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terça-feira, 20 de julho de 2021

DOM RICARDO HOEPERS: “UM AMIGO É FRUTO DO MAIS SINCERO SENTIMENTO DA ALMA”

CNBB

“Um amigo é fruto do mais sincero sentimento da alma. É uma benção de Deus, um toque especial do Criador que desejou compartilhar conosco o que há de mais puro e verdadeiro no seu coração misericordioso”, destaca Ricardo Hoepers.

É com essa definição de amizade que o bispo de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers convida os cristãos a celebrar o dia 20 de julho – Dia do Amigo.

Segundo Dom Ricardo, “toda vez que cultivamos a amizade, trazemos à tona um toque divino nas nossas relações humanas e isso é um equilíbrio para a vida, é um bálsamo para a alma, e uma paz para o coração”.

Ser amigo é ter um tesouro inestimável, frase que virou senso comum quando o assunto é a amizade. O Papa Francisco trouxe na “Fratelli tutti”, a Encíclica social do Papa Francisco que fraternidade e amizade social são os caminhos para construir um mundo melhor, mais justo e pacífico, com o compromisso de todos: pessoas e instituições.

Neste 20 de julho, nada melhor do que recordar a essência dessa fraternidade e amizade social que esteve presente entre as preocupações de Francisco e estão registradas nas páginas da Fratelli Tutti.

“Entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras. Embora a tenha escrito a partir das minhas convicções cristãs, que me animam e nutrem, procurei fazê-lo de tal maneira que a reflexão se abra ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade”, afirma o Sumo Pontífice, na apresentação da Carta.

Foto: UNSPLASH

O arcebispo de Natal (RN), dom Jaime Vieira Rocha escreveu em recente artigo ‘Teologia da Amizade’, publicado no portal da CNBB, no ultimo dia 15 de julho, que na publicação de um teólogo português, José Tolentino Mendonça, intitulada “Nenhum caminho será longo. Teologia da amizade”, o autor destaca que a amizade é caminhar lado a lado e ressalta a definição do teólogo português.


 

“Um amigo, por definição, é alguém que caminha a nosso lado, mesmo se separado por milhares de quilômetros ou por dezenas de anos. Um amigo reúne estas condições que parecem paradoxais: ele é ao mesmo tempo a pessoa a quem podemos contar tudo e é aquela junto de quem podemos estar longamente em silêncio, sem sentir por isso qualquer constrangimento. Temos certamente amigos dos dois tipos. Com alguns, a nossa amizade cimenta-se na capacidade de fazer circular o relato da vida, a partilha das pequenas histórias, a nomeação verbal do lume que nos alumia. Com outros, a amizade é fundamentalmente uma grande disponibilidade para a escuta, como se aquilo que dizemos fosse sempre apenas a ponta visível de um maravilhoso mundo interior e escondido, que não serão as palavras a expressar”, escreveu José Tolentino Mendonça.

Dom Ricardo Hoepers destaca que na vida cristã é possível ver o quanto Jesus deu importância a amizade. “Chamou os apóstolos de amigos, chorou sobre o túmulo de Lázaro, cultivou boas conversas e encontros que suscitaram vida nova aos novos amigos e amigas”, apontou.

O presidente da Comissão papa a Vida e a Família da CNBB aponta também que Cristo, de fato, se apresentou como Filho, como Irmão e como Amigo de toda humanidade, sem preconceitos e sem discriminação de ninguém.

“Ele nos ensinou que o olhar de Deus não é o da aparência, mas Deus conhece o homem por dentro. Esse é o olhar da verdadeira amizade, quando reconhece a grandeza por dentro, grandeza da alma. Por isso a Sagrada Escritura diz que quem encontrou um amigo encontrou um tesouro”, ressaltou.

“Amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro. Ao amigo fiel não há nada que se compare, pois nada equivale ao bem que ele é. Amigo fiel é bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. Quem teme o Senhor orienta bem sua amizade: como ele é, tal será seu amigo” (Sr 6,14-17).

Por Dom Ricardo Hoepers

Bispo de Rio Grande

Fonte: CNBB

CARTA ENCÍCLICA "HUMANI GENERIS" (Parte 5/10)

Papa Pio XII | Derradeiras Graças

CARTA ENCÍCLICA "HUMANI GENERIS"

DE SUA SANTIDADE

O PAPA PIO XII

 

SOBRE  OPINIÕES FALSAS QUE
 AMEAÇAM A DOUTRINA CATÓLICA

 

A nossos veneráveis irmãos
os Patriarcas, Primazes, Arcebispos e Bispos
 e demais Ordinários locais em paz e comunhão com a Sé Apostólica.


2. Desprezo do magistério da Igreja

 

 

18. Desgraçamente, esses amigos de novidades facilmente passam do desprezo da teologia escolástica ao pouco caso e até mesmo ao desprezo do próprio magistério da Igreja, que tanto prestígio tem dado com a sua autoridade àquela teologia. Apresentam este magistério como empecilho ao progresso e obstáculo à ciência; e já existem acatólicos que o consideram como freio injusto, que impede alguns teólogos mais cultos de renovar a teologia. Embora este sagrado magistério, em questões de fé e moral, deva ser para todo teólogo a norma próxima e universal da verdade (visto que a ele confiou nosso Senhor Jesus Cristo a guarda, a defesa e a interpretação do depósito da fé, ou seja, das Sagradas Escrituras e da Tradição divina), contudo, por vezes se ignora, como se não existisse, a obrigação que têm todos os fiéis de fugir mesmo daqueles erros que se aproximam mais ou menos da heresia e, portanto, de observar também as constituições e decretos em que a Santa Sé proscreveu e proibiu tais falsas opiniões. (2) Alguns há que de propósito desconhecem tudo quanto os sumos pontífices expuseram nas encíclicas sobre o caráter e a constituição da Igreja, a fim de fazer prevalecer um conceito vago, que eles professam e dizem ter tirado dos antigos Padres, principalmente dos gregos. Os sumos pontífices, dizem eles, não querem dirimir questões disputadas entre os teólogos; e, assim, cumpre voltar às fontes primitivas e explicar com os escritos dos antigos as modernas constituições e decretos do magistério.

 

19. Esse modo de falar pode parecer eloqüente, mas não carece de falácia. Pois é verdade que os romanos pontífices em geral concedem liberdade aos teólogos nas questões controvertidas entre os mais acreditados doutores; porém, a história ensina que muitas questões que antes eram objeto de livre discussão já não podem ser discutidas.

 

20. Nem se deve crer que os ensinamentos das encíclicas não exijam, por si, assentimento, sob alegação de que os sumos pontífices não exercem nelas o supremo poder de seu magistério. Entretanto, tais ensinamentos provêm do magistério ordinário, para o qual valem também aquelas palavras: "Quem vos ouve a mim ouve" (Lc 10,16); e, na maioria das vezes, o que é proposto e inculcado nas encíclicas, já por outras razões pertence ao patrimônio da doutrina católica. E, se os romanos pontífices em suas constituições pronunciam de caso pensado uma sentença em matéria controvertida, é evidente que, segundo a intenção e vontade dos mesmos pontífices, essa questão já não pode ser tida como objeto de livre discussão entre os teólogos.

 

21. Também é verdade que os teólogos devem sempre voltar às fontes da revelação; pois, a eles cabe indicar de que maneira "se encontra, explícita ou implicitamente" na Sagrada Escritura e na divina Tradição o que ensina o magistério vivo. Ademais, ambas as fontes da doutrina revelada contêm tantos e tão sublimes tesouros de verdade que nunca realmente se esgotarão. Por isso, com o estudo das fontes sagradas rejuvenescem continuamente as sagradas ciências; ao passo que, pelo contrário, a especulação que deixa de investigar o depósito da fé se torna estéril, como vemos pela experiência. Entretanto, isto não autoriza a fazer da teologia, mesmo da chamada positiva, uma ciência meramente histórica. Pois, junto com as sagradas fontes, Deus deu à sua Igreja o magistério vivo para esclarecer também e salientar o que no depósito da fé não se acha senão obscura e como que implicitamente. E o divino Redentor não confiou a interpretação autêntica desse depósito a cada um dos fiéis, nem mesmo aos teólogos, mas exclusivamente ao magistério da Igreja. Se a Igreja exerce esse múnus (como o tem feito com freqüência no decurso dos séculos pelo exercício, quer ordinário, quer extraordinário desse mesmo ofício), é evidentemente falso o método que pretende explicar o claro pelo obscuro; antes, pelo contrário, faz-se mister que todos sigam a ordem inversa. Eis porque nosso predecessor de imortal memória, Pio IX, ao ensinar que é dever nobilíssimo da teologia mostrar como uma doutrina definida pela Igreja está contida nas fontes, não sem grave motivo acrescentou aquelas palavras; "com o mesmo sentido com o qual foi definida pela Igreja".(3)


PIO PP. XII


Notas

2. CIC, cân.1324; cf. Conc. Vat. I, Const. Dei Filius, de Fide cath., c. 4, "De fide et ratione", post canones.

3. Pio IX, Inter gravissimas, de 28 de outubro de 1870, Pio IX P.M. Acta, vol. V, p. 260.


Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/

Até que idade é saudável morar na casa dos pais?

Elnur
Por Orfa Astorga

O problema é quando eles não saem de casa porque não foram educados na força de vontade necessária para enfrentar o mundo.

Ensinarás a voar, mas não voarão o teu voo. Ensinarás a sonhar, mas não sonharão o teu sonho. Ensinarás a viver, mas não viverão a tua vida. Ensinarás a cantar, mas não cantarão a tua canção. Ensinarás a pensar, mas não pensarão como tu. Porém, saberás que cada vez que voem, sonhem, vivam, cantem e pensem… Estará a semente do caminho ensinado e aprendido! Madre Teresa de Calcutá

No reino animal, os pais encerram o ciclo de dependência dos filhotes. No caso das aves de rapina, por exemplo, no início elas alimentam os filhotes diretamente no bico. Depois, trazem-lhes presas mortas. Mais tarde, presas vivas e até perigosas, para os filhotes mesmos matarem. Finalmente, elas param de alimentá-los, forçando-os a deixar o ninho em busca de comida e de sua própria liberdade.

Na sociedade humana, o casamento traz dois propósitos nobres: gerar e educar os filhos. Trata-se de ensiná-los a “voar” como pessoas.

Então, quando chega a hora, por que eles não “voam”?

Pode haver várias razões, dependendo dos usos e costumes de uma determinada sociedade, bem como das circunstâncias de cada pessoa.

Mas o problema ocorre quando eles não saem de casa porque não foram educados em sua vontade de encarar o fato de que são eles mesmos que devem terminar seu processo de amadurecimento.

Porque, goste-se ou não, é uma tarefa de cada um: tornar-se homens e mulheres.

Voltemos ao exemplo dos pássaros:

Primeira etapa

Comida macia no bico à medida que cresce, ganha plumagem e se fortalece. Ele tem que comer o que os pais lhe trazem, e não há mais.

Já com a criança, nos primeiros anos de vida, ela foi provida em tudo nas suas necessidades básicas e afetivas. Mas quando ela desejava algo ao seu bel-prazer, e o conseguia gritando e fazendo birra, descobriu cedo que seus gostos podiam ser satisfeitos com a manipulação.

Segunda etapa

Os pais levam a presa morta para que o filhote bique ele mesmo e aprenda a comer sem engasgar; caso contrário, morrerá de fome, pois os pais não farão mais o que o filhote deve fazer por si. Ele começa a bater as asas para fortalecê-las e sentir o ar sob elas, descobrindo que elas conseguem suportar o seu peso.

Já com a criança, o filho foi autorizado a dormir até tarde, sem ter obrigações domésticas, a faltar às aulas sem consequências; foi autorizado a parar de comer porque não gostava da comida, e trocavam o prato. Para evitar conflitos, os pais adotam a atitude de deixar passar. Em tal situação, a criança não apenas manipula, mas permanece à mercê de seus caprichos, sem exercitar a vontade para o autocontrole e o autodomínio. Isso porque ela consegue tudo o que quer sem nenhum esforço.

Quando a vontade não é educada, há apatia, dispersão, confusão, abulia, ansiedade e comportamento baseado no capricho.

Terceira etapa

Os pais trazem para o filhote uma presa viva e perigosa que pode escapar dele ou até matá-lo; o filhote precisa superar o medo, matar a presa e bicá-la para poder comer, pois, caso contrário, morrerá de fome.

A faculdade que o filho escolheu está difícil? Pois bem, que escolha outra, mesmo que perca o dinheiro investido, e que não se sinta culpado. Trabalhar? Pobre bebê! Seu chefe grita com ele(a), exige resultados e, ainda por cima, descontou o dia em que se ausentou. Deixe que ele(a) largue o trabalho, pois não morrerá de fome, já que tem pais. Um(a) namorado(a) exigente? Ah! Mas que pressa de se casar…

Um filho ou filha assim não está em posição de enfrentar problemas, desenvolver projetos e assumir compromissos. Ele(a) vive apenas o momento presente, evitando tudo o que pode complicar sua vida.

Quarta etapa

Com fome e sob ligeiros empurrões dos pais, o filhote salta do ninho, batendo as asas fortemente para logo pousar cansado e assustado no primeiro galho; depois, faz voos curtos de galho em galho, até que decida voar rápido e alto.

O filhote conseguirá sua própria comida, se protegerá de predadores, depois fará seu ninho, reproduzirá e renovará o ciclo de vida.

Já o filho(a) permanece material, afetiva e emocionalmente dependente de seus pais, recusando-se a deixar o ninho. Ele(a) é uma pessoa de vontade fraca, incapaz de tomar decisões pessoais (com estados de indecisão e dúvida permanente); incapaz de agir; incapaz de continuar uma tarefa iniciada e de realizar um projeto de vida.

Este(a) filho(a) não teve uma educação da vontade que lhe permitisse captar o senso de sua dignidade na medida em que descobre que é livre e que ele(a) pode exercer essa liberdade e fazê-la crescer, assumindo compromissos por amor no trabalho, na família, na sociedade. Pois para isso é necessário deixar o ninho para voar pelos céus, vencendo os medos, com uma vontade forte, determinada e tenaz.

Fonte: Aleteia

Cardeal Muller se pronuncia sobre ‘Traditionis Custodes’

Cardeal Muller | Guadium Press
Há vozes que devem falar, há vozes que devem calar. Há vozes que merecem ser ouvidas. Há vozes que são muito ouvidas.

Redação (19/07/2021 15:40, Gaudium Press) Não é exagero dizer que após o impacto produzido pelo motu proprio ‘Traditionis Custodes’ – que restringe fortemente o uso do missal de 1962, também conhecido como de São Pio V, entre outras disposições – a intelectualidade católica do mundo inteiro esperava ansiosamente pelas reflexões do Cardeal Gerhard Muller, ex-prefeito da Doutrina da Fé.

Em inglês, estas já apareceram em ‘The Catholic Thing’. Delas, oferecemos uma boa parte aos leitores. Os subtítulos são da redação da Gaudium Press.

O Cardeal Muller reconhece a intenção manifestada no motu proprio de “assegurar ou restaurar a unidade da Igreja”, com a drástica restrição dos usos litúrgicos antigos, que no pensamento do Cardeal é um “condenar a Forma Extraordinária [do rito romano] à extinção no longo prazo”.

O purpurado teria desejado “uma argumentação teológica estrita e logicamente compreensível” Traditionis Custodes que acompanhava a exigência da mera obediência às suas disposições.

Expressa o Cardeal que “a unidade na confissão da Fé revelada e a celebração dos mistérios da graça nos sete sacramentos não requerem de forma alguma uma uniformidade estéril na forma litúrgica externa, como se a Igreja fosse como uma das redes hoteleiras internacionais com seu design homogêneo. A unidade dos crentes entre si se baseia na unidade em Deus através da Fé, das Esperança e do Amor e não tem nada a ver com a uniformidade na aparência, na passagem de uma formação militar ou no pensamento de grupo da era da grande tecnologia”.

“Mesmo depois do Concílio de Trento -ressalta o Cardeal-, sempre houve uma certa diversidade (musical, celebrativa, regional) na organização litúrgica das Missas. A intenção do Papa Pio V não era suprimir a variedade de ritos, mas conter os abusos que levaram a uma falta de compreensão devastadora entre os reformadores protestantes a respeito da substância do sacrifício da Missa (seu caráter sacrificial e de presença real). No Missal de Paulo VI, se rompe a homogeneização ritualística (rubricista), justamente para superar uma execução mecânica em favor de uma participação ativa interna e externa de todos os crentes em suas respectivas línguas e culturas. No entanto, a unidade do rito latino deve ser preservada mediante a mesma estrutura litúrgica básica e a orientação precisa das traduções para o original latim”.

As tentativas de ‘melhorar’ o verba domini afetam muito mais a unidade da Igreja

“A Igreja Romana não deve transferir sua responsabilidade pela unidade no culto para as Conferências Episcopais. Roma deve supervisionar a tradução dos textos normativos do Missal de Paulo VI, e inclusive dos textos bíblicos, que podem obscurecer o conteúdo da Fé. As presunções de que se pode ‘melhorar’ a verba domini (por exemplo, ‘pro multis’ – ‘para muitos’ – na consagração, ‘et ne inducas nos in tentationem’ – ‘e não nos deixeis cair em tentação’ – no Pai Nosso), contradizem a verdade da Fé e da unidade da Igreja muito mais do que celebrar a Missa segundo o Missal de João XXIII [Missal de 1962]”, expressa o Cardeal Muller.

“Naturalmente, o Papa, em sua preocupação pela unidade da Igreja na Fé revelada, deve ser plenamente apoiado quando a celebração da Santa Missa segundo o Missal de 1962 é uma expressão de resistência à autoridade do Vaticano II, quer dizer, quando a doutrina da Fé e a ética da Igreja são relativizadas ou mesmo negadas na ordem litúrgica e pastoral”, declara.

Uma Igreja que não é a ‘velha’ nem a ‘nova’

Aprofunda o Cardeal Muller no que chama de “reconhecimento incondicional do [Concílio] Vaticano II”, presente em ‘Traditionis Custodes’.

“Ninguém pode chamar-se católico se quiser voltar atrás do Vaticano II (ou de qualquer outro concílio reconhecido pelo Papa) como a época da ‘verdadeira’ Igreja ou que queira deixar para trás essa Igreja como um passo intermediário em direção a uma ‘nova Igreja’. Pode-se medir a disposição do Papa Francisco de trazer de volta à unidade os chamados “tradicionalistas” deplorados (ou seja, aqueles que se opõem ao Missal Paulo VI) com o grau de sua determinação em pôr fim aos inumeráveis abusos ‘progressistas’ da liturgia (renovada de acordo com o Vaticano II) que equivalem a blasfêmia. A paganização da liturgia católica – que em essência nada mais é do que o culto ao Deus Uno e Trino – através da mitologização da natureza, da idolatria do meio ambiente e do clima, assim como o espetáculo da Pachamama, foram bastante contraproducentes para a restauração e renovação de uma liturgia digna e ortodoxa que reflita a plenitude da Fé Católica”.

Cardeal Muller | Guadium Press

O grave ataque à unidade do ‘Caminho Sinodal’ alemão

“Ninguém pode fechar os olhos ao fato de que até os sacerdotes e leigos que celebram a Missa de acordo com a ordem do Missal de São Paulo VI são agora amplamente criticados como tradicionalistas. Os ensinamentos do Vaticano II sobre a singularidade da redenção em Cristo, a plena realização da Igreja de Cristo na Igreja Católica, a essência interior da liturgia católica como adoração de Deus e mediação da graça, Revelação e sua presença nas Escrituras e Tradição apostólica, a infalibilidade do magistério, o primado do Papa, a sacramentalidade da Igreja, a dignidade do sacerdócio, a santidade e indissolubilidade do matrimônio, tudo isto está sendo hereticamente negado em aberta contradição com o Vaticano II pela maioria dos Bispos alemães e funcionários leigos (embora disfarçados com frases pastorais)”.

Do acima exposto, o Cardeal Muller dá vários exemplos:

“Apesar de todo o aparente entusiasmo que expressam pelo Papa Francisco, estão negando categoricamente a autoridade conferida por Cristo como sucessor de Pedro. O documento da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a impossibilidade de legitimar os contatos sexuais extraconjugais e do mesmo sexo através de uma bênção é ridicularizado por bispos, sacerdotes e teólogos alemães (e não apenas alemães) como simplesmente a opinião de funcionários pouco qualificados da cúria. Aqui temos uma ameaça à unidade da Igreja na Fé revelada, que recorda do tamanho da secessão protestante de Roma no século XVI. Dada a desproporção entre a resposta relativamente modesta aos ataques massivos à unidade da Igreja no ‘Caminho Sínodo’ alemão (assim como em outras pseudo-reformas) e a severa disciplina minoritária do antigo ritual, me vem à mente a imagem do rebelde corpo de bombeiros, que, em vez de salvar a casa em chamas, primeiro salva o pequeno celeiro ao lado”.

Às vezes, as ovelhas não recebem carícias, mas cajado

“Sem a menor empatia, se ignoram os sentimentos religiosos dos (muitas vezes jovens) participantes nas Missas segundo o Missal João XXIII. (1962) Em vez de apreciar o cheiro das ovelhas, o pastor aqui as golpeia com força com seu cajado. Também parece simplesmente injusto abolir as celebrações do rito ‘antigo’ só porque atrai algumas pessoas problemáticas: abusus non tollit usum ”, expressa o Cardeal Muller, recordando o antigo provérbio latino.

O purpurado alemão recorda que a fórmula repetida em ‘Traditionis Custodes’, lex orandi-lex credendi (Regra de oração-Regra de Fé), refere-se “à substância dos sacramentos (em sinais e palavras), mas não ao rito litúrgico, do qual houve vários (com diferentes variantes) na era patrística. Não se pode simplesmente declarar que o último missal é a única norma válida da Fé católica sem distinguir entre a ‘parte que é imutável em virtude da instituição divina e as partes que estão sujeitas a mudanças’. (Sacrosanctum Concilium 21). Os ritos litúrgicos mutáveis ​​não representam uma Fé diferente, mas antes testemunham da única e mesma Fé apostólica da Igreja em suas diferentes expressões.

No missal de 1962 está também “a substância” da Eucaristia de Cristo

“A carta do Papa confirma que permite a celebração de acordo com a forma anterior, sob certas condições. Assinala com razão a centralidade do canon romano no Missal mais recente como o coração do rito romano. Isto garante a continuidade crucial da liturgia romana em sua essência, desenvolvimento orgânico e unidade interior. Sem dúvida, espera-se que os amantes da liturgia antiga reconheçam a liturgia renovada; assim como os adeptos do Missal Paulo VI também devem confessar que a Missa segundo o Missal de João XXIII é uma liturgia católica verdadeira e válida, ou seja, contém a substância da Eucaristia instituída por Cristo e, portanto, existe e pode ser apenas ‘a única Missa de todos os tempos’”.

“Um pouco mais de conhecimento da dogmática católica e da história da liturgia poderia combater a desafortunada formação de partidos contrários e também salvar os Bispos da tentação de agir de forma autoritária, sem amor e de mente estreita contra os partidários da ‘antiga’ missa”. Os bispos são nomeados pastores pelo Espírito Santo: ‘Vigiai a vós mesmos e a todo o rebanho do qual o Espírito Santo os constituiu custódios. Sejam pastores da Igreja de Deus, que ele comprou com seu próprio sangue’. (Atos 20, 28) Não são simplesmente representantes de um escritório central, com oportunidades de avançar. O bom pastor pode ser reconhecido pelo fato de que se preocupa mais pela salvação das almas do que por recomendar-se a uma autoridade superior mediante um ‘bom comportamento’ servil. (1 Pedro 5, 1-4) Se a lei da não contradição ainda se aplica, não se pode logicamente punir o carreirismo na Igreja e ao mesmo tempo promover os carreiristas”.

O Cardeal Muller espera que “as Congregações para os Religiosos e para o Culto Divino, com sua nova autoridade, não se embriaguem de poder e pensem que devem empreender uma campanha de destruição contra as comunidades do antigo rito, com a insensata crença de que ao fazê-lo estão prestando um serviço à Igreja e promovendo o Vaticano II”. (EPC)


Atleta competirá nas Paraolimpíadas de Tóquio após superar adversidade agarrada a Deus

Mahira Bergallo Brzezicki, atleta paralímpica de Tóquio 2021.
Cortesia: Mahira Bergallo.

REDAÇÃO CENTRAL, 20 jul. 21 / 11:05 am (ACI).- A atleta argentina Mahira Bergallo Brzezicki participa dos Jogos Paraolímpicos de Tóquio com a certeza de que a competição é uma resposta de Deus.

Mahira sairá da cidade de Oberá, na província de Misiones, e viajará até a capital do Japão para a competição que reúne centenas de atletas com algum tipo de limitação física. Os Jogos Paraolímpicos de Tóquio acontecerão entre os dias 24 de agosto e 5 de setembro.

 Nascida com paralisia cerebral, ela representará a Argentina na modalidade de arremesso de peso. Viajará cheia de confiança em Deus e acompanhada de uma “pulseirinha com uma cruz”, sinal da sua fé inabalável.

A convocação para participar nos jogos indicação foi uma “surpresa” para Mahira. Ela recebeu um comunicado da Federação Argentina de Atletas com Paralisia Cerebral na última semana de junho. Desde então, a rotina de Mahira combina os estudos universitários na faculdade de Comunicação Social, treinos intensos e a participação no grupo jovem da renovação carismática.

Em conversa com a ACI Prensa, Mahira explicou que não imaginava a “tremenda notícia”, já que em sua vida sempre se propôs “metas pequenas” devido à sua condição física.

Nascida em 22 de agosto de 2001, com seis meses de gestação, Mahira teve um parto complicado. Sua irmã gêmea nasceu primeiro e ela, devido à falta de oxigênio, sofreu uma paralisia cerebral. Sem contar com médicos especialistas para um melhor diagnóstico, a família pensou que sua leve deficiência era um problema hereditário. A mobilidade de Mahira ficou afetada, mas não seu intelecto. Ela começou a andar apenas aos 4 anos.

No colégio, enquanto tentava superar o bullying, começou a praticar o esporte com certa dificuldade. Só aos 14 anos, os especialistas diagnosticaram seu problema com mais exatidão. Desde então, ajudaram Mahira a canalizar seu entusiasmo e dedicação a um esporte adaptado.

Foi difícil para Mahira aceitar, mas “com os anos, escutando as histórias de meus outros companheiros, consegui entender e estou orgulhosa de ser quem sou”, afirmou Mahira. No caminho, a atleta aferrou-se à sua família. Além dos pais, sua irmã gêmea, seu irmão mais novo e sua avó “nunca” a “trataram diferente”.

Ela também agradece ao grupo de atletismo. “E ao meu treinador que é como um pai e que me ajudou a superar muitas coisas, às amizades e às pessoas que se foram cruzando em minha vida. Me ajudaram a entender que essa era eu e encontrei a outra Mahira que não conhecia".

"Me apego muito à fé”, diz Mahira, “Deus ocupa um lugar muito grande em minha vida. Deus me encaminhou e Ele me guiou até onde estou hoje".

"Eu sempre dizia a Deus que me mostrasse quem era. Quando eu era pequena, perguntava-me quem eu sou, para o que estou neste mundo, e Ele mostrou-me coisas que só Dele podem vir".

"Hoje já sei qual é o meu caminho e por onde devo seguir e mais do que feliz por confirmá-lo. Acho que isto é e era o que estava esperando, e é ainda melhor", refletiu.

É esta experiência de vida que Mahira Bergallo procura transmitir aos jovens que acompanha na Capela Nossa Senhora de Fátima, na Diocese de Oberá, todos os fins de semana. Ela e sua irmã gémea guiam e acompanham um grupo de oração juvenil. "Eles são como meus irmãos, se preocupam com minha saúde, com meus horários, inclusive me ajudarão com as coisas da viagem", disse.

O esporte mudou a vida de Mahira. "Está em minha vida cotidiana, tudo se relaciona com ele, está incorporado e já não posso deixar de treinar. E se já não puder competir, acho que me dedicarei ao jornalismo especializado em esporte".

Mahira valoriza o esporte como atividade preventiva de vícios e necessária para tantos jovens que hoje buscam um rumo. Ele também destacou os esportes que são promovidos nos espaços da sua paróquia, que ajudam muitos a conhecer a Deus. "Eles vão sendo incluídos e já sabem que têm um lugar em nossa comunidade".

Fonte: ACI Digital

S. ELIAS, PROFETA

S. Elias, profeta, sec. XIII-XIV | Vatican News
20 de julho

SANTO ELIAS, PROFETA

“Elias, o profeta, levantou-se como um fogo; suas palavras queimavam como uma tocha ardente": assim o livro do Eclesiástico (48.1) descreve um dos maiores profetas da história religiosa do antigo reino de Israel. No entanto, sabe-se pouco sobre a sua vida.
Elias nasceu em Tisbe, no século IX a.C., na época do rei Acabe. Dedicou a sua existência para distanciar o povo da adoração dos ídolos e trazê-las de volta ao verdadeiro e único Deus, coerente com o nome que lhe foi dado: Elias, de fato, significa "O Senhor é meu Deus".

Precursor de São João Batista

Elias, homem virtuoso e austero, usava um manto de pele de camelo, sobre um simples avental, amarrado na cintura, prefigurando, oito séculos antes, o profeta João Batista. Com um coração de guerreiro e uma inteligência refinada, unia, em sua alma, o fogo ardente da fé com o zelo pelo Senhor, tanto que São Crisóstomo o definiu "anjo da terra e homem do Céu". Séculos depois, o Catecismo da Igreja Católica o apresentou como modelo de vida cristã e de paixão por Deus, "Pai dos Profetas da geração dos que buscam a Deus, que buscam o seu Rosto" (CCC, 2582).

Luta contra os seguidores de Baal

Um exemplo extraordinário da força profética de Elias encontra-se no primeiro Livro dos Reis (cap. 18), que narra: “nos dias do rei Acabe, Israel se sujeitava à sedução da idolatria”; de fato, adorava Baal porque achava que fazia chover e, portanto, ajudava a fertilidade dos campos, o gado e o gênero humano. Para desmascarar esta crença enganosa, Elias convocou o povo no Monte Carmelo e o colocou diante de uma escolha: seguir o Senhor ou seguir Baal. Assim, o profeta convidou mais de 400 idólatras a um confronto: cada um devia oferecer um sacrifício e rezar para que seu deus se manifestasse. Quem respondeu, de modo inequívoco, foi o Senhor "Deus de Abraão, de Isaque e de Israel": Ele aceitou a oferta de sacrifício, preparado por Elias, sobre um altar, constituído de doze pedras, “segundo o número das doze tribos dos filhos de Jacó, que o Senhor havia chamado Israel". Assim, diante da evidente Verdade, o coração do povo se converteu. Ao contrário, Baal ficou calado e impotente, porque – segundo o ensinamento de Elias - "a verdadeira adoração a Deus é oferecer-se a Deus e aos homens; a verdadeira adoração é o amor, que não destrói, mas renova e transforma". (Bento XVI, Audiência geral, em 15 de junho de 2011).

Encontro com o Senhor no Monte Oreb

O profeta, porém, teve que enfrentar uma nova provação: ele, que lutou tanto pela fé, teve que escapar da ira da rainha Jezabel, esposa idólatra de Acabe, que queria a sua morte. Exausto e atemorizado, Elias pediu a Deus para morrer, caindo em um sono ininterrupto. No entanto, um anjo o despertou e lhe pediu para subir ao monte Oreb para um encontro com o Senhor. O profeta obedeceu e caminhou, por 40 dias e 40 noites, até chegar à meta: uma caminhada que representa a metáfora de uma peregrinação e a purificação do coração rumo à experiência de Deus.

O silêncio sonoro

Segundo as perspectivas, o encontro com o Senhor ocorreu, mas não de modo extraordinário: Deus se manifestou em forma de uma brisa leve, como um "silêncio sonoro delicado" - como o Papa Francisco explicou na homilia da Missa, na Casa Santa Marta, em 10 de junho de 2016 -: exortando Elias a não desanimar, mas a voltar atrás para cumprir a sua missão. Então, o profeta cobriu o rosto com as mãos, em sinal de adoração e humildade, e obedeceu ao pedido de Deus, porque entendeu o seu valor: o valor da provação, da obediência e da perseverança.
Daí, Elias desafiou, novamente, Acabe e Jezabel, que haviam invadido a terra de um camponês, profetizando terríveis desventuras, se não se arrependessem. O profeta também aliviou o sofrimento e a miséria de uma viúva, dando-lhe de comer e curando seu filho em fim de vida.
Quando Elias cumpriu a sua missão, desapareceu, subindo ao céu em uma carruagem de fogo, entrando na infinidade daquele Deus, que havia servido com tanta paixão. Seu manto permaneceu na terra, destinado ao discípulo Eliseu, como sinal de investidura.

Zelo profético

Hoje, a Ordem religiosa dos Eremitas do Monte Carmelo, representa este grande Profeta, em seu brasão, em forma de escudo: com um braço, segura uma espada de fogo e uma fita com as palavras "Zelo zelatus sum pro Domino Deo exercitum", ou seja, "repleto de zelo pelo Deus dos exércitos".

Fonte: Vatican News

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Uma justa esperança para a política

MAURO PIMENTEL | AFP
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

A pretensão de querer mudar rapidamente a realidade é uma das maiores razões para nossas desilusões.

O salmista, em seus versos, não cansa de advertir os que confiam na força dos seres humanos de que sua esperança é vã, que as forças humanas não podem salvar. Numa das mais grandiosas poesias católicas do século XX, os Coros de “A rocha”, T.S. Eliot denuncia a ilusão de querermos construir sistemas tão perfeitos que tornassem desnecessário sermos bons. É sábio não confiar nas forças e nos sistemas humanos, reconhecer sempre a frágil condição na qual estamos, nós que – de uma forma ou de outra – sempre seremos sujeitos à fragilidade de nossa coerência moral.

Contudo, a galopante repetição de escândalos de corrupção, impunidade, corporativismo e nepotismo envolvendo nossos legisladores, magistrados e governantes nos lança um outro desafio: será possível ter alguma esperança na política brasileira? Essa desilusão e esse derrotismo, obviamente, não são justos, mesmo que compreensíveis em muitos momentos. A questão adequada é conhecer a justa esperança que podemos e devemos ter na vida política nacional. 

Uma questão de paciência histórica

O Papa Francisco, com uma sabedoria que a Igreja adquiriu observando a história e o fracasso de muitas revoluções, nos lembra sempre da necessidade de termos paciência e tenacidade. Em suas palavras, “o tempo é superior ao espaço” (Evangelii gaudium, EG 222-225). É claro que todos nós gostaríamos de mudanças rápidas e eficazes. Mas as coisas não acontecem assim. Frequentemente “trocamos seis por meia dúzia”. Pior, algumas vezes trocamos “seis por cinco”. Contudo, se hoje trocarmos “seis por seis e meio” e amanhã “seis e meio por sete”, e assim por diante, estaremos construindo um futuro melhor.

A pretensão de querer mudar rapidamente a realidade é uma das maiores razões para nossas desilusões. Achamos que um governante, um partido ou um juiz irão fazer a diferença e resolver nossos problemas. Mas apesar de ser fundamental existir pessoas que façam a diferença, elas sozinhas não mudarão a realidade. Sozinhas ou com todos nós, também não conseguirão mudar radicalmente a realidade num único golpe. A mudança eficaz é um processo continuado que conta com o apoio e a colaboração da maioria.

Francisco, no texto citado, diz que o importante é investir em processos que constroem um povo. Na Fratelli tutti, o Papa diz que “para afirmar que a sociedade é mais do que a mera soma de indivíduos, necessita-se do termo ‘povo’. A verdade é que há fenômenos sociais que estruturam as maiorias, existem megatendências e aspirações comunitárias; além disso, pode-se pensar em objetivos comuns, independentemente das diferenças, para implementar juntos um projeto compartilhado; enfim, é muito difícil projetar algo de grande a longo prazo, se não se consegue torná-lo um sonho coletivo” (FT 157). Toda sociedade está atravessada por contradições e conflitos. Pensar um povo não significa negar os problemas, mas sim reconhecer alguns elementos que podem transcender os conflitos e orientar a construção da sociedade como um todo.

Democracias são mais estáveis, combatem a corrupção e cumprem melhor sua função de garantir o bem comum na medida que são o reflexo da existência desse “povo”, que tem consciência de sua responsabilidade para com a organização da sociedade. Um povo politicamente maduro se reconhece responsável pelo bem comum. Sabe que os governos são o reflexo do compromisso compartilhado e praticado por todos os cidadãos.

No Brasil, tendemos a pensar que é só o governo que tem que zelar pela qualidade de vida dos cidadãos. Ainda somos, nesse aspecto, uma sociedade pouco participativa e pouco responsável pelos destinos da nação. E a contrapartida a essa sociedade pouco participante é um Estado centralizador, sempre com tendências autoritárias. Notem que o autoritarismo não se reflete apenas nos atos ditatoriais ou no desrespeito ao desejo da maioria. Ele está presente, por exemplo, quando escutamos aquela famosa frase “você sabe com quem você está falando?”, ou quando os homens públicos desrespeitam as leis e aos demais cidadãos em função de seu poder institucional.

As pessoas e as instituições

No seu discurso inaugural da Conferência dos Bispos da América Latina e do Caribe, em Aparecida (2007), Bento XVI disse: “As estruturas justas são uma condição sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade. Porém, como nascem? Como funcionam? As estruturas justas […] não nascem nem funcionam sem um consenso moral da sociedade sobre os valores fundamentais e sobre a necessidade de viver estes valores com as necessárias renúncias, inclusive contra o interesse pessoal […] As estruturas justas jamais serão completas de modo definitivo; pela constante evolução da história, hão de ser sempre renovadas e atualizadas; hão de estar animadas sempre por um ethos político e humano, por cuja presença e eficiência se trabalhará cada vez mais”.

As estruturas justas não caem do céu. Ao contrário, precisam ser construídas por pessoas comprometidas com o bem comum, animadas por esse “ethos político e humano”, que – nos dizeres de Francisco – é a alma de um povo. Existe sempre uma retroalimentação em política. Bons líderes criam boas estruturas e essas boas estruturas nos ajudam a escolher bons líderes. Maus líderes criam más estruturas, que não nos permitem escolher bons líderes.

A esperança justa, na política, é aquela que nasce dessa construção cotidiana, que acontece em pequenos passos, no acompanhamento aos trabalhos voltados ao bem comum. Pouco a pouco, novos políticos – mais conscientes e comprometidos – vão ganhando seus espaços. Pouco a pouco, acontecem mudanças institucionais que coíbem os corruptos e dão mais oportunidades aos honestos. Num mandato, nosso candidato está no poder, em outro, está na oposição. Avançamos dois passos, talvez retrocedamos um… O que importa é que caminhamos para uma sociedade melhor.

Quando desanimamos, não é porque não existam coisas boas acontecendo. Desanimamos porque olhamos só para os erros dos poderosos e não vemos as coisas boas que continuam acontecendo, frequentemente pequenas, mas com potencial para crescer. E, frequentemente, não vemos essas coisas boas acontecerem porque não estamos suficientemente envolvidos ou atentos para com os processos – talvez pequenos, mas carregados com um sabor de esperança – que constroem um povo (cf. EG 224).

Fonte: Aleteia

Quem é o bom pastor?

Guadium Press
Será possível reconhecer o bom pastor na medida em que ele permita ou não que entre os homens não haja uma orientação precisa em relação à Verdade; e, por outro lado, distinguir a ação do mau pastor, que quebra a unidade da doutrina com ensinamentos dúbios, que admitem interpretações também duvidosas.

Redação (18/07/2021 10:26Gaudium Press) No decorrer da história, os fatos parecem demonstrar, e até evidenciar, que todo homem tem necessidade de ser guiado por um outro que seja para ele uma representação do próprio Deus, indicando-lhe os caminhos e o rumo a seguir na vida. No Antigo Testamento, as Sagradas Escrituras nos apresentam inúmeros fatos que ilustram tal dependência. No livro do gênesis, verifica-se que Noé, “homem justo e perfeito no meio dos homens de sua geração” (Gn 6, 9) foi eleito por Deus para guiar e anunciar à humanidade corrompida que, caso não mudasse de conduta, seria devastada pelo dilúvio; de igual modo, no livro do Êxodo, lê-se que Moisés, “que convivia com o Senhor face a face, como um homem fala com seu amigo” (Cf. Ex 33, 11), foi eleito pelo Senhor, a fim de salvar o povo de Israel da escravidão aos egípcios.

Ora, essa dependência a um guia, exige, obviamente, que o homem faça um juízo a respeito de seus pastores, tendo em vista discernir com clareza se eles o conduzirão a objetivos certos.

No primeiro livro dos Macabeus, vemos como Matatias, diante da desolação na qual se encontrava Israel, reuniu junto a si um punhado de homens fiéis que o elegeram como chefe do povo, a fim de estabelecer a paz e ordem na terra santa. (Cf. 1Mc 2, 1-20).

Entretanto, baseados em quais critérios devemos analisar os pastores para ver se eles de fato exercem com santidade e eficácia sua função de mestre e guia do povo de Deus?

Entre pastor e pastor

No Evangelho, Nosso Senhor nos oferece alguns elementos. Primeiramente, o evangelista faz notar que o Divino Mestre diz à multidão: “Vinde sozinhos para um lugar deserto” (Mc 6, 31). Quis dizer assim que o Bom Pastor, antes de tudo, é aquele que sabe se recolher e ter uma vida interior profunda e grande virtude. É também aquele cujo relacionamento com Deus é sério e profundo, e cujas palavras e atos são, em consequência, fruto do recolhimento, e não de sua espontaneidade temperamental e impulsividade.

Além disso São Marcos afirma que: “muitos viram os apóstolos partir, e reconheceram que eram eles” (Cf. Mc 6, 33). Deus dá a cada batizado um certo “instinto”, pelo qual se pode reconhecer e seguir aos bons pastores. Por meio desta intuição, o homem sabe discernir a intenção destes de guiar ou não para o bem, para as finalidades estabelecidas por Deus. Deste modo, quando começam a surgir dúvidas sobre se o pastor conduz para o bem, e quando essas dúvidas perduram com base em fatos ou impressões indiscutíveis, é preciso estar atento…

Um último ponto que pode nos auxiliar a discernir o bom pastor está contido no trecho do Evangelho que afirma: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6, 34). Ora, tendo cada mestre e guia de almas a obrigação de ser um reflexo do Divino Mestre e Bom Pastor, deve ter compaixão de suas ovelhas quando percebe que elas estão sem uma orientação clara, oferecendo-lhe os meios para prosseguirem no caminho do bem e da virtude. Foi o que fez Nosso Senhor. Ao verificar que a multidão estava sem rumo, compadeceu-se dela e lhe indicou o verdadeiro caminho.

O “estar sem rumo” para o homem hodierno é, muitas vezes, a falta de esclarecimento da doutrina. Infelizmente acontece muitas vezes que uma grande variedade de ideias e doutrinas é disseminada pela sociedade sem que se saiba quais são aquelas verdadeiramente concordes com o ensinamento do Divino Redentor.

Afirmando o evangelista que a multidão andava como ovelhas sem pastor (Cf. Mc 6,34), demonstra lhes faltarem uma unidade de doutrina e pensamento; e, uma vez que os homens precisam conhecer a Verdade, e saber, em função da Verdade, em que acreditar e como agir, era preciso que o Homem-Deus lhes oferecesse uma unidade de doutrina. É bem o que afirma São Paulo na segunda leitura: “do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2, 14).

Orientar segundo a verdade

Aqueles, pois, que são chamados a conduzir e guiar as almas devem seguir o exemplo de Nosso Senhor, devem ter sempre a preocupação de manter essa unidade na verdadeira doutrina católica; pois somente assim é que serão indefectivelmente fiéis àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6).

Deste modo, será possível reconhecer o bom pastor na medida em que ele permita ou não que entre os homens não haja uma orientação precisa em relação à verdade; e, por outro lado, distinguir a ação do mau pastor, que quebra a unidade da doutrina com ensinamentos dúbios, que admitem interpretações também duvidosas. A respeito desses, muito bem expressa-se Jeremias na primeira leitura: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem!”. (Jr 23, 1).

A liturgia de hoje, portanto, nos convida a, não só nos examinarmos em que medida cumprimos ou não um papel de guiar os outros para o caminho do bem, mas também a estarmos atentos a respeito daqueles quem nos deve guiar para a realização dos desígnios divinos.

Sigamos os bons pastores; não nos deixemos levar, eventualmente, pelos maus, e por todos rezemos para que sejam aquilo que Deus deseja de cada um: uns na perseverança, outros na urgente conversão.

Por Guilherme Maia

Fonte: https://gaudiumpress.org/

CARTA ENCÍCLICA "HUMANI GENERIS" (Parte 4/10)

Papa Pio XII | Derradeiras Graças

CARTA ENCÍCLICA "HUMANI GENERIS"

DE SUA SANTIDADE

O PAPA PIO XII

 

SOBRE  OPINIÕES FALSAS QUE
 AMEAÇAM A DOUTRINA CATÓLICA

 

A nossos veneráveis irmãos
os Patriarcas, Primazes, Arcebispos e Bispos
 e demais Ordinários locais em paz e comunhão com a Sé Apostólica.


III. CONSEQÜÊNCIAS

 

1. Desprezo da teologia escolástica

 

14. Quanto à teologia, o que alguns pretendem é diminuir o mais possível o significado dos dogmas e liberta­-los da maneira de exprimi-los já tradicional na Igreja, e dos conceitos filosóficos usados pelos doutores católicos, a fim de voltar, na exposição da doutrina católica, às expressões empregadas pela Sagrada Escritura e pelos santos Padres. Esperam que, desse modo, o dogma, despojado de elementos que chamam extrínsecos à revelação divina, possa comparar-se frutuosamente com as opiniões dogmáticas dos que estão separados da unidade da Igreja, e que, por esse caminho, se chegue pouco a pouco à assimilação do dogma católico e das opiniões dos dissidentes.

 

15. Reduzindo a doutrina católica a tais condições, crêem que se abre também o caminho para obter, segundo exigem as necessidades atuais, que o dogma seja formulado com as categorias da filosofia moderna, quer se trate do imanentismo, ou do idealismo, ou do existencialismo, ou de qualquer outro sistema. Alguns mais audazes afirmam que isso se pode e se deve fazer também em virtude de que, segundo eles, os mistérios da fé nunca se podem expressar por conceitos plenamente verdadeiros, mas só por conceitos aproximativos e que mudam continuamente, por meio dos quais a verdade se indica, é certo, mas também necessariamente se desfigura. Por isso não pensam ser absurdo, mas antes, pelo contrário, crêem ser de todo necessário que a teologia, conforme os diversos sistemas filosóficos que no decurso do tempo lhe servem de instrumento, vá substituindo os antigos conceitos por outros novos; de sorte que, de maneiras diversas e até certo ponto opostas, porém, segundo eles, equivalentes, faça humanas aquelas verdades divinas. Acrescentam que a história dos dogmas consiste em expor as várias formas que sucessivamente foi tomando a verdade revelada, de acordo com as várias doutrinas e opiniões que através dos séculos foram aparecendo.

 

16. Pelo que foi dito é evidente que tais esforços não somente levam ao relativismo dogmático, mas já de fato o contém, pois o desprezo da doutrina tradicional e de sua terminologia favorece tal relativismo e o fomenta. Ninguém ignora que os termos empregados, tanto no ensino da teologia como pelo próprio magistério da Igreja, para expressar tais conceitos podem ser aperfeiçoados e enriquecidos. É sabido também que a Igreja não foi sempre constante no uso dos mesmos termos. Ademais, é evidente que a Igreja não se pode ligar a qualquer efêmero sistema filosófico; entretanto, as noções e os termos que os doutores católicos, com geral aprovação, foram compondo durante o espaço de vários séculos para chegar a obter alguma inteligência do dogma não se assentam, sem dúvida, sobre bases tão escorregadias. Fundam-se realmente em princípios e noções deduzidas do verdadeiro conhecimento das coisas criadas; dedução realizada à luz da verdade revelada, que, por meio da Igreja, iluminava, como uma estrela, a mente humana. Por isso, não há que admirar terem sido algumas dessas noções não só empregadas mas também sancionadas por concílios ecumênicos; de sorte que não é lícito apartar-se delas.

 

17. Abandonar, pois, ou repelir, ou negar valor a tantas e tão importantes noções e expressões que homens de talento e santidade não comuns, com esforço multissecular, sob a vigilância do sagrado magistério e com a luz e guia do Espírito Santo, conceberam, expressaram e aperfeiçoaram para exprimir as verdades da fé cada vez com maior exatidão, e substituí-las por noções hipotéticas e expressões flutuantes e vagas de uma filosofia moderna que, assim como a flor do campo, hoje existe e amanhã cairá, não só é de suma imprudência, mas também converte o dogma numa cana agitada pelo vento. O desprezo dos termos e noções que os teólogos escolásticos costumam empregar leva naturalmente a abalar a teologia especulativa, a qual, por fundar-se em razões teológicas, eles julgam carecer de verdadeira certeza.


PIO PP. XII


Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF