todos os canadenses, sem importar se estão ou não em estado terminal.

Fonte: ACI Digital

O Papa: a pobreza não é fruto do destino, é consequência do egoísmo

euronews

Na mensagem para o Dia Mundial dos Pobres que será celebrado no próximo dia 14 de novembro o Papa Francisco afirma: “É decisivo dar vida a processos de desenvolvimento onde se valorizem as capacidades de todos, para que a complementaridade das competências e a diversidade das funções conduzam a um recurso comum de participação”.

Jane Nogara - Vatican News

Para o V Dia Mundial dos Pobres que será celebrado no próximo dia 14 de novembro o Papa Francisco apresentou a sua mensagem que inicia com as palavras: “Sempre tereis pobres entre vós” do Evangelho de São Marcos. E contextualiza a situação, recordando que foram pronunciadas por Jesus, alguns dias antes da Páscoa, por ocasião duma refeição em Betânia na casa de Simão chamado ‘o leproso’. Francisco fala sobre as duas interpretações da ação da mulher que derramou o perfume sobre Jesus. A de Judas preocupado pelo dinheiro que o perfume poderia render e a do próprio Jesus que permite individuar o sentido profundo do gesto realizado pela mulher. Jesus defende a mulher pela sua sensibilidade e “vê, naquele gesto, a antecipação da unção do seu corpo sem vida antes de ser colocado no sepulcro. Esta visão ultrapassa todas as expetativas dos convivas. Jesus recorda-lhes que Ele é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque os representa a todos”. “Esta forte ‘empatia’ entre Jesus e a mulher e o modo como Ele interpreta a sua unção, em contraste com a visão escandalizada de Judas e doutros, inauguram um fecundo caminho de reflexão sobre o laço indivisível que existe entre Jesus, os pobres e o anúncio do Evangelho".  Os pobres, afirma o Papa, “têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja”.

Beneficência e partilha

Francisco recorda que “Jesus não só está do lado dos pobres, mas também partilha com eles a mesma sorte”, e que “um gesto de beneficência pressupõe um benfeitor e um beneficiado, enquanto a partilha gera fraternidade. A esmola é ocasional, ao passo que a partilha é duradoura. A primeira corre o risco de gratificar quem a dá e humilhar quem a recebe, enquanto a segunda reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça”. Enfim, prossegue o Papa, “os crentes, quando querem ver Jesus em pessoa e tocá-Lo com a mão, sabem aonde dirigir-se: os pobres são sacramento de Cristo, representam a sua pessoa e apontam para Ele”.

Estilo de vida coerente com a fé

“Por isso precisamos de aderir com plena convicção ao convite do Senhor: ‘Convertei-vos e acreditai no Evangelho’. Esta conversão consiste, primeiro, em abrir o nosso coração para reconhecer as múltiplas expressões de pobreza e, depois, em manifestar o Reino de Deus através dum estilo de vida coerente com a fé que professamos”. “Seguir Jesus”, completa o Pontífice, “comporta uma mudança de mentalidade a esse propósito, ou seja, acolher o desafio da partilha e da comparticipação”.

Novas formas de pobreza

“O Evangelho de Cristo impele a ter uma atenção muito particular para com os pobres e requer que se reconheça as múltiplas, demasiadas, formas de desordem moral e social que sempre geram novas formas de pobreza” alerta o Papa e prossegue afirmando:

“Um mercado que ignora ou discrimina os princípios éticos cria condições desumanas que se abatem sobre pessoas que já vivem em condições precárias. Deste modo assiste-se à criação incessante de armadilhas novas da miséria e da exclusão, produzidas por agentes económicos e financeiros sem escrúpulos, desprovidos de sentido humanitário e responsabilidade social”.

Pandemia: agravamento da pobreza

O Papa não deixa de recordar da pandemia que agravou a situação de todos os pobres além de levar muitos à pobreza em toda as partes do mundo: “Esta continua a bater à porta de milhões de pessoas e, mesmo quando não traz consigo o sofrimento e a morte, todavia é portadora de pobreza”. “É urgente dar respostas concretas a quantos padecem o desemprego, que atinge de maneira dramática tantos pais de família, mulheres e jovens. A solidariedade social e a generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito importante nesta conjuntura”.

Individualismo cúmplice na geração de pobreza

Quais seriam os caminhos? Francisco traça algumas sugestões depois de questionar “Como se pode dar uma resposta palpável aos milhões de pobres que tantas vezes, como resposta, só encontram a indiferença, quando não a aversão? Qual caminho de justiça é necessário percorrer para que as desigualdades sociais possam ser superadas e seja restituída a dignidade humana tão frequentemente espezinhada?”. E a resposta vem da reflexão: “Um estilo de vida individualista é cúmplice na geração da pobreza e, muitas vezes, descarrega sobre os pobres toda a responsabilidade da sua condição. Mas a pobreza não é fruto do destino; é consequência do egoísmo. Portanto é decisivo dar vida a processos de desenvolvimento onde se valorizem as capacidades de todos, para que a complementaridade das competências e a diversidade das funções conduzam a um recurso comum de participação”.

Dignidade de filhos de Deus

Ao falar da dignidade e da riqueza que os pobres podem nos dar o Papa recorda: “Os pobres ensinam-nos frequentemente a solidariedade e a partilha. É verdade que são pessoas a quem falta algo e por vezes até muito, se não mesmo o necessário; mas não falta tudo, porque conservam a dignidade de filhos de Deus que nada e ninguém lhes pode tirar”.

Uma nova abordagem da pobreza

Em seguida pondera: “Impõe-se, pois, uma abordagem diferente da pobreza. É um desafio que os governos e as instituições mundiais precisam de perfilhar, com um modelo social clarividente, capaz de enfrentar as novas formas de pobreza que invadem o mundo e marcarão de maneira decisiva as próximas décadas. Se os pobres são colocados à margem, como se fossem os culpados da sua condição, então o próprio conceito de democracia é posto em crise e fracassa toda e qualquer política social”.

O Papa conclui sua mensagem com um pensamento do Padre Primo Mazzolari: “Gostaria de pedir-vos para não me perguntardes se existem pobres, quem são e quantos são, porque tenho receio que tais perguntas representem uma distração ou o pretexto para escapar duma específica indicação da consciência e do coração. (…) Os pobres, eu nunca os contei, porque não se podem contar: os pobres abraçam-se, não se contam”.

Fonte: Vatican News

Santa Iolanda da Polônia

Sta. Iolanda da Polônia | ArquiSP
14 de junho

Santa Iolanda da Polônia

Iolanda, ou Helena, como foi chamada depois pelos súditos poloneses, nasceu no ano de 1235, filha de Bela IV, rei da Hungria, que era terciário franciscano, e irmã da bem-aventurada Cunegundes. Além disso, era sobrinha de santa Isabel da Hungria, também da Ordem Terceira. Aliás, a tradição franciscana acompanhou a linhagem desde seus primórdios, pois a família descendia de santa Edwiges, santo Estêvão e são Ladislau.

Porém é claro que Iolanda não se tornou santa só porque vinha de toda essa tradição extremamente católica e repleta de santos. Não basta ter o caminho da fé apontado para entrar-se nele. É preciso que todo o ser o aceite e o corpo se disponha a caminhar por uma trilha de entrega total e muito árdua, como ela fez.

Iolanda foi educada desde muito pequena pela irmã, Cunegundes, que se casara, então, com um dos reis mais virtuosos da Polônia, Boleslau, o Casto. Por tradição familiar e social da época, Iolanda deveria também se casar com alguém da terra e, anos depois, escolheu outro Boleslau, o duque de Kalisz, conhecido como "o Pio". Foi uma época de muita alegria para o povo polonês, que viu nas duas estrangeiras pessoas profundamente bondosas, cristãs, justas e caridosas. Pena que tenha sido uma época não muito longa, pois alguns anos depois o quarteto foi desmanchado pela fatalidade.

Primeiro morreu o rei, ficando Cunegundes viúva. Logo o mesmo aconteceu com Iolanda. Ela já tinha então três filhas, das quais duas se casaram e uma terceira retirou-se para o convento das clarissas de Sandeck, onde já se encontrava Cunegundes. As duas logo seriam seguidas por Iolanda.

Muitos anos se passaram e as três damas cristãs continuavam naquele lugar, fazendo do silêncio do claustro o terreno para um fecundo período de meditação e oração. Quando morreu Cunegundes, em 1292, Iolanda deixou aquele mosteiro e foi mais para o Ocidente, ao convento das clarissas de Gniezno, fundado por seu marido. Ali terminou seus dias como superiora, no dia 14 de junho de 1298.

Amada pela população, seu culto ganhou força entre os fiéis do Leste europeu e difundiu-se por todo o mundo católico ao longo dos tempos. Seu túmulo tornou-se meta de romeiros, pelos milagres e graças atribuídos à sua intercessão. Em 1827, o papa Urbano VIII autorizou a beatificação e marcou a festa litúrgica para o dia do seu trânsito.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Fonte: Arquidiocese de São Paulo

domingo, 13 de junho de 2021

Liberalismo de esquerda e liberalismo de direita: não, a Igreja não apoia nenhum

Aleteia
Por Mark Gordon - publicado em 23/01/2017

Rótulos artificiais mascaram um fato: as duas orientações se apoiam em posições condenadas há muito tempo pela Igreja.

Tanto a chamada “esquerda” quanto a chamada “direita” têm o péssimo e desonesto costume de se apossar da doutrina da Igreja como coisa sua, pregando, por própria conta, que eles mesmos, como “esquerdistas” ou “direitistas”, é que são os verdadeiros fiéis católicos – e instrumentalizando a Igreja como se ela fosse um espelho “mais ou menos espiritualizado” de uma ideologia “sócio-político-econômica” (e como se fosse mais herético questionar essa ideologia do que reduzir a pessoa de Cristo a um ícone a serviço de um “bloco” ou de outro). Com a piora do quadro crônico em que ocorre essa interpretação esdrúxula, manipuladora e interesseira da doutrina da Igreja como simples chancela de preferências “sócio-político-econômicas” particulares, trazemos à discussão este texto de Mark Gordon que pode servir como estímulo para a reflexão.

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Ao longo das últimas décadas, a política dos Estados Unidos tem se dividido, aparentemente, em dois campos opostos e irreconciliáveis: os “liberais” e os “conservadores” (ndr: esses termos equivalem, no espectro político brasileiro, aos clichês genéricos “esquerdistas” e “direitistas”, respectivamente).

Na esteira da bem-sucedida “estratégia do Sul”, de Richard Nixon, essa divisão imaginária acabou incorporada às identidades e ao autoentendimento dos dois principais partidos políticos do país, com os Democratas representando o “liberalismo” (ou a “esquerda”, como se diria no Brasil e em outros países latino-americanos) e os Republicanos o “conservadorismo” (ou a “direita”). Esse modelo binário é imposto até mesmo às interpretações sobre o Papa, com alguns “conservadores” acusando Francisco de “liberal” e alguns “liberais” garantindo que eles estão certos!

De um ponto de vista católico, essa divisão é artificial e baseada numa deturpação, às vezes deliberada, às vezes inocente, daquilo que o liberalismo é de fato, e, por extensão, de quem é e de quem não é liberal. O caso é que, nos Estados Unidos, há dois partidos liberais dominantes.

O Partido Republicano, longe de ser conservador, adota, na verdade, o que poderíamos chamar de “liberalismo de direita”, conhecido também como liberalismo clássico: um liberalismo essencialmente político e econômico.

Já o Partido Democrata segue o padrão do “liberalismo de esquerda”, que poderíamos chamar de liberalismo moderno, preponderantemente social e cultural.

A divergência desses dois liberalismos sobre questões específicas mascara as suas raízes comuns e as suas visões de mundo que se reforçam mutuamente.

Na sua carta apostólica “Octogesima Aveniens”, o Papa Paulo VI escreveu: “Encontra-se na própria raiz do liberalismo filosófico uma concepção errônea da autonomia do indivíduo no seu agir, na sua motivação e no exercício da sua liberdade”.

Para ouvidos modernos, tais palavras do pontífice podem parecer uma condenação do liberalismo sócio-cultural, com a sua retórica libertina que martela as teclas da “escolha”, dos “direitos” e da “autonomia”. Na verdade, o Santo Padre estava discutindo o liberalismo político-econômico, que ensinou o mundo moderno a implantar a linguagem do individualismo e, através dela, a comunicar um ponto de vista antropológico em fundamental desacordo com a concepção católica do homem e da sociedade.

Em seu livro “Holocaust of the Childlike”, o escritor Daniel Schwindt resume com clareza a afinidade retórica entre os dois liberalismos:

Estamos numa situação em que não resta nada diante de nós senão ser filisteus e fariseus. Um diz ‘O corpo é meu, me deixem em paz’, enquanto o outro diz ‘O dinheiro é meu, me deixem em paz’. As duas mentalidades podem se resumir à mesma filosofia do ‘é meu’, e, no fim, as duas são adeptas do liberalismo, acreditando zelosamente que o bem supremo reside na liberdade individual de fazer qualquer coisa que bem se entenda, envolva ela o próprio corpo ou as próprias finanças“.

As origens do liberalismo são fáceis de identificar. É um movimento moderno, que surgiu a partir do Iluminismo do século 17. Fundamentalmente, o Iluminismo foi um movimento de ideias caracterizadas por uma rejeição, ora explícita e vigorosa, ora nem tanto, da civilização cristã que o precedeu, especialmente da autoridade espiritual e temporal da Igreja católica. Como expressão dessa rejeição, os filósofos do Iluminismo procuraram formular uma base racional para a ética e para a moralidade, incluindo nisso o governo das sociedades humanas. Seu inimigo era a tradição, principalmente o que eles tachavam de “superstições” da Igreja. Enquanto a virtude tinha sido a principal preocupação da filosofia desde o período clássico e durante toda a idade medieval, o Iluminismo fez da liberdade, em especial da “liberdade da mente”, a sua preocupação central. O próprio liberalismo teve muitos pais, mas David HumeThomas HobbesJohn Locke e Jean-Jacques Rousseau são os seus fundadores mais frequentemente citados. Deles todos, Locke foi a inspiração mais importante para os fundadores dos Estados Unidos, a primeira república liberal do mundo.

Seguindo Hobbes, Locke acreditava que o homem, no seu “estado natural“, é um sujeito solitário furiosamente egoísta, o que provoca, inevitavelmente, a supremacia do mais forte sobre o mais fraco, limitando assim a liberdade da maioria. Locke acreditava que a maioria, formada pelos fracos, criou os governos a fim de conter os fortes e reafirmar a liberdade como direito de nascença de todos. Suas ideias sobre a sociedade civil, a separação dos poderes e a tolerância religiosa pretendiam criar uma sociedade racional, em que a liberdade fosse maximizada e limitasse as agressões dos poderosos.

Mas, como C. B. MacPherson demonstrou em seu livro de 1962, “A Teoria Política do Individualismo Possessivo: de Hobbes a Locke”, a noção de liberdade de Locke era mecanicistarelativista e caracterizada pelo “individualismo possessivo”, que, para MacPherson, indicava o individual como a posse de si mesmo. Enquanto o pe. John Donne escreveu que “nenhum homem é uma ilha / todo homem é um pedaço do continente / uma parte do fundamental“, Locke dizia que cada homem é, sim, uma ilha, e que o propósito do Estado é garantir a regozijada independência de cada homem diante de todos os outros homens.

De acordo com MacPherson, Locke entendia a liberdade como “ser livre da vontade dos outros”, da dependência de outros e das obrigações para com a sociedade. “Se o que torna um homem um ser humano é ser livre das vontades dos outros”, escreveu MacPherson, “então a liberdade de cada indivíduo só pode ser legitimamente limitada pelas obrigações e regras necessárias para garantir as mesmas liberdades para os outros”. Este é o cerne tanto do liberalismo político-econômico da direita quanto da libertinagem sócio-moral da esquerda. Esta é a base tanto para uma forma de capitalismo que sacode a sociedade das suas bases morais tradicionais quanto para o aventureirismo moral que “descobre” infinitos novos “direitos” sexuais e sociais. Esta é a fonte do indiferentismo religioso e do secularismo. Este é o alicerce do consumismo e da mercantilização das pessoas humanas e dos relacionamentos.

Pressupôs-se, e ainda se pressupõe hoje em muitos lugares, que o liberalismo político e econômico não exerceria nenhum efeito sobre o caráter social e moral de um povo, a não ser, em todo caso, algum efeito de “reforço positivo”. Esta foi, certamente, a convicção do pe. John Courtney Murray, o teólogo jesuíta do século XX que hoje é um herói tanto para os liberais da direita, como George Weigel, quanto para os liberais da esquerda, como James Carroll. O pe. Murray é creditado com frequência como o inspirador da Declaração do Concílio Vaticano II sobre Liberdade Religiosa, a “Dignitatis Humanae”, na qual a Igreja adotou uma concepção distintamente americana de liberdade religiosa. Menos conhecido é o papel do pe. Murray como inspirador de outro “concílio”, conhecido como “o Conclave de Hyannisport”, de 1964. A escritora Anne Hendershott descreve o cenário:

Numa reunião no complexo dos Kennedy em Hyannisport, Massachusetts, em um dia quente do verão de 1964, a família Kennedy e seus assessores e aliados recebiam um coaching dos principais teólogos e professores universitários católicos sobre o modo de aceitar e promover o aborto ‘de consciência limpa’.

O ex-padre jesuíta e ex-professor de ética da Universidade de Washington, Albert Jonsen, relembra a reunião em seu livro ‘O Nascimento da Bioética’ (Oxford, 2003). Ele descreve o encontro que reuniu os reverendos Joseph Fuchs, teólogo moral católico, Robert Drinan, então reitor da Boston College Law School, e três teólogos acadêmicos, Giles Milhaven, Richard McCormick e Charles Curran, para orientar a família Kennedy a redefinir o apoio ao aborto.

Jonsen escreve que as conversas em Hyannisport foram influenciadas pela posição de outro jesuíta, o pe. John Courtney Murray, posição essa que ‘distinguia entre os aspectos morais de uma questão e a possibilidade de aprovar uma legislação sobre aquela mesma questão’. Chegou-se ao consenso, no ‘Conclave’ de Hyannisport, de que os políticos católicos ‘podem tolerar uma legislação que permite o aborto em determinadas circunstâncias, como no caso em que os esforços políticos para reprimir esse erro moral podem causar riscos maiores para a paz e para a ordem social”.

O próprio pe. John cristalizou o que poderíamos chamar de “Princípio de Murray” num memorando de 1965 enviado ao cardeal Spellman, de Boston. Spellman tinha pedido a Murray um parecer sobre a descriminalização da contracepção, que estava sendo proposta no Estado de Massachusetts. No memorando, Murray escreveu: “Não é função do direito civil impor tudo o que é moralmente correto nem proibir tudo o que é moralmente errado. Em razão da sua natureza e finalidade, como instrumento da ordem na sociedade, o propósito do direito se limita à manutenção e à proteção da moralidade na esfera pública. Questões de moral privada ultrapassam o escopo do direito: elas devem ser deixadas para o âmbito da consciência pessoal“.

Este mesmo argumento tem sido usado ao longo dos últimos quarenta anos em relação a tudo, desde a pornografia até o casamento entre pessoas do mesmo sexo, passando, é claro, pelo aborto.

Pode nos fazer pensar, a este respeito, o seguinte fato: Murray, que se horrorizava com o aborto e ficaria chocado com a ideia do casamento homossexual, parece nunca ter considerado que os pressupostos antropológicos embutidos no liberalismo político-econômico e concretizados em dispositivos constitucionais estadunidenses como a Primeira Emenda iriam acabar permeando a vida social e moral dos Estados Unidos (para aprofundar no assunto, eu recomendo o ensaio do editor da “Communio”, David Schindler, “Religious Truth, American Freedom, and Liberalism: Another Look at John Courtney Murray”.

Acontece, porém, que, depois de dois séculos, as propriedades do liberalismo clássico, muito sutis, mas ainda assim implacavelmente corrosivas, fizeram o seu estrago.

A definição de liberdade proposta por Locke como “ser livre das vontades dos outros” se transformou em ser livre do bem comum, da lei natural, dos ensinamentos da Igreja e até mesmo das obrigações de uma mãe para com seu próprio filho.

Fonte: Aleteia

Apelo da Caritas Internationalis ao G7 pelo cancelamento da dívida dos países pobres

Os líderes dos países mais ricos do mundo durante sessão do G7

Na sexta-feira teve início a Cúpula do G7, em andamento até o domingo, no Condado britânico de Cornwall. Muitos pronunciamentos e debates sobre os principais temas internacionais. Apelo da Caritas Internationalis em favor dos países mais vulneráveis. Na recepção aos participantes, presente a Rainha Elizabeth e a família real.

Isabella Piro – Vatican News

Cancelar a dívida dos países pobres e reinvestir esses recursos na retomada da economia atingida pela Covid-19 e na luta contra as mudanças climáticas: este é o apelo lançado pela Caritas Internationalis ao G7que desde a sexta-feira, 11, até o domingo 13 junho, vê os representantes dos 7 países economicamente avançados do mundo reunidos em Carbis Bay, Cornwall: são eles Reino Unido, Itália, Canadá, França, Alemanha, Japão e Estados Unidos. Também participam líderes europeus e os países convidados Índia, Coreia do Sul, Austrália e África do Sul. 

“A Covid-19 - explica em uma nota o secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John, - colocou em evidência as crescentes injustiças sociais no mundo de hoje. Eliminá-las deve ser a única forma de reconstruir o futuro”.

Neste sentido, a organização de caridade recorda as dramáticas consequências da dívida para as populações dos países em desenvolvimento: na Zâmbia, por exemplo, a dívida representa 45 por cento do orçamento anual do governo. Os poucos recursos disponíveis, portanto, não são suficientes para "fortalecer o sistema nacional de saúde" diante da emergência provocada pelo coronavírus que, até hoje na nação africana, deixou um rastro de 106 mil contágios e mais de 1.300 mortes.

“Mais uma vez – acrescenta Aloysius John - a Caritas Internationalis faz ouvir a sua voz para ecoar o grito dos mais pobres”. Assim, a exortação ao G7 para estar "na vanguarda da resposta à Covid-19, para assim apoiar quer as pessoas mais afetadas pela pandemia, como uma retomada justa e sustentável", cujo primeiro passo "é garantir que todos os pagamentos da dívida sejam cancelados, incluindo os credores privados”.

Há a previsão, de fato, de que "somente os governos africanos paguem 23,4 bilhões de dólares em reembolsos de dívidas a credores privados em 2021, ou seja, mais de três vezes o custo de compra de vacinas para todo o continente".

Especificamente, o organismo internacional de caridade apresenta quatro pedidos aos membros do G7: além de interromper o pagamento da dívida a credores privados, a primeira instância pede o esforço dos governos do G7 de "explorar opções legislativas que incentivem os credores privados a participarem em iniciativas de redução da dívida".

O segundo é um apelo ao Grupo dos 7 para "mobilizar financiamentos para responder às necessidades imediatas levantadas pela Covid (fortalecimento dos sistemas de saúde, redes de segurança social, acesso a vacinas) e apoiar uma retomada justa e ecológica, sem agravar a crise da dívida no Sul do mundo".

O terceiro pedido, por outro lado, diz respeito “à nova emissão de Direitos de Saques Especiais (Special Drawing Rights, DSP), para que os países menos desenvolvidos tenham um maior apoio e o seu endividamento não aumente”. Os DPS, de fato, não são uma moeda propriamente dita, mas sim um direito de adquirir uma ou mais das 'moedas utilizáveis livremente' mantidas nas reservas oficiais dos países membros do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Por fim, a última exortação é demonstrar que o G7 “está levando a crise climática a sério, prometendo acabar com os subsídios para os combustíveis fósseis”.

Fonte: Vatican News Service - IP

XI DOM TEMPO COMUM - Ano "B"

Os doze Apóstolos | Vatican News
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília

O Reino de Deus: caminho de gratuidade

Neste domingo, temos diante de nós duas parábolas explicando o Reino de Deus. Jesus está se dirigindo à multidão e usa a linguagem das parábolas. A parábola tem a capacidade de velar e desvelar. Ela, ao mesmo tempo que tem uma linguagem de fácil compreensão, tornando mais compreensível o ensinamento de Jesus, revelando-o, tem também a capacidade de velar o ensinamento.  Tanto que quando fica sozinho, com os discípulos, Jesus lhes explica tudo.

Na primeira parábola, aquela da semente que germina por si só (Mc 4,26-29), Jesus compara o Reino de Deus a um homem que lançou a semente por terra: ele dorme e acorda, de noite e de dia, mas a semente cresce e germina, sem que ele saiba como.  O semeador lançou a semente, mas depois não lhe é exigido qualquer trabalho até a colheita. Jesus lançou a semente, o domínio régio divino começou, e seguirá o seu percurso (G. BARBAGLIO, Jesus, Hebreu da Galiléia, 286). Esta parábola mostra que a Basiléia vem e já se pode experimentar sua penetração redentora, perceptível unicamente por quem a contempla numa atitude de fé. Isso teve o seu início com Jesus e tem o seu futuro Nele (J. Gnilka, El Evangelio segun San Marcos, 215).

Na segunda parábola, a do grão de mostarda (Mc 4,30-32), Jesus compara o Reino com o grão de mostarda, que quando é semeado na terra – sendo a menor de todas as sementes da terra quando é semeada -, cresce e torna-se maior que todas as hortaliças, e deita grandes ramos, a tal ponto que as aves do céu se abrigam à sua sombra. O Reino aqui é apresentado como algo minúsculo destinado a crescer no tempo até tornar-se uma grande realidade.  O relato da parábola rege-se pelo contraste “a menor” x “a maior”, que significa a situação de partida e de chegada. O centro da parábola está nestes dois pontos. Porém, entre a menor e a maior há uma ligação necessária: sem semente, não há nenhum arbusto; e o arbusto está, potencialmente, já presente na semente. Quem vê a semente semeada no campo está seguro de que verá o seu crescimento (G. BARBAGLIO, Jesus, Hebreu de Galiléia, 285). Nos gestos e nas palavras de Jesus, o Reino realmente está presente sob o signo da pequenez, de pequenos inícios, do nada aos olhos humanos. Mas o grande sucesso do Reino de Deus nascerá e abarcará os povos do mundo.

O Evangelista enfatiza que “Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender” (Mc 4, 33). Poder compreender mostra a bondade de Jesus, pois era uma maneira de tornar acessível ao povo simples os mistérios mais profundos do Reino de Deus. Entretanto, há o antagonismo, pois o Evangelho termina dizendo que quando estava sozinho explicava tudo para os discípulos.  O povo compreendia o que podia, mas aos discípulos, Jesus os faz irem entrando, com profundidade, nos mistérios profundos do Reino de Deus.

Que o encontro com estas parábolas nos ajude a perceber e a viver da grandeza do Reino de Deus, em Jesus de Nazaré. E nos faça recuperar a gratuidade do dom divino, percebendo que o Reino não são esquemas ideológicos e políticos, mas é o caminho de gratuidade de Deus se envolvendo com os homens e dos homens se envolvendo no projeto de Deus, numa resposta de amor.

Fonte: Arquidiocese de Brasília

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF